17.04.2013 Views

Untitled - História da Medicina

Untitled - História da Medicina

Untitled - História da Medicina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

«Tout le sujet peut être défini par les relation qu’il<br />

entretient avec les objects que l’environnent. Son existence<br />

même est affectée par l’existence mo<strong>da</strong>le de<br />

ces objects et qui peuve être désirables,<br />

indispensables, véritables, possibles...»<br />

Pierre Pellegrino, «Transformations de l’Espace et<br />

Rapport au Territoire», p. 154<br />

1. Introdução<br />

Bem mais que uma simples e impessoal fornecedora<br />

de água, como a sua irmã mais nova - a torneira, a<br />

fonte desempenhou importantíssimas funções no<br />

universo aldeão. Há fontes que ain<strong>da</strong> prendem moiras<br />

encanta<strong>da</strong>s e fontes há cuja água prende para sempre<br />

à povoação o estrangeiro que dela beber.<br />

Para além <strong>da</strong>s igrejas e capelas, para além dos<br />

pelourinhos e cruzeiros, para além <strong>da</strong>s casas <strong>da</strong> Junta<br />

e <strong>da</strong>s casas solarengas, as fontes e os chafarizes<br />

são os monumentos mais visíveis de um certo gosto<br />

de populações antigas. Não há terra que não tenha o<br />

seu chafariz e a sua fonte, tal como não há terra que<br />

não tenha a sua fonte ou mina de água especial, que<br />

faz bem ao estômago, que é local de encontro de<br />

namorados, ou que é local de leitura do «jornal <strong>da</strong>s<br />

novi<strong>da</strong>des» de to<strong>da</strong> a vizinhança.<br />

Já hoje se não vêem as raparigas de ancas<br />

ondulantes de asado à cabeça. Já hoje se não vêem<br />

os rapazes esperando, espiando e tecendo<br />

comentários às cachopas, a partir de uma esquina,<br />

que é miradouro <strong>da</strong> fonte. Já hoje se não partem os<br />

asados. Já hoje se não partem corações junto à fonte.<br />

Mas o facto de as velhinhas e as mulheres de meia<br />

i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s nossas aldeias, mesmo com a água<br />

canaliza<strong>da</strong>, continuarem a ir à fonte encher a bilha de<br />

barro ou, simplesmente, uma garrafa de água fresca,<br />

no fim de uma tarde de Verão, é sinal que a atracção<br />

mágica deste lugar se exerce ain<strong>da</strong> sobre os corações.<br />

Tanto mais isto é ver<strong>da</strong>de, quanto se sabe que a água<br />

<strong>da</strong> torneira, com cloro e desinfecta<strong>da</strong>, é mais saudável<br />

que a maioria <strong>da</strong>s águas que corre nas fontes <strong>da</strong><br />

aldeia.<br />

2. Fontes e Chafarizes: Designações<br />

A designação fonte e chafariz aparece para o mesmo<br />

local. Tomando como exemplo a aldeia base do nosso<br />

estudo - Ladoeiro (I<strong>da</strong>nha-a-Nova)- fontes há que foram<br />

fontes e agora são chafarizes. Fazendo um estudo<br />

do emprego de «fonte» e de «chafariz», isto é, em<br />

que ocasião se emprega um ou outro; quando se<br />

empregou um sem o outro; e quando se deixou de<br />

empregar um ou outro, poder-se-á concluir que fonte<br />

e chafariz se diferenciam por quem servem: fonte serve<br />

pessoas e chafariz serve animais.<br />

Há misturas, com certeza, principalmente porque<br />

uma fonte tem bica de água corrente, donde se servem<br />

46<br />

os homens, e possui, igualmente, um tanque donde<br />

se servem os animais. Para além desta dupla<br />

designação e dupla função coexistentes no tempo,<br />

apresenta-se-nos uma dupla designação variável ao<br />

longo do tempo, na medi<strong>da</strong> em que a fonte, deixando<br />

de ser utiliza<strong>da</strong>, (porque há outra melhor, porque há<br />

água canaliza<strong>da</strong>...), passou à designação e utilização<br />

de chafariz, simplesmente, isto é, <strong>da</strong>r de beber a<br />

animais e servir para «lavagens».<br />

Em complemento desta informação, há a<br />

acrescentar que, aquando <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s águas<br />

para lavagem <strong>da</strong> casa, principalmente na «desobriga»<br />

e lavagem geral pascal, é ao chafariz que a mãe man<strong>da</strong><br />

o filho ou a filha encher os baldes. Ao contrário, quando<br />

man<strong>da</strong> a filha (raramente o filho), à água para beber,<br />

man<strong>da</strong>-a à fonte, mesmo que seja o mesmo local. Há<br />

mesmo ocasiões em que a mãe man<strong>da</strong> a filha buscar<br />

água para beber: «vai à fonte do chafariz».<br />

Tomemos como exemplo a «nossa» aldeia. No<br />

Ladoeiro, há a Fonte <strong>da</strong>s Lajes, que tem um tanque,<br />

construídos em 1934; a Fonte Pequena, 1931; a Fonte<br />

Grande, 1571, que também tem um tanque; a Fonte<br />

Nova, ou Fonte <strong>da</strong> Azinhaga, 1890, que igualmente<br />

tem tanque. As quatro se localizam na parte baixa <strong>da</strong><br />

aldeia, em cima do ribeiro que atravessa to<strong>da</strong> a baixa<br />

<strong>da</strong> povoação. Há ain<strong>da</strong> a Fonte <strong>da</strong>s Pias, a uns cinco<br />

quilómetros do Ladoeiro, para este, e o «Tanque», a<br />

uns 500 metros a sul desta fonte. Por último, a água<br />

do regadio, fruto <strong>da</strong> Barragem Marechal Carmona,<br />

I<strong>da</strong>nha-a-Nova, trouxe um tanque à parte alta <strong>da</strong> aldeia,<br />

no Adro, em meados deste século. 1<br />

O tanque, por excelência, é o «Tanque». Situado<br />

junto à Fonte <strong>da</strong>s Pias, era o local onde as mulheres<br />

iam lavar a roupa algumas (várias) vezes durante o<br />

ano. À cabeça ou no jerico, sozinhas, acompanha<strong>da</strong>s<br />

por um filho ou em grupo, lá iam. A sua água tem<br />

fama de pôr a roupa lin<strong>da</strong>, limpa e bem cheirosa. Ain<strong>da</strong><br />

hoje tal acontece, nomea<strong>da</strong>mente com as mulheres<br />

com mais de quarenta anos. Aliás, mulher que não<br />

fosse lavar ao tanque era «uma porca».<br />

Tem dezasseis pedras de lavadouros e um pequeno<br />

telheiro, construído em 22-10-1933. é um local<br />

aprazível, limpo, arejado e em cujo arranjo a Junta de<br />

Freguesia aposta votos. Igual função desempenha o<br />

tanque <strong>da</strong> Fonte <strong>da</strong>s Lajes. Situado no povoado, em<br />

cima do Ribeiro e num local inacessível ao gado, serve<br />

só para lavar roupa. Aí vão as mulheres <strong>da</strong> aldeia lavar<br />

a roupa semanal ou bi-semanal. O tanque do Adro só<br />

serve para os animais e para lavagens, tal como a<br />

água dos tanques <strong>da</strong> Fonte Grande e <strong>da</strong> Fonte Nova.<br />

A Fonte <strong>da</strong>s Pias é o conjunto de uma bica e onze<br />

pias de granito, ao nível do solo. A Bica para os<br />

homens, as pias para os animais. Mesmo à berma<br />

do caminho, fazendo até parte dele, e situa<strong>da</strong> numa<br />

zona de bons pastos, foram sempre uma água e uma<br />

zona muito disputa<strong>da</strong>s até finais do século XIX, até<br />

terem terminado os «Pastos Comuns». Hoje é a fonte

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!