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ORGANIZAÇÃO SETE DE SETEMBRO DE CULTURA E ENSINO LTDA<br />

FACULDADE SETE DE SETEMBRO - FASETE<br />

CURSO: LICENCIATURA PLENA EM LETRAS COM HABILITAÇÃO<br />

EM PORTUGUÊS E INGLÊS<br />

CRIZA DE ANDRADE MACÊDO<br />

MAGIA, NATUREZA E MITOLOGIA: A PRESENÇA DA CULTURA<br />

CELTA NA OBRA “O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO” DE<br />

WILLIAM SHAKESPEARE.<br />

PAULO AFONSO-BA<br />

DEZ./2010


CRIZA DE ANDRADE MACÊDO<br />

MAGIA, NATUREZA E MITOLOGIA: A PRESENÇA DA CULTURA<br />

CELTA NA OBRA “O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO” DE<br />

WILLIAM SHAKESPEARE.<br />

Monografia apresentada ao curso de<br />

Licenciatura Plena em Letras com Habilitação<br />

em Português e Inglês, da Faculdade Sete de<br />

Setembro – FASETE. Sob orientação do Profº<br />

Kárpio Márcio de Siqueira.<br />

PAULO AFONSO-BA<br />

DEZ./2010


À menina que fazia com que parasse de correr<br />

ao me mirar com seu olhar curioso de quem<br />

deseja saber quem sou e que ainda, por vezes,<br />

fito... Interrogando-se, achando respostas,<br />

duvidando de suas certezas, que às vezes<br />

chora, mas muito mais me sorrir... Dedico as<br />

linhas deste trabalho.


AGRADECIMENTOS<br />

Eu agradeço a Deus pelo cuidado diário que tem por mim, por seu amor e misericórdia nos<br />

momentos que tenho precisado, por toda força, coragem e inspiração que me concedeu para<br />

concluir este trabalho. Eu Te Agradeço Por Tudo Querido Jesus.<br />

Em especial quero agradecer aos meus pais: Efigênia Ferreira de Andrade Macêdo e Antônio<br />

Lima de Macêdo, que sempre estiveram orando por mim, sei que suas orações têm trazido<br />

bênçãos para minha vida. Hoje tudo o que sou devo a eles. Também quero agradecer A minha<br />

irmã Ester de Andrade Macêdo pelo seu companheirismo e amor, ela que sempre confiou em<br />

mim e que muitas vezes me mostrou o quanto à vida é importante.<br />

Ao meu querido Anildo Reis da Silva pelo incentivo que prestou a mim durante o<br />

desenvolvimento deste trabalho, suas palavras fizeram toda diferença.<br />

Ao meu Professor Kárpio Márcio de Siqueira que me orientou da melhor forma possível,<br />

doando parte do seu tempo para a construção desse trabalho. Kárpio é de grande importância<br />

para essa pesquisa, graças ao seu conhecimento e capacidade que esse trabalho teve início.<br />

Obrigado Professor Kárpio por acreditar em meu potencial.<br />

E a toda minha família e amigos que me apoiaram, tanto na vida particular como profissional.<br />

Obrigado Por Tudo!


“Mas muito mais feliz na terra é a rosa que<br />

destilar se deixa do que quantas no espinho<br />

virgem crescem, vivem, morrem em sua<br />

beatitude solitária”.<br />

William Shakespeare.


MACÊDO, Criza de Andrade. Magia, Natureza e Mitologia: A Presença da<br />

Cultura Celta na Obra “O Sonho de uma Noite de Verão” de William<br />

Shakespeare. 2010. 49 f. Monografia (Licenciatura em Letras<br />

Português/Inglês). Faculdade Sete de Setembro – FASETE. Paulo Afonso – BA.<br />

Este trabalho procura demonstrar o surgimento da literatura inglesa e as influências que<br />

recebeu de diferentes povos que viveram na Inglaterra. Logo após a formação dessa nação<br />

veremos o contexto histórico que marcou o século XVI durante o reinado de Elizabeth e o<br />

surgimento de William Shakespeare, onde toda a sociedade passou por transformações com a<br />

Reforma Protestante e o Renascimento, criando uma nova literatura através dos aspectos<br />

econômicos e culturais que atingiu a sociedade Britânica. Nesta pesquisa analisaremos os<br />

aspectos da natureza na obra O Sonho de uma Noite de Verão de William Shakespeare,<br />

destacando a cultura celta, a magia e a mitologia, representadas na obra com precisão por<br />

Shakespeare através das imagens que observava na natureza.<br />

Palavras-Chave: Literatura Inglesa, William Shakespeare, O Sonho de uma Noite de Verão.


This research paper demonstrates the origen of the English Literature and the influences that<br />

received by different peoples that lived in England. After the formation of this nation we will<br />

observe the historical context that marked the century XVI during Elizabeth‟s reign and the<br />

appearance of William Shakespeare, where all the society passed by transformation with the<br />

Protestant Reform and the Renaissance, creating a new Literature through the economic and<br />

cultural aspects that affected British society. In research paper we will examine the aspects of<br />

the nature in the work A Midsummer-Night‟s Dream by William Shakespeare emphasizing<br />

Celt‟s culture, the magic and the mythology, represented with precision in Shakespeare‟s<br />

Work, through the pictures that he observed in nature.<br />

Key-words: English Literature, William Shakespeare, A Midsummer-Night‟s Dream.


SUMÁRIO<br />

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 09<br />

2. LITERATURA INGLESA ................................................................................................ 11<br />

2.1. O ESPAÇO DE ROMA NA INGLATERRA ................................................................... 12<br />

2.2. O ESPAÇO ANGLO-SAXÃO E OS NORMANDOS ..................................................... 12<br />

2.3 CULTURA CELTA ........................................................................................................... 14<br />

2.4. LITERATURA CELTA .................................................................................................... 16<br />

2.5. A REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA NA LITERATURA INGLESA ..................... 18<br />

3. WILLIAM SHAKESPEARE - CONTEXTO HISTÓRICO .......................................... 20<br />

3.1 A VIDA E A PRODUÇÃO SHAKESPEARIANA ........................................................... 23<br />

3.2 COMÉDIAS ....................................................................................................................... 28<br />

4. O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO - UMA ANÁLISE ....................................... 34<br />

4.1 PERFIL DOS PERSONAGENS ........................................................................................ 34<br />

4.2. ENREDO ........................................................................................................................... 35<br />

4.1 A PRESENÇA DA NATUREZA ...................................................................................... 36<br />

4.2. A MITOLOGIA, MAGIA E A CULTURA CELTA ........................................................ 41<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 46<br />

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 48


1 INTRODUÇÃO<br />

A literatura é construída juntamente com a história de uma nação, as culturas de diferentes<br />

povos e suas diversidades compõem a literatura, mostrando às mudanças e aperfeiçoamentos<br />

que são transferidos de uma geração a outra com a passagem dos anos. No contexto histórico<br />

da literatura inglesa conhecemos a relação entre língua e literatura, no qual o desenvolvimento<br />

da língua inglesa acontece durante o percurso da literatura inglesa. As mudanças, o<br />

crescimento e a evolução de uma nação se tornam bases para o alvorecer da literatura, é por<br />

ela que os acontecimentos e pensamentos são registrados através dos tempos.<br />

A literatura inglesa tem características que possuem um diferencial nas obras escrita em inglês<br />

percebemos a essência da Inglaterra, assim como os costumes do povo que transmitem a<br />

origem de um país e suas virtudes naturais. Os períodos de desenvolvimento da Ilha Britânica<br />

eram retomados para dentro da literatura inglesa, desde quando a literatura era passada<br />

oralmente pelos celtas como depois com a chegada dos romanos, anglo-saxão e os normandos<br />

que estabeleceram o cristianismo na Inglaterra, esses fatos favoreceram a literatura, pois ela<br />

em sua grande maioria passou a ser escrita pelos monges na idade média.<br />

A Inglaterra passou por fortes mudanças, a Rainha Elizabeth tinha posse do trono, durante o<br />

seu reinado a Inglaterra se desenvolveu, a literatura se expandiu, e o renascimento chegou<br />

revolucionando o drama inglês. Surge então William Shakespeare considerado o maior<br />

dramaturgo de todo o mundo. O século XVI marca a história da literatura com as<br />

transformações culturais e econômicas da Inglaterra.<br />

Shakespeare trás em suas obras os aspectos da vida humana encontrados na sociedade em que<br />

viveu, no entanto, sua busca estava na profundidade do psicológico da sociedade, seus<br />

personagens descrevem intimamente características tais como a inveja, o amor, o medo, a<br />

indecisão e a busca pelo poder, seus temas se baseavam no contexto social da época que<br />

refletem no momento atual.<br />

Este trabalho monográfico se divide em três capítulos, o primeiro capítulo fala sobre a<br />

literatura inglesa num contexto histórico que ressalta as conquistas e mudanças de diferentes<br />

povos que viveram na Inglaterra, onde também retoma a literatura e cultura celta dando ênfase<br />

a representação da natureza dentro da literatura inglesa.<br />

9


Durante o segundo capítulo veremos os aspectos históricos no momento em que viveu<br />

William Shakespeare, e as influências que recebeu em suas produções literárias,<br />

intensificando a grandeza de sua vida como escritor sendo representado através de suas obras<br />

e sua plena importância para a literatura inglesa e a literatura de todo o mundo.<br />

No terceiro capítulo analisaremos a Obra Um Sonho de uma Noite de Verão, evidenciando a<br />

representação da natureza, assim como os aspectos da Mitologia, Magia e a Cultura Celta<br />

encontrados na obra.<br />

A base para este trabalho se deu por meio de uma pesquisa bibliográfica de livros que se<br />

referem ao assunto da Literatura Inglesa e a relação da literatura com a natureza além de<br />

outros autores que abordavam tema sobre a vida de William Shakespeare e suas obras. Tendo<br />

como principal objetivo estudar os conteúdos para o desenvolvimento desse trabalho para que<br />

sirva como instrumento de pesquisa para outras pessoas.<br />

10


2 LITERATURA INGLESA<br />

A produção Literária é uma manifestação cultural que acontece em todo o mundo, e a<br />

Literatura inglesa não é diferente. Sabemos o quanto ela antecede as correntes literárias dos<br />

outros países, rica pela misturas de povos que invadiram a Inglaterra e deixaram suas<br />

influências.<br />

Sendo a Inglaterra uma ilha, pensamos que não deve ser profunda a contribuição que uma<br />

língua poderia receber. Mas, a literatura e a língua inglesa nos mostram o quanto à Inglaterra<br />

se expandiu conforme as invasões e tentativas de possessão de terras.<br />

A Literatura Inglesa teve sua formação prestigiada por culturas diferentes, dentre elas estão os<br />

Celtas, Romanos e Germânicos. É por esse vasto povo que viveu na Ilha Britânica que temos<br />

uma língua que sofreu variações com o passar do tempo, dentro dessas mudanças veremos<br />

como a literatura inglesa surge e juntamente com ela toda a evolução histórica da Língua<br />

inglesa. Nesse contexto histórico notamos que a literatura inglesa esteve lado a lado com a<br />

língua inglesa. Durante o período que os movimentos literários eram formados a língua<br />

inglesa ia tomando forma deixando de lado os dialetos, o latim e o inglês arcaico usado na<br />

idade média.<br />

Todavia, sabemos que a literatura inglesa foi constituída não somente por escritores ingleses,<br />

mas por todos aqueles que conhecem a língua inglesa e a utilizou na escrita de suas obras,<br />

quando nos referimos à literatura inglesa, falamos tão somente de todas as obras que foram<br />

escritas na língua inglesa.<br />

“A literatura inglesa é a literatura escrita em inglês. Não é apenas a literatura<br />

da Inglaterra ou das ilhas britânicas, mas um corpo vasto e crescente de<br />

escritos constituído pela obra de autores que usam a língua inglesa como um<br />

veículo natural de comunicação”. (BURGESS, 2006. p.17)<br />

Para Borges (2006, p.1), “A literatura inglesa começa a se desenvolver em fins do século VII<br />

ou princípios do século VIII. São dessa época as primeiras manifestações que possuímos<br />

anteriores às das outras européias”. Vemos que os primórdios da literatura inglesa vêm desde<br />

o povo celta até 1066 quando os normandos chegaram à Inglaterra.<br />

11


A abertura da literatura na Inglaterra foi constituída através da oratória, as poesias eram<br />

cantadas e contadas pelo povo celta, para Silva (2005, p.18) “os celtas não utilizaram a escrita<br />

para deixarem registrada a sua história; toda a sua cultura era passada oralmente pela classe<br />

religiosa”. Assim, durante esse período muita coisa se perdeu, deixando pouca influência na<br />

língua inglesa que é usada hoje.<br />

2.1 O ESPAÇO DE ROMA NA INGLATERRA<br />

Quando Roma tomou posse da Inglaterra em 43 d.C. parte da cultura celta foi destruída, o<br />

cristianismo e o latim começaram a ser promovido pelos romanos entre o povo celta, somente<br />

em meados de 409 d.C. Roma foi retirada do país pelos anglo-saxões, mas o novo cenário<br />

social e político deixado por Roma através do cristianismo prevalecem. Conforme Silva<br />

(2005, p. 22) “mesmo com a saída dos romanos da Bretanha em 409 d.C., essa instituição se<br />

tornaria não apenas uma força religiosa, mas também política e econômica a partir do período<br />

anglo-saxônico”. Não restou muito da cultura celta e romano na Inglaterra, mas a língua<br />

deixada pelos romanos que é o latim marca o inglês até os dias atuais.<br />

Roma caiu, e os anglo-saxões vieram invadir o território inglês. No entanto, com a invasão<br />

dos germânicos, o cristianismo continuou ponderando na Inglaterra e conseguinte o sistema<br />

político e econômico deixado pelos romanos. Segundo Silva (2005, p. 29) “o cristianismo foi<br />

fundamental para o desenvolvimento da literatura na Inglaterra pelo simples fato de que, antes<br />

dele, não havia livros. [...] os celtas, a cultura dos anglo-saxônicos era transmitida oralmente”.<br />

Vemos que o cristianismo foi fundamental para a literatura inglesa, apesar de todas as poesias<br />

e histórias serem entoadas, os leitores de hoje têm acesso a criação dos antepassados que<br />

foram salvas por serem passadas de geração a geração.<br />

2.2 O ESPAÇO ANGLO-SAXÃO E OS NORMANDOS<br />

No período anglo-saxão, a Literatura Inglesa inicia o processo de desenvolvimento através da<br />

escrita, o domínio dos germanos à ilha trouxe vantagens, pois era um povo que sabia governar<br />

e conhecia as artes e juntamente consigo veio a sua literatura. Para Burgess (2006, p. 24)<br />

“Eram fazendeiros e homens do mar, sabiam algo a respeito do direito e da arte de governar e<br />

12


[...] trouxeram com eles uma literatura da Europa para a Inglaterra”. Mesmo sendo usado o<br />

inglês arcaico e o latim, hoje temos uma valorosa produção literária que busca mostrar todos<br />

os mitos, crenças e o contexto histórico da Inglaterra.<br />

Em Beowulf, um poema épico de 3.182 versos, criado em meados do século VIII d.C. vemos<br />

muito da mitologia e da magia deixada pelo povo pagão, ou celta. O poema que faz parte da<br />

literatura anglo-saxônica, conta a história de uma batalha de um homem com um ogro e sua<br />

mãe uma bruxa, apresentando uma lenda com fortes características célticas.<br />

“[...] narrativa em verso que trata de batalhas, heroísmos, feitos sobre<br />

humanos, perigos, forte presença do sobrenatural, amor, honra e amizade na<br />

qual mito, lenda e historia se encontram para criar um efeito maior que a<br />

vida. O poema também tem um caráter nacional simbolizado na figura do<br />

herói. Devido a essa estrutura, sua linguagem é grandiosa e solene. Todos<br />

esses elementos que caracterizam um poema épico estão presentes em<br />

Beowulf.” (SILVA, 2005, p. 42)<br />

Portanto, essa obra marcou a literatura inglesa se tornando referência na demonstração das<br />

características do povo e suas crenças, além de ressaltar a natureza como forte elemento que<br />

em suas paisagens transmitem situações obscura e de riscos profundos.<br />

A maioria dos ingleses tinha se tornado cristão fazendo com que a igreja crescesse, quando os<br />

monastérios já existiam na Inglaterra os monges começaram a inscrever a Literatura anglo-<br />

saxônica. Como afirma Burgess (2006, p.24) “[...] os registros da primeira literatura dos<br />

anglo-saxões pertencem à Inglaterra cristã, escritos por monges e guardados em monastérios”,<br />

visto que muito do que eram lembrado e registrado em sua maioria seus autores não eram<br />

conhecidos. Porém, na literatura inglesa o verso antecede a prosa, e sabe-se que a poesia era<br />

recitada de forma épica que exprime a identidade dos habitantes da Bretanha.<br />

De acordo com Silva (2005, p.51) “A invasão dos normandos em 1066 e a instauração de seu<br />

modo de vida causaram uma profunda transformação nas esferas social e política e artística da<br />

Inglaterra cujos reflexos ainda estão presentes nos dias de hoje”. Com a chegada dos<br />

normandos, já convertidos ao cristianismo a Inglaterra chega à idade média, prosseguindo<br />

com o desenvolvimento do país, porém não podemos falar o mesmo na sua contribuição à<br />

literatura inglesa. Os normandos ergueram a Ilha Britânica através do meio social e político,<br />

mas, o que se pode perceber é que a sua contribuição para com a literatura não foi verdadeira,<br />

quando a colocamos ao lado dos momentos literários feita pelos povos celtas e anglo-saxão.<br />

Segundo Burgess (2006, p.32) “Os normandos na Inglaterra criaram uma literatura que não<br />

13


era nem uma coisa nem outra – nem uma autêntica literatura inglesa nem uma autêntica<br />

literatura francesa”.<br />

Entretanto, nota-se que foi a partir da língua usada pelos normandos que o inglês arcaico foi<br />

deixado e uma nova língua inglesa foi fincada na corrente literária e entre os cidadãos<br />

Ingleses. De modo geral a literatura inglesa é a história de toda a Ilha Britânica, sendo ela<br />

contada através dos mitos, lendas que os celtas criaram através da poesia, e em seguida os<br />

anglo-saxões com epopéias, que tiveram grandes destaques até hoje na historia da Inglaterra.<br />

2.3 CULTURA CELTA<br />

Os celtas são conhecidos desde antes de 2000 a.C. quando chegaram à Inglaterra.<br />

“As controvérsias sobre os celtas começam com a data de sua chegada à<br />

Bretanha. Segundo os estudiosos, quando falamos sobre os celtas devemos<br />

ter em mente vários povos pertencentes ao mesmo tronco indo-europeu que<br />

iniciaram sua passagem do continente para a ilha no ano de 2000 a.C.”<br />

(SILVA, 2005, p.18)<br />

Os celtas simbolizam os primórdios da língua e literatura inglesa, além de serem os primeiros<br />

habitantes da Bretanha a deixar sua herança cultural. A língua usada pelos celtas é muito<br />

pouco usada no inglês moderno, mas sua cultura ficou marcada até hoje em todo o mundo.<br />

Sua cultura recebe influências dos gregos, vemos isso por meio dos cultos aos deuses. Os<br />

celtas cultuavam a natureza como a deusa mãe, usava a terra para o cultivo e fonte de renda,<br />

para eles todo ser vivo possui alma, ou necessariamente, todo o ambiente é vivo.<br />

A cultura celta nos chama atenção através do mito e dos deuses que são cultuados, o povo<br />

celta atribui formas aos deuses por meio do seres da natureza. Daí, a trindade celta onde um<br />

único deus é simbolizado pela a força, a sabedoria, o amor e a beleza, exibem como funciona<br />

celtismo e a trindade, ou seja, A Sabedoria é vista através do ancião que ensinava e<br />

aconselhava os homens mais jovens que se tornariam guerreiros. A Força foi dada aos jovens<br />

como símbolo do homem que cuida da terra, e luta pelo seu povo. O Amor e a Beleza foram<br />

concedidos a Mulher, perante todos os aspectos do amor materno, fraterno, e o amor que a<br />

mulher como companheira possa compartir com um homem.<br />

14


“NERZ, a Força, SKIANT, a Sabedoria, KARANTEZ, o Amor, a Beleza.<br />

Cada uma destas três modalidades dá lugar a uma „Personificação‟ particular<br />

de OIW (Deus). [...] E os Celtas, por um antropomorfismo comum a todos os<br />

povos, personificaram estes Atributos. [...] E este triplo aspecto de um só<br />

Deus lhe basta. Com três formas escolhidas entre as mais elevadas que a<br />

vida cotidiana lhe oferece”. (AMBELAIN, 1991, p.32-33)<br />

Notamos que A trindade celta é marcante na cultura celta, por meio dela que vemos como a<br />

sociedade foi formada, suas influências marcaram e constituíram os costumes de muitos<br />

povos tanto em 2000 a.C. durante a idade média e hoje em todo o mundo.<br />

Na sociedade homens e mulheres eram tratados com igualdade, e aderiam o mesmo lugar na<br />

sociedade. A esse respeito afirma Silva (2005, p.19) “É importante mencionar que as<br />

mulheres eram tratadas como iguais perante aos homens e podiam, inclusive, se tornar líderes<br />

de sua tribo”.<br />

Os sacerdotes celtas chamados de Druídas eram responsáveis pela passagem de geração em<br />

geração da mitologia e crenças celta, eles dominavam a sociedade e eram vistos como<br />

conselheiros para os reis, por intermédio do poder religioso e político que exerciam entre o<br />

povo celta.<br />

“Os druídas desempenhavam um papel-chave na sociedade Celta, pois<br />

detinham o poder político e religioso. Tão forte era a influência dos druidas<br />

sobre seu povo que eles eram vistos como uma ameaça pelo império<br />

romano”. (SILVA, 2005, p.20)<br />

O comportamento dos celtas, desde os rituais e a crença nos seres que estavam na natureza,<br />

contribuíam no desenvolvimento tanto dos jovens que eram preparados para batalha, onde os<br />

sacerdotes que instruíam esses jovens eram vistos como mestres, e como das mulheres que<br />

doavam seu amor para com os filhos, esposo, e toda a sociedade. Os celtas buscavam o poder<br />

da mãe terra, por ser vista como meio que fornece energia, alimento e dá subsistência ao ser,<br />

além de abrigar o homem.<br />

“[...] os celtas de forma geral eram animistas, ou seja, acreditavam que os<br />

elementos da natureza eram encarnações dos espíritos de e seus<br />

antepassados. Eles estabeleceram uma misteriosa relação com as arvores,<br />

usando bosques sagrados como templos, além de acreditar que após a morte<br />

vivia-se nas pedras, na água, ou nas colinas. Compartilhavam da crença de<br />

que a natureza era a Terra Mãe, fonte de tudo, e daí decorre sua valorização<br />

das mulheres.” (SILVA, 2005, p.20)<br />

Um costume que ficou marcado até hoje em quase todo o mundo é o Halloween, que é uma<br />

festa do povo celta no período que chegava a colheita, esse era um ritual de agradecimento<br />

15


oferecido aos antepassados celebrando as boas novas após a colheita. No entanto, hoje é tido<br />

como o dia das bruxas, onde é festejado em outras culturas. Conforme Silva (2005, p.21) “O<br />

Halloween, como é comemorado atualmente, é uma celebração que reúne costumes celtas e<br />

crenças cristãs levados para a América por imigrantes irlandeses no começo do século XX.”.<br />

Entretanto, mesmo após a invasão de Roma, e a chegada do cristianismo, acreditou-se que as<br />

origens dos cultos celtas teriam sido apagadas, porém as crenças célticas penetraram na<br />

Bretanha, no cristianismo que imaginava tê-las apagado, dessa forma os cultos celtas<br />

sobreviveram até hoje. Assim, a fim de prevalecer o culto aos deuses e toda a cultura celta,<br />

foram criadas As Tríades da Ilha da Bretanha, que eram usadas pelos Druídas como um meio<br />

de sentenciar leis ou normas, que facilitavam a memorização dos seus seguidores.<br />

“As Tríades são aforismos sempre desenvolvidos imutavelmente em três<br />

pontos principais, provavelmente para gravá-los mais facilmente na memória<br />

do discípulo do Druída. Há tríades históricas, morais, jurídicas, teológicas,<br />

poéticas, etc., cuja massa é considerável”. (AMBELAIN, 1991, p.157)<br />

As tríades favorecem a história e a literatura celta, pois elas correspondem o real valor do que<br />

se acredita na cultura do povo gaulês, onde matem a tradição druídica.<br />

2.4 LITERATURA CELTA<br />

A literatura inglesa é fortemente composta pela literatura celta, algumas lendas como Asterix<br />

e Obelix, o Rei Arthur, entre outras, todas têm características cultural dos gauleses, eis que<br />

nessas lendas notamos o místico, a adoração do homem para com a natureza e suas crenças<br />

em deuses que ganharam formas. Observamos como a comunidade era constituída e<br />

governada, e com relação à posição da mulher percebemos sua igual condição no meio social<br />

e político com o homem.<br />

Na lenda do Rei Arthur, observamos vários pontos históricos da época, percebemos que<br />

Arthur era um guerreiro cristão, ou seja, tinha adotado o cristianismo. Porém as suas raízes<br />

eram do povo celta.<br />

“Um herói bem maior do que qualquer um outro da Grécia ou de Roma<br />

emerge na figura do rei Arthur. [...] Arthur pertence à mitologia de uma raça<br />

– os galeses ou autênticos bretões - que os anglo-saxões expulsaram da<br />

Inglaterra e que os normandos, invadindo suas fronteiras, esmagaram com<br />

mão de ferro”. (BURGESS, 2006, p. 33 - 34)<br />

16


Nessa lenda o mago Merlin era o conselheiro de Arthur, Merlin é considerado um homem<br />

sábio, ou seja, um druída, sacerdote que passava os ensinamentos para a população celta. A<br />

espada Excalibur é uma das grandes lendas que pertence aos celtas, acredita-se que ela foi<br />

feita pelas sacerdotisas de Avalon, que segundo a lenda foi criada com magia e símbolos<br />

místicos.<br />

“A famosa espada do rei Arthur, chamada nos primeiros relatos de<br />

Caladfwich (derivação da palavra galesa caladbolg – “duro corte”) e<br />

posteriormente no século XII de Caliburn, foi entregue a ele pela Dama do<br />

Lago e foi forjada pelas fadas”. (SILVA, 2005, p.83)<br />

Lancelot, o melhor dos guerreiros do Rei Arthur também descendia do povo gaulês, consta na<br />

história do Rei Arthur que os guerreiros se reuniam na Távola Redonda para comemorar suas<br />

vitórias, a mesa era algo simbólico que foi criado pelos celtas.<br />

“A famosa mesa circular criada pelo mago Merlin com o propósito de<br />

agrupar 150 cavaleiros era o ponto de encontro no qual Arthur e sua<br />

companhia celebravam seus feitos. O formato da mesa tem suas origens na<br />

reverência celta ao círculo como um símbolo da coerência e da totalidade. A<br />

cultura celta e tudo o que se acreditava pelo povo gaulês são fortemente<br />

citados na lenda do rei Arthur”. (SILVA, 2005, p. 85)<br />

Em Asterix e Obelix, a magia é mostrada através de dois guerreiros que por terem uma porção<br />

mágica consegue derrotar o exercito romano. Essas lendas são de certa forma a história da<br />

Inglaterra, é através delas que nos baseamos nos acontecimentos históricos da Ilha Britânica.<br />

“Contam a historia de Asterix, um baixinho narigudo que, após beber a<br />

porção mágica preparada pelo druida Panoramix, adquire uma momentânea<br />

força sobre humana e comenda a resistência celta-gaulesa aos ataques dos<br />

legionários romanos dos fortes de Babaorum, Aquarium, Laudanum e<br />

Petibonum. Ao lado de Asterix esta Obelix, um simpático comilão que caiu<br />

no caldeirão da poção mágica quando era pequeno, beneficiando-se dos<br />

efeitos permanentemente”. (SILVA, 2005, p.23)<br />

A lenda de Asterix e Obelix é uma versão de um dos momentos em que o povo celta resistia<br />

ao império Romano.<br />

A literatura celta assim como grande parte da literatura inglesa foi transmitida oralmente, mas,<br />

isso não foi o bastante para impedir que ela se estendesse até hoje. Inicialmente, notamos que<br />

as Tríades da Ilha da Bretanha eram usadas pelos druídas em seus ensinamentos, foi muito do<br />

que não se perdeu da literatura celta, muito das tríades foram manuscritos e conservados. As<br />

tríades além de serem morais ou históricas também podem ser poéticas, dessa forma as tríades<br />

foram mais uma expressão literária celta.<br />

17


Os celtas trouxeram conhecimento histórico, místico e o cultivo da terra, para o povo da<br />

Inglaterra, além da literatura que deu formação para os povos, instruiu guerreiros para guerra,<br />

criou leis, divertiu com poemas e contos. A literatura celta nos auxilia no estudo do homem<br />

com o mundo, e com a natureza.<br />

2.5 A REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA NA LITERATURA INGLESA<br />

A Inglaterra também é verde, tem um clima aconchegante, é frio durante o inverno e quente<br />

durante o verão, mas nenhuma das temperaturas chega a ser insuportável. Na Inglaterra a<br />

passagem das estações é notada e festejada uma a uma pelos ingleses. Com belos campos,<br />

vegetação verde, lagos, rios, e florestas montanhosas, a natureza da Inglaterra se tornou um<br />

centro de encantamento por sua beleza, belezas que se tornaram símbolos e interpretações<br />

para as mais variáveis situações do estado da alma do ser humano. Muitos poetas se<br />

inspiraram no encanto dos aspectos da natureza, tal graciosidade transporta o homem para<br />

uma condição comparável ao da natureza.<br />

“O predomínio do mar e a terra formam o clima inglês. Nos trópicos não há<br />

estações a não ser o tempo chuvoso e o tempo seco, mas na Inglaterra temos<br />

consciência da Terra se aproximando e se afastando do Sol – primavera,<br />

verão, outono, inverno, e as festas associadas a essas estações. [...] Quatro<br />

estações distintas, mas todas relativamente suaves - o verão demasiado<br />

nunca quente e o inverno nunca ártico”. (BURGESS, 2006, p.18)<br />

Para Conhecer o clima inglês é necessário vive-lo, é poder sentir o frio nas montanhas, e<br />

apreciar a braveza das ondas do mar, é esperar a chegada do verão para saborear o sol e o<br />

vento quente acompanhado do verde admirável. Essa exuberante vida natural, as diversidades<br />

que existem na natureza, os efeitos que ela causa em nossos sentidos, são transformados em<br />

sentimentos pelos poetas, como a paixão, a tristeza, melancolia, a saudade e os temas mais<br />

variados que avassalam o coração do homem. Esses sentimentos são especialmente notados<br />

em todas as paisagens da linda Inglaterra.<br />

A beleza de um país que é uma ilha cercada por montanhas, um mar gelado e agitado,<br />

florestas de um verde sublime, que os escritores ingleses se inspiravam, e trazia para dentro de<br />

suas poesias, porque para eles a natureza é vista como um símbolo primordial da aproximação<br />

de um mundo belo. A natureza pode estar presente nas estações do ano, com suas passagens,<br />

nas tempestades, ou dias de muito sol. O escritor interage com a natureza que funciona como<br />

18


estímulo liberando o intenso desejo de expressão de espírito do escritor. Normalmente todos<br />

os poetas mostram o sentimentalismo através dos poemas que refletem, demonstram e<br />

indicam o sentimento do poeta, suas emoções transmitem a essência da vida.<br />

“A Inglaterra é uma ilha, e o mar banha tanto sua literatura quanto suas<br />

costas. É um mar frio, tempestuoso, bem diferente do plácido Mediterrâneo<br />

ou das águas quentes dos trópicos. Sua voz nunca está muito distante da<br />

música da poesia inglesa [...]. A paisagem da Inglaterra é variada –<br />

montanhas e lagos e rios -, mas seu efeito uniforme é de suavidade verde –<br />

colinas perto do mar e fazendas e florestas. [...] Temos de conhecer algo<br />

sobre a paisagem inglesa antes de começarmos a apreciar os poetas ingleses<br />

da natureza”. (BURGESS, 2006, p.18)<br />

Conhecer a literatura inglesa é ao mesmo tempo descobrir a natureza da Ilha Britânica,<br />

quando os primeiros textos começaram a surgir passavam a descrever as características da<br />

natureza, que foi muito bem representada pela literatura inglesa, onde vemos o culto à<br />

natureza refletida em obras escritas desde a idade média.<br />

“A Inglaterra é uma nação de marinheiros e de viajantes, e esses personagens<br />

se refletem em sua literatura, assim como o mar frio e tempestuoso. Desde o<br />

século X, em poemas anglo-saxônicos como “The Wanderer” (975 d.C.), até<br />

o século XX, [...]”. (SILVA, 2005, p.4)<br />

Em Beowulf vemos o quanto os sentimentos são expressos por meio da natureza em vários<br />

pontos da obra, a narração está cheia de elementos que descrevem florestas, rios, cavernas,<br />

fazendo com que a narrativa fique repleta de ações que excita o leitor.<br />

“Esse monstro percorre os ermos e vive com a mãe no fundo de uma laguna,<br />

tão profunda que o herói, que mergulha nela, tem de nadar um dia inteiro<br />

para chegar à caverna subterrânea [...]. Dizem que os cervos temem se<br />

aproximar da laguna, como uma zona de tempestades, de neblina, de solidão,<br />

e por causa do que também poderíamos chamar de horror sagrado. [...] no<br />

Beowulf temos o sentimento da natureza como algo temível, além do mais,<br />

como algo hostil aos homens; o sentimento da noite e da escuridão como<br />

algo temível, [...]”. (BORGES, 2006, p.23-24)<br />

Certamente na literatura inglesa vemos o quanto às sensações são ressaltadas com o relato das<br />

ações em Beowulf. Os poetas conseguiam traduzir as características dos indivíduos, por meio<br />

dos elementos da natureza. Tais elementos são cultualdos pelos poetas ingleses no intenso<br />

meio de escrever poemas que tem a prentenção de comparar a personalidade humana e suas<br />

qualidades com a própria natureza.<br />

19


3 WILLIAM SHAKESPEARE – CONTEXTO HISTÓRICO<br />

A Inglaterra se estabilizou no sec. XVI com o reinado de Henry VII durante 1485-1509, um<br />

período de desenvolvimento na Inglaterra, como um Rei ele proporcionou a inglaterra paz e<br />

prosperidade, após sua morte seu filho Henry VIII subiu ao trono, diferentemente do seu pai,<br />

Henry era um gastador que acabou com toda riqueza que seu pai havia poupado, porém, em<br />

seu domínio rompeu com a Igreja católica, dando inicio a Igreja Anglicana.<br />

Henry VIII, casou-se várias vezes, Primeiro com a mãe de sua primeira Filha Mary I, mas<br />

como queria um filho para herdar o trono, casou pela segunda vez, porém sua esposa teve<br />

uma filha que foi chamada de Elizabeth I. No entanto, não estando satisfeito armou para que<br />

sua segunda esposa fosse executada, casando pela terceira vez e tendo seu primeiro filho<br />

Edward IV.<br />

“Henry VIII queria um herdeiro legítimo, mas após vinte anos de casamneto,<br />

sua esposa católica, Catarina de Aragão, só havia lhe dado uma filha, Mary.<br />

Ele decidiu então pedir ao papa que lhe concedesse o divorcio a fim de que<br />

ele pudesse se casar com sua amante, Ana Bolena. Acontece que além de ser<br />

o lider da Igreja Catolica, o papa Leão X era sobrinho da esposa de Henry<br />

VIII e obviamente negou-lhe o pedido de divorcio. Henry então matou dois<br />

coelhos com uma só cajadada: tomou as terras da Igreja declarando-se chefe<br />

da mesma na Inglaterra, e se casou com Ana Bolena. Estava criada a Igreja<br />

Anglicana”. (SILVA, 2005, p.106)<br />

Nesse mesmo período a Reforma Protestante teve início através de Lutero em 1517 em Roma.<br />

Lutero pregava contra os abusos da Igreja Católica, como a venda do perdão e de indulgências<br />

para alcançar a salvação, mas, para Lutero a salvação vinha somente da fé. João Calvino havia<br />

aderido a reforma, Calvino foi perseguido, com isso, teve que fugir se refugiando em<br />

Genebra, onde fundou o Calvinismo. João era contra a vida luxuosa, o culto das imagens e os<br />

divertimentos. O Calvinismo se expandiu, mas não somente por motivos religiosos e sim por<br />

causas econômicas que gerou crescimento no comércio, fazendo com que o protestantismo se<br />

propagasse em vários países, entres eles estava a Inglaterra.<br />

Entretanto, após a morte de Henry VIII, Edward IV subiu ao trono, mas, morreu cedo, logo<br />

depois, começou o reinado de sua Irmã Mary I, que tentou restituir a Igreja católica, porém<br />

seu reinado foi rejeitado pelo povo inglês, quando Mary veio a falecer, as boas novas foram<br />

trazidas a Inglaterra com o governo da Rainha Elizabeth I em 1558, Elizabeth reestabeleceu o<br />

20


governo, organizando os problemas religiosos que foram causados por sua irmã; Elizabeth<br />

ergueu a Igreja Anglicana como única a ser seguida pelo povo.<br />

Durante o período do seu domínio a europa passou por mudanças que chegaram a Inglaterra,<br />

fatores importantes para o desenvolver da Ilha Brintânica. Porém, devemos ressaltar que o<br />

desenvolvimento da Inglaterra foi devido as navegações concedida pela rainha, que buscavam<br />

por terras, e favoreciam o comércio com outros países. Nesse momento os espanhóis tentaram<br />

invadir a Ilha Britânica, mas, foram derrotados pelos ingleses. Após a derrota dos espanhóis<br />

vários comerciantes protestantes fugiram para a Inglaterra, dessa forma, a Ilha foi favorecida<br />

com todos esses acontecimentos, que proporcionou a chegada da Renascença, aumentando o<br />

crescimento de Londres.<br />

“[...] Elizabeth se cercou dos melhores conselheiros que a ajudaram a<br />

enfrentar as dificuldades de uma economia arrsada pelas fanfarronices de seu<br />

pai. No Parlamento, Elizabeth demosntrou habilidade ao evitar<br />

radicalizações políticas. Ela conseguiu encontrar um ponto de equilibrio<br />

entre os anseios de prostestantes e católicos, ao mesmo tempo em que firmou<br />

a sua posição como líder da Igreja Anglicana: “Para mim, há apenas um<br />

Jesus Cristo e uma fé. O resto são Trivialidades”, declarou certa vez”.<br />

(SILVA, 2005, p.108)<br />

A Reforma Protestante é paralelo a Renascença. A Renascença foi um movimento que se<br />

desenvolveu na Itália no mesmo momento histórico que a Reforma Protestante. O<br />

Renascimento chegou e se firmou durante o reinado de Elizabeth, a Rainha admiradora das<br />

artes.<br />

“O Renascimento se opôs à mentalidade medieval mediante a idéia de que a<br />

razão deveria se sobrepor ao pensamento religioso tradicional e ser aplicada<br />

para um melhor entendimento do mundo. Em vez da ênfase no „mundo de<br />

Deus‟, a sociedade caminhou para um antropocentrismo (homem como<br />

centro), valorizando a obra humana. Isso levou ao desenvolvimento do<br />

racionalismo, do humanismo e do nacionalismo”. (SILVA, 2005, p.110)<br />

Esse era o novo modo de pensar do homem, pensamento que deixava a igreja de lado, que<br />

passou a se preocupar com o ser humano, o homem passaria a ter liberdade de conhecer e se<br />

tornar capaz de conquistar o centro do mundo. Uma das exclusividades do Renascimento era<br />

enaltecer o homem e a sua beleza.<br />

Todavia, o drama ja existia desde muito antes do sec. XVI através das peças religiosas que<br />

tratavam de temas moralistas, os atores apresentavam suas peças em várias cidades, com isso<br />

ganhavam um meio de sobreviver, pois, durante o reinado de Henry VIII foram destituídos os<br />

21


monastérios que asseguravam trabalho para os homens que haviam concluído os estudos, no<br />

entanto, o único meio de se sustentar era escrevendo peças. Os autores que surgiram durante<br />

essa época eram chamados como The University Wits “Os Sábios da Universidades”, que<br />

contribuíram para o crescimento do renascimento no teatro.<br />

“[...] o monastério sempre se encarregou tanto de subvencionar previamente<br />

como de alojar o estudante sem dinheiro. [...] O ensino não era uma<br />

profissão atraente, e não havia concursos para o serviço civil. Só restava um<br />

tipo de jornalismo – panfletos, romances, e, o mais lucrativo talvez, escrever<br />

peças para os novos teatros populares”. (BURGESS, 2005, p. 81)<br />

Shakespeare surgiu no momento de transformação da Inglaterra e do drama inglês, as peças<br />

deixaram os temas religiosos, e começaram tratar os temas morais como algo real para o ser<br />

humano, transcrevendo-as através do comportamento do homem. Com isso, o drama<br />

elisabetano começou a se destacar ganhando fama.<br />

As peças eram apresentadas nos centros da cidades, em vilarejos ou no meio da rua, todos<br />

tinham acesso aos espetáculos desde o nobre ao pebleu. Com o alvorecer do drama alguns<br />

nobres aristocratas financiavam companhias de teatros que eram apresentadas para eles em<br />

suas casas ou em festas particulares. Dessa forma, com a Rainha Elizabeth não era diferente,<br />

ela era fã da Dramartugia, daí por diante o drama elisabetano favoreceu a literatura, dando<br />

facilidade e acesso as classes sociais menos favorecidas. O drama se expandiu, com a<br />

influência renascentista, as peças apresentavam as facetas do homem que passa a viver em seu<br />

próprio mundo esquecendo o cristianismo.<br />

“Antes que os atores elisabetanos tivessem um lar permanente, eles se<br />

apresentavam em qualquer lugar, bastava erguer um palco e reunir uma<br />

multidão. Ou seja, eles realizavam espetáculos públicos em vilarejos, nos<br />

fundos das estalagens e em arenas em que ursos eram perseguidos.<br />

Realizavam espetáculos particulares nos grandes salões das casas da nobreza<br />

ou em um dos palacios da Rainha. [...] Em 1576, quando Shakespeare tinha<br />

12 anos, james Burgage, um carpinteiro que depois virou ator, construiu o<br />

primeiro teatro “de verdade”. [...] ele foi simplismente chamado de O<br />

Teatro”. (ROZAKIS, 2002, p. 26)<br />

Com isso as companhias de teatro ganharam o nome de seus senhores que lhes forneciam<br />

recursos. Porém, com a evolução do drama, em 1576, o primeiro teatro foi construído, e o<br />

drama ganha uma nova casa.<br />

Um país em fase de mudanças e renovação se transforma em inspiração e referência para um<br />

escritor. Na Inglaterra como em outros países os escritores recebiam influências do<br />

22


movimento renascentista criando uma literatura rica e exuberante. As pessoas e os poderes<br />

estatais marcam uma época tornando-se símbolos para os escritores e suas peças. A literatura<br />

ganha um novo rótulo e espaço que envolve as pessoas através do teatro e as obras criadas<br />

pelos artistas.<br />

3.1 A VIDA E A PRODUÇÃO SHAKESPEARIANA<br />

William Shakespeare foi um escritor que se tornou conhecido em todo em mundo, ele<br />

atravessou as fronteiras da Inglaterra e do momento em que viveu; tudo o que Shakespeare<br />

produziu se estendeu para além da Ilha Britânica.<br />

Seu modo de ver a sociedade servia como inspiração para suas peças, seu ponto de vista era<br />

demonstrado em suas obras, porém, suas peças não limitaram-se apenas ao séc. XVI, até hoje<br />

a forma com que Shakespeare fez uso das palavras como um meio de descrever e exprimir o<br />

sentimento do ser humano através da linguagem em suas peças e poesias, se tornou um<br />

veículo de conhecimento e estudo do homem do século XVI até os dias atuais.<br />

“Shakespeare queria martelar ou cortejar, ou encantar os ouvidos de sua<br />

platéia com a linguagem, e, em qualquer uma de suas peças – as primeiras<br />

ou as últimas -, o tesouro das palavras se abre por inteiro, e o ouro se<br />

derrama prodigamente”. (BURGESS, 2006, p.91)<br />

William transmitia uma espontaneidade ao escrever, seus pensamentos fluíam como um bom<br />

som, a sua oralidade era um diferencial entre os outros autores teatrais.<br />

William Shakespeare em suas obras recebeu influências de outros escritores que o<br />

antecederam, e alguns que faziam parte de sua época. A literatura grega e latina também o<br />

influenciou fortemente.<br />

Shakespeare foi um grande poeta e crítico que olhava a sociedade de forma e modo diferente,<br />

o Autor ousou em suas peças, nelas descreveu momentos de uma época passada, mas que<br />

reflete na sociedade presente, com o intuito de escrever para entreter a nobresa, a burguesia e<br />

todas as classes sociais William conquistou recursos financeiros. Por fim, ele conseguiu não<br />

somente uma vida bem sucedida, como também o que não imaginava, o reconhecimento por<br />

ser um grande autor que atingiu o mundo com o seu talento.<br />

23


Shakespeare tinha uma vastidão de imagens que o atraía basicamente para satisfazer a sua<br />

criatividade, toda a experiência e convívio com os diversos povos e as classes sociais nas<br />

quais circulava serviu-lhe como fundamentos nas escritas de obras que consideramos<br />

essenciais na demonstração dos costumes de um povo através dos pensamentos de William<br />

Shakespeare.<br />

Shakespeare nasceu no dia 23 de abril de 1564 em Stratford-upon-Avon no momento em que<br />

a Rainha Elizabeth I governava a Inglaterra, filho de John Shakespeare e Mary. John era um<br />

comerciante que prosperou e conseguiu um cargo público, Mary era dona de casa.<br />

Shakespeare vinha de uma familia de classe média, ele era o terceiro de oito filhos.<br />

“Filho de John Shakespeare e Mary Arden, William Shakespeare nasceu em<br />

Stratford upon Avon no dia 23 de abril de 1564 e lá faleceu no dia de seu<br />

aniversário, em 1616. seu pai era um fabricante de luvas e mercador de<br />

couro cuja prosperidade nos negocios o levou a assumir alguns postos<br />

públicos na administração local”. (SILVA, 2005, p.118)<br />

William casou-se com a filha de um fazendeiro, Anne Hathaway que era 8 anos mais velha<br />

que Shakespeare, ao que consta Anne poderia ter casado grávida. Eles casaram em novembro<br />

de 1582, e sua primeira filha Suzana nasceu em maio de 1583. Logo depois, Anne teve os<br />

gêmeos Hamnet e Judith. No início de sua vida conjugal e depois que se tornou pai dizem que<br />

Shakespeare era um mero homem trabalhador que exercia várias funções designados a todos<br />

os tipos de serviços.<br />

“Em 28 de novembro de 1582 as autoridades da igreja deram permissão para<br />

que Shakespeare, então com 18 anos, se casasse com Anne Hathaway, na<br />

época com 26. Tudo leva a crer que Anne estava grávida, [...] O período de<br />

1585 a 1592 é chamado por estudiosos de „Os Anos Perdidos‟, dada a falta<br />

de informações sobre os rumos de Shakespeare. Especula-se que ele tenha<br />

trabalhado como tutor ou professor particular”. (SILVA, 2005, p.119)<br />

Não se sabe muito sobre o período entre o nascimento dos gêmeos e o início de William<br />

Shakespeare como poeta, dramaturgo e ator. O que se sabe é que em 1592, Shakespeare foi<br />

para Londres e deu origem a vida de escritor. Sabemos que Shakespeare já fazia fama, devido<br />

à crítica do escritor inglês Robert Greene que marcou a história de William, foi nesse mesmo<br />

ano que Shakespeare saiu de Stratford e foi para Londres, lá começou a sua vida de<br />

dramartugo e poeta se tornando conhecido entres todos através de sua arte.<br />

24


“Em 1592, tivemos a primeira evidência da ascensão de Shakespeare no<br />

teatro londrino. Sendo o destino o que é, a referência é um insulto: [...]<br />

porque há um corvo arrogante, embelezado com nossa plumagem, que com<br />

seu coração de tigre, envolto em pele de ator, pressupõe-se que seja bem<br />

capaz de escrever um verso vazio de forma bombástica, como o melhor de<br />

vocês: e ser um absoluto Johannes fac totum está em sua própria presunção”.<br />

(ROZAKIS, 2002, p.7)<br />

Em 1594 Shakespeare ingressou na companhia teatral de Lord Chamberlain, que mais tarde<br />

receberia o nome de Homens do Rei. William permaneceu nessa companhia até o final de sua<br />

carreira em Londres. Segundo Rozakis (2002, p.26) “De 1594 a 1599, “Os Homens de<br />

Chamberlain” tornaram-se a companhia de atores mais famosa de Londres”. Consquistando<br />

fama e o povo de Londres, Ele se tornou um dos sócios do teatro o Globe onde começou a<br />

ganhar dinheiro, criando um novo rumo para sua vida.<br />

Shakespeare se aposentou devido a um incêndio que destruiu o seu teatro. Voltou para<br />

Stratford onde garantiu uma vida tranquila vivendo bem o resto de seus dias até a sua morte<br />

em abril de 1616.<br />

As peças de Shakespeare abordavam as situações mais variadas e complexas, o governo e<br />

suas quedas e vitórias, o homem, suas virtudes, limitações e origens; em suas obras o Autor<br />

expõe a intensidade da condição vivenciada pela humanidade, onde vitaliza a realidade que é<br />

dada uma maior abrangência que qualquer outro escritor. Suas peças satisfaziam o povo, sua<br />

produção se estendeu aos mais diversos gêneros desde os romances, comédias, tragédias e as<br />

obras históricas.<br />

Durante o período da epidemia de peste em Londres, Shakespeare escreveu dois poemas<br />

narrativos, Vênus e Adônis em 1593, e o Rapto de Lucrécia 1594, além de 154 sonetos que<br />

foram publicados pela primeira vez em 1609.<br />

“A sorte de Shakespeare mudou bruscamente em janeiro de 1593, quando os<br />

teatros londrinos foram fechados por causa da peste bubônica (a “Peste<br />

Negra”). Os teatros só puderam reabris durante o inverno de 1594, mas<br />

foram fechados de novo e continuaram assim até a primavera de 1594. [...]<br />

Durante essa época, Shakespeare escreveu poesia lírica, sonetos e peças para<br />

o entretenimento particular de seus amigos aristocratas”. (ROZAKIS, 2002,<br />

p.8)<br />

Conforme Rozakis (2002, p.39) “Estudiosos geralmente dividem a carreira de Shakespeare em<br />

quatro fases, baseando-se nas semelhanças entres as obras escritas por ele em cada época”. As obras<br />

de Shakespeare foram divididas em fases, que representam os períodos correspondentes ao<br />

momento histórico e vida do autor.<br />

25


O momento inicial da carreira de Shakespeare denominou o primeiro período que destacamos<br />

como um momento de aprendizagem quando Shakespeare começou a escrever peças<br />

históricas e algumas comédias, logo depois, em outros períodos podemos dizer que<br />

Shakespeare já tinha descoberto a sua essência como escritor. As peças escritas no primeiro<br />

período foram Henrique VI entre 1589-1591, Ricardo III entre 1592-1593, além das<br />

comédias, como Comédias dos Erros, em 1592-1594, A Megera Domada, Tito Andrônico e o<br />

Rapto de Lucrécia escritas entre 1593-1594, Dois Cavalheiros de Verona, em 1594, também<br />

escreveu os poemas como Vênus e Adônis, em 1592-1593, e deu inicio aos sonetos, em 1593-<br />

1609.<br />

Em sua segunda fase Shakespeare com o momento de experiências já vivido, ele estava ágil e<br />

dominador na escrita das comédias e das tragédias, em suas peças os personagens possuem<br />

qualidades específicas, Shakespeare personifica elementos cruciais e únicos em seus<br />

personagens, que adquirem personalidades marcantes, esses personagens são vistos em suas<br />

comédias, peças históricas e tragédias que são elas O Mercador de Veneza e Henrique IV que<br />

foram escritas em 1596-1597, as comédias O Sonho de uma Noite de Verão e Romeu e Julieta<br />

de 1594-1596, Muito Barulho por Nada, em 1598-1599, Como Gostais e Júlio Cesar, em<br />

1599, As Alegres Comadres de Windsor, em 1600, também escreveu as peças Ricardo II, em<br />

1595, Henrique V, em 1599.<br />

As tragédias são as obras de maior profundidade de Shakespeare que foram produzidas no<br />

terceiro período, Shakespeare retomou a poesia nas suas peças com uma intensidade capaz de<br />

apontar a plenitude do pensamento e demonstrar os sentimentos nas dimensões mais<br />

complexas, que em grande parte foram ostentadas nas peças dramáticas. Entre 1601 a 1606<br />

escreveu Hamlet, Otelo, Macbeth e Rei Lear, além das comédias Tróilo e Créssida, Tudo esta<br />

Bem Quando Acaba Bem, Medida por Medida e os poemas A Fênix e a Rola, e Queixas de<br />

uma Amorosa.<br />

Em sua última fase Shakespeare se estabeleceu sendo considerado um escritor virtuoso, o<br />

equilíbrio é um elemento que nesse período faz parte das estruturas de suas peças, o<br />

romantismo e a magia, são destacados na escrita, suas principais obras de destaque foram A<br />

Tempestade, Conto de Inverno, Tímon de Atenas, e Cimbelino, também foram escritas<br />

Antônio e Cleópatra, Coriolano, Péricles e Henrique VIII.<br />

26


Shakespeare não precisava sair do lugar, para sentir o que precisava colocar no papel, ou seja,<br />

o mar, o sol, a natureza, os ambientes da barulhenta Londres era observado por ele com uma<br />

perspectiva diferente, William sentia dentro si, e isso bastou para escrever e expressa-las em<br />

seus dramas e poemas. Em suas obras ele penetra o olhar do poeta dentro da natureza humana,<br />

na qual formam uma composição perfeita que comove e satisfaz o povo com as específicas<br />

situações relatadas em suas peças como os assassinatos, as traições, o amor, as mazelas e o<br />

cômico.<br />

Shakespeare recebeu contribuições de Plutarco, Sêneca e Virgílio, John Lyly, Thomas Kyd,<br />

em suas obras. William escreveu Hamlet, através da obra Tragédia Espanhola de Thomas<br />

Kyd, de acordo com Burgess (2006, p.77) “Kyd é particularmente importante para o estudo de<br />

Shakespeare, pois tudo indica que ele escreveu a primeira versão da história de Hamlet na<br />

qual Shakespeare iria basear sua obra prima, [...]”. Sêneca que também influenciou<br />

Shakespeare por meio das escritas de tragédias que eram carregadas de cenas fortes e<br />

violentas com mortes e assassinatos, como afirma Burgess (2006, p.61) “A linguagem de<br />

Sêneca [...] tem uma violência, uma sanguinolência que atraía os dramaturgos elisabetanos<br />

[...]”. Esses escritores entre outros foram importantes para o desenvolvimento do talento e<br />

criatividade de Shakespeare.<br />

Na obra de Shakespeare as características de seus personagens são dotadas de traços<br />

fortemente marcados como, por exemplo, Hamlet pela indecisão, Romeu pelo amor juvenil,<br />

Calíbã pelo ressentimento, Próspero pelo conhecimento, etc. Onde torna seus personagens<br />

intensos e singulares.<br />

“[...] Ele desenvolveu peças técnicas dramáticas que descreviam a identidade<br />

psicológica de seus personagens; por essa razão até hoje os personagens de<br />

Shakespeare são os mais representativos da dramaturgia. [...] Por fim, a<br />

riqueza imaginativa do autor e a maneira como ele revelava as implicações<br />

do pensamento e da ação fizeram de suas peças fontes inesgotáveis de<br />

interpretação até os dias de hoje”. (SILVA, 2005, p.120)<br />

Em suas peças o ser humano é determinado pelos seus traços de bondade, inveja, cobiça<br />

ganância, ciúme, entre outros aspectos. Sem esquecer que Shakespeare também usa os seres<br />

místicos em algumas de suas obras, ele coloca o mundo real e imaginário entrelaçados em<br />

suas peças.<br />

Na obra O Sonho de uma Noite de Verão o autor apresenta as fadas como seres bons. No<br />

entanto, vemos outro ser místico na obra A Tempestade que é o espírito Ariel que demonstra<br />

27


submissão a Próspero, nessa mesma peça outro fato marcante é a traição de Antônio para ficar<br />

com o trono de seu irmão Próspero que para isso o exila em uma ilha; o mesmo acontece na<br />

peça Hamlet, onde o pai de Hamlet foi supostamente envenenado por seu irmão Cláudio que<br />

desejava ser coroado e casar-se com a Rainha. Shakespeare revela em suas peças seu interesse<br />

específico em alguns temas, tais como o místico, a ganância e a inveja que são colocados em<br />

personagens que se diferem em suas personalidades, mas que nas obras possuem iguais<br />

situações comportamentais.<br />

Os dramas de William trazem em seus personagens múltiplas interpretações, como no caso de<br />

Hamlet que ao analisarmos a peça supomos que ele estaria louco ou com toda razão de<br />

desconfiar de seu tio. Notaremos que em suas peças os personagens recebem as características<br />

da alma e os defeitos ou qualidades do seres humanos, Shakespeare transcreve os sentimentos<br />

com profunda vivacidade, as palavras jorram como se estivessem sendo levadas na correnteza<br />

de um rio.<br />

A natureza em suas obras é vista como vemos a própria vida, em O Sonho de uma Noite de<br />

Verão, o autor utiliza os elementos da natureza para montar o cenário cheio de belezas que<br />

expressam os sentimentos dos personagens pela mulher amada e as situações vividas.<br />

Shakespeare utiliza a diversidade da natureza e seus estados diferentes e os une com os<br />

diversos tipos de caráter e sensações de seus personagens.<br />

As obras de William Shakespeare ganharam o mundo, Shakespeare é um autor que viveu<br />

séculos atrás, mas que tem a sua sobrevivência notada através dos tempos.<br />

3.2 COMÉDIAS<br />

As comédias de William Shakespeare são: A Comédia dos Erros, Os Dois Cavalheiros de<br />

Verona, O Mercador de Veneza, Muito Barulho Por Nada, Como Gostais, A Megera Domada,<br />

Trabalhos de Amor Perdidos, Noite de Reis, As Alegres Comadres de Windsor e Sonho de<br />

Uma Noite de Verão.<br />

As comédias de William Shakespeare celebram o amor e suas faces, o casamento, as trocas de<br />

identidades, a posição da mulher na sociedade, o homem sagaz e ganancioso, e a honestidade;<br />

28


todas essas características o autor expõem em suas comédias que em sua maioria traz o amor<br />

como tema central.<br />

“As comédias românticas de Shakespeare giram em torno do amor: suas<br />

provações, seus tormentos e arrebatamentos. [...] os personagens nas<br />

comédias de Shakespeare terminam alegremente casados, ou, pelo menos,<br />

legalmente casados!”. (ROZAKIS, 2002, p.71)<br />

Algumas de suas comédias são na maioria leves e divertidas, que incluem além do dramático<br />

os personagens cômicos. As comédias animadas, definida pelo bom humor e personagens<br />

cativantes que trazem qualidades divertidas e encantadoras, também dentre essas comédias há<br />

algumas baseadas em problemas que tratam de temas complexos e normalmente morais, onde<br />

o falso moralismo, a inveja, a infidelidade são mostrados nas peças.<br />

A Comédia dos Erros é uma obra onde a farsa é um dos principais elementos da peça, ela gira<br />

em torno de confusões, que deixa o leitor desorientado com os enganos que acontecem<br />

durante a trama, todavia, a obra também faz referência à submissão da mulher com seu<br />

esposo, nela observamos o cômico, o sermão moral, a vida e a felicidade amorosa.<br />

Na Comédia dos Erros conta a história de dois irmãos gêmeos que foram separados ainda<br />

pequenos em um naufrágio, o pai salva uma das crianças e a mãe salva a outra Mas, os<br />

criados de seus respectivos filhos também são gêmeos e também são separados durante o<br />

náufrago. A peça tem início com Egoente pai dos gêmeos que é um comerciante de Siracusa,<br />

porém ele é condenado à morte em Éfeso, por ser proibido à circulação dos moradores de<br />

Siracusa em Efeso. Antes de ser executado, ele conta ao Duque de Efeso que veio a Siracusa<br />

em busca de sua esposa e de seus filhos e servos gêmeos. A partir daí vários mal entendidos<br />

acontecem.<br />

“Como a maioria das comédias de Shakespeare, A Comédia dos Erros<br />

começa com sofrimento e termina em alegria. [...] A ação em A Comédia<br />

dos Erros é amplamente baseado no artifício dramático da identidade<br />

trocada. Os dois pares de gêmeos são constantemente confundidos”.<br />

(ROZAKIS, 2002, p.74-75)<br />

Notamos que na peça Noite de Reis e a Comédia dos Erros, o intuito maior é de entreter o<br />

público, são comédias que a diversão é um fator que se destaca na peça, assim como afirma<br />

Rozakis (2002, p.122) “[...] O enredo festivo e levemente satírico gira em torno de uma série<br />

de brincadeiras e de identidades trocadas”. Nos momentos em que os gêmeos são confundidos<br />

a trama passa a deixar uma expectativa de sua possível resolução, o expectador quer saber de<br />

29


que forma esse quebra-cabeça será finalmente organizado, essa expectativa constrói o<br />

divertimento que é um dos pontos marcante nessa obra.<br />

Shakespeare correlaciona alguns fatos entre uma comédia e outra, como à troca de identidade,<br />

e os disfarces que são atribuídos por alguns personagens. Viola é confundida com seu irmão<br />

gêmeo Sebastião, nessa mesma obra Viola se disfarça de pajem para trabalhar para Orsino<br />

Duque de Ilíria, isso também acontece na peça Dois Cavalheiros de Verona De acordo com<br />

Rozakis (2002, p.79) “essa peça inicial tem muitos elementos que Shakespeare usou em suas<br />

comédias seguintes, incluindo os dois pares contrastantes de amantes, a garota disfarçada de<br />

pajem [...].”. Esse ato acontece no momento em que Júlia se disfarça de pajem para trabalhar<br />

para Proteu seu amado.<br />

Dois Cavalheiros de Verona apresenta os temas da amizade, assim como o da infidelidade, a<br />

obra faz uma menção maior com relação à cobiça da mulher do próximo. A trama termina a<br />

amizade reconstituída, percebemos que a história está construída em torno do amor, e do<br />

perdão, ou seja, Valentino concede seu perdão a Proteu, depois dele fazer de tudo para separar<br />

Valentino e Silvia, assim como o Duque de Milão perdoa os fora da lei que viviam na floresta<br />

a pedido de Valentino.<br />

Na obra As Alegres Comadres de Windsor acontecem uma sucessão de confusões através do<br />

personagem Falstaff que vivia aprontando com as pessoas. Falstaff se interessa pelas Senhoras<br />

Page e Ford, que resolvem dar uma lição no rapaz, no entanto, o Senhor Ford fica sabendo<br />

que Falstaff está cortejando sua esposa, por esse motivo o Senhor Ford resolve testar a<br />

fidelidade de sua mulher. Para Rozakis (2002, p.122) “As Alegres Comadres de Windsor<br />

apresenta características peculiares, dentre as comédias de Shakespeare, [...]. A peça retrata a vida<br />

comum, a classe média. [...] e a questão de identidade trocada”. Dessa forma percebemos a<br />

semelhança de fatores entre as comédias de Shakespeare.<br />

Portanto, em Como Gostais a maioria dos fatos acontecem na floresta. Percebemos que a<br />

floresta se torna fonte de inspiração e o lugar propício para se descobrir o amor e o declarar<br />

para mulher amada.<br />

“Como Gostais é uma ótima comédia, uma das melhores de Shakespeare.<br />

Nessa peça, as cartas de amor parecem crescer em árvores, e o duque<br />

malvado passa por uma miraculosa mudança. Porém, há uma mensagem em<br />

toda essa confusão: a peça satiriza o pastoralismo, a exaltação do campo<br />

[...]”. (ROZAKIS, 2002, p.109)<br />

30


Como Gostais é uma peça que como as outras de Shakespeare mostram como os tronos eram<br />

tomados por irmãos, mas como toda comédia de Shakespeare os personagens terminam<br />

felizes, Na peça Como Gostais, não é diferente. Na natureza onde tudo acontece, os casais<br />

terminam casados, e o trono é devolvido ao verdadeiro dono.<br />

Nas muitas comédias de Shakespeare veremos a questão do casamento, como algo a ser<br />

negociado, acertado pelo pai com o suposto pretendente. Na peça A Megera Domada, isso<br />

fica bastante evidente, Catarina precisa se casar para que assim sua irmã mais nova também se<br />

case. Conforme Rozakis (2002, p.85) “Os casamentos geralmente aconteciam por dinheiro,<br />

dinheiro e mais dinheiro. Em A Megera Domada, vemos isso em Batista, que primeiramente<br />

considera as vantagens econômicas de um casamento”. Petruchio, o noivo que foi achado,<br />

conversa com Batista pai de Catarina e acerta o casamento com o mesmo. Logo depois<br />

Petruchio vai atrás da aceitação de Catarina, onde percebemos que ela não teve muita escolha.<br />

A posição da mulher como esposa é um traço marcante nessa comédia, ela expõe que a esposa<br />

deveria se dedicar ao marido e a sua casa, como afirma Rozakis (2002, p.85) “Após o<br />

casamento, a esposa devia obedecer a seu marido [...] Suas tarefas eram basicamente<br />

domésticas, [...]”. Apesar de Catarina se posicionar como uma mulher que buscava por<br />

liberdade e igualdade, logo, ela volta atrás e se torna só mais uma esposa sem escolhas que<br />

depende do marido, Catarina era uma moça de gênio difícil de lidar, mas, Petruchio consegue<br />

domá-la, transformando-a em uma esposa dedicada. No final Catarina é vista como uma<br />

esposa mais obediente que sua irmã Bianca.<br />

Em Trabalhos de Amor Perdidos os fatos ocorre em torno de tentativas de conquistar e<br />

declarar o sentimento amoroso a mulher amada, depois de tantas situações percorridas e<br />

argumentações feitas, os casais terminam separados, porém, com juramentos de amor que são<br />

dados através de penitências, ou trabalho voluntário. De acordo com Rozakis (2002, p.91) “Os<br />

casais não se casam alegremente. Contudo, a conclusão é paralela ao começo: o mundo do<br />

sofrimento e da dor se intromete no mundo do amor”. O final dessa história é diferente das<br />

outras peças de Shakespeare, pois, todos se separam, fica somente a promessa de casamento<br />

dos casais.<br />

Muito Barulho por Nada tem como tema central a conquista amorosa, o casamento, e a<br />

diferença entre os sexos, esses mesmo temas são abordados na maioria das comédias de<br />

Shakespeare.<br />

31


“Muito Barulho por Nada é uma comédia romântica excêntrica, na qual<br />

todos, menos os amantes, percebem o encanto que há por trás da caçoada. Os<br />

brilhantes personagens Beatriz e Benedito dançam ao redor de seu amor...<br />

até que seja impossível ignorá-lo”. (ROZAKIS, 2002, p.109)<br />

A história é sobre o casal Cláudio e Hero, mas quem acaba tendo maior ênfase na peça são o<br />

casal Beatriz e Benedito que são o oposto de Cláudio e Hero, pois, Cláudio ama Hero que são<br />

declarados um para o outro, mas Beatriz e Benedito ao invés de se declararem, se insultam.<br />

Porém, Beatriz e Benedito se tornam vítimas de uma armação de seus amigos Cláudio e Hero<br />

para que eles confessem o seu amor pelo outro.<br />

O Mercador de Veneza, não tão diferente das outras comédias, fala do amor, no entanto, a<br />

obra se prende ao Judeu Shylock e a Antônio O Mercador de Veneza. Antônio faz um<br />

empréstimo com Shylock para seu amigo Bassânio casar-se com Pórcia. O prazo que Shylock<br />

deu a Antônio acaba e ele não paga a divida, porém o acordo é que se Antônio não pagasse a<br />

Shylock, ele lhe tiraria uma tira de couro. Daí por diante surge várias intervenções para<br />

resolver o caso de Antônio. Mas, o final dessa história também acaba bem, Antônio consegue<br />

se livrar da dívida.<br />

“O Mercador de Veneza é uma peça perturbadora. É classificada como<br />

comédia, embora às vezes se pareça mais com uma tragédia. Como comédia,<br />

poderia ser uma história de amor, mas há momentos em que parece uma<br />

história de ódio”. (ROZAKIS, 2002, p. 102)<br />

No Mercador de Veneza, Pórcia também se disfarça de Homem para defender Antônio no<br />

tribunal. Esse é um dos traços marcantes em Shakespeare, pois, no século XVI as mulheres<br />

não atuavam, ou seja, os atores eram homens, Conforme Burgess (2006, p. 90) “[...] suas<br />

heroínas eram rapazes e se sentiam mais confortáveis (provavelmente representavam melhor<br />

também) vestidas como rapazes”. Os que interpretavam as mulheres eram adolescente, por<br />

isso na maioria de suas comédias, Shakespeare utiliza o disfarce de homem em algumas de<br />

suas heroínas.<br />

O Autor em quase todas as suas comédias faz uso dos elementos da natureza, vemos que os<br />

romances em sua maioria aconteciam dentro da floresta, os pontos primordiais de algumas<br />

peças e o seu desfecho eram realizados nos ambientes de aspectos românticos, a natureza com<br />

a sua beleza, seja noite ou dia, é um lugar certo para expressar e declarar os sentimentos do<br />

mundo do amor.<br />

32


Em suas comédias, Shakespeare colocou em evidência a posição da mulher e como elas eram<br />

vistas pela sociedade, a ganância pela ascensão do poder e dinheiro, o amor proibido, o<br />

casamento arranjado, assim como também as várias desconfianças, em que é revelada por<br />

meio de seus personagens que se disfarçavam para provar a lealdade do seu companheiro.<br />

William usava o entretenimento para falar sobre a sociedade, a diversão trazida pelo teatro é<br />

um transporte de conhecimento social de uma época. Esse mesmo transporte revela um<br />

mundo atual, através do romantismo de Shakespeare que nos contagia com as diversas<br />

histórias de amor carregadas das mais diferentes situações que expressam à sociedade.<br />

33


4 O SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – UMA ANÁLISE<br />

Em O Sonho de uma Noite de Verão, Shakespeare mostra um paralelo entre a magia, o amor,<br />

as fadas, e os seres humanos, que por fim todos se encontram na floresta. Shakespeare coloca<br />

o drama dentro da obra. Na peça as confusões são formadas por uma porção mágica do amor<br />

usada em casais errados, além do amor, o cômico aparece em vários momentos, um deles se<br />

destaca quando Bottom é transformado em burro por Puck, apesar de a obra conter cenas<br />

alegres, ela também apresenta a disputa amorosa e a condição imposta pelos pais de escolher<br />

o marido para filha.<br />

Hérmia ama Lisandro, porém, seu pai Egeu quer que ela se case com Demetrio, mas, ao<br />

desenrolar da peça e com as confusões desfeitas, Lisandro casa-se com Hérmia, Demétrio<br />

com Helena, o que proporciona a todos um final feliz.<br />

“Sonho de uma noite de Verão oferece uma folga da realidade; é uma grande<br />

viagem. [...] Como num sonho, a peça apresenta uma estranha mistura de<br />

personagens realísticos e fantásticos, de falas cotidianas e poesia sublime, de<br />

acontecimentos verossímeis e arrojados vôos da imaginação”. (ROZAKIS,<br />

2002, p.96-101)<br />

A peça O Sonho de uma Noite de Verão foi escrita entre 1594-1596 por William Shakespeare,<br />

obra que se refere ao romance e a comédia, trazendo uma história cheia de fantasias e magia<br />

relacionando o real mundo dos homens com o imaginário mundo das fadas.<br />

4.1 PERFIL DOS PERSONAGENS<br />

Teseu – Duque de Atenas.<br />

Hipólita – Noiva de Teseu, Rainha das amazonas.<br />

Egeu – Pai de Hérmia, um homem rígido que segue a risco o costume e as leis atenienses.<br />

Lisandro – Um belo cavaleiro, romântico, virtuoso e corajoso que é apaixonado por Hérmia.<br />

Demétrio – Um rapaz bonito que tem consigo um coração duro, que se comporta como uma<br />

fera selvagem, além de ser inconstante e desleal, que é apaixonado por Hérmia.<br />

34


Bottom – Um homem entusiasmado de figura agradável. Tecelão.<br />

Hérmia – Filha de Egeu, que é apaixonada por Lisandro, uma moça muito bonita e formosa<br />

aos olhos de todos, que transcende encanto tanto ao falar quanto a olhar, menina de baixa<br />

estatura qual se mostra meiga, valente e ousada.<br />

Helena – Uma mulher de igual Beleza comparada a Hérmia, porém de estatura alta, mas, seus<br />

traços se diferem com relação à graciosidade de Hérmia, pois, Helena carregava um<br />

semblante triste e aflito. Helena é apaixonada por Demétrio.<br />

Oberon – Rei das Fadas, um Rei ciumento, astuto e esperto.<br />

Titânia – Rainha das Fadas, uma fada orgulhosa, generosa, e leal.<br />

Puck – ou Bom Robim, um elfo travesso.<br />

4.2 ENREDO<br />

O Sonho de uma Noite de Verão conta a história de um casal apaixonado, Hérmia e Lisandro.<br />

Mas, Egeu o pai de Hérmia quer que ela se case com Demétrio. Porém, Lisandro vendo que<br />

não há como convencer Egeu, decide fugir com Hérmia. Helena é apaixonada por Demétrio,<br />

sabendo que Hérmia sua amiga fugira com Lisandro decide contar a Demétrio, nesse<br />

momento ele resolve ir atrás deles na floresta.<br />

Na floresta próxima a Atenas se encontra Oberon Rei das fadas, e Titânia Rainha das fadas.<br />

Ambos começam a discutir, Oberon quer o menino que Titânia cria, porém ela se recusa a<br />

cumprir seu desejo. Diante dessa circunstância Oberon resolve usar a magia a favor de suas<br />

vontades, pedindo para Puck seu fiel escoteiro usar uma flor mágica nos olhos de Titânia<br />

quando ela estiver dormindo, que ao acordar se apaixonará pelo primeiro que ver. Demétrio<br />

está na floresta com Helena, ao ver o modo como Demétrio maltrata Helena, Oberon pede<br />

para que Puck também passe a flor nos olhos de Demétrio. Lisandro e Hérmia já estão na<br />

floresta e decidem repousar. Puck ao invés de enfeitiçar Demétrio ele enfeitiça Lisandro que é<br />

acordado por Helena, nesse instante Lisandro se apaixona por Helena, deixando Hérmia<br />

sozinha na floresta.<br />

35


Puck vê os cortesãos ensaiando na floresta a peça Píramo e Tisbe que será apresentada no<br />

casamento de Teseu e Hipólita e resolve divertir-se com o grupo, Puck lança um feitiço sobre<br />

Bottom, deixando-o com cabeça de burro, ao perceberem a diferença em Bottom todos os<br />

seus companheiros saem correndo. Mas, ali está Titânia a dormir, Titânia acorda e se encanta<br />

por Bottom o Jumento.<br />

Oberon percebe que Puck enfeitiçou o ateniense errado. Daí por diante várias confusões<br />

acontecem, os dois cavaleiros que amavam Hérmia, agora amam a Helena, porém as belas<br />

donzelas não conseguem compreender todo esse emaranhamento dos fatos; por fim, quando<br />

todos estão a dormir Puck quebra o encantamento de Lisandro, Bottom o tecelão e Titânia.<br />

Ao acordarem todos pensam que tudo não passou de Um Sonho, Lisandro volta ao normal,<br />

Demétrio declara seu amor por Helena. Com isso, tudo termina bem no mundo dos homens e<br />

das fadas, Oberon e Titânia se reconciliam. Enquanto isso no castelo a peça de Píramo e Tisbe<br />

dá fim a obra com muita graça e diversão.<br />

Na comédia O Sonho de uma Noite de Verão, Shakespeare traz alguns personagens cômicos,<br />

dessa forma os acontecimentos são reduzidos pelo humor, usando o artifício de fazer com que<br />

sentimos a existência dos personagens imaginários como reais, notamos que ao amanhecer, os<br />

humanos que estavam na floresta pensam que tudo era fruto de sua imaginação, porém, no<br />

final da história as fadas mais uma vez aparecem provando sua real existência, expressando a<br />

beleza da noite que chegou. Percebemos que na peça O Sonho de uma Noite de Verão a<br />

realidade e a ilusão estão bem definidas já que no desenrolar da peça elas não se dividem.<br />

4.3 A PRESENÇA DA NATUREZA<br />

Na obra O Sonho de uma Noite de Verão, Shakespeare buscou na natureza apresentar a obra<br />

em volta de um lugar mágico, fantasioso e belo a luz do luar. A natureza é mostrada de vários<br />

pontos, tanto com o reino animal e vegetal, além dos astros e estrelas que iluminam a noite.<br />

Sentimos como se fosse um ambiente surreal, um lugar repleto de coisas maravilhosas,<br />

Shakespeare nos faz usar a imaginação, ele nos coloca dentro dos seus próprios sentidos, com<br />

quais usa para descrever o bosque de O Sonho de uma Noite de Verão.<br />

36


O Autor expressa nos elementos da natureza, as sensações do homem através das<br />

interpretações do tempo, ou seja, dias de sol simboliza alegrias constantes, festas, diversão,<br />

enquanto uma tempestade remete a infelicidade, tristeza, tribulações.<br />

Em alguns pontos Shakespeare exibe a lua com o resplendor da sua presença, como se ela<br />

fosse o indivíduo principal da noite, sendo a beleza feminina em muitos momentos comparada<br />

com a grandeza do luar e suas fases. Hipólita e Teseu descrevem a noite que aguardam com a<br />

chegada da lua que representará a união dos dois.<br />

“HIPÓLITA: Mergulharão depressa quatro dias na negra noite; quatro<br />

noites, presto, farão escoar o tempo como em sonhos. E então a lua que,<br />

como arco argênteo no céu ora se encurva, verá a solene noite das bodas.<br />

TESEU: [...] na outra lua quando tiver de ser selado o liame sempiterno entre<br />

mim e a minha amada [...]”. (SHAKESPEARE, Ato I, Cena I)<br />

As passagens da noite são descrita pela sua escuridão até a chegada da lua que é expressa<br />

como um marco ou a primordial testemunha no enlace matrimonial entre os personagens, sua<br />

chegada é tão importante quanto à união do casal. A lua é vista para ser louvada, porém é tida<br />

como algo estéril, que não dá fruto, comparada à situação de quem vive em um convento e<br />

que a aprecia, é como Teseu duque de Atenas se refere à lua ao falar com Hérmia, se ela<br />

pretende obedecer a seu pai ou passar o resto de sua vida no convento.<br />

“TESEU: [...] Vede se é possível suportardes um hábito de freira, para o caso<br />

de recusardes a paterna escolha, ficar encarcerada para sempre num<br />

convento sombrio, como estéril irmã passar a vida, hinos dolentes cantar à<br />

lua infrutuosa e fria”. (SHAKESPEARE, Ato I, Cena I)<br />

A mulher que é um ser gerador ao se colocar em um convento, onde a solidão é a companhia<br />

cotidiana, faz com que o autor a veja como aquela que deixa de dar vida, como a lua que em<br />

muitas noites se encontra só, assim a mulher é equiparada a ela como um ser que sozinho não<br />

fornece vida e nem tampouco luz.<br />

Durante toda a obra a lua é tida como sinônimo de tempo e lugar, ela representa tanto as<br />

características dos personagens como os sentimentos expressos durante a noite, ou seja,<br />

sensações alegres, ou tristes, além de se referir à beleza da deusa da lua.<br />

“HÉRMIA:[...] é mau indício assim nos encontrarmos ao luar. [...] se com<br />

tratável disposição quiserdes tomar parte de nossa alegre ronda e ver os<br />

ludos à clara luz da lua”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I).<br />

37


“LISANDRO: [...]Febe a luz prateada nas águas refletir, cobrindo a relva de<br />

pérolas e encanto dando à selva [...]. [...] Procurai-me no bosque do palácio,<br />

a uma milha da cidade, logo que a lua sair”. (SHAKESPEARE, Ato I, Cena<br />

I)<br />

Esses entre outros trechos exibem as fases da lua, a sua luz, a noite enluarada. O Autor<br />

evidencia a majestade da lua em todos os Atos no desenrolar da obra. A profunda transmissão<br />

da natureza na obra, nos elementos tais como a lua, as flores, o verde, revela a comoção, os<br />

sentimentos que indicam o modo como o autor se interessa demonstrar em seus personagens a<br />

perfeita descrição da plenitude do que é visto como beleza natural, a beleza da natureza que<br />

além da fauna e flora é associada também à natureza humana.<br />

As expressões nas faces dos personagens, a aflição, a dor ou o riso contagiantes, são<br />

características intensamente notadas nos aspectos da vida da natureza. Lisandro observa o<br />

rosto de Hérmia e a descreve como flores murchas, e Hérmia explica que é por muito tempo<br />

não ter chorado, Shakespeare demonstra tais situações por meio dos elementos da natureza.<br />

“LISANDRO: [...] Qual motivo de murcharem tão rápido essas rosas?<br />

HÉRMIA: [...] Talvez por falta de água que lhes viesse da tempestade dos<br />

meus próprios olhos”. (SHAKESPEARE, Ato I, Cena I)<br />

Lisandro revela a delicadeza do rosto de Hérmia assim como a rosa que com a falta de<br />

cuidado desfaz da sua formosura, no entanto, Hérmia leva em conta as suas lágrimas, que<br />

nesse caso revela o sofrimento, a qual serviria para regá-las sendo esse o modo de conservar a<br />

graça de tais rosas.<br />

Shakespeare ainda revela a aflição sentida por Hérmia que corroeu o seu coração transmitido<br />

por animais peçonhentos.<br />

“HÉRMIA: [...] Tira-me a serpente que no seio me causa dor pungente [...]”.<br />

(SHAKESPEARE, Ato II, Cena II)<br />

Observamos a força da reflexão feita da dor sentida por Hérmia, que indica uma obscura e<br />

horrenda situação na qual se encontrava. Um animal que trás medo ao homem da mesma<br />

forma que a dor, esse é um dos elementos que tem poder para exprimir a angústia por meio<br />

das palavras que se refere aos sentimentos dolorosos.<br />

Na mesma cena Shakespeare através do personagem de Helena faz uma perfeita imagem de<br />

Hérmia comparando-a a natureza, ela que é tida especialmente com desejo aos olhos dos<br />

homens.<br />

38


“HELENA: [...] nesses olhos encontra a luz mais pura; acha ele em tua voz<br />

mais melodia do que o pastor na doce cotovia, quando o trigo nos campos<br />

enverdece e o pilritreiro de botões se tece”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena<br />

II)<br />

Observamos que Helena ressalta a natureza humana como algo que transmite luz, ou<br />

iluminado, a formosura de Hérmia chega a ser espontânea, assim como as plantações que<br />

estão a florescer, e a sua voz é tida mais doce do que os cantos que são apreciados pelo<br />

pastores, da mesma forma que a terra fornece uma beleza que chamamos de natural ao seres<br />

da natureza, assim O Autor nos faz sentir com que Hérmia tenha sido simplesmente agraciada<br />

em sua beleza.<br />

Porém, Helena coloca o homem em menor aspecto do que animal feroz, o ser humano é de<br />

certo modo caracterizado igualmente com os seres da natureza, William ainda considera a<br />

linhagem do homem que faz parte do mundo nivelado com a natureza, transformando tudo em<br />

um único ser.<br />

“HELENA: [...] Nem me faltam mundos de companhia nestes bosques, por<br />

serdes para mim o mundo todo. Como, pois, se dirá que eu estou sozinha, se<br />

o mundo toda agora me contempla? [...] Qualquer fera selvagem tem mais<br />

brando coração do que vós [...]”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)<br />

Helena se une a floresta referindo-se a ela como seu mundo, ela não a vê com diferenças, e a<br />

sente como um ser que o acompanha. Ainda nessa cena Helena descreve Demétrio como um<br />

bruto, que transparece não ser gentil dessa forma Shakespeare equipara o homem e a natureza,<br />

revelando que em certas situações um animal feroz pode ser considerado mais afável e<br />

bondoso que o homem.<br />

Todavia, a leitura feita da obra nos leva a perceber que Shakespeare investiga a graciosidade<br />

das estações, que invadem a alma de seus personagens, a simplicidade da primavera é<br />

assistida e revelada para nós leitores por entre uma palavra e outra que dá existência e<br />

formosura ao tempo que passa e as estações que chegam, o autor nos faz saborear e descobrir<br />

a perfeição em cada uma das estações.<br />

“LISANDRO: [...] uma vez ti vi em companhia de Helena a realizar os<br />

sacros ritos de uma manhã de maio. [...] Naquele bosque em que, sobre<br />

canteiros de primaveras, instantes tão fagueiros passamos tantas vezes [...]”.<br />

(SHAKESPEARE, Ato I, Cena I)<br />

No entanto, a exaltação da natureza é mostrada pelas fadas com um exuberante encanto como<br />

se todas as coisas tivessem perfume e sabores.<br />

39


“FADAS: [...] As altivas primaveras ela as adora deveras; em seu dourado<br />

vestido de traçado mui garrido, há rubis, muito perfume, de que as fadas têm<br />

ciúme. Ora sacudo as pétalas das rosas à procura das pérolas donosas porque<br />

às orelhas ponha redolentes das primaveras lúcidos pingentes. [...] da sincera<br />

violeta e da graciosa primavera, onde há latada de fragrantes rosas e<br />

madressilvas nímio dulçorosas”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)<br />

Esse momento da primavera é destacado na natureza pelo tempo em que chegou e a força da<br />

graciosidade com que ela se aproxima trazendo cores e cheiros, as flores trazem alegrias e os<br />

campos são contemplados pelos verdes que exprime tranqüilidade, onde os climas das<br />

estações causam prazer.<br />

William Shakespeare também fez referência a um período em que as estações não permitiram<br />

que a terra viesse a dar bons frutos, essa cena indica um momento em que as plantações se<br />

perderam, e as paisagens que se referiam a agricultura ou a natureza não tinham boniteza, o<br />

campo estava coberto de água, e os animais se escondiam para longe dos pastos; Shakespeare<br />

através do personagem de Titânia Rainha das Fadas descreve como foi esse momento tanto<br />

para natureza como para os humanos, e no final fala das mudanças das estações.<br />

“TITÂNIA: [...] Em vão os bois no jugo se cansaram; perdeu o suor o<br />

lavrador; o verde trigo podre ficou antes de a barba juvenil lhe nascer; os<br />

currais se acham vazios nas campinas alagadas; cevam-se os corvos no<br />

pastoso gado: as quadras de pelota estão desertas e cobertas de lama; quase<br />

desfeitos na verde relva os belos labirintos, porque ora já ninguém neles<br />

transita. [...] enquanto sobre o queixo e nos cabelos brancos do velho<br />

inverno, por escárnio, brotam grinaldas de botões odoros do agradável estio.<br />

A primavera, o estio, o outono procriador, o inverno furioso as vestes<br />

habituais trocaram, de forma tal que o mundo, de assombrado, para<br />

identificá-los não tem meios. [...]”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)<br />

O Autor descreve as características do inverno com termos que remete a algo rabugento e<br />

desagradável, o frio inverno é uma das estações em que Shakespeare nos leva a tê-lo como<br />

algo ruim e temeroso, que provoca não apenas um frio físico, mas também a frieza da alma.<br />

Os animais silvestres e domésticos também são situados na peça, em alguns trechos<br />

observamos a espontaneidade de William ao interpretar os atos humanos com relação às<br />

simples características da personalidade da vida animal, como no momento em que o grupo de<br />

Bottom fugiu ao ver que ele estava com cabeça de burro.<br />

“PUCK: Ao vê-lo, os outros, tal como bulhento bando de patos bravos, no<br />

momento em que percebem caçador matreiro que para eles se arrasta<br />

sorrateiro, ou como gralhas de pés rubros, quando a um tiro súbito, a gritar,<br />

voando, se espalhando pelo céu [...]”. (SHAKESPEARE, Ato III, Cena II)<br />

40


Puck fala do alvoroço causado pelo espanto que os amigos de Bottom tiveram ao vê-lo<br />

transformado, buscando representá-los como as aves que fogem dos caçadores no momento<br />

que se sentem ameaçados.<br />

Nesse outro ato observamos como Helena se coloca diante de Demétrio e da forma como ele a<br />

trata.<br />

“HELENA: [...] como cãozinho me tratai; repeli-me, dai-me golpes, não vos<br />

lembreis de mim, deixai-me à toa; mas por mais que de tudo eu seja indigna,<br />

permiti que vos siga. Mais modesto lugar em vosso amor não me é possível.<br />

Mas para mim será titulo honroso como vosso cãozinho ser tratada”.<br />

(SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)<br />

Percebemos como Helena é colocada em termos de tratamento e condição comparada com um<br />

cãozinho, vemos que sua posição como ser humano é rebaixada por seus sentimentos que não<br />

são correspondidos, onde ser maltratada se torna sinônimo de afeição desde que ela seja aceita<br />

por Demétrio. Shakespeare provoca fortes colocações que podem ser notados em fatos que<br />

são assistidos na sociedade, que nos leva a entender a intenção do autor de revelar o íntimo do<br />

homem através dos aspectos que a natureza traduz.<br />

4.4 MAGIA, MITOLOGIA E A CULTURA CELTA<br />

Shakespeare transfere o amor como algo mágico, sentir-se apaixonado, é tido por alguns<br />

momentos como ilusões, fantasias, amar é estar enfeitiçado na peça O Sonho de uma Noite de<br />

Verão, observamos que isso realmente é revelado na obra quando Puck enfeitiça Titânia,<br />

Lisandro e Demétrio sem que eles saibam, mas, Shakespeare faz com que os personagens<br />

sintam essa magia do amor, Egeu se refere a Lisandro como se ele tivesse dado a Hérmia uma<br />

porção do amor, é como se os personagens reais agissem como se estivessem em um conto de<br />

fadas, esse é o efeito causado por Shakespeare.<br />

“EGEU: [...] o peito de Hérmia traz enfeitiçado, sim, Lisandro, tu mesmo,<br />

com tuas rimas! [...] cantaste-lhe canções com voz fingida, versos de amor<br />

fingido, e cativaste as impressões de sua fantasia [...]”. (SHAKESPEARE,<br />

Ato I, Cena I)<br />

Assim também como Lisandro sobre o feitiço de Puck agora apaixonado por Helena, fala que<br />

o amor que Hérmia sente por ele não tem mais efeito.<br />

41


“LISANDRO: A Hérmia não percebeu. Dorme até o dia, que em mim não<br />

tem poder tua magia”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena II)<br />

Os artifícios da conquista são retratados por Shakespeare como uma simpatia, o amor é visto<br />

como algo mais forte que o querer ter a pessoa amada por perto, assim as poesias que<br />

Lisandro recitava para Hérmia eram vistas por Egeu como magia deixando-a sobre um<br />

encantamento. Os personagens de William expressam as sensações do homem quando se<br />

encontra apaixonado, o autor aborda o mundo do amor como algo mágico e fantasioso pelos<br />

aspectos em que são demonstrados no indivíduo que está enamorado, esses aspectos<br />

geralmente leva o homem a ver o impossível como possível, onde tudo pode ser feito por algo<br />

ou aquele a quem se ama.<br />

Shakespeare também usa o personagem Puck para mostrar como o povo via as fadas, Puck<br />

com suas travessuras, atormentava moradores das aldeias, agricultores e viajantes, essas<br />

situações retomam a sociedade celta que acreditavam nas fadas, além das crenças do povo<br />

inglês.<br />

“FADA: [...] tu és aquele espírito travesso do nome Bom Robim. És tu que<br />

enleias de noite as raparigas das aldeias, tiras do leite a nata e, de mansinho,<br />

desajustas as peças do moinho; [...] que ris às gargalhadas, de inclemente, do<br />

viajante noturno exausto e lasso, pós o teres transviado um bom pedaço.<br />

PUCK: [...] Eu sou, realmente, o ledo vagabundo noturno que brinquedo<br />

faço de tudo, [...] às vezes ponho tudo em polvorosa, [...]”.<br />

(SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)<br />

Puck é um dos principais personagens na obra que representa a mitologia, ele retrata fielmente<br />

a cultura Celta até o século XVI em que os ingleses acreditavam que os elfos existiam e que<br />

influenciavam na vida cotidiana, ou seja, as fadas viviam entre os humanos podendo assim<br />

mudar o rumo da colheita, como do trabalho de uma dona de casa, ou o do caminho de um<br />

viajante, o autor registra através de Puck que as fadas tinham fácil acesso aos seres humanos,<br />

além de podermos considerá-las superiores aos homens, pois possuíam a magia.<br />

Assim como os homens têm nomes, William dá nomes ao seres místicos, nomes que indicam<br />

elementos da natureza, como por exemplo, Teia de aranha, Semente de Mostarda, Flor de<br />

ervilha e Traça.<br />

“TITÂNIA: [...] silfos belos vais ter, como eu, também, que jóias te trarão do<br />

mar profundo, e te farão dormir sempre jucundo. [...] Traça! Mostarda! Flor<br />

de ervilha! Teia!”. (SHAKESPEARE, Ato III, Cena I)<br />

42


Shakespeare fez com que a vida das fadas fosse transmitida através de como elas eram<br />

chamadas, as fadas representavam os elementos da floresta e tudo o que nela existiam,<br />

basicamente quaisquer seres poderiam dar nomes ou descrever as fadas.<br />

Tudo o que inspirou William Shakespeare em O Sonho de uma Noite de Verão está dentro de<br />

sua própria realidade, considerando que ele usou sua imaginação para percorrer por entre os<br />

seres reais e imaginários. O Autor com sua criatividade uniu os seres imaginários com os reais<br />

dentro da floresta. Shakespeare é mais um dos escritores que é um constante admirador da<br />

natureza, aquilo que lhe trás inspiração faz com que analisemos o homem como a própria<br />

natureza, ou seja, é dela que vive, e recebe toda a sua essência. Shakespeare descreve seus<br />

princípios por meio da natureza e da sua própria natureza humana.<br />

Mas, não ficaremos somente na análise dos elementos da natureza como expressão de<br />

sentimentos, veremos os costumes que são basicamente mostrados pelas crenças de um povo.<br />

Acredita-se na Tradição Celta que as plantações e colheitas eram abençoadas pelos deuses,<br />

que na mitologia são fadas. Em forma de agradecimento o povo lhes dava oferendas.<br />

Shakespeare transmite a mitologia como um elemento mágico, a magia pertence às fadas,<br />

sendo elas encantadas e espirituosas, em Sonho de uma Noite de Verão Titânia rainha das<br />

fadas nos demonstra que uma senhora da índia lhe prestava adoração.<br />

“TITÂNIA: Ao meu culto sua mãe era voltada, muitas e muitas vezes, na<br />

atmosfera perfumada das Índias, me aprazia ouvi-la discretear, tê-la ao meu<br />

lado nas amarelas praias de Netuno a admirar os cargueiros balouçantes<br />

sobre as ondas inquietas”. (SHAKESPEARE, Ato II, Cena I)<br />

Essa cena nos direciona ao tempo em que os Celtas cultuavam os deuses, e os espíritos que<br />

ganhavam personificações com os elementos da natureza, com isso o culto a natureza, ou a<br />

mãe terra era algo comum nos costumes celtas. Certamente as fadas faziam parte desses<br />

deuses que eram adorados pelos Celtas. Nessa mesma cena está Oberon Rei das fadas, nos<br />

mostra que com seus saberes pode usar a magia a qual usa para enfeitiçar Titânia.<br />

“OBERON: De posse desse suco, hei de achar meio de surpreender Titânia<br />

adormecida, para nos olhos lhe deitar o liquido ao despertar, o que enxergar<br />

primeiro, [...] perseguirá com alma enamorada. E antes de lhe tirar da vista o<br />

encanto, o que farei com suco de outra erva [...]”. (SHAKESPEARE, Ato II,<br />

Cena I)<br />

Notamos que o feitiço lançado por Oberon causa um deslocamento dos sentidos naqueles que<br />

foram atingidos, o Rei das fadas mostra que sua sabedoria lhe dá acesso a magia, tanto para<br />

colocar encantamento como para quebrá-lo.<br />

43


A magia e os mitos são fortemente registrados na peça, a vivacidade dos seres mitológicos os<br />

seus poderes nos fornecem uma imagem que vitaliza a existência desses seres na época de<br />

Shakespeare, e durante a sobrevivência do povo Celta.<br />

Shakespeare fazia uma investigação daquilo que vivia e observava. Os costumes de seu povo<br />

ou aquilo que acreditava foi retomado para dentro da peça O Sonho de uma Noite de Verão<br />

com uma estrutura um tanto diferente da realidade, os deuses não eram vistos pelo povo, eles<br />

não apareciam, ainda assim o povo acreditava que se a colheita fosse boa, era devido a<br />

bondade dos deuses, assim era no período da habitação do povo Celta na Inglaterra, essas<br />

tradições e mitos foram cultivados, e Shakespeare revela parte desse contexto histórico e<br />

cultural dentro da obra. A peça termina com a benção das fadas, tanto para colheita, como<br />

para uma vida sem maus presságios.<br />

“OBERON: [...] Enquanto a aurora se atrasa, rondai todos esta casa, que ao<br />

tálamo principal vou lançar a bênção real. Sua prole numerosa será sempre<br />

venturosa. Os três casais que aqui estão em concórdia viverão; seus filhos<br />

não serão presa das manchas da Natureza. Beiço de lebre, sinais e outros<br />

defeitos que tais, que deixam triste o aleijão, seus filhos nunca terão. Com<br />

orvalho consagrado cada elfo cumpra o recado, este palácio abençoando e<br />

paz por tudo espalhando. Jamais caia em abandono, feliz seja sempre o dono<br />

[...]”.(SHAKESPEARE, Ato V, Cena II)<br />

O Autor faz uma menção destacando a relação das fadas com os homens, as fadas tinham o<br />

poder de proporcionar coisas boas para as famílias, no final da peça elas proferem para os<br />

humanos uma linhagem sem maldiçoes abençoam a casa de Teseu e todos os casais que ali<br />

estavam assim, acreditava-se nos costumes celtas que os seres místicos que habitavam na<br />

natureza realizavam o desejo da população através das petições, cultos e oferendas que eram<br />

designadas para eles.<br />

Os celtas acreditavam que todos os seres existentes simbolizavam a vida, dessa maneira toda a<br />

natureza era vista como uma deusa que dava vida aos homens e vida a tudo o que na terra<br />

habitava, tudo o que a terra fornecia tudo, o que ela expressava como os sons, as cores, os<br />

sabores, os cheiros, os alimentos, a mudança de tempo, o vento, a chuva, e o sol e a própria<br />

terra, todos esses elementos diversos que existiam eram cultuados por um povo que outrora<br />

habitou a Inglaterra.<br />

Para Shakespeare tais existências têm vidas, isso é o que sentimos nas imagens que por ele<br />

são descritas na peça, tudo o que se move na natureza, cresce e morre, todas as expressões e<br />

estímulos produzidos pela natureza são observados da mesma maneira no ser humano, não<br />

44


somente observado, mas unido, a vida da natureza é expressa no agir e pensar do homem.<br />

William Shakespeare faz um elo, vitalizando toda a paisagem natural em emoções que<br />

personificam a vida humana.<br />

Shakespeare emerge dentro das paisagens, suas interpretações das emoções vistas nas faces<br />

dos homens, fazendo com que pensássemos que ele cuidasse e vivesse junto da natureza. O<br />

Autor também utiliza toda essa diversidade natural, todas as diferenças na beleza entre<br />

animais e plantas que a natureza representa, em suas obras, as imagens naturais simples e<br />

singulares são bem entoadas em suas peças, que revela o amor através do poeta e seu<br />

romantismo, que valoriza a natureza do homem e a natureza da terra.<br />

O Sonho de uma Noite de Verão é uma obra Shakespeariana mágica, pois nos transporta para<br />

um lugar com efeitos especiais, onde a realidade e a fantasia vivem juntas na plenitude da<br />

natureza. A natureza descrita nessa obra é extremamente exuberante. A vida das coisas se<br />

transforma nos aspectos primordiais que vitaliza todas as paisagens que transparece na<br />

natureza. Toda a essência, perfeição e diversidade são os efeitos avassaladores usados por<br />

William Shakespeare na Obra O Sonho de uma Noite de Verão.<br />

45


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

De acordo com as argumentações propostas neste trabalho, acreditamos que a literatura é<br />

importantíssima para o desenvolvimento da sociedade no processo de formar cidadãos<br />

comprometidos com a natureza. Usar a literatura como recurso que produz conhecimento é<br />

bastante prazeroso, pois nos dá facilidade e acesso aos valores e crenças de diferentes povos,<br />

tornando possível a ampliação da compreensão do mundo natural e social no qual estamos<br />

inseridos.<br />

William Shakespeare em O Sonho de uma Noite de Verão revela a natureza em vários<br />

aspectos da vida animal e vegetal. A natureza em toda a obra é destacada como fonte de<br />

existência no meio da civilização, além da sua comunicação com os homens e o mundo. O<br />

comportamento e os atos dos personagens são percebidos ao notarmos a situação imposta ao<br />

homem onde ele se encontra lado a lado com a natureza.<br />

Shakespeare em O Sonho de uma Noite de Verão busca algo que vai além de simples<br />

entretenimento, uma vez que a obra mistura fantasia e realidade, o autor tem o intuito de<br />

transmitir sua exaltação pelas coisas naturais e os aspectos simples da vida da natureza, no<br />

entanto, O existir da natureza é mostrado nesse trabalho como ser que é vida e gera vida.<br />

William Shakespeare, o povo elisabetano, assim como os gauleses que habitaram na<br />

Inglaterra possuiam uma herança cultural na qual a natureza e o homem viviam em equilíbrio.<br />

As tradições celtas, a mitologia e a magia são representadas na obra. O Autor cria um vínculo<br />

entre esses aspectos unindo o real e o imaginário, com isso as emoções e sentimentos que<br />

Shakespeare expressa em seus personagens são fluídos por entre os elementos naturais. As<br />

coisas simples do nosso mundo são descritas com grandeza e espiritualidade, levando-nos a<br />

acolher a fantasia, despertando a nossa capacidade de se envolver com o modo de olhar e<br />

sentir a natureza como fez Shakespeare.<br />

Essa pesquisa tem a perspectiva de apresentar ao leitor as diversas faces de William<br />

Shakespeare, também é direcionado para aqueles que querem conhecer um pouco mais<br />

daquele que é um dos maiores escritores que contribuiu e contribui para a literatura e as mais<br />

diversas artes do mundo, este trabalho dar um melhor embasamento na vida e obra de<br />

Shakespeare destacando-o como um admirador da natureza e seus ambientes mágicos. No<br />

46


final deste trabalho temos a percepção de um Shakespeare como indivíduo que acreditava nos<br />

ideais e valores de uma sociedade na qual estava inserido. Suas emoções foram manifestadas<br />

em suas obras deixando uma herança cultural para a humanidade.<br />

47


6 REFERÊNCIAS<br />

AMBELAIN, Robert. As Tradições Celtas. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 1991.<br />

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Hucitec, 2005.<br />

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Ciência Moderna Ltda., 2005.<br />

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Dalma; BOUÇAS, Edmundo; CUNHA, Helena Parente; ARAGÃO, Maria Lucia; SENNA,<br />

Marta de; RODRIGUES, Selma Calasans. Ecologia e Literatura. Rio de Janeiro: Tempo<br />

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SÜSSEKIND, Pedro. Shakespeare O Gênio Original. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,<br />

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48


TERSARIOL, Alpheu. Manual Básico do Estudante – História Geral. São Paulo: Difusão<br />

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http://www.dominiopublico.gov.br<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Shakespeare<br />

49

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