Prosa 2 - Academia Brasileira de Letras
Prosa 2 - Academia Brasileira de Letras
Prosa 2 - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Ivan Junqueira<br />
Não há nenhum brasileiro minimamente letrado, ou até mesmo ágrafo, que<br />
não conheça a “Canção do Exílio”, e não são poucos os que a guardam <strong>de</strong> cor.<br />
São raríssimos os nossos poetas – além <strong>de</strong> Gonçalves Dias, Castro Alves, Bilac,<br />
Augusto dos Anjos, Ban<strong>de</strong>ira, Drummond, Vinicius <strong>de</strong> Moraes – que gozam<br />
<strong>de</strong>sse extraordinário privilégio. E por que isso ocorre? Porque eles conseguiram,<br />
em <strong>de</strong>terminados momentos <strong>de</strong> sua trajetória, captar a sensibilida<strong>de</strong> da<br />
alma nacional e penetrar em nosso mais profundo imaginário. São, por assim<br />
dizer, poetas da alma, que tudo compreen<strong>de</strong>, e não do espírito, que tenta explicar<br />
a realida<strong>de</strong> e nada esclarece. É a este grupo seleto que pertencem Gonçalves<br />
Dias e sua imortal “Canção do Exílio”, cujos valores estão encharcados <strong>de</strong><br />
subjetivida<strong>de</strong> e em cuja música ressoa o motivo da obsessão nostálgica, visível<br />
no recurso retórico da repetição <strong>de</strong> que se vale o poeta. Tanto é assim que dos<br />
24 versos do poema sete repetem linhas anteriores, sem levarmos em conta os<br />
que as repetem parcialmnte. Ouçamos a “Canção”:<br />
Minha terra tem palmeiras,<br />
On<strong>de</strong> canta o Sabiá;<br />
As aves, que aqui gorjeiam,<br />
Não gorjeiam como lá.<br />
Nosso céu tem mais estrelas,<br />
Nossas várzeas têm mais flores,<br />
Nossos bosques têm mais vida,<br />
Nossa vida mais amores.<br />
Em cismar, sozinho, à noite,<br />
Mais prazer encontro eu lá;<br />
Minha terra tem palmeiras,<br />
On<strong>de</strong> canta o Sabiá;<br />
78