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Os Silêncios de Eça

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do conjunto da obra literária usualmente reconhecida como da autoria <strong>de</strong> <strong>Eça</strong>, vários<br />

títulos não o são, em absoluto rigor. A Capital, O Con<strong>de</strong> d’Abranhos, Alves & Ciª e A<br />

Tragédia da Rua das Flores, bem como diversos outros textos <strong>de</strong> menor notorieda<strong>de</strong> -<br />

por exemplo, as Lendas <strong>de</strong> Santos –, foram objecto <strong>de</strong> publicações póstumas, <strong>de</strong> muito<br />

duvidosa factura e em termos que não é forçado supor distantes <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> autoral<br />

que, nos casos citados, optou pela omissão. As edições póstumas trataram <strong>de</strong> ignorar<br />

essa omissão, pagando para isso o preço <strong>de</strong> intervenções cujo alcance e consequências<br />

são agora patenteadas pelas edições críticas já publicadas 8 .<br />

Em vida, a vonta<strong>de</strong> autoral queirosiana contemplou e consumou, até às últimas<br />

consequências, um conjunto relativamente escasso <strong>de</strong> títulos: <strong>de</strong> exclusiva autoria<br />

queirosiana, foram publicados, antes <strong>de</strong> 1900, quatro romances e uma novela: O Crime<br />

do Padre Amaro, O Primo Basílio, O Mandarim, <strong>Os</strong> Maias e A Relíquia; o romance O<br />

Mistério da Estrada <strong>de</strong> Sintra é um texto a quatro mãos (contando com as duas <strong>de</strong><br />

Ramalho Ortigão) e a sua última publicação em vida <strong>de</strong> <strong>Eça</strong> revela, por parte <strong>de</strong>ste seu<br />

co-autor, sérias dúvidas quanto à bonda<strong>de</strong> estética <strong>de</strong> uma empresa conjunta quase<br />

<strong>de</strong>sautorizada: “O que pensamos hoje do romance que escrevemos há catorze anos?”<br />

interroga-se <strong>Eça</strong>, dando voz também a Ramalho; “pensamos simplesmente – louvores a<br />

Deus! – que ele é execrável; e nenhum <strong>de</strong> nós, quer como romancista, quer como crítico,<br />

<strong>de</strong>seja, nem ao seu pior inimigo, um livro igual.”<br />

Aos Contos não chegou <strong>Eça</strong> <strong>de</strong> Queirós a dar corpo <strong>de</strong> livro, esse livro em que o<br />

escritor teria que tomar <strong>de</strong>cisões macro-compositivas e paratextuais, que <strong>de</strong>veriam ir da<br />

or<strong>de</strong>nação dos relatos ao título, sem esquecer, antes disso, a escolha daquilo que valeria<br />

ou não valeria a pena consagrar em volume. Para além disso e como se o Destino se<br />

empenhasse em coadjuvar a vocação queirosiana para a publicida<strong>de</strong> póstuma, mesmo<br />

obras em curso <strong>de</strong> publicação à data da morte, acabaram, em rigor, por ser póstumas:<br />

aconteceu assim com A Ilustre Casa <strong>de</strong> Ramires, com A Correspondência <strong>de</strong> Fradique<br />

Men<strong>de</strong>s e com A Cida<strong>de</strong> e as Serras, textos em que aquilo que pertence a <strong>Eça</strong> e o que<br />

proveio <strong>de</strong> intervenções estranhas, efectivamente existentes, apareceu fundido, a <strong>de</strong>safiar<br />

o labor <strong>de</strong> editores com capacida<strong>de</strong> e com coragem para, finalmente, separarem, até on<strong>de</strong><br />

isso é possível, o trigo do joio. Com razão, Guerra da Cal classificou estes três títulos<br />

como semi-póstumos, remetendo, com essa expressão, para a existência <strong>de</strong> uma tensão

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