17.04.2013 Views

Untitled - História da Medicina

Untitled - História da Medicina

Untitled - História da Medicina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

dos maridos. Os complexos de culpa são tantos e a<br />

pouca vontade de confissão é tal que o REPORTORIO<br />

GERAL DE TRÊS MIL E OITOCENTOS PRO-<br />

CESSOS, 1561-1623, DA INQUISIÇÃO DE GOA,<br />

escrito pelo licenciado João Delgado Figueyra em<br />

1623, permanece escondido na Biblioteca Nacional<br />

de Lisboa. O estudo deste Reportório poderá contribuir<br />

para uma melhor compreensão do relacionamento<br />

entre a Europa e a India e o cruzamento destas<br />

informações com textos de Garcia d’Orta e de Amato<br />

pode aju<strong>da</strong>r a esclarecer se existiu ou não algum<br />

entendimento entre ambos, nomea<strong>da</strong>mente em casos<br />

como «lapidem belzahart», o bezoário que pertenceu<br />

a um vice-rei <strong>da</strong> India, adquirido pela Senhora Beatriz<br />

de Luna, Dona Gracia Nasci por cento e trinta ducados<br />

de ouro, lembrado por Amato na Enarratio XXXIX - De<br />

Cervi mascvli genitale... <strong>da</strong> «Matéria Médica...», 1553,<br />

de que Garcia d’Orta poderia ter tido conhecimento<br />

quando recordou a «pedra» <strong>da</strong> vesícula de porco<br />

espinho envia<strong>da</strong> ao conde de Redondo, então<br />

D.Francisco Coutinho, 8° vice-rei <strong>da</strong> India entre 1561<br />

e 1564, «porq~ por mais meezinhas q~ aja contra<br />

apoçonha mais sam neçesarias, e tãbem pareçe ser<br />

que em Roma teria esta pedra muyta valia».<br />

João Rodrigues (Casteli albi Lusitano autore) obteve<br />

o grau de bacharel em <strong>Medicina</strong> na Universi<strong>da</strong>de de<br />

Salamanca em 16 de Março de 1535, depois de ter<br />

feito quatro cursos e ter lido nove lições na<br />

Universi<strong>da</strong>de de Alcalá de Henares, entre 1532 e 1535<br />

e é provável que para uma prática inicia<strong>da</strong> aos dezóito<br />

anos nos Hospitais de Salamanca e tão longos<br />

estudos tenha contado com a protecção <strong>da</strong> Casa<br />

Comercial dos Mendes, que então detinha o monopólio<br />

<strong>da</strong> pimenta e necessitava especialistas que<br />

avaliassem a quali<strong>da</strong>de dos produtos que geria. Em<br />

Salamanca e depois em Alcalá de Henares estu<strong>da</strong>ramse<br />

plantas medicinais, comentou-se Dioscórides e o<br />

velho Mestre Aelio Antonio (1444-1522), natural de<br />

Nebrija, colega e amigo do aveirense Aires Barbosa<br />

(1470-1540), será recor<strong>da</strong>do pelos seus discípulos<br />

Lucio André de Resende, Garcia d’ Orta, Amato<br />

Lusitano, Luis Nunes, Tomaz Rodrigues <strong>da</strong> Veiga,<br />

Dimas Bosque, Andrés de Laguna,....<br />

A instalação <strong>da</strong> inquisição em 22 de Outubro de<br />

1536 obrigou o ramo lisboeta dos Mendes a juntar-se<br />

ao resto <strong>da</strong> família em Antuérpia e Amato seguiu-os,<br />

frequentou o jardim de Diogo Mendes e possivelmente<br />

os seus armazéns, relacionou-se com o encarregado<br />

<strong>da</strong> feitoria portuguesa Manuel Cirne, exerceu clínica<br />

e publicou o INDEX DIOSCORIDIS, 1536 que é apenas<br />

um índice <strong>da</strong> obra de Dioscórides e ain<strong>da</strong> não refere<br />

os medicamentos simples, as drogas e as coisas<br />

medicinais que chegavam <strong>da</strong> India dita portuguesa e<br />

<strong>da</strong>s Indias ditas de Castela, objecto de comentários<br />

nas CENTURIAS e no IN DIOSCORIDIS ANAZARBEI<br />

DE MEDICA MATÉRIA, Veneza, 1553.<br />

As Indias estão presentes nas obras de Amato<br />

10<br />

Lusitano, na referência a viajantes e às suas<br />

experiências e a propósito de novas drogas e de novas<br />

doenças.<br />

Entre as novas drogas que chegavam à Europa<br />

provenientes de terras ignotas, destaca-se a Raiz <strong>da</strong><br />

China que Amato descreveu com grande soma de<br />

pormenores na Memória XC <strong>da</strong> PRIMEIRA CENTÚRIA,<br />

1549 e na Memória XXXI <strong>da</strong> SEGUNDA CENTÚRIA,<br />

1551 e estes textos podem ter chegado ao<br />

conhecimento de Garcia d’Orta que diz ter sido o<br />

primeiro a utilizar esta mézinha em 1535, que talvez<br />

por isso os não cite explicitamente no «Colóquio.47.<strong>da</strong><br />

Raiz <strong>da</strong> chaina», 1563.<br />

A Raiz <strong>da</strong> China fora referi<strong>da</strong> por Ruy Diaz d’Ysla<br />

como «un palo que agora traen dela china por Ia via<br />

de portugal» (TRACTADO CÕTRA EL MAL<br />

SERPENTINO, p.XLII, Sevilha, 1539) e desde então<br />

era utiliza<strong>da</strong> no tratamento dos doentes que acorriam<br />

à «casa <strong>da</strong>s bubas» do Hospital de Todos os Santos,<br />

em Lisboa.<br />

Relativamente à sifilis, Francisco Lopes de Gomara<br />

diz na HISTORIA GENERAL DE LAS INDIAS, 1540<br />

que «Asi como vino el mal de Ias Indias, vino el remédio,<br />

que tambien es otra razón para creer que trajo de allá<br />

origen, el qual es el palo y arbol dicho guayacan, de<br />

cuyo genero hay grandissimos montes. Tambien curan<br />

Ia misma dolência con palo de Ia China, que debe ser<br />

el mesmo guayacan ó palo santo, que tudo es uno...»<br />

e Luys Lobera de Auila no LIBRO DE LAS QUATRO<br />

ENFERMEDADES CORTESANAS, 1544 não<br />

esquece que «ay una yerva en Ias yndias q se dize Ia<br />

china ... y son unos pe<strong>da</strong>citos como dos o tres dedos,<br />

... Esta rays dizemn en Castilla q se llama Ia çarça<br />

par rilla ... ay Ia en Ias tierras de Avila y de Luenca: y<br />

algunos quieren dizer q es Ia misma china por sus<br />

effectos». A «mistura<strong>da</strong>» castelhana entre «china» e<br />

«india» persistiu até aos nossos dias e foi consagra<strong>da</strong><br />

na HISTORIA DE LA MEDICINA, p. 254, 1989 de Francisco<br />

Guerra a propósito de Vesálio: «Pasó entonces<br />

al servicio de Carlos V y después de algunas<br />

demostraciones anatómicas, en diversas facultades,<br />

publicó Ia Epistola ... China radix (1546) sobre el uso<br />

de esta planta americana en Ia sifilis».(!!!) Em 1563,<br />

escrevera Garcia d’Orta: «Este pao ou Raiz naçe na<br />

china terra muito grande, e q se presume cõfinar cõ<br />

moscouia, e se Tordelaguna (Andrés Laguna, 1499-<br />

1563) lhe chama indias mais orientais não açerta nisso<br />

muyto se não se escusa cõ dizer q to<strong>da</strong>s as terras<br />

não sabi<strong>da</strong>s se chamauã Indias,...»<br />

Amato diz que as primeiras amostras de Raiz <strong>da</strong><br />

China chegaram a Lisboa trazi<strong>da</strong>s por Vicente Gil,<br />

certamente o mesmo que partira para a Índia na nau<br />

Graça em 10 de Abril de 1532 e que para lá partiu de<br />

novo na nau Santa Cruz em 13 de Março de 1536. Na<br />

época Raiz <strong>da</strong> China teve aceitação em doenças<br />

crónicas e em doenças agu<strong>da</strong>s, na gota, na ciática,<br />

na lepra e na sifilis. André Vesálio (1514-1564) referiu-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!