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Geraldo Alckmin - Associação Paulista do Ministério Público

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<strong>Geral<strong>do</strong></strong><br />

<strong>Alckmin</strong><br />

Qual o destino<br />

deste líder?<br />

Combustíveis<br />

Fogo cerra<strong>do</strong> <strong>do</strong> MP<br />

contra a adulteração<br />

Ano II # 14


Contraponto | <strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong><br />

08<br />

Maxima Venia | O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e o efetivo<br />

combate da criminalidade organizada<br />

na adulteração de combustíveis 20<br />

MP em foco | Futuro <strong>do</strong> MP X MP <strong>do</strong> Futuro<br />

Direto <strong>do</strong>s EUA | Professor norte-americano<br />

fala sobre Direito Brasileiro<br />

APMP Destinos| Chile: extremos e<br />

contrastes<br />

Cultura e Lazer |<br />

Dom Quixote<br />

Um clássico nasci<strong>do</strong> na prisão<br />

Gastronomia |<br />

Espanha<br />

Entre tapas e olés<br />

30<br />

38<br />

44<br />

48<br />

52


Palavra <strong>do</strong> Presidente<br />

O preço da omissão<br />

Em nossa última conversa, alertávamos para os<br />

riscos da omissão. Lembrávamos que a APMP nunca se<br />

afugentou das lutas institucionais e <strong>do</strong>s debates francos.<br />

Pois bem. Menos de um mês depois e uma de nossas<br />

ações foi duramente cobrada por alguns associa<strong>do</strong>s,<br />

em especial pela Procura<strong>do</strong>ria-Geral de Justiça: a<br />

divulgação de Nota à Imprensa, onde afirmávamos que<br />

“eventuais deslizes de seu Chefe não podem se prestar à<br />

generalização sobre o perfil <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> de São<br />

Paulo. Fatos como esse maculam a imagem de toda uma<br />

Instituição que vem defenden<strong>do</strong> com deno<strong>do</strong> e determinação<br />

o Esta<strong>do</strong> Democrático de Direito e a sociedade”.<br />

Numa interpretação equivocada, alguns entenderam<br />

que a atitude da APMP teria si<strong>do</strong> político-eleitoral.<br />

Nada mais erra<strong>do</strong>.<br />

Na segunda-feira (13/02), data imediatamente<br />

posterior à publicação da Revista Veja, nossa assessoria<br />

de imprensa foi instada a se pronunciar sobre o teor da<br />

reportagem. Nossa postura foi a de encaminhar os jornalistas<br />

à PGJ, que detinha as informações sobre o caso.<br />

Na terça-feira (14/02), voltaram as solicitações para<br />

que a APMP se pronunciasse.<br />

Aqui um pequeno parêntese.<br />

Não custa lembrar que,<br />

quase um mês antes, a imagem<br />

<strong>do</strong> MP fora abalada com a<br />

insinuação de que a denúncia<br />

contra o Secretário de Segurança<br />

Pública teria como pano de<br />

fun<strong>do</strong> motivação político-eleitoral<br />

e sequer uma linha, seja ao<br />

jornal, seja aos membros <strong>do</strong> MP,<br />

fora escrita pela PGJ em defesa<br />

de nossa Instituição.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, havia funda<strong>do</strong><br />

temor de que a imagem <strong>do</strong> MP<br />

poderia, uma vez mais indefesa,<br />

ser conspurcada e, por isso, resolvemos<br />

agir.<br />

Divulgamos uma nota simples,<br />

sem nos aprofundarmos no<br />

assunto por duas razões: para não<br />

alimentar ainda mais o ânimo da<br />

imprensa e pela falta de conhecimento<br />

pleno <strong>do</strong>s fatos que cercavam<br />

o caso, adstrito à PGJ e à Correge<strong>do</strong>ria-Geral.<br />

O receio, infelizmente, revelou-se verdadeiro.<br />

Além da Folha de S. Paulo e da Revista Veja, vimos matérias<br />

no Diário de São Paulo e no portal Globo On Line afirmarem<br />

que houve motivação político-eleitoral em atos de<br />

nossa Cúpula e que ora tomamos a liberdade de reproduzir.<br />

Estranhamente, a PGJ, ao invés de se insurgir contra os<br />

veículos e desmentir as insinuações desabona<strong>do</strong>ras sobre<br />

a conduta <strong>do</strong> Chefe da nossa Instituição, resolveu concentrar<br />

sua “artilharia” contra a APMP, como se fôssemos nós<br />

os responsáveis pelos danos à imagem da Instituição.<br />

Faltou, em verdade, que o Procura<strong>do</strong>r-Geral, agora<br />

licencia<strong>do</strong> para concorrer à reeleição, esclarecesse<br />

a opinião pública e, especialmente, os promotores e<br />

procura<strong>do</strong>res de justiça se realmente houve motivação<br />

política na denúncia oferecida contra o Secretário de<br />

Segurança Pública.<br />

Mais ainda. Se houve ou não desídia na apuração<br />

de eventuais faltas por parte de membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong>.<br />

Repita-se o óbvio: não foi a APMP quem lançou dúvidas<br />

na condução <strong>do</strong>s casos, mas, sim, a imprensa. Nada<br />

mais lógico de que a resposta<br />

da PGJ fosse direcionada<br />

à imprensa, não é?


Parece evidente, mas não foi o que ocorreu. E é por isso que<br />

recebemos com tristeza o “Comunica<strong>do</strong> aos Colegas” da PGJ.<br />

Aparentemente na ânsia de se eximir de culpas, o nosso licencia<strong>do</strong><br />

Procura<strong>do</strong>r-Geral lança pesadas acusações contra a APMP.<br />

Infelizmente, essa parece ser uma “tática” recorrente. Ora se<br />

culpa o Órgão Especial, ora a APMP e, noutras vezes, a falta de<br />

verbas para justificar até mesmo o vilipêndio de prerrogativas. Foi<br />

assim no caso da Procura<strong>do</strong>ria de Interesses Difusos, no retardamento<br />

da abertura <strong>do</strong> Concurso em andamento e na odiosa<br />

discriminação em face <strong>do</strong>s aposenta<strong>do</strong>s. Sempre há um culpa<strong>do</strong>,<br />

que não a PGJ, pelos segui<strong>do</strong>s insucessos.<br />

Se a busca desse “bode expiatório” traz<br />

dividen<strong>do</strong>s políticos, quais vantagens foram<br />

realmente auferidas para a nossa Instituição?<br />

O comunica<strong>do</strong> <strong>do</strong> PGJ licencia<strong>do</strong> contém uma<br />

verdade: há grupos com visões antagônicas dentro<br />

<strong>do</strong> MPSP. Entendemos que isso, antes de ser ruim,<br />

é extremamente saudável, pois, ao menos para<br />

nós, revela democracia.<br />

Democracia que deve ser uma prática<br />

constante, não figura de retórica às vésperas<br />

de eleição. Isso ficou evidente, por exemplo, na<br />

ambigüidade de tratamento no projeto para a<br />

Ouvi<strong>do</strong>ria e no que amplia os elegíveis ao cargo de PGJ. O primeiro,<br />

elabora<strong>do</strong> no meio <strong>do</strong> mandato, prevê eleição por voto “censitário”. O<br />

outro, às vésperas <strong>do</strong> pleito, apregoa maior participação da Classe.<br />

Entendemos, também, que não deve existir discriminação em<br />

nossas fileiras, seja entre promotores e procura<strong>do</strong>res, da ativa ou<br />

não. A expressão parece forte? Pergunte, então, a um promotor<br />

ou procura<strong>do</strong>r de justiça aposenta<strong>do</strong> qual o sentimento que, hoje,<br />

guarda da Instituição à qual dedicou a maior parte da sua vida?<br />

Não é de hoje que a APMP age com franqueza e lealdade de<br />

propósitos. E não fazemos isso agora por ser véspera de eleições<br />

– de que sequer participamos -, mas em respeito às nossas<br />

biografias.<br />

Bem por isso, o nosso trabalho continua firme na defesa de<br />

um MP verdadeiramente em sintonia com a sociedade, forte e<br />

uni<strong>do</strong>. A APMP lutará sempre por seus associa<strong>do</strong>s e, sobretu<strong>do</strong>,<br />

por nossa Instituição.<br />

Tanto assim que, no dia 17 de fevereiro p.passa<strong>do</strong>, divulgamos<br />

nota à Imprensa para defender as prerrogativas de o<br />

MP exercer controle externo da atividade policial, medida de<br />

interesse de toda a sociedade e que foi objeto de limitação por<br />

força de liminar.<br />

Nesta edição, trazemos uma entrevista especial e exclusiva com<br />

o Governa<strong>do</strong>r <strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong>, artigo de nossos associa<strong>do</strong>s Luiz<br />

Alberto Segalla Bevilacqua e Nelson César Santos Peixoto, sobre<br />

o combate às organizações criminosas responsáveis pela adulteração<br />

de combustíveis e muito mais.<br />

Boa leitura a to<strong>do</strong>s.<br />

João Antonio Garreta Prats<br />

Presidente<br />

Revista APMP EM REFLEXÃO<br />

Veículo mensal de comunicação<br />

da <strong>Associação</strong> <strong>Paulista</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />

Ano II, Número 14 (2006).<br />

Tiragem: 4.000 exemplares.<br />

Conselho Editorial<br />

João Antonio Garreta Prats<br />

Cláudia Jeck Garcia de Souza<br />

Paulo Roberto Dias Júnior<br />

Sérgio de Araújo Pra<strong>do</strong> Júnior<br />

Coordenação Geral<br />

Luciano Ayres<br />

Jornalista Responsável<br />

Adriana Brunelli – MTB 33.183<br />

Redação<br />

Ayres.PP – Comunicação<br />

e MKT Estratégico<br />

(19) 3242-1180<br />

Assessoria de Imprensa<br />

ReDe Comunicação<br />

(11) 3061-3353<br />

Fotos<br />

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(19) 3241-7498<br />

Leandro Irmão


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C<br />

Contraponto<br />

Como os forma<strong>do</strong>res de opinião enxergam o MP<br />

<strong>Geral<strong>do</strong></strong><br />

<strong>Alckmin</strong><br />

O entrevista<strong>do</strong> desta edição saiu da pacata Pindamonhangaba<br />

para ocupar, por mais de 10 anos, o<br />

Palácio <strong>do</strong>s Bandeirantes. De fiel escudeiro <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong><br />

Mário Covas a “comandante” <strong>do</strong> mais poderoso<br />

Esta<strong>do</strong> da Federação.<br />

De prefeito de Pindamonhangaba a aspirante a<br />

Presidente da República.<br />

Como deputa<strong>do</strong> federal, deixou sua marca: o Código<br />

de Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />

Discreto e avesso a arroubos, na passagem pelo<br />

governo de São Paulo aceitou críticas com invejável<br />

paciência e perseguiu metas com obstinação.<br />

Seu governo foi bom? Para mais de 75% <strong>do</strong>s paulistas,<br />

ele “passou de ano” com média bem superior<br />

a <strong>do</strong>s outros governa<strong>do</strong>res avalia<strong>do</strong>s na mesma pesquisa<br />

de opinião.<br />

8 www.apmp.com.br<br />

Enfrentou problemas como as rebeliões na FE-<br />

BEM e organizações criminosas, em especial o PCC,<br />

com energia e determinação.<br />

É com muito prazer que a APMP em Reflexão<br />

traz entrevista exclusiva com o governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

de São Paulo, <strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong>.


www.apmp.com.br<br />

9


Contraponto<br />

10 www.apmp.com.br


APMP em Reflexão: Depois de dirigir o maior Esta<strong>do</strong><br />

da Federação e postulan<strong>do</strong> a Presidência da República,<br />

não sente saudades <strong>do</strong>s tranqüilos dias como<br />

prefeito de Pindamonhangaba?<br />

<strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong>: Não diria saudade, mas sempre recor<strong>do</strong><br />

desses momentos com grande satisfação. Você não perde<br />

os trabalhos realiza<strong>do</strong>s no passa<strong>do</strong>, por mais que os anos<br />

passem, porque eles se transformam em experiência. E<br />

como eu utilizo essa experiência to<strong>do</strong>s os dias, independente<br />

da função que esteja exercen<strong>do</strong>, acabo recordan<strong>do</strong><br />

momentos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, mesmo que rapidamente. E, claro,<br />

há muita diferença entre governar uma cidade de médio<br />

porte e um Esta<strong>do</strong> com 40 milhões de habitantes, mas a<br />

dedicação tem de ser integral, qualquer que seja o cargo<br />

que você ocupe. Sempre defendi que os governantes<br />

estejam próximos da população, ouvin<strong>do</strong>, discutin<strong>do</strong> os<br />

problemas, justamente para errar menos.<br />

APMP: Qual o segre<strong>do</strong> de ter um <strong>do</strong>s melhores índices<br />

de aprovação em um Esta<strong>do</strong> tão poderoso e, ao<br />

mesmo tempo, ainda repleto de desigualdades?<br />

GA: Definir prioridades. Estabelecer um plano de ação<br />

ouvin<strong>do</strong> todas as lideranças políticas, entidades de<br />

classe e sociedade civil de forma transparente. Estabelecer<br />

previamente as alianças partidárias de forma<br />

Quem é <strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong><br />

Natural de Pindamonhagaba, cidade <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong><br />

Paraíba, <strong>Geral<strong>do</strong></strong> José Rodrigues <strong>Alckmin</strong> Filho nasceu<br />

no dia 7 de novembro de 1952. Casa<strong>do</strong> com Maria Lucia<br />

<strong>Alckmin</strong>, tem três filhos: Sophia, <strong>Geral<strong>do</strong></strong> e Thomaz.<br />

Sua trajetória política começou ce<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> ainda<br />

cursava a Faculdade de Medicina de Taubaté – SP, onde<br />

se formou médico com pós-graduação em Anestesiologia.<br />

Aos 19 anos disputou o cargo de verea<strong>do</strong>r em sua cidade,<br />

sen<strong>do</strong> o mais bem vota<strong>do</strong> até hoje, com mais de 10% <strong>do</strong>s<br />

votos váli<strong>do</strong>s.<br />

Em 1976 elegeu-se prefeito de Pindamonhangaba,<br />

terminan<strong>do</strong> sua administração com 200 vias asfaltadas, o<br />

que foi motivo de orgulho em sua gestão.<br />

Candidatou-se à prefeitura de São Paulo em 2000,<br />

fican<strong>do</strong> em terceiro lugar no primeiro turno das eleições.<br />

Na década de 80 elegeu-se deputa<strong>do</strong> estadual e<br />

federal, manten<strong>do</strong>-se nesta posição até 1994, quan<strong>do</strong><br />

disputou o cargo de vice-governa<strong>do</strong>r de São Paulo na<br />

chapa encabeçada por Mário Covas. Veio a substituílo<br />

em 2001, após sua morte, cumprin<strong>do</strong> o restante <strong>do</strong><br />

mandato.<br />

<strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong> foi eleito governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de<br />

São Paulo no dia 27 de outubro de 2002.<br />

O meu sau<strong>do</strong>so pai, após ouvir um<br />

discurso que fiz num comício em<br />

Pindamonhangaba, me fez uma<br />

observação que guardarei para<br />

sempre: “os erros e os eventuais<br />

defeitos <strong>do</strong>s seus adversários<br />

não melhoram em nada as suas<br />

qualidades”.<br />

clara, porque ninguém governa sozinho, e, se essa<br />

proposta for vitoriosa, escolher as pessoas certas para<br />

executar o projeto elabora<strong>do</strong> previamente com o conhecimento<br />

da sociedade. Portanto, não há soluções<br />

ou receitas que se possa sacar de dentro de uma cartola.<br />

É arregaçar as mangas, comer poeira, amassar barro,<br />

falar pouco e ouvir a população sempre para reduzir ao<br />

máximo a possibilidade de erros.<br />

APMP: Qual o principal lega<strong>do</strong> deixa<strong>do</strong> por<br />

Mário Covas?<br />

GA: O comandante Mário Covas, de quem tive a<br />

honra de ser co-piloto no governo de São Paulo,<br />

deu uma enorme contribuição à democracia e<br />

à política brasileiras. Defendeu a liberdade de<br />

expressão, exerceu to<strong>do</strong>s os cargos públicos<br />

com ética e transparência e, antes mesmo de<br />

se discutir a responsabilidade fiscal, a<strong>do</strong>tou medidas<br />

duras para recuperar as finanças. Iniciou<br />

o processo de compras eletrônicas, aumentan<strong>do</strong><br />

a eficiência <strong>do</strong> gasto público e a transparência<br />

desses processos, melhorou a qualidade <strong>do</strong>s serviços<br />

públicos. Resulta<strong>do</strong>: o Esta<strong>do</strong> voltou a investir.<br />

Então, Covas elevou o nível da política e<br />

da administração pública brasileiras.<br />

APMP: A aprovação popular à sua forma de<br />

governar parece coroar uma linhagem de políticos<br />

que deixaram o populismo de la<strong>do</strong> e<br />

se sustentam com resulta<strong>do</strong>s. Isso é sinal de<br />

amadurecimento <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong>?<br />

GA: Creio que sim. A população amadureceu<br />

muito e, tenho certeza, está muito mais exigente<br />

e alerta. Ela entendeu bem os valores que o<br />

Esta<strong>do</strong> de São Paulo ganhou com a política com<br />

“P” maiúsculo, implantada pelo governa<strong>do</strong>r Mário<br />

www.apmp.com.br<br />

11


Contraponto<br />

Covas e agora sente que esta política dá resulta<strong>do</strong>s muito<br />

melhores <strong>do</strong> que os alcança<strong>do</strong>s pelo populismo. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, os escândalos na esfera federal aumentaram o grau<br />

de exigência <strong>do</strong>s eleitores, sobretu<strong>do</strong> nas questões éticas.<br />

APMP: Depois da última crise política, acha que<br />

candidaturas populistas ou messiânicas ainda terão<br />

espaço nas próximas eleições?<br />

GA: Acho que o espaço para candidatos aventureiros<br />

ou com promessas mirabolantes, que são inexeqüíveis<br />

na prática, vai diminuir muito. E o PT, no governo federal,<br />

de certa forma aju<strong>do</strong>u a desfazer crenças em soluções<br />

mágicas.<br />

APMP: Há uma clara disputa dentro <strong>do</strong> seu parti<strong>do</strong><br />

para a indicação à eleição para a Presidência (NR: até<br />

o fechamento desta edição não havia definição <strong>do</strong> nome<br />

<strong>do</strong> candidato a presidente pelo PSDB). Quais os próximos<br />

passos até a escolha definitiva pelo PSDB?<br />

GA: O PSDB tem vários nomes com experiência comprovada,<br />

como o ex-presidente Fernan<strong>do</strong> Henrique, o<br />

presidente <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>, sena<strong>do</strong>r Tasso Jereissati, o governa<strong>do</strong>r<br />

Aécio Neves e o prefeito José Serra. E o fato<br />

de ter vários nomes não é ruim. Ao contrário, demonstra<br />

que o parti<strong>do</strong> tem grandes quadros para apresentar<br />

à sociedade e essa decisão vai ser tomada no momento<br />

certo, fruto de uma ampla discussão interna e uma<br />

grande consulta às bases <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> em consideração<br />

a expectativa <strong>do</strong>s eleitores.<br />

APMP: Houve certa surpresa pela maneira firme e<br />

direta pela qual sua pré-candidatura foi anunciada...<br />

GA: Eu me declarei pré-candidato porque<br />

estou prepara<strong>do</strong> para exercer<br />

12 www.apmp.com.br<br />

o cargo. Trabalho para ser o indica<strong>do</strong> pelo parti<strong>do</strong> como<br />

o candidato <strong>do</strong> entendimento. Acredito que o PSDB tem<br />

todas as condições de fazer uma grande aliança partidária<br />

em torno de uma proposta de consenso para o desenvolvimento<br />

nacional e acho que o Brasil está pronto para um<br />

grande salto de qualidade. Vamos ter de trabalhar muito,<br />

mas basicamente é remover os gargalos que impedem o<br />

crescimento, melhorar a qualidade <strong>do</strong> gasto público, retomar<br />

o investimento em infra-estrutura, dar prioridade total<br />

à educação e acelerar as reformas estruturais. O Brasil é um<br />

país vocaciona<strong>do</strong> para o desenvolvimento. Basta remover<br />

os gargalos e trabalhar duro que o resulta<strong>do</strong> não vai demorar<br />

para aparecer.<br />

APMP: O vice-governa<strong>do</strong>r<br />

Cláudio Lembo, o<br />

maior expoente <strong>do</strong><br />

PFL em São Paulo,<br />

declarou em nosso<br />

programa de<br />

TV total apoio à<br />

sua candidatura.<br />

Como está a relação<br />

PSDB e PFL no<br />

âmbito estadual?<br />

GA: O professor<br />

Cláudio Lembo é um<br />

excelente vice-governa<strong>do</strong>r,<br />

contribui muito<br />

para o Esta<strong>do</strong> e, com<br />

sua grande experiência


como homem público e sua capacidade intelectual, está<br />

pronto para assumir o governo paulista. A relação com<br />

o PFL é muito boa e, se o parti<strong>do</strong> não tiver candidato<br />

próprio à Presidência da República, queremos que seja<br />

nosso parceiro novamente. Nos últimos anos, o PSDB e<br />

o PFL fizeram alianças vitoriosas para o governo federal,<br />

o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e para a prefeitura de São Paulo.<br />

Trata-se de uma parceria vence<strong>do</strong>ra e, no que depender<br />

<strong>do</strong> PSDB, vai ser reeditada novamente neste ano.<br />

APMP: Lula se elegeu com o discurso de ética e distribuição<br />

de renda. Três anos depois, o setor que<br />

mais obteve lucros foi o <strong>do</strong>s bancos, a classe política<br />

foi completamente desmoralizada com o “mensalão”<br />

e as únicas colunas de sustentação <strong>do</strong> governo<br />

federal parecem ser a política meramente assistencialista<br />

e uma orto<strong>do</strong>xia econômica como nunca se<br />

viu. Como mudar esse cenário?<br />

GA: Lamentavelmente, o PT e o governo Lula decepcionaram<br />

os eleitores que confiaram na proposta<br />

apresentada nas últimas eleições. Mas eu, se for candidato,<br />

não farei campanha contra o PT e o presidente<br />

Lula. Farei campanha apresentan<strong>do</strong> uma proposta de<br />

desenvolvimento nacional, que elaboraremos ouvin<strong>do</strong><br />

as lideranças políticas, entidades de classe e representantes<br />

da sociedade civil das diversas regiões <strong>do</strong><br />

Brasil para que tenhamos um consenso mínimo. O<br />

meu sau<strong>do</strong>so pai, após ouvir um discurso que fiz num<br />

comício em Pindamonhangaba, me fez uma observação<br />

que guardarei para sempre: “os erros e os eventuais<br />

defeitos <strong>do</strong>s seus adversários não melhoram em<br />

nada as suas qualidades”.<br />

O Mapa da Violência, um<br />

trabalho realiza<strong>do</strong> pela Unesco,<br />

mostrou que, entre 1999 e<br />

2003, a taxa de homicídios caiu<br />

24,2%, enquanto nas demais<br />

capitais brasileiras subiu, em<br />

média, 1,32%. Um caso bem<br />

representativo foi retrata<strong>do</strong><br />

pela fundação Seade: o Jardim<br />

Ângela, que em 1996 foi<br />

considera<strong>do</strong> o local mais violento<br />

<strong>do</strong> planeta segun<strong>do</strong> a ONU,<br />

registrou, em 2004, redução de<br />

44,3% no número de mortes<br />

violentas em relação a 2001,<br />

e, no ano passa<strong>do</strong>, ficamos 71<br />

dias sem um único registro de<br />

ocorrências fatais com violência.<br />

APMP: Como chefe <strong>do</strong> Poder Executivo paulista,<br />

acha possível não saber de graves problemas de<br />

corrupção dentro <strong>do</strong> primeiro escalão <strong>do</strong> governo,<br />

como afirma o presidente Lula?<br />

GA: Infelizmente, nenhum governo está livre de problemas<br />

de corrupção. Agora, o que a imprensa e as CPIs<br />

revelaram mostra que a corrupção se instalou em vá-<br />

www.apmp.com.br<br />

13


Contraponto<br />

rios setores e empresas controladas pelo governo federal.<br />

Saber de tu<strong>do</strong>, é demais. Agora, não saber de nada,<br />

nem a falecida velhinha de Taubaté acreditaria.<br />

APMP: O senhor assumiu o cargo em meio a graves<br />

problemas na questão da segurança pública, com<br />

índices eleva<strong>do</strong>s de homicídios e seqüestros. Como<br />

está a situação hoje?<br />

GA: Governar é definir prioridades e a prioridade só<br />

deixa de ser retórica com investimentos. E foi isso que<br />

É preciso que as críticas sejam<br />

acompanhadas de propostas<br />

concretas e sinceras, uma vez<br />

que a solução <strong>do</strong> problema da<br />

delinqüência juvenil passa pelo<br />

esforço de to<strong>do</strong>s.<br />

fizemos em São Paulo. De 2002 a 2005, o Orçamento<br />

da Secretaria de Segurança Pública passou de R$ 5,2<br />

bilhões para R$ 6,5 bilhões e, para este ano, a nossa<br />

proposta é elevar para R$ 7 bilhões. O resulta<strong>do</strong> foi<br />

uma queda generalizada em to<strong>do</strong>s os índices de criminalidade.<br />

O Mapa da Violência, um trabalho realiza<strong>do</strong><br />

pela Unesco, mostrou que, entre 1999 e 2003, a taxa<br />

de homicídios caiu 24,2%, enquanto nas demais capitais<br />

brasileiras subiu, em média, 1,32%.<br />

APMP: Poderia nos dar um exemplo concreto?<br />

GA: Um caso bem representativo foi retrata<strong>do</strong> pela<br />

Fundação Seade: o Jardim Ângela, que em 1996 foi<br />

considera<strong>do</strong> o local mais violento <strong>do</strong> planeta segun<strong>do</strong><br />

a ONU, registrou, em 2004, redução de 44,3% no<br />

número de mortes violentas em relação a 2001 e, no<br />

ano passa<strong>do</strong>, ficamos 71 dias sem um único registro de<br />

ocorrências fatais com violência.<br />

APMP: E a que atribui a melhoria nos índices relaciona<strong>do</strong>s<br />

à criminalidade?<br />

GA: Aplicação de recursos em treinamentos, equipamentos,<br />

aumento <strong>do</strong> efetivo, modernização <strong>do</strong> sistema<br />

de informação e planejamento e mais policiais nas<br />

ruas. É trabalho e determinação.<br />

APMP: A FEBEM já foi apontada como o “calcanhar<br />

de Aquiles” <strong>do</strong> seu governo. Entretanto, o secretário<br />

da Justiça Hédio Silva Junior e a presidente da FE-<br />

BEM, Berenice Giannella, conseguiram reduzir – e<br />

14 www.apmp.com.br<br />

muito – as rebeliões. Como explicar essa mudança?<br />

GA: Temos 75 unidades da FEBEM, mas os problemas<br />

sempre ocorrem nos complexos, como Tatuapé e Vila<br />

Maria, por exemplo. Para se ter uma idéia, <strong>do</strong>s 1.350<br />

a<strong>do</strong>lescentes interna<strong>do</strong>s no complexo <strong>do</strong> Tatuapé, 60%<br />

são <strong>do</strong> Interior e não deveriam estar cumprin<strong>do</strong> a medida<br />

sócio-educativa na Capital. Esse problema será soluciona<strong>do</strong><br />

agora com a inauguração das unidades que<br />

estão sen<strong>do</strong> construídas no interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong><br />

o a<strong>do</strong>lescente para a cidade ou região onde mora. Agora<br />

em março, esperamos inaugurar sete novas unidades<br />

para 40 a<strong>do</strong>lescentes cada uma. A medida vai possibilitar<br />

que uma parte <strong>do</strong> Complexo <strong>do</strong> Tatuapé seja desativada<br />

para dar lugar ao Parque <strong>do</strong> Belém.<br />

APMP: Além da mudança <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s estabelecimentos<br />

que abrigam a<strong>do</strong>lescentes infratores, que<br />

outras medidas foram tomadas?<br />

GA: Nestes últimos meses a FEBEM trabalhou para<br />

melhorar a disciplina e a segurança nas unidades,<br />

conscientizan<strong>do</strong> os jovens de que sua disciplina é<br />

a porta para a “desinternação”. Ou seja, cumprin<strong>do</strong><br />

a medida sócio-educativa com disciplina e com o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> projeto pedagógico - somente<br />

possível em um ambiente de normalidade -, o a<strong>do</strong>lescente<br />

terá a certeza de conseguir a “desinternação”<br />

mais rápi<strong>do</strong>. A conscientização <strong>do</strong>s jovens,<br />

portanto, foi essencial para que as rebeliões, fugas e<br />

tumultos diminuíssem. E tanto o processo foi váli<strong>do</strong><br />

que, em julho, havia 7.100 a<strong>do</strong>lescentes interna<strong>do</strong>s<br />

na FEBEM e, hoje, temos 5.980.<br />

APMP: Quais os próximos passos para diminuir a<br />

criminalidade infanto-juvenil?<br />

GA: Essa é uma questão complexa. A violência tem<br />

raízes nas famílias desestruturadas, na sociedade preconceituosa<br />

e em falhas nos serviços presta<strong>do</strong>s pelos<br />

poderes municipais, estaduais e federal. O Governo <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> de São Paulo possui vários programas sociais<br />

que ajudam a diminuir a criminalidade infanto-juvenil,<br />

mas busca parcerias para que outros programas possam<br />

atender a um número maior de crianças.<br />

APMP: Poderia exemplificar?<br />

GA: Os jovens em liberdade assistida estão inseri<strong>do</strong>s no<br />

programa “Ação Jovem” e as famílias <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes interna<strong>do</strong>s<br />

na FEBEM são cadastradas no programa “Renda<br />

Cidadã”, ambos <strong>do</strong> Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Além disso, parecenos<br />

necessário efetivo combate ao tráfico de entorpecentes,<br />

especialmente nas fronteiras brasileiras, pois a maioria<br />

<strong>do</strong>s jovens interna<strong>do</strong>s têm ou tiveram algum tipo de envolvimento<br />

com drogas, como usuários ou traficantes.


APMP: E quanto à ressocialização?<br />

GA: Para a ressocialização <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes infratores, a<br />

FEBEM oferece dezenas de programas culturais, esportivos<br />

e profissionalizantes. Aos a<strong>do</strong>lescentes são disponibilizadas<br />

69 diferentes oficinas profissionalizantes, que os<br />

capacita a trabalhar como técnicos em informática, elétrica<br />

residencial, mecânica de autos, garçom e panificação,<br />

entre outros. Para completar a educação e ressocialização,<br />

em todas as unidades da FEBEM os a<strong>do</strong>lescentes<br />

participam de 20 modalidades esportivas, como futebol,<br />

futsal, atletismo, vôlei, basquete, handebol e natação.<br />

APMP: E como a sociedade, as ONGs e o <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> podem efetivamente auxiliar na mudança<br />

desse quadro?<br />

GA: Primeiramente, é fundamental uma postura de<br />

crítica construtiva. É preciso que as pessoas conheçam<br />

melhor a FEBEM, a realidade <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente infrator<br />

e as dificuldades de se tratar de jovens em entidades<br />

fechadas para, depois, tecer suas críticas. Mas isso não<br />

basta. É preciso que as críticas sejam acompanhadas<br />

A aplicação <strong>do</strong>s recursos deve<br />

estar aliada à boa gestão.<br />

Os profissionais envolvi<strong>do</strong>s<br />

devem primar pelo tratamento<br />

qualitativo <strong>do</strong> orçamento.<br />

Com essa filosofia ganham<br />

os servi<strong>do</strong>res e cidadãos que<br />

dependem <strong>do</strong> Poder Judiciário e<br />

<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />

de propostas concretas e sinceras, uma vez que a solução<br />

<strong>do</strong> problema da delinqüência juvenil passa pelo<br />

esforço de to<strong>do</strong>s.<br />

APMP: Se fosse Presidente da República, a Reforma<br />

<strong>do</strong> Judiciário feita pelo governo Lula seria mantida<br />

tal como está ou mudaria algo?<br />

GA: Temos que aprofundá-la por meio da reforma <strong>do</strong>s<br />

Códigos de Processo Penal e Civil e de outras medidas<br />

que sirvam à modernização e agilidade <strong>do</strong> Judiciário.<br />

www.apmp.com.br<br />

15


Contraponto<br />

Tanto a censura à imprensa,<br />

quanto as limitações impostas<br />

ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> são<br />

inadmissíveis e devem ser<br />

repelidas.<br />

APMP: Aliás, na sua opinião qual o motivo para a lentidão<br />

<strong>do</strong> Poder Judiciário e a dificuldade de acesso à<br />

Justiça?<br />

GA: A lentidão <strong>do</strong> Poder Judiciário decorre <strong>do</strong> aumento<br />

exponencial de processos desde a promulgação da<br />

Constituição de 1988 e da necessidade de modernização<br />

e informatização da Justiça. A dificuldade de acesso<br />

à Justiça pelas pessoas mais carentes tem diminuí<strong>do</strong><br />

desde a criação <strong>do</strong> Juiza<strong>do</strong> Especial Cível. Além disso,<br />

o governo de São Paulo, que já prestava assistência<br />

judiciária gratuita, criou recentemente a Defensoria<br />

Pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Com isso, vamos aperfeiçoar e desenvolver<br />

a assistência judiciária, serviço público que o<br />

Esta<strong>do</strong> garante desde 1947.<br />

APMP: O maior problema <strong>do</strong> Judiciário e <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> não seria menos a falta de recursos<br />

e mais a implementação de um modelo de gestão<br />

profissional para melhor administrá-los?<br />

GA: A aplicação <strong>do</strong>s recursos deve estar aliada à boa<br />

gestão. Os profissionais envolvi<strong>do</strong>s devem primar pelo<br />

tratamento qualitativo <strong>do</strong> orçamento. Com essa filosofia<br />

ganham os servi<strong>do</strong>res e cidadãos que dependem <strong>do</strong><br />

Poder Judiciário e <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />

16 www.apmp.com.br<br />

APMP: Em sua opinião, houve a necessária sinergia<br />

entre o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e o MP, especialmente<br />

em áreas como a Segurança Pública e a Infância e<br />

Juventude?<br />

GA: Sim, respeitan<strong>do</strong> a independência e autonomia,<br />

esta parceria é muito positiva. O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> faz<br />

jus às prerrogativas e poderes que a Constituição Federal<br />

lhe garante.<br />

APMP: Há uma constante queixa <strong>do</strong>s políticos<br />

quanto a eventuais excessos na atuação de alguns<br />

membros <strong>do</strong> MP? Esses excessos são significativos<br />

se considera<strong>do</strong> o trabalho geral da Instituição?<br />

GA: Os casos são isola<strong>do</strong>s e recebem o tratamento ade-


qua<strong>do</strong> da Correge<strong>do</strong>ria-Geral <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />

APMP: Por quem esses excessos devem ser corrigi<strong>do</strong>s?<br />

GA: Pela própria Instituição e pelo Poder Judiciário.<br />

APMP: Nesse contexto, como enxerga as tentativas<br />

de limitar a atuação da imprensa e <strong>do</strong> MP pelo governo<br />

Lula?<br />

GA: Tanto a censura à imprensa quanto as limitações<br />

impostas ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> são inadmissíveis e devem<br />

ser repelidas.<br />

APMP: Fazen<strong>do</strong> uma retrospectiva, qual a realização<br />

<strong>do</strong> seu governo de que mais se orgulha?<br />

GA: Tenho um carinho especial pelas obras no rio<br />

Tietê, inclusive a urbanização de suas margens que<br />

ganharão um jardim de 50 quilômetros de extensão.<br />

Gostaria de citar os programas que desenvolvemos na<br />

área da Educação para melhorar a qualidade de ensino<br />

e aproximar mais as escolas <strong>do</strong>s pais de alunos e<br />

da sociedade. Cito, também, o “Escola da Família”<br />

e a USP Leste, obra que representa inclusão social<br />

numa região ainda carente e muito populosa da<br />

capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Incluo, ainda, a ampliação <strong>do</strong><br />

transporte público sobre trilhos – Metrô e CPTM<br />

–, a reestruturação e a ampliação <strong>do</strong> sistema de<br />

saúde pública, a revitalização da infra-estrutura<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. E isso sem descuidar da nossa rede de<br />

proteção social, com um detalhe muito importante:<br />

a ampliação <strong>do</strong>s programas especiais de educação<br />

e profissionalização, para que as pessoas<br />

mais carentes deixem de depender <strong>do</strong>s programas<br />

assistenciais que são necessários, mas, sozinhos,<br />

não representam uma solução.<br />

APMP: E uma frustração...<br />

GA: To<strong>do</strong> governante gostaria de fazer mais <strong>do</strong> que<br />

fez, mas, como em nossas casas, o orçamento é<br />

limita<strong>do</strong> e não dá para fazer<br />

tu<strong>do</strong>. O impor-<br />

tante é conseguir avançar em todas as áreas e deixar a<br />

casa em ordem para quem for eleito e para as futuras<br />

gerações.<br />

APMP: Falan<strong>do</strong> no Brasil, quais setores estão com saúde<br />

perfeita e quais estão na UTI?<br />

GA: O Brasil está num patamar muito bom, pronto para<br />

dar um grande salto de qualidade em to<strong>do</strong>s os setores.<br />

As prioridades agora, são: cortar gastos supérfluos, melhorar<br />

a qualidade <strong>do</strong> gasto público e fazer as reformas<br />

estruturais, tributária e política, por exemplo.<br />

APMP: Para encerrar, o que o médico <strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong><br />

recomenda ao governa<strong>do</strong>r <strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong><br />

para reduzir o estresse decorrente de suas atividades<br />

diárias?<br />

GA: Sou admira<strong>do</strong>r da milenar medicina chinesa. Procuro<br />

manter a saúde com acupuntura e chás de ervas<br />

medicinais. Quan<strong>do</strong> posso, dedico algum tempo às técnicas<br />

de meditação.<br />

Código de Defesa <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r<br />

Fato desconheci<strong>do</strong> de grande parte da população,<br />

a autoria <strong>do</strong> Código de Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r<br />

(Lei nº. 8.078, de 11/9/90) é atribuída ao atual governa<strong>do</strong>r<br />

de São Paulo, <strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong>, na época<br />

deputa<strong>do</strong> federal.<br />

Considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s maiores avanços em defesa<br />

da cidadania, o CDC protege o consumi<strong>do</strong>r contra<br />

os abusos de empresas fornece<strong>do</strong>ras de bens, serviços<br />

e produtos, representan<strong>do</strong> uma grande conquista<br />

da sociedade em favor de seus direitos.<br />

Com a consolidação <strong>do</strong>s projetos legislativos de<br />

<strong>Geral<strong>do</strong></strong> <strong>Alckmin</strong> e Michel Temer, surgiu na Comissão<br />

Mista a proposta que se transformou no Código<br />

de Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r.<br />

Trata-se de uma vitória, não por ser iniciativa <strong>do</strong><br />

governo federal, mas sim de um efetivo movimento<br />

social que se consoli<strong>do</strong>u a partir da criação <strong>do</strong>s<br />

Procons. Tal movimento levou o Congresso a inserir<br />

na Constituição de 1988 a defesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r,<br />

culminan<strong>do</strong> com a edição da Lei nº. 8.078/90, que<br />

criou também o Departamento de Proteção e Defesa<br />

<strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, cuja função é coordenar a política<br />

<strong>do</strong> Sistema Nacional de Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r,<br />

integra<strong>do</strong> pelos órgãos federais, estaduais, municipais,<br />

<strong>do</strong> Distrito Federal e pelas entidades privadas<br />

de defesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

www.apmp.com.br<br />

17


Maxima Venia<br />

Contribuição de nossos associa<strong>do</strong>s<br />

para a Sociedade<br />

A Revista APMP em Reflexão abre espaço para os seus associa<strong>do</strong>s<br />

divulgarem artigos de interesse da comunidade e com isso aproximar<br />

nossa Instituição <strong>do</strong> destinatário final de nossas ações: o cidadão.<br />

As condições para a publicação estão disponíveis na página:<br />

www.apmp.com.br/apmpemreflexao/maximavenia. Colabore e<br />

escreva para: apmpemreflexao@apmp.com.br, com sugestões de<br />

matérias ou artigos.<br />

Os artigos da seção Maxima Venia são assina<strong>do</strong>s, não refletin<strong>do</strong> necessariamente<br />

a opinião <strong>do</strong> Conselho Editorial da Revista APMP em Reflexão<br />

18 www.apmp.com.br


OMP e o efetivo combate da<br />

criminalidade organizada na<br />

adulteração de combustíveis<br />

Introdução<br />

Luiz Alberto Segalla Bevilacqua<br />

e Nelson César Santos Peixoto<br />

Promotores de Justiça de Limeira<br />

A adulteração de combustíveis vem se tornan<strong>do</strong><br />

prática rotineira em nosso país, sobretu<strong>do</strong> no Esta<strong>do</strong><br />

de São Paulo, com pólos já dissemina<strong>do</strong>s por várias regiões<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, como Campinas, Limeira, Piracicaba,<br />

Ribeirão Preto, Araraquara, Sorocaba e Vale <strong>do</strong> Paraíba,<br />

mas não vem sen<strong>do</strong> combatida com a devida eficiência<br />

e rigor aptos a impedir a atuação de organizações criminosas<br />

já bem sedimentadas no setor de transporte,<br />

distribuição e venda de combustíveis.<br />

Em seara criminal, a conduta enquadra-se no art.<br />

1º, inciso I, da Lei Federal n. 8176/91, in verbis:<br />

Art.1º - Constitui crime contra a ordem econômica:<br />

I - adquirir, distribuir e revender deriva<strong>do</strong>s de petróleo,<br />

gás natural e suas frações recuperáveis, álcool<br />

etílico hidrata<strong>do</strong> carburante e demais combustíveis<br />

líqui<strong>do</strong>s carburantes, em desacor<strong>do</strong> com as normas<br />

estabelecidas na forma da lei;<br />

(..).<br />

Pena - detenção de um a cinco anos.<br />

No entanto, a atividade de aquisição, distribuição<br />

e revenda de deriva<strong>do</strong>s de petróleo e demais líqui<strong>do</strong>s<br />

carburantes, em desacor<strong>do</strong> com as determinações legais,<br />

não é exercida com êxito sem a formação de organizações<br />

criminosas para tanto, as quais desenvolvem<br />

condutas que configuram outras infrações penais, tais<br />

como quadrilha, sonegação fiscal, crimes contra o meio<br />

ambiente (art. 56, Lei 9605/98), lavagem de dinheiro,<br />

haven<strong>do</strong> também a conivência de agentes <strong>do</strong> poder<br />

público protagonistas de crimes de corrupção passiva,<br />

prevaricação, concussão e que dão guarida ao trabalho<br />

impune de tais organizações, que vêm amealhan<strong>do</strong><br />

verdadeiras fortunas com o faturamento ilícito gera<strong>do</strong><br />

pela malsinada prática e ocasionan<strong>do</strong> sérios prejuízos<br />

aos cofres públicos e aos consumi<strong>do</strong>res em geral.<br />

www.apmp.com.br<br />

19


Maxima Venia<br />

Portanto, resta evidente que a responsabilização<br />

penal isolada <strong>do</strong>s autores de tais ilícitos, com a aplicação<br />

tão-somente das penas <strong>do</strong> crime previsto no artigo<br />

1º, da Lei Federal n. 8.176/91, que é afiançável e<br />

apena<strong>do</strong> com detenção, suscetível também de suspensão<br />

condicional <strong>do</strong> processo, não impedirá a atuação e<br />

crescimento das organizações criminosas responsáveis<br />

pela adulteração <strong>do</strong> combustível, distribuição e revenda<br />

nos postos de gasolina <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong> Brasil.<br />

É sabi<strong>do</strong>, porém, que a mera fiscalização <strong>do</strong>s órgãos<br />

estatais como Agência Nacional de Petróleo, Receitas<br />

Federal e Estadual e Cetesb, não vem sen<strong>do</strong> suficiente<br />

a impedir a crescente construção de locais apropria<strong>do</strong>s<br />

para a adulteração de combustíveis, sen<strong>do</strong> mandamental<br />

a atuação <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> na fase de investigação,<br />

sobretu<strong>do</strong> coordenan<strong>do</strong> “Forças-Tarefa” aptas<br />

a propiciar as prisões em flagrante <strong>do</strong>s adultera<strong>do</strong>res e<br />

revende<strong>do</strong>res da matéria-prima (solventes) e da gasolina<br />

já adulterada, sem prejuízo das ações civis públicas<br />

em defesa <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, autuações das Fazendas<br />

Federal e Estadual e análise aprofundada da lavagem<br />

<strong>do</strong> dinheiro obti<strong>do</strong> com a empreitada, que propicia lucros<br />

exorbitantes aos responsáveis pela malsinada prática<br />

de adulteração.<br />

A experiência tem demonstra<strong>do</strong> a ineficácia da atuação<br />

isolada de tais órgãos no combate à criminalidade<br />

voltada à adulteração de combustível, que age na<br />

maioria das vezes de forma organizada e vem se instalan<strong>do</strong><br />

no país, causan<strong>do</strong> vários prejuízos não só aos<br />

consumi<strong>do</strong>res, mas também às grandes empresas que<br />

atuam licitamente no setor de combustíveis, gangrenan<strong>do</strong><br />

vários setores <strong>do</strong> Poder <strong>Público</strong> com a corrupção<br />

de seus agentes e incutin<strong>do</strong> na sociedade sentimento<br />

de descrença e fracasso <strong>do</strong>s Poderes constituí<strong>do</strong>s.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, cremos que o tema deva ser trata<strong>do</strong><br />

com prioridade no <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, inclusive com a<br />

criação de grupos especiais de combate à adulteração,<br />

a exemplo <strong>do</strong>s grupos de combate à sonegação fiscal,<br />

tráfico de entorpecentes e <strong>do</strong> controle<br />

externo da atividade policial, legitiman<strong>do</strong><br />

nossa instituição ao<br />

Segun<strong>do</strong><br />

da<strong>do</strong>s<br />

divulga<strong>do</strong>s pela<br />

ONU (...) as operações<br />

de lavagem de dinheiro<br />

no mun<strong>do</strong>, atualmente,<br />

somariam, por dia, cerca de<br />

U$ 5 trilhões.<br />

20 www.apmp.com.br<br />

engajamento no combate<br />

ao crime organiza<strong>do</strong><br />

na adulteração de combustível, buscan<strong>do</strong> estruturarse,<br />

ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s órgãos públicos já cita<strong>do</strong>s e propician<strong>do</strong><br />

rigorosa e imediata resposta, por meio de instrumentos<br />

penais e também civis, o que demanda a obtenção de<br />

elementos de prova que raramente são colhi<strong>do</strong>s através<br />

<strong>do</strong> tradicional inquérito policial.<br />

Nunca é forçoso relembrar que, se a Administração<br />

Pública não se apresenta apta ao combate <strong>do</strong> crime<br />

organiza<strong>do</strong> na área em questão, sonegan<strong>do</strong> ao cidadão<br />

o direito ao consumo de produto idôneo e ao<br />

recolhimento <strong>do</strong>s devi<strong>do</strong>s tributos, poupan<strong>do</strong>-lhe <strong>do</strong>s<br />

prejuízos materiais causa<strong>do</strong>s aos veículos em face <strong>do</strong><br />

combustível batiza<strong>do</strong>, mister se faz o engajamento <strong>do</strong><br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> nesse combate, para o efetivo cumprimento<br />

da determinação prevista no artigo 129, inciso<br />

II, da Constituição Federal, que impõe ao Parquet<br />

o dever de zelar pelo efetivo respeito <strong>do</strong>s Poderes <strong>Público</strong>s<br />

e <strong>do</strong>s serviços de relevância pública aos direitos assegura<strong>do</strong>s<br />

nesta Constituição, promoven<strong>do</strong> as medidas<br />

necessárias à sua garantia.<br />

Da mesma forma, merece atenção a apuração sobre<br />

o destino <strong>do</strong> lucro ilícito obti<strong>do</strong> com a prática criminosa,<br />

o que fomenta a lavagem de dinheiro sempre<br />

necessária a fechar “a conta” perante a Receita. Segun<strong>do</strong><br />

da<strong>do</strong>s divulga<strong>do</strong>s pela Organização das Nações<br />

Unidas e noticia<strong>do</strong>s pelo jornal “O Globo” (edição de<br />

14/04/2000), as operações de lavagem de dinheiro no


mun<strong>do</strong>, atualmente, somariam, por dia, cerca de U$ 5<br />

trilhões (cinco trilhões de dólares norte-americanos).<br />

Posto isso, para a abordagem sobre o efetivo combate<br />

da criminalidade organizada na adulteração de<br />

combustíveis pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, entendemos pertinente<br />

fazer uma breve análise de seu modus operandi,<br />

<strong>do</strong>s instrumentos existentes para a responsabilização<br />

em juízo, das “Forças-Tarefa” com a devida estrutura<br />

de atuação, frisan<strong>do</strong> a necessidade de um maior entrosamento<br />

<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> com os demais órgãos<br />

de fiscalização, sobretu<strong>do</strong> para resguardar a comprovação<br />

da materialidade delitiva.<br />

Prejuízos causa<strong>do</strong>s pela<br />

adulteração de combustível<br />

Como já dito, a adulteração de combustível, na<br />

maioria das vezes, demanda o cometimento em concurso<br />

com vários crimes, como quadrilha ou ban<strong>do</strong>, sonegação<br />

fiscal, crime contra o meio ambiente e contra<br />

o consumi<strong>do</strong>r, geran<strong>do</strong> inúmeros prejuízos, não só para<br />

o Poder <strong>Público</strong>, mas também para o destinatário final,<br />

ou seja, os usuários <strong>do</strong> produto que sofrem com os custos<br />

da manutenção de seus veículos que são danifica<strong>do</strong>s<br />

com a utilização de gasolina adulterada.<br />

É sabi<strong>do</strong> que a adulteração da gasolina consiste basicamente<br />

na mistura com solventes diversos ou com a<br />

inserção de álcool anidro acima <strong>do</strong> percentual permiti<strong>do</strong><br />

por lei. Assim, a produção se verifica muitas vezes<br />

em instalações clandestinas ou até mesmo em empresas<br />

que estão operan<strong>do</strong> com aparência lícita.<br />

Portanto, o uso de solventes, naftas e produtos assemelha<strong>do</strong>s<br />

importa<strong>do</strong>s ou contrabandea<strong>do</strong>s, bem como<br />

o recolhimento parcial de tributos (volumes produzi<strong>do</strong>s<br />

superiores aos declara<strong>do</strong>s), confere lucros exorbitantes<br />

aos autores de tais crimes, razão pela qual a atividade<br />

vem crescen<strong>do</strong> assusta<strong>do</strong>ramente e buscan<strong>do</strong> a menor<br />

incidência de carga tributária sobre os solventes, propician<strong>do</strong><br />

maior lucro.<br />

Com autoridade sobre o tema, Gui<strong>do</strong> Silveira e Jorge<br />

Luiz de Oliveira, em palestra ministrada em simpósio<br />

destina<strong>do</strong> às autoridades interessadas e organiza<strong>do</strong><br />

pelo SINDICOM, na cidade de Cornélio Procópio – PR<br />

www.apmp.com.br<br />

21


Maxima Venia<br />

(agosto de 2004), demonstraram que a carga tributária<br />

sobre a gasolina serve de fomento para que esta seja<br />

adulterada com a utilização de produtos com menor<br />

incidência tributária, conforme ilustra o gráfico 01.<br />

Nota-se, portanto, que a gasolina é adulterada com<br />

matéria-prima imprópria para a utilização em veículo<br />

automotor, haven<strong>do</strong> menor incidência tributária, mas<br />

vendida pelo preço de merca<strong>do</strong> ao consumi<strong>do</strong>r que tem<br />

que pagar no valor final o preço <strong>do</strong> tributo devi<strong>do</strong> à gasolina,<br />

aumentan<strong>do</strong> a margem de lucro <strong>do</strong> adultera<strong>do</strong>r.<br />

O contraban<strong>do</strong> também vem crescen<strong>do</strong> mediante<br />

a importação de gasolina sob outras denominações,<br />

haven<strong>do</strong> volumes de solventes importa<strong>do</strong>s superiores<br />

aos declara<strong>do</strong>s, pela via marítima ou terrestre, sen<strong>do</strong><br />

a maioria <strong>do</strong>s países integrantes <strong>do</strong> Mercosul, como<br />

Bolívia, Uruguai, Argentina, Paraguai.<br />

Ademais, resta patente que o crescimento de produção<br />

e importação de solvente tem como causa precípua<br />

o crescimento da adulteração de combustíveis no<br />

Brasil, conforme da<strong>do</strong>s da própria Agência Nacional de<br />

Petróleo, elucida<strong>do</strong>s no gráfico 02.<br />

Portanto, não foi por mero acaso que Agência Nacional<br />

de Petróleo criou comissão de sindicância para investigar<br />

as importações de solventes feitas a partir de 2003, buscan<strong>do</strong><br />

apurar porque as compras deste produto cresceram<br />

tanto a partir daquele ano. Note-se que de setembro de<br />

2003 a fevereiro de 2005, na antiga gestão da Agência<br />

Nacional de Petróleo, havia importação de 100 carretas<br />

diárias de solvente. Já em 22 de fevereiro de 2005, um dia<br />

após a transferência <strong>do</strong> antigo superintendente da ANP,<br />

a agência cancelou a importação de cerca de 80 carretas<br />

diárias de solvente e, em 7 de março de 2005, a ANP pas-<br />

22 www.apmp.com.br<br />

Fonte: Sindicom/ANP<br />

sou a permitir a importação de apenas 04 carretas diárias<br />

de solventes, haven<strong>do</strong> um corte de 96%. Curiosamente<br />

ninguém reclamou sobre o referi<strong>do</strong> corte, o que reforça<br />

as suspeitas de que o produto se destinava à adulteração<br />

(Revista Veja, edição de 15 de junho de 2005, pág. 68).<br />

Urge ressaltar que o solvente destina<strong>do</strong> à fabricação<br />

de tintas e assemelha<strong>do</strong>s, salvo a gasolina, deve<br />

ser marca<strong>do</strong> (identifica<strong>do</strong> por um número) quan<strong>do</strong> ingressa<br />

no território nacional, quan<strong>do</strong> for importa<strong>do</strong>, e,<br />

se utiliza<strong>do</strong> na mistura da gasolina para venda como<br />

combustível de veículo automotor, é facilmente identifica<strong>do</strong><br />

pela perícia, deixan<strong>do</strong> patente a adulteração. A<br />

dificuldade surge, no entanto, quan<strong>do</strong> o solvente que<br />

foi mistura<strong>do</strong> à gasolina não foi marca<strong>do</strong> e, se a <strong>do</strong>sagem<br />

for bem feita, haverá muita dificuldade na reprovação<br />

da amostra colhida, conferin<strong>do</strong> ao adultera<strong>do</strong>r o<br />

atesta<strong>do</strong> de i<strong>do</strong>neidade.<br />

Os danos causa<strong>do</strong>s aos consumi<strong>do</strong>res também são<br />

graves, pois diminui a vida útil das peças de veículos automotores,<br />

danifican<strong>do</strong> gravemente o motor. Eis alguns<br />

danos gera<strong>do</strong>s pela utilização de combustível adultera<strong>do</strong>:<br />

• Resíduos em bicos injetores e válvulas: perda de<br />

potência, aumento de consumo;<br />

• Resíduos sobre as velas de ignição: resíduos na câmara<br />

de combustão, diluição <strong>do</strong> lubrificante;<br />

• Batida de Pino: combustível de baixa octanagem;<br />

• Resíduos gera<strong>do</strong>s pela queima parcial <strong>do</strong> combustível,<br />

alia<strong>do</strong> a frações de lubrificantes, podem levar ao<br />

mau assentamento da válvula de admissão e até o seu<br />

aprisionamento na sede;<br />

• Os depósitos se incandescem e detonam o combustível<br />

antes da faísca da vela. Isso gera esforços adicionais ao<br />

motor, especialmente aos mancais e árvores de<br />

manivelas, ocasionan<strong>do</strong> a perda de força;<br />

• Acumulam-se depósitos ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

eletro<strong>do</strong> da vela, reduzin<strong>do</strong>-se a folga e causan<strong>do</strong><br />

uma faísca mais fraca, ocasionan<strong>do</strong><br />

má ignição da mistura ar-combustível e perda<br />

de potência;<br />

• Alteração <strong>do</strong> pH e da condutividade<br />

elétrica - aumentan<strong>do</strong> a corrosão no motor<br />

(adulteração <strong>do</strong> álcool).<br />

Portanto, toda constatação de gasolina ou<br />

álcool adultera<strong>do</strong>s e expostos à venda em estabelecimentos<br />

comerciais (postos de gasolina)<br />

é causa gera<strong>do</strong>ra de instauração de inquérito<br />

civil no âmbito das Promotorias de Defesa<br />

<strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r, propician<strong>do</strong> a propositura de<br />

ação civil pública, merecen<strong>do</strong> ser postula<strong>do</strong><br />

não só o dano material aos veículos, mas também<br />

o dano moral causa<strong>do</strong> à coletividade.


Organização da criminalidade<br />

voltada à adulteração de<br />

combustíveis<br />

Uma análise <strong>do</strong>s grupos que atuam na adulteração<br />

de combustíveis e respectiva distribuição de tais produtos<br />

revela sinais claros de estruturação organizada,<br />

destinada à exploração dessa rentável atividade ilícita,<br />

que, como já salienta<strong>do</strong>, não se restringe à prática criminosa<br />

prevista no artigo 1º, I, da Lei 8.176/91, mas<br />

envolve um extenso e significativo rol de delitos, tais<br />

como sonegação fiscal, crimes ambientais e contra os<br />

direitos <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, corrupção etc.<br />

A multiplicidade e reiteração de práticas criminosas<br />

que marca as atividades <strong>do</strong>s grupos adultera<strong>do</strong>res de<br />

combustíveis já se mostra suficiente a caracterizar em<br />

suas condutas o delito de quadrilha, previsto no artigo<br />

288 <strong>do</strong> Código Penal, que assumirá forma mais grave<br />

quan<strong>do</strong> houver comprovação <strong>do</strong> emprego de armas nas<br />

atividades ilícitas em questão (art. 288, parágrafo único,<br />

<strong>do</strong> Código Penal). Aliás, a apreensão de armas em poder<br />

de tais grupos não é algo inespera<strong>do</strong> ou raro, já que, para<br />

a proteção das merca<strong>do</strong>rias e produtos ilegais com que<br />

executam suas atividades, esses grupos via de regra valem-se<br />

de forte esquema de segurança, quase sempre<br />

com armas de fogo, quan<strong>do</strong> não envolvem diretamente<br />

agentes policiais liga<strong>do</strong>s à organização<br />

criminosa por meio de corrupção.<br />

Mas a organização <strong>do</strong>s grupos criminosos<br />

em questão transcende em muito<br />

a mera caracterização de quadrilhas,<br />

para cuja configuração basta a reunião<br />

de indivíduos, minimamente organizada, com o intuito<br />

de praticar crimes. Com efeito, a organização e estruturação<br />

das atividades <strong>do</strong>s grupos que se voltam à prática<br />

das atividades de adulteração, distribuição e venda de<br />

combustíveis adultera<strong>do</strong>s em nosso país é de tal mo<strong>do</strong><br />

aprofundada, que atinge um nível de organização semelhante<br />

a de verdadeiras empresas voltadas à prática<br />

infracional, pois têm características próprias das empresas<br />

comerciais: são estruturas organizadas, com divisão<br />

de tarefas e hierarquia entre seus integrantes, que atuam<br />

de forma permanente, visan<strong>do</strong> um objetivo comum,<br />

em determina<strong>do</strong> setor da economia, e com finalidade<br />

de obtenção <strong>do</strong> máximo lucro possível. A diferença que<br />

marca a organização criminosa de uma empresa lícita é<br />

exatamente que a primeira atua<br />

em ramo ilícito para<br />

obtenção de seus<br />

O uso de solventes,<br />

naftas e produtos<br />

assemelha<strong>do</strong>s importa<strong>do</strong>s<br />

ou contrabandea<strong>do</strong>s, bem<br />

como o recolhimento parcial<br />

de tributos (...), confere lucros<br />

exorbitantes aos autores de tais crimes,<br />

lucros.<br />

razão pela qual a atividade vem crescen<strong>do</strong><br />

assusta<strong>do</strong>ramente e buscan<strong>do</strong> a menor<br />

incidência de carga tributária sobre os<br />

solventes, propician<strong>do</strong> maior lucro.<br />

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23


Maxima Venia<br />

Evidencia-se, destarte, que os grupos volta<strong>do</strong>s à<br />

exploração de crimes decorrentes da adulteração de<br />

combustíveis podem ser caracteriza<strong>do</strong>s como verdadeiras<br />

organizações criminosas, nos moldes em que<br />

definidas pela Lei 9.034/95.<br />

Realmente, pode-se identificar em tais grupos criminosos<br />

as principais características das organizações<br />

criminosas de que trata referi<strong>do</strong> diploma legal:<br />

A) estrutura organizacional piramidal, hierarquizada<br />

e com divisão de tarefas previamente estabelecida,<br />

já que tais grupos criminosos são forma<strong>do</strong>s como<br />

verdadeiras empresas, com chefes, gerentes e funcionários<br />

a estes subordina<strong>do</strong>s (<strong>do</strong>nos de distribui<strong>do</strong>ras<br />

clandestinas, proprietários de caminhões e tanques<br />

utiliza<strong>do</strong>s na distribuição <strong>do</strong>s combustíveis, motoristas,<br />

seguranças, “olheiros” etc.);<br />

B) acumulação de eleva<strong>do</strong> poderio econômico, já<br />

que, como salienta<strong>do</strong> retro, a atividade ilícita em questão<br />

é altamente lucrativa, pois é inegável que to<strong>do</strong>s<br />

os proprietários de veículos automotores dependem <strong>do</strong><br />

consumo da matéria-prima em debate;<br />

C) alto poder de corrupção e atração de agentes públicos<br />

para as atividades ilícitas praticadas, decorrente<br />

<strong>do</strong> poder econômico acumula<strong>do</strong> e volta<strong>do</strong> a impedir a<br />

ação <strong>do</strong>s órgão repressivos (Polícias Militar e Civil, Receitas<br />

Federal e Estadual, <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, Judiciário),<br />

<strong>do</strong>s órgão legislativos (para poderem atuar com maior<br />

liberdade) e <strong>do</strong> Executivo, e alto poder de intimidação,<br />

inclusive através da imposição da chamada “lei <strong>do</strong> silêncio”<br />

àqueles que têm qualquer tipo de conhecimento<br />

sobre as atividades ilegais desenvolvidas;<br />

Esse também é o pensamento de Luiz Flávio Gomes,<br />

que reconhece a efetiva conexão estrutural ou funcional<br />

com agentes <strong>do</strong> Poder <strong>Público</strong>,<br />

frisan<strong>do</strong> que o crime<br />

organiza<strong>do</strong>, não<br />

De<br />

setembro de<br />

2003 a fevereiro de<br />

2005 (...) havia importação<br />

de 100 carretas diárias de<br />

solvente (...) em 7 de março<br />

de 2005, a ANP passou a permitir<br />

a importação de apenas 04 carretas<br />

diárias de solventes, haven<strong>do</strong> um corte de<br />

96%. Curiosamente ninguém reclamou sobre<br />

o referi<strong>do</strong> corte, o que reforça as suspeitas de<br />

que o produto se destinava à adulteração<br />

24 www.apmp.com.br<br />

raramente, tu<strong>do</strong> dependen<strong>do</strong> de seu grau de desenvolvimento,<br />

acaba por formar uma simbiose com o Poder <strong>Público</strong>,<br />

seja em razão <strong>do</strong> seu alto poder de corrupção, seja<br />

em virtude de alto poder de influência. Pode dar-se que<br />

da própria estrutura da organização tomem parte agentes<br />

<strong>do</strong> Poder <strong>Público</strong>. Pode ocorrer, de outro la<strong>do</strong>, que seu<br />

funcionamento seja favoreci<strong>do</strong> pelo Poder <strong>Público</strong>. Em<br />

ambas hipóteses, temos um sinal patente de organização<br />

criminosa que, para alcançar a impunidade, busca a to<strong>do</strong><br />

custo união com os poderes estabeleci<strong>do</strong>s (políticos e/ou<br />

jurídicos). Alcançan<strong>do</strong>-se esse nível é evidente o risco da<br />

constituição de um “Anti-Esta<strong>do</strong>”, seja pela impunidade<br />

que resulta garantida, seja pelas atividades tipicamente<br />

estatais que a organização passa a desempenhar;<br />

D) necessidade de “legalização” <strong>do</strong>s lucros ilicitamente<br />

obti<strong>do</strong>s, através de lavagem de dinheiro, que pode assumir<br />

diferentes formas, desde a exploração de atividades<br />

comerciais que propiciem tal prática, até a remessa de dinheiro<br />

aos chama<strong>do</strong>s “paraísos fiscais” (como Panamá, Ilhas<br />

Cayman, Ilhas Virgens Britânicas etc.). Nesse aspecto, não<br />

é demais lembrar que o Brasil também vem se tornan<strong>do</strong><br />

lugar propício para a lavagem de dinheiro, em razão de seu<br />

sistema financeiro desprovi<strong>do</strong> de mecanismos eficientes de<br />

fiscalização e controle acerca da identidade de seus opera<strong>do</strong>res<br />

e da veracidade das operações feitas. Sobre o assunto,<br />

vide Revista Carta Capital – edição extra: Brasil, maior<br />

lavanderia de dinheiro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, 30 de maio de 1998;<br />

E) <strong>do</strong>mínio de determina<strong>do</strong>s espaços territoriais,<br />

através da implantação de locais com tanques e segurança<br />

apropriada que permitam a adulteração <strong>do</strong>s<br />

combustíveis e posterior distribuição <strong>do</strong> material adultera<strong>do</strong><br />

a postos de gasolina das imediações.<br />

F) atuação de caráter permanente, com a finalidade<br />

de obtenção de ganhos ilícitos e acúmulo não só<br />

de riqueza mas também de poder, o que caracteriza a<br />

própria estrutura organizada desses grupos em verdadeiras<br />

“empresas <strong>do</strong> crime”.<br />

Necessidade de melhor<br />

estruturação para combate<br />

à criminalidade organizada<br />

voltada à exploração da<br />

adulteração de combustíveis<br />

Uma vez caracteriza<strong>do</strong>s sob o prisma legal<br />

como “organizações criminosas”, os<br />

grupos criminosos em análise deverão<br />

ser combati<strong>do</strong>s com os instrumentos<br />

próprios que o sistema legal brasileiro<br />

confere, tais como a colaboração ou


cooperação processual (da qual faz parte a “delação<br />

premiada”), a infiltração de agentes policiais ou <strong>do</strong><br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> nos grupos criminosos, a interceptação<br />

telefônica, convênio com a Agência Nacional<br />

de Petróleo para a coleta de amostras para análise e<br />

respectivo treinamento de serventuários <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> para realização da coleta, quebra <strong>do</strong>s sigilos<br />

fiscal, bancário e financeiro, ação controlada pela Polícia<br />

(flagrante retarda<strong>do</strong>) etc.<br />

De igual mo<strong>do</strong>, para eficaz combate a tal forma de<br />

criminalidade impõe-se uma melhor estruturação <strong>do</strong>s<br />

órgãos públicos incumbi<strong>do</strong>s da repressão, <strong>do</strong>s quais<br />

adquire especial relevância o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />

Nesse aspecto é que se mostra de fundamental importância<br />

a formação de equipes especiais de Promotores<br />

de Justiça para estu<strong>do</strong> e combate das atividades<br />

ilegais <strong>do</strong>s grupos organiza<strong>do</strong>s volta<strong>do</strong>s à atuação clandestina<br />

na adulteração de combustíveis, inclusive com<br />

a integração com os demais órgãos públicos, forman<strong>do</strong><br />

verdadeiras “Forças-Tarefa” para o efetivo combate a<br />

tal espécie de criminalidade.<br />

Para tanto, mister o estreitamento de contatos, inclusive<br />

através da celebração de convênios com órgãos<br />

como Receita Federal, Receita Estadual, Polícias Civil,<br />

Militar e Científica, ANP (Agência Nacional de Petróleo),<br />

IPEM (Instituto de Pesos e Medidas), IPT (Instituto<br />

de Pesquisas Tecnológicas), PROCONS, COAF (Conselho<br />

de Controle de Atividades Financeiras) etc.<br />

Com a devida estruturação, tais forças-tarefa estarão<br />

habilitadas a identificar a atuação das organizações cri-<br />

minosas que vêm exploran<strong>do</strong><br />

a adulteração de combustíveis, de<br />

molde a viabilizar a eficaz repressão a<br />

tal atividade ilegal, inclusive com obtenção<br />

imediata das necessárias análises químicas e contábeis<br />

que permitam a devida caracterização da materialidade<br />

delitiva das atividades em questão.<br />

A Força-Tarefa<br />

A Força-Tarefa é considerada pelos agentes norte-americanos<br />

como o melhor sistema para o efetivo<br />

combate às organizações criminosas. Os grupos que a<br />

compõem são alicerça<strong>do</strong>s em uma ideologia de mútua<br />

cooperação entre os diversos órgãos de persecução<br />

detentores de atribuições variadas para a atuação<br />

na área penal, passan<strong>do</strong> a trabalhar em conjunto,<br />

com unidade de atuação e de esforços, com o direcionamento<br />

para a investigação, análise e iniciativa de<br />

medidas coercitivas voltadas para o desmantelamento<br />

das estruturas criminosas, utilizan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s mais<br />

varia<strong>do</strong>s instrumentos de investigação e mecanismos<br />

legais. Trata-se de esforço concentra<strong>do</strong>, harmonioso<br />

e direciona<strong>do</strong> para o objetivo comum da luta contra a<br />

criminalidade, eis que são formadas sempre em face<br />

duma situação de crise localizada em decorrência da<br />

instalação de organização criminosa ou grupos criminosos<br />

operantes que abalem sobremaneira a ordem<br />

pública local ou territorial.<br />

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25


Maxima Venia<br />

26 www.apmp.com.br<br />

Marcelo Batlouni Mendroni traça algumas estratégias<br />

para a atuação operacional <strong>do</strong> grupo de Força-Tarefa,<br />

para um efetivo combate à criminalidade organizada,<br />

aduzin<strong>do</strong> que:<br />

• os promotores de justiça devem traçar desde o início<br />

das investigações à estratégia de atuação, buscan<strong>do</strong> obter<br />

o panorama geral da organização criminosa, apuran<strong>do</strong> os<br />

campos principais de atuação (crimes), que são seus chefes,<br />

principais executores e agentes públicos envolvi<strong>do</strong>s;<br />

• a investigação de campo deve ser priorizada, além da<br />

completa identificação de chefes, sub-chefes e gerentes, em<br />

busca da identificação de bens <strong>do</strong>s integrantes da organização,<br />

apuran<strong>do</strong> quem são os “testas-de ferro”ou “laranjas”. Os<br />

chama<strong>do</strong>s “laranjas” são muito utiliza<strong>do</strong>s no setor de adulteração<br />

de combustíveis e figuram como os “proprietários” <strong>do</strong>s<br />

postos de gasolina que recebem e comercializam o combustível<br />

impróprio, impedin<strong>do</strong> que se chegue, em caso de fiscalização,<br />

aos legítimos <strong>do</strong>nos <strong>do</strong> negócio que muitas vezes são<br />

<strong>do</strong>nos de transporta<strong>do</strong>ras de combustíveis;<br />

• a obtenção de informações e <strong>do</strong>cumentos acerca<br />

<strong>do</strong>s negócios desenvolvi<strong>do</strong>s pela organização pode ser<br />

concretizada mediante a colheita de depoimentos, gravações,<br />

fotografias, interceptações telefônicas, filmagens,<br />

deven<strong>do</strong> ser tais informações devidamente conferidas,<br />

analisan<strong>do</strong>-se conjuntamente da<strong>do</strong>s constantes de declarações<br />

de imposto de renda, contas de telefone, luz, água,


gás, cadastro da Junta Comercial, contas bancárias etc.,<br />

proceden<strong>do</strong>-se ao cruzamento de tais da<strong>do</strong>s.<br />

Dessa forma, para que se coloque em prática a ampla<br />

investigação da forma como foi proposta acima, é imperiosa<br />

a participação conjunta <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> Estadual e<br />

Federal, caben<strong>do</strong>-lhes a coordena<strong>do</strong>ria das operações e as<br />

providências jurídicas, sen<strong>do</strong> justificada a liderança pelo Parquet<br />

em razão de figurar como elemento de ligação entre a<br />

investigação e o processamento. Já a investigação de campo<br />

deve ser concretizada pelas Polícias Federal, Civil e Militar,<br />

deven<strong>do</strong> haver, também, um setor de inteligência, composto<br />

por pessoal especializa<strong>do</strong> em recebimento, ordenação e sistematização,<br />

cruzamento e análise de da<strong>do</strong>s, sobretu<strong>do</strong> na<br />

área de contabilidade, computação, perícias etc. Deve haver,<br />

ainda, a participação das Fazendas (Estadual e Federal) e até<br />

<strong>do</strong> INSS, responsáveis pela obtenção de da<strong>do</strong>s e fiscalização<br />

<strong>do</strong>s impostos das pessoas físicas e jurídicas ligadas ao crime<br />

organiza<strong>do</strong> e, por fim, o auxílio de Procura<strong>do</strong>res e Agentes<br />

<strong>do</strong> Banco Central e também <strong>do</strong> COAF, para a centralização e<br />

apuração <strong>do</strong>s movimentos bancários.<br />

É sabi<strong>do</strong>, no entanto, que não basta a boa vontade <strong>do</strong><br />

membro <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, como Promotor Natural<br />

e até com o apoio <strong>do</strong>s GAECO/GAERCO, em contato com<br />

agentes <strong>do</strong>s demais órgãos públicos especializa<strong>do</strong>s, pretender<br />

a atuação conjunta, pois isso demanda estrutura,<br />

permissões e outras burocracias típicas da administração<br />

pública central, para que seus agentes auxiliem,<br />

com exclusividade, o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />

Assim sen<strong>do</strong>, é necessário o empenho efetivo por<br />

parte <strong>do</strong>s Órgãos da Administração Superior, sobretu<strong>do</strong><br />

da Procura<strong>do</strong>ria-Geral de Justiça e respectivos Centros<br />

de Apoio Operacionais, para firmar compromissos e<br />

formalizar convênios, o que poderia ser até normatiza<strong>do</strong><br />

internamente, garantin<strong>do</strong> o efetivo contato e apoio<br />

das cúpulas das demais instituições (ANP, Receitas,<br />

IPEM, IPT), a fim de propiciar a atuação conjunta, não<br />

sen<strong>do</strong> admissíveis justificativas como deficiência material,<br />

orçamentária, funcional etc, para a não implementação<br />

de tais medidas, ten<strong>do</strong> em vista a magnitude<br />

<strong>do</strong> problema da criminalidade organizada no setor de<br />

combustíveis e o mal que vem causan<strong>do</strong> à sociedade.<br />

Conclusões<br />

1. A atividade de adulteração de combustíveis cresceu<br />

em nosso país, geran<strong>do</strong> enormes prejuízos em<br />

diversas esferas, desde os direitos <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res,<br />

o meio ambiente e até a arrecadação<br />

de tributos.<br />

2. Tal atividade ilícita expandiu-se sobremaneira<br />

e hodiernamente não se re-<br />

sume à prática <strong>do</strong> crime previsto no artigo 1º, inciso I, da<br />

Lei 8.176/91, mas envolve uma multiplicidade de infrações<br />

penais, como sonegação fiscal, crimes ambientais, crimes<br />

contra as relações de consumo, corrupção de funcionários<br />

públicos e lavagem de dinheiro.<br />

3. Os grupos que exploram esse ramo de atividade ilegal<br />

cresceram e organizaram-se de tal mo<strong>do</strong> que já se caracterizam<br />

como verdadeiras organizações criminosas, que devem<br />

ser combatidas com instrumentos próprios, dentre os<br />

quais adquire especial relevamos a Lei Federal n. 9.034/95.<br />

4. Para a eficiente repressão a esse tipo de criminalidade<br />

organizada também se mostra imperiosa uma melhor<br />

estruturação <strong>do</strong>s órgãos públicos que detêm atribuição<br />

para tanto, especialmente o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, através da<br />

criação de Grupos Especiais de Combate à Adulteração<br />

de Combustível, não poden<strong>do</strong> se resumir a sub-grupos<br />

compostos por membros <strong>do</strong> GAECO e GAERCOs, haven<strong>do</strong><br />

também efetiva participação <strong>do</strong>s Promotores Naturais.<br />

5. Para que a atuação ministerial possa revestirse<br />

da efetividade que a sociedade reclama, os cita<strong>do</strong>s<br />

grupos especiais devem formar “forças-tarefa” destinadas<br />

ao específico combate à criminalidade voltada à<br />

exploração da adulteração de combustíveis.<br />

6. Tais equipes deverão estreitar os laços de entrosamento<br />

com os demais órgãos que podem atuar<br />

no combate à forma de criminalidade em análise, tais<br />

como Receita Federal, Receita Estadual, Polícias Civil,<br />

Militar e Científica, ANP (Agência Nacional de Petróleo),<br />

IPEM (Instituto de Pesos e Medidas), PROCONS,<br />

COAF, entre outros.<br />

7. Além disso, os grupos em questão deverão a<strong>do</strong>tar<br />

ou sugerir, aos Promotores Naturais respectivos, outras<br />

medidas de combate a esse tipo de criminalidade, mediante<br />

a propositura de ação penal engloban<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os crimes supra cita<strong>do</strong>s se a prova assim permitir, bem<br />

como de ações civis públicas<br />

no âmbito da defesa <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r. Os chama<strong>do</strong>s<br />

“laranjas” são muito<br />

utiliza<strong>do</strong>s no setor de<br />

adulteração de combustíveis e<br />

figuram como os “proprietários”<br />

<strong>do</strong>s postos de gasolina que recebem<br />

e comercializam o combustível<br />

impróprio, impedin<strong>do</strong> que se chegue,<br />

em caso de fiscalização, aos legítimos<br />

<strong>do</strong>nos <strong>do</strong> negócio que muitas vezes são<br />

<strong>do</strong>nos de transporta<strong>do</strong>ras de combustíveis.<br />

www.apmp.com.br<br />

27


MPX<br />

MP em Foco<br />

Futuro <strong>do</strong><br />

Causa e conseqüência<br />

Aproximamo-nos <strong>do</strong> final daquilo que foi proposto<br />

inicialmente para esta seção: a análise <strong>do</strong>s<br />

reflexos positivos para o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> de São<br />

Paulo se a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> um novo modelo de gestão institucional.<br />

28 www.apmp.com.br<br />

O tema desta edição (“critérios objetivos para a<br />

criação e desnomenclaturação de cargos”) é bastante<br />

atual, não somente pela intensa demanda<br />

por novos cargos, consubstanciada em propostas<br />

da Procura<strong>do</strong>ria-Geral em análise pelo Órgão Es-


MP <strong>do</strong> Futuro<br />

Discussão sobre fatos que repercutirão nos rumos de nossa Instituição.<br />

pecial, como pelo recente debate levanta<strong>do</strong> no<br />

Conselho Superior sobre o impacto da implantação<br />

de um novo modelo de gestão na política de<br />

criação de cargos.<br />

Esse debate, cujo aprofundamento se faz necessário,<br />

só não pode partir de uma falsa premissa:<br />

a de que a reengenharia institucional proposta<br />

pelo Departamento de Estu<strong>do</strong>s Institucionais da<br />

APMP é contra a criação de cargos.<br />

Esse equívoco <strong>do</strong>minou inclusive a manifestação<br />

de integrantes <strong>do</strong> Conselho Superior, como<br />

veremos adiante.<br />

O que importa ressaltar é que o trabalho da<br />

APMP jamais questionou a necessidade de criação<br />

de cargos.<br />

O aumento <strong>do</strong> volume de serviço entre os<br />

membros da Instituição é fato concreto, natural<br />

e dificilmente retrocederá. Isso porque a procura<br />

pelo trabalho <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> é diretamente<br />

proporcional à tentativa de inclusão<br />

social de diversos segmentos ainda marginaliza<strong>do</strong>s<br />

e à defesa de bens que, em um país repleto<br />

de contradições e carências, ainda exigem proteção<br />

especial.<br />

Não é esse, porém, o ponto central <strong>do</strong> debate,<br />

já que não parece haver controvérsia sobre isso.<br />

A discussão deve centrar-se em responder a<br />

duas indagações:<br />

1ª) além da criação de cargos, que<br />

outros mecanismos foram desenvolvi<strong>do</strong>s<br />

para, de forma eficaz,<br />

atenuar o aumento de serviço?<br />

2ª) o crescimento <strong>do</strong>s quadros <strong>do</strong><br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> pode ser ilimita<strong>do</strong>?<br />

As respostas a essas perguntas são cruciais para o<br />

futuro <strong>do</strong> MP de São Paulo. E elas só terão consistência<br />

e adesão da maior parte da Classe se passarem<br />

por um debate amplo e calca<strong>do</strong> em da<strong>do</strong>s e critérios<br />

objetivos. Debate que, infelizmente, não foi leva<strong>do</strong> aos<br />

membros da Instituição pela Administração Superior,<br />

até porque em da<strong>do</strong> momento a política de criação de<br />

cargos teve uma única lógica, que não era a de melhor<br />

servir a população: a obtenção de ganhos eleitorais<br />

internos.<br />

Nas páginas seguintes, convidamos os leitores<br />

a acompanhar o início dessa salutar discussão, que<br />

esperamos: a) não seja interrompida mais uma vez,<br />

ao sabor de disputas cada vez mais impregnadas de<br />

caráter eleitoral e cada vez menos preocupadas com<br />

os destinos institucionais; b) concentre-se tanto nas<br />

causas das distorções que obrigam à contínua criação<br />

de cargos, quanto nas conseqüências <strong>do</strong> aumento excessivo<br />

de nossos quadros.<br />

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29


MP em Foco<br />

O debate no<br />

Conselho Superior<br />

“Faço uso da palavra nesse momento especialmente para solicitar de Sua Excelência, o Senhor Procura<strong>do</strong>r-Geral<br />

de Justiça, prioridade na nomenclatura de cargos <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> para a área da<br />

infância e da juventude. Como sabemos, a lei que reclassificou as entrâncias acabou crian<strong>do</strong> inúmeros<br />

cargos nas posições inicial (46), intermediária (122) e final (121), estan<strong>do</strong> por iniciar uma fase de alocação<br />

desses recursos humanos nas diferentes promotorias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (...) Vivemos uma fase, notadamente<br />

nas Promotorias <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, que sobra trabalho e faltam Promotores, sen<strong>do</strong> necessário reconhecer<br />

que a carência se dá em todas as áreas, de mo<strong>do</strong> que mister a elaboração de um projeto abrangente,<br />

com as justificativas necessárias, que contemple todas as funções <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>. Todavia,<br />

Senhores Conselheiros, é mister reconhecer que a área da infância e da juventude, principalmente pelo<br />

fato de que em passa<strong>do</strong> remoto era considerada atividade menor da instituição, não vem sen<strong>do</strong> tratada<br />

institucionalmente em sintonia com sua importância social, em que pesem importantes iniciativas nesses<br />

últimos anos (...) Embora seja testemunha de que na área criminal inúmeros Promotores de Justiça<br />

atuam no limite das suas possibilidades, ocupan<strong>do</strong> quase que to<strong>do</strong> o tempo <strong>do</strong>s dias exclusivamente nas<br />

atividades profissionais, importante trazer à consideração de Vossas Excelências algumas comparações<br />

possíveis à luz da movimentação judiciária no Esta<strong>do</strong> de São Paulo (...) Esses da<strong>do</strong>s já demonstram que<br />

a área da infância e da juventude ostenta 40,30% <strong>do</strong>s feitos em comparação com o volume da área<br />

criminal, enquanto que as sentenças estão na ordem 47,54% (...) Desta forma, Senhor Presidente e demais<br />

Conselheiros, é imprescindível que nessa atividade de nomenclatura <strong>do</strong>s cargos a área da infância<br />

e da juventude seja tratada não só com sua importância quantitativa, mas também com sua relevância<br />

social, de mo<strong>do</strong> que o quadro apresenta<strong>do</strong>, retrato de uma iníqua situação que perdura no tempo, seja<br />

radicalmente modifica<strong>do</strong>, projetan<strong>do</strong> melhores dias para a infância e juventude paulista.”<br />

(Conselheiro Paulo Afonso Garri<strong>do</strong> de Paula, reunião <strong>do</strong> CSMP de 7/2/06).<br />

“(...) quero deixar consigna<strong>do</strong> a minha total<br />

adesão sobre o fundamental papel social e institucional<br />

desenvolvi<strong>do</strong> pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

na área da Infância e Juventude (...) Entretanto,<br />

considero igualmente relevante outras atividades,<br />

como por exemplo a área criminal (combate<br />

ao crime organiza<strong>do</strong>, júri, execuções, etc)<br />

ou mesmo a luta para estancar a improbidade<br />

administrativa num país onde a corrupção prolifera<br />

, os demais difusos, etc., tu<strong>do</strong> apontan<strong>do</strong><br />

para necessidade da expansão institucional,<br />

com a distribuição e provimento de cargos onde<br />

necessário.”<br />

(Conselheiro José Oswal<strong>do</strong> Molineiro,<br />

reunião <strong>do</strong> CSMP de 7/2/06).<br />

30 www.apmp.com.br<br />

“(...) não divirjo quanto à relevância <strong>do</strong>s<br />

temas atinentes à Infância e à Juventude,<br />

mas novamente quero trazer à discussão a<br />

necessidade de termos no <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

um banco de da<strong>do</strong>s eficiente (...) que<br />

permita a tomada de decisões fundada em<br />

elementos claros e precisos”<br />

(Conselheiro Dráusio Lúcio Barreto,<br />

reunião <strong>do</strong> CSMP de 7/2/06).


“Aproveito a manifestação <strong>do</strong> nobre Conselheiro<br />

Garri<strong>do</strong> para novamente externar minha grande<br />

preocupação com a ainda inevitável tendência de inchaço<br />

<strong>do</strong>s quadros da carreira. Em várias comarcas,<br />

sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Interior, verifica-se quadro de enorme<br />

acúmulo de serviços, geran<strong>do</strong> legítimas demandas<br />

de criação de novos cargos. Entretanto, ao mesmo<br />

tempo, é inegável a impossibilidade de obtenção de<br />

recursos orçamentários que, no futuro, suportem tal<br />

tendência de crescimento de despesas. Hoje, a criação<br />

de novos cargos é inevitável, a despeito desse<br />

risco, e ela tem o meu apoio. Urge, porém, definir<br />

um novo modelo de gestão de nossas atribuições e<br />

recursos (humanos e orçamentários) que propicie<br />

ao Promotor trabalhar melhor, com mais conforto e<br />

eficiência, com melhor estrutura de atuação. Urge<br />

estancar, mediante a<strong>do</strong>ção de um novo sistema de<br />

gestão, o fracionamento <strong>do</strong> poder <strong>do</strong>s Promotores de<br />

Justiça, também inerente à multiplicação de cargos,<br />

de forma até mesmo a comprometer o modelo constitucional<br />

de agente político (...)”<br />

(Conselheiro Antonio Augusto Mello de Camargo<br />

Ferraz, reunião <strong>do</strong> CSMP de 7/2/06).<br />

“O discurso <strong>do</strong> ilustre Conselheiro Antonio Augusto<br />

está basea<strong>do</strong> em argumento conserva<strong>do</strong>r,<br />

responsável pelo desencadeamento de uma prática<br />

imobilista na Instituição, que levou ao não suprimento<br />

<strong>do</strong>s cargos necessários para o atendimento<br />

condigno à população. Pensar única e exclusivamente<br />

no orçamento para pagamento de pessoal como<br />

determinante da criação de cargos, representa divórcio<br />

<strong>do</strong> interesse público e desconsideração das<br />

comunidades que reclamam pela presença de Promotores<br />

de Justiça. O Judiciário vem desenvolven<strong>do</strong><br />

uma política de criação de Varas e de cargos e nem<br />

por isso Juízes e Desembarga<strong>do</strong>res tiveram reduzi<strong>do</strong>s<br />

seus proventos ou deixa<strong>do</strong> de receber as verbas indenizatórias<br />

que os membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

receberam (...)”<br />

(Conselheiro Paulo Afonso Garri<strong>do</strong> de Paula,<br />

reunião <strong>do</strong> CSMP de 7/2/06).<br />

“(...) se a população (cerca de 40.000.000 de<br />

habitantes no Esta<strong>do</strong> de São Paulo) e a demanda<br />

por serviços aumentam, se torna indispensável<br />

a criação de cargos, para que possamos prestar<br />

serviços à sociedade.”<br />

(Conselheiro José Benedito Tarifa, reunião<br />

<strong>do</strong> CSMP de 7/2/06).<br />

www.apmp.com.br<br />

31


MP em Foco<br />

“(...) Há necessidade de priorizar sempre o compromisso<br />

<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> com a sociedade. Importante<br />

lembrar que a demanda de serviços vem aumentan<strong>do</strong><br />

em razão <strong>do</strong> crescimento populacional, da<br />

instalação de diversas novas varas em nosso Esta<strong>do</strong> e<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento de uma consciência de cidadania.<br />

Por estes motivos, onde houver necessidade de criação<br />

de cargos, a Procura<strong>do</strong>ria-Geral remeterá estas propostas<br />

para apreciação <strong>do</strong> Órgão Especial (...)”<br />

(Procura<strong>do</strong>r-Geral de Justiça, reunião <strong>do</strong><br />

CSMP de 7/2/06).<br />

“(...) se por um la<strong>do</strong> é importante que cargos sejam<br />

cria<strong>do</strong>s e provi<strong>do</strong>s somente quan<strong>do</strong> presente a<br />

necessidade, não vislumbro como saudável a negativa<br />

sistemática de criação e provimento de cargos<br />

em locais onde as dificuldades são evidentes, deixan<strong>do</strong><br />

exposta a instituição pela falta de profissionais<br />

e levan<strong>do</strong> a exigência de uma carga de trabalho<br />

descomunal e desumana <strong>do</strong>s colegas, o que induz<br />

evidentemente uma perda da qualidade funcional,<br />

prejudican<strong>do</strong> não só o profissional, mas também o<br />

interesse público (...)”<br />

(Conselheiro José Oswal<strong>do</strong> Molineiro, reunião<br />

<strong>do</strong> CSMP de 7/2/06).<br />

“Na última reunião deste Colegia<strong>do</strong>, travou-se interessante discussão acerca daquele que considero o<br />

mais relevante tema <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> da atualidade: a definição de um novo modelo de gestão administrativa<br />

e funcional para a Instituição (...) acredito que to<strong>do</strong>s buscamos o mesmo objetivo, a saber, um<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> pujante, capaz de prestar serviços de excelente qualidade à sociedade, contribuin<strong>do</strong>,<br />

assim, para a afirmação da cidadania entre nós. Curioso, entretanto, que, pretenden<strong>do</strong> o mesmo resulta<strong>do</strong>,<br />

possamos por vezes divergir tão profundamente quanto aos meios e às estratégias para alcançá-lo. Essa<br />

divergência ficou clara, por exemplo, nas palavras <strong>do</strong> ilustre Conselheiro Garri<strong>do</strong>, de um la<strong>do</strong>, e nas minhas,<br />

de outro, na reunião passada deste Órgão (...) Começo reiteran<strong>do</strong> que não sou contra a criação de novos<br />

cargos. Isso ficou expressamente consigna<strong>do</strong> em minha fala, conforme publica<strong>do</strong> em ata. Todavia, sou sem<br />

dúvida contra a incapacidade revelada pela Administração <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> no senti<strong>do</strong> de encontrar<br />

para o constante aumento da quantidade de serviços resposta diversa da simples criação de cargos. Isso<br />

sem dúvida onera nosso finito orçamento, afeta, numa perspectiva de longo prazo, nosso status remuneratório<br />

e, mais importante, tende a frustrar a idéia <strong>do</strong> Promotor de Justiça agente político, na medida em que<br />

fraciona progressivamente o poder <strong>do</strong>s mesmos (...) É preciso atacar as causas (a etiologia) <strong>do</strong> problema e<br />

não suas conseqüências (patologia), dentre as quais a necessidade de contínua criação de cargos. Para demonstrar<br />

ser possível implantar um novo e mais moderno sistema, que permita ao Promotor trabalhar com<br />

mais eficiência, atuan<strong>do</strong> como agente político, com melhor estrutura, conforto e satisfação profissional,<br />

coordenei o trabalho “Um novo modelo de gestão para o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>”, junto ao Departamento de<br />

Estu<strong>do</strong>s Institucionais da <strong>Associação</strong> <strong>Paulista</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>. Em nenhum momento ali se prega o<br />

estancamento da criação de cargos. Ao contrário, a “estabilização <strong>do</strong>s quadros” da carreira aparece como<br />

uma das últimas etapas de implantação <strong>do</strong> novo modelo (pág. 199 <strong>do</strong> trabalho divulga<strong>do</strong> à Classe). O que<br />

ali se propõe é a a<strong>do</strong>ção de princípios básicos de administração, como informação (sistemas de informações<br />

sociais e gerenciais), transparência absoluta <strong>do</strong> sistema (a fim de que to<strong>do</strong>s conheçam os critérios da Administração<br />

e a atuação de cada um) e planejamento (estabelecimento responsável de metas e adequação <strong>do</strong>s<br />

recursos às prioridades institucionais - págs. 101 e seguintes) (...) Um sistema mais moderno e transparente<br />

com certeza ensejaria melhor gerenciamento, desde logo, <strong>do</strong>s novos cargos a serem cria<strong>do</strong>s (...) Se o espírito<br />

da proposta encerrasse um “argumento conserva<strong>do</strong>r, responsável pelo desencadeamento de uma prática<br />

imobilista na Instituição”, como considerou o nobre Conselheiro Garri<strong>do</strong>, em sua fala da reunião passada,<br />

acredito que ela não teria si<strong>do</strong> aprovada, como foi, por unanimidade, depois de três dias de debates com<br />

a Classe em Lins, debates <strong>do</strong>s quais participaram, democraticamente, assessores da Procura<strong>do</strong>ria-Geral de<br />

Justiça e o próprio Procura<strong>do</strong>r-Geral de hoje, na época Chefe de Gabinete (...) To<strong>do</strong>s esses fatos parecem<br />

e revelam ser indeclinável enfrentar a questão. Se assim é, que isso se faça por to<strong>do</strong>s, de forma aberta e<br />

transparente, com enfoque técnico-institucional, com espírito desarma<strong>do</strong> e sem contaminações políticas<br />

(...) gostaria de propor que o debate fosse aberto à participação da Classe, em evento próprio que poderia<br />

contar com especialistas em Administração Pública, com sociólogos e estudiosos externos <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> (...)”<br />

(Conselheiro Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz, reunião <strong>do</strong> CSMP de 14/2/06).<br />

32 www.apmp.com.br


“No tocante ao pronunciamento <strong>do</strong> ilustre Conselheiro Antonio Augusto, tenho algumas considerações<br />

a fazer. De fato, atualmente, diante da necessidade de dar continuidade ao desempenho das nobres funções<br />

que a Constituição Federal e leis infraconstitucionais cometeram aos membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>,<br />

torna-se imperiosa a existência de uma estrutura material e de recursos humanos compatíveis com essa<br />

necessidade. Para tanto, deve o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> buscar recursos que permitam aparelhar materialmente<br />

as Promotorias de Justiça, com prédios próprios, equipamentos e mobiliário compatível com a dignidade<br />

das funções desempenhadas pelos integrantes <strong>do</strong> Parquet. Paralelamente, deve ser preenchida - logo - uma<br />

significativa lacuna existente no campo funcional, qual seja, a criação <strong>do</strong>s cargos absolutamente necessários<br />

para que os membros da Instituição, principalmente os de primeira instância, possam dar conta, sem<br />

sacrifício da saúde e, às vezes, da própria vida, de suas intensas tarefas (...) É quase desumano o trabalho de<br />

boa parte <strong>do</strong>s Promotores de Justiça, devi<strong>do</strong> à falta de cargos, que a egrégia Procura<strong>do</strong>ria Geral de Justiça<br />

quer preencher o quanto antes, mas não o faz, dada a grande dificuldade encontrada na persecução desse<br />

objetivo, consistente na não-realização de concursos de ingresso na carreira ou na sua realização para o<br />

preenchimento de pouquíssimos cargos, como se dá com o concurso em andamento. As razões que impedem<br />

a admissão de maior número de Promotores de Justiça, com o devi<strong>do</strong> respeito, parecem não atender<br />

aos interesses sociais. Concor<strong>do</strong> com o nobre Conselheiro Antonio Augusto quan<strong>do</strong> afirma que ‘é preciso<br />

atacar as causas (a etiologia) <strong>do</strong> problema e não as suas conseqüências (patologia), dentre as quais a necessidade<br />

de contínua criação de cargos’. Tal medida, de fato, é necessária, mas ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> preenchimento<br />

<strong>do</strong>s cargos hoje existentes na carreira, porque o interesse social o exige (...) Esta questão, por ser de fundamental<br />

importância, a nosso ver, deve contar com o apoio de to<strong>do</strong>s os segmentos da Instituição e não se<br />

revestir de colori<strong>do</strong> político, aliás, como reconhece o i. Conselheiro Antonio Augusto. Por isso, enten<strong>do</strong> ser<br />

de suma importância que essa questão seja amplamente debatida pela classe (...)”<br />

(Conselheiro Marco Antonio Zanellato, reunião <strong>do</strong> CSMP de 14/2/06).<br />

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33


MP em Foco<br />

Cenas <strong>do</strong> próximo capítulo<br />

MODERNIZAÇÃO DA<br />

ESTRUTURA DE APOIO<br />

34 www.apmp.com.br<br />

SAIBA COMO...<br />

... evitar o inchaço na carreira com<br />

uma boa estrutura de apoio!<br />

- MELHORIA NO ORÇAMENTO DO MP<br />

- INTER-RELACIONAMENTO COM A<br />

SOCIEDADE<br />

- INCLUSÃO DO MP NO CENTRO DO DE-<br />

BATE DAS GRANDES QUESTÕES INSTITU-<br />

CIONAIS<br />

- ESTABELECIMENTO DE PRIORIDADES<br />

E METAS<br />

- TRANSFORMAÇÃO DO PROMOTOR EM<br />

AGENTE POLÍTICO<br />

- AFERIÇÃO OBJETIVA DO<br />

MERECIMENTO<br />

- DESPOLITIZAÇÃO DAS DECISÕES AD-<br />

MINISTRATIVAS E GERENCIAIS<br />

- AVALIAÇÕES CORRECIONAIS MAIS<br />

JUSTAS<br />

- REDISTRIBUIÇÃO EQUÂNIME DO<br />

SERVIÇO<br />

- CRITÉRIOS OBJETIVOS PARA A<br />

CRIAÇÃO E DESNOMENCLATURAÇÃO<br />

DE CARGOS<br />

SAIBA POR QUE...<br />

...há tanto desequilíbrio na<br />

distribuição de recursos ao promotor<br />

de justiça!<br />

... e saiba muito mais<br />

nesta seção da APMP em<br />

Reflexão.<br />

A APMP agradece a colaboração de to<strong>do</strong>s os associa<strong>do</strong>s com críticas e sugestões.<br />

Aproveite, também, para sanar eventuais dúvidas sobre o novo modelo de gestão:<br />

estu<strong>do</strong>sinstitucionais@apmp.com.br


ALVÍSSARAS!<br />

Mais de seis meses depois da edição <strong>do</strong> Ato Normativo nº. 402-PGJ/CPJ/CSMP/CGMP, de 27 de julho<br />

de 2005, finalmente foi constituída pela portaria nº. 932/2006, de 17/2/06, a comissão de estu<strong>do</strong>s para<br />

implantar o banco de da<strong>do</strong>s institucional <strong>do</strong> MP. Esperamos que o início <strong>do</strong>s trabalhos seja imediato.<br />

Veja os integrantes da comissão:<br />

- promotores de justiça Alberto Carlos<br />

Dib Jr. e Tatiana Viggiani Bicu<strong>do</strong> (representantes<br />

da PGJ);<br />

- procura<strong>do</strong>res de justiça Fernan<strong>do</strong> José<br />

Marques e Herberto Magalhães Silveira Jr.<br />

(representantes <strong>do</strong> Órgão Especial);<br />

- procura<strong>do</strong>res de Justiça Daniel Roberto<br />

Fink e José Oswal<strong>do</strong> Molineiro (representantes<br />

<strong>do</strong> Conselho Superior);<br />

- promotores de justiça Eduar<strong>do</strong> Roberto<br />

Alcântara Del Campo e Roberto Fleury de Souza<br />

(representantes da Correge<strong>do</strong>ria-Geral).<br />

- procura<strong>do</strong>res de Justiça Antonio Augusto<br />

Mello de Camargo Ferraz e Lúcia Maria Casali<br />

de Oliveira (representantes da APMP).<br />

Desejamos boa sorte aos membros da comissão. E<br />

que recebam da PGJ toda a estrutura e o auxílio necessários<br />

ao bom andamento <strong>do</strong>s trabalhos. Aliás, causanos<br />

um pouco de preocupação a declaração <strong>do</strong> nosso<br />

Procura<strong>do</strong>r-Geral feita na reunião de 7 de fevereiro<br />

último <strong>do</strong> Conselho Superior, de que “foi firma<strong>do</strong> um<br />

convênio com a Fundação SEADE e o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

passará a dispor, em breve, ainda neste mês, de um<br />

banco de da<strong>do</strong>s institucionais, onde constem informações<br />

institucionais, administrativas e sociais”.<br />

O banco de da<strong>do</strong>s é algo que sempre desejamos. Mas<br />

por que a resistência da PGJ de que de sua elaboração<br />

participem to<strong>do</strong>s os órgãos da Administração Superior<br />

e a APMP? Quem administrará esse banco, somente a<br />

PGJ? E por que medida dessa importância só foi anunciada<br />

quinze dias antes da desincompatibilização <strong>do</strong><br />

Procura<strong>do</strong>r-Geral para concorrer à recondução?<br />

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35


Direto <strong>do</strong>s EUA<br />

Keith Rosenn<br />

Em suas andanças pelas Cortes <strong>do</strong>s EUA,<br />

onde atua como advoga<strong>do</strong> em algumas causas,<br />

freqüentemente o associa<strong>do</strong> da APMP Renato<br />

Guimarães Jr. promotor de justiça aposenta<strong>do</strong>,<br />

faz contatos com juristas norte-americanos não<br />

muito conheci<strong>do</strong>s no Brasil, apesar da notoriedade<br />

de que desfrutam naquele país.<br />

Uma dessas personalidades é o Professor<br />

APMP em Reflexão: Qual a razão de seu interesse<br />

pelo direito brasileiro?<br />

Keith Rosenn: Eu lecionava sobre Direito e Desenvolvimento<br />

na América Latina na Universidade de Ohio<br />

em 1965, mas logo descobri que seria impossível entender<br />

como funciona o direito no continente sem sair<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Assim, por meio da Fundação Ford,<br />

passei <strong>do</strong>is anos no Rio de Janeiro trabalhan<strong>do</strong> num<br />

projeto <strong>do</strong> CEPED (Centro de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas sobre<br />

o Ensino de Direito), que me ofereceu um curso de<br />

pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro. O diretor <strong>do</strong> CEPED era o Professor Caio Tácito,<br />

que contava com uma equipe de juristas e economistas<br />

famosos como Alfre<strong>do</strong> Lamy Filho, Arnol<strong>do</strong> Wald,<br />

Alberto Venâncio Filho e Mário Henrique Simonsen.<br />

36 www.apmp.com.br<br />

analisa a Justiça e<br />

o MP <strong>do</strong> Brasil<br />

Keith Rosenn, considera<strong>do</strong> por muitos o maior conhece<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> direito brasileiro nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Pai de uma promotora no Esta<strong>do</strong> de New<br />

Hampshire e de um advoga<strong>do</strong> especialista em<br />

ações civis públicas contra a indústria <strong>do</strong> tabaco,<br />

o Professor Rosenn concedeu entrevista à<br />

APMP em Reflexão na Universidade de Miami,<br />

onde leciona.<br />

Comecei a escrever sobre o direito <strong>do</strong> Brasil e de outros<br />

países da região.<br />

APMP: A estada no Brasil rendeu frutos também na<br />

vida pessoal, não é mesmo?<br />

KR: Sim, em 1968 me casei com uma carioca, que me<br />

leva de volta ao Brasil muito mais <strong>do</strong> que aos outros<br />

países da América Latina, como meus artigos e livros<br />

revelam.<br />

APMP: O que acha da Reforma <strong>do</strong> Judiciário feita<br />

no Brasil?<br />

KR: O Brasil precisa de uma boa reforma judiciária. A<br />

Emenda Constitucional nº 45 é um passo na direção<br />

certa, mas, sozinha, não resolverá os problemas. Ne-


cessita de legislação complementar e de providências<br />

<strong>do</strong>s órgãos judiciários para a reforma funcionar na prática.<br />

É útil a exigência de experiência de três anos para<br />

os candidatos às carreiras jurídicas, mas isso ainda não<br />

é suficiente.<br />

APMP: Por quê?<br />

KR: O juiz deve fazer cursos para se aperfeiçoar e tornar<br />

o Judiciário mais rápi<strong>do</strong>. O juiz que não for ágil não<br />

deve ser promovi<strong>do</strong>. A criação <strong>do</strong> Conselho Nacional<br />

de Justiça foi uma boa iniciativa, principalmente para<br />

tornar o Poder Judiciário mais transparente.<br />

APMP: E as reformas processuais?<br />

KR: Há de se modificar os Códigos de Processo Ci-<br />

vil e Penal para cortar bastante o número de recursos,<br />

principalmente os interlocutórios.<br />

O processo deveria ser mais oral e menos escrito<br />

e as decisões de primeira instância deveriam ter<br />

maior autoridade, restringin<strong>do</strong>-se as apelações e<br />

diminuin<strong>do</strong> a competência <strong>do</strong> STF e <strong>do</strong> STJ. Ambos,<br />

aliás, deveriam poder declinar de casos de<br />

pouca importância. É absur<strong>do</strong> o STF julgar mais de<br />

100.000 recursos por ano, especialmente porque<br />

a grande maioria desses casos não tem a menor<br />

repercussão para o País. O ideal é que, em regra,<br />

uma sentença transite em julga<strong>do</strong> no máximo em<br />

<strong>do</strong>is anos.<br />

Há, pois, um longo caminho até se atingir um Poder<br />

Judiciário menos moroso.<br />

www.apmp.com.br<br />

37


Direto <strong>do</strong>s EUA<br />

APMP: A lentidão <strong>do</strong>s processos judiciais é um problema<br />

típico <strong>do</strong>s países não desenvolvi<strong>do</strong>s?<br />

KR: To<strong>do</strong> país tem problema de demora judicial. Mas<br />

isso é natural. Se o caso é rápi<strong>do</strong> demais, não há justiça.<br />

Há de se dar tempo para o advoga<strong>do</strong> preparar o<br />

caso, tempo para o Juiz estudá-lo e tempo para eventual<br />

apelação. Não é o tipo de trabalho que possa<br />

ser feito de maneira rapidíssima. Suspeito demais da<br />

justiça de um país onde a acusação é num dia, o julgamento<br />

no outro e a execução no terceiro dia, sem<br />

apelação. Isso não é justiça. Mas no Brasil, de mo<strong>do</strong><br />

geral, a Justiça é lenta demais. Desestimular a apelação<br />

é primordial, assim como aumentar a tutela antecipada<br />

e eliminar o número de recursos com efeito<br />

suspensivo.<br />

APMP: Mas o Esta<strong>do</strong>, como parte processual, tem<br />

grande responsabilidade nessa lentidão...<br />

KR: Os juízes devem impor sanções para os abusos<br />

processuais procrastinatórios e as apelações protelatórias.<br />

E essas sanções devem ser aplicadas para o<br />

governo também, que mais abusa <strong>do</strong> sistema. Uma<br />

reforma útil deveria podar as numerosas vantagens<br />

processuais <strong>do</strong> governo. Uma das piores disposições<br />

na Constituição é a Emenda nº 30, de 2000, que concede<br />

o direito de parcelar em dez anos o pagamento<br />

de precatórios judiciais.<br />

Essa emenda é incompatível com o Esta<strong>do</strong> de Direito.<br />

38 www.apmp.com.br<br />

APMP: Qual a estrutura <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s?<br />

KR: Não temos a instituição <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> tal<br />

como no Brasil. Temos o Departamento de Justiça Federal<br />

(DJ), cujos promotores, chama<strong>do</strong>s U.S. Attorneys,<br />

processam acusa<strong>do</strong>s de crimes federais. Cada Esta<strong>do</strong> e<br />

município têm promotores eleitos com atribuições similares.<br />

O DJ e os promotores estaduais são parte <strong>do</strong><br />

Poder Executivo.<br />

APMP: E como é a forma de atuar desses promotores?<br />

KR: Os promotores têm uma discricionariedade quase<br />

absoluta de processar ou não alguém. Para crimes federais,<br />

o promotor federal pode se valer <strong>do</strong> Grande Júri,<br />

composto de 16 a 23 cidadãos, que devem determinar<br />

se existe “causa provável” de que o alvo <strong>do</strong> inquérito cometeu<br />

um crime federal. Alguns Esta<strong>do</strong>s usam o Grande<br />

Suspeito demais da Justiça de um<br />

país onde a acusação é num dia, o<br />

julgamento no outro e a execução<br />

no terceiro dia, sem apelação.<br />

Isso não é justiça. Mas no Brasil,<br />

de mo<strong>do</strong> geral, a Justiça é lenta<br />

demais. Desestimular a apelação é<br />

primordial, assim como aumentar<br />

a tutela antecipada e<br />

eliminar o número<br />

de recursos<br />

com efeito<br />

suspensivo.


Um perfil de<br />

Keith Rosenn<br />

Forma<strong>do</strong> em Yale, foi assessor no Tribunal<br />

Federal de Recursos e já advogou em conjunto<br />

com um escritório brasileiro. Publicou<br />

seis livros e numerosos artigos jurídicos. Atualmente,<br />

é diretor <strong>do</strong> Programa de Direito<br />

Compara<strong>do</strong> da Universidade de Miami, onde<br />

leciona Direito Constitucional, Direito Compara<strong>do</strong><br />

e Direito Interamericano. É requisita<strong>do</strong><br />

árbitro internacional, parecerista e perito<br />

judicial em Direito Brasileiro.<br />

Júri, outros não. Mais ou menos 90% <strong>do</strong>s casos penais<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s são resolvi<strong>do</strong>s sem contencioso, por<br />

meio <strong>do</strong> instituto da plea bargaining, um processo de<br />

negociação entre o advoga<strong>do</strong> de defesa e o promotor. O<br />

réu concorda em confessar sua culpa ao juiz em troca de<br />

uma redução na pena ou supressão de outras acusações.<br />

O papel <strong>do</strong> juiz é basicamente de homologar esse acor<strong>do</strong><br />

entre a Promotoria e a Defesa.<br />

APMP: Membros da American Bar Association e da<br />

International Bar Association, reuni<strong>do</strong>s em Atlanta,<br />

repudiaram por unanimidade os três votos <strong>do</strong><br />

STF contra o poder investigatório <strong>do</strong> promotor de<br />

justiça. Como está a expectativa da comunidade<br />

jurídica internacional quanto ao desfecho desse<br />

julgamento?<br />

KR: Não se pode interpretar a Constituição <strong>do</strong> Brasil<br />

para impor restrições ao poder de o promotor investigar<br />

um crime. O Brasil já tem fama de um país com<br />

grande impunidade. Se o Supremo decidir que o promotor<br />

não pode investigar certos casos, a reputação <strong>do</strong><br />

Brasil nesse particular só vai piorar.<br />

APMP: Como os promotores americanos divulgam à sociedade<br />

o resulta<strong>do</strong> de sua atuação? Fornecem declarações<br />

escritas à imprensa ou concedem entrevistas?<br />

KR: As formas de divulgação variam, mas os promotores<br />

americanos não falam enquanto investigam. Só<br />

quan<strong>do</strong> houver uma acusação, aí o mais comum é fornecer<br />

algumas declarações à imprensa, dan<strong>do</strong> alguns<br />

da<strong>do</strong>s, mas não to<strong>do</strong>s os detalhes. É comum promotores<br />

terem um assessor para falar à imprensa sobre<br />

as denúncias, mas são pessoas geralmente discretas e<br />

que falam “por alto” apenas sobre a natureza <strong>do</strong> crime.<br />

Tu<strong>do</strong> isso para evitar o “julgamento pela mídia”.<br />

APMP: O que mudará na vida <strong>do</strong>s norte-americanos<br />

com o recente ingresso de John Roberts e Samuel<br />

Alito na Suprema Corte?<br />

KR: É sempre difícil prever como qualquer juiz irá julgar<br />

casos concretos uma vez empossa<strong>do</strong> na Suprema Corte.<br />

Muitos presidentes foram surpreendi<strong>do</strong>s e ficaram<br />

decepciona<strong>do</strong>s com os juízes que escolheram. Roosevelt<br />

escolheu Holmes e disse: “Eu poderia fazer de uma<br />

banana podre uma pessoa com mais espinha <strong>do</strong>rsal <strong>do</strong><br />

que aquele camarada”. O presidente Eisenhower, que<br />

queria selecionar <strong>do</strong>is juristas conserva<strong>do</strong>res, acabou<br />

nomean<strong>do</strong> <strong>do</strong>is juízes bem liberais (Earl Warren e<br />

William Brennan). Ninguém sabe como esses indica<strong>do</strong>s<br />

por Bush irão votar nos casos concretos, mas ambos<br />

são muito qualifica<strong>do</strong>s, têm credenciais impressionantes.<br />

A Corte está agora equilibrada, muito sutilmente,<br />

entre modera<strong>do</strong>s e conserva<strong>do</strong>res. To<strong>do</strong>s queremos ver<br />

como essa história vai acabar.<br />

______________________________________________<br />

A APMP em Reflexão agradece ao<br />

associa<strong>do</strong> Renato Guimarães Jr.<br />

pela realização da entrevista.<br />

www.apmp.com.br<br />

39


Previdência Complementar<br />

Tu<strong>do</strong> o que você<br />

sempre quis<br />

saber sobre<br />

previdência<br />

complementar<br />

Sob o argumento de evitar a falência <strong>do</strong> sistema<br />

previdenciário no país, o Governo tem feito importantes<br />

alterações na legislação da previdência, tanto na<br />

oficial quanto na complementar.<br />

Na esteira das mudanças, a procura por planos de<br />

previdência cresceu nos últimos 10 anos a uma taxa<br />

média de 30% ao ano. Os planos de previdência complementar<br />

tornaram-se uma das principais alternativas<br />

para quem planeja a manutenção <strong>do</strong> padrão de<br />

vida na aposenta<strong>do</strong>ria.<br />

Os produtos de previdência mais procura<strong>do</strong>s no<br />

merca<strong>do</strong> respondem pelos nomes de PGBL (Plano Gera<strong>do</strong>r<br />

de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gera<strong>do</strong>r de Benefício<br />

Livre). A busca por esse tipo de plano tem si<strong>do</strong><br />

grande, inclusive por servi<strong>do</strong>res públicos cuja renda<br />

familiar está acima <strong>do</strong> teto de benefício da Previdência<br />

Social (INSS) garanti<strong>do</strong> pelo governo.<br />

Toda essa procura tem um porquê. As mudanças<br />

recentes na legislação da previdência complementar<br />

trouxeram vantagens para aqueles que desejam in-<br />

40 www.apmp.com.br<br />

As vantagens <strong>do</strong>s planos de<br />

Previdência Complementar<br />

Os <strong>do</strong>is planos mais procura<strong>do</strong>s de previdência<br />

complementar são o PGBL (Plano Gera<strong>do</strong>r de Benefício<br />

Livre) e o VGBL (Vida Gera<strong>do</strong>r de Benefício Livre).<br />

A grande diferença entre o PGBL e o VGBL está<br />

no tratamento fiscal conferi<strong>do</strong> a cada um deles.<br />

Por meio <strong>do</strong> PGBL o cliente realiza aportes para<br />

o plano, que são aplica<strong>do</strong>s em um FIC (Fun<strong>do</strong> de<br />

Investimento em Cotas de Fun<strong>do</strong>s de Investimento<br />

Especialmente Constituí<strong>do</strong>s). É mais vantajoso<br />

para quem faz a declaração <strong>do</strong> imposto de renda<br />

através <strong>do</strong> formulário completo, já que é possível<br />

deduzir o valor das contribuições realizadas ao<br />

plano da base de cálculo <strong>do</strong> Imposto de Renda, até<br />

o limite de 12% da renda bruta anual (desde que


o cliente também contribua para a Previdência<br />

Social - INSS ou regime próprio).<br />

O PGBL é bastante flexível e permite que os<br />

recursos aplica<strong>do</strong>s no plano sejam resgata<strong>do</strong>s<br />

(respeitan<strong>do</strong>-se o prazo de carência).<br />

Enquanto no PGBL há incidência de imposto<br />

de renda sobre o total resgata<strong>do</strong> ou recebi<strong>do</strong><br />

como renda, no VGBL a tributação incide somente<br />

sobre o ganho das aplicações financeiras.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, o VGBL é mais indica<strong>do</strong> para quem<br />

faz declaração simplificada ou não é tributa<strong>do</strong> na<br />

fonte, como os autônomos.<br />

Além disso, é uma ótima opção para investi<strong>do</strong>res<br />

que já excederam o limite de dedução<br />

<strong>do</strong> imposto em um plano de previdência complementar,<br />

como o PGBL, mas querem investir<br />

mais no seu futuro financeiro.<br />

vestir a longo prazo. Novidades como benefícios tributários,<br />

amplia<strong>do</strong>s em 2005 com a criação da Tabela<br />

Regressiva, seduziram investi<strong>do</strong>res que visam retorno<br />

em prazos mais longos. Pela nova tabela, as alíquotas<br />

começam em 35%, para um prazo de permanência de<br />

até <strong>do</strong>is anos no plano, e caem cinco pontos percentuais<br />

a cada <strong>do</strong>is anos, até atingir 10%, a partir <strong>do</strong><br />

décimo ano.<br />

Compara<strong>do</strong>s com os fun<strong>do</strong>s de investimento tradicionais,<br />

os planos também se destacam. Além de<br />

liquidez e flexibilidade para a escolha <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> adequa<strong>do</strong><br />

ao perfil <strong>do</strong> investi<strong>do</strong>r, oferecem ainda a possibilidade<br />

de dedução das contribuições no Imposto<br />

de Renda. Outra vantagem é a chance de transferir os<br />

investimentos para outro fun<strong>do</strong> de previdência, sem<br />

pagar IR.<br />

Segun<strong>do</strong> Agnal<strong>do</strong> Andrade, diretor da Icatu Hartford,<br />

maior segura<strong>do</strong>ra independente <strong>do</strong> país, nos<br />

planos de previdência privada também não existem<br />

os ‘come-cotas’, o Imposto de Renda semestral sobre<br />

o ganho de capital existente nos fun<strong>do</strong>s de investimentos<br />

tradicionais. “Por tu<strong>do</strong> isso, a aplicação nos<br />

planos de previdência se torna imbatível no longo<br />

prazo”, afirma.<br />

Outro importante incentivo à previdência complementar<br />

foi a aprovação da “MP <strong>do</strong> Bem”. A partir<br />

deste ano, clientes de previdência complementar poderão<br />

usar suas reservas para ajudar na compra da<br />

casa própria. Desde o início de 2006, quem tem um<br />

plano de previdência complementar poderá usar o dinheiro<br />

da reserva como complemento para a compra<br />

da casa própria ou como garantia para o aluguel de<br />

imóveis. Esse benefício é garanti<strong>do</strong> pela Lei 11.196, a<br />

“MP <strong>do</strong> Bem”, aprovada no final <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> pelo<br />

Governo. A medida ainda deve ser analisada e regulamentada<br />

pela Superintendência de Seguros Priva<strong>do</strong>s<br />

(Susep) e pela Secretaria Nacional de Previdência<br />

Complementar (SPC).<br />

Mas qual o momento certo de começar a investir<br />

num plano? Na opinião de Regina Prataviera, Gerente<br />

de Produtos de Previdência Privada <strong>do</strong> BankBoston,<br />

quanto antes, melhor. “Assim, mais tempo seu dinheiro<br />

terá para render. O ideal é que a renda mensal projetada<br />

seja de pelo menos 70% da renda <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r<br />

em seu perío<strong>do</strong> produtivo”, complementa.<br />

E mais: de acor<strong>do</strong> com Regina, “para garantir a<br />

concretização de seus planos no futuro, é fundamental<br />

contar com uma boa assessoria para conhecer as<br />

diferenças entre os planos existentes e escolher a melhor<br />

regra de tributação para o seu caso. Para isso, a<br />

ajuda de especialistas torna-se indispensável”.<br />

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41


Cultura & Lazer<br />

om Qui<br />

DUm clássico nasci<strong>do</strong><br />

Personagens de um mun<strong>do</strong> de sonhos. Um cavaleiro<br />

andante e seu fiel escudeiro saem pela Espanha à procura<br />

de aventuras. Essa história, em princípio simples,<br />

elevou seu cria<strong>do</strong>r ao posto de um <strong>do</strong>s maiores nomes<br />

da literatura mundial. Falamos <strong>do</strong> espanhol Miguel de<br />

Cervantes que, em 1605, escreveu a obra-prima El ingenioso<br />

hidalgo Don Quijote de La Mancha.<br />

Muitos não sabem, mas a história clássica de Dom<br />

Quixote de La Mancha nasceu na prisão.<br />

Cervantes fora preso em Sevilha, na Espanha, por<br />

causa de dívidas. Durante os três meses em que permaneceu<br />

no cárcere, iniciou a obra que se tornaria sucesso<br />

mundial.<br />

Mesclan<strong>do</strong> realidade com imaginação, ele confunde<br />

o leitor ao mostrar um universo fictício através <strong>do</strong>s<br />

sonhos <strong>do</strong> personagem Dom Quixote.<br />

Não se sabe ao certo a verdadeira intenção de Miguel<br />

de Cervantes (1547-1616) com o seu Dom Quixote,<br />

mas o fato é que essa obra pode ser considerada o<br />

mais universal <strong>do</strong>s romances. Se levarmos em conta o<br />

número de edições, os idiomas em que a obra foi traduzida<br />

e tu<strong>do</strong> o que foi escrito sobre ela, não há outra<br />

mais popular.<br />

O Quixote é um mun<strong>do</strong> em si. Quase toda a nature-<br />

42 www.apmp.com.br<br />

za humana está ali: as paixões, os instintos generosos e<br />

os destrutivos, a sabe<strong>do</strong>ria e a ignorância, a aventura e<br />

a reflexão, o belo e o ridículo, o lógico e o absur<strong>do</strong>.<br />

A genuinidade de sua obra é revelada por cenas<br />

de inegável senso de humor, que se alternam com situações<br />

dramáticas e momentos de desespero. Dom<br />

Quixote luta por seus ideais em um mun<strong>do</strong> que não o<br />

aceita e que ele não compreende. Por trás dessa luta,<br />

sobram a derrota e a resignação.<br />

O nobre en<strong>do</strong>ideci<strong>do</strong> andava pela Espanha como se<br />

fosse um desses grandes heróis <strong>do</strong>s livros de cavalaria.<br />

Mas para que sua aventura fosse parecida com as maravilhosas<br />

proezas daqueles heróis, a imaginação delirante de<br />

Quixote fez alguns ajustes na realidade. Tratava monges<br />

como feiticeiros e lutava com moinhos de vento como<br />

se fossem gigantes malfeitores, convencen<strong>do</strong>-se de que<br />

apenas homens destemi<strong>do</strong>s como ele poderiam derrotálos<br />

e, assim, trazer paz e justiça para a Espanha.<br />

Como surgiu O homem de La<br />

Mancha?<br />

Na época de Cervantes os livros de cavalaria eram<br />

muito populares. Narravam-se histórias fantásticas, com


xote:<br />

na prisão...<br />

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43


Cultura & Lazer<br />

personagens nobres, puros e que lutavam pelo amor, paz<br />

e justiça. Miguel de Cervantes resolveu inovar e criou<br />

um personagem que, de tanto ler esses livros, tentou<br />

imitar seus heróis. Assim ele foi leva<strong>do</strong> à loucura. Assim<br />

nasceu Dom Quixote e o romance moderno.<br />

A marca <strong>do</strong> estilo de Cervantes é a complexidade<br />

de seus personagens. Antes dele, os participantes<br />

da trama nada mais eram <strong>do</strong> que elementos de uma<br />

aventura. Por isso, apenas a faceta da personalidade <strong>do</strong><br />

personagem que convinha ao desenvolvimento dessa<br />

aventura era apresentada ao leitor.<br />

Por ser um homem <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de fino senso de humor<br />

e atento à sociedade de sua época, Cervantes considerava<br />

ridículo o apego desmesura<strong>do</strong> aos livros de cavalaria.<br />

Para ele e outros intelectuais da época, tal leitura<br />

era prejudicial, pois distraía o leitor a ponto de afastálo<br />

da realidade. Cervantes tencionava fazer um favor à<br />

sociedade, denuncian<strong>do</strong> esses aspectos negativos sob a<br />

forma de paródia.<br />

O sonha<strong>do</strong>r Dom Quixote é um fidalgo de aldeia<br />

mais ou menos acomoda<strong>do</strong> com sua fazenda e seus<br />

afazeres basea<strong>do</strong>s no ócio e na leitura. Cervantes escolheu<br />

esse tipo de vida simples para aumentar o contraste<br />

com a loucura que pouco a pouco vai <strong>do</strong>minan<strong>do</strong><br />

o protagonista.<br />

Essa perturbação faz com que ele veja a si mesmo<br />

como um cavaleiro andante. Aos poucos, porém, a situação<br />

inicial dá lugar a uma mudança em sua atitude.<br />

Dom Quixote, desiludi<strong>do</strong>, vê cada vez com maior clareza<br />

a crua realidade da qual tanto se afastara.<br />

Embora Cervantes se empenhasse em depreciar o<br />

romance picaresco, nas páginas de Dom Quixote há<br />

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muito de Lazarillo de Tormes, novela de autor desconheci<strong>do</strong><br />

que inaugurou o gênero na Espanha. Pode-se<br />

dizer que Dom Quixote resume o melhor da prosa renascentista<br />

espanhola: há ecos da elegância <strong>do</strong>s poetas<br />

nos discursos de Dom Quixote, da sabe<strong>do</strong>ria popular<br />

nas falas de Sancho Pança e também da vulgaridade<br />

direta e sincera <strong>do</strong> homem humilde.<br />

Trata-se de um retrato irônico e satírico da Espanha<br />

imperial e guerreira, ten<strong>do</strong> o idealismo e o realismo<br />

renascentistas simboliza<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>is personagens centrais:<br />

Dom Quixote representa o la<strong>do</strong> espiritual, sublime<br />

e nobre da natureza humana e Sancho Pança vive o<br />

aspecto materialista, rude e animal.<br />

A história de um inova<strong>do</strong>r<br />

Considera<strong>do</strong> o mais importante nome literário da<br />

Espanha, Miguel de Cervantes Saavedra nasceu em<br />

Alcalá de Henares em 1547. Quan<strong>do</strong> jovem viveu em<br />

Valla<strong>do</strong>lid e em Madri e aos 22 anos se mu<strong>do</strong>u para a<br />

Itália. Filho de um cirurgião que se apresentava como<br />

nobre e de mãe de origem judia convertida ao cristianismo,<br />

pouco se sabe de sua infância.<br />

Entrou para o Exército e lutou na Batalha de Lepanto,<br />

na qual perdeu a mão esquerda. Quatro anos<br />

depois, foi prisioneiro de corsários turcos, mas fugiu.<br />

Casou-se com Catalina de Palácios, mas o matrimônio


pouco durou, desgasta<strong>do</strong> pela resistência da esposa em<br />

aceitar a filha ilegítima de Cervantes, Isabel.<br />

Coletor de impostos, o autor até então apenas da<br />

novela Galatéia foi preso por supostas fraudes na arrecadação.<br />

Somente depois de sair <strong>do</strong> cárcere sua carreira<br />

de escritor deslanchou, justamente com a publicação<br />

<strong>do</strong> Homem de La Mancha.<br />

Dom Quixote fez tanto sucesso que um anônimo, de<br />

identidade até hoje não revelada, publicou, sob o pseudônimo<br />

de Alonso Fernández Avellaneda, uma segunda<br />

parte falsa <strong>do</strong> romance.<br />

Com o passar das décadas e séculos, El ingenioso<br />

hidalgo Don Quijote de La Mancha foi amplamente difundi<strong>do</strong>,<br />

até se tornar um <strong>do</strong>s mais li<strong>do</strong>s romances em<br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> Cervantes se tornou escritor, ele já era experiente<br />

na censura da Inquisição. De forma alguma<br />

poderia aceitar que homens perseguissem uns aos outros<br />

em nome de Deus. O autor de Dom Quixote existiu<br />

na época em que, para viver em paz na Espanha, a<br />

única garantia era a “pureza de sangue”. Sob o véu da<br />

impunidade, o escritor cria um sistema que lhe permite<br />

disparar contra toda a estrutura política, social e religiosa<br />

que o sufocava.<br />

Dom Quixote e Sancho Pança passam por desconcertantes<br />

altos e baixos durante quase toda a narração.<br />

Quixote é insano e sonha<strong>do</strong>r. Sancho, um bruto. A aparente<br />

sensatez de ambos no começo <strong>do</strong> livro é outro<br />

fun<strong>do</strong> falso cria<strong>do</strong> por Cervantes: eles só atuam como<br />

Um sucesso<br />

mundial!<br />

A história de Dom Quixote encantou<br />

muitas pessoas. No mesmo ano<br />

em que o livro foi lança<strong>do</strong>, foram feitas<br />

seis edições. No que se refere a<br />

traduções, a obra só é superada pela<br />

Bíblia. Além disso, inspirou peças de<br />

teatro, óperas, balés, filmes, programas<br />

e até desenhos anima<strong>do</strong>s. Os espanhóis<br />

Salva<strong>do</strong>r Dalí e Pablo Picasso<br />

malucos quan<strong>do</strong> isso convém ao seu cria<strong>do</strong>r. Por conta<br />

disso, encontramos em Dom Quixote de La Mancha<br />

diálogos memoráveis entremea<strong>do</strong>s por momentos de<br />

loucura. A lógica <strong>do</strong> absur<strong>do</strong> é o código vital de Cervantes.<br />

Afinal, não era tarefa simples se meter com o<br />

Santo Ofício, principalmente se tratan<strong>do</strong> da Inquisição<br />

espanhola, certamente a mais cruel de todas.<br />

Cervantes sabia retratar da melhor forma essa situação<br />

sem apresentar explicitamente sua real intenção.<br />

Os moinhos de vento de Dom Quixote eram, na verdade,<br />

a Inquisição, os padres dissolutos e farisaicos, a<br />

iniqüidade, a corrupção, a vida sofrida <strong>do</strong> povo, o maior<br />

valor conferi<strong>do</strong> ao homem submisso <strong>do</strong> que ao homem<br />

racional. Tu<strong>do</strong> sob a máscara <strong>do</strong> cavaleiro louco e <strong>do</strong><br />

camponês simplório.<br />

Esse era o traço marcante da obra de Cervantes:<br />

uma crítica contra a hipocrisia <strong>do</strong> poder e da falsa idéia<br />

de nobreza – uma das muitas vergonhas que a história<br />

carrega e que tanto mal causou à liberdade de expressão<br />

da cultura espanhola. A alegoria de Dom Quixote<br />

de La Mancha serve de exemplo para tantos episódios<br />

que a História produziu e ainda produz. O fidalgo da<br />

Triste Figura ainda vive, passa<strong>do</strong>s quatro séculos, e sua<br />

saga continua.<br />

Apesar <strong>do</strong> sucesso de sua obra-prima, Cervantes era<br />

um homem pobre, solitário e esqueci<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> morreu<br />

em Madri, no dia 23 de abril de 1616. Mesmo <strong>do</strong>ente,<br />

poucos dias antes de sua morte escreveu o prefácio de<br />

Persiles (publica<strong>do</strong> postumamente em 1617).<br />

e o brasileiro Cândi<strong>do</strong> Portinari foram<br />

alguns <strong>do</strong>s pintores que tentaram dar<br />

forma aos personagens de Cervantes.<br />

O escritor brasileiro Monteiro Lobato<br />

também era fã da história e escreveu<br />

Dom Quixote para crianças, conta<strong>do</strong><br />

por Dona Benta.<br />

A herança de Dom Quixote é tão<br />

forte que existe até um adjetivo – quixotesco<br />

– para se referir aos homens<br />

que, como o cavaleiro, são extremamente<br />

idealistas.<br />

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45


APMP Destinos<br />

Chile<br />

Extremos e<br />

contrastes<br />

Conheci<strong>do</strong> por suas diferenças climáticas e geográficas,<br />

o Chile revela através de suas magníficas<br />

paisagens duas grandes referências naturais, extremas<br />

por sua localização e clima que se contrastam de<br />

norte a sul <strong>do</strong> país, e semelhantes pela beleza fantástica<br />

que apresentam.<br />

Esta diversidade somada à tradicional hospitalidade<br />

e cordialidade de seu povo fazem <strong>do</strong> Chile um <strong>do</strong>s roteiros<br />

mais procura<strong>do</strong>s da América Latina.<br />

Ao norte, está localiza<strong>do</strong> o deserto mais ári<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>, o Atacama, que se destaca por suas paisagens<br />

que lembram nosso satélite, com as fontes naturais<br />

de El Tatio e as grandiosas rochas <strong>do</strong> Vale da Lua. Envolvi<strong>do</strong><br />

em mistério, o cenário lembra filmes de ficção<br />

científica com algumas regiões em que jamais houve<br />

qualquer registro de chuvas.<br />

Ao Sul, chegamos na Patagônia, que engloba a Cor-<br />

46 www.apmp.com.br<br />

O Chile deslumbra poeticamente a visão de quem visita<br />

este país, considera<strong>do</strong> singular por sua característica<br />

que reúne num mesmo território <strong>do</strong>is ícones opostos<br />

da herança natural <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

dilheira <strong>do</strong>s Andes, onde a natureza realmente ousou.<br />

Temos a paisagem indescritível <strong>do</strong> Parque Nacional<br />

Torres del Paine, declara<strong>do</strong> Reserva da Biosfera pela<br />

Unesco. Lá, os animais vivem em plena harmonia: guanacos<br />

e pingüins, assim como o Caiquén, o Nhandu, a<br />

raposa, e o puma.<br />

Atravessan<strong>do</strong> o Estreito de Magalhães, chega-se a<br />

Terra <strong>do</strong> Fogo, portal da gélida Antártida.<br />

Os Parques Nacionais conservam diversas espécies<br />

de flora e fauna. Nas excursões pelo Canal Beagle<br />

pode-se avistar lobos marinhos, pingüins da Península<br />

de Magalhães e corvos-marinhos.<br />

Encravada na Cordilheira <strong>do</strong>s Andes está Santiago,<br />

uma das cidades mais modernas da América <strong>do</strong> Sul. O<br />

alto potencial cultural e comercial faz da cidade pólo<br />

atrativo de turistas por seus inúmeros parques, museus,<br />

igrejas e uma intensa vida noturna.


A melhor época para visitar Santiago é no mês de<br />

novembro, perío<strong>do</strong> que coincide com a famosa Feira<br />

Internacional que reúne diversos produtores internacionais.<br />

Muitos especialistas consideram o vinho chileno<br />

um <strong>do</strong>s melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, graças ao clima ideal<br />

para o plantio e colheita da uva. Além desta requintada<br />

festa, Santiago também atrai visitantes por meio de<br />

seus grandiosos museus como o Museu de História Natural<br />

com coleções pré-colombianas, o Museu de Arte<br />

Contemporânea e o Museu de Solidariedade de Salva<strong>do</strong>r<br />

Allende. Entretanto, seu maior tesouro está nos<br />

parques, com suas reservas maravilhosas próximas à<br />

Cordilheira <strong>do</strong>s Andes.<br />

Atacama: magia pura<br />

Mistério e curiosidade revelam a atmosfera envolvente<br />

<strong>do</strong> Deserto <strong>do</strong> Atacama. Situa<strong>do</strong> no norte <strong>do</strong><br />

Chile, entre a costa <strong>do</strong> Pacífico e a Cordilheira <strong>do</strong>s<br />

Andes, o deserto abriga regiões onde jamais os pluviômetros<br />

foram necessários. A paisagem vazia e a<br />

nitidez <strong>do</strong> céu limpo fazem <strong>do</strong> lugar, palco para observações<br />

astronômicas.<br />

Um fato bastante curioso que intriga cientistas e<br />

arqueólogos no mun<strong>do</strong> inteiro há décadas são as enigmáticas<br />

figuras encrustadas no Atacama. Com mais de<br />

200 metros de comprimento, essas imagens espalhamse<br />

pelo deserto revelan<strong>do</strong> sinais misteriosos que levantam<br />

teorias nas mais diversas partes <strong>do</strong> planeta.<br />

Um <strong>do</strong>s maiores especialistas no assunto, o prof.<br />

Luis Briones Morales, <strong>do</strong> Departamento de Arqueologia<br />

da Universidade de Terapacá, no Chile, defende a<br />

idéia de que os geoglifos eram sinaliza<strong>do</strong>res para os<br />

viajantes que caminhavam pelo deserto. Entre as figuras<br />

pode-se observar imagens de “homens”, arranjos<br />

geométricos, animais da região, enigmáticos círculos,<br />

espirais e “flechas”. Acredita-se que os autores tenham<br />

si<strong>do</strong> os tiwanacotas, que habitaram a região antes de<br />

incas e europeus.<br />

Como as imagens apenas podem ser vistas com sobrevôo,<br />

muitos acreditam que estes sinais são de origem<br />

alienígena.<br />

Não há chuva, logo não há água. Le<strong>do</strong> engano. Como<br />

neblinas e névoas são comuns na região, os habitantes<br />

resolveram o problema da água com uma criativa solução<br />

para armazenar as gotículas das nuvens, que chega<br />

a fornecer 10 mil litros de água por dia!<br />

Apesar <strong>do</strong> clima desfavorável, é possível observar<br />

algumas espécies de plantas que teimam em nascer, e<br />

vulcões neva<strong>do</strong>s, além de oceanos de sal. O fato é que<br />

o Atacama tem uma incrível capacidade de preservar<br />

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47


APMP Destinos<br />

a história – museus guardam a presença <strong>do</strong> homem<br />

há mais de dez mil anos nesta região praticamente<br />

inabitável.<br />

Mistérios à parte, o Deserto <strong>do</strong> Atacama guarda importantes<br />

lega<strong>do</strong>s históricos e arqueológicos. Os mais<br />

impressionantes são as múmias, algumas com mais de<br />

dez milênios. Herança de antigos povos habitantes <strong>do</strong><br />

deserto, principalmente os Chichorros; e também as<br />

ruínas das antigas civilizações.<br />

Sua extensão de aproximadamente 200 km abriga<br />

lagoas coloridas, salinas, gêiseres, vulcões e vales por<br />

onde passam inclusive, alguns riachos de água cristalina.<br />

As temperaturas no deserto variam entre 0ºC à<br />

noite e 40ºC durante o dia. Em função destas condições<br />

existem poucas cidades e vilas no deserto, uma delas<br />

muito conhecida é San Pedro <strong>do</strong> Atacama, que tem<br />

pouco mais de 3.000 habitantes e está a 2.400 metros<br />

de altitude. Considerada um oásis no meio <strong>do</strong> deserto,<br />

a cidade é o principal ponto de encontro de viajantes<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro.<br />

Aventura no paraíso gela<strong>do</strong><br />

Quan<strong>do</strong> se avista pela primeira vez o complexo de<br />

montanhas <strong>do</strong> Parque Nacional de Torres del Paine, no<br />

sul <strong>do</strong> Chile, a sensação é de que se está chegan<strong>do</strong>,<br />

literalmente, ao fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. E isso não tem nada de<br />

ruim... Trata-se de um <strong>do</strong>s poucos cantos da Terra onde<br />

a natureza permanece praticamente intocada.<br />

Situada no extremo meridional da América <strong>do</strong> Sul,<br />

pertencente ao Chile e Argentina, a Patagônia se estende<br />

por cerca de 806 mil Km2 de terreno seco e ári<strong>do</strong>.<br />

Infindáveis estradas e incessantes ventos cortam-na. O<br />

nome Patagônia, provavelmente, se deveu à presença<br />

<strong>do</strong>s índios patagônios, que viviam na região quan<strong>do</strong> o<br />

navega<strong>do</strong>r português Fernão de Magalhães descobriu o<br />

estreito que leva seu nome, em 1520.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que se imagina, a Patagônia é uma<br />

região com excelente estrutura para o turismo, em cidades<br />

bem estruturadas, como Ushuaia e El Calafate.<br />

Em Ushuaia, pode-se, num mesmo dia, desfrutar<br />

das quatro estações <strong>do</strong> ano! Recomenda-se a quem<br />

não gosta de frio evitar o inverno, perío<strong>do</strong> em que as<br />

temperaturas são, literalmente, congelantes.<br />

El Calafate tem o Perito Moreno, um <strong>do</strong>s mais impressionantes<br />

glaciares <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Pode-se observar<br />

de perto a constante movimentação <strong>do</strong> bloco de gelo,<br />

despencan<strong>do</strong> sobre o lago e até mesmo fazer uma caminhada<br />

sobre o gelo. Não deixe de observar a incrível<br />

cor azul das fendas <strong>do</strong> glaciar.<br />

Pode-se desfrutar de boa infraestrutura no local: o<br />

Hotel Explora Salto Chico é um resort cinco-estrelas<br />

às margens <strong>do</strong> Lago Pehoé e com vista para os Cuernos,<br />

que funciona no regime all inclusive. Há também<br />

opções intermediárias como a Hostería Las Torres e a<br />

Hostería Lago Grey.<br />

É imprescindível levar roupas adequadas. Não se<br />

esqueça de tênis especiais para caminhada e de preferência<br />

impermeáveis, calças e casacos resistentes a<br />

vento, frio e chuva, óculos de sol, toucas e luvas. Imprescindíveis,<br />

também, os protetores solares e as câmeras<br />

fotográficas!<br />

Navegan<strong>do</strong> entre as montanhas<br />

A travessia <strong>do</strong>s Lagos é um <strong>do</strong>s mais tradicionais<br />

passeios turísticos <strong>do</strong> Chile.<br />

A região <strong>do</strong>s lagos e vulcões <strong>do</strong> sul <strong>do</strong> Chile é expressão<br />

da inimitável e surpreendente exuberância da<br />

natureza. Entre cataclismos vulcânicos, esculturas glaciais,<br />

chuva e neve, rios e bosques <strong>do</strong> sul <strong>do</strong> Chile, verdadeiras<br />

selvas chuvosas temperadas, é uma paisagem<br />

em movimento, que se modela diante de nossos olhos.<br />

Às vezes, se não fosse pela língua, poderíamos nos<br />

imaginar no meio <strong>do</strong>s Alpes.<br />

Os lagos gela<strong>do</strong>s de águas azuis ou verdes, to<strong>do</strong>s<br />

Carmenère, a uva fênix<br />

Renascer das cinzas. Aqui vai mais uma das histórias mágicas <strong>do</strong> vinho. A uva Carmenère parecia extinta da<br />

face <strong>do</strong> planeta, após ser dizimada por completo na Europa. Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s davam o assunto por encerra<strong>do</strong>, o<br />

ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot descobre vinhe<strong>do</strong>s no Chile que muitos<br />

imaginavam ser da uva Merlot, mas que, em verdade, guarneciam um<br />

verdadeiro tesouro, a Carmenère.<br />

Muito se perguntam: a Carmenère pode representar para o Chile<br />

o que a Malbec representa para a Argentina? Se depender da área<br />

de plantio e <strong>do</strong> consumo <strong>do</strong> vinho no mun<strong>do</strong>, com certeza! A área de<br />

plantio que ocorre principalmente nos vales <strong>do</strong> Rapel e <strong>do</strong> Maule passou<br />

de 95 hectares em 1995 para mais de 5407 hectares! E o consumo<br />

espalhou-se para o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>! Um renascimento para lá de triunfal!<br />

48 www.apmp.com.br


de extrema beleza é uma paisagem que está<br />

presente em toda a travessia de Puerto Montt<br />

a Bariloche.<br />

Também conhecida como a “Cidade das Rosas”,<br />

Puerto Varas é o maior centro turístico <strong>do</strong><br />

lago. Com apenas 38.000 habitantes, é o ponto<br />

de partida para a popular travessia internacional<br />

<strong>do</strong>s lagos andinos até Bariloche. Possui<br />

charmosas construções, um cassino, inúmeras<br />

agências e ótima rede hoteleira.<br />

Com o tempo livre, os visitantes podem<br />

passear pela simpática vila Frutillar, fundada<br />

por alemães entre o Lago Llanquihue e o vulcão<br />

Osorno. O Museu da Imigração<br />

Alemã é também um excelente local<br />

para se visitar, pois conta toda a<br />

história da região.<br />

Durante o dia, um passeio até a<br />

Laguna Del Encanto ou um trekking<br />

até o extinto vulcão Trona<strong>do</strong>r são<br />

excelentes pedidas.<br />

É de Peulla que sairemos <strong>do</strong><br />

Chile em direção à Argentina. A<br />

mudança só será percebida pelos<br />

carimbos no passaporte já que a<br />

beleza e exuberância da paisagem continuarão<br />

as mesmas.<br />

Cada uma das principais cidades da região <strong>do</strong>s<br />

lagos conta com excelente gastronomia, centros comerciais<br />

e transporte e dispõe de atrações para to<strong>do</strong>s<br />

os gostos e idades. Particularmente interessante é a<br />

cadeia de parques nacionais que se estende ao longo<br />

da fronteira com a Argentina e protege uma série de<br />

ecossistemas, que vão desde bosques nativos até planícies<br />

vulcânicas.<br />

Para viagens<br />

em família ou pessoas<br />

com interesses<br />

gerais existem<br />

muitas alternativas,<br />

como visitas<br />

aos parques, cruzeiros<br />

por lagos<br />

andinos para a<br />

Argentina e múltiplos<br />

centros de<br />

férias à beira <strong>do</strong>s<br />

lagos. Para aqueles<br />

com interesses<br />

mais específicos<br />

ou de aventura,<br />

caminhadas, mon-<br />

tanhismo, “rafting”,<br />

observação de aves,<br />

mountain bike e rodeios.<br />

São algumas das<br />

quase ilimitadas possibilidades que oferece a região<br />

<strong>do</strong>s lagos e vulcões <strong>do</strong> Chile.<br />

Parceria APMP e Nascimento Turismo leva você para o Chile<br />

Lagos Andinos<br />

Aéreo Lan e Aerolineas, 10 noites visitan<strong>do</strong>: Santiago, Puerto Montt, Peulla, Bariloche e Buenos Aires com<br />

café da manhã, travessia Cruce De Lagos, 1 jantar em Peulla e 1 almoço em Buenos Aires (não inclui bebidas),<br />

to<strong>do</strong>s os trasla<strong>do</strong>s e seguro viagem. Saídas 17/Abril a 16/Junho.<br />

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Santiago & Explora Atacama<br />

Aéreo Lan, 2 noites em Santiago no Hotel Crowne Plaza com café da manhã, 4 noites em San Pedro de Atacama<br />

no Hotel Explora Patagônia com pensão completa, trasla<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s os passeios <strong>do</strong> Explora com<br />

guia em espanhol e seguro viagem. Saídas 19/Abril a 14/Junho.<br />

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Váli<strong>do</strong> para compras finalizadas até 31 de março<br />

*Preços em apto duplo por pessoa sain<strong>do</strong> de São Paulo sujeitos a alteração<br />

e disponibilidade sem prévio aviso. Não incluem taxas aeroportuárias.<br />

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49


Gastronomia<br />

Espanha<br />

Entre tapas e olés<br />

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Tradicional por suas touradas e pela música<br />

flamenca, a Espanha também é objeto de<br />

curiosidade e desejo por sua gastronomia única


País de cultura distinta<br />

e costumes exóticos,<br />

que inspirou artistas<br />

como Cervantes,<br />

Goya, Velázquez, Picasso<br />

e Dalí, a Espanha<br />

fascina o mun<strong>do</strong><br />

não somente no<br />

campo das artes,<br />

mas também por sua<br />

fantástica culinária.<br />

Caracterizada pela<br />

diversidade de pratos regionais,<br />

a cozinha espanhola<br />

bebeu na fonte <strong>do</strong>s fenícios, romanos<br />

e árabes, povos que se fixaram<br />

na Península Ibérica e contribuíram para a<br />

formação dessa gastronomia tão apreciada internacionalmente.<br />

Podemos por isso dizer que a Espanha<br />

tem na culinária uma das manifestações mais ricas de<br />

seu lega<strong>do</strong> histórico.<br />

A gastronomia espanhola é amplamente conhecida<br />

pela utilização <strong>do</strong> azeite de oliva, razão pela qual<br />

sua cozinha é considerada uma das mais saudáveis<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Tempero básico de muitos pratos, como a<br />

famosa “tortilla de patata”, o azeite é também base<br />

de preparo para verduras e peixes, muito consumi<strong>do</strong>s<br />

no país.<br />

O cultivo de oliveiras é um <strong>do</strong>s mais antigos <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> e a Espanha é líder mundial na produção de<br />

azeite de oliva, exportan<strong>do</strong> para mais de 100 países,<br />

entre eles Itália, França e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Além de privilegiada por sua culinária, a Espanha<br />

também se destaca na produção de vinhos de primeira<br />

qualidade e sabores únicos, que variam de região<br />

para região.<br />

La Rioja, por exemplo, situada ao norte da<br />

Espanha, é quase um sinônimo de vinho. E não<br />

falamos de vinhos de mesa, mas de verdadeiras<br />

preciosidades, capazes de satisfazer os enófilos<br />

mais exigentes.<br />

Voltan<strong>do</strong> à cozinha espanhola, suas diversas<br />

vertentes formam um conjunto gastronômico<br />

que rivaliza com as cozinhas ocidentais<br />

mais reputadas no mun<strong>do</strong>, a francesa e a italiana.<br />

Destacam-se a basca, a catalã e a da Andaluzia.<br />

Há quem afirme que a cozinha basca é a melhor<br />

da Espanha. O diferencial são os peixes, como o<br />

bacalhau “al pil pil”, que se transformou em um ícone<br />

culinário mesmo ten<strong>do</strong> por condimentos somente alho,<br />

salsa e, claro, azeite de oliva. Da cozinha basca, desta-<br />

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51


Gastronomia<br />

cam-se ainda as sardinhas assadas em escabeche e as<br />

excelentes sopas de peixe.<br />

Como dissemos, a cultura árabe faz parte da essência<br />

da gastronomia espanhola. Entre os produtos herda<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s mouros vale citar a laranja, o açafrão, a canela e o<br />

alho. Eles também contribuíram com o uso <strong>do</strong> açúcar,<br />

amên<strong>do</strong>as, molhos agri<strong>do</strong>ces e noz-moscada.<br />

As melhores vitelas da Espanha são encontradas na<br />

Galícia, onde também impera a variedade de peixes e<br />

mariscos. Nas Astúrias, o destaque são as fabadas asturianas,<br />

prato tradicional que combina feijão-branco<br />

Foi na Espanha, no século<br />

XVII, que viveu Diego Velázquez,<br />

pintor famoso por<br />

retratar em sua tela os sabores<br />

inusita<strong>do</strong>s da cozinha<br />

espanhola.<br />

Velázquez nasceu em<br />

1599 na cidade de Sevilha e<br />

sua obra ganhou o mun<strong>do</strong>.<br />

Cenas de pratos, mesas,<br />

banquetes e comensais eram<br />

alguns de seus registros mais<br />

comuns.<br />

Esse tipo de obra ficou<br />

conheci<strong>do</strong> como pintura de “bodegones”, que vem<br />

de bodega.<br />

A contribuição de Velázquez para o conhecimento da<br />

com orelhas de porco e defuma<strong>do</strong>s.<br />

A Catalunha, além <strong>do</strong>s dribles mágicos de Ronaldinho<br />

Gaúcho, nos deleita com uma cozinha insólita.<br />

Mescla, com maestria, frutos <strong>do</strong> mar e pequenos<br />

animais, como lagostas com frango no molho de<br />

amên<strong>do</strong>as, tu<strong>do</strong> na mesma receita. Barcelona, sua<br />

capital, apresenta a originalidade <strong>do</strong> molho romesco,<br />

interessante combinação de amên<strong>do</strong>as e pimentão-<strong>do</strong>ce<br />

moí<strong>do</strong> (páprica <strong>do</strong>ce), usa<strong>do</strong> principalmente<br />

com peixes.<br />

Sabores marcantes de uma<br />

cozinha refinada<br />

Muitos não sabem, mas foram os espanhóis<br />

os responsáveis pela introdução<br />

<strong>do</strong> chocolate nos hábitos de consumo<br />

da Europa. Outras especiarias<br />

da cozinha espanhola também<br />

tiveram grande influência na<br />

comunidade européia, como os<br />

cozi<strong>do</strong>s com vinho, em especial<br />

o xerez. Carnes exóticas como<br />

perdiz, javali e cabrito montês<br />

são muito apreciadas.<br />

A charcutaria, caracterizada<br />

pelo uso <strong>do</strong> presunto e enchi<strong>do</strong>s picantes,<br />

também é protagonista desse espetáculo<br />

de sabores. Entre os queijos, sobressaem-se<br />

os de sabor forte, à base de leite de cabra ou de<br />

ovelha, mais usuais que o de vaca.<br />

Pintura de Bodega: gastronomia retratada em tela<br />

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gastronomia espanhola no século<br />

XVII foi inestimável.<br />

Em seus quadros, Velázquez<br />

revelava o cotidiano de<br />

nobres e pessoas comuns,<br />

reuni<strong>do</strong>s ao re<strong>do</strong>r da mesa e<br />

saborean<strong>do</strong> os pratos mais<br />

diversifica<strong>do</strong>s da gastronomia<br />

espanhola.<br />

A realeza da Espanha<br />

também foi retratada nos<br />

quadros de Velázquez, não<br />

com a intenção de exibir a<br />

fartura, mas para demonstrar<br />

a elegância nos preparos da cozinha e o ambiente<br />

agradável e harmonioso em que esses momentos eram<br />

vivencia<strong>do</strong>s.


Outras invenções espanholas que caíram no gosto<br />

brasileiro são os churros e o torrone.<br />

Visitar a Espanha e não desfrutar de tapas é quase<br />

uma heresia. Calma, ninguém está propon<strong>do</strong> sessões<br />

de masoquismo. Tapas são petiscos servi<strong>do</strong>s em bares<br />

típicos, acompanha<strong>do</strong>s de um bom vinho.<br />

Depois <strong>do</strong>s tapas a cama? Não na Espanha, onde a<br />

tradição de jantar depois das 22 horas é levada muito a<br />

sério (<strong>do</strong> contrário, para que teria servi<strong>do</strong> a não menos<br />

tradicional “siesta”?)<br />

Um pouco da Espanha em São<br />

Paulo<br />

São Paulo possui traços visíveis da cultura européia<br />

que foram incorpora<strong>do</strong>s a seus hábitos contemporâneos.<br />

E os espanhóis deixaram a sua marca nas mesas<br />

paulistanas.<br />

A fidelidade às receitas originais castelhanas é<br />

notada em alguns <strong>do</strong>s principais restaurantes de<br />

São Paulo.<br />

Don Curro e suas lendárias “paellas”. Trata-se de um<br />

prato para<strong>do</strong>xal. Ingredientes e quantidades variam<br />

enormemente, exceto o arroz, e, ao mesmo tempo, ele<br />

mantém uma identidade absolutamente singular.<br />

E o roteiro gastronômico não pára por aí. O mais antigo<br />

restaurante espanhol, La Coruña, traz pratos mediterrâneos<br />

como a parrilada de peixes e arroz arbóreo<br />

com frutos <strong>do</strong> mar. E, embora nem to<strong>do</strong>s os clientes o<br />

façam, é possível escolher dentro de um aquário a lagosta<br />

que mais tarde deleitará os paladares <strong>do</strong>s gourmets.<br />

Outra boa escolha é o Gabina, que com sua decoração<br />

moderna apresenta cardápio<br />

repleto de delícias e variedades<br />

atraentes aos<br />

olhos de qualquer<br />

um. Você pode experimentar<br />

pratos<br />

tradicionais como a “paella”, o “boquerone” (pequenos<br />

peixes curti<strong>do</strong>s no vinagre) e as triviais “tapas”.<br />

Para quem aprecia os pratos típicos da terra das<br />

castanholas ao som de dança flamenca, um excelente<br />

lugar é o Paellas Pepe, cuja fachada é convidativa para<br />

o seu interior, onde as mesas espalhadas pelo jardim<br />

envolvem seus freqüenta<strong>do</strong>res num clima diferente e<br />

agradável. As entradas à base de frutos <strong>do</strong> mar, pratos<br />

com carne e sobremesas são ótimas pedidas. A sugestão<br />

da casa fica por conta da famosa sangria, mistura<br />

de abacaxi, laranja, uva, maçã, espumante, vinho, soda<br />

e gelo. Outros pratos como o “puchero”, cozi<strong>do</strong> à base<br />

de grão de bico, batata, cenoura, vagem, repolho, carne<br />

suína e bovina, é bastante recomendável para conhecer<br />

o verdadeiro sabor castelhano.<br />

Olé!<br />

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