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O andar na corda bamba.

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assim como o prazer e a tragédia são difíceis de ser contidos, por isso os proíbem <strong>na</strong>s escolas.<br />

Nós não temos mais escolas: somos ciganos; o céu é nosso teto, o chão é nossa cama.<br />

O prazer e a alegria são perigosos para uma escola defensora de uma moral austera,<br />

mantenedora de uma sociedade grotesca onde a feiúra de suas injustiças é o câncer de nossos<br />

brotos ( já <strong>na</strong>scem doentes ) – Jeune Fille tem que ter direito à saúde do riso.<br />

Os professores errantes são hospitaleiros, justamente porque perderam o direito ao chão:<br />

“Para ser hospitaleiro, deve-se partir de uma existência de uma morada assegurada ou seria<br />

tão somente a partir do deslocamento daquele desprovido de abrigo, de morada que pode-se<br />

abrir a autenticidade da hospitalidade? Talvez só aquele que sofre da experiência da privação<br />

de uma casa pode oferecer hospitalidade.” ( Derrida, L’hospitalité.)<br />

São hospitaleiros porque concebem o aluno não como um estrangeiro que devesse se<br />

submeter à norma da casa, mas, justamente porque ele, o professor-palhaço não tem casa, ele<br />

não pode querer submeter ninguém à norma. Pelo contrário, todos os lugares são lugares de<br />

acontecimento e encontro. Privados de uma casa, eles podem acolher a qualquer hora, em<br />

qualquer lugar. Justamente porque não têm moradia fixa, eles podem se abrir à experiência do<br />

outro, <strong>na</strong> aceitação da diferença, podem aprender com o desconhecido. O Palhaço está sempre<br />

a inventar uma língua: próxima do grunhido, balbucia como criança, gagueja como bobo. É de<br />

sua língua, de sua veste, de todo o seu ser, de todo o seu lugar, de seu corpo-casa, de seu<br />

corpo nômade que as pessoas riem: “Deve-se dar ao outro a permissão de fazer a revolução<br />

em nossa casa.” ( Derrida.) O palhaço é a revolução.<br />

O palhaço sempre riu da seriedade dos domadores, porque sempre soube que eles tinham<br />

a intenção de melhorar a animalidade ( o palhaço, não obstante, sabe que é o contrário: é o seu<br />

devir-bicho que talvez melhore a humanidade daquilo de que ela mais padece, a saber, de si<br />

mesma.) “ Denomi<strong>na</strong>r o amansamento de um animal sua ‘melhoria’ é, aos nossos ouvidos,<br />

quase uma piada.” Nietzsche era um bufão e faz questão de nos lembrar da inscrição à entrada<br />

de sua casa:<br />

ALEGRAR nº05 - 2008 - ISSN 18085148<br />

www.alegrar.com.br<br />

“ Moro em minha própria casa.<br />

Nada imitei de ninguém.<br />

E ainda ri de todo mestre<br />

Que não riu de si também.”<br />

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