Gente comum. Pequenas histórias banais. Ho - Fundação Francisco ...
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2011–2012<br />
Portugal<br />
tem emenda?<br />
Filipa,<br />
a dançarina<br />
Filipa Sá<br />
40 anos<br />
Natural de Lisboa<br />
Bancária<br />
“Vibro mais com<br />
as danças latinas”<br />
48 XXI, Ter Opinião<br />
Nessas alturas esquece tudo o que está lá fora.<br />
Enquanto dança, não tem preocupações, nem<br />
problemas, nem cansaço. Está simplesmente<br />
a dançar. Não se pode dizer que se transforme noutra<br />
pessoa. Filipa Sá continua a ser ela mesma… só que a<br />
dançar e a mostrar aos outros o prazer que a dança lhe dá.<br />
O seu dia-a-dia é de escritório, embora não esteja<br />
agarrada à secretária. Trabalha numa instituição<br />
bancária. Depois, dá apoio aos pais. Mora sozinha.<br />
Calça os sapatos de salto alto, veste um vestido rodado<br />
e vai para ali, para a Sociedade Filarmónica Alunos<br />
de Apolo. É naquele prédio um pouco degradado do<br />
bairro de Campo de Ourique, um templo das danças<br />
de salão, que passa grande parte do seu tempo livre.<br />
Gosta de deitar as culpas para cima do Carlos, o<br />
seu par, amigo de longa data. Foi com ele que fez o<br />
primeiro curso de dança, há quatro anos, foi ele que lhe<br />
ofereceu a inscrição nos Alunos de Apolo. Filipa diz<br />
que foi ele que criou o “monstro”! Carlos fica calado,<br />
sorri. Quem ouve a história nunca imaginaria que tudo<br />
começou nele. É ela que respira dança como se aquele<br />
sempre tivesse sido o grande sonho da sua vida.<br />
E, quando olha para trás, Filipa vê que sempre gostou<br />
de dançar. Sai à tia. Tinha o hábito de ouvir música,<br />
de marcar os ritmos. Dançava de vez em quando, mas<br />
o pai costumava dizer-lhe que não tinha assim muito<br />
jeito. Afinal, não teve dificuldade em aprender. Pelos<br />
vistos, já havia qualquer coisa que a indicava para a<br />
dança, ela é que não tinha percebido. Dois anos na<br />
dança social chegaram para os professores da Apolo<br />
desafiarem Filipa e o seu par a passarem à competição.<br />
Vai, pelo menos, a um campeonato por mês. Há meses<br />
em que entra em dois, três, quatro. Procura ir a todos<br />
os que pode. Porque é divertido, porque se sente bem,<br />
porque há todo um saudável convívio entre dançarinos.<br />
Concorre nas dez danças de salão, mas são as latinas<br />
que mais a fazem vibrar. Uma rumba, um samba, um<br />
chá-chá-chá, um jive… Nessa latina vertiginosa, então,<br />
se a música puxar por ela, ela dá tudo!<br />
Ganhar tem alguma importância, claro. Mas quando<br />
se está a chegar aos 40, já não é tão importante como<br />
quando se tem 16 ou 17 anos. Filipa não dançava nessa<br />
idade nem tem ilusões sobre a longevidade de uma<br />
dançarina de competição. Os campeonatos não duram<br />
toda a vida. A dança, sim. Faz-lhe bem.<br />
XXI, Ter Opinião 49