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FACULDADE SETE DE SETE MBRO – FASETE<br />
CURS O DE LI CENCI ATURA PLENA EM LETRAS<br />
HABI LI TAÇÃO E M PORTUGUÊS E I NGLÊS<br />
Enési o Vi eira do Nasci ment o Júni or<br />
CATEGORI AS DO HERÓI GREGO NO CANTO XXII DA<br />
ILÍ ADA: AS VI RTUDES DE AQUI LES E HEI TOR.<br />
Paul o Af onso – BA<br />
Agost o/ 2008<br />
0
Enési o Vi eira do Nasci ment o Júni or<br />
CATEGORI AS DO HERÓI GREGO NO CANTO XXII DA<br />
ILÍ ADA: AS VI RTUDES DE AQUI LES E HEI TOR.<br />
Monografia apresent ada ao curso de Letras co m<br />
habilitação e m Port uguês e I ngl ês da Facul dade<br />
Set e de Set e mbr o, co mo requisito para avaliação<br />
concl usi va. sob orient ação do pr ofessor Sávi o<br />
Roberto Fonseca de Freitas.<br />
Paul o Af onso – BA<br />
Agost o/ 2008<br />
1
PARECER DA COMI SSÃO EXAMI NADORA DA DEFESA DE MONOGRAFI A DE<br />
GRADUAÇÃO<br />
CATEGORI AS DO HERÓI GREGO: O CASO DE AQUI LES E<br />
HEI TOR.<br />
Sob a presi dência do professor Sávi o Robert o Fonseca de Freitas, Mestre.<br />
Paul o Af onso, 26 de agost o de 2008.<br />
_________________________________________<br />
Pr of.º Sávi o Robert o Fonseca de Freitas, Mestre<br />
_________________________________________<br />
_________________________________________<br />
2
Dedi co ao Senhor Deus, a mi nha esposa e aos meus filhos: Emil y e Danil o,<br />
a meus pais, ir mãs, sobri nha e sobri nho e e m particul ar ao meu pr ofessor<br />
Mestre, Sávi o Robert o e a todos que me aj udara m nesta ca mi nhada.<br />
3
AGRADECI MENTOS<br />
Apr esent o aqui o meu agradeci ment o ao Senhor Deus t odo Poderoso que me deu<br />
âni mo e f orça para concluir este trabal ho, confesso que se m sua di vi na benção não t eria ne m<br />
começado o curso de Letras que e m al guns di as estarei concl ui ndo. E é confiando e m sua<br />
mi sericórdia que se mpre teve a esse hu mil de fil ho, que col oco e m suas mãos mais u ma et apa<br />
da mi nha vi da.<br />
A meu pai Enési o Vi eira do Nasci ment o, u m grande ho me m que u m di a acredit ou<br />
que eu entraria e m u ma facul dade, e não medi u esforços para que isso acontecesse, a el e t enho<br />
como referência para a vida e o ad miro muit o como pessoa e co mo chefe de fa mília. Acredit o<br />
que devo t er realizado um pouco da sua al egria. À mi nha mãe Marlene Vieira do Nasci ment o,<br />
que t odos esses anos esteve ao meu l ado, di zendo pal avras de conf ort o e segurança, al é m de<br />
pal avras f ortes que servira m para o meu a madureci ment o co mo pessoa. Pelas várias noites de<br />
preocupação quando eu pequeno, ficava cansado por sofrer de “br onquite”, e pel a confi ança<br />
que col ocaste e m mi m t odos estes anos.<br />
À mi nha maravil hosa esposa Dani ela Andrade do Nasci ment o, pel a sua paci ênci a<br />
e dedi cação que t e m comi go e pel as al egrias que se mpre me deu durante os ci nco anos do<br />
nosso enl ace matri moni al. Agradeço t a mbé m, por t er me dado u ma fil hinha, que é a coisa<br />
mai s li nda do mundo e u m meni ni nho li ndo e forte, compl etando assi m o meu sonho e me<br />
realizando como um pai.<br />
Às mi nhas ir mãs Mari érica e Mariele, por existirem, e por fazere m part e diret a ou<br />
indireta ment e das mi nhas conquistas. À mi nha sobri nha Mareliz e o meu sobri nho Kel son<br />
Júni or, que me present eara m com a honra de ser Tio.<br />
À mi nha t ur ma do vespertino na qual ti ve o prazer de convi ver durant e quatro<br />
anos, partici pando de trabal hos e trocando experiênci as. A essa t ur ma, e m especi al, agradeço<br />
a Jusceli no Sant os, u ma pessoa de grande val or para mi m e que t al vez sem essa a mi zade, não<br />
teria consegui do bo m dese mpenho e m al gumas mat érias, a El vis Ar aújo que t a mbé m me<br />
aj udou muit o durant e esta ca mi nhada e a t ur ma do not urno por quase dois anos de<br />
relaci ona ment o que foram muit o prazerosos.<br />
4
Ao meu orientador pr ofº. Mestre Sávi o Roberto que esteve pr ont a ment e me<br />
orient ando e co m paci ênci a me aj udou a realizar e a or gani zar as i déi as neste trabal ho<br />
monográfico, acredit o que se m a sua mãozi nha, eu t al vez não ti vesse consegui do concl uí-l o.<br />
Dest a f or ma, quero aqui apresent ar a mi nha ad miração pel o pr ofissi onal que você é e a mi nha<br />
mai or satisfação e m t er escol hi do você co mo meu orientador. Que Deus te abençoe e muit o<br />
obri gado.<br />
À Facul dade Set e de Sete mbr o e aos outros pr ofessores que contri buíra m para a<br />
for mação deste pr ofissional que aqui vos escreve e não dei xando de l e mbrar, agradeço,<br />
pri nci pal ment e a Gust avo Frade, est udant e da Universi dade Federal de Mi nas Ger ais – UF MG<br />
que me f orneceu vali osos artigos para est udo e os que contri buíra m direta ou i ndireta ment e<br />
com a concretização deste trabal ho. A t odos meu muit o obri gado.<br />
5
“ O Senhor é meu past or, nada me faltará ”<br />
(Sal mo, 22)<br />
6
Resu mo<br />
Est e trabal ho visa mostrar u m pouco sobre o conceit o de herói na anti gui dade cl ássica,<br />
analisando e buscando as virt udes dos dois mai ores personagens da Ilíada de Ho mer o,<br />
Aquiles e Heit or, alé m de mostra o fat or hist órico que se t ornou para muitos l eit ores, obj et o<br />
de pesquisa e l ogo, responsável pel a criação de diversos outros personagens da nossa hist ória.<br />
Al é m di sso, o present e trabal ho nasceu da i mportância de se t er u m est udo sobre est a<br />
literat ura anti ga que deu i ní ci o a u m grande e vast o acervo literári o que t e mos hoj e. Para<br />
tant o, organi za mos nossas reflexões sobre o autor co m base nos di versos t ext os e cont ext os<br />
que trata m da geneal ogi a do poet a, mais, é através da represent ação do cant o XXII da Ilí ada<br />
que, busca mos este conceit o do herói cl ássico, j á que t oda esta concepção do her ói é post o a<br />
pr ova no duel o entre Aquiles e Heit or no cant o e m questão. Dest a f or ma, este trabal ho f oi<br />
desenvol vi do a partir da leit ura da Ilí ada, be m como, l eit uras de di versos text os que discorre m<br />
sobre o t e ma pr opost o, através de discussões l evant adas por di versos aut ores, escrit ores e<br />
pesquisadores.<br />
Pal avra chave: Ho mer o, Ilíada, Herói Cl ássico.<br />
7
Abstract<br />
This wor k is goi ng t o show a little about t he concept of hero i n t he cl assic anti que, anal yzi ng<br />
and seeki ng t he virt ues of t he t wo bi ggest charact er of t he Ilí ada of Homer o, Aquiles and<br />
Heit or, beyond sa mpl e the hist orical fact or t hat beca me f or many readers, obj ect of research<br />
and soon, responsi ble by t he creati on of di verse ot hers personages of our hist ory. Beyond<br />
that, t he present wor k was bor n of t he i mportance of have a st udy about t his ol d literat ure t hat<br />
gave begi nni ng t o a bi g and vast literary collecti on t hat have t oday. For so much, we or gani ze<br />
our reflecti ons about t he aut hor wit h base i n the di verse t exts and cont exts t hat treat t he<br />
geneal ogy of t he poet, more, is t hrough t he represent ati on of I si ng XXII of t he Ilí ada t hat, we<br />
seek t his concept of t he classic hero, si nce all t his concepti on of t he hero is position t he t est i n<br />
the duel bet ween Aquiles and Heit or i n t he cor ner i n questi on. I n t his way, t his wor k was<br />
devel oped from t he readi ng of t he Ilí ada, as well li ke, readi ngs of di verse t exts t hat fl ow<br />
about t he subj ect pr oposed, t hrough ar guments raised by di verse authors, writers and<br />
researchers.<br />
Key wor ds: Ho mer o, Ilíada, classic hero.<br />
8
SUMÁRI O<br />
I NTRODUÇÃO........................................................................................................................10<br />
1 - HOMERO: UM NARRADOR DA ANTI GUI DADE........................................................12<br />
2 – A QUESTÃO DO HERÓI NA GRÉCI A ..........................................................................18<br />
3 – A REPRESENTAÇÃO DO HEROÍ S MO NO CANTO XXII DA I LÍ ADA DE<br />
HOMERO ......................................................................................................................... 22<br />
3. 1 – AQUI LES E SUA CÓLERA............................................................................. 23<br />
3. 2 – HEI TOR E A BELA MORTE............................................................................ 31<br />
CONSI DERAÇÕES FI NAI S.................................................................................................. 39<br />
BI BLI OGRAFI A PRI MÁRI A................................................................................................. 40<br />
BI BLI OGRAFI A SECUNDÁRI A........................................................................................... 41<br />
9
I NTRODUÇÃO<br />
A literat ura Gr ega l ançou no curso da sua evol ução os alicerces de quase todos os<br />
gêneros literári os. Assi milados pel os r omanos, os grandes escritores gregos da anti gui dade,<br />
junt o co m os cl ássicos l ati nos, passara m a ser consi derados model os uni versais e del es<br />
certa ment e pr ové m t oda a tradi ção literária oci dental. Para ser mais específicos, falare mos dos<br />
text os épi cos, que cost uma m se restringir às narrativas de ficções e aos rel at os pessoais, que<br />
usava m os poe mas para registrar seus feit os heróicos e os i deais que el es acreditava m. Mas<br />
va mos muit o mais al é m, nu m t e mpo onde não existia a escrita e a narrati va era apenas<br />
present e na boca dos poet as épi cos. Va mos nos direci onar a u m poet a que contri bui u para a<br />
construção deste acervo literári o. Muit os duvi dam de sua existência, poucos acredita m que<br />
possa ser del e os dois maiores exe mpl ares que a anti gui dade j á t eve a Ilí ada e a Odi sséi a, mas<br />
na reali dade, t odos os procl a ma m co mo sendo o pai da literat ura oci dent al, Ho mer o, o poet a<br />
cego.<br />
Assi m, no cor po da grande obra a Ilí ada (atri buí da ao poet a), apresentare mos o<br />
percurso narrati vo que nos faz servir de i nspiração para várias outras hist órias literárias. Co m<br />
isso, percorrere mos pel os ca mi nhos das reflexões dos heróis na Gr écia e após concl uí do,<br />
fare mos uma análise dos heróis Aquiles e Heit or.<br />
Dest a f or ma, co m base nos est udos da pesquisadora Ana Elias Pi nheiro ( 2005), no<br />
pri meiro capít ul o, abordare mos os fat os hist óricos da reconstrução biográfica do poet a<br />
Ho mer o, be m co mo a reconstrução senti ment al do mes mo, f unda ment ando-se nos est udos<br />
baseados na Vit ae Ho meri, Cert amen homeri et hesi odi t ext os que Ana Elias nos apresent a<br />
por mei o dos trabal hos dos bi bli otecári os Al exandri nos e que são atri buí dos a Her ódot o, u m<br />
hist oriador da anti gui dade consi derado o pai da hist ória oci dent al, entre outros: os Hi nos<br />
Ho méri cos, os cant os Cí pri os, t ext os que apresentam fat os hist óricos que suponha m ser sobre<br />
o aut or da Ilíada e da Odisséi a.<br />
No segundo capít ul o, traz o conceit o de Her ói na Gr éci a. Vere mos que a for ma de<br />
pensar e agir deste herói tornar-se-á decisi vo para a el evação de sua gl ória e vere mos t a mbé m,<br />
como esse percurso se dá perant e a vi da do Herói. Assi m, baseados nas r eflexões de J. P.<br />
10
Ver nant (1979) e co mentados por Teodor o Rennó (1995) podere mos observar co mo o her ói se<br />
el eva co m u ma pr ont a morte, ou seja, l utando ao invés de f ugir, vere mos ta mbé m o conceit o<br />
do “ser herói ”segundo as reflexões de Teodor o Rennó ( 1995). Val ere mo- nos t a mbé m dos<br />
est udos de Elizabet h Mai a ( 1997), que apresenta no est udo sobre “ A pai xão do her ói na<br />
Ilíada” f unda ment ando-se seu est udo nas construções hist óricas sobre os her óis na<br />
anti gui dade.<br />
No t erceiro e ulti mo capítul o, apresent are mos a figura do Her ói no cant o XXII da<br />
Ilíada. Nel a col ocare mos a pr ova de t odos os conceit os de heroís mo na figura de Aquiles e<br />
Heit or. Ao pri meiro, falare mos o que desencadeou a sua f úria (cól era) e co mo ocorreu esse<br />
percurso no desenrol ar da hist ória da Ilí ada. Ao segundo falare mos de co mo el e adquiri u a<br />
gl ória se t ornando herói com sua “bel a morte” i nfligi da por Aquiles, procurando co mpreender<br />
nos est udos de Ver nant, o que esta bel a mort e si gnifica. Para f unda ment ar estas quest ões<br />
postas neste capít ul o, valer-nos-e mos dos est udos e reflexões de Teodoro Rennó ( 1995) e<br />
Pi erre Vi dal Naquet (2002).<br />
11
1 - HOMERO: UM NARRADOR DA ANTI GUI DADE<br />
Que m f oi este poet a que a anti gui dade pois na história como u m poet a cego e que<br />
compôs os li vros a Ilí ada e a Odi sséi a 1 ? Há vários est udos que questi ona m esta pergunta e<br />
que de u ma f or ma geral, re mont a m u m est udo bi ográfico do poet a e a for ma de co mo os<br />
livros a Ilí ada e a Odi sséi a f ora m co mpost as. Desta f or ma, i magi nou-se que a anti gui dade<br />
grega, desde o iníci o de sua for mação, pudesse ter si do espectador das poesias de Ho mer o.<br />
Co m base nas reflexões dos est udi osos do mundo anti go e do mundo<br />
cont e mporâneo, o pr ofessor dout or Sil vi o Medeiros e m seu ensai o “Poesia, Or ali dade,<br />
Me móri a e o poder da métis e m Ho mer o”, (2005) baseia-se nas reflexões de Her ódot o 2 ,<br />
consi derado pai da hist ória oci dent al, e apresent a al guns pont os que referem ao ano e ao l ocal<br />
de nasci ment o do fa moso poet a grego. Segundo pr ofº Sil vi o Medeiros, o ano que vi vera<br />
Ho mer o, girava e m t orno dos 484- 425 a. C é o que el e nos mostra co m a citação e Her ódot o:<br />
“_ Real ment e, suponho que a época de Ho mer o e Hési odo não é mais de quatrocent os anos<br />
ant eri or à nossa...” (Heródot o apud Sil vi o Medeiros: 2005 p.sn). Dest a f or ma, o pr ofº. Coloca<br />
que Her ódot o se pôs na tradição épi co-homérica, pel o seu est udo hist oriográfico voltado a<br />
sal var a me móri a da tradição épica anti ga.<br />
Mas por enquant o dei xemos de l ado os est udos de Her ódot o e passe mos a cont ar a<br />
reconstrução bi ográfica de Ho mer o que, de acordo co m o ensai o de Ana Elias Pi nheiro<br />
(2007), que t a mbé m se baseia nos est udos de Her ódot o e nos t ext os anti gos, construi u a<br />
tradição bi ográfica do poet a, através de u m bar do de t ext os, aparente mente da nossa era que<br />
mont ava o percurso bi ográfico de Ho mer o. Segundo a pesquisadora, a reconstrução bi ográfica<br />
partiu de t ext os co mo a Vit ae Ho meri, ( A ori ge m de Ho mer o) que construía os parent escos de<br />
Ho mer o e as ci dades que decl a mava m ser a t erra pátria do poet a, t e mos t a mbé m o t ext o,<br />
Cert ament Ho meri et Hesi odi ( O confront o entre Ho mer o e Hesí odo) que f oi um t ext o que,<br />
col oca o poet a Hesí odo, aparent e ment e da mes ma geração, como duelista de u ma co mpetição<br />
1 HOMERO. Ilíada (e m verso). Tradução de Carl os Al bert o Nunes. Ri o de Janeiro: Edit ora Edi ouro. 2002<br />
2 HERÔDOTOS. Hist ória. Tradução Mári o Ga ma Kur y. 2ed. Brasília, Edit ora UnB, 1988.<br />
12
poética co m Ho mer o, por isso o no me dado, e os cant os Cí pri os escritos e m onze li vros pel o<br />
poet a Est ási no de Chi pre, um del es, relatava a guerra de Tr ói a desde o co meço, ist o é, desde a<br />
ori ge m de Páris e da sua escol ha entre as deusas At ena, Hera e Afrodite, na qual escol heu a<br />
últi ma co m o tít ul o de “ A mai s bel a”, gravado e m u m po mo de our o, narrati va que não<br />
encontra mos na Ilí ada. Outros poet as gregos construíra m várias hist órias que se t or nara m<br />
célebres. A pequena Ilí ada f oi escrita por Lesqueos de Lesbos entre outros co mo: O j uízo das<br />
ar mas de Ésquil o; Aj ax de Sóf ocles; Fil octet o de Sóf ocl es e Ésquil o; Troianas de Eurí pi des;<br />
Saque de trói a de Iofon, filho de Sófocl es.<br />
De certa f or ma est es t extos contri buíra m para mont ar u m quebra-cabeça que t al vez<br />
a tradição grega não t enha consegui do mont ar, que seria a construção das pretensas bi ográficas<br />
de Ho mer o que são relatados na “vit ae Ho meri”. Segundo Ana Elias (2005), neste t ext o, as<br />
ci dades Es mirna, Cól ofon, Sal a mi na, Qui os, Argos, Rodes e At ena, cidades da ci vilização<br />
grega defendi a m co m orgul ho, ser o berço de ori ge m de Ho mer o, apesar de est udi osos do<br />
mundo anti go e do mundo cont e mporâneo duvi dar do real l ocal de nasciment o do poet a, at é<br />
tal vez, começar a t arefa dos bi bli otecári os de Al exandria que co m estudos mais pr of undos<br />
extraí dos dos di versos text os da tradição anti ga, co meçara m a questi onar sobre a aut oria do<br />
poet a.<br />
Mas, ant es ni ngué m duvidara da existência de Homer o. A tradição atri buiu a est e<br />
poet a a co mposi ção dos li vros: a Ilí ada que tratava da cól era do personage m Aquiles e a<br />
guerra contra a i nvasão da ci dade de Tr ói a, a Odi sséi a, que ti nha co mo objeti vo narrar a volta<br />
de Ulisses para sua casa, quando t er mi na a guerra de Tr ói a, a Batraqui ami amachi a, u m t ext o<br />
hu morístico sobre a guerra, Margites, consi derado cô mi co, os Epi gramas e os Hi nnos, ao<br />
todo cont ava m co m trint a e três hi nos, entre os quais, o Hi no Ho mérico a Apol o, que<br />
apresent a o poet a como cego, t e mos ai nda: O Rapt o de Brisiei de, A Gl ória de Di omedes, O<br />
Resgat e de Heit or, Os Jogos Fúnebres e m honra de Pátrocl o. As duas primeiras obras (Ilí ada<br />
e Odi sséi a) f ora m consideradas as obras mais co mpl etas (entre os t ext os encontrados) e as<br />
mai s fabul osas, os de mais t ext os f ora m r egistros encontrados e m manuscritos, l ápi des, papiro<br />
que segui a m uma linha de estilo das duas pri meiras, a Ilíada e a Odisséi a.<br />
A aut oria dos t ext os da Vitae Ho meri é atri buí da a Her ódot o, que t ent ava apresent ar<br />
para a tradição que o poeta ti nha si do concebi do em Ci me; t eve o seu nasciment o e m Es mi r na;<br />
mai s t arde perdera a visão na ci dade de Cól ofon; depois voltara para Ci me, onde o dera m o<br />
no me de “ Ho mer o”, nome esse que si gnificava “aquel e que não vê”, deno mi nação dada as<br />
pessoas que por al gum moti vo ti vesse ficado “cego” e que precisava de u ma pessoa para gui á-<br />
13
lo. Ent ão e m Qui os co mpusera a mai or parte dos seus poe mas e dos di versos t ext os hist óricos<br />
que narrava m às sagas dos heróis épicos e morrera em Ios.<br />
A existência de seus pr ogenit ores baseia-se e m f atos pura ment e hist óricos, pacífica,<br />
chei as de l acunas, provavel ment e recorrendo às l endas e a tradição. Baseados nestes fat os,<br />
dera m u m no me ao seu pai que oscilava, segundo f ont es, entre o di vi no do ri o Mel es ou a u m<br />
hu mano de no me Méon, vári os outros no mes deram ao personage m pat erno, entre el es seria m:<br />
Cálicles, Daí mon, Ta miras at é u m escri ba egí pcio de no me Mené maco. A sua mãe poderi a t er<br />
si do u ma Musa de no me Calí ope. Outra suposição f oi acreditar que Ho mero t eria vi ndo de u ma<br />
jove m mort al, de no me Métis, seduzi da e abandonada ou at é, u ma Itacense, vendi da co mo<br />
escrava.<br />
Poré m outra versão, segundo Ana Elias Pi nheiro (2005, p. 113), col hi da na tradi ção<br />
da época arcaica, nos apresenta que Ho mer o t eria si do fil ho de Tel é maco, filho de Ulisses na<br />
Odi sséi a, e de Policasta, filha de Nest or na Odisséi a. Assi m retratando e m seus versos o<br />
cui dado dado a estes personagens, honrando de certa for ma os seus pais e avós.<br />
A i mage m de Ho mer o na tradição anti ga fora se mpre cego, mas antes de o<br />
consi derado portador desta deficiência, Ho mer o teria podi do ver, e o seu no me oscilava ent re,<br />
Alt es ou quase se mpre, Mel esi genes, nomeado pel a mãe.<br />
Est a hist ória esta descrita de acordo co m Ana Elias Pi nheiro, no t ext o: “Sobre as<br />
ori gens de Ho mero, Cronol ogi a e Vi da”. Text o atribuí do a Her ódot o e mais t arde reco mpost a<br />
pr ovavel ment e nos anos 50 e 150 d. C, pel o médi co Her mógenes de Es mirna. Assi m, se lê:<br />
No tempo em que fora fundada a anti ga col óni a eólica de Ci me [ …]<br />
entre aquel es que aí se est abel eceram est ava Mel anopo, ci dadão de<br />
Magnési a, filho de Itágenes, filho de Crét on [ …] Este Mel anopo casou em<br />
Ci me com uma filha de Omires, e dessa uni ão nasceu uma crai nça a que m<br />
deram o nome de Cretei da. Mel anopo e a mul her morreram e a filha ficou<br />
entregue ao cui dado de um ami go, Cl eanax, um Argi vo.<br />
Te mpos depois, a rapari ga ficou grávi da de al gué m cuj o nome não<br />
sabe mos [ …] era a altura em que os homens de Ci me tinham acabado de se<br />
est abelecer na zona mai s alt a do mont e Her meio, na ci dade a que<br />
chamaram<br />
Es mi rna [ …] Cl eanax entregou Cretei da a Is méni as, um Beóci o, que se<br />
encontrava entre os col onos.<br />
[ …]<br />
Te mpos depois, Cretei da partici pava com outras mul heres em fest as<br />
junt o ao ri o chamado Mel es quando chegou a sua hora e deu à luz Homero,<br />
que não era uma cri ança cega e si m saudável. Chamou-l he Mel esí genes, por<br />
causa do ri o junt o ao qual nascera.<br />
[ …]<br />
Em Er mi rna vivi a um homem chamado Fé mi o que ensinava às cri anças<br />
14
letras e música, que tomou Cret ei da por esposa e lhe adopt ou o filho.<br />
[ …] Quando chegou à idade adult a não era inferi or em saber a Fé mi o e<br />
quando este morreu deixou-lhe todos os seus bens. Pouco depois, Cretei da<br />
morreu t ambé m e Mel esí genes est abeleceu-se como prof essor.<br />
( Ana Elias Pi nheiro, 2005. p, 119)<br />
O pr óxi mo t ext o que colocare mos é o cha mado Cert amen Ho meri et Hesí odi ( o<br />
confront o entre Ho mer o e Hesí odo - t a mbé m atribuí do a Her ódot o), consi derados poet as da<br />
mes ma geração e que os aut ores anti gos criara m especul ações que os dois pudesse m t er si do<br />
parent es.<br />
Mas essa especul ação é mai s u m f at o hist órico que segue na linha da tradi ção.<br />
Segundo Ana Elias ( 2005, p. 115), o que Her ódoto t ent ava posici onar segundo a existênci a dos<br />
dois poet as era o encontro que ocorreu na partici pação dos j ogos f únebres e m honra ao rei<br />
mort o na bat al ha, Anfi da mant e, a convite do irmão, prí nci pe da Eubeia. Essa é mai s u ma<br />
hist oria que fasci na e nos col oca a pensar se real ment e o fat o ocorrera, j á que o pr ópri o Hési odo<br />
teste munha e m Os Trabalha e os Di as, 650-660, esse acont eci ment o.<br />
Em seus relat os, Hési odo col oca que certa vez, se desl ocou para o mar da Áuli de<br />
para a Eubei a, para partici par dos j ogos f únebres e m honra ao rei. El e relata que f ora vencedor<br />
desta competição com um hi no e m honra das Musas, mas não menci ona os concorrent es.<br />
Cert a ment e através destes t ext os, i magi nou-se que o poet a da Ilí ada e da Odi sséi a,<br />
pudesse t er si do o pri ncipal concorrente desta co mpetição co m Hesí odo, na medi da e m que<br />
naquel a época, era co mu m as co mpetições entre adi vi nhos, entre poet as e outros confront os<br />
entre adversári os, realizado na mai oria das vezes e m rituais fúnebres da época.<br />
Assi m, Ana Elias Pi nheiro nos mostra:<br />
[...] Dando mostras de u ma excepci onal habilidade ret órica, muit o ao gost o<br />
da sofística dos sécul os V e I V a. C., Ho mer o consegue vencer t odos os<br />
desafi os de u m desesperado Hesí odo, irado pel as constantes derrot as e<br />
clara ment e preferi do pel o público que ovaci ona o poeta épi co. ” ( Ana Eli as<br />
Pi nheiro, 2005, p. 116 )<br />
Consi derando esta hi pótese, conti nuare mos, de acordo co m Ana Elias Pi nheiro<br />
(2005), com a hist ória que mostra o episodia e m que o prí nci pe Panedes, que tinha<br />
pr oporci onado os j ogos fúnebres, pr opôs u ma última pr ova para os co mpetidores, e aos poet as<br />
15
solicitou a recitação de um t recho das suas obras. Por fi m, a escol ha de Hesí odo f oi u m trecho<br />
de “ Os trabal hos e os Di as ( 382- 392)” que explicava o mel hor mo ment o para cada u m dos<br />
trabal hos da col heita:<br />
Quando surgirem as Pl êi ades, filhas de Atl as,<br />
começai a ceifar; e a lavrar quando el as se esconderem.<br />
Durant e quarent a noites e quarent a di as,<br />
est ão ocult as, até que se compl et a mais um ano,<br />
e reaparece m quando de novo se afiam as foices.<br />
Assi m o est abelece a lei das pl anícies, para os que j unto ao mar<br />
têm as suas moradas e para os que nos vales frondosos,<br />
longe do alt o mar cobert o de ondas, sobre ricas paragens<br />
habit am. Nu semei a e nu ara<br />
e nu ceifa, quando para cada uma del as for hora.<br />
Na vez de Ho mer o, el e escol he u m trecho do confront o entre o exército t roi ano,<br />
comandado por Heit or e dois Aj antes:<br />
16<br />
Ent ão, à volt a dos dois Aj ant es, se col ocaram as fal anges<br />
poderosas, que ne m Ares teri a desprezado, de ter est ado aí,<br />
ne m At ena, a que conduz os exércit os. Porque eram os<br />
mel hores<br />
os que aguardavam os Troianos e o divi no Heit or,<br />
cerrando l ança com l ança e escudo com sóli do escudo.<br />
O escudo pressi onava o escudo, o el mo o el mo, o home m o<br />
home m;<br />
os penachos de cri na de caval o, quando se inclinavam, batiam<br />
com as crist as bril hant es. Tão próxi mos est avam uns dos<br />
outros.<br />
Tornou-se f eroz o combate, dizi mador de mort ais, co m as<br />
lanças<br />
enor mes que exi bi am a carne cort ada. Cegava os ol hos<br />
o brilho brônzeo dos el mos rel uzentes,<br />
das couraças recé m poli das e dos escudos brilhant es,<br />
quando chocavam uns contra os outros. Muit o duro t eri a de ser<br />
o coração<br />
que, ao ver uma t al desgraça, se al egrasse e m vez de se<br />
entristecer.<br />
Co m est e poe ma, Ho mero que ant es ti nha venci do t oda a co mpetição se vi a<br />
derrotado perant e o público que os assista m, por que ao i nvés de cant ar a paz exaltava a<br />
guerra. Depois disso Homer o t eria segui do errante pel as pl anícies de Corint o, e m Ar gos ou
e m Del os, cant ando seus versos e obt endo i númeras honras co m suas co mposições, entre el as<br />
a Ilíada e a Odisséi a.<br />
Já pode mos t er u ma noção de co mo f oi a vi da deste poet a segundo a tradi ção<br />
hist órica, e, a sua morte é cont ada fabul osa ment e t ant o quant o a sua vi da. Assi m, na<br />
conti nuação desta hist ória, seleci onare mos o fat o hist órico que está conti do no mes mo ensai o<br />
de Ana Elias Pi nheiro ( 2005), sobre a mort e de Ho mer o e que se baseou nos t ext os da Vit ae<br />
Ro mana ( mat erial i ntrodut óri o ao códi ce 6 da Bi bli oteca Nasci onal de Ro ma) e Vit ae<br />
Scori alenses (do códi ce W. 1. 12 do escorial, do sécul o XI):<br />
No ensai o de Ana Elias Pi nheiro ( 2005), coment a que certa ment e Ho mer o<br />
envel hecia, e e m muitas de suas vi agens, u m orácul o ( um ti po de vi dent e), l he previ a que a<br />
mort e o encontraria por não conseguir decifrar o eni gma dos j ovens. O f at o f oi consu mado<br />
quando e m cert o pont o de sua vi da, ele estando à beira de u m ri o, senti u passar por pert o del e,<br />
garot os que ca mi nhava m para a pesca. Quando os gar ot os estava m voltando, Ho mer o que ali<br />
conti nuava os i nt errogou sobre o que ti nha m pescados. Ent ão os garot os l he dissera m: “ O que<br />
pesca mos dei xa mos ficar e o que não pesca mos traze mos conosco”. Ho mer o não t endo<br />
ent endi do o senti do da resposta, pedi u para que os garot os explicasse m o senti do da frase,<br />
ent ão, u m del es responde que não ti nha m consegui do pescar nenhu m pei xe, mas que fi cara m<br />
a cat ar pi ol hos, l ogo, deixara m nas mar gens do rio os que cat ara m e traziam co m el es os que<br />
não ti nha m consegui do cat ar, de i medi at o Ho mero se l e mbra da pr ofecia do orácul o, abal ado<br />
tenta sair daquel e l ocal e escorrega nas mar gens l odacent a do ri o e bat e com a cabeça e m u ma<br />
pedra, seu cor po f oi encontrado três di as depois e no seu t umul o o col ocara m: “ Nest e l ugar, a<br />
terra cobre a cabeça sagrada que fez dos guerreiro de sua hist óri a, grandes heróis, o divi no Homero.<br />
Segundo Pi nheiro ( 2005, p. 118), esta hist ória se refere a “dez t ext os,<br />
aparent e ment e da nossa era, que recol he m esta tradição bi ográfica de Ho mer o”, que as<br />
discute m e trans mite m no t ext o j á menci onado neste trabal ho, o cha mado “ Cert ame entre<br />
Ho mero e Hesí odo”, poré m u m t ext o anôni mo que chegou at e aos nossos est udi osos por mei o<br />
dos text os florenti no do sécul o XI V d. C.<br />
17
2 - A QUESTÃO DO HERÓI NA GRÉCI A.<br />
A defi nição de herói designa o pr ot agonista de u ma obra narrativa ou dra mática, o<br />
herói é marcado por uma pr oj eção de dupl o senti do; por u m l ado, represent a a condi ção<br />
hu mana, na sua co mpl exi dade psi col ógi ca, social e ética; por outro, vai ale m das mes mas<br />
condi ções ant eri ores, é o grau de ati ngir i númeras faces e virt udes que u m ho me m gost aria de<br />
ter, mais não as consegue. O her ói na anti gui dade era u ma espécie de escolhi do, u m guar di ão,<br />
u m defensor que nasceu para servir. El es se encontrava m nos gr upos de gover nant es ou<br />
pr oprietári os de t erras e al gumas vezes era m descritos co mo fil hos de deuses, era m ti dos<br />
como pessoas de boa maneira e de co mportament o honrado, era m bel os e quase se mpr e<br />
vai dosos, alé m de sere m perfeitos no manej o das ar mas. Para os Gr egos, os heróis sit ua m-se<br />
na posição i nter medi ária entre os deuses e os homens.<br />
No ent ant o, para ser herói, é necessári o, entre outras coisas, di ant e de u ma<br />
situação fatal agir de forma coraj osa e nobre.<br />
A est a defi nição, o pr óprio poet a da Ilí ada, col oca no cant o XIII a questão de ser<br />
coraj oso, ou seja, aquele que não te me o medo e conseqüent e ment e a morte:<br />
O coraj oso, ao contrári o, nem muda de cor, ne m se mostra<br />
desfaleci do desde a hora em que o posta assumi u da emboscada,<br />
só desejando o mo ment o de entrar no combat e funest o –<br />
cert o, ni ngué m te faria censura à corage m e ao braço. (Il. XIII, 284-7)<br />
Por outro l ado, é preciso evi dent e ment e que o i ndi vi duo per maneça vi vo. Não é<br />
pois u ma “pr ont a morte” ( u ma mort e se m l ut a) que per mitirá ao guerreiro o acesso à gl ória,<br />
mas os efeit os heróico que el e realiza ant es de morrer, e é sob o risco i mi nent e de morrer, que<br />
conferirá u m val or t odo especial ao seu at o, dada a sua nat ureza, ele precisa expor a sua vi da<br />
quase t odo mo ment o na guerra: mas para ati ngir seus obj eti vos: o feit o heróico e a gl ória, el e<br />
precisa t a mbé m mant er-se vi vo. Co m i sso, é preciso ent ão que el e ao mesmo t e mpo não sej a<br />
covarde e sej a ast uci oso o bastante para evitar a morte. É por isso que esta const ant e<br />
exposição da vi da, i nscrita no supre mo val or do guerreiro: a coragem, não deverá ser<br />
18
consi derada u m pri ncí pi o absol ut o de condut a se m observância das circunstânci as nas quais o<br />
at o te m l ugar.<br />
Dest a f or ma, col ocare mos u m exe mpl o t ext ual que mostra a f or mação do Her ói e a<br />
i mportânci a da mort e para el e. No arti go: de Teodor o Rennó ( 1995, p. 54), apresent a u m<br />
exe mpl o citado por Vernant 3 que mostra a demonstração do f unda ment o met afísico do<br />
herói co: co mo exe mpl o, é citado a últi ma parte do discurso de Sar perdon e Gl auco no cant o<br />
XII da Ilíada.<br />
(...) Ah, caro a mi go, se, acaso, escapando da guerra terrível,<br />
livres ficásse mos se mpre da triste vel hice e da Morte,<br />
não me verias, por cert o, a lut ar na dianteira dos nossos,<br />
ne m te faria ingressar nas batal has que aos homens dão gl ória.<br />
Mas, ao invés disso, cercados esta mos por muit os perigos<br />
e pela Morte, da qual escapar ni ngué m pode ou exi mir-se.<br />
Va mos, portant o, a dar gl ória a qual quer, ou de al gué m recebê-las.<br />
(Il. XII, 322-328)<br />
De acor do co m as reflexões de Ver nant, citado por Teodor o Rennó (1995),<br />
pode mos observar que el e subli nhou a mort alidade co mo f unda ment o último do at o herói co.<br />
Assi m para os heróis, a verdadeira mort e era a velhi ce, o esqueci ment o e a covardia. Por outro<br />
lado, estar vi vo era ser endeusado, l e mbrado co m grande ad miração, possui ndo gl ória<br />
i mperecí vel. Todavi a, não se segue daí que “ultrapassa-se a morte acol hendo-a e m vez de a<br />
sofrer (...)” ( Ver nant apud Teodor o Rennó 1995. p. 54), na medi da e m que não é possí vel fazer<br />
coi nci dir o feit o heróico e a mort e, a menos que se trate da mort e de u m outro, do i ni mi go. É<br />
assi m que pode mos perceber na ulti ma frase do discurso de Sar pédon: adquire-se a gl oria pel a<br />
mort e infligi da, ao ini mi go, mais é este que adquire por „sua‟ própria morte.<br />
Um bo m exe mpl o para a gl ória conquistada está na morte de Pátrocl o. Tendo<br />
como oponent e Heit or, u m guerreiro de i ncont estável val or, que acabou ceifando-l o a vi da,<br />
sua morte foi senti da i mensa ment e pel o seu a mi go Aquiles e por todos os aqueus:<br />
Todos, assi m na ci dade ge mi a m. No entant o, os Aqui vos,<br />
logo que as naus alcançara m e a praia do vast o Helespont o,<br />
se dispersara m, e m busca dos barcos de proas recurvas,<br />
com exceção dos Mir mí dones fortes, que Aquiles reteve.<br />
3 VERNANT, Jean- Pi erre. “A bel a morte e o cadáver ultrajado” (tradução de Elisa A. Kossovi ch e João A.<br />
Hansen) in Discurso nº 9. São Paul o: Edit ora Ci ênci as Hu manas, 1979<br />
19
Aos companheiros valentes desta arte o Peli da se expressa:<br />
“Car os e fiéis companheiros, Mir mí dones fortes, dos coches<br />
não desate mos, ai nda, os caval os de pés muit o rápidos,<br />
mas, como esta mos, ar mados, à beira do mort o fique mos<br />
para chorá-l o, prestando-lhe as honras funéreas devi das.<br />
Logo, poré m, que ficar mos saciados do choro funéreo,<br />
os corredores solte mos, a fi m de cui dar mos da ceia”,<br />
disse: Inicia o Peli da os la ment os; os mais o acompanha m.<br />
Tr ês vezes faze m passar os caval os à volta do morto.<br />
Tétis lhes põe no i mo peito vont ade i nconti da de chor o.<br />
Mol ha-se a areia com as lágri mas; mol ha m-se as ar mas dos<br />
homens,<br />
tão se m ri val é o herói, cuj a perda, ali,todos chorava m.<br />
(Il. XXI II, 1- 16).<br />
Val e l e mbrar que os rit uais fúnebres de Pátrocl o são, de cert o modo, únicos, na<br />
medi da e m que o poet a col oca para de monstrar co mo era m f eitos os f unerais de u m her ói mort o e m<br />
bat al ha. Pode mos t er u ma i déia, quando Aquiles pr opõe os j ogos f únebres para honrar seu<br />
a mi go mort o, e co m el a, a i mol ação de doze troianos e a realização de u m banquet e, fazendo<br />
assi m daquel e mo ment o úni co, o reconheci ment o da gl ória que não pôde oferecer a Pátrocl o<br />
vi vo, mas, o oferecendo quando mort o. Ai nda com r el ação aos rit os f únebres, val e ressaltar<br />
que era u m cost ume dos guerreiros gregos. Assim, Ho mer o utiliza-se da mort e de Pátrocl o<br />
para descrever a i mportânci a do sepulta ment o, e mai s do que isso, u ma descrição cl ara do que<br />
aparent a ser o Hades para os gregos:<br />
Dor mes, Aquiles, o a mi go esquecendo? Zel oso eras antes,<br />
quando me achava com vi da; ora. Mort o, de mi m te descui das.<br />
Co m t oda a pressa sepulta-me, para que no Hades ingresse,<br />
pois as i magens casdas dos vi vos, as al mas, me enxot am,<br />
não per mitindo que o rio atravesse para a elas aj untar-me.<br />
Por isso, vago defronte das portas a mplíssi mas do Hedes.<br />
Dá- me t ua mão; é chorando que o peço; não mais à tua frente<br />
conseguirei ret ornar, quando o fogo me houver consumi do,<br />
ne m será dado ja mais, a departe dos outros Mir mí dones,<br />
aconsel har mo- nos tal como em vi da soía mos, vist o<br />
já ter de mi m se apossado o desti no que eu trouxe do berço.(...)<br />
(Il. XXIII, 69-79).<br />
Ao ulti mo verso desta referência, val e l e mbrar, segundo Eli zabet h Mai a ( 1997),<br />
que o nasci ment o do herói está sit uado nu ma crença anti ga pré- ho mérica, que o concebe<br />
como espírito. Espírito de u m ho me m mort o, que se t ornará not ável entre os ho mens. Assi m,<br />
o guerreiro j á nasce sabendo que vai morrer e para se t ornar not ável por seu her oís mo<br />
20
guerreiro, o j ove m deve percorrer u m l ongo ca mi nho educati vo, que co meça; segundo<br />
Elizabet h Mai a ( 1997, p. 109), com a separação dos pais, segue-se u m grande perí odo de<br />
isola ment o, durant e o qual submet e-se aos ensina ment os de u m mestre, com que m deve<br />
aprender pri ncí pi os da arte da medi ci na, arte do adi vi nho e natural ment e t odos os<br />
pr ocedi ment os relativos à l uta. Logo e m segui da, Elizabet h Mai a ( 2007), nos apresent a u m<br />
escrito de Jaeger 4 :<br />
O aspect o mais relevante da f or mação do herói, “resi de na<br />
aprendi zage m das concepções f unda ment ais da nobreza<br />
cavaleiresca, que pode m ser expressas e m duas palavras: ti mh e<br />
aret h. ( Jaeger apud Elizabet h Mai a, 1997, p. 110)<br />
De acordo co m Elizabeth Mai a ( 1997, p. 110), a pal avra “aret h” si gnifica virt us<br />
(virtude) traduzi da pel os l ati nos, para desi gnar ato de destaque de u ma pessoa, ou sej a, u ma<br />
quali dade de u ma pessoa e m r ealizar al go, por exe mpl o, a virt ude de u ma faca é cortar e do<br />
re médi o é curar. Desta for ma, a pal avra aret h quando se refere ao home m i ndi ca condut a<br />
cortês e heroís mo guerreiro, quando se refere aos deuses desi gna f orça, quando se refere a<br />
caval os deno mi na rapi dez e assi m por di ant e. Ela é t a mbé m deno mi nada co m habili dade e<br />
virilidade, alé m de i ndicar disposição de l uta, ou sej a, realizar as suas potenci alidades na ação.<br />
Val endo- nos do cont exto da Ilí ada e da Odi sséi a, o conceit o de timh est á<br />
associ ado à areté. Ist o por que a habilidade garante o mérit o. Assi m Elizabet h ( 1997, p. 110)<br />
nos afir ma, que a honra do grego anti go decorre dessa f or ma de suas quali dades, mas<br />
expressa-se enquant o reconheci ment o que l he manifesta o outro.<br />
Para co mpreender mos um pouco mais, pegare mos u m episódi o que se asse mel ha<br />
ao episódi o da recusa de Aquiles quando Aga mêmnone l he oferece present es como r eparação<br />
do seu erro, trata-se do discurso anunci ado por Sarpedon quando el e apresent a que as ri quezas<br />
ofereci das por Aga mê mnone são coisas que se pode arrebat ar ou co mprar; “ mas a al ma<br />
hu mana, u ma vez escapada do encerro dos dent es, não mais se dei xa prender, se m poder mos,<br />
de novo, ganhá-la. ”(Il. IX, 408- 410)<br />
4 J AEGER, Wer ner. Pai déia. 2ª edição. Tradução de Art ur M. Parreira. São Paul o: Marti ns Font es, 1989<br />
21
Dest a f or ma, enfatiza-se aqui o caráter i nsubstituível da vi da, o val or por el a e a<br />
recusa das coisas mat eriais.<br />
Elizabet h Mai a no fi nal do seu trabal ho sobre “ A pai xão do Her ói na Ilíada”,<br />
funda ment a-se nas reflexões do escritor Junit o de Souza Brandão 5 , que chama a at enção para<br />
as circunstâncias da morte do herói:<br />
[...]frut o de traições, mortes vi olentas, ou no anoni mato, situando aí mes mo<br />
o auge de sua pai xão, u ma vez que e m podendo opt ar pel a vi da cor pórea o<br />
heróis opt a pela morte. E ca mi nha diret o para a mort e para não morrer. Esse<br />
é seu movi ment o de negação. El e visl umbra essa hi ânci a i nsut urável e e m<br />
função de sua ti mh e areté, constrói u m movi mento e m t orno do nada,<br />
obt endo o reconheci ment o dos que l he são cont e mporâneos, e co m a mort e<br />
assegura o reconheci ment o eterno. (Elizabet h Mai a, 1997, p. 112)<br />
Assi m, o her ói é envol vido pel a pai xão, e é nesta pai xão que el e defende os i deais<br />
de seu povo. Para o “herói”, t er o reconheci ment o dos seus, é t er fi nalment e a sua gl ória<br />
reconheci da e l e mbrada por várias gerações de seus descendent es. Mas isso parece ser u ma<br />
preocupação co mu m de t odo mortal. Mas para o her ói, este at o, faz el e sonhar co m a<br />
et erni dade e por essa r azão que o auge de sua pai xão é a morte para ser l e mbrado<br />
et erna ment e.<br />
Nest e senti do, a narrati va ho mérica el ege u m her ói que se destaca e m seu grupo de<br />
at uação por cat egorias específicas que o enobrece m e o hu mani za m. Não se pode esquecer<br />
que a i déi a de hu mani dade era u m dos pri ncí pios dos i nt elect uais gregos e isso, de certa<br />
for ma, mi gra do pl ano da reali dade para o pl ano da ficção, como u ma estratégia de fazer o<br />
leitor acreditar ou mel hor, se envol ver com a literatura de Ho mer o.<br />
3 – A REPRESENTAÇÃO DO HEROÍ S MO NO CANTO XXII DA I LÍ ADA DE<br />
HOMERO<br />
5 BRANDÃO, Junit o de Souza. Mit ol ogi a Grega. Petrópolis: Vozes. 1987<br />
22
O li vro da Ilí ada mostra como se passou u mas das mai ores guerra que j á existi u,<br />
ant es das col oni zações Dóricas, e narra o conflito entre ho mens e deuses revel ando o grau de<br />
obedi ência onde os padrões cult urais são rompi dos e col ocado à prova.<br />
Nu m cenári o onde os sonhos se f unde m nas ment es dos personagens, encontra mos<br />
forças di vi nas mani pul ando ho mens que passa m a confront ar por u ma cult ura, a gl oria e a<br />
lembrança de ser lembrado pelas gerações dos tempos.<br />
Dest a f or ma, percorrendo as li nhas do poe ma, Ho mer o nos pr oporciona u m<br />
passei o, nos deportando para o cenári o por el e criado, fazendo nos i maginar co mo sentia os<br />
personagens e as sensações obti das nas guerras, alé m de nos comover co m t e mas<br />
e moci onant es e i mpact antes que co mpõe m o poema consi derado o exe mplar mais perfeit o da<br />
língua l ati na e do l egado grego. A pr odução desta epopéi a consegue mant er o clí max do<br />
fascí ni o da Grécia e de Tróia, grandes ci vilizações anti gas.<br />
Co m i sso, a Ilí ada nos apresent a a guerra como e m qual quer caso, quando o<br />
recurso desesperado da razão não pode falar mais. Assi m, a guerra do ho me m contra o<br />
ho me m, do ho me m contra a nat ureza, do espírito contra a mat éria, da liberdade contra a<br />
fatalidade, não mais é do que a hist ória desta intermi nável luta.<br />
3. 1 - AQUI LES E SUA CÓLERA<br />
Para co meçar mos a falar deste personage m e de sua event ual contri bui ção na<br />
Ilíada, pri meiro, val e apena fazer u m breve percurso hist órico do personage m, ant es de entrar<br />
no assunt o que di z respeito a sua “cól era” e o que essa reação result ou na decisão dos Aqueus<br />
e na queda de Tr ói a. Aquiles, não só f oi o mai or guerreiro na guerra de Tr ói a co mo o pont o<br />
central da Ilí ada de Ho mero. Aquiles ti nha co mo pai Pel eu, o rei dos Mi rmi dões na Tessália e<br />
por mãe, a deusa Tétis (deusa das águas do mar), di z a l enda que, Zeus e Posei don l evara m<br />
Tétis at é u m orácul o que vi u na sua mão que el a teria u m fil ho que seria mai or que o pr ópri o<br />
pai e por isso resol vera m dá-l o para outra pessoa. De acor do co m a l enda, Tétis t ent ou t or nar<br />
Aquiles i nvencí vel mer gul hando- o no ri o da Estige. Poré m, ao mer gul há-lo, segurou- o pel o<br />
tendão de u m dos cal canhares ( o t endão de Aquiles). Assi m, esta parte fi caria vul nerável,<br />
23
podendo l evá-l o à morte. O aut or da Ilí ada não menci ona isso, para el e, Aquiles não poderi a<br />
ser herói se não corresse risco.<br />
Aquiles é ti do na Ilí ada co mo u m deus, não só pel a sua capaci dade superi or de<br />
lutar, mas pel as atitudes. Mostrava u ma co mpl eta e t otal devoção pel a excelência de sua art e e<br />
como u m deus, nenhu m respeit o pel a vi da. Para el e, a mort e não poderia ser si mpl es ment e<br />
u ma mort e, t eria que ser rápi da desde que f osse glori osa. Sua cól era era absol uta, t ornando se<br />
assi m o te ma da Ilíada.<br />
Co m essa pequena apresent ação do personage m, cabe a nós, entrar mos no real val or<br />
que Aquiles trouxe para a tra ma da Ilí ada. Assi m, o el e ment o central da Ilíada, é a cól era de<br />
Aquiles; e o poet a col oca no pri meiro verso essa evi dênci a: “Cant a – me a Cól era – ó deusa! –<br />
funesta de Aquiles Peli da,(...)” (Il. I, 1), ou sej a , o poet a pede i nspiração as musas para cant ar<br />
e cont ar o senti ment o de f úria do personage m que é consi derado pelo poet a, o pi vô da<br />
hist ória. Com isso, va mos à narrativa da Ilíada.<br />
Ire mos aqui reconstruir o percurso de Aquiles durant e a hist ória da Ilí ada, sendo<br />
que o cont eúdo apresentado é desti nado so ment e a “cól era” do personage m, no senti do de<br />
mostrar o peso que este senti ment o causou nas decisões dos dois ca mpos, Aqueus e Tr oi anos.<br />
Para co meçar mos, va mos aos fat os: Aquiles, através de u ma ri xa co m o rei dos Aqueus,<br />
Aga mê mnone, recusa a conti nuar l utando. A r azão pel a ri xa parece i nfantil, e ne m sequer<br />
di gna de u m se mi deus. Vej a mos a sit uação: Crises, sacerdot e de Apol o, ve m ao ca mpo dos<br />
Aqueus para t entar resgatar sua fil ha Crisei de rapt ada por Aga mê mnone como escrava, não<br />
consegui ndo e sendo i nsultado pel o rei, ele i mpl ora para Apol o Fl echeiro para punir a<br />
indol ênci a dos Aqueus. Uma peste é lançada pel o deus, a toda a tropa Grega.<br />
Do arco de prata co meça a irradiar-se u m cl angor pavor oso.<br />
Pri meira ment e, investiu contra os mul os e os cães vel ocíssi mos;<br />
mas, logo após, contra os ho mens dirige seus dardos pont udos,<br />
ext er mi nando-os. Se m pausa, as f ogueiras os corpos destruí a m. Por<br />
nove dias, as setas do deus di zi mara m o exército;<br />
mas, no segui nte, cha mou todo o povo para a ágora, Aquiles.<br />
(Il. I, 49-54).<br />
Aquiles ent ão deci de convocar a asse mbl éia e u m adi vi nho de no me Cal cant e,<br />
revela que a peste i nfli gida aos Aqueus é devi do a prisão da fil ha de Crises que estar de posso<br />
24
de Aga mê mnone e basta devol ve l á para cessar o casti go sobre el es. Co m i sso, Aga mê mnone<br />
concorda co m a asse mbl éi a, levando- o a se deci dir, se m medir as conseqüênci as, a t omar os<br />
prê mi os dos heróis ali presente e conseqüent e ment e o prê mi o de Aquiles (ist o é, Brisei de)<br />
para substituir o seu ( Crisei de), entregue ao sacerdote de Apol o. Aquiles após u ma r eflexão<br />
hesita entre a vi ol ência e a cont enção, el e deci de não tirar a espada de sua bai nha para mat ar<br />
Aga mê mnon. E é neste pont o que começa a nossa análise, da cól era.<br />
Enquant o no coração e no espírito assi m refletia,<br />
e a grande espada de bronze arrancava, do Céu bai xou prestes<br />
Pal as At ena, mandada por Hera, de braços muit o al vos,(...)<br />
(Il. I, 193-195).<br />
Aquiles, assi m a mando de At ena, cont e m a sua ira no mo ment o e m que pensava<br />
e m despedaçar o lí der dos aqueus. A deusa preocupada t ant o co m Aga mêmnone quant o co m<br />
Aquiles, e mit e as segui ntes pal avras que só Aquiles consegue ouvir: “Para acal mar-te o f uror,<br />
tão-soment e, ora vi m do alt o Oli mpo; caso me atendas, (...)” (Il. I, 207-208), e acrescent a:<br />
“Va mos, refreia t ua cól era, dei xa e m r epouso essa espada. ” (Il. I, 210), e o que é confir mado<br />
pel o fecho da sua fala: “ Cont enha-te, portant o, e obedeça!” (Il. I, 214). Aquiles nesse<br />
mo ment o, e m sua resposta, reconhece que se trata de duas deusas poderosas, Hera e At ena, e<br />
que seria, portant o, i mpensável desobedecer: “ Deusa, é razoável que às ordens das duas me<br />
mostre obedi ente, ai nda que muit o irritado me sint o.(...)” (Il. I, 216- 217). Despoj ado do que<br />
si gnifica a sua própria, irá, retirar-se da luta, e o resultado será quase a derrot a dos aqueus.<br />
Nest a pri meira l eitura do poe ma, surpreende a nós l eit ores, por que u m grande<br />
personage m, u m a mado dos deuses; possa de monstrar, di ga mos assi m, u m “capricho i nfantil”.<br />
Mai s isso não é verdade, para ent ender mos este senti ment o de Aquiles, voltamos ao conceit o<br />
de Aret é, pal avra que si gnifica mérit o ou quali dade pel a qual al gué m se destaca. Na cont enda<br />
com Aga mê mnone, Aquiles f oi i nj usta ment e ofendi do, e precisa ment e no mai s grave, que u m<br />
comandant e pode ser i nsultado, ist o é, vergonha, hu mil hação na frent e de seus co mpatri ot as, e<br />
que, por mais grave, Aquiles foi o coraj oso e o mais perfeito dos ho mens por t er pensado. Por<br />
isso que ele é represent amos como a mai or honra.<br />
Est e heróico areté é refinado co m a morte física do her ói. O ho me m mortal para<br />
que pretenda perpet uar a sua fa ma. Para dar mos u m exe mpl o do que f oi dit o, l e mbre mo- nos<br />
os dois desti nos, ou das duas maneiras de morrer, que Tétis prevê para Aquiles:<br />
25
(...) se conti nuar a lutar ao redor da ci dade de Tróia,<br />
não voltarei mais à pátria, mas gl ória hei de ter se mpiterna;<br />
se para casa voltar, para o grat o torrão de nascença,<br />
da fa ma excelsa hei de ver-me pri vado, mas vi da mui longa<br />
conseguirei, se m que o te mor da Morte mui cedo te alcance.<br />
(Il. I X, 412-416).<br />
A este exe mpl o, Teodor o Rennó (1995) vale do coment ári o de Ver nant:<br />
Aquiles não t eve sequer que escol her; vi u-se i ncli nado de vez para a vi da<br />
breve. Predestinado – poder-se-ia di zer por nat ureza – à bel a morte, vi vo, el e<br />
já está co mo que i mpregnado pel a aura da gl ória póstu ma para qual se mpre<br />
foi desi gnado. ( Vernant apud Teodoro Rennó, 1995, p.55).<br />
E mai s adi ante no mesmo ensai o Teodor o Rennó ( 1995) co ment a que Ver nant,<br />
parece ter ret omado a escol ha de Aquiles na questão do heroís mo i ntroduzida quando:<br />
O que o herói perde e m honras prestadas á sua pessoa vi va, quando el e<br />
renunci a à l onga vi da para escol her a pr ont a morte, ele o t orna a ganhar ce m<br />
vezes mais na gl ória (...) ( Vernant apud Teodoro Rennó, 1995, p. 55).<br />
Segundo Teodor o Rennó ( 1995, p. 55-6), o coment ári o de Ver nant sugere; a<br />
coi nci dência entre a escolha aut omática da vi da breve e a vocação à bel a morte ( defi ni ção que<br />
vere mos mais adi ante na fi gura de Heit or), para el e f oi a escol ha mes mo que se t or nou u ma<br />
pr ont a mort e. Mas esta substituição quase i nsensível da vi da breve pel a pronta mort e não se<br />
revela na Ilí ada. Pri meiro por que o pr ópri o t ext o j a mais a disse: depois por que, u ma pr ont a<br />
mort e, l onge de abrir o acesso à gl ória, é j usta ment e o que, corta cedo a carreira do guerreiro e<br />
o i mpede de fazer o que quer que seja.<br />
Para Ver nant, se o guerreiro é cantado pel o que fez e ele não souber aproveitar seu<br />
tempo para fazer al go de grande, ele não terá mais chance de acender à gl ória. É o que nos<br />
parece m i ndi car as numerosas narrativas, das vi das breves e mel ancólicas represent adas por<br />
guerreiros de segundo escalão que, por má-sorte ou falta de atenção, morrem ant es de ter<br />
realizado al gum feit o, neste caso, o guerreiro não têm evi dent e ment e relação al guma com uma<br />
mort e gl ori osa.<br />
26
Assi m, uma vi da breve, no ent ant o, desde que ilumi nada pela luz extraordinária da<br />
mort ali dade, pode ser compost a por feitos cuj o númer o e quali dade seja m suficientes para<br />
assegurar a seu aut or uma fa ma i ndefectí vel, como é o caso de Aquiles. Devi do a isso, o poeta<br />
col oca por mei o da intervenção das deusas, o senso do furor de Aquiles contra Aga mê mnone.<br />
Na seqüênci a deste episodi o, Aquiles após ter entregado a contragost o “Brisei da de-belas-<br />
faces” aos araut os de Aga mê mnone, então silenciosos e constrangi dos sai:<br />
............................................................................... Entre ment es,<br />
dos companheiros Aquiles se afasta, a chorar, assentando-se<br />
pert o da praia do mar espumoso. A fixar o infinito<br />
pél ago, à mãe diletíssi ma impl ora, estendendo-l he os braços:<br />
“ Mãe, já que vi da de tão curt o prazo me deste, seria<br />
just o que ao menos tivesse honras muitas de Zeus poderoso<br />
que no alto troa! Ele, entanto, de todo de mi m não se importa,<br />
pois consenti u que o potente senhor, de Atreu filho, Aga mé mnone,<br />
me desonrasse; meu prê mi o tomou, de que, ufano, se goza”.<br />
(Il. I, 349-356)<br />
Est as l ágri mas são a abertura do dra ma, e de antecedênci a do fi m do mes mo. A<br />
Aquiles, sua mãe o acalent a e deci de realizar o pl ano de vi ngança tra mado por el e, que era,<br />
pedir a Zeus que desse total apoi o aos troianos, na medi da de casti gar os Aqueus:<br />
(...) se mostre i ncli nado a prestar t odo o apoi o aos Tr oianos, para que<br />
possa m pre mir os Acai os té às popas a às ondas,<br />
e eles assi m destroçados, do chefe que tê m se gl orie m.<br />
Vej a, com isso, Aga mê mnone, o filho de Atreu, poderoso,<br />
Quão cego estava ao querer desprezar o mai or dos Aquivos.<br />
(Il. I, 407 - 412)<br />
Assi m Aquiles per manece f ora do co mbat e e segue a derrota parcial dos Aqueus.<br />
Sabe mos que o poe ma anunci a “a cól era de Aquiles” co mo seu assunto, mas cabe a nós<br />
mostrar que após a morte de Pátrocl o, Aquiles renunci a a esta “cól era” contra Aga mê mnone e<br />
não pensa e m outra coisa se m não se vi ngar de Heit or o assassi no do seu queri do Ami go.<br />
Ant es do episódi o da morte de Pátrocl o, pode mos observar si nais de compai xão de Aquiles<br />
aos seus co mpanheiros, e percebe mos o abranda ment o de sua cól era. Est e episódi o est a<br />
descrito no fi nal do canto XI, quando os grandes guerreiros aqueus estão feri dos, i nabilitados<br />
de entrar nova ment e no co mbat e, a este episódi o o poeta col oca:<br />
27
Assi m, Aquiles cha ma Pátrocl o:<br />
O di vi no Aquiles, de pés mui vel ozes, dos dois se apercebe,<br />
pois se encontra de pé sobre a popa da nave boj uda,<br />
a cont e mpl ar o combat e terrível e o triste recuo.<br />
(Il. XI, 599-601)<br />
A voz, então, levant ou, do navi o e m que estava, cha mando<br />
Pátrocl o, seu companheiro, o qual vei o da tenda, depressa,<br />
com o porte de Ares. O i nício foi esse de sua desgraça.<br />
Quando ao seu lado chegou, disse o filho de Menéci o:<br />
Por que moti vo me cha mas, Aquiles? De que necessitais?<br />
Di sse-l he Aquiles, de rápi dos pés, em resposta, o seguint e:<br />
Fil ho di vi no do grande Menéci o, que ao peito me és caro,<br />
crei o ser a hora chegada de ver a meus pés os Acai os,<br />
a suplicar- me, que i mensa opressão a eles todos aflige.(...)<br />
(Il. XI, 602-610)<br />
Co mo disse o poet a no verso ant eri or, e m se referir a Pátrocl o ( O i ní ci o f oi esse de<br />
sua desgraça), pois ao envi ar Pátrocl o para conferir dos feri dos, Aquiles dará a Nest or a<br />
ocasião de sensi bilizar seu a mi go para o i menso sofri ment o dos seus co mpatri otas e sabendo<br />
que Aquiles não vai entrar na guerra, sugere a Pátrocl o u m pl ano de convencer Aquiles a<br />
dei xá-l o entrar na bat alha, de posse de suas armas, e co mbat er j unt os aos Mi r mi dões. No<br />
episódi o, percebe mos uma cadei a de co mpai xão, Pátrocl o est á t ão comovi do co m aquel a<br />
situação que só voltará para Aquiles após t er dado socorros médi cos aos guerreiros aqueus, e<br />
é chorando muit o que ele volta para Aquiles e apresenta o pl ano de Nest or. Aquiles ao ver o<br />
Ami go chorando, se comove por el e, mas sabemos que a co moção de Aquiles é apenas para<br />
com o seu a mi go, pois aos aqueus, nada de compai xão sent e, pois a isto previ a o co mbat e<br />
di zi mador contra o exército de Aga mé mnone.<br />
Co m aquel a cena de Pátrocl o, Aquiles cessa u m pouco sua cól era e cede á<br />
de manda do companheiro mas l he dá uma i nstrução:<br />
Gr ava, poré m, no i mo peit o o que passo, insistente, a dizer-te, (...)<br />
Logo que os Teucros das naus repelires, ret orna. Ai nda mes mo<br />
que o de Hera esposo, de voz ret umbant e, alta gl ória te ceda,<br />
28
se m mi m não queiras levar mai s avante o combat e ardoroso<br />
contra os Dânaos valentes; ser- me-ia desdouro, por certo;<br />
ne m acont eça, exaltado no ardor do combat e, levares<br />
o morticí ni o até os mur os de Tróia, por vent os bati da,<br />
pois poderia descer do alto Oli mpo um dos deuses eternos,<br />
que Febo Apol o, o frecheiro, aos Troianos é muit o afeiçoado.<br />
Volta, depois de levares a luz aos navi os vel ozes<br />
e de sal vá-l os; que os outros no plai no o combat e prossiga m.<br />
(Il. XVI , 83, 87-97)<br />
Aquiles depois de dar as i nstruções, ordena e exorta os Mi r mi dões e faz u ma<br />
súplica orando a Zeus para conceder gl ória a Pátrocl o e, após el e t er afastado das naus a<br />
bat al ha, que faça-o voltar são e sal vos. E estas foram a resposta de Zeus, na voz do poeta:<br />
(...) Zeus consel heiro, no ent ant o, do que pedira soment e u ma parte<br />
concede; outra nega: dá-lhe que Pátrocl o afaste das naves a l ut a<br />
sangrenta, mas não consent e que o herói possa, vivo, t ornar do<br />
combat e.<br />
(Il. XVI, 249-252)<br />
E assi m segue a hist ória; co m Pátrocl o no co mbate, não bast ou para el e apagar o<br />
fogo e per mitir aos Aqueus que ret ome m o f ôl ego, com os gol pes de sua lança, mat ou vári os<br />
troianos e a outros f ogem e m pâni co co m a ação de Pátrocl o. Para Pátroclo, aquel e mo ment o<br />
era a hora de voltar se el e at endesse as or dens de Aquiles, mas, j á que o Her ói para ser<br />
lembrar t e m que col ocar a sua vi da e m risco constante, não bast ou para Pátrocl o apenas<br />
aquel a sit uação, ele queria mais e pensando e m r eal ment e que a sua f orça iria l evar a vit oria<br />
aos Aqueus, avança abrindo a i mensa série de morte, Heit or que se mpre esta a frent e dos seus<br />
grandes guerreiros, percebe o desfavoreci ment o do mo ment o e f oge co m os outros troi anos<br />
e m busca dos port ões de Tr ói a. Vej a mos que o pr ópri o poet a critica o personage m e m s ua<br />
decisão que fará desta escol ha, a perda de sua vi da:<br />
A At o medont e dava ordens, ent ant o, e aos f ogosos ginetes Pátrocl o,<br />
para que e m pós dos Tr oianos e Lí ci os seguisse m. Cego! Se houvesse<br />
prestado at enção ao consel ho de Aquiles, provavel ment e t eria<br />
escapado da Morte sinistra. (Il. XVI, 684-687)<br />
29
Mes mo ultrapassando muit o os estritos li mites fixados por Aquiles, ele é três<br />
vezes advertido pel o deus Apol o e na quarta vez o deus lhe diz estas palavras:<br />
Pátrocl o, ger me de Zeus, para trás! Não consente o Desti no que por<br />
teu braço se renda a ci dade gl ori osa dos Teucros nem por Aquiles,<br />
herói do que tu muit o mais val oroso. (Il. XVI, 707-709)<br />
Pátrocl o i nstantanea mente recua para escapar da cól era do deus, mas é i ncapaz de<br />
relaci onar do consel ho de Aquiles com as pal avras do deus, avança nova ment e mai s, e m<br />
direção de Heit or, acerta co m u ma pedra o ir mão de Heit or que o mat a e e m t orno do cor po,<br />
Pátrocl o e Heit or trava m o co mbat e, mas Heit or t em a pr ot eção de Apol o e nenhu m deus est á<br />
com Pátrocl o. Dest a f orma, el e se t ornou u ma presa fácil, Apol o facilita as condi ções para a<br />
mort e de Pátrocl o co m o arre messo do pri meiro gol pe de u m guerreiro de no me Euf or bo,<br />
cabendo a Heit or apenas liqui dá-l o.<br />
Co m a morte de Pátroclo, Aquiles dei xa de l ado a rai va co m Aga mêmnone e<br />
extre ma ment e f uri oso, parte agora a truci dar os guerreiros troianos, a sua cól era agora é<br />
voltada pri nci pal ment e para Heit or. Co meça agora a e mi nênci a de u m semi deus e co m el a, o<br />
desapareci ment o da raça dos heróis e destruição de Tr ói a. E é no cant o XXII que Aquiles<br />
col ocar toda sua ira, pois está na presença de Heit or o ani quilador do seu a migo queri do.<br />
Voltando ao raci ocí ni o de Ver nant segundo Teodor o Rennó ( 1995, p. 56), Aquiles<br />
quando deci de ficar e m Tr ói a se m t er vi da breve mas gl ória et erna, ele col oca a quest ão de<br />
u ma “pr ont a mort e”, mais como pode mos observar se el e t eve ou não, se na Ilí ada nada<br />
menci ona sobre a morte de Aquiles.<br />
A est e fat o Teodor o Rennó ( 1995) col oca duas observações: A pri meira, u ma<br />
mer a seqüênci a do que estáva mos di zendo, é que o t e mpo da narrativa da Ilí ada, ai nda que<br />
cont e poucos di as, basta para que o herói mai or realize al guns feit os decisivos e adquira assi m<br />
u ma gl ória i mperecí vel, se m que seja necessári o saber mos exat a ment e co mo seu desti no se<br />
cumpre. A segunda é que, não podendo assistir esta cena de mort e, se não conhece mos<br />
precisa ment e de que maneira e e m quais circunstâncias el e ocorre, não pode mos saber co m<br />
certeza se el a será u ma mort e heróica. No cant o XXII Heit or pouco ant es de morrer, predi z<br />
sobre o desti no de Aquiles, o lugar e os aut ores desta morte:<br />
30
Por conhecer-te, sabia que tudo seria assi m mes mo.<br />
O coração tens de ferro; i mpossí vel me fora dobrá-l o.<br />
Que isso, poré m, contra ti não provoque a vi ngança das deuses,<br />
quando tiveres de a vi da perder, muit o e mbora esforçado,<br />
das Portas Ceias e m frent e, aos ataques de Páris e Apolo.<br />
(Il. XXII, 356-360).<br />
Dest a f or ma, o poet a coloca j á o seu desti no na promessa de u m guerreiro que no<br />
mo ment o de sua mort e, decl ara o seu últi mo suspiro “a morte do her ói Aquiles”. Dest a f or ma<br />
Aquiles será ent ão cant ado pel o que soube fazer de seu breve t e mpo de vida, pel os at os que<br />
compõe m sua bi ografia. Sua morte não pode ser obj et o do cant o senão como o ulti mo event o<br />
que concl ui a sua vi da heróica.<br />
3. 2 - HEI TOR E A BELA MORTE<br />
A fi gura de Heit or na Ilíada t e m a característica de u m grande herói que na mai oria<br />
das vezes é t ão val orizado quant o Aquiles, u m personage m que do co meço ao fi m defendeu e<br />
comandou o exércit o troiano na i nvesti dura contra os saqueadores de Tr ói a “os Aqueus”. Mas,<br />
não nos det ere mos nesta for ma heróica de Heit or ne m a sua ri queza de t emas e det al hes, mais<br />
si m, na f or ma que o poet a o consagra, val orizando o personage m di ant e de sua mort e.<br />
Fare mos a seguir u ma breve análise da mort e de Heit or, que para muit os se t ornou a “ Bel a<br />
Mort e” citada por vários est udi osos co mo J. P. Vernant, entre outros, para det er mi nar a<br />
val orização do personagem na Ilíada.<br />
Segundo Teodor o Rennó ( 1995, p. 56), a hist ória da mort e de Heit or começa be m<br />
ant es do desfecho que represent a o cant o XXII, onde o excesso de confiança de Heit or se<br />
torna uma ar ma para o desenrolar da hist ória.<br />
Hei de, então, ver se me força a recuar o robust o Di omedes<br />
para as mural has, dei xando os navi os, ou se eu, com meu bronze,<br />
não o dei xo mort o, levando comi go suas ar mas cruent as.<br />
Si m, a manhã há de ter ocasião de mostrar sua força,<br />
quando com a lança me vir. Mas espero que, logo na frent e,<br />
31
caia feri do, cercado por muitos dos fiéis companheiros,<br />
mal surja o sol no Oriente. Pudesse eu ter vi da perene<br />
e, para se mpre, ficar libertado da triste vel hice,<br />
com honrarias di vi nas iguais às de At ena e de Apol o, (...)<br />
(Il. VIII, 532-540).<br />
Not e mos que o personage m de Heit or, al mej a t er u ma vi da i gual aos dos deuses, e<br />
apresent a está confiante co m a aj uda de Zeus, na qual el e gaba de ser o filho. Mas não percebe<br />
que as constantes vit órias era m apenas u ma questão de t e mpo para os guerreiros de Tr ói a,<br />
pois el e era i ncapaz de reconhecer as mudanças de Zeus. No cant o XII, fica evi dent e o aviso<br />
de Zeus nos pressági os da águi a e da serpent e, int erpretada por Poli da mant e. Est e episódi o<br />
nos diz o segui nte:<br />
Mas, ao chegare m à beira do fosso, indecisos, parara m;<br />
é que, quando ia m transpô-lo, por eles uma ave perpassa;<br />
águi a de altíssi mo vôo, que à esquerda fechou t odo o exército,<br />
a qual nas garras, a i mano dragão cor de sangue estringia,<br />
vi vo, a mexer-se que não se esquecera dos cruent os combat es,<br />
pois, para trás encurvando-se, junt o do col o, no peit o,<br />
a ave feri u. Trespassada de dor excruciante, esta, logo,<br />
vi olenta ment e o jogou para longe, no mei o do povo.<br />
Grit o estridente solta a águia, partindo com o sopro do vent o.<br />
Estre mecera m os Teucros, ao vere m no mei o do ca mpo,<br />
como portent o de Zeus, a serpent e de Ceres ca mbi antes.<br />
(Il. XII, 199-209).<br />
Est e episódi o re met e à t ot al evi dencia da derrot a dos troianos e a i gnorânci a de<br />
Heit or e m perceber o verdadeiro pl ano de Zeus, que era apenas satisfazer o desej o de Tétis e<br />
de Aquiles.<br />
Co m i sso, o fat o da morte de Heit or t er acont eci do, não está no si mples fat o de<br />
percebe se os deuses estão ou não do l ado del es ou se o seu exércit o vão ou não ganhar a<br />
bat al ha, el e está e m u m conj unt o de cenas que o leva direta ment e ao cerco de sua mort e, por<br />
exe mpl o: De cert o que a sua sent ença f oi marca quando el e mat a Pátrocl o e apodera-se de sua<br />
ar madura, ele não i magina que o grande peri go estará mais pr óxi mo de cortar o fi o de sua<br />
vi da. Mas, segundo Tedoro Rennó, a mort e de Heitor se t orna irreversí vel pel o erro do pr ópri o<br />
Heit or na asse mbl éia troiana no cant o XVIII ( 246- 313). Neste cant o, há u m episódi o onde<br />
Poli da mant e e m u ma asse mbl éia not urna, propõe pr udent e ment e a retirada do povo de Tr ói a<br />
pel o i nteri or das mural has da ci dade, por que el e sabe que Aquiles entrou no co mbat e e, que se<br />
32
ficasse m não t eria m mai s nenhu ma chance de resistir com o exércit o Aqueu i mpulsi onado<br />
pel o seu mai or guerreiro na frente da bat al ha. Mas, Heit or recusa o parecer de Poli da mant e,<br />
acreditando ai nda l oucament e e m u ma pr ot eção especi al de Zeus, desta f or ma, pr opõe ao<br />
exércit o per manecer na planí cie e no di a segui nte afront ar Aquiles e os Aqueus. Logo após o<br />
episódi o do discurso, o poet a coment a:<br />
Esse o discurso de Heit or; os Tr oi anos, e m peso, o apl audira m.<br />
Nésci os! A t odos At ena privava do são raci ocí ni o,<br />
pois aceitara m os pl anos r ui nosos de Heit or, sem que ao sábi o<br />
Poli da mant e ni ngué m a menor atenção concedesse.<br />
(Il. XVIII, 310-313).<br />
A bat al ha t e m i ní ci o e a sua frent e encontra mos u m Aquiles sedent o de vi ngança e<br />
como seria de se esperar, uma parte dos Tr oi anos é truci dada e a outra foge co m a aj uda de<br />
Apol o, para o i nteri or da ci dade. Co m o avanço dos Aqueus se apr oxi mando das mur al has, o<br />
poet a ent ão co ment a: “o desti no f unest o obri ga Heit or a ficar ali, di ante de Íli on e das port as<br />
Céi as”. (Il. XXII, 5-6).<br />
Di ant e desta sit uação, pode mos i magi nar a condição desfavorável e m que Heit or se<br />
encontrava, e para esta cena, not e mos ai nda que fica mais explicito pelo co meço da fal a<br />
desesperada de Pria mo: “ Ve m, meu Heit or, não esperes a esse ho me m, sozi nho, se m t eres<br />
que m te auxilie. É ele muito mais forte. Cairás a seus gol pes (...)” (Il. XXII, 38- 40).<br />
Dest a f or ma, o poet a faz a rel ação de f orça entre Aquiles e Heit or e depois o fat o de<br />
estar sozi nho entre a mul tidão de adversári os, t orna para Heit or u ma sent ença mort al, rest ando<br />
apenas que al guma di vindade, na qual el e acredita estar sendo pr ot egido, dissol va aquel a<br />
situação desfavorável.<br />
Mas sua confi ança desmedi da e m r el ação ao apoi o dos deuses l hes parece t er o<br />
traí do, restando ent ão a sua mani a de grandeza e o seu senti ment o de responsabili dade co m a<br />
comuni dade troiana, que o i mpede de recuar para o i nt eri or da ci dade de Trói a. A essa decisão<br />
pode mos ver no verso segui nte:<br />
Ai de mi m! Se eu entrar por estas portas e mural has. Poli da mas será o<br />
pri meiro a me l ançar u ma reprovação, el e que propunha que eu<br />
conduzisse os Tr oi anos para a ci dade, nesta noite funesta e m que se<br />
33
levant ou o di vi no Aquiles. Mas eu não o ouvi, e t eria si do muit o mai s<br />
vant aj oso. Uma vez que agora perdi as tropas por mi nha l ouca<br />
presunção, envergonho- me di ante dos Tr oianos e Tr oi anas de vesti dos<br />
raçagant es; e que u m outro qual quer pi or do que eu não vá di zer:<br />
“Tendo confiado e m suas forças, Heit or perdeu as tropas”.<br />
(Il. XXII, 99-107).<br />
A ver gonha de ser consi derado u m per dedor perante a sua co muni dade, por t er<br />
perdi do u ma parte do exércit o troiano e por não t er escut ado o conselheiro de Prí a mo e<br />
Poli da mant e, faz co m que Heit or fi que a esperar os Aqueus e chega a i magi nar i ngenua ment e<br />
u ma pr oposta pacífica de r econheci ment o da derrot a, mas, j á era t arde de mai s, pois a frent e<br />
Aquiles se aproxi ma, respl andecendo com o brilho de sua ar madura de bronze.<br />
E, quando o percebe, o tre mor t oma Heit or. E el e não ousa mai s<br />
per manecer ali, dei xa para trás as portas e marcha f ugi ndo; e o fil ho<br />
de Peleu se atira a ele, confiando nos pés ligeiros.<br />
(Il. XXII, 136-138).<br />
Segundo Teodor o Rennó ( 1995, p. 59), a este primeiro encontro, Heit or fica l onge de<br />
expor coraj osa ment e sua vi da. Para Rennó, a reação de Heit or é pois (como a de u m covar de,<br />
se a j ul gásse mos segundo critéri os morais absol utos) a de f ugir. Mais para o poet a da Ilí ada,<br />
Heit or não parece u m covarde e col oca a sua posição e m r elação à f uga do personage m: “ À<br />
frente f ugi a u m val ent e, mas persegui a-o u m bem mai s val ente do que el e (...)” (Il. XXII,<br />
158).<br />
Val e l e mbrar que, t odo herói é feit o de carne e osso e certa ment e possue m medos e m<br />
u m det er mi nado pont o de t ensão e m sua vi da e o pont o de t ensão para Heit or era aquel e<br />
mo ment o. Sendo persegui do por Aquiles, Heitor percebe que deveria t er evitado est e<br />
confront o e ter entrado na ci dade é o que nos mostra esta cena:<br />
A cada vez el e t oma o i mpulso de se l ançar contra as portas dardâni as<br />
para que do alt o t ente m prot egê-l o co m dardos, a cada vez Aquiles à<br />
frente ultrapassando o faz ret ornar para a pl anície: el e pr ópri o<br />
( Aquiles) voava se mpre do lado da ci dade.<br />
(Il. XXII, 194-198).<br />
34
A est a sit uação o aut or col oca a decisão dos deuses, Zeus que aparece co m u ma<br />
compai xão por Heit or, não pode subtrair à mort e, pois a el e possui grande val or, ent ão pesa os<br />
dois guerreiros e m sua bal ança de our o, e a sorte de Heit or esta l ançada, Em segui da, dar o<br />
assenti ment o a At ena que não t e m mai s as i ntervenções dos deuses, t e m daqui por di ant e o<br />
ca mpo liberado para agir de maneira decisi va.<br />
O pl ano de At ena f oi se disfarçar perfeitament e no ir mão de Heit or Deífobo, e assi m<br />
convencê-l o a l utar co m Aquiles. Mas, se tratando apenas de u m pl ano da At enas, Heit or para<br />
enfi m de f ugir e deci de combat er co m Aquiles e só perceberá que cai u em u ma ar madil ha,<br />
quando el e perde sua l ança e m u m arre messo i neficaz contra Aquiles e cha ma Deífobo para<br />
lhe pedir outra, mas, ele não está mais lá. Ent ão Heit or pressent e a presença de um i nevitável:<br />
Desgraça! Os deuses certament e me cha ma m para a mort e. Pois eu<br />
pensava que Deifobo, herói, estava presente; mas el e está dentro dos<br />
mur os e At ena me enganou. Agora não está mais l onge a morte cruel,<br />
mas próxi mo de mi m, e não há escapat ória.<br />
(Il. XXII, 297-301).<br />
Dest a f or ma, não resta mai s nada para o Heit or senão enfrentar o seu adversári o e<br />
ai nda acreditando e m uma aj uda di vi na sugere a Aquiles um pact o:<br />
(...) Ant es, poré m, de lutar, invoque mos os deuses eternos,<br />
que teste munhas idôneas serão do que, fir mes, jurar mos.<br />
Se, porvent ura, Zeus grande me der a vitória, dei xando<br />
que da existência te pri ve, de ultrajes ao corpo me abstenho.<br />
Pós a ar madura brilhante dos me mbr os tirar-te, Pelida,<br />
para os Aqueus o cadáver entrego; promet o outro tant o.<br />
(Il. XXII, 254 -259)<br />
Cert a ment e Aquiles com a sua decisão t omada e chei o de vi ngança, responde:<br />
Odi osíssi mo Heit or, não me fales e m pact os solenes.<br />
Co mo é i mpossí vel entre ho mens e leões haver paz e confiança,<br />
ou que carneiros e lobos revel e m i guais senti ment os<br />
pois nutre m ódi o i mpl acável e danos medita m recí procos,<br />
não pode haver entre nós ami zade nenhu ma, ne m pactos<br />
ou j ura ment os solenes, até que um de nós caia mort o<br />
35
e, com seu sangue, a Ares forte sacie, o guerreiro incansável.(...)<br />
(Il. XXII, 261- 267)<br />
Após di zer estas pal avras, dá i níci o ao duel o entre os dois guerreiros, na qual<br />
Aquiles sai vencedor, depois at ando o cor po ao seu carro e o arrastando t rês vezes e m t or no<br />
dos mur os de Tróia e depois, em t orno da t umba de Pátrocl o, em tribut o ao a mi go defunt o.<br />
Di ant e do episódi o da mort e de Heit or, Teodoro Rennó ( 1995, p. 53) busca e m<br />
Ver nant uma for mul ação da morte Her ói ca.<br />
A “bel a morte”, ist o é: a morte no co mbat e, de u m guerreiro na pl enit ude de<br />
sua virilidade, [...] faz aparecer á maneira de u m r evel ador, na pessoa do<br />
guerreiro caí do na bat al ha a e mi nent e quali dade de anèr agall ós, ho me m<br />
val oroso, ho me m devot ado. Para que m pagou co m sua vi da a recusa da<br />
desonra no co mbat e, da vergonhosa covardia, el a assegura u m r eno me<br />
indefectí vel. [...] El a el eva o guerreiro desapareci do ao estado de gl ória por<br />
toda duração dos t e mpos vindouros; e o f ul gor dessa celebri dade, Kl éas, que<br />
adere doravant e a seu no me e à sua pessoa. Represent a o t er mo últi mo da<br />
honra, seu extre mo ápi ce, a arete realizada. ( Vernant apud Teodor o Rennó<br />
1995, p. 53)<br />
Co mo vi mos no conceito de Ver nant, é a “bela morte” que assegura ao j ove m<br />
guerreiro “u m i ndefectível reno me”, é el e t a mbé m que, “por t oda duração dos t e mpos<br />
vi ndour os” (...) “eleva o guerreiro desapareci do ao estado de gl ória (...)”. E é efeti va ment e<br />
através deste conceit o de Ver nant e nos exe mpl os t ext uais post o ant eri or ment e, que se deve<br />
ent ender a questão do heroís mo present e na mort e de Heit or. Para dar u m exe mpl o cl aro dist o,<br />
nos direci ona mos a cena da ulti ma hora de Heit or, quando el e cita u ma frase freqüent e ment e<br />
apresent ada na Ilí ada: “Que, pel o menos, obscuro não venha a morrer, inati vo; hei de fazer<br />
al go di gno, que chegue ao porvir, exaltado (...)” (Il. XXII, 304 - 305).<br />
Pode mos di zer que a fi gura de Heit or durant e t odo o percurso narrati vo da Ilí ada,<br />
foi de u m ho me m devoto dos deuses e u m defensor de seu povo, u m home m que pagou co m<br />
sua vi da para t entar sal var, mes mo que i mpossí vel, a vi da dos seus co mpatri otas.<br />
Convenha mos que a referência da “bel a morte” apresent ada no conj unt o de cenas descritas e<br />
referi das ao discurso de Heit or, de nada t e m de “bel a” ne m de “gl oriosa” para que m as<br />
sofre m. Dest a f or ma, o poet a da Ilí ada reconhece esse at o do personage m e não dá fi m a est a<br />
mort e, como se mpre o faz co m os de mais personagens. Pode mos di zer que o poet a de certa<br />
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for ma i mortaliza o personage m de Heit or quando concede as honras f únebres, mes mo quando<br />
Aquiles pr omet e que por recompensa nenhu ma, não devol verá o seu cor po para ser sepultado.<br />
É no últi mo capít ul o que pode mos co mpr ovar esta defi nição, quando os deuses deli bera m<br />
sobre o desti no do mort o:<br />
E, ápos o corpo arrastar por três vezes à volta do tumulo<br />
do í nclito Pátrocl o, à tenda voltava a acol her-se, dei xando-o<br />
na branca areia, de bruços. Mas febo, do herói apiedado,<br />
ai nda depois de sua morte, o cadáver a mpara de todas<br />
as ocasi ões de estragar-se, cobri ndo-o com a égi de de ouro<br />
para que no at o de ser arrastado não viesse a ferir-se.<br />
Ao di vo Heit or o Peli da, em sua fúria, desta arte, ultrajava.<br />
(Il. XXVI, 16 a 22)<br />
Apol o e Hera desenvol vem os seus argument os:<br />
Sois todos cruéis, destrut ores eternos! Heit or, por acaso,<br />
nunca vos fez sacrifíci os de bois e de ovel has vist osas?<br />
E ora não tendes corage m, sequer, de sal var-lhe o cadáver,<br />
para que a esposa o cont e mpl e, a mãe nobre e o<br />
filhi nho ai nda infante, be m como Pría mo e o povo Troiano, que logo<br />
à fogueira o entregaria m, prestando-l he as honras funéreas devi das?<br />
(Il. XXVI, 33 - 38)<br />
Segundo Pi erre Vi dal ( 1930, p. 57), o poet a col oca a mort e de Heit or co mo o feit o<br />
mai s vali oso que ocorreu na narrati va, a gl ória de u m her ói deci di do por sua morte perant e os<br />
deuses. E graças à i ntervenção dos deuses, Apol o, Zeus, Tétis e Íris, o vel ho Prí a mo,<br />
acompanhado por Her mes, vai suplicar que Aquiles l he devol va o fil ho mort o. Eis u ma part e<br />
muit o i mpressi onant e que merece ser col ocada aqui, veja mos:<br />
(...) O vel ho penetra diret o na tenda<br />
Onde o Peli da, a Zeus, caro, soía sentar-se, encontrando-o<br />
dentro sozi nho, (...)<br />
Se m pel os outros ser vist o, entra o grande monarca, e de Aquiles<br />
aproxi mando-se, abraça-l he os joel hos e beija as terríveis<br />
mãos homi ci das, que muit os dos filhos lhe havia m matado.(...)<br />
Súplice, Pria mo, então começou de falar, e lhe disse:<br />
“Le mbra-te, Aquiles, igual a um dos deuses, teu pai venerável é<br />
da mes ma i dade que a mi nha e, portant o, como eu, assim vel ho.<br />
É be m possí vel que esteja cercado por fortes vizi nhos,<br />
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chei o de angústia, se m ter que m l he sirva de a mparo e defesa;<br />
mas, só de ouvir que estás vi vo, alegria indi visí vel lhe invade<br />
o coração, dia a dia esperando poder ente os ol hos<br />
ter a figura do filho gl ori oso, de volta de Tróia.<br />
Muit o mais triste é o meu fado, que, após tant os filhos ter tido,<br />
de compr ovado val or, ne m u m só na vel hice me resta. (...)<br />
(Il. XXI V, 471-3, 477-9, 486-494)<br />
Di ant e desta súplica de Pría mo, Aquiles se le mbra de seu pai e co meça a chorar<br />
junt o co m o rei, um chorava l e mbrando o fil ho, Heit or val oroso e o outro chorava l e mbr ando<br />
o pai j á vel ho, que el e sabe, que não irá vê-l o mai s e ora a perda do a mi go preferi do, Pátrocl o.<br />
Depois que el es cessa m os âni mos, Aquiles decide li berar o cor po de Heit or e per mit e que<br />
Pría mo realize os funerais de Heit or com as honras devi das.<br />
Dest a f or ma, o cadáver de Heit or se t orna um “belo mort o”, devi do ao sensaci onal<br />
percurso que o poet a narra, depois da morte do personage m, conservando o cor po que f oi<br />
martirizado e depois resgat ado e ofereci do aos deuses, compl etando o cicl o de vi da de u m<br />
“herói”, ser l e mbrado pel os seus e não ficar esqueci do, val e l e mbrar que o poet a col oca a<br />
figura de Heit or co mo o mai or Her ói j á vist o, por que entrou nu ma bat al ha no i nt uit o de<br />
defender o seu povo contra os i nvasores e isso fica be m cl aro quando o poet a não dá<br />
conti nui dade a hist ória e t er mi na co m o ulti mo verso “” nos mostrando que para el e a guerra<br />
ter mi na ali, elevando as ações dos Aqueus e segue a destruição de Tróia<br />
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CONSI DERAÇÕES FINAI S<br />
Fora m post os neste trabalho, subsí di os i mportant es para o conheci ment o literári o, na<br />
medi da e m que, cada vez mais t orna evi dent e a i mportância de se buscar novas li nhas de<br />
pesquisa sobre os t ext os épi cos e seus aut ores. Di ant e do estilo de leit ura que est a mos<br />
acost umados a trabal har, que abrange os mais variados ti pos de t ext os, desde o mai s si mpl es<br />
como: cartas, romance, poesias, et c. a t ext os mais co mpl exos co mo: artigos, pr oj et os de<br />
pesquisas, ensai os, et c., a l eit ura dos t ext os da antigui dade nos mostra o quant o é i mport ant e<br />
refletir sobre estes t est os épi cos, saber qual o senti do que trouxe para a nossa literat ura,<br />
respeitando o nos valendo das bases ou font es segui das pel os escritores de nosso te mpo.<br />
Dest a f or ma, refletir sobre os heróis da Ilí ada de Ho mer o f oi a espi nha dorsal de<br />
nosso trabal ho, pois foi a partir da análise do discurso épi co que percebe mos as<br />
especifici dades que l egiti ma m o her ói cl ássico e també m hu mani zado por suas ações. Ai nda<br />
há muit o o que se i nvesti gar sobre os heróis da Ilí ada. Personagens co mo Menel au,<br />
Aga mê mnone, Pátrocl o, Aj ax, entre outros merece m u ma l eit ura mais at enci osa, pois os<br />
escritos da ci vilização grega anti ga possuía m a servi dão de enfatizar através da arte o l e ma do<br />
ho me m perfeit o, como enfatiza Pl atão e m seus escritos: a bel eza, a bondade e a sabedori a.<br />
Nenhu m her ói grego f oge a est a perspecti va. Tal analise pode render mui tos frut os para u m<br />
nova safra da crítica literária que coteja este obj eto, ou seja, o herói grego.<br />
Di ant e disso, espera-se que este trabal ho esti mul e e pr ovoque os l eit ores a direci onar<br />
u m pouco mais os seus ol hares para os est udos cl ássicos, a fi m de preencher as l acunas da<br />
resistências e m r elação a l eit ura do l egado grego, que não só se concentra na pr odução épi ca,<br />
mas ta mbé m na produção da tragédi a.<br />
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BI BLI OGRAFI A PRIMÁRI A<br />
HOMERO. A Ilíada. Tradução e m for ma narrativa de Fernando C. de Araúj o Go mes. Ri o de<br />
Janeiro: Tecnopri nt. 1985.<br />
HOMERO. Ilíada (e m verso). Tradução Carl os Albert o Nunes. 2ª ed. Ri o de Janeiro: Edi ouro,<br />
2002.<br />
40
BI BLI OGRAFI A SEGUNDÁRI A<br />
ASSUNÇÃO, Teodor o Rennó. Ação di vi na e construção da tra ma nos “cantos I e II” da<br />
Ilíada. Letras Cl ássica, n. 5, p. 63-77, 2001.<br />
ASSUNÇÃO, Teodor o Rennó. Not a crítica à “bela morte” vernantiana. Cl ássica, São Paul o,<br />
n. 8, p. 53-62, 1995.<br />
BRANDÃO, Junit o de Souza. Mit ol ogi a Grega. Petrópolis: Vozes. 1987<br />
HERÔDOTOS. Hist ória. Tradução Mári o Ga ma Kur y. 2ed. Brasília, Editora UnB, 1988.<br />
J AEGER, Wer ner. Pai déia. 2ª edição. Tradução de Art ur M. Parreira. São Paul o: Marti ns<br />
Font es, 1989<br />
NAQUET, Pi erre Vi dal. O mundo de Ho mer o. Tradução Jônat as Batista Net o. São Paul o:<br />
Co mpanhi a das Letras, 2002.<br />
NÓBREGA, Elizabet h Mai a da. A pai xão do herói na Ilíada. Pri ncí pi os Ano 04, n. 05, p. 103-<br />
114, 1997.<br />
PI NHEI RO, Ana Elias. Ho mer o. Tent ati vas de (Re) Construção bi ográfica na anti gui dade.<br />
Mát hesis, n. 14, p. 111 – 128, 2005<br />
MEDEI ROS, Sil vi o. Poesia, Or ali dade, Me mória, Mit o e o poder da Métis e m Ho mer o.<br />
Di sponí vel e m: htt p://recant odasletras. uol.com. br/artigos/ 84966. Acesso em: 19 de j aneiro de<br />
2008.<br />
VERNANT, Jean- Pi erre. “A bela morte e o cadáver ultrajado” (tradução de Elisa A.<br />
Kossovi ch e João A. Hansen) in Discurso nº 9. São Paul o: Edit ora Ci ências Hu manas, 1979<br />
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