Eclesiastes - Igreja Batista Vida Nova
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Donald C. Fleming afirma corretamente, sobre o Coélet: “Ele não afirma ter encontrado<br />
a resposta para o problema do sofrimento e do mal, mas mesmo assim está seguro de<br />
que Deus é um Criador bom, e que, no desfrutar dos presentes dados por ele, o homem<br />
pode encontrar ao menos algum significado na vida (3.11ss).” 27<br />
2.4 A felicidade como dom de Deus<br />
As observações de Coélet apontam que a felicidade não se constrói a partir de<br />
realizações pessoais, nem se encontra nos prazeres terrestres. Heráclito de Éfeso disse<br />
acertadamente que se a felicidade estivesse nos prazeres do corpo, diríamos felizes os<br />
bois, quando encontram ervilhas para comer.<br />
Na verdade, a felicidade é um dom de Deus (2.25; 3.13; 5.18). Em 2.26 lemos que Deus<br />
“dá sabedoria, conhecimento e felicidade ao homem”. A raiz do verbo hebraico natan,<br />
“dar”, aparece várias vezes no livro de <strong>Eclesiastes</strong>, tendo Deus por sujeito. Comentando<br />
sobre 2.24-26, relacionando esses versos com os versos antecedentes, Storniolo afirma:<br />
“A felicidade até agora havia sido procurada como fruto de riquezas e esforços do<br />
homem. A partir de agora ela é percebida dentro de um novo cenário, e é descoberta<br />
como dom de Deus.” 28 É notável que uma vida prazerosa é um “dom” de Deus; “dom” é<br />
a tradução do hebraico mattah, “presente”, “recompensa” (cf. 3.13; 5.19).<br />
É curioso que, conforme notamos acima na estrutura de <strong>Eclesiastes</strong>, a Religião ocupa o<br />
lugar central no livro. Mas a felicidade não está nos valores religiosos, nas promessas e<br />
nos votos (cf. 5.1-6). É que “no contexto da filosofia de Qohélet da felicidade, de<br />
explicitar que Deus, como doador de todas as dádivas da felicidade e como aquele que<br />
torna mais uma vez possível a experiência da própria felicidade (5.18), é o<br />
absolutamente indisponível”. 29<br />
“A mensagem de <strong>Eclesiastes</strong> é que a vida a ser buscada é centrada em Deus. Os<br />
prazeres não satisfazem de forma duradoura, podem ser desfrutados como dons<br />
divinos.” 30<br />
Há de se considerar, também, que a verdadeira felicidade não advém do exercício da<br />
filosofia. Essa afirmação é muito importante no contexto do Coélet, em que a filosofia<br />
grega estourava como proposta para as respostas existências do ser humano. “Os<br />
filósofos helenistas eram da opinião de que o ser humano pode alcançar a felicidade<br />
unicamente pelo esforço próprio, mais precisamente desvalorizando tudo o que é<br />
inatingível.” 31<br />
27 FLEMING, Donald C. “<strong>Eclesiastes</strong>”. p.958.<br />
28 STORNIOLO, Ivo. Trabalho e felicidade- O livro de Eclesitastes, p.51.<br />
29 SCHWIENHORST-SCHÖNBERGER, Ludger. “O livro do <strong>Eclesiastes</strong> (Qohélet)”, em ZENGUER,<br />
Erich e outros autores. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Werner Fuchs. São Paulo: Edições<br />
Loyola, 2003, p.339 (Coleção Bíblica Loyola, 36).<br />
30 HILL, Andrew E. & WALTON, J.H. Panorama do Antigo Testamento, p.405.<br />
31 SCHWIENHORST-SCHÖNBERGER, Ludger. “O livro do <strong>Eclesiastes</strong> (Qohélet)”, p.339.<br />
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