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relações entre imagens e textos no ensino de história - CCHLA

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positivas. No século XX, a propaganda do partido nazista passa a usar a suástica<br />

como referência aos ancestrais aria<strong>no</strong>s (proto-indo-europeus) do povo alemão. A<br />

partir <strong>de</strong> então, após o ge<strong>no</strong>cídio do holocausto, a suástica vai ser mundialmente<br />

i<strong>de</strong>ntificada como um símbolo <strong>de</strong> sofrimento, terror e morte.<br />

Um <strong>de</strong>talhe interessante é que a suástica nazista é uma inversão do símbolo<br />

original, pois ela está direcionada para a direita, enquanto as representações<br />

mais antigas a apresentam voltada para a esquerda. Já a cruz cristã tem o mesmo<br />

percurso. Originalmente, é dos símbolos mais antigos da humanida<strong>de</strong>, geralmente<br />

representando os quatro pontos car<strong>de</strong>ais e a fusão do huma<strong>no</strong> (horizontal) com<br />

o divi<strong>no</strong> (vertical). No império roma<strong>no</strong> passa a ser utilizada para o martírio <strong>de</strong><br />

con<strong>de</strong>nados e, após a crucificação <strong>de</strong> Jesus, fica associada à morte e ressurreição<br />

<strong>de</strong> Cristo. Uma boa reflexão a fazer com os alu<strong>no</strong>s é questionar: se Jesus tivesse sido<br />

morto enforcado ou esfaqueado, os cristãos <strong>de</strong> hoje po<strong>de</strong>riam cultuar a forca ou o<br />

punhal e carregá-los em seus pescoços como símbolos <strong>de</strong> sua fé? É inegável que a<br />

força do símbolo é universal, pois não necessita <strong>de</strong> tradução linguística. O símbolo<br />

significa e informa sem precisar <strong>de</strong>screver figurativamente.<br />

O símbolo é transdisciplinar, <strong>no</strong> sentido em que ele jamais limita o<br />

sentido a um único nível <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Assim, toda imagem simbólica<br />

é essencialmente multireferencial. O símbolo do círculo, por exemplo,<br />

po<strong>de</strong> tanto remeter a significações geométricas quanto a significações<br />

metafísicas, ou ainda a significações éticas... O símbolo <strong>no</strong>s orienta<br />

para or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> múltiplas (moral, poética, espiritual...), sem<br />

ser limitado a <strong>de</strong>signar um referente particular tirado da experiência<br />

comum. 46<br />

Apesar <strong>de</strong> não ser uma fonte tradicionalmente reconhecida da História, gostaria<br />

<strong>de</strong> terminar esse artigo falando do mundo dos sonhos que, como pontua Koselleck,<br />

todos os dias, e mais ainda à <strong>no</strong>ite, acompanham o homem que age e sofre 47 . Para<br />

o autor, os sonhos pertencem ao âmbito das “ficções” humanas, na medida em que,<br />

advindos da esfera onírica do aparelho psíquico, não oferecem uma representação<br />

ancorada <strong>no</strong> mundo referencial objetivo. Mas isto não impe<strong>de</strong> que eles façam<br />

parte da realida<strong>de</strong> da vida e possam ser objeto da <strong>história</strong> e do ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>história</strong>.<br />

Um exemplo <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong> é dado por Koselleck quando afirma que, para o<br />

historiador do Terceiro Reich, a documentação dos sonhos representa uma fonte<br />

<strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m, revelando camadas que não são atingidas nem mesmo pelas<br />

a<strong>no</strong>tações dos diários pessoais. Dos sonhos relatados pelo autor, <strong>de</strong>staco o do<br />

advogado ju<strong>de</strong>u vivenciado na década <strong>de</strong> 1930.<br />

Dois bancos existem <strong>no</strong> Tiergarten (um parque <strong>de</strong> Berlim), um ver<strong>de</strong>,<br />

como <strong>de</strong> costume, e outro amarelo (os ju<strong>de</strong>us, então, só podiam<br />

sentar-se em bancos pintados <strong>de</strong> amarelo), e <strong>entre</strong> os dois há um cesto<br />

para papel. Sento-me <strong>no</strong> cesto e penduro <strong>no</strong> pescoço um letreiro,<br />

46 GALVANI, Pascal. Autoformação, uma perspectiva transpessoal, transdisciplinar e transcultural. In:<br />

Educação e transdisciplinarida<strong>de</strong> II. São Paulo: Triom/UNESCO, 2002, p. 105.<br />

47 KOSSELECK, Reinhardt. Terror e sonho: a<strong>no</strong>tações metodológicas para as experiências do tempo<br />

do Terceiro Reich. In: __________. Passado e futuro: contribuição à semântica dos tempos históricos.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: contraponto/PUC- Rio, 2006, p.251.<br />

186 sÆculum - REVISTA DE HISTÓRIA [22]; João Pessoa, jan./ jun. 2010.

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