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Hérnias perineais nos pequenos animais Perineal hernias in small ...

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ARTIGO DE REVISÃO R E V I S T A P O R T U G U E S A<br />

DE<br />

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS<br />

<strong>Hérnias</strong> <strong>per<strong>in</strong>eais</strong> <strong>nos</strong> peque<strong>nos</strong> <strong>animais</strong><br />

<strong>Per<strong>in</strong>eal</strong> <strong>hernias</strong> <strong>in</strong> <strong>small</strong> animals<br />

Resumo: A hérnia per<strong>in</strong>eal resulta da <strong>in</strong>capacidade do diafragma<br />

pélvico para suster a parede rectal. Ocasionalmente podem ocorrer<br />

prolapsos de vísceras abdom<strong>in</strong>ais entre o diafragma pélvico e<br />

o recto. Os autores revêem os aspectos anatómicos, epidemiológicos,<br />

médicos e cirúrgicos mais importantes para o tratamento<br />

das hérnias <strong>per<strong>in</strong>eais</strong> <strong>nos</strong> peque<strong>nos</strong> <strong>animais</strong>.<br />

Summary: <strong>Per<strong>in</strong>eal</strong> hernia results from failure of the pelvic<br />

diaphragm to support the rectal wall. Pelvic and occasionally<br />

abdom<strong>in</strong>al contents may protrude between the pelvic diafragm<br />

and the rectum. The authors give an overview of important<br />

aspects <strong>in</strong> anatomical, epidemiological, medical and surgery<br />

fields, to treat per<strong>in</strong>eal hernia <strong>in</strong> <strong>small</strong> animals.<br />

Introdução<br />

O períneo def<strong>in</strong>e-se anatomicamente como a zona do<br />

corpo que recobre caudalmente a pélvis, circundando<br />

o canal anal e os canais urogenitais. Este diafragma<br />

pélvico que assim se forma é constituído pelo músculo<br />

elevador do ânus, músculos coccígeos, músculo glúteo<br />

superficial, músculo obturador <strong>in</strong>terno, esfíncter anal<br />

externo e ligamento sacrotuberal.<br />

As hérnias <strong>per<strong>in</strong>eais</strong> caracterizam-se pela ruptura de<br />

um ou mais músculos, com a consequente herniação<br />

do recto, muitas vezes acompanhada pela protusão<br />

de outras estruturas anatómicas, como são exemplo: a<br />

gordura retroperitoneal, os vasos sanguíneos, as ansas<br />

<strong>in</strong>test<strong>in</strong>ais, a bexiga ou a próstata (Sjollema et al.,<br />

1993).<br />

Epidemiologia<br />

A<strong>in</strong>da que este tipo de hérnia seja uma patologia<br />

mais frequente na espécie can<strong>in</strong>a, muitas vezes associada<br />

à atrofia neurogénica do músculo elevador do<br />

ânus (Sjollema et al., 1993), pode também ser esporadicamente<br />

diag<strong>nos</strong>ticada no gato (Welches et al., 1992;<br />

Mann, 1993). Nesta espécie surge como complicação<br />

secundária à uretrostomia per<strong>in</strong>eal ou ao megacólon<br />

Fernando Ferreira 1 e Esmeralda Delgado 2<br />

1 Secção de Anatomia, DEMOC, CIISA, Faculdade de Medic<strong>in</strong>a Veter<strong>in</strong>ária, Universidade Técnica de Lisboa, Rua Professor Cid dos Santos,<br />

Pólo Universitário do Alto da Ajuda, 1300-477 Lisboa, fernandof@fmv.utl.pt<br />

2 Secção de Cirurgia, DEMOC, CIISA, Faculdade de Medic<strong>in</strong>a Veter<strong>in</strong>ária, Universidade Técnica de Lisboa, Rua Prof. Cid dos Santos,<br />

Pólo Universitário do Alto da Ajuda, 1300-477 Lisboa, esmeralda@fmv.utl.pt<br />

idiopático (Welches et al., 1992).<br />

Uma variável epidemiológica que assume especial<br />

importância é o sexo do paciente. Aproximadamente<br />

97% dos casos ocorrem no cão macho e, destes, 95%<br />

no macho <strong>in</strong>teiro (Mann et al., 1995). A explicação<br />

para este facto deve-se, por um lado, às frágeis <strong>in</strong>serções<br />

do músculo elevador do ânus no macho e, por<br />

outro, à pressão traumatizante que a próstata, quando<br />

hipertrofiada, exerce contra os músculos do diafragma<br />

pélvico.<br />

O tipo mais comum de hérnia per<strong>in</strong>eal é a ventral,<br />

que se forma entre o músculo elevador do ânus, o<br />

músculo obturador <strong>in</strong>terno e o esfíncter anal externo<br />

(Mann, 1993). São geralmente unilaterais (75%),<br />

apresentando uma faixa etária de risco elevado entre<br />

os 6 e os 14 a<strong>nos</strong>, com uma <strong>in</strong>cidência máxima entre<br />

os 7 e os 9 a<strong>nos</strong> de idade. Apesar de vários factores<br />

poderem participar na sua patogénese, nenhum pode,<br />

isoladamente, despoletar e consolidar esta afecção. Os<br />

casos clínicos apontam na direcção dos factores que a<br />

seguir se descrevem.<br />

Predisposição genética: devido à fraqueza dos músculos<br />

que compõem o diafragma pélvico, em especial<br />

do músculo elevador do ânus e dos músculos coccígeos,<br />

sendo que Boston Terrier, Boxer, Collie, Welsh<br />

Terrier, Pequ<strong>in</strong>ês, Dachshunds e Pastor Alemão são as<br />

raças mais predispostas (Bellenger, 1980; Robertson,<br />

1984; Sjollema e van Sluijs, 1991; Washabau e Brockman,<br />

1995).<br />

Alterações hormonais: por disfunção <strong>nos</strong> receptores<br />

hormonais prostáticos que, ao aumentarem a testosterona<br />

livre no sangue, conduzem a uma hipertrofia<br />

prostática, tornando a defecação difícil e dolorosa<br />

(Mann, 1989; Niebauer, 1991; Mann, 1993; Sjollema<br />

et al., 1993; Mann, 1995). No gato este factor parece<br />

ser irrelevante (Welches et al., 1992).<br />

Patologias prostáticas: prostatites, quistos prostáticos<br />

e paraprostáticos, hipertrofia prostática benigna e<br />

tumores (Mann, 1995; Washabau e Brockman, 1995).<br />

Patologias <strong>in</strong>test<strong>in</strong>ais: obstipação crónica, tumores<br />

anais, rectopatias <strong>in</strong>tercorrentes e diverticulites (Mann,<br />

3


Ferreira, F. e Delgado, E.<br />

1993; Washabau e Brockman, 1995).<br />

Lesões nervosas: estudos histopatológicos evidenciaram<br />

lesões <strong>nos</strong> nervos sacrais e/ou pudendos em cães<br />

com hérnias <strong>per<strong>in</strong>eais</strong> (Bellenger, 1980; Matthiesen,<br />

1989; Mann, 1993; Sjollema et al., 1993).<br />

Uretrostomia per<strong>in</strong>eal e megacólon: relevante no<br />

caso do gato. O primeiro, por romper as fáscias existentes<br />

entre o esfíncter anal externo e músculo coccígeo<br />

medial (Welches et al., 1992). O segundo, pela<br />

obstipação crónica que orig<strong>in</strong>a.<br />

Diagnóstico<br />

O diagnóstico deverá basear-se na história clínica, no<br />

exame físico, <strong>nos</strong> s<strong>in</strong>tomas/s<strong>in</strong>ais exibidos e no exame<br />

radiográfico, se necessário.<br />

O quadro s<strong>in</strong>tomatológico é muito variável, estando<br />

a sua severidade relacionada com o grau de herniação<br />

(Bojrab e Toomey, 1981). Os s<strong>in</strong>tomas/s<strong>in</strong>ais mais<br />

comuns, observados em cerca de 90% a 95% dos<br />

cães afectados (Mann, 1993), são: tenesmo, disquézia,<br />

<strong>in</strong>chaço em posição ventrolateral relativamente ao<br />

ânus, por vezes redutível, e obstipação crónica. Podem<br />

a<strong>in</strong>da ser observados: vómitos, flatulência, <strong>in</strong>cont<strong>in</strong>ência<br />

fecal e prolapso rectal. Quando a bexiga está<br />

presente no saco herniário esta afecção torna-se uma<br />

emergência clínica, e os pacientes exibem dor visceral<br />

acompanhada de oligúria ou mesmo de anúria. Os <strong>animais</strong><br />

apresentam-se à consulta com um grau de prostração<br />

variável, devido à urémia pós-renal. Se existir<br />

oclusão <strong>in</strong>test<strong>in</strong>al podem exibir choque séptico. Se o<br />

tenesmo for <strong>in</strong>tenso, pode ocorrer prolapso rectal. No<br />

gato, cerca de 95% dos pacientes apresentam apenas<br />

tenesmo e obstipação. Inchaços da região per<strong>in</strong>eal só<br />

são observados em 22% dos casos (Welches et al.,<br />

1992).<br />

A palpação per<strong>in</strong>eal e rectal é o passo mais importante<br />

no exame físico do animal com hérnia per<strong>in</strong>eal<br />

(figura 1). Na primeira, avalia-se o grau de edema e<br />

a redutibilidade da hérnia. Se redutível, parte ou a<br />

totalidade do conteúdo do saco herniário é recolocado<br />

por manipulação manual no <strong>in</strong>terior da cavidade<br />

abdom<strong>in</strong>al. No cão, o conteúdo do saco herniário é<br />

constituído, por ordem decrescente de <strong>in</strong>cidência, por:<br />

gordura retroperitoneal, fluido seroso, recto, próstata,<br />

bexiga ur<strong>in</strong>ária e <strong>in</strong>test<strong>in</strong>o delgado (Mann, 1993). A<br />

herniação de conteúdos abdom<strong>in</strong>ais no gato parece ser<br />

pouco frequente (Welches et al., 1992). Na palpação<br />

rectal as fezes são manualmente removidas e, com o<br />

dedo <strong>in</strong>dicador, avalia-se a existência de anomalias e o<br />

seu grau, como por exemplo: o desvio, a saculação ou<br />

a diverticulite rectal (Dieterich, 1975). Pode-se igualmente<br />

classificar o grau de atrofia/separação muscular<br />

do diafragma pélvico e a dimensão/localização da<br />

próstata. Se o animal apresentar anúria, aconselha-se a<br />

realização de uma centese per<strong>in</strong>eal, de forma a avaliar<br />

a participação da bexiga no conteúdo do saco herniário.<br />

Por vezes é vantajoso recorrer ao exame radiográfico,<br />

4<br />

Figura 1 – Hérnia per<strong>in</strong>eal bilateral antiga.<br />

RPCV (2003) 98 (545) 3-9<br />

nomeadamente quando há suspeita de envolvimento<br />

do trato ur<strong>in</strong>ário. Normalmente a radiografia simples<br />

é suficiente, por revelar a posição e as dimensões da<br />

bexiga e da próstata. Se persistirem dúvidas, deve-se<br />

confirmar radiograficamente a retroflexão da bexiga<br />

efectuando uma urocistografia de contraste (Bojrab e<br />

Toomey, 1981; White e Herrtage, 1986). Em alguns<br />

casos, é igualmente aconselhável efectuar uma radiografia<br />

de contraste baritado para confirmar a posição<br />

do cólon e do recto (Krahw<strong>in</strong>kel, 1983).<br />

Como a maioria dos pacientes são cães geriátricos,<br />

é recomendável a avaliação do estado geral do animal<br />

através do hemograma, acompanhado do perfil bioquímico<br />

e da análise de ur<strong>in</strong>a (Bojrab e Toomey, 1981).<br />

Os <strong>animais</strong> que sofrem de retroflexão da bexiga apresentam<br />

azotémia, hipercaliémia, hiperfosfatémia e leucocitose<br />

neutrofílica com desvio à esquerda (Fossum,<br />

1997).<br />

No que se refere aos diagnósticos diferenciais,<br />

devem excluir-se as segu<strong>in</strong>tes possibilidades: neoplasia<br />

per<strong>in</strong>eal, hiperplasia das glândulas <strong>per<strong>in</strong>eais</strong>, <strong>in</strong>flamação<br />

ou neoplasia dos sacos anais, atresia ani e tumores<br />

vag<strong>in</strong>ais. No caso de existir disquézia, deve descartar-<br />

-se a hipótese da presença dum corpo estranho no<br />

recto, duma fístula perianal, duma constrição anal ou<br />

rectal, dum abcesso dos sacos anais, duma neoplasia<br />

anal ou rectal, dum trauma anal, dum prolapso anorrectal<br />

ou a<strong>in</strong>da duma dermatite anal (Fossum, 1997).<br />

Tratamento médico<br />

Os objectivos do tratamento médico são: aliviar e<br />

prevenir tanto a obstipação como a disúria, evitar o<br />

estrangulamento visceral e corrigir os factores desencadeadores<br />

desta patologia. A defecação deve ser regularizada<br />

recorrendo a estimulantes do peristaltismo<br />

<strong>in</strong>test<strong>in</strong>al (cisaprida, laxantes por contacto ou laxantes<br />

expansores do volume fecal), emolientes fecais como<br />

a lactulose ou a paraf<strong>in</strong>a, implementação de uma dieta<br />

com um elevado teor em fibra, enemas periódicos<br />

paraf<strong>in</strong>ados ou não, ou a<strong>in</strong>da recorrendo à evacuação


Ferreira, F. e Delgado, E.<br />

manual do recto (Bojrab e Toomey, 1981; Bellenger<br />

e Canfield, 1993). A bexiga pode ser descomprimida<br />

através do seu cateterismo ou de cistocentese. O uso<br />

prolongado destes tratamentos está contra-<strong>in</strong>dicado,<br />

podendo levar ao encarceramento e posterior estrangulamento<br />

de vísceras, pondo em risco a vida do animal<br />

(Washabu e Brockman, 1995). Assim, a herniorrafia<br />

deve ser sempre recomendada, excepto quando o<br />

animal apresenta um risco anestésico elevado (Harvey,<br />

1977; Bojrab e Toomey, 1981).<br />

Tratamento cirúrgico da hérnia per<strong>in</strong>eal<br />

no cão<br />

As duas técnicas cirúrgicas mais correntemente<br />

usadas são a clássica, também conhecida como a de<br />

reposição anatómica, e a técnica de transposição do<br />

músculo obturador <strong>in</strong>terno.<br />

A primeira tem como pr<strong>in</strong>cipal vantagem a facilidade<br />

de execução. Como desvantagens, apresenta uma<br />

maior dificuldade de encerramento da porção ventral<br />

da hérnia, deformações temporárias anais (em especial,<br />

<strong>nos</strong> casos de herniorrafia bilateral) sendo, por isso,<br />

mais frequente a ocorrência de tenesmo e de prolapso<br />

rectal.<br />

Quanto à segunda técnica, apesar de maior dificuldade<br />

de execução, orig<strong>in</strong>a uma menor tensão nas suturas,<br />

uma menor deformação anal e cria um “flap” muscular<br />

ventral, encerrando a solução de cont<strong>in</strong>uidade do<br />

diafragma pélvico (Sales Luis e Ferreira, 1986). A taxa<br />

de recorrência é baixa, cerca de 5% (Sjollema et al.,<br />

1989), ao <strong>in</strong>vés da técnica clássica, que apresenta taxas<br />

na ordem dos 46% (Welches et al., 1992). Apesar desta<br />

diferença significativa na taxa de recidivas, a técnica<br />

de reposição anatómica tem na facilidade de execução<br />

um argumento decisivo, tornando-se a técnica<br />

mais escolhida (Bojrab et al., 1998). Caso estas duas<br />

técnicas falhem, poder-se-à recorrer a uma de entre<br />

as segu<strong>in</strong>tes: transposição do músculo semitendi<strong>nos</strong>o<br />

para reconstrução do períneo (Chambers e Rawl<strong>in</strong>gs,<br />

1991; Philibert e Fowler, 1996), transposição do músculo<br />

glúteo superficial (Bellenger e Canfield, 1993),<br />

utilização de redes prostéticas (Zimmerman, 1968) ou<br />

colonpexia e cistopexia através da fixação dos ductos<br />

deferentes (Bilbrey et al., 1990).<br />

A herniorrafia bilateral é possível, mas quer o<br />

tenesmo, quer a dor no período pós-operatório são<br />

superiores relativamente à herniorrafia unilateral, bem<br />

como a taxa de recorrência. Por estes motivos, muitos<br />

cirurgiões preferem esperar 4 a 6 semanas antes de<br />

proceder à segunda herniorrafia (Sales Luis e Ferreira,<br />

1986) (figura 2).<br />

É aconselhável a castração dos machos, por reduzir<br />

os casos de <strong>in</strong>sucesso, ao dim<strong>in</strong>uir a testosterona circulante<br />

e o volume da próstata. Os cães <strong>in</strong>teiros apresentam<br />

uma taxa de recorrência 2,7 vezes superior à dos<br />

cães castrados (Hayes et al., 1978). A castração pode<br />

ser feita através do acesso caudal ou do pré-escrotal,<br />

RPCV (2003) 98 (545) 3-9<br />

Figura 2 – Herniorrafia unilateral num cão com hérnia per<strong>in</strong>eal bilateral.<br />

sendo mais prático o primeiro, por não ser necessário<br />

mudar a posição do animal. A saculectomia rectal ou<br />

a sutura de imbricação do recto estão contra-<strong>in</strong>dicadas,<br />

devido ao aumento do risco de <strong>in</strong>fecção pós-operatória.<br />

Tanto a retroflexão da bexiga como o encarceramento<br />

visceral, ambos complicações das hérnias <strong>per<strong>in</strong>eais</strong><br />

e emergências veter<strong>in</strong>árias, requerem a prévia<br />

estabilização do paciente.<br />

Maneio pré-operatório<br />

Alguns autores aconselham a realização de vários<br />

enemas de limpeza na véspera da cirurgia, bem como<br />

um jejum de alimentos sólidos de 24 horas (Dieterich,<br />

1975; Bojrab e Toomey, 1981; Bellenger e Canfield,<br />

1993; Dean e Bojrab, 1990). Outros cirurgiões defendem<br />

a não aplicação de enemas por estes potenciarem<br />

o risco de trauma rectal e fluidificação fecal, tornando<br />

díficil a retenção das fezes durante a cirurgia, ao<br />

mesmo tempo que facilitam a propagação de <strong>in</strong>fecção<br />

rectais. Desta forma, preferem remover manualmente<br />

as fezes presentes na ampola rectal após a anestesia<br />

(Bojrab, 1998). É aconselhável adm<strong>in</strong>istrar por via<br />

endove<strong>nos</strong>a um antibiótico eficaz contra bactérias<br />

gram-negativas e anaeróbios, apesar de esse facto não<br />

reduzir a preocupação que se deve ter com a assépsia<br />

cirúrgica (Dean e Bojrab, 1990). No caso de existir<br />

retroflexão da bexiga, o animal poderá ser algaliado ou<br />

submetido a uma cistocentese per<strong>in</strong>eal.<br />

Preparação do paciente<br />

A palpação rectal do paciente permite a avaliação<br />

do grau de relaxamento da parede rectal e do diâmetro<br />

da próstata. As fezes, se presentes, devem ser removidas.<br />

A região per<strong>in</strong>eal deverá ser tricomizada e lavada<br />

com solutos des<strong>in</strong>fectantes. A área a preparar deverá<br />

estender-se 10 a 15 cm cranialmente em relação à<br />

base da cauda, lateralmente para além da tuberosidade<br />

isquiática e ventralmente até <strong>in</strong>cluir o escroto. Em<br />

seguida, deve-se esvaziar os sacos anais, colocar uma<br />

compressa lubrificada no recto e suturar o ânus com<br />

5


Ferreira, F. e Delgado, E.<br />

uma sutura em bolsa de tabaco. A posição do animal<br />

durante a cirurgia é importante, devendo ficar em<br />

decúbito ventral, com a cauda fixa por cima do dorso,<br />

a pélvis ligeiramente elevada e a região cranial das<br />

coxas acolchoada, para evitar lesão dos nervos femoral<br />

e fibular. Eventualmente pode <strong>in</strong>cl<strong>in</strong>ar-se a marquesa<br />

para ajudar a elevar a pélvis do animal, mas devido<br />

ao efeito de mola das vísceras abdom<strong>in</strong>ais sobre o<br />

diafragma, poderá ser necessário recorrer a ventilação<br />

com pressão positiva <strong>in</strong>termitente (Dean e Bojrab,<br />

1990). Efectua-se a lavagem f<strong>in</strong>al do campo operatório<br />

(figura 3).<br />

Figura 3 – Cão preparado para o <strong>in</strong>ício da cirurgia.<br />

Técnica cirúrgica<br />

Após a colocação dos pa<strong>nos</strong> de campo e tendo cuidado<br />

para não expôr o ânus, efectuar uma primeira<br />

<strong>in</strong>cisão cutânea e curvilínea, que se <strong>in</strong>icia cranialmente<br />

aos músculos coccígeos, estende-se ao longo da hérnia,<br />

passando a 2 cm do ânus e cont<strong>in</strong>uando-se 2 a 3 cm em<br />

direcção ventral. De seguida, praticar uma <strong>in</strong>cisão ao<br />

nível do tecido conjuntivo subcutâneo e, por dissecção<br />

romba, romper o saco herniário. Deve-se identificar<br />

o conteúdo do saco herniário e remover o fluido presente,<br />

bem como o excesso de gordura que se tenta<br />

reduzir para o <strong>in</strong>terior da cavidade abdom<strong>in</strong>al, após a<br />

dissecção romba das suas aderências (Bojrab, 1998).<br />

Em regra, encontra-se fluido seroso e nódulos de gordura<br />

retroperitoneal necrosados, frequentemente confundidos<br />

com o omento. A bexiga e a próstata podem<br />

estar presentes (figuras 4 e 5).<br />

Pode realizar-se a biópsia de orgãos ou massas presentes<br />

a esse nível. Mantendo a hérnia reduzida através<br />

da aplicação de um rolhão de compressas humedecidas<br />

com soro fisiológico presas com uma p<strong>in</strong>ça de Allis,<br />

junto à solução de cont<strong>in</strong>uidade herniária, devem identificar-se<br />

as segu<strong>in</strong>tes estruturas anatómicas: os músculos<br />

que estão envolvidos, a artéria e a veia pudenda<br />

<strong>in</strong>terna, o nervo pudendo, as veias rectais caudais, o<br />

nervo rectal caudal e o ligamento sacrotuberal. É de<br />

realçar o facto de, por vezes, os vasos e os nervos<br />

6<br />

RPCV (2003) 98 (545) 3-9<br />

Figura 4 – Conteúdo do saco herniário: líquido <strong>in</strong>flamatório e nódulos<br />

de gordura retroperitoneal necrosados.<br />

Figura 5 – Presença da bexiga no saco herniário.<br />

poderem estar deslocados da sua posição anatómica<br />

normal devido à pressão exercida pelo conteúdo herniário.<br />

Executar a herniorrafia de acordo com a técnica<br />

escolhida, sendo de realçar que uma ou mais técnicas<br />

podem ser usadas em conjunto. Efectuar a castração<br />

caudalmente, recorrendo a uma <strong>in</strong>cisão mediana na<br />

superfície caudal do escroto (Knecht, 1976). No caso<br />

de herniorrafias bilaterais, é aconselhável a substituição<br />

dos pa<strong>nos</strong> de campo, dos <strong>in</strong>strumentos e luvas<br />

cirúrgicas (Bojrab, 1998). Em seguida são descritas as<br />

técnicas cirúrgicas mais correntemente utilizadas para<br />

a resolução das hérnias <strong>per<strong>in</strong>eais</strong>.<br />

Herniorrafia clássica ou anatómica<br />

Utilizando um fio reabsorvível monofilamentoso<br />

(2-0 a 0 USP) ou um fio não reabsorvível monofilamento<br />

(nylon 2-0 a 0 USP) com uma agulha grande e<br />

curva, colocar suturas simples <strong>in</strong>terrompidas entre os<br />

músculos que rodeiam o anel herniário. Deve deixar-<br />

-se uma distância aproximada de 1 cm entre as suturas,<br />

que só se apertam no fim. Colocar suturas de aposição<br />

entre o esfíncter anal externo, o elevador do ânus e os<br />

músculos coccígeos (figura 6). À medida que se progride<br />

ventralmente, pode-se <strong>in</strong>corporar o ligamento


Ferreira, F. e Delgado, E.<br />

sacrotuberal para conferir maior segurança e resistência<br />

à herniorrafia (figura 7). É preferível colocar<br />

a sutura através do ligamento, em vez de por detrás<br />

deste, para dim<strong>in</strong>uir o risco de <strong>in</strong>corporar o nervo<br />

ciático. Seguidamente colocar suturas entre o esfíncter<br />

Figura 6 – Colocação de suturas de aposição entre o esfíncter anal<br />

externo, o elevador do ânus e os músculos coccígeos.<br />

Figura 7 – Incorporação do ligamento sacrotuberal nas suturas ventrais.<br />

anal externo e o obturador <strong>in</strong>terno, tendo o cuidado de<br />

não traumatizar os vasos ou o nervo pudendo. Encerram-se<br />

as suturas no sentido dorso-ventral, removendo<br />

o rolhão de compressas usados para manter a hérnia<br />

reduzida (figura 8). Avalia-se a necessidade de colocar<br />

suturas adicionais antes de lavar o campo cirúrgico.<br />

Encerra-se o tecido conjuntivo subcutâneo com uma<br />

sutura contínua ou <strong>in</strong>terrompida de fio reabsorvível<br />

Figura 8 – Encerramento das suturas no sentido dorso-ventral após<br />

remoção do rolhão de compressas que mant<strong>in</strong>ham a hérnia reduzida.<br />

RPCV (2003) 98 (545) 3-9<br />

(por exemplo, ácido poliglicólico 2-0) e a pele com<br />

pontos simples de fio não reabsorvível. Retira-se a<br />

sutura em bolsa de tabaco do ânus (figura 9).<br />

Figura 9 – Encerramento do tecido conjuntivo subcutâneo e pele e remoção<br />

da sutura em bolsa de tabaco do ânus.<br />

Herniorrafia com transposição<br />

do músculo obturador <strong>in</strong>terno<br />

A porção ventral da hérniorrafia clássica é a mais<br />

frágil e a que mais frequentemente orig<strong>in</strong>a recidivas<br />

(Slatter, 1993). Pode fortalecer-se essa região recorrendo<br />

à transposição do músculo obturador <strong>in</strong>terno.<br />

Para tal, fazer uma <strong>in</strong>cisão da fáscia e do periósteo ao<br />

longo do bordo caudal do ísquio, na origem do músculo<br />

obturador <strong>in</strong>terno e, utilizando um elevador de periósteo,<br />

elevar o periósteo e o obturador <strong>in</strong>terno. Colocar suturas<br />

de aposição simples <strong>in</strong>terrompidas entre o esfíncter anal<br />

externo, o elevador do ânus e os músculos coccígeos<br />

dorsalmente, podendo <strong>in</strong>corporar o ligamento sacrotuberal.<br />

Transpôr o músculo obturador <strong>in</strong>terno dorsomedialmente,<br />

de forma a cobrir a maior parte do anel herniário,<br />

possibilitando a sua união ao esfíncter anal externo,<br />

medialmente, e aos músculos coccígeos e ao ligamento<br />

sacrotuberal, lateralmente. Se necessário, para dim<strong>in</strong>uir<br />

a tensão, pode-se <strong>in</strong>clusivamente seccionar o tendão de<br />

<strong>in</strong>serção do obturador <strong>in</strong>terno, tendo o cuidado de não<br />

traumatizar os vasos glúteos caudais e o nervo per<strong>in</strong>eal<br />

(Bojrab et al., 1998). Pode colocar-se um dreno para<br />

facilitar a elim<strong>in</strong>ação de exsudados (Sales Luis e Ferreira,<br />

1986). Encerrar tecido subcutâneo e pele da forma<br />

usual.<br />

Herniorrafia com transposição<br />

do músculo glúteo superficial<br />

Esta técnica é utilizada como alternativa à <strong>in</strong>corporação<br />

do ligamento sacrotuberal numa herniorrafia clássica<br />

<strong>nos</strong> casos em que o músculo coccígeo está muito<br />

atrofiado, ou para possibilitar uma resistência adicional<br />

às herniorrafias clássicas. A <strong>in</strong>cisão cutânea prolonga-se<br />

cranialmente sobre o músculo glúteo superficial, rebate-<br />

-se a fáscia que o recobre, e procede-se à dissecção<br />

romba do músculo glúteo superficial. A sua <strong>in</strong>serção ao<br />

7


Ferreira, F. e Delgado, E.<br />

nível do terceiro trocanter é seccionada, e o músculo é<br />

reflectido caudalmente, e suturado ao esfíncter anal caudalmente<br />

e ao tecido subjacente dorsal e ventralmente.<br />

Para dim<strong>in</strong>uir a tensão por vezes é necessário separar o<br />

bordo cranial do músculo da fáscia lata e seccionar parte<br />

da sua <strong>in</strong>serção sacral (Bellenger e Canfield, 1993).<br />

Uma modificação deste procedimento consiste na rotação<br />

a 45º do "flap" muscular, sendo o tendão de <strong>in</strong>serção<br />

suturado à fascia isquiática, o bordo caudal ao esfíncter<br />

anal externo e o bordo cranial ao ligamento sacrotuberal.<br />

A taxa de sucesso obtida com esta técnica modificada<br />

(64%) foi menor do que a obtida com a técnica<br />

de transposição do músculo glúteo superficial descrita<br />

<strong>in</strong>icialmente (81%) (Weaver e Omamegbe, 1981).<br />

Herniorrafia com transposição<br />

do músculo semitendi<strong>nos</strong>o<br />

Para uma herniorrafia unilateral, recorrer ao músculo<br />

semitendi<strong>nos</strong>o contralateral. Após a realização dos<br />

procedimentos descritos para a herniorrafia clássica, à<br />

excepção do encerramento do tecido subcutâneo e pele,<br />

prolongar a <strong>in</strong>cisão cutânea até à tuberosidade isquiática<br />

do antímero oposto, e daí até à região do joelho,<br />

ao longo da face caudal da coxa. Desbridar o músculo<br />

semitendi<strong>nos</strong>o dos tecidos subjacentes, seccioná-lo distalmente<br />

o mais próximo possível do joelho e transpo-lo<br />

para a região per<strong>in</strong>eal. Pode ser necessário seccionar a<br />

sua <strong>in</strong>serção ao nível da tuberosidade isquiática. Utilizando<br />

fio de nylon ou de polipropileno, suturar a extremidade<br />

distal do músculo semitendi<strong>nos</strong>o ao ligamento<br />

sacrotuberal e ao músculo coccígeo, a face lateral ao<br />

esfíncter anal externo, e a face medial ao músculo obturador<br />

<strong>in</strong>terno, ao músculo isquiouretral, à fáscia pélvica<br />

e ao periósteo da face dorsal do ísquio. Colocar pontos<br />

de aproximação para encerrar o espaço morto, aproximar<br />

o tecido subcutâneo e f<strong>in</strong>almente suturar a pele.<br />

Adicionalmente pode colocar-se um dreno de sucção<br />

fechada (Bojrab et al., 1998).<br />

Utilização de redes prostéticas<br />

Quando o anel herniário tem uma dimensão que torna<br />

impossível a aproximação dos tecidos sem criar uma<br />

tensão excessiva, pode utilizar-se um implante prostético.<br />

Os materiais mais utilizados são as redes monofilamento<br />

de polipropileno ou polietileno (Zimmermann,<br />

1968). Estes materiais são bem tolerados em feridas, são<br />

extensíveis e não são reabsorvidos. A rede deve estender-se<br />

1,5 a 3 cm para além das margens do defeito e é<br />

ancorada a estruturas resistentes com pontos isolados de<br />

fio monofilamento não reaborvível. O tecido de granulação<br />

e a rede de capilares <strong>in</strong>vadem a rede, formando uma<br />

camada de tecido conjuntivo em 4 a 6 semanas (Ponka,<br />

1980). As desvantagens <strong>in</strong>cluem a possibilidade de<br />

rejeição do material e irritação dos tecidos subjacentes.<br />

Existem relatos de utilização de colagéneo de suíno para<br />

encerramento da hérnia per<strong>in</strong>eal (Frankland, 1986).<br />

8<br />

Colonpexia e cistopexia por fixação<br />

do ducto deferente<br />

RPCV (2003) 98 (545) 3-9<br />

Após herniorrafia e castração dos <strong>animais</strong> com retroflexão<br />

da bexiga ou da próstata, o cólon e os ductos<br />

deferentes podem ser ancorado à parede abdom<strong>in</strong>al,<br />

para prevenir futuros deslocamentos caudais destas vísceras<br />

(Bilbrey, 1990). Esta técnica deve ser utilizada <strong>nos</strong><br />

casos em que houve recorrência da hérnia com as técnicas<br />

de transposição muscular. Há autores que defendem<br />

que recorrendo a esta técnica há menor risco de complicações<br />

(Maute et al., 2001). Colocar o cão em decúbito<br />

dorsal e efectuar os procedimentos necessários para o<br />

submeter a uma laparotomia. Se o cão não for castrado,<br />

efectuar a castração pré-escrotal. Abrir a cavidade abdom<strong>in</strong>al,<br />

expor o cólon e a bexiga ur<strong>in</strong>ária e traccionar o<br />

cólon cranialmente, para impedir que se desloque para o<br />

espaço per<strong>in</strong>eal. Suturá-lo à parede abdom<strong>in</strong>al dorsolateralmente,<br />

com 6 a 8 pontos em X, com fio reabsorvível.<br />

Segurar a bexiga com um ponto de referência e expôr os<br />

ductos deferentes. Traccioná-los ligeiramente, de modo<br />

a que se desloquem das baínhas vag<strong>in</strong>ais para o <strong>in</strong>terior<br />

da cavidade abdom<strong>in</strong>al. Colocar um ponto de referência<br />

em cada ducto deferente. Criar um canal artificial e oco,<br />

ao nível do músculo transverso do abdómen por onde<br />

o ducto deferente possa passar, fazendo duas <strong>in</strong>cisões<br />

paralelas nas fibras musculares e efectuando disseção<br />

romba entre as <strong>in</strong>cisões com uma p<strong>in</strong>ça hemostática.<br />

Atravessar o canal com o ducto deferente do antímero<br />

correspondente e fixá-lo, de forma a retrair a bexiga e a<br />

próstata caudalmente. Suturar o ducto deferente à parede<br />

abdom<strong>in</strong>al e rodar a extremidade livre, para a poder<br />

suturar à porção média do próprio ducto deferente,<br />

desenhando assim uma ansa. Repetir o procedimento no<br />

antímero oposto. Encerrar a cavidade abdom<strong>in</strong>al (Bojrab<br />

et al., 1998).<br />

Cuidados pós-operatórios e complicações<br />

Devem ser adm<strong>in</strong>istrados analgésicos para dim<strong>in</strong>uir<br />

as hipóteses de ocorrência dum prolapso rectal. Se tal<br />

suceder, colocar uma sutura em bolsa de tabaco no ânus.<br />

Nos pacientes urémicos deve manter-se a fluidoterapia.<br />

No local da sutura podem aplicar-se compressas quentes,<br />

para dim<strong>in</strong>uir o edema e a irritação na região perianal.<br />

Deve manter-se a adm<strong>in</strong>istração de um antibiótico<br />

de largo espectro e eficaz contra Escherichia coli. Os<br />

emolientes fecais devem ser adm<strong>in</strong>istrados em média<br />

durante 2 meses, pois dim<strong>in</strong>uem as possibilidades de<br />

recorrência (Bojrab et al., 1998).<br />

A <strong>in</strong>fecção e a consequente deiscência da sutura<br />

podem ser prevenidas pela adm<strong>in</strong>istração de antibiótico.<br />

No caso de existir dor marcada e claudicação do<br />

membro posterior, devemos suspeitar de <strong>in</strong>corporação<br />

do nervo ciático numa das suturas e proceder a uma<br />

<strong>in</strong>tervenção cirúrgica para remover essa sutura por<br />

<strong>in</strong>termédio de um acesso lateral à anca. Poderá também<br />

ocorrer <strong>in</strong>cont<strong>in</strong>ência fecal devido à dor, a <strong>in</strong>flamação


Ferreira, F. e Delgado, E.<br />

no local ou à <strong>in</strong>corporação do nervo pudendo ou do<br />

nervo caudal rectal numa das suturas, e esta <strong>in</strong>cont<strong>in</strong>ência<br />

resolve-se após a re<strong>in</strong>ervação da zona pelo<br />

nervo contralateral. Outras complicações possíveis são:<br />

hemorragia, depressão, anorexia, tenesmo, disquézia,<br />

flatulência, hematoquézia, prolapso rectal, dano uretral,<br />

disúria, estrangúria, atonia da bexiga, necrose da bexiga<br />

e <strong>in</strong>cont<strong>in</strong>ência ur<strong>in</strong>ária.<br />

Prognóstico<br />

O risco de se <strong>in</strong>stituir um tratamento médico prolongado<br />

é o de se aumentar a probabilidade de encarceramento<br />

herniário da próstata, da bexiga ou do <strong>in</strong>test<strong>in</strong>o,<br />

o que porá em risco a vida do animal. O prognóstico é<br />

tanto mais favorável quanto mais precoce for a correcção<br />

cirúrgica. A probabilidade de recorrência da hérnia<br />

dim<strong>in</strong>ui com a castração. Os pacientes com retroflexão<br />

da bexiga têm um prognóstico reservado, porque se já<br />

existir <strong>in</strong>competência do esfíncter anal ou comprometimento<br />

da <strong>in</strong>ervação da bexiga, essas situações não serão<br />

reversíveis após a cirurgia.<br />

Tratamento cirúrgico da hérnia<br />

per<strong>in</strong>eal no gato<br />

As hérnias <strong>per<strong>in</strong>eais</strong> são uma patologia extremamente<br />

rara no gato. São geralmente bilaterais, com maior<br />

<strong>in</strong>cidência do lado esquerdo e secundárias a uretrostomias<br />

ou a tenesmo devido a colite, massas <strong>per<strong>in</strong>eais</strong> ou<br />

megacólon (Bright e Bauer, 1994). É sempre necessária<br />

a correcção da etiologia. O tratamento cirúrgico é semelhante<br />

ao descrito para o cão, com a excepção de que<br />

no caso da herniorrafia clássica não se pode <strong>in</strong>corporar<br />

o ligamento sacrotuberal nas suturas, porque ele não<br />

existe. De um modo geral, os autores referem taxas de<br />

recorrência <strong>in</strong>feriores às da espécie can<strong>in</strong>a (Welches et<br />

al., 1992).<br />

Agradecimentos<br />

Ao Prof. Doutor Sales Luis pela revisão do artigo e<br />

pelas sugestões.<br />

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