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relações entre imagens e textos no ensino de história - CCHLA

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Para os letrados medievos, “porta vozes” autorizados da Igreja e do Estado,<br />

aquilo que os indivíduos não pu<strong>de</strong>ssem enten<strong>de</strong>r por meio da escrita <strong>de</strong>veria ser<br />

apreendido por intermédio das <strong>imagens</strong>. Segundo Honório <strong>de</strong> Autun, respeitável<br />

pensador do século XII, “o objetivo da pintura era triplo: servia, antes <strong>de</strong> tudo, para<br />

embelezar a casa <strong>de</strong> Deus (igrejas); mas também para rememorar a vida dos santos<br />

e, por fim, para o <strong>de</strong>leite dos incultos, porque a pintura, em suas palavras, era a<br />

literatura dos laicos” 9 . A linguagem visual, <strong>de</strong>ste modo, revestia-se <strong>de</strong> caráter didático,<br />

objetivando educar as massas, ao mesmo tempo em que legitimava a i<strong>de</strong>ologia da<br />

Igreja e da monarquia.<br />

Giovani <strong>de</strong> Gê<strong>no</strong>va, <strong>no</strong> fim do século XIII, resumiu também a tripla função das<br />

<strong>imagens</strong>:<br />

Sabeis que três razões têm presidido a instituição <strong>de</strong> <strong>imagens</strong> nas<br />

igrejas. Em primeiro lugar, para a instrução <strong>de</strong> pessoas simples, pois<br />

são instruídas por elas como pelos livros. Em segundo lugar, para<br />

que o ministério da encarnação e os exemplos dos santos pu<strong>de</strong>ssem<br />

melhor agir em <strong>no</strong>ssa memória, estando expostos diariamente aos<br />

<strong>no</strong>ssos olhos. Em terceiro lugar, para suscitar sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção,<br />

que são eficazmente <strong>de</strong>spertados por meio <strong>de</strong> coisas vistas que coisas<br />

ouvidas. 10<br />

Assim, a complementarida<strong>de</strong> <strong>entre</strong> mensagens e <strong>imagens</strong> po<strong>de</strong> ser percebida<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios da humanida<strong>de</strong>, antes mesmo do surgimento do registro das<br />

palavras pela escrita. Como assevera Martine Joly,<br />

No começo havia a imagem. Para on<strong>de</strong> quer que <strong>no</strong>s voltemos, há<br />

imagem. “Por toda parte <strong>no</strong> mundo o homem <strong>de</strong>ixou vestígios <strong>de</strong><br />

suas faculda<strong>de</strong>s imaginativas sob a forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos, nas pedras,<br />

dos tempos mais remotos do paleolítico à época mo<strong>de</strong>rna”. Esses<br />

<strong>de</strong>senhos <strong>de</strong>stinavam-se a comunicar mensagens, e muitos <strong>de</strong>les<br />

constituíram o que se chamou “os precursores da escrita”. 11<br />

Se consi<strong>de</strong>rarmos o antigo alfabeto egípcio, vemos um claro exemplo da relação<br />

íntima <strong>entre</strong> as <strong>imagens</strong> e a linguagem. Os chamados hieróglifos são um conjunto <strong>de</strong><br />

símbolos <strong>de</strong> três tipos: caracteres figurativos, cópia direta dos objetos (pictogramas);<br />

caracteres simbólicos, que exprimiam por vários processos as i<strong>de</strong>ias abstratas<br />

(i<strong>de</strong>ogramas) e caracteres fonéticos, que tinham um valor silábico ou alfabético<br />

(fo<strong>no</strong>gramas). O caráter pictográfico dos hieróglifos marca exatamente o po<strong>de</strong>r do<br />

comunicativo/ informativo da imagem 12 .<br />

O <strong>no</strong>sso discurso verbal contemporâneo também está permeado <strong>de</strong> <strong>imagens</strong>.<br />

Santaella e Noth divi<strong>de</strong>m o mundo das <strong>imagens</strong> em dois domínios, sendo o primeiro<br />

das representações visuais: filmes, fotografias, pinturas, <strong>de</strong>senhos, gravuras, etc.<br />

O segundo é o domínio imaterial das <strong>imagens</strong>, que se <strong>de</strong>senvolvem <strong>no</strong> pla<strong>no</strong><br />

Janeiro: Paz e Terra, 1991.<br />

9 MACEDO, Rivair. Repensando a Ida<strong>de</strong> Média <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História. In: KARNAL, Leandro (org.).<br />

História na sala <strong>de</strong> aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2008, p.120.<br />

10 BAXANDAL, O olhar renascente... p. 49.<br />

11 JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas: Papirus, 1996, p. 17-18.<br />

12 Cf. BAKOS, Margaret Marchiori. O que são hieroglifos. São Paulo: Brasiliense, 1996.<br />

176 sÆculum - REVISTA DE HISTÓRIA [22]; João Pessoa, jan./ jun. 2010.

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