17.04.2013 Views

Irmãos Flor, sucesso calcado em tecnologia.

Irmãos Flor, sucesso calcado em tecnologia.

Irmãos Flor, sucesso calcado em tecnologia.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

associamos <strong>em</strong> 7.200 bois. Ele entrou com<br />

o pasto e nós com o trato (sal mineral). O<br />

Tonico era um sujeito muito ativo, negociava<br />

muito b<strong>em</strong>. O que o atrapalhou foi<br />

o carteado. Com o dinheiro dessa sociedade,<br />

compramos a primeira fazenda no<br />

Mato Grosso, <strong>em</strong> São José do Xingu, que<br />

meu irmão Antônio, o caçula da família,<br />

começou a tocar. Meu pai queria que<br />

pelo menos um de nós se formasse, e nós<br />

decidimos realizar o sonho dele. O Antônio<br />

formou-se engenheiro, pela Universidade<br />

de Frankfurt, na Al<strong>em</strong>anha. Ficou lá<br />

12 anos, mas decidiu voltar e trabalhar com<br />

a gente. Depois, comprou sua própria fazenda.<br />

No começo dos anos 90, decidimos<br />

participar do leilão da<br />

Agip Petroli, multinacional<br />

italiana pertencente<br />

ao grupo ENI-Ente<br />

Nazionale Idrocarburi,<br />

ex-dona da Liquigás, que<br />

queria vender 256.000<br />

ha na região de Canabrava<br />

do Norte, MT, e<br />

fomos vitoriosos.<br />

Como conseguiram<br />

arr<strong>em</strong>atar as terras?<br />

Nós e o Antônio Garavelo,<br />

dono do extinto<br />

Consórcio Garavelo, entramos<br />

fortes na concorrência.<br />

Dávamos um lance<br />

e ele outro, aí o preço<br />

foi subindo. Para não<br />

favorecer o vendedor,<br />

decidimos parar os lances<br />

isolados e comprar a área juntos.<br />

Dos 256.000 ha, ficamos inicialmente<br />

com 70.000 e eles com 186.000. Pagamos<br />

nossa parte com o dinheiro da venda da fazenda<br />

no Xingu e de 24.000 bois. Na época,<br />

boi valia dinheiro, era reserva de valor<br />

contra a inflação, que chegava a 30%<br />

ao mês. Com o t<strong>em</strong>po, fomos comprando<br />

glebas do Garavelo, até formar uma propriedade<br />

de 171.000, dos quais o Incra desapropriou<br />

30.000 ha, <strong>em</strong> 1998, ao preço<br />

de R$ 100/ha, e não pagou até hoje.<br />

Como foi a abertura da fazenda?<br />

Difícil, pois a região não tinha infraestrutura.<br />

A estrada que passava pela fazenda<br />

virava um grande atoleiro na época<br />

das chuvas. Costumo dizer que o progresso<br />

não anda <strong>em</strong> estrada de chão, n<strong>em</strong><br />

82 DBO abril de 2011<br />

ENTREVISTA –ROMÃO FLOR<br />

pernoita no escuro. O ex-governador Blairo<br />

Maggi adotou essa frase como slogan,<br />

mas até hoje estou esperando pelo término<br />

do asfalto da BR 158, que batizei de rodovia<br />

da promessa. Quando tomei posse<br />

da Fazenda Rio Preto, era tudo mato. Montei<br />

um ranchinho, desses de plástico, que<br />

eu chamava de cinco estrelas, porque tinha<br />

cinco buracos no teto, e vivi nele por muito<br />

t<strong>em</strong>po. Nunca refuguei trabalho. Se for<br />

para morrer, morro <strong>em</strong> pé, não deitado.<br />

Contratei gente de Goiás para abrir picada<br />

e formar os pastos. Hoje, nada disso seria<br />

possível, porque o produtor sofre muita<br />

perseguição.<br />

“O progresso<br />

não anda<br />

<strong>em</strong> estrada<br />

de chão,<br />

n<strong>em</strong><br />

pernoita no<br />

escuro”<br />

Que tipo de perseguição?<br />

Uma vez me multaram por falta de<br />

placa de sinalização nas ruelas da vila. Se<br />

cai um raio no pasto, eles falam que nós<br />

colocamos fogo. Se o satélite detecta uma<br />

fumacinha, diz<strong>em</strong> que é na nossa mata,<br />

quando o incêndio foi no vizinho. O pecuarista<br />

sofre muito preconceito. Ao<br />

contrário do industrial, que é visto de forma<br />

positiva, devido a pesadas campanhas<br />

de marketing, nós, produtores, somos vistos<br />

como bandidos. No ano passado,<br />

passamos 42 dias apagando fogo <strong>em</strong> fazendas<br />

vizinhas, para impedir que as<br />

chamas chegass<strong>em</strong> às nossas terras. Montamos<br />

uma brigada de incêndio equipada<br />

com máquinas pesadas e pessoal treinado.<br />

Até os homens do Corpo de Bom-<br />

beiros de Cuiabá, que chamei para ajudar,<br />

disseram que estávamos mais preparados<br />

para fazer o serviço do que eles. Mas os<br />

órgãos ambientais não reconhec<strong>em</strong> nosso<br />

trabalho.<br />

No ano passado, a Secretaria de Controle<br />

Externo do Mato Grosso, braço regional<br />

do TCU-Tribunal de Contas da<br />

União, abriu um processo contra o Incra<br />

por omissão nas ações relacionadas à nossa<br />

fazenda, pois, na visão deles, trata-se<br />

de propriedade improdutiva, que não<br />

atende sua função social. O Incra fez novo<br />

laudo de inspeção e <strong>em</strong>itiu um parecer a<br />

nosso favor, dizendo que não paira dúvidas<br />

sobre a legitimidade e autenticidade<br />

do domínio e que ele cumpre<br />

indiscutivelmente sua função<br />

social, pois o grau de utili-<br />

zação da terra e eficiência da<br />

exploração estão b<strong>em</strong> acima<br />

dos padrões mínimos estabelecidos<br />

para a região. Tenho<br />

um rebanho de 100.000<br />

cabeças, pastagens totalmente<br />

formadas, infraestrutura<br />

completa, quase 200<br />

funcionários. Como o TCU<br />

pode dizer que essa fazenda<br />

é improdutiva?<br />

Como o senhor vê o contencioso<br />

ambiental?<br />

Estou tentando me adequar,<br />

mas os processos são<br />

incrivelmente lentos. D<strong>em</strong>orei<br />

quase sete anos para<br />

conseguir o georreferenciamento<br />

da fazenda. Agora<br />

estou me preparando para fazer o CAR-<br />

Cadastro Ambiental Rural, para depois tirar<br />

a LAO-Licença Ambiental de Operação,<br />

tudo isso enquanto o Congresso debate<br />

o Código <strong>Flor</strong>estal. Nossas terras estão<br />

<strong>em</strong> uma área de transição, basta verificar<br />

a vegetação nativa, que é tipicamente<br />

de cerrado. O pecuarista vive <strong>em</strong> meio a<br />

um fogo cruzado, pode levar uma bala perdida<br />

a qualquer momento ou se salvar. Não<br />

sab<strong>em</strong>os. Enquanto isso, estou tomando<br />

algumas providências, como a recomposição<br />

de alguns pontos da mata ciliar. Neste<br />

ano, pretendo plantar 50.000 mudas de<br />

espécies nativas como o landim, o pequi,<br />

o angazinho e o genipapo <strong>em</strong> beiras de<br />

córregos e nascentes. Estou fazendo a minha<br />

parte.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!