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Um dia, andando pela cidade, encontrei um dos médicos que me havia examinado antes, e ele perguntou como estava meu braço.<br />
Disse-lhe o medicamento que tomava e ali mesmo ele o suspendeu dizendo: se você continuar tomando isso, vai de fato enlouquecer!<br />
Obedecendo a ele, suspendi o remédio, entretanto a dor não passava. Como a medicina não curava minha dor, as pessoas começaram a<br />
encher a cabeça de minha mãe, para que me levasse a um centro espírita, que ali seria curada. Falta de instrução, tanto de minha mãe<br />
como a minha! Eis um outro ponto importante: pais instruídos, filhos instruídos!<br />
NO TERREIRO DE MACUMBA<br />
E lá fui eu conduzida a centros espíritas, um atrás do outro. “Mesa branca”, “mesa preta”, tudo igual. Dizem que um é para fazer o<br />
“bem” o outro o “mal”, mas tudo é mal e somente o mal. Acredito que fomos ao todo em nove terreiros e centros, durante um tempo.<br />
Num deles me disseram, que havia sido um homem, que na porta de minha escola, havia mandado fazer um despacho contra minha<br />
mãe, para que perdesse o movimento do braço, mas como ela era forte e rezava – mentira, ela rezava pouco, eu sim é que rezava – a<br />
praga pegou em mim.<br />
Tu sabes, meu bom Deus, que eu sou realmente fraca. Mas vejam, a primeira coisa que <strong>nos</strong> exigiram foi dinheiro para “quebrar o<br />
despacho”. Acreditem, eles também aceitam pagamento em cachaça, galinha preta, cigarros, sangue de animal e outras desgraças<br />
mais, que não me lembro. Como isso pode curar alguém? Se estas coisas curassem, então seria preferível entrar numa pocilga, pois lá,<br />
pelo me<strong>nos</strong>, a alma não estaria em risco.<br />
Lembro ainda daquela primeira sessão terrível. Eles começaram invocando todos os espíritos maus que existem. Só lembro alguns<br />
nomes: “Zé Pilantra”, “Tranca Rua”, e um sem número de outras entidades malignas. Tinha até um que era feminino, e era usado para<br />
desmanchar os casamentos, mas não lembro o nome. Oh! Jesus, Tu sabes que só escrevo estas coisas, e as relembro mais uma vez,<br />
apenas porque me pediste. Porque, acreditem, à medida que eles chamavam as tais entidades, não só as que eu citei, mas centenas<br />
delas, todas, uma por uma, iam aparecendo – visíveis – diante de meus olhos.<br />
As pessoas – cujos corpos eram tomados por aqueles malditos seres – se arrastavam no chão, ficavam imediatamente com o olhar,<br />
parado, arregalado e pareciam ter medo dos outros que estavam ali perto. Neste tempo, os espíritos infernais que estavam presentes e<br />
materializados à minha frente, recuavam e parecendo ter pavor de si mesmos, gritavam: escuro, escuro, escuro! Ai que dor, Senhor<br />
meu! Ai que horror! Por mais que eu tentasse ver pessoas humanas na minha frente, na verdade o que ali estavam eram os seres<br />
repugnantes que os tomavam. Tinham “fisionomias” horripilantes! Olhos esbugalhados enormes, alguns com faces ovaladas, outros<br />
compridas. Outros eram monstros absurdos, com os seus corpos afundados no meio das pernas, bocas bem abertas e babando,<br />
tremendo na semiescuridão. Simplesmente horrível! Pavoroso! Não existe adjetivo para qualificar bem!<br />
Não, não era tudo! Alguns pareciam vermes, nojentos, truncados, retorcidos, arrastando-se no chão, loucura plena. Outros pareciam<br />
macacos, alguns eu os via pulando muros, ou ainda espiando por cima do muro. De repente saiam gritando novamente, parecendo<br />
tomados de pleno terror: escuro, escuro, escuro! E se encolhiam interiormente, ficavam tão oprimidos, de forma que é difícil, senão<br />
impossível descrever. Não existe linguagem humana que descreva perfeitamente seres tão abjetos, tão nefastos, tão assombrosamente<br />
medonhos, tão satanicamente feios, tão maldosamente hediondos.<br />
E então eu via no chão, como os vômitos e o escarro, e aquelas criaturas terríveis as faziam abaixar, na tentativa de engolir aquelas<br />
imundícies; queriam como lamber o chão. E lembro então daquela pobre mulher, a chefe do tal terreiro maldito, que afastava aquelas