Irmãos Flor, sucesso calcado em tecnologia.
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Piadista de repertório inesgotável, Romão<br />
<strong>Flor</strong> gosta de prosear, de preferência<br />
diante de uma travessa de frutas,<br />
outro de seus prazeres. Na estrada que dá<br />
acesso à vila da Fazenda Rio Preto, no MT,<br />
plantou extensas alas de mangueiras;<br />
mantém um grande pomar atrás da sede,<br />
com inúmeras espécies frutíferas; e, nas<br />
visitas aos retiros da fazenda, leva consigo<br />
um saco de laranjas ou maçãs para distribuir<br />
aos peões. Mineiro de nascimento<br />
e goiano de coração, ele mescla gestos<br />
mansos com agilidade mental. “Tenho 73<br />
anos para trabalhar e 18 para namorar”,<br />
diz, rindo.<br />
Considera-se um hom<strong>em</strong> simples,<br />
mas não humilde. “Humildade d<strong>em</strong>ais é<br />
ruim, apanha-se muito”, justifica. Romão<br />
veste roupas de corte tradicional, usa botinas<br />
durante o trabalho e mantém o costume<br />
dos homens de sua geração de levar<br />
papel e caneta no bolso da camisa; canivete,<br />
pente e lenço, nos da calça. Seu jeito<br />
comunicativo contrasta com o caráter reservado<br />
do irmão Sebastião, que fala<br />
pouco. Em entrevista à repórter Maristela<br />
Franco, Romão <strong>Flor</strong> <strong>em</strong>ociona-se ao re-<br />
80 DBO abril de 2011<br />
ENTREVISTA –ROMÃO FLOR<br />
Uma história de extr<strong>em</strong>os<br />
“Eu tinha de<br />
andar seis<br />
quilômetros para<br />
chegar à escola,<br />
descalço, s<strong>em</strong><br />
merenda”.<br />
latar episódios de sua infância pobre, <strong>em</strong><br />
Minas, e reivindica maior reconhecimento<br />
para a atividade de pecuarista.<br />
DBO – Como foi sua infância?<br />
Vou te contar como escapei. Nasci <strong>em</strong><br />
1938. Sou o quinto de oito filhos. Éramos<br />
muito pobres. Meu pai trabalhava como lavrador<br />
num pequeno sítio, mas a comida<br />
era pouca, e a gente ainda tinha de ajudar<br />
na roça, moer cana, ralar mandioca. N<strong>em</strong><br />
arroz tinha. Nosso prato principal era feijão<br />
com abóbora. Eu era franzino, d<strong>em</strong>orei<br />
a crescer. Fui estudar tarde e só cursei<br />
três anos. Era muito difícil. Eu tinha de andar<br />
seis quilômetros para chegar à escola,<br />
descalço, cabeça raspada para não pegar<br />
piolho, s<strong>em</strong> merenda.<br />
Parei de estudar aos 14 anos, quando<br />
meu pai morreu de repente e tive de ajudar<br />
o Sebastião a sustentar minha mãe e<br />
meus três irmãos menores. Os mais velhos<br />
já haviam se casado, ficou tudo com a gente.<br />
Criamos uma aliança muito forte, de<br />
parceria e confiança. Comecei a tocar roça<br />
à meia com os vizinhos, comprei bezerros<br />
para treinar como bois de carro. Carreei du-<br />
rante muito t<strong>em</strong>po. Depois que minha mãe<br />
morreu, mudamos para Patos de Minas.<br />
Passamos a negociar de tudo. Comprávamos<br />
e vendíamos queijo, automóvel, sítio.<br />
Até que juntamos dinheiro para engordar<br />
gado <strong>em</strong> pasto alugado.<br />
Quando vocês se mudaram para<br />
Goiás?<br />
No começo dos anos 70. Eu e o Sebastião<br />
fomos a Goiás comprar um carro<br />
Volkswagen e acabamos gostando da região.<br />
Decidimos, então, alugar uma fazenda<br />
e engordar bois. Mais tarde, vend<strong>em</strong>os<br />
tudo o que tínhamos e compramos<br />
uma propriedade <strong>em</strong> Anicuns, a Califórnia,<br />
que t<strong>em</strong>os até hoje. Compramos essa<br />
terra para tocar roça e fomos muito felizes.<br />
Na safra 74/75, colh<strong>em</strong>os 25.000 sacos<br />
de feijão roxo e 150.000 sacos de milho.<br />
Com o dinheiro da lavoura, compramos<br />
muito gado.<br />
Foi nessa época que se associaram<br />
ao Tonico Toqueiro?<br />
Sim. Não tínhamos pasto, e ele era<br />
dono de muita terra, lá <strong>em</strong> Ceres, GO. Nos