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Demodicose canina Canine demodicosis - Faculdade de Medicina ...

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ARTIGO DE REVISÃO<br />

<strong>Demodicose</strong> <strong>canina</strong><br />

<strong>Canine</strong> <strong><strong>de</strong>modicosis</strong><br />

José Pedro A. Leitão 1 , João Paulo A. Leitão 2 *<br />

REVISTA PORTUGUESA<br />

DE<br />

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS<br />

1 União Zoófila, Rua Padre Carlos dos Santos, São Domingos <strong>de</strong> Benfica, Lisboa<br />

2 Centro Médico Veterinário <strong>de</strong> Cabeço <strong>de</strong> Mouro, Rua António Tomás Botto, lote3, loja1, Urbanização Cabeço <strong>de</strong> Mouro.<br />

2785-008 São Domingos <strong>de</strong> Rana<br />

Resumo: A <strong>de</strong>modicose <strong>canina</strong> (DC) surge pela multiplicação<br />

exagerada <strong>de</strong> ácaros do género Demo<strong>de</strong>x. Existem três espécies<br />

<strong>de</strong>scritas <strong>de</strong> Demo<strong>de</strong>x no cão, sendo a D. canis a mais frequente.<br />

No <strong>de</strong>senvolvimento da doença interferem vários factores que<br />

condicionam um <strong>de</strong>sequilíbrio na regulação da população<br />

dos ácaros na pele, no qual a predisposição hereditária e a<br />

imunida<strong>de</strong> celular têm um papel chave. A observação<br />

microscópica do produto da raspagem cutânea permite, salvo<br />

algumas excepções, obter um diagnóstico <strong>de</strong>finitivo e rápido. A<br />

possível presença <strong>de</strong> outras patologias em simultâneo <strong>de</strong>ve ser<br />

investigada pois influencia o sucesso terapêutico. Estão<br />

<strong>de</strong>scritas várias formas <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong> DC, as quais ditam<br />

qual a abordagem diagnóstica e terapêutica a adoptar. O<br />

tratamento é, na maioria dos casos, bem sucedido e existem<br />

poucas recidivas se se cumprirem os protocolos terapêuticos e o<br />

seguimento a<strong>de</strong>quado.<br />

Summary: <strong>Canine</strong> <strong><strong>de</strong>modicosis</strong> (CD) emerges from exagerated<br />

proliferation of <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>ctic mites. D. canis is the most frequent<br />

of the three species of Demo<strong>de</strong>x mites in the dog. The course of<br />

disease <strong>de</strong>pends on multiple factors, wich may disrupt the<br />

regulation of skin mite populations. Immunity and genetics play<br />

an important role in the <strong>de</strong>velopment of CD. Skin scrapings<br />

offers a quick and easy diagnosis in most cases. Concurrent<br />

diseases should be investigated as they influence the treatment<br />

outcome. CD has different clinical presentations. Diagnostic<br />

approach and terapeutics <strong>de</strong>pends on the age of onset of disease<br />

and affected body surface. Prognosis is often good and few<br />

relapses occurs if apropriated treatment protocol and follow-up<br />

are taken.<br />

Introdução<br />

A <strong>de</strong>modicose <strong>canina</strong> (DC), <strong>de</strong>rmatite resultante da<br />

multiplicação excessiva <strong>de</strong> ácaros do género Demo<strong>de</strong>x<br />

na pele dos cães, é uma doença multifactorial on<strong>de</strong> a<br />

presença do ácaro se conjuga com factores genéticos<br />

e imunológicos do animal (Griffin et al., 1993). A<br />

raspagem da pele em profundida<strong>de</strong> permite com<br />

facilida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> ácaros do género Demo<strong>de</strong>x<br />

em cães afectados por esta doença (Mathet et al.,<br />

*Correspondência: Tel/Fax: + 351 214456566<br />

1996). O tratamento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das formas <strong>de</strong> apresentação<br />

da doença, é geralmente bem sucedido mas po<strong>de</strong><br />

ser bastante difícil e prolongado.<br />

Etiologia<br />

A DC resulta da proliferação excessiva <strong>de</strong> ácaros<br />

do género Demo<strong>de</strong>x (Figura 1) na pele dos cães<br />

(Guaguère, 1991).<br />

Além <strong>de</strong> D. canis foram relatadas mais duas<br />

espécies <strong>de</strong> Demo<strong>de</strong>x no cão: uma forma curta <strong>de</strong>nominada<br />

D. cornae, e uma forma longa <strong>de</strong>nominada D.<br />

injai (Tabela 1) (Medleau e Hnilica, 2006). A "forma<br />

curta" apresenta características morfológicas distintas<br />

Figura 1 - Raspagem <strong>de</strong> pele. Note-se a multiplicação excessiva <strong>de</strong><br />

ácaros D. canis (objectiva 10x) (original).<br />

Tabela 1 - Dimensões das três espécies do género Demo<strong>de</strong>x (Ferrer,<br />

1997; Scott et al., 2001; Gross et al., 2005)<br />

Demo<strong>de</strong>x canis Demo<strong>de</strong>x cornae Demo<strong>de</strong>x injai<br />

Macho adulto 90-148 µm 334-368 µm<br />

40-250 µm abdómen largo<br />

e truncado<br />

Fêmea adulta<br />

40-300 µm<br />

135


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

Figura 2 - Raspagem <strong>de</strong> pele. Larva e adulto <strong>de</strong> D. canis (objectiva 40x)<br />

(original).<br />

e habita preferencialmente o estrato córneo da<br />

epi<strong>de</strong>rme (Nesbitt e Ackerman, 1998; Gross et al.,<br />

2005) (Figura 5). Na maioria dos casos encontra-se<br />

em associação com D. canis (Scott et al., 2001). Os<br />

ácaros da espécie Demo<strong>de</strong>x injai parecem habitar os<br />

folículos pilosos e as glândulas sebáceas (Mueller e<br />

Figura 3 - Raspagem <strong>de</strong> pele. Fêmea adulta e ovo <strong>de</strong> D. canis<br />

(objectiva 40x) (original).<br />

136<br />

Figura 4 - Raspagem <strong>de</strong> pele. Ninfa <strong>de</strong> D. canis (objectiva 40x)<br />

(original).<br />

Bettenay, 1999; Gross et al., 2005) (Figura 6). Até à<br />

data só está <strong>de</strong>scrito na DC generalizada adulta, especialmente<br />

nas raças terriers e seus cruzamentos<br />

(Medleau e Hnilica, 2006). O West Highland White<br />

Terrier parece ter a maior incidência (Medleau e<br />

Hnilica, 2006). O modo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong>stas espécies<br />

é ainda <strong>de</strong>sconhecido (Medleau e Hnilica, 2006).<br />

Ciclo <strong>de</strong> vida<br />

O ciclo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> D. canis é homoxeno, tem<br />

duração aproximada <strong>de</strong> 18 a 35 dias e compreen<strong>de</strong> 4<br />

estádios evolutivos: ovo fusiforme; larva hexápoda<br />

(Figura 2); ninfa e adulto, ambos octópo<strong>de</strong>s (Nesbitt e<br />

Ackerman, 1998) (Figuras 3 e 4). O ácaro habita os<br />

folículos pilosos, as glândulas sebáceas ou, mais raramente,<br />

as glândulas sudoríparas apócrinas, alimentando-se<br />

<strong>de</strong> células, secreções e <strong>de</strong>tritos epidérmicos<br />

(Mur, 1997). A presença do ácaro em localizações<br />

extra cutâneas (linfonodos superficiais e profundos,<br />

pare<strong>de</strong> intestinal, baço, rins, bexiga, pulmões, tirói<strong>de</strong>,<br />

sangue, leite, urina e fezes) resulta da drenagem<br />

linfática e sanguínea após ruptura folicular (Scott et<br />

al., 2001; Gross et al., 2005). Em condições clínicas,<br />

os ácaros da espécie D. canis não sobrevivem fora dos<br />

folículos pilosos, na superfície corporal ou fora do<br />

hospe<strong>de</strong>iro (Ferrer, 1997).<br />

Transmissão<br />

A transmissão <strong>de</strong> D. canis ocorre por contacto<br />

directo da progenitora para a sua ninhada, ou entre os<br />

cachorros da ninhada, durante as primeiras 48 a 72<br />

horas pós-parto (Scott et al., 2001; Gross et al., 2005).<br />

A transmissão intra-uterina parece não acontecer pois


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

Figura 5 - Raspagem <strong>de</strong> pele. Demo<strong>de</strong>x cornae (objectiva 40x)<br />

(original).<br />

em cachorros abortados ou nascidos por cesariana e<br />

separados das mães infectadas não foi possível<br />

<strong>de</strong>monstrar ácaros (Leitão e Oliveira, 2003). O modo<br />

<strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> D. injai e <strong>de</strong> D. cornae não são<br />

conhecidos. A DC não é consi<strong>de</strong>rada contagiosa entre<br />

animais saudáveis após o período neonatal, uma vez<br />

que a convivência entre cães com <strong>de</strong>modicose generalizada<br />

e cães saudáveis em ambiente confinado ou a<br />

inoculação <strong>de</strong> soluções contendo ácaros na pele <strong>de</strong><br />

animais saudáveis não produzem doença evolutiva<br />

(Mathet et al., 1996). Quaisquer lesões que surjam<br />

curam espontaneamente (Nesbitt e Ackerman, 1998).<br />

D. canis não é consi<strong>de</strong>rado contagioso para gatos ou<br />

seres humanos (Tilley and Smith, 2004).<br />

Patogenia<br />

D. canis está presente em pequeno número como<br />

comensal na pele e nos condutos auditivos em cerca<br />

<strong>de</strong> 30% a 80% dos cães saudáveis, mas apenas alguns<br />

<strong>de</strong>senvolvem a doença (Paradis, 2000; Gross et al,<br />

2005). O agente etiológico não é, portanto, o responsável<br />

exclusivo pela patologia (Paradis, 2000).<br />

Nalguns animais, a pele constitui um habitat<br />

favorável para a rápida reprodução e crescimento <strong>de</strong><br />

D. canis, gerando a <strong>de</strong>modicose (Scott et al., 2001).<br />

As condições específicas que favorecem esta proliferação<br />

anormal são apenas parcialmente conhecidas<br />

(Griffin et al., 1993). Parece tratar-se <strong>de</strong> uma doença<br />

multifactorial on<strong>de</strong> factores genéticos e imunológicos,<br />

parasitários e bacterianos, ecológicos cutâneos e<br />

ambientais se conjugam <strong>de</strong> forma intrincada (Leitão e<br />

Oliveira, 2003). Os conceitos actuais assentam sobre a<br />

coexistência <strong>de</strong> uma supressão da imunida<strong>de</strong> celular e<br />

<strong>de</strong> uma predisposição hereditária (Griffin et al.,<br />

1993).<br />

A predisposição hereditária tem sido suportada pela<br />

maior prevalência da doença em cães <strong>de</strong> raça pura, por<br />

certas raças serem mais afectadas do que outras, pela<br />

Figura 6 - Raspagem <strong>de</strong> pele. Demo<strong>de</strong>x injai (objectiva 10x) (original).<br />

associação da DC com outras doenças hereditárias em<br />

Beagles (ex. <strong>de</strong>ficiência em factor VII) e por nas<br />

ninhadas afectadas parte ou a totalida<strong>de</strong> dos cachorros<br />

apresentarem DC generalizada (Scott et al., 2001). As<br />

raças com presisposição para <strong>de</strong>modicose segundo<br />

Hill, (2002) são: Boston Terrier, Jack Russel Terrier,<br />

Scottish Terrier, Boxer, Bulldog, Chihuahua, Dalmata,<br />

Daschund, Doberman pinscher, Dogue alemão, Galgo<br />

afegão, Malamute do Alasca, Old English Sheepdog,<br />

Pointer, Shar-pei, Weimaraner, West Highland White<br />

Terrier. A eliminação dos animais <strong>de</strong>modécicos ou<br />

portadores do ácaro (progenitores e crias) dos programas<br />

<strong>de</strong> reprodução permitiu a redução ou mesmo a<br />

erradicação da doença em alguns canis <strong>de</strong> reprodução<br />

(Scott et al., 2001). A análise da incidência <strong>de</strong> DC em<br />

alguns canis <strong>de</strong> criação (Collies e Beagles) sugere<br />

uma transmissão hereditária autossómica recessiva<br />

(Scott et al., 2001; Gross et al., 2005).<br />

Uma disfunção imunitária <strong>de</strong>sempenha um papel<br />

fundamental na patogenia da DC (Mathet et al., 1996).<br />

A DC generalizada po<strong>de</strong> ser induzida por administração<br />

<strong>de</strong> soro anti-linfócito ou <strong>de</strong> altas doses <strong>de</strong><br />

corticosterói<strong>de</strong>s e é observada em até 8% dos cães<br />

adultos com hiperadrenocorticismo (Nesbitt e<br />

Ackerman, 1998). No entanto, uma imunossupressão<br />

generalizada não explica a maioria dos casos <strong>de</strong> DC<br />

(Scott et al., 2001). Neste caso, cachorros com DC<br />

generalizada <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>senvolver infecções virais,<br />

pneumonias ou outras infecções sistémicas (Scott<br />

et al., 2001). Da mesma forma, cães adultos com<br />

neoplasias, sobretudo do sistema linforreticular,<br />

ou submetidos a tratamentos imunossupressores<br />

<strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>senvolver DC (Scott et al., 2001).<br />

Adicionalmente, cães com DC são capazes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma resposta humoral normal quando<br />

vacinados contra esgana - hepatite infecciosa <strong>canina</strong><br />

(Scott et al., 2001).<br />

Estudos sobre as populações <strong>de</strong> linfócitos<br />

envolvidos na DC sugerem uma responsabilida<strong>de</strong> dos<br />

linfócitos T citotóxicos activados por uma irregulari-<br />

137


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

da<strong>de</strong> na função dos linfócitos T helper (Scott et al.,<br />

2001; Gross et al., 2005). Documentou-se ainda uma<br />

diminuição na produção <strong>de</strong> interleucina 2 (IL-2) e<br />

do número <strong>de</strong> receptores para IL-2 nos linfócitos<br />

circulantes (Mathet et al., 1996; Rho<strong>de</strong>s et al., 2004).<br />

Estes dados indicam um <strong>de</strong>feito no processamento e<br />

apresentação dos antigénios <strong>de</strong> D. canis que conduz a<br />

uma resposta ina<strong>de</strong>quada dos linfócitos T helper tipo 1<br />

(Scott et al., 2001). Julga-se que este <strong>de</strong>feito nos<br />

linfócitos T específicos para D. canis tem uma<br />

componente hereditária <strong>de</strong> expressão variável (Scott<br />

et al., 2001). A investigação nesta área permitirá<br />

compreen<strong>de</strong>r melhor a patogenia e <strong>de</strong>senvolver<br />

novas formas <strong>de</strong> tratamento. A criação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />

biológicos (usando enxertos <strong>de</strong> pele <strong>de</strong> cão em ratos<br />

<strong>de</strong> laboratório) parece ser um avanço no estudo da<br />

imunopatologia da <strong>de</strong>modicose (Scott et al., 2001).<br />

Vários factores predisponentes para a DC generalizada,<br />

tais como a administração <strong>de</strong> fármacos imunossupressores<br />

(ex: anti-neoplásicos, corticosterói<strong>de</strong>s,<br />

progestagéneos), doenças sistémicas graves, stress<br />

transitório (cirurgia, estro, parto, lactação) e infecção<br />

por Dirofilaria sp. ou Trichuris vulpis, têm sido<br />

sugeridos ou documentados (Griffin et al., 1993;<br />

Rho<strong>de</strong>s et al., 2004). Apesar <strong>de</strong> não ter sido estabelecida<br />

em <strong>de</strong>finitivo uma relação <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>,<br />

diversas doenças metabólicas ou potencialmente<br />

imunossupressoras têm sido associadas a casos <strong>de</strong> DC<br />

generalizada no cão adulto: hiperadrenocorticismo<br />

espontâneo ou iatrogénico, hipotiroidismo, diabetes<br />

mellitus, neoplasias malignas, leishmaniose, blastomicose<br />

e outras micoses profundas (Medleau e Hnilica,<br />

2006). Num estudo a propósito do tratamento <strong>de</strong> 22<br />

casos <strong>de</strong> DC generalizada no cão adulto, Guaguère<br />

<strong>de</strong>monstrou a existência <strong>de</strong> uma patologia subjacente<br />

em 77,3% dos casos (Guaguère, 1991). Duclos et al.<br />

(1994) e Lemarié e colaboradores (1996) obtiveram<br />

resultados semelhantes (Ferrer, 1997).<br />

Figura 7 - DC Localizada juvenil numa ca<strong>de</strong>la com 6 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Lesão focal alopécica, <strong>de</strong>scamativa e eritematosa na cabeça (original).<br />

138<br />

Não parece haver predisposição sexual nem<br />

influência da castração no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma<br />

DC (Leitão e Oliveira, 2003; Gross et al., 2005).<br />

Sinais clínicos<br />

A DC po<strong>de</strong> ser classificada segundo a apresentação<br />

clínica e a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início (Nesbitt e Ackerman, 1998).<br />

Na prática, a sobreposição é comum.<br />

De acordo com a apresentação clínica são reconhecidos<br />

três tipos <strong>de</strong> DC: DC localizada (DCL), DC<br />

generalizada (DCG) e podo<strong>de</strong>rmatite <strong>de</strong>modécica<br />

(PD).<br />

A DCL representa cerca <strong>de</strong> 90% dos casos <strong>de</strong> DC,<br />

é mais frequente em cães jovens (até 12 meses) e<br />

caracteriza-se pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pequenas<br />

áreas <strong>de</strong> alopecia (até seis) bem circunscritas, com<br />

<strong>de</strong>scamação e eritema variáveis, geralmente não<br />

pruriginosas (Niemand e Suter, 1992; Rho<strong>de</strong>s et al.,<br />

2004; Gross et al., 2005) (Figuras 7 e 8). Po<strong>de</strong>m surgir<br />

hiperpigmentação e comedões (Mathet et al., 1996).<br />

Afecta sobretudo a face, a região periocular e as<br />

comissuras labiais, o pescoço e os membros<br />

anteriores, mas qualquer área do corpo po<strong>de</strong> estar<br />

envolvida (Ferrer, 1997; Rho<strong>de</strong>s et al., 2004; Gross et<br />

al., 2005). A pio<strong>de</strong>rmite secundária é rara (Paradis,<br />

2000). A evolução é benigna e na maioria dos casos<br />

(cerca <strong>de</strong> 90%) há resolução espontânea em 6 a 12<br />

semanas (Griffin et al., 1993; Rho<strong>de</strong>s et al., 2004). A<br />

recidiva é rara mas as lesões po<strong>de</strong>m aparecer e <strong>de</strong>saparecer<br />

no <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> vários meses (Scott et al.,<br />

2001). Cerca <strong>de</strong> 10% dos casos <strong>de</strong> DCL evoluem para<br />

DCG, nalguns casos tão rapidamente que a forma<br />

localizada passa <strong>de</strong>spercebida (Ferrer, 1997; Rho<strong>de</strong>s<br />

et al., 2004). A otite externa ceruminosa bilateral (otite<br />

<strong>de</strong>modécica - OD), com ou sem prurido associado, é<br />

uma apresentação muito rara nesta forma e po<strong>de</strong> ser a<br />

Figura 8 - DC Localizada adulta num Pequinês com 8 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Envolvimento do pescoço com lesão alopécica eritematosa (original).


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

Figura 9 - DCG juvenil numa ca<strong>de</strong>la com 5 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Distribuição multifocal <strong>de</strong> lesões alopécicas, eritematosas e <strong>de</strong>scamativas<br />

na cabeça, pescoço e membros (original).<br />

única manifestação clínica da doença, necessitando<br />

tratamento específico (Nesbitt e Ackerman, 1998).<br />

Não foram <strong>de</strong>monstradas alterações imunológicas em<br />

cães com DCL (Gross et al., 2005). No entanto, um<br />

<strong>de</strong>feito genético imunitário <strong>de</strong> expressão focal po<strong>de</strong><br />

estar presente na DCJ localizada permitindo a sua<br />

evolução para a forma generalizada (Gross et al.,<br />

2005).<br />

A DCG, mais frequente em cachorros até aos 18<br />

meses, é uma das <strong>de</strong>rmatopatias mais severas dos<br />

caní<strong>de</strong>os, po<strong>de</strong>ndo aparecer generalizada logo <strong>de</strong><br />

início ou sob a forma, mais comum, <strong>de</strong> múltiplas<br />

lesões mal circunscritas que se agravam com o tempo<br />

(Scott et al., 2001; Gross et al., 2005) (Figuras 9 e 10).<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se a existência <strong>de</strong> DCG sempre que hajam<br />

muitas lesões localizadas (mais que 12), envolvimento<br />

<strong>de</strong> toda uma região corporal (ex: face) ou envolvimento<br />

completo <strong>de</strong> duas ou mais extremida<strong>de</strong>s podais<br />

(Medleau e Hnilica, 2006). Casos intermédios, com<br />

6 a 12 lesões localizadas, <strong>de</strong>vem ser avaliados <strong>de</strong><br />

forma individual (Scott et al., 2001). A DCG afecta<br />

sobretudo a cabeça, o tronco e os membros<br />

(Knottenbelt, 1994; Gross et al., 2005) (Figura 11). O<br />

abdómen é a região menos afectada, possivelmente<br />

Figura 11 - DCG juvenil numa ca<strong>de</strong>la com 6 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Lesões <strong>de</strong><br />

furunculose com eritema, alopecia e seborreia (original).<br />

Figura 10 - DCG juvenil num Dogue <strong>de</strong> Bordéus com 12 meses <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>. Distribuição generalizada <strong>de</strong> lesões alopécicas, eritematosas e<br />

<strong>de</strong>scamativas (original).<br />

pela menor <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> pilosa (Scott et al., 2001). A OD<br />

acompanha com frequência o envolvimento facial mas<br />

po<strong>de</strong> ser a única manifestação clínica <strong>de</strong> DCG (Griffin<br />

et al., 1993; Gross et al., 2005) (Figura 12). A pele<br />

afectada po<strong>de</strong> apresentar eritema, e<strong>de</strong>ma e seborreia,<br />

<strong>de</strong>scamação, comedões, liquenificação, hiperpigmentação,<br />

pústulas, erosões, crostas ou ulceração<br />

(Medleau e Hnilica, 2006). Ao longo do tempo, as<br />

lesões crescem e coalescem, dando lugar a gran<strong>de</strong>s<br />

áreas afectadas (Mathet et al., 1996; Gross et al.,<br />

2005). A pio<strong>de</strong>rmite secundária, comum na DCG,<br />

acompanha-se <strong>de</strong> graus variados <strong>de</strong> prurido. O<br />

autotraumatismo agrava as lesões primárias (Griffin et<br />

al., 1993; Gross et al., 2005). Com a foliculite e a<br />

furunculose surgem lesões pio-hemorrágicas com<br />

exsudados abundantes e formação <strong>de</strong> crostas espessas<br />

e a<strong>de</strong>rentes, em especial na cabeça, pescoço e região<br />

perianal (Scott et al., 2001). Po<strong>de</strong>m mesmo gerar-se<br />

trajectos fistulosos e com o mínimo traumatismo<br />

ocorrer perda <strong>de</strong> tecido cutâneo (Mathet et al., 1996;<br />

Gross et al., 2005). O dono po<strong>de</strong> optar pela eutanásia<br />

<strong>de</strong>vido à gravida<strong>de</strong> das lesões (Mathet et al., 1996).<br />

Animais com pio<strong>de</strong>rmite profunda po<strong>de</strong>m revelar<br />

sinais <strong>de</strong> septicémia com febre, anorexia, letargia e<br />

Figura 12 - Mesmo animal da figura anterior mostrando otite <strong>de</strong>modécica<br />

associada a envolvimento facial grave (original).<br />

139


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

<strong>de</strong>bilitação (Gross et al., 2005; Medleau e Hnilica,<br />

2006). A linfa<strong>de</strong>nopatia periférica é geralmente<br />

marcada e generalizada (Niemand e Sutter, 1992).<br />

Staphylococcus intermedius é a bactéria isolada<br />

com maior frequência (Scott et al., 2001). Outras<br />

bactérias importantes incluem Pseudomonas aeruginosa<br />

(causando pio<strong>de</strong>rmite grave e especialmente<br />

refractária ao tratamento na PD) e Proteus mirabilis<br />

(Scott et al., 2001).<br />

Po<strong>de</strong>m surgir formas atípicas caracterizadas por<br />

múltiplos nódulos (com 2 a 3 mm <strong>de</strong> diâmetro) ou<br />

alopecias focais bem <strong>de</strong>marcadas, sobretudo nas raças<br />

braquicefálicas como o Bulldog inglês, o Boxer e<br />

Pittbull Terriers, bem como no Shar-pei (Scott et al.,<br />

2001; (Gross et al., 2005) (Figura 13).<br />

A PD, quando ocorre isoladamente, po<strong>de</strong> ser o resultado<br />

<strong>de</strong> DCG que curou completamente com excepção<br />

das extremida<strong>de</strong>s podais ou ser a única manifestação da<br />

DC (Mur, 1997; Gross et al., 2005) (Figura 14). Um<br />

inquérito rigoroso permite distinguir os dois casos<br />

(Lopez, 1998). Apesar da doença estar confinada<br />

às extremida<strong>de</strong>s podais, alguns <strong>de</strong>stes cães têm<br />

populações <strong>de</strong> ácaros mais numerosas que o normal nas<br />

zonas <strong>de</strong> pele clinicamente saudável (Scott et al., 2001).<br />

Caracteriza-se por uma <strong>de</strong>rmatite papulonodular com<br />

eritema, e<strong>de</strong>ma e dor, prurido, alopecia, hiperpigmentação,<br />

liquenificação, seborreia, crostas, pústulas,<br />

bolhas e fístulas envolvendo as áreas digital, interdigital<br />

e palmar/plantar (Nesbitt e Ackerman, 1998; Gross<br />

et al., 2005). Esta apresentação é particularmente<br />

propensa a infecção bacteriana secundária, po<strong>de</strong>ndo<br />

tornar-se crónica e resistente ao tratamento (Mur,<br />

1997). Algumas raças são especialmente afectadas pelo<br />

<strong>de</strong>sconforto e dor da PD: Bobtail, Cão da Terra Nova,<br />

Dogue Alemão e São Bernardo (Scott et al., 2001).<br />

As infestações por D. injai caracterizam-se<br />

tipicamente por seborreia oleosa sobretudo na região<br />

dorsal do tronco mas po<strong>de</strong>m surgir outras lesões como<br />

alopecia, eritema, hiperpigmentação e comedões<br />

(Medleau e Hnilica, 2006).<br />

Segundo a ida<strong>de</strong> em que surge, a DC po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>signada como juvenil ou adulta (Ferrer, 1997).<br />

Figura 13 - Forma nodular <strong>de</strong> <strong>de</strong>modicose <strong>canina</strong> numa American<br />

Staffordshire Terrier com cerca <strong>de</strong> 5 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (original).<br />

140<br />

A DC juvenil (DCJ) é tipicamente observada em cães<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as 6 semanas até aos 12 a 18 meses <strong>de</strong> vida<br />

(Nesbitt e Ackerman, 1998). A gran<strong>de</strong> maioria apresenta<br />

a forma localizada mas alguns exibem a forma<br />

generalizada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância (Nesbitt e Ackerman,<br />

1998). Parece haver maior incidência nos cães <strong>de</strong> porte<br />

médio ou gran<strong>de</strong>. A DC generalizada juvenil (DCGJ)<br />

po<strong>de</strong> ser causada por D. canis bem como por D. cornae<br />

(Medleau e Hnilica, 2006). Julga-se que resulta <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>feito genético na resposta imunitária específica<br />

contra D. canis (Scott et al., 2001).<br />

A DC adulta (DCA) po<strong>de</strong> ser causada pelas três<br />

espécies <strong>de</strong> Demo<strong>de</strong>x e surge em cães com mais <strong>de</strong> 2<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (após os 4 anos segundo alguns autores)<br />

(Guaguère, 1991). Nestes casos, doenças concomitantes<br />

<strong>de</strong>vem estar presentes para romper o equilíbrio<br />

que permitiu durante anos a existência <strong>de</strong> ácaros do<br />

género Demo<strong>de</strong>x como parte da fauna cutânea normal,<br />

promovendo a rápida multiplicação do parasita<br />

(Ferrer, 1997). Embora alguns casos relatados<br />

representem animais que "transportaram" a doença<br />

não diagnosticada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ida<strong>de</strong> juvenil, a maioria<br />

resulta <strong>de</strong> condições imunossupressoras na ida<strong>de</strong><br />

adulta (Ferrer, 1997). A história clínica <strong>de</strong>ve permitir<br />

diferenciar as situações.<br />

Diagnóstico<br />

O método diagnóstico <strong>de</strong> eleição da DC é a<br />

observação microscópica do produto da raspagem<br />

<strong>de</strong> pele. O tricograma e a histopatologia <strong>de</strong> biópsias<br />

<strong>de</strong> pele po<strong>de</strong>m ser úteis em <strong>de</strong>terminados casos. Os<br />

dados epi<strong>de</strong>miológicos (ida<strong>de</strong>, raça, existência <strong>de</strong><br />

outros membros da ninhada afectados, história<br />

familiar da doença), a anamnese (ida<strong>de</strong> em que surgiu<br />

a doença, evolução, resposta a terapêuticas anteriores)<br />

e o exame clínico permitem obter informação adicional<br />

importante para elaborar o plano terapêutico.<br />

A raspagem <strong>de</strong> pele, além do diagnóstico, permite a<br />

monitorização do animal ao longo do tratamento<br />

(Bensignor, 2002). Todas as lesões <strong>de</strong> pele, sugestivas<br />

Figura 14 - Podo<strong>de</strong>modicose no mesmo animal da figura 10.<br />

Tumefacção digital <strong>de</strong>vido a furunculose secundária a <strong>de</strong>modicose<br />

generalizada (original).


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

ou não <strong>de</strong> DC, <strong>de</strong>vem ser objecto <strong>de</strong> raspagem e observação<br />

microscópica em pequena ampliação (Leitão e<br />

Oliveira, 2003). As raspagens <strong>de</strong>vem ser profundas e<br />

extensas, evitando zonas <strong>de</strong> elevada fragilida<strong>de</strong> (a<br />

hemorragia produzida prejudica a interpretação), com<br />

fibrose ou hiperqueratose acentuada (a probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> captar ácaros nas raspagens é reduzida) (Medleau e<br />

Hnilica, 2006). Por vezes é necessária a sedação para<br />

obter boas raspagens, sobretudo em áreas difíceis<br />

como os lábios, as pálpebras e os espaços interdigitais<br />

(Griffin et al., 1993). O diagnóstico assenta na<br />

<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> elevado número <strong>de</strong> ácaros adultos<br />

vivos ou <strong>de</strong> um elevado rácio entre formas imaturas<br />

(ovo, larva e ninfa) e formas adultas (Mur, 1997). A<br />

<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> um ácaro ocasional não oferece o<br />

diagnóstico mas não <strong>de</strong>ve ser ignorada pois é raro<br />

encontrar D. canis na pele <strong>de</strong> cães saudáveis (Ferrer,<br />

1997). Raspagens adicionais <strong>de</strong>vem ser realizadas em<br />

diversos outros locais antes <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar improvável<br />

a existência <strong>de</strong> DC (Scott et al., 2001). Embora a<br />

raspagem <strong>de</strong> pele seja um teste rápido e simples, é<br />

comum observar cães com DC que tiveram raspagens<br />

<strong>de</strong> pele negativas para ácaros (Scott et al., 2001).<br />

Apesar da sua menor sensibilida<strong>de</strong>, o tricograma<br />

possibilita a recolha <strong>de</strong> material para diagnóstico em<br />

áreas <strong>de</strong> difícil execução da raspagem (periocular, perinasal<br />

e interdigital) (Bensignor, 2002). Para a recolha<br />

dos pêlos <strong>de</strong>vem ser seleccionadas zonas <strong>de</strong> pele com<br />

hiperqueratose superficial e folicular. O teste po<strong>de</strong> ser<br />

negativo em casos <strong>de</strong> infestação ligeira e nunca <strong>de</strong>ve<br />

substituir a raspagem <strong>de</strong> pele na monitorização do<br />

animal (Mueller et al., 2000; Scott et al., 2001).<br />

Quando diversas raspagens negativas são obtidas <strong>de</strong><br />

um Shar-Pei ou <strong>de</strong> cães com hiperqueratose ou fibrose<br />

cutâneas, em especial na região interdigital, a histopatologia<br />

<strong>de</strong>ve ser realizada antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>scartar a DC<br />

(Griffin et al., 1993; Mueller et al., 2000; Gross et al.,<br />

2005). Mesmo não sendo <strong>de</strong>monstrados ácaros, a pele<br />

<strong>de</strong> cães com DC apresenta padrões histopatológicos<br />

característicos (foliculite mural, <strong>de</strong>rmatite nodular e<br />

foliculite e furunculose supurativas) (Nesbitt e Ackerman,<br />

1998; Gross et al., 2005; Bettenay et al., 2006).<br />

Figura 15 - DCG associada a <strong>de</strong>rmatofitose num cão com 6 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>. Lesões multifocais coalescentes com alopecia, <strong>de</strong>scamação e<br />

hiperpigmentação (original).<br />

A realização <strong>de</strong> hemograma, perfil bioquímico<br />

sérico, urianálise, exame fecal para helmintas e<br />

pesquisa <strong>de</strong> Dirofilaria sp. permite a avaliação mais<br />

completa do estado do animal e mesmo suspeitar ou<br />

diagnosticar uma eventual doença sistémica concomitante.<br />

Esta avaliação <strong>de</strong>ve ser realizada em todos os cães<br />

com mais <strong>de</strong> dois anos com DCG, em cães que não<br />

respon<strong>de</strong>m ao tratamento ou que apresentam recidiva<br />

da doença. Cães com DCG adulta <strong>de</strong>vem realizar testes<br />

<strong>de</strong> função da tirói<strong>de</strong> e das glândulas adrenais. Casos<br />

precoces <strong>de</strong> hiperadrenocorticismo po<strong>de</strong>m ter apenas<br />

expressão <strong>de</strong>rmatológica (incluindo DCG) sem<br />

quaisquer alterações laboratoriais ou sinais sistémicos<br />

clássicos (Griffin et al., 1993). Em cerca <strong>de</strong> 30% a 60%<br />

dos casos não é possível <strong>de</strong>terminar uma patologia<br />

associada no momento do diagnóstico, sendo pru<strong>de</strong>nte<br />

implementar uma vigilância regular, já que doenças<br />

sistémicas graves ou neoplasias po<strong>de</strong>m evi<strong>de</strong>nciar-se<br />

semanas ou meses <strong>de</strong>pois (Mathet et al., 1996).<br />

Diagnóstico diferencial<br />

As situações a consi<strong>de</strong>rar mais frequentemente para<br />

o diagnóstico diferencial são: pio<strong>de</strong>rmite bacteriana<br />

(superficial ou profunda), <strong>de</strong>rmatofitose, hipersensibilida<strong>de</strong><br />

(<strong>de</strong>rmatite por alergia à picada <strong>de</strong> pulga,<br />

hipersensibilida<strong>de</strong> alimentar, atopia, <strong>de</strong>rmatite <strong>de</strong><br />

contacto) e doenças cutâneas imunomediadas<br />

(complexo pemphigus, lúpus eritematoso sistémico,<br />

<strong>de</strong>rmatomiosite facial) (Niemand e Sutter, 1992;<br />

Rho<strong>de</strong>s et al., 2004; Gross et al., 2005). A raspagem<br />

<strong>de</strong> pele bem realizada é usualmente diagnóstica, pelo<br />

que a DC não <strong>de</strong>verá ser confundida com outras<br />

doenças (Leitão e Oliveira, 2003).<br />

Raspagens <strong>de</strong> pele positivas para D. canis não<br />

<strong>de</strong>vem impedir a realização <strong>de</strong> outros exames <strong>de</strong>rmatológicos<br />

como o exame micológico cultural e a<br />

citologia cutânea. Animais com DC e outras doenças<br />

concomitantes têm sido i<strong>de</strong>ntificados pelos autores<br />

(Figura 15 e 16). A citologia cutânea torna-se útil para<br />

dirigir a antibioterapia empírica ou sugerir a necessida<strong>de</strong><br />

Figura 16 - DCG adulta associada a hiperadrenocorticismo num cão<br />

com 10 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Lesões multifocais coalescentes com alopecia,<br />

seborreia e hiperpigmentação. Note-se a distensão abdominal e a atrofia<br />

muscular das coxas (original).<br />

141


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

absoluta <strong>de</strong> antibiograma (caso evi<strong>de</strong>ncie bastonetes<br />

Gram negativos). A leishmaniose po<strong>de</strong> coexistir com a<br />

DC (Oliveira et al., 2002). Os autores já diagnosticaram<br />

quatro cães com DCG e leishmaniose<br />

concomitantes e sugerem a pesquisa <strong>de</strong> Leishmania<br />

spp., sobretudo nas regiões on<strong>de</strong> a doença é endémica.<br />

Tratamento<br />

Embora o tratamento varie com a forma <strong>de</strong> apresentação<br />

da doença, alguns princípios gerais são comuns<br />

(Mathet et al., 1996).<br />

O uso <strong>de</strong> fármacos corticosterói<strong>de</strong>s, em qualquer<br />

dose ou forma <strong>de</strong> apresentação, está contra-indicado<br />

já que o seu efeito imunossupressor po<strong>de</strong> levar à<br />

progressão da doença da forma localizada à forma<br />

generalizada (Hill, 2002). Exceptuam-se as situações<br />

que implicam risco <strong>de</strong> vida para o animal (Scott et al.,<br />

2001; Hill, 2002).<br />

A pio<strong>de</strong>rmite bacteriana, o prurido e a seborreia<br />

<strong>de</strong>vem ser controlados, quer se institua ou não um<br />

tratamento acaricida específico (Medleau e Hnilica,<br />

2006). O uso <strong>de</strong> colares isabelinos ou <strong>de</strong> T-shirts ajuda<br />

a minimizar o autotraumatismo resultante do prurido e<br />

o agravamento da pio<strong>de</strong>rmite (Griffin et al., 1993). O<br />

uso <strong>de</strong> anti-inflamatórios não esterói<strong>de</strong>s no maneio<br />

inicial da pio<strong>de</strong>rmite ajuda a controlar o prurido ao<br />

reduzir a inflamação, a dor e o e<strong>de</strong>ma muitas vezes<br />

presentes. Quando o prurido é intenso associamos<br />

anti-histamínicos sem que surjam efeitos colaterais.<br />

A gravida<strong>de</strong> e a extensão da infecção bacteriana<br />

secundária condicionam o tratamento da pio<strong>de</strong>rmite.<br />

Nas pio<strong>de</strong>rmites superficiais localizadas, o uso <strong>de</strong><br />

champôs à base <strong>de</strong> clorohexidina (2% a 4%)<br />

(peso/volume) ou <strong>de</strong> peróxido <strong>de</strong> benzoílo (2,5%)<br />

(peso/volume) po<strong>de</strong> ser suficiente (Griffin et al.,<br />

1993). Vários autores preferem o peróxido <strong>de</strong> benzoílo<br />

pelas proprieda<strong>de</strong>s antibacteriana, antisseborreica<br />

e antipruriginosa, auxiliando ainda na expulsão do<br />

conteúdo dos folículos pilosos (efeito <strong>de</strong> flushing)<br />

(Hill, 2002; Rho<strong>de</strong>s et al., 2004). A antibioterapia<br />

sistémica <strong>de</strong>ve ser associada nas pio<strong>de</strong>rmites generalizadas<br />

ou profundas (Hill, 2002).<br />

O controlo da pio<strong>de</strong>rmite e da seborreia, ainda que<br />

não seja total até que os ácaros sejam eliminados, permite<br />

reduzir a irritação cutânea, melhorar a penetração<br />

dos acaricidas tópicos e diminuir a imuno<strong>de</strong>pressão<br />

provocada pelo componente bacteriano secundário<br />

(Scott et al., 2001).<br />

A recuperação da DC <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, pelo menos em<br />

parte, <strong>de</strong> um bom estado geral. Devido ao carácter<br />

imuno<strong>de</strong>pressivo que acompanha a DC, os cuidados<br />

básicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como a nutrição, a <strong>de</strong>sparasitação e a<br />

vacinação não <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>scurados (Paradis, 2000).<br />

A vacinação é geralmente adiada até que a pio<strong>de</strong>rmite<br />

seja controlada. Qualquer patologia associada merece<br />

tratamento imediato (Mathet et al., 1996).<br />

142<br />

Tratamento da DCL<br />

O tratamento da DCL assenta em quatro premissas<br />

importantes: é uma forma benigna que resolve<br />

espontaneamente em cerca <strong>de</strong> 90% dos casos; o seu<br />

tratamento não previne a progressão para a forma<br />

generalizada nos restantes 10%; a percentagem <strong>de</strong><br />

cura <strong>de</strong> animais tratados e não tratados não diverge e<br />

as recidivas são raras. De acordo com as premissas<br />

referidas e pelo risco <strong>de</strong> selecção <strong>de</strong> estirpes<br />

resistentes aos acaricidas específicos, o seu uso não é<br />

recomendado no tratamento da DCL (Scott et al.,<br />

2001). O tratamento, a realizar algum, <strong>de</strong>ve ser<br />

conservativo à base <strong>de</strong> peróxido <strong>de</strong> benzoílo (gel,<br />

loção, creme, champô), aplicado 2 a 3 vezes ao dia e<br />

no sentido <strong>de</strong> crescimento do pêlo, ou rotenona e<br />

antibioterapia em caso <strong>de</strong> pio<strong>de</strong>rmite (Medleau e<br />

Hnilica, 2006).<br />

A raspagem <strong>de</strong> pele cada 4 semanas após o diagnóstico<br />

(com ou sem tratamento) permite monitorizar a<br />

evolução da doença. Nas lesões em regressão, as raspagens<br />

mostram poucas formas imaturas ou adultas.<br />

Se as lesões progri<strong>de</strong>m ou se a contagem <strong>de</strong> ácaros<br />

aumenta, incluindo a relação formas larvares/formas<br />

adultas, há progressão para a forma generalizada<br />

da doença e o tratamento acaricida específico está<br />

indicado (Griffin et al., 1993; Hill, 2002).<br />

Tratamento da DCG<br />

Apesar do conhecimento sobre a doença ter evoluído<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente nos últimos anos, continua a ser<br />

uma doença <strong>de</strong> difícil tratamento, com frequência<br />

oneroso e <strong>de</strong>sgastante para o proprietário (Scott et al.,<br />

2001). A discussão acerca da etiopatogenia, da gravida<strong>de</strong><br />

dos sinais clínicos, dos tratamentos disponíveis e<br />

do prognóstico da DCG, permite obter confiança e um<br />

maior envolvimento do dono, essencial para o sucesso<br />

do tratamento. A compreensão dos critérios <strong>de</strong> cura<br />

(clínica, parasitológica e <strong>de</strong>finitiva) é fundamental.<br />

A eficácia do tratamento é monitorizada por raspagens<br />

<strong>de</strong> pele cada 2 a 4 semanas, i<strong>de</strong>almente sempre<br />

nos mesmos locais (Paradis, 2000).<br />

O tratamento <strong>de</strong>ve ser prolongado por pelo menos<br />

mais 30 dias (60 dias para reduzir as recidivas) após a<br />

obtenção das primeiras raspagens <strong>de</strong> pele negativas<br />

simultaneamente em 6 a 8 locais diferentes. São então<br />

realizadas novas raspagens. Se forem negativas, o<br />

tratamento po<strong>de</strong> ser interrompido. Se as raspagens<br />

ainda revelarem ácaros, o tratamento <strong>de</strong>ve continuar<br />

por mais 30 dias (60 dias quando se trata <strong>de</strong> recidivas)<br />

seguido <strong>de</strong> novas raspagens (Scott et al., 2001; Hill,<br />

2002; Rho<strong>de</strong>s et al., 2004).<br />

A cura parasitológica é conseguida quando as<br />

raspagens <strong>de</strong> pele não revelam ácaros (vivos ou<br />

mortos) em qualquer estádio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. A<br />

cura <strong>de</strong>finitiva é alcançada quando são obtidas raspagens<br />

negativas 4 semanas após a cura parasitológica e<br />

<strong>de</strong>pois cada 3 meses por um período <strong>de</strong> 12 meses


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

(Griffin et al., 1993). Note-se que a cura clínica<br />

antece<strong>de</strong> em semanas a meses a cura parasitológica e<br />

que muitas recidivas se <strong>de</strong>vem à paragem precoce do<br />

tratamento (Carlotti et al., 1996). A reavaliação<br />

frequente permite reconhecer o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

recidivas e instituir o tratamento a<strong>de</strong>quado antes do<br />

agravamento das lesões (Griffin et al., 1993; Hill,<br />

2002).<br />

Entre 30% a 50% dos cães com DC com menos <strong>de</strong><br />

1 ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e em bom estado geral curam espontaneamente<br />

com tratamento sintomático (Paradis,<br />

2000). Nestes casos há redução da contagem <strong>de</strong> ácaros<br />

e melhoria clínica progressivas. Caso contrário, a cura<br />

espontânea é improvável e o tratamento acaricida<br />

específico está indicado. Cães com DCG e mais <strong>de</strong> 1<br />

ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> necessitam sempre tratamento acaricida<br />

(Scott et al., 2001).<br />

Existem poucos fármacos eficazes contra ácaros do<br />

género Demo<strong>de</strong>x pelo que há que utilizá-los com<br />

prudência. O tratamento da DCG baseia-se no uso <strong>de</strong><br />

acaricidas como o amitraz (tratamento tópico) e algumas<br />

lactonas macrocíclicas sistémicas (tratamento<br />

sistémico). Apenas a milbemicina oxima e a moxi<strong>de</strong>ctina<br />

estão licenciadas pelo Instituto Nacional da<br />

Farmácia e do Medicamento (INFARMED) para o<br />

tratamento da DC, pelo que o proprietário <strong>de</strong>ve<br />

autorizar a utilização <strong>de</strong> fármacos não licenciados.<br />

Tratamento tópico (amitraz)<br />

Apesar <strong>de</strong> não licenciado pelo INFARMED para<br />

este fim, o amitraz continua a ser uma opção no tratamento<br />

da DCG. Esta formamidina, com activida<strong>de</strong><br />

agonista α2-adrenérgica e inibidora das monoaminoxidases<br />

e da síntese das prostaglandinas, possui<br />

uma acção acaricida baseada na perturbação da transmissão<br />

nervosa (antagonista ao nível dos receptores<br />

da octopamina) (Hugnet et al., 1996; Rho<strong>de</strong>s et al.,<br />

2004).<br />

O amitraz é aplicado sob a forma <strong>de</strong> banho, por<br />

diluição aquosa da emulsão comercial. Para maximizar<br />

os resultados do uso do amitraz, algumas<br />

medidas preparatórias são indispensáveis:<br />

1. Cães <strong>de</strong> pêlo médio/longo <strong>de</strong>vem ser sujeitos a<br />

tosquia completa, rente e regular <strong>de</strong> forma a melhorar<br />

o contacto da solução aquosa <strong>de</strong> amitraz com a pele e<br />

a sua penetração nos folículos pilosos (Hill, 2002).<br />

2. Remoção <strong>de</strong> todas as crostas. Nalguns casos é<br />

necessária a tranquilização ou mesmo anestesia, já<br />

que a remoção <strong>de</strong> crostas espessas e a<strong>de</strong>rentes po<strong>de</strong><br />

revelar-se muito dolorosa. O uso <strong>de</strong> agentes sedativos<br />

agonistas α2-adrenérgicos (ex: me<strong>de</strong>tomidina,<br />

xilazina, benzodiazepinas) po<strong>de</strong> causar toxicida<strong>de</strong><br />

sinergística e <strong>de</strong>ve ser evitado. Caso contrário, a<br />

aplicação do amitraz <strong>de</strong>ve ser adiada por 24 horas.<br />

3. Banho completo com champô antisseborreico e<br />

antibacteriano, i<strong>de</strong>almente antes <strong>de</strong> cada tratamento<br />

com amitraz. O banho em sistema <strong>de</strong> whirlpool<br />

(corrente suave <strong>de</strong> água) é benéfico. Estes procedimentos,<br />

essenciais para um contacto óptimo da<br />

medicação com a pele afectada, po<strong>de</strong>m conferir à pele<br />

um aspecto irritado. De seguida, o animal é gentilmente<br />

enxugado com uma toalha para não haver<br />

diluição adicional da solução <strong>de</strong> amitraz na água<br />

retida na superfície corporal (Hill, 2002). Outra opção<br />

é aplicar o banho 12 a 24 horas antes da solução <strong>de</strong><br />

amitraz, embora a <strong>de</strong>sejada activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> flushing<br />

folicular possa ser perdida neste intervalo.<br />

4. A solução <strong>de</strong> amitraz <strong>de</strong>ve ser aplicada continuamente<br />

em todo o corpo (nas zonas afectadas e não<br />

afectadas) por um período mínimo <strong>de</strong> 10 minutos. As<br />

extremida<strong>de</strong>s podais <strong>de</strong>vem ficar submersas ou<br />

envolvidas por um pano embebido na solução e suavemente<br />

massajadas, especialmente em caso <strong>de</strong> PD<br />

(Hill, 2002). O amitraz <strong>de</strong>ve permanecer na pele por<br />

duas semanas. A secagem com toalha ou a sua<br />

remoção através <strong>de</strong> banhos, incluindo a água da chuva<br />

ou <strong>de</strong> piscinas está contra-indicada (Hill, 2002). Se<br />

as condições climatéricas constituírem um risco<br />

importante para infecções respiratórias, o uso <strong>de</strong><br />

secador <strong>de</strong> ar quente ou a exposição a um radiador está<br />

sugerido, embora o calor possa agravar o eritema e o<br />

prurido. Se não for possível manter o animal seco<br />

entre as aplicações <strong>de</strong> amitraz, a aplicação seguinte<br />

po<strong>de</strong> ser antecipada.<br />

5. A solução <strong>de</strong> amitraz <strong>de</strong>ve ser usada imediatamente<br />

após a sua preparação. O amitraz, por oxidação<br />

e acção dos raios ultravioletas, <strong>de</strong>grada-se em<br />

N-metilformamidina, substância muito mais tóxica<br />

do que a original. A solução <strong>de</strong> amitraz <strong>de</strong>ve ser<br />

conservada num recipiente opaco bem fechado e<br />

armazenada ao abrigo da luz (Griffin et al., 1993;<br />

Ferrer, 1997; Scott et al., 2001). Embalagens fora <strong>de</strong><br />

prazo, com <strong>de</strong>pósito ou abertas há algum tempo não<br />

<strong>de</strong>vem ser utilizadas (Nesbitt e Ackerman, 1998).<br />

O consenso mais generalizado consiste em iniciar<br />

o tratamento com aplicações quinzenais <strong>de</strong> amitraz<br />

na concentração <strong>de</strong> 0,025% (peso/volume). Este<br />

protocolo permite obter percentagens <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> 60%<br />

a 80% em cães com DCG e ida<strong>de</strong> inferior a 18 meses<br />

(Nesbitt e Ackerman, 1998). Nos casos não responsivos<br />

ou quando após 8 a 10 tratamentos não se obtêm<br />

raspagens negativas, está indicado aumentar a<br />

frequência do tratamento para semanal, mantendo a<br />

concentração a 0,025% (peso/volume) ou subindo<br />

para 0,05% a 0,100% (peso/volume). Esta alteração<br />

po<strong>de</strong>rá ser indicada mais cedo se o quadro clínico se<br />

agrava ou se as contagens dos ácaros aumentam ou<br />

não diminuem (Griffin et al., 1993).<br />

Nos casos refractários aos tratamentos quinzenais<br />

ou semanais, recomenda-se utilizar outros fármacos<br />

acaricidas (ex: lactonas macrocíclicas sistémicas) ou<br />

usar o amitraz a 0,125% (peso/volume) em dias alternados<br />

em cada meta<strong>de</strong> do corpo (Mathet et al., 1996).<br />

Num estudo realizado por Medleau e Willemse<br />

(1995), este protocolo mostrou uma percentagem <strong>de</strong><br />

143


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

cura <strong>de</strong> 81% (38/47) nos cães com DC não tratados<br />

anteriormente com amitraz e <strong>de</strong> 75% (18/24) nos<br />

casos refractários ao tratamento quinzenal ou semanal<br />

(Griffin et al., 1993; Nesbitt e Ackerman, 1998). A<br />

duração média do tratamento foi <strong>de</strong> 3,7 meses e não<br />

foi observada toxicida<strong>de</strong> grave (Mathet et al., 1996;<br />

Nesbitt e Ackerman, 1998).<br />

Acredita-se que até 20% dos casos não atingem raspagens<br />

negativas ou recidivam quando o tratamento é<br />

suspenso (Scott et al., 2001). Alguns casos requerem<br />

tratamentos a cada 2 a 4 semanas por toda a vida para<br />

controlar a população <strong>de</strong> ácaros e manter o animal<br />

assintomático (Griffin et al., 1993).<br />

Um estudo <strong>de</strong> Christophe Hugnet et al. (2001)<br />

avaliou a eficácia da aplicação semanal <strong>de</strong> solução <strong>de</strong><br />

amitraz a 1,25% (peso/volume) associada à administração<br />

<strong>de</strong> antídotos (atipamezol e yohimbina) no<br />

tratamento da DCG. Este estudo mostrou uma<br />

percentagem <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> 100% em 8 cães com DC com<br />

ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 4 meses e os 12 anos,<br />

previamente resistentes a múltiplos tratamentos <strong>de</strong><br />

amitraz. O número médio <strong>de</strong> banhos necessário para a<br />

cura parasitológica foi <strong>de</strong> 3 (2-5). O seguimento a<br />

longo prazo permitiu registar a ausência <strong>de</strong> recidiva 6<br />

a 36 meses após o último banho e por 12 ou mais<br />

meses em seis cães. É essencial testar este protocolo<br />

num número elevado <strong>de</strong> cães com DCG antes <strong>de</strong> ser<br />

recomendado (Hugnet et al., 2001).<br />

A OD e a PD po<strong>de</strong>m ser especialmente resistentes<br />

aos tratamentos com a solução aquosa. Vários autores<br />

recomendam a aplicação <strong>de</strong> amitraz em diluições<br />

(volume/volume) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1:9 até 1:60 em parafina<br />

líquida ou propilenoglicol duas a três vezes por<br />

semana nas extremida<strong>de</strong>s podais e no interior dos<br />

condutos auditivos (Knottenbelt, 1994; Rho<strong>de</strong>s et al.,<br />

2004). No caso <strong>de</strong> OD isolada, alguns autores sugerem<br />

a utilização <strong>de</strong> uma solução ótica ceruminolítica<br />

antes <strong>de</strong> recorrer ao amitraz já que o potencial para<br />

ototoxicida<strong>de</strong> ainda não foi suficientemente estudado.<br />

Protocolos similares são sugeridos para lesões<br />

localizadas, <strong>de</strong> forma diária ou em dias alternados<br />

(Nesbitt e Ackerman, 1998).<br />

Vários autores recomendam que a primeira<br />

aplicação do tratamento tópico seja realizada na<br />

clínica veterinária, não só pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

bom tratamento preparatório mas também como<br />

forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração para o dono. A vigilância do<br />

animal por um período <strong>de</strong> 12 a 24 horas permite<br />

reconhecer rapidamente efeitos adversos do<br />

tratamento (Griffin et al., 1993; Scott et al., 2001).<br />

Os efeitos secundários mais comuns são sedação<br />

transitória (po<strong>de</strong> durar 12 a 24 horas, sobretudo após<br />

o primeiro tratamento) e prurido <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong><br />

variável nas primeiras aplicações. O aparente agravamento<br />

dos sinais clínicos não <strong>de</strong>ve conduzir à<br />

interrupção do tratamento. À solução aquosa <strong>de</strong><br />

amitraz <strong>de</strong>ve adicionar-se um emoliente e hidratante<br />

para minimizar o efeito secante. Irritação cutânea,<br />

144<br />

letargia e midríase são menos frequentes e ten<strong>de</strong>m a<br />

reduzir com os tratamentos seguintes. Outros efeitos<br />

secundários incluem reacções alérgicas (urticária e<br />

e<strong>de</strong>ma), vómito, diarreia, hiperglicémia, hipotermia,<br />

vasoconstrição, bradicárdia, convulsões e morte<br />

aguda. Deve aplicar-se uma pomada oftálmica nos<br />

olhos dos animais para proteger da acção irritante dos<br />

champôs e do amitraz (Booth e McDonald, 1998;<br />

Adams, 2001; Rho<strong>de</strong>s et al., 2004).<br />

Cachorros com menos <strong>de</strong> 4 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, cães<br />

geriátricos ou <strong>de</strong>bilitados e raças miniatura são mais<br />

sujeitos ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> reacções adversas.<br />

Nestes casos, o tratamento <strong>de</strong>ve iniciar-se com<br />

soluções mais diluídas [ex: 0,0125% (peso/volume)],<br />

reduzir o tempo <strong>de</strong> contacto com a solução ou tratar<br />

apenas meta<strong>de</strong> do corpo <strong>de</strong> cada vez. A concentração,<br />

o tempo <strong>de</strong> contacto e a extensão da superfície<br />

corporal tratada são gradualmente aumentados se os<br />

primeiros tratamentos são bem tolerados (Griffin et<br />

al., 1993; Booth e McDonald, 1998). O amitraz está<br />

contra-indicado em cães <strong>de</strong> raça Chihuahua, em cães<br />

diabéticos e também em fêmeas gestantes (por não<br />

haver estudos <strong>de</strong> avaliação dos efeitos reprodutivos)<br />

(Booth e McDonald, 1998; Tennant, 2005).<br />

Ocasionalmente, os efeitos secundários tornam-se<br />

progressivamente mais severos com os tratamentos<br />

(Scott et al., 2001). A administração <strong>de</strong> yohimbina<br />

(0,1 mg/kg IV) ou atipamezol (0,2 mg/kg IM) está<br />

indicada para reduzir ou reverter as reacções adversas<br />

importantes. A atropina beneficia alguns animais mas<br />

po<strong>de</strong> induzir arritmias cardíacas e potenciar a<br />

hipomotilida<strong>de</strong> gastrointestinal (Booth e McDonald,<br />

1998; Nesbitt e Ackerman, 1998). Se se preten<strong>de</strong><br />

manter o tratamento com amitraz após reacções<br />

adversas intensas, o uso profiláctico <strong>de</strong> yohimbina<br />

(30 µg/kg SC 15 a 30 minutos antes <strong>de</strong> cada aplicação,<br />

seguido <strong>de</strong> 10 µg/kg SC cada 3 horas, segundo<br />

necessário, após o banho) está recomendado (Scott<br />

et al., 2001).<br />

Os tratamentos com amitraz <strong>de</strong>vem ser realizados<br />

em local bem ventilado e com uso <strong>de</strong> protecção pelo<br />

tratador (luvas, máscara e avental). Deve ser evitado o<br />

contacto com os animais logo após o tratamento<br />

(Booth e McDonald, 1998). O amitraz é suspeito <strong>de</strong><br />

ser um agente carcinogénico para seres humanos.<br />

Mulheres grávidas e diabéticos não <strong>de</strong>vem manipular<br />

o medicamento (Pucheu-Haston, 1999; Hillier et al.,<br />

2004). Dermatite <strong>de</strong> contacto, náuseas, vómitos,<br />

cefaleias do tipo enxaquecas, tonturas e episódios<br />

asmatiformes po<strong>de</strong>m afectar o tratador, mesmo que<br />

não haja contacto cutâneo com a solução (toxicida<strong>de</strong><br />

por inalação). Os efeitos são mais prováveis em pessoas<br />

medicadas com inibidores da monoaminoxidase (ex:<br />

anti<strong>de</strong>pressivos tricíclicos, anti-hipertensores e antihistamínicos)<br />

(Griffin et al., 1993). A solução concentrada<br />

<strong>de</strong> amitraz é inflamável até que se dilua em água<br />

pelo que não <strong>de</strong>ve ser manipulada próximo <strong>de</strong> faíscas<br />

ou chamas (Tennant, 2005).


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

Alguns autores advogam que o uso <strong>de</strong> coleiras<br />

impregnadas com amitraz a 9% (peso/peso) po<strong>de</strong> ser<br />

eficaz em cães até 20 kg. A região cervical do animal<br />

<strong>de</strong>ve ser tosquiada para permitir o contacto óptimo da<br />

coleira com a pele e a coleira <strong>de</strong>ve ser renovada cada<br />

2 semanas durante o tratamento. Segundo os mesmos<br />

autores, para cães pequenos, po<strong>de</strong> ser tão eficaz como<br />

a ivermectina (0,6 mg/kg/dia PO). Ainda, o uso<br />

combinado <strong>de</strong> coleira impregnada com amitraz e <strong>de</strong><br />

ivermectina po<strong>de</strong> ter efeito sinergístico (Rho<strong>de</strong>s et al.,<br />

2004; Medleau e Hnilica, 2006).<br />

Tratamento sistémico<br />

Algumas lactonas macrocíclicas como a ivermectina,<br />

a milbemicina oxima e a moxi<strong>de</strong>ctina têm activida<strong>de</strong><br />

contra ácaros do género Demo<strong>de</strong>x. Estes fármacos<br />

actuam nos invertebrados estimulando a libertação<br />

pré-sináptica do ácido gama-amino-butírico e potenciando<br />

a sua ligação aos seus receptores, provocando<br />

o bloqueio neuromuscular, paralisia e morte do parasita<br />

(Kwochka et al., 1998). Para alguns autores,<br />

aumentam a penetração dos iões <strong>de</strong> cloro no neurónio<br />

pós-sináptico pela elevada afinida<strong>de</strong> pelos canais<br />

cloro-glutamato (Guaguère, 1996; Paradis, 2000).<br />

O uso <strong>de</strong>stes fármacos está indicado em casos<br />

resistentes ao amitraz, quando o amitraz produz<br />

reacções adversas inaceitáveis ou quando a sua<br />

aplicação se torna um problema para os donos (por ser<br />

muito laborioso, implicar bastantes cuidados e ser<br />

potencialmente tóxico). A sua administração a<br />

cachorros com menos <strong>de</strong> 12 semanas <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />

ser ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> cuidados adicionais (Nesbitt e<br />

Ackerman, 1998).<br />

Devido à sua acção microfilaricida, os cães <strong>de</strong>vem<br />

apresentar resultados negativos nos testes <strong>de</strong> pesquisa<br />

<strong>de</strong> Dirofilaria sp. antes <strong>de</strong> iniciarem o tratamento com<br />

estes fármacos (Ferrer, 1997). Cães com DCG adulta<br />

ou PD respon<strong>de</strong>m menos do que cães com DCG<br />

juvenil (Nesbitt e Ackerman, 1998). A duração média<br />

<strong>de</strong> tratamento com as lactonas macrocíclicas é <strong>de</strong> 4<br />

meses (3-9). O tratamento <strong>de</strong>ve ser continuado por<br />

pelo menos 1 mês após a cura parasitológica (2 a 3<br />

meses para os casos que <strong>de</strong>moram mais a respon<strong>de</strong>r).<br />

A milbemicina oxima é mais dispendiosa mas tem<br />

menor potencial tóxico que a ivermectina e a moxi<strong>de</strong>ctina.<br />

A moxi<strong>de</strong>ctina é mais lipofílica que a<br />

ivermectina e <strong>de</strong>ve ser usada com precaução em<br />

animais magros ou <strong>de</strong>bilitados (Paradis, 2000).<br />

Ivermectina<br />

As formulações <strong>de</strong> ivermectina sob a forma<br />

<strong>de</strong> solução injectável e pasta oral são susceptíveis<br />

<strong>de</strong> administração oral a caní<strong>de</strong>os <strong>de</strong> forma não licenciada.<br />

O sabor <strong>de</strong>stas formulações po<strong>de</strong> ser muito<br />

<strong>de</strong>sagradável para alguns cães, induzindo salivação<br />

intensa e perda do medicamento, sendo recomendado<br />

o uso <strong>de</strong> engodos. A ivermectina administrada na dose<br />

<strong>de</strong> 0,3-0,6 mg/kg/dia PO tem mostrado percentagens<br />

<strong>de</strong> cura entre 83% e 100% (Scott et al., 2001). Nas<br />

doses superiores, as percentagens <strong>de</strong> cura são mais<br />

elevadas e as recidivas menos frequentes (0% a 26%),<br />

mesmo nos casos previamente refractários ao<br />

tratamento com amitraz. Está recomendado iniciar<br />

a administração <strong>de</strong> ivermectina na dose <strong>de</strong> 0,1<br />

mg/kg/dia e incrementar em 0,1 mg/kg/dia até uma<br />

dose máxima <strong>de</strong> 0,6 mg/kg/dia para minimizar o risco<br />

<strong>de</strong> efeitos secundários (Lopez, 1998; Nesbitt e<br />

Ackerman, 1998; Hill, 2002). A duração média do<br />

tratamento até à completa resolução é <strong>de</strong> 10 a 12<br />

semanas (Mathet et al., 1996) (Figuras 17 e 18). As<br />

reacções adversas à ivermectina incluem midríase,<br />

anorexia, hipersiália, tremores, letargia, <strong>de</strong>pressão,<br />

ataxia, distúrbios comportamentais, cegueira,<br />

<strong>de</strong>cúbito e mesmo coma e morte nos casos muito<br />

graves (Booth e McDonald, 1998; Medleau et al.,<br />

1996; Hill, 2002). Surgem habitualmente 4 a 12 horas<br />

após a administração, são raras e na maioria dos casos<br />

resolvem em alguns dias com a redução da dose ou a<br />

suspensão da administração (Medleau et al., 1996).<br />

Alguns casos necessitam <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> suporte que<br />

po<strong>de</strong> incluir fluidoterapia endovenosa, administração<br />

<strong>de</strong> carvão activado, alimentação forçada e prevenção<br />

<strong>de</strong> úlceras <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito (Ristic et al., 1995). A<br />

administração <strong>de</strong> fisiostigmina e <strong>de</strong> picrotoxina<br />

também está sugerida nas intoxicações graves<br />

(Guaguère, 1996). A intoxicação po<strong>de</strong> surgir por<br />

sobredosagem ou por reacção idiossincrática.<br />

Numa investigação do Washington State University<br />

College of Veterinary Medicine em Collies <strong>de</strong>monstrou-se<br />

que a sensibilida<strong>de</strong> acrescida aos efeitos<br />

neurotóxicos da ivermectina resulta <strong>de</strong> uma mutação<br />

por <strong>de</strong>lecção do gene MDR1 (gene Multiple Drug<br />

Resistance 1) (Mealey et al., 2001). Esta mutação<br />

provoca uma <strong>de</strong>slocação <strong>de</strong> fase que gera uma stop<br />

codon prematura no gene MDR1, resultando numa<br />

proteína (glicoproteína-P) gravemente truncada, não<br />

funcional. Ensaios com murganhos knockout<br />

MDR1a(-/-) <strong>de</strong>monstraram que a glicoproteína-P<br />

transporta activamente a ivermectina do tecido<br />

cerebral para a circulação periférica, impedindo a sua<br />

acumulação e a sua toxicida<strong>de</strong> neste tecido (Dicato et<br />

al., 1997). Nos Estados Unidos da América, a<br />

prevalência <strong>de</strong>sta mutação nos Collies é relativamente<br />

alta: 22% são homozigóticos para o alelo normal<br />

(MDR1 selvagem/selvagem), 42% são heterozigóticos<br />

portadores (MDR1 selvagem/mutante) e 35% são<br />

homozigóticos para o alelo mutante (MDR1<br />

mutante/mutante) (Mealey et al., 2002). Dados<br />

semelhantes foram registados a partir <strong>de</strong> Collies <strong>de</strong><br />

França e da Austrália (Margo, 2007). Esta mutação foi<br />

também <strong>de</strong>monstrada nas raças Pastor Australiano,<br />

Pastor das Shetland, Pastor Alemão branco, entre<br />

outras. Os animais homozigóticos para o gene mutante<br />

exibem sensibilida<strong>de</strong> à ivermectina, os heterozigóticos<br />

po<strong>de</strong>rão ser sensíveis e os homozigóticos para o gene<br />

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Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

normal não são sensíveis à neurotoxicida<strong>de</strong> da ivermectina.<br />

A ivermectina está por isso contra-indicada<br />

nos homozigóticos para o gene MDR1 mutante já que<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver reacções adversas graves mesmo<br />

com doses únicas muito baixas (0,1 mg/kg) (Mealey et<br />

al., 2001, 2002). Nos heterozigóticos, o seu uso <strong>de</strong>ve<br />

ser muito pru<strong>de</strong>nte. A sensibilida<strong>de</strong> acrescida está<br />

também <strong>de</strong>scrita no Bobtail (Nesbitt e Ackerman,<br />

1998). A sensibilida<strong>de</strong> a outras avermectinas em<br />

Collies e noutras raças <strong>de</strong> cães pastores também foi<br />

referida (Tranquilli et al., 1991; Plumb, 2002). Sem o<br />

acesso a este tipo <strong>de</strong> informação, o uso das avermectinas<br />

nas raças sensíveis i<strong>de</strong>ntificadas reveste-se <strong>de</strong> um<br />

risco importante, facto que <strong>de</strong>ve ser compreendido e<br />

aceite pelo proprietário. Dados preliminares <strong>de</strong> um<br />

estudo sobre a administração <strong>de</strong> ivermectina (0,45-0,6<br />

mg/kg) em dias alternados sugerem que o tratamento<br />

diário po<strong>de</strong> não ser necessário. A associação do tratamento<br />

tópico semanal com amitraz à administração<br />

oral diária <strong>de</strong> ivermectina po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar neurotoxicida<strong>de</strong><br />

grave (Scott et al., 2001; Rho<strong>de</strong>s et al.,<br />

2004).<br />

Milbemicina oxima<br />

A milbemicina oxima usada na dose <strong>de</strong> 0,5-2<br />

mg/kg/dia PO, mostra percentagens <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> 15% a<br />

92% (Nesbitt e Ackerman, 1998; Scott et al., 2001).<br />

As doses mais elevadas estão associadas com as<br />

melhores percentagens <strong>de</strong> cura. O tratamento dura em<br />

média 3 meses (Nesbitt e Ackerman, 1998). Este<br />

protocolo parece ser bem tolerado nas raças sensíveis<br />

à ivermectina (Garfield e Reedy, 1992; Hill, 2002). As<br />

reacções adversas (estupor, ataxia e tremores transitórios)<br />

são raras e <strong>de</strong>saparecem com a interrupção do<br />

tratamento (Paradis, 2000).<br />

Moxi<strong>de</strong>ctina<br />

Existe pouca informação sobre o uso da moxi<strong>de</strong>ctina.<br />

Administrada na dose <strong>de</strong> 0,2-0,4 mg/kg/dia PO,<br />

mostra percentagens <strong>de</strong> cura entre 88% e 100%<br />

Figura 17 - O mesmo cão da figura 10, 87 dias após o início do tratamento.<br />

Note-se a melhoria significativa (original).<br />

146<br />

(González et al., 1998). A duração do tratamento varia<br />

<strong>de</strong> 2 a 5 meses (Lopez, 1998). As reacções adversas<br />

(anorexia, letargia, tremores, ataxia e estupor) são<br />

raras e passageiras (Paradis, 2000). Está também<br />

disponível sob a forma <strong>de</strong> spot on com 2,5%<br />

(peso/volume) <strong>de</strong> moxi<strong>de</strong>ctina para o controlo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>modicose (causada por D. canis), na dose <strong>de</strong> 0,1<br />

ml/kg preconizando 2 a 4 aplicações a cada 4<br />

semanas, mas não especificando qual a forma da<br />

doença (Bayer, 2003). Apesar do fabricante reportar<br />

uma redução <strong>de</strong> 97,84% no número <strong>de</strong> ácaros nos cães<br />

tratados com este regime, no final do estudo foram<br />

encontrados ácaros num número significativo <strong>de</strong> cães<br />

(Bayer, 2003). Muitos autores acreditam que a moxi<strong>de</strong>ctina<br />

neste regime não é eficaz para o tratamento<br />

da DCG, recomendado mais estudos para avaliar a<br />

eficácia <strong>de</strong> regimes não autorizados (Bonagura e<br />

Twedt, 2009).<br />

Doramectina<br />

Há relatos <strong>de</strong> que a doramectina na dose <strong>de</strong> 0,6<br />

mg/kg SC uma vez por semana é eficaz na DC com<br />

percentagens <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 85%. As reacções<br />

adversas (midríase, letargia, cegueira e coma) são<br />

raras (Medleau e Hnilica, 2006; Bonagura e Twedt,<br />

2009).<br />

Em todos os trabalhos publicados, a percentagem <strong>de</strong><br />

cura clínica exce<strong>de</strong> a verda<strong>de</strong>ira percentagem <strong>de</strong> cura,<br />

com recidivas em 10% a 45% dos casos. As recidivas<br />

po<strong>de</strong>m surgir em qualquer altura mas são mais<br />

observadas nos primeiros 3 meses após o fim do<br />

tratamento, possivelmente por tratamento insuficiente.<br />

Se a recidiva surge nos primeiros 3 meses, o<br />

tratamento mais vigoroso (dose e/ou frequência) com<br />

o mesmo fármaco po<strong>de</strong> levar à cura. Se o segundo<br />

tratamento falha ou se a primeira recidiva ocorre 9 ou<br />

mais meses após o fim do tratamento, provavelmente<br />

tratamentos adicionais com o mesmo fármaco não<br />

conduzem à cura. Fármacos alternativos <strong>de</strong>vem ser<br />

usados.<br />

Com os tratamentos actuais nem todos os cães com<br />

DC alcançam a cura. Nestes casos, o dono po<strong>de</strong><br />

escolher entre o tratamento crónico <strong>de</strong> manutenção e a<br />

eutanásia. Os autores acompanham dois casos em<br />

tratamento com ivermectina em dias alternados (0,6<br />

mg/kg) há cerca <strong>de</strong> 3 anos sem que tenham manifestado<br />

sinais <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong>. Outros autores relatam alguns<br />

casos <strong>de</strong> tratamento oral cada 2 a 3 dias com<br />

ivermectina ou milbemicina oxima por períodos <strong>de</strong> 4<br />

ou mais anos, igualmente sem efeitos secundários<br />

(Scott et al., 2001).<br />

Imunoestimulantes<br />

O uso <strong>de</strong> imunoestimulantes inespecíficos para<br />

melhorar a resposta ao tratamento específico <strong>de</strong> DC é<br />

advogado por alguns. Um medicamento imunológico


Leitão JPA e Leitão JPA RPCV (2008) 103 (567-568) 135-149<br />

recente à base <strong>de</strong> Propyonibacterium acnes e E. coli,<br />

que induz a activação <strong>de</strong> macrófagos, a proliferação e<br />

diferenciação <strong>de</strong> linfócitos B e a produção <strong>de</strong><br />

citoquinas, vem colmatar uma lacuna na estratégia <strong>de</strong><br />

tratamento da DC. A utilização <strong>de</strong>ste produto como<br />

coadjuvante ao protocolo convencional acaricida po<strong>de</strong><br />

permitir reduzir a sintomatologia e o período <strong>de</strong><br />

recuperação da DC (Calier, 2006).<br />

Prognóstico<br />

O prognóstico varia com o tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>modicose, a<br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início da doença e a presença <strong>de</strong> patologias<br />

concomitantes. Os casos <strong>de</strong> DCL são mais benignos<br />

do que os casos <strong>de</strong> DCG. A DCG juvenil tem prognóstico<br />

menos grave do que a DCG adulta. Os resultados<br />

terapêuticos parecem variar em função da patologia<br />

associada. As causas iatrogénicas e as causas não<br />

i<strong>de</strong>ntificadas têm melhor prognóstico (100% e 80% <strong>de</strong><br />

percentagens <strong>de</strong> cura, respectivamente) do que o<br />

hiperadrenocorticismo espontâneo (57,1%) ou o<br />

hipotiroidismo (25%). O tempo necessário para a cura<br />

parasitológica parece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da carga parasitária<br />

inicial (Guaguère, 1991).<br />

Prevenção<br />

A ovario-histerectomia está recomendada por duas<br />

razões: por a doença po<strong>de</strong>r exacerbar ou recidivar<br />

aquando do estro e por afastar as fêmeas afectadas das<br />

linhas <strong>de</strong> reprodução. (Nesbitt e Ackerman, 1998;<br />

Hill, 2002). Apesar <strong>de</strong> a American Aca<strong>de</strong>my of<br />

Veterinary Dermatology recomendar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1981 a<br />

esterilização dos animais com DCG e dos reprodutores<br />

que geram ninhadas afectadas, enquanto o carácter<br />

hereditário da doença não for <strong>de</strong>finitivamente provado<br />

será difícil implementar esta medida no universo dos<br />

criadores <strong>de</strong> raças puras (Mathet et al., 1996; Gross et<br />

al., 2005).<br />

Conclusão<br />

A DC é uma doença parasitária cutânea grave resultante<br />

da multiplicação exagerada <strong>de</strong> ácaros do género<br />

Demo<strong>de</strong>x na pele dos cães. Das três espécies <strong>de</strong><br />

Demo<strong>de</strong>x spp. <strong>de</strong>scritas, a espécie D. canis é a mais<br />

frequentemente diagnosticada. Os ácaros do género<br />

Demo<strong>de</strong>x são habitualmente comensais. Um distúrbio<br />

na regulação da sua população resulta numa multiplicação<br />

exagerada e no aparecimento da doença. Pensa-<br />

-se que em cães jovens até 1 <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> este distúrbio<br />

está relacionado com um <strong>de</strong>feito genético na resposta<br />

imunitária específica contra o ácaro. Nos cães adultos<br />

parece estar relacionado com outras doenças que<br />

<strong>de</strong>bilitem o sistema imunitário. A observação<br />

Figura 18 - O mesmo cão da figura 8 após tratamento. Note-se a recuperação<br />

clínica completa (original).<br />

microscópica do produto <strong>de</strong> raspagem cutânea é o<br />

principal meio <strong>de</strong> diagnóstico. Em casos particulares a<br />

biópsia ou o tricograma são necessários para o<br />

diagnóstico. A DC po<strong>de</strong> manifestar-se por diversas<br />

apresentações clínicas <strong>de</strong> acordo com a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início<br />

da doença (forma juvenil ou forma adulta) e com a<br />

área corporal afectada (forma localizada ou forma<br />

generalizada). A anamnese permite, na maioria dos<br />

casos, a sua distinção. A DC localizada e a DC juvenil<br />

são mais benignas do que a DC generalizada e a DC<br />

adulta. O tratamento da DC localizada é sobretudo<br />

conservativo, baseado na aplicação tópica <strong>de</strong> champôs<br />

e cremes anti-sépticos, evitando o uso <strong>de</strong> fármacos<br />

acaricidas. O tratamento da DC generalizada baseia-se<br />

no uso <strong>de</strong> acaricidas como o amitraz (tratamento<br />

tópico) e algumas lactonas macrocíclicas sistémicas<br />

(tratamento sistémico). O amitraz aplicado em solução<br />

aquosa sobre a pele dos cães com <strong>de</strong>modicose permite<br />

percentagens <strong>de</strong> cura elevadas. A utilização das<br />

lactonas macrocíclicas revolucionou a abordagem<br />

terapêutica, melhorando as percentagens <strong>de</strong> cura e<br />

tornando o tratamento mais cómodo. Em todos os<br />

casos a pio<strong>de</strong>rmite associada <strong>de</strong>ve ser tratada. Apesar<br />

das elevadas percentagens <strong>de</strong> cura po<strong>de</strong>m surgir<br />

recidivas em 10% a 20% dos casos. A investigação dos<br />

factores genéticos e imunitários envolvidos na DC<br />

po<strong>de</strong> permitir o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos fármacos<br />

para o seu tratamento.<br />

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