Prosa 2 - Academia Brasileira de Letras
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Ivan Junqueira<br />
Magalhães publicou em 1856, ou nos Cânticos Fúnebres, <strong>de</strong> 1864, nos quais,<br />
como sublinha Antonio Candido, “encontramos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o muito ruim até o<br />
péssimo absoluto”. Pior do que Magalhães, entretanto, consegue ser Araújo<br />
Porto-Alegre, que em 1836 já havia escrito os primeiros trechos <strong>de</strong> seu ilegível<br />
Colombo, poema épico que somente se daria a lume em 1866. Os outros êmulos<br />
do Romantismo – Joaquim Norberto, Dutra e Melo e Teixeira e Sousa, intimamente<br />
ligados a Magalhães –, não vão muito além, mas, <strong>de</strong> alguma forma,<br />
contribuem para a consolidação <strong>de</strong> uma temática que somente com Gonçalves<br />
Dias iria se cristalizar no que toca ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um processo formal.<br />
É esse, em linhas gerais, o ambiente literário em que surge o autor d’ Os<br />
Timbiras. Gonçalves Dias nasceu em 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1823 numa fazenda distante<br />
14 léguas <strong>de</strong> Caxias, no Maranhão, filho <strong>de</strong> um comerciante português,<br />
natural <strong>de</strong> Trás-os-Montes, e <strong>de</strong> uma mestiça brasileira. Contava seis anos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong> quando o pai se separou <strong>de</strong> sua mãe para casar-se legalmente com outra<br />
mulher, com quem teria quatro filhos. Após a morte do pai, que o levou a estudar<br />
em Coimbra, o poeta retorna a Caxias em 1837, mas logo no ano seguinte<br />
embarca para aquela cida<strong>de</strong> portuguesa, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> só retornaria em 1845. É durante<br />
esses oito anos em Coimbra que Gonçalves Dias adquire a sua sólida formação<br />
intelectual, o seu amor pelas línguas e a sua vasta cultura humanística.<br />
Com efeito, ao retornar a São Luís, trazia ele os originais da “Canção do Exílio”,<br />
esse poema emblemático da literatura brasileira, e <strong>de</strong> duas peças teatrais.<br />
É também nessa época que conhece, na casa <strong>de</strong> Alexandre Teófilo, sua prima e<br />
cunhada Ana Amélia Ferreira do Vale. Depois <strong>de</strong> alguns anos <strong>de</strong> triunfante<br />
trajetória literária e jornalística no Rio <strong>de</strong> Janeiro, Gonçalves Dias regressa ao<br />
Maranhão em 1851, ano em que são publicados os Primeiros Cantos, nos quais<br />
se inclui a citada “Canção do Exílio”.<br />
Reencontrando Ana Amélia, por ela se apaixona perdidamente, no que é<br />
correspondido, mas seu pedido <strong>de</strong> casamento é recusado pela família da moça,<br />
ou por preconceito racial, ou por julgarem-no já tuberculoso, ou por ambas as<br />
razões. Profundamente abalado, o poeta volta ao Rio <strong>de</strong> Janeiro e casa-se com<br />
Olímpia da Costa, filha <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> médico da Corte. Dizem seus biógrafos<br />
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