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evolução e revisão de alguns conceitos da culpabilidade

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CEZAR ROBERTO BITENCOURT<br />

respon<strong>de</strong>ndo a essa objeção <strong>de</strong> Rosenfeld, reconhece que “O juízo pelo qual se<br />

afirma que o autor <strong>de</strong> uma ação típica e antijurídica praticou-a culpavelmente<br />

refere-se, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> situação fática <strong>da</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

que existe no sujeito, mas valoriza-se ao mesmo tempo esta situação consi<strong>de</strong>rando-a<br />

como um processo reprovável ao agente. Somente através <strong>de</strong>sse juízo<br />

valorativo <strong>de</strong> quem julga se eleva a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fato psicológica ao conceito<br />

<strong>de</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong>” 17 . O juízo <strong>de</strong> censura não recai somente sobre o agente, mas<br />

especial e necessariamente sobre a ação por este pratica<strong>da</strong>. Seguindo nessa<br />

linha, e aceitando a crítica <strong>de</strong> Rosenfeld e a explicação <strong>de</strong> Mezger, Jiménez<br />

<strong>de</strong> Asúa reconhece que o fato concreto psicológico sobre o qual se inicia o<br />

juízo <strong>de</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong> é do autor e está, como disse Rosenfeld, na sua cabeça,<br />

mas a valoração para a reprovação quem a faz é um juiz 18 . E Manuel Vi<strong>da</strong>urri<br />

Aréchiga, adotando o mesmo entendimento, conclui que, quanto a isso, parece<br />

não haver dúvi<strong>da</strong>, pois “o juiz não cria a culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong>” 19 . Aliás, em não sendo<br />

assim, cabe perguntar aos opositores: on<strong>de</strong> estarão a imputabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, a potencial<br />

consciência <strong>da</strong> ilicitu<strong>de</strong> e a exigibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conduta diversa, elementos<br />

constitutivos <strong>da</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong> normativa? Estarão também na cabeça do juiz?<br />

Ora, fora <strong>da</strong> tese que sustentamos, estas in<strong>da</strong>gações são irrespondíveis.<br />

Por <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro, para não <strong>de</strong>ixar dúvi<strong>da</strong> sobre a natureza e localização <strong>da</strong><br />

culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por Welzel, invocamos suas próprias palavras sobre<br />

sua concepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito: “O conceito <strong>da</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong> acrescenta ao <strong>da</strong> ação<br />

antijurídica – tanto <strong>de</strong> uma ação dolosa quanto <strong>de</strong> uma não dolosa – um novo<br />

elemento, que é o que a converte em <strong>de</strong>lito” 20 . Em sentido semelhante, é a<br />

lição <strong>de</strong> Muñoz Con<strong>de</strong> que, <strong>de</strong>finindo o crime, afirma: “Esta <strong>de</strong>finição tem<br />

caráter seqüencial, isto é, o peso <strong>da</strong> imputação vai aumentando na medi<strong>da</strong> que<br />

passa <strong>de</strong> uma categoria a outra (<strong>da</strong> tipici<strong>da</strong><strong>de</strong> à antijuridici<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> antijuridici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

à culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong> etc.), tendo, portanto, que se tratar em ca<strong>da</strong> categoria os<br />

problemas que lhes são próprios”. Essa construção <strong>de</strong>ixa claro que, por exemplo,<br />

se do exame dos fatos constatar-se que a ação não é típica, será <strong>de</strong>snecessário<br />

verificar se é antijurídica, e muito menos se é culpável. Ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>ssas<br />

características contém critérios valorativos próprios, com importância e efeitos<br />

teóricos e práticos igualmente próprios 21 . Ora, é <strong>de</strong> uma clareza meridiana,<br />

17 Edmund Mezger. Tratado <strong>de</strong> Derecho Penal, Madri, 1935, p. 12.<br />

18 Jiménez <strong>de</strong> Asúa. Tratado <strong>de</strong> Derecho Penal, Buenos Aires, Loza<strong>da</strong>, 1976, p.129 e 228.<br />

19 La culpabili<strong>da</strong>d en la doctrina... p. 83.<br />

20 Welzel. El nuevo sistema... p. 79.<br />

21 Muñoz Con<strong>de</strong> & García Arán. Derecho Penal, parte geral...p. 215. Ain<strong>da</strong> no mesmo sentido, Jescheck,<br />

Tratado <strong>de</strong> Derecho Penal...p. 335: “Diante do tipo <strong>de</strong> injusto, como conjunto <strong>de</strong> todos os elementos que<br />

fun<strong>da</strong>mentam o conteúdo do injusto típico <strong>de</strong> uma classe <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito, encontra-se o tipo <strong>de</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Compreen<strong>de</strong> os elementos que caracterizam o conteúdo <strong>de</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong> típico <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito. A<br />

união <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> injusto e tipo <strong>de</strong> culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong> origina o tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito”. José Cerezo Mir. Curso <strong>de</strong> Derecho<br />

Penal español, p. 290.<br />

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