Estudo Fitossanitário e Biomecânico do Património Arbóreo - ESAC
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<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>Fitossanitário</strong> e <strong>Biomecânico</strong> <strong>do</strong> <strong>Património</strong> <strong>Arbóreo</strong><br />
Parque Aquilino Ribeiro (Viseu)<br />
1 Pereira, Cátia; 1 BARRACOSA, P.; 2 Coimbra, Francisco; 1 Viana, H.; 1 Fernandes, M;<br />
1 Escola Superior Agrária de Viseu, Instituto Politécnico de Viseu, Quinta da Alagoa, Estrada de Nelas, 3500-606<br />
VISEU, Portugal.<br />
2 Árvores & Pessoas, gestão da árvore no espaço urbano Lda, Mortágua.<br />
Resumo. O parque Aquilino Ribeiro pela localização e património paisagístico reveste-se de<br />
extrema importância para a manutenção <strong>do</strong> equilíbrio ecológico urbano de Viseu. Numa altura<br />
em que se encontra em fase de conclusão uma proposta de requalificação <strong>do</strong> parque da<br />
responsabilidade da Câmara Municipal de Viseu, julgamos ser o momento oportuno para a<br />
realização de uma avaliação pormenorizada <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> fitossanitário e biomecânico <strong>do</strong><br />
património arbóreo, permitin<strong>do</strong> que a implementação <strong>do</strong> projecto se faça de forma conducente<br />
com a segurança de pessoas e bens. Neste estu<strong>do</strong> que decorreu no ano de 2004, Foram<br />
seleccionadas 53 árvores de diferentes espécies, Quercus robur, Pinus pinea, Fagus sylvatica,<br />
Populus alba, Castanea sativa, Quercus pyrenaica, Pyrus communis, Tília cordata e<br />
Cupressus sempervirens que foram alvo <strong>do</strong> preenchimento de uma ficha individualizada, onde<br />
para além de uma avaliação pormenorizada se realizou uma análise de risco e uma proposta<br />
de intervenção. Posteriormente, em alguns casos que suscitaram dúvidas efectuaram-se<br />
sondagens com resistógrafo em seis indivíduos das espécies Quercus robur, Pinus pinea e<br />
Populus alba. Este estu<strong>do</strong> permitiu-nos transmitir à edilidade um relatório pormenoriza<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
esta<strong>do</strong> actual <strong>do</strong> parque e realizar algumas propostas de mo<strong>do</strong> a reduzir consideravelmente o<br />
grau de risco em algumas áreas.<br />
Palavras chave: Parque Aquilino Ribeiro, <strong>Património</strong> arbóreo, Esta<strong>do</strong> <strong>Fitossanitário</strong> e<br />
<strong>Biomecânico</strong>, Resistógrafo, Quercus robur.<br />
1.Introdução<br />
O parque Aquilino Ribeiro reveste-se de extrema importância para a manutenção <strong>do</strong><br />
equilíbrio ecológico urbano de Viseu, constituin<strong>do</strong> uma das mais antigas manchas verdes da<br />
cidade com 20.094 m 2 (Fig.1), que se torna especialmente importante não só devi<strong>do</strong> à sua<br />
localização geográfica, mas também pelo património paisagístico que se traduz na diversidade<br />
de espécies de plantas que o constituem.<br />
Fig.1- Fotografia aéra <strong>do</strong> Parque Aquilino Ribeiro (Adapta<strong>do</strong> da C.M.V, 2004)
A forma actual <strong>do</strong> parque data de 1955 e várias condicionantes têm contribuí<strong>do</strong> para a<br />
degradação de alguns <strong>do</strong>s exemplares arbóreos multisseculares que já não se encontram hoje<br />
com a mesma vitalidade que apresentavam há cerca de cinco décadas. Podemos destacar o<br />
asfaltamento de caminhos ocorri<strong>do</strong> há cerca de duas décadas, intervenções mal efectuadas,<br />
queda de ramos de grande dimensão e a construção de algumas infra-estruturas.<br />
Este espaço conta com cerca de meia centena de espécies vegetais, com a<br />
particularidade de muitas árvores e arbustos serem autóctones. Um <strong>do</strong>s ex-líbris deste espaço,<br />
são os loendros (Rho<strong>do</strong>dendron ponticum L. subsp. baeticum) de especial relevância uma vez<br />
que é uma espécie rara em Portugal (Paiva, 1993). Destaca-se ainda, o azereiro (Prunus<br />
lustanica L.), espécie autóctone raramente cultivada no nosso país. Fazem ainda parte<br />
algumas relíquias como o medronheiro (Arbutus une<strong>do</strong> L.) e o azevinho (Ilex aquifolium L.),<br />
frequentemente encontra<strong>do</strong> nas florestas da zona atlântica portuguesa, e que hoje está em vias<br />
de extinção (Paiva, 1993). Do invulgar património arbóreo <strong>do</strong> parque, é ainda possível<br />
admirarmos outras espécies, tais como castanheiros (Castanea sativa Mill.), magnólias de flor<br />
branca (Magnolia grandiflora L.) e azul (Magnolia x soulangiana Soul.-Bod.), faias (Fagus<br />
sylvatica L. var. sylvatica), plátanos (Platanus acerifolia) e pinheiros-mansos ( Pinus pinea<br />
L.). Uma parte significativa <strong>do</strong> parque é revesti<strong>do</strong> no estrato inferior por um imenso manto<br />
verde de gilbardeira (Ruscus aculeatus L.) e hipérico (Hypericum calycinum L.) (Paiva,<br />
1993).<br />
O parque Aquilino Ribeiro, que pertenceu outrora à Quinta <strong>do</strong> Mançorim e<br />
posteriormente ao Convento de Santo António <strong>do</strong>s Capuchos, foi compra<strong>do</strong> em 1635 pelos<br />
frades de S. Francisco, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> plantadas as primeiras árvores, seiscentos pés de carvalhas<br />
e castanheiros na cerca <strong>do</strong> Convento, pela mão <strong>do</strong> Frei Gregório de Jesus. O Convento cessou<br />
as suas funções no ano de 1834, ten<strong>do</strong> a partir daí o espaço si<strong>do</strong> requisita<strong>do</strong> para passeio<br />
público, viveiro de árvores, horta botânica e cemitério, a pedi<strong>do</strong> da Câmara Municipal (Paiva,<br />
1993). A última entidade a usufruir <strong>do</strong> espaço, tanto <strong>do</strong> edifício como da cerca, foi o Quartel<br />
de Infantaria nº 14, desde o ano de 1845. O quartel deixou de existir já no século XX, uma<br />
vez que teve de ser demoli<strong>do</strong> para permitir a abertura da Avenida conhecida hoje como 25 de<br />
Abril, que destruiu também cerca de metade da cerca. A partir daí, o espaço passou a<br />
pertencer à cidade de Viseu, o que permitiu aos seus habitantes disporem de um local verde e<br />
de singular beleza, que ficou conheci<strong>do</strong> até 1974 como parque da cidade. A sua actual<br />
designação, surge como forma de homenagem ao escritor beirão Aquilino Ribeiro, exímio<br />
observa<strong>do</strong>r das paisagens beirãs, em especial das zonas apelidadas por “Terras de demo”.<br />
2.Materiais e méto<strong>do</strong>s<br />
O trabalho de campo teve início em Abril de 2004, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> culmina<strong>do</strong> em mea<strong>do</strong>s<br />
de Outubro <strong>do</strong> mesmo ano. Na impossibilidade de abordar todas as árvores, pelo seu eleva<strong>do</strong><br />
número, foram escolhidas um total de cinquenta e três, situadas nas principais artérias <strong>do</strong><br />
parque, por apresentarem um risco mais eleva<strong>do</strong> para os transeuntes. Houve também a<br />
preocupação de se incluírem nas avaliações, árvores de espécies diferentes. Para cada árvore<br />
foi realizada uma análise visual criteriosa, relativamente a defeitos estruturais, cavidades,<br />
feridas antigas, ramos mortos, sinais de decaimento apical (die-back), existência de<br />
macrofungos e insectos. Tivemos também em consideração o grau de inclinação apresentada e<br />
avaliação da causa dessa inclinação.<br />
Em função das observações, foi elaborada uma ficha de campo, adaptada de Clark<br />
(s.d.) ajustan<strong>do</strong> ao local em estu<strong>do</strong>. Cada ficha contém informações importantes relativas a<br />
cada exemplar avalia<strong>do</strong>, estan<strong>do</strong> dividida por quadros.
No quadro 1 são consideradas as características gerais, que identificam a espécie,<br />
situação relativa ao local onde se insere, o seu esta<strong>do</strong> de desenvolvimento, número de troncos<br />
e diâmetro à altura <strong>do</strong> peito.<br />
QUADRO 1. Informação da ficha de campo relativa ás características gerais (Adapta<strong>do</strong> de Matheny & Clark,<br />
1993).<br />
1 ESPÉCIE: _________________________________________________<br />
2 SITUAÇÃO:_______ (Isolada/Alinhamento/Maciço arbóreo)<br />
3 DESENVOLVIMENTO:_____ (Jovem/Semi-madura/Madura/Senescente)<br />
4 Nº TRONCOS:________ ; 5 D.A.P. (cm): _______<br />
O quadro 2, refere-se ao tipo de constrangimentos envolventes a que o exemplar está<br />
sujeito.<br />
QUADRO 2. Informação da ficha de campo relativa aos conflitos/constrangimentos envolventes (Adapta<strong>do</strong> de<br />
Matheny & Clark, 1993).<br />
Trânsito/Edifícios/Postes/Linhas aéreas/Estruturas subterrâneas/Vegetação adjacente:________<br />
Equipamentos (Muros/Vedações/Pavimentos/Bancos/Candeeiros/Sinais de transito/”Placards”):______<br />
Trepadeiras:________<br />
Como o historial das acções é um factor de extrema importância quan<strong>do</strong> se fazem<br />
avaliações fitossanitárias ou biomecânicas, recolheram-se informações relativas ao tipo de<br />
intervenções sofridas (Quadro 3). Podas ou desramas excessivas, podem induzir à formação<br />
de ramos adventícios e feridas múltiplas, que podem conduzir à formação de uma coluna<br />
contínua de podridão. O diâmetro <strong>do</strong>s cortes foi igualmente analisa<strong>do</strong> (Clark, 1993).<br />
QUADRO 3. Informação da ficha de campo relativa ás intervenções sofridas (Adapta<strong>do</strong> de Matheny & Clark,<br />
1993).<br />
1 PODAS:_______ (Desramas ou Atarraques pontuais (coabitação)/Ascenção copa/Talhadia de cabeça)<br />
2 CORTES:_______ (Correctos/Rasos/Tocos/Arrancamento casca)<br />
3 DIÂMETRO:_______ (Aceitável/Excessivo(poucos)/Excessivo(muitos)/Outras: ______________)<br />
O quadro 4 diz respeito ao esta<strong>do</strong> fitossanitário. Por decaimento apical (die-back),<br />
entende-se uma redução <strong>do</strong> vigor vegetativo da árvore que ocorre em senti<strong>do</strong> descendente.<br />
QUADRO 4. Informação da ficha de campo relativa ao esta<strong>do</strong> fitossanitário e vigor vegetativo (Adapta<strong>do</strong> de<br />
Matheny & Clark, 1993).<br />
1 OCORRÊNCIA DECAIMENTO APICAL (dieback):_______ (Pontual/Sectorial/Generaliza<strong>do</strong>)<br />
2 RECOBRIMENTO FERIDAS:_______ (Bom/Razoável/Fraco/Inexistente)<br />
3 PRESENÇA DE REBENTOS EPICÓRMICOS:________ (nos Cortes/Esparsamente/Profusamente)<br />
4 PRAGAS / DOENÇAS:________ (Obs.: ___________________________________)<br />
5 VIGOR VEGETATIVO GERAL:________ (Bom/Razoável/Fraco/Árvore morta/Obs.: ____________)
No quadro 5 recolheram-se informações relativas ao esta<strong>do</strong> biomecânico de cada<br />
exemplar, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> dividi<strong>do</strong> em duas partes, raízes e estruturas aéreas, respectivamente.<br />
Na primeira abordamos a situação da árvore relativamente à sua ancoragem,<br />
nomeadamente ao nível problemas de solo e de raízes. O desenvolvimento da coroa da raiz<br />
pode ser devi<strong>do</strong> ao facto de muitas vezes ser envolvida por pavimentos. A presença de<br />
frutificações ao nível das raízes pode ser também ser indica<strong>do</strong>ra de podridão radicular.<br />
QUADRO 5. Informação relativa ao esta<strong>do</strong> biomecânico da raiz e das estruturas aéreas (Adapta<strong>do</strong> Matheny &<br />
Clark, 1993).<br />
a. Raiz<br />
1 PROBLEMAS DE SOLO:_____ (Impermeabiliza<strong>do</strong>/Compacta<strong>do</strong>/Superficial/Erodi<strong>do</strong>/ Escava<strong>do</strong>/Eleva<strong>do</strong>/Instável<br />
2 PERCENTAGEM DE RAÍZES AFECTADAS:________ (Significativa/Moderada/Baixa Obs.: ___________)<br />
3 SUSPEITA DE PODRIDÃO RADICULAR:________ (Presença de frutificações de _____________________)<br />
4 POTENCIAL DE FALÊNCIA DO SISTEMA RADICULAR:_______ (Significativo/Modera<strong>do</strong>/Baixo)<br />
A segunda reúne informações <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> da árvore, desde o colo até à copa.<br />
Os defeitos estruturais são um factor crucial na estabilidade da árvore, e portanto, em<br />
avaliações como esta, aceder à sua extensão é importantíssimo, e a avaliação da sua presença<br />
pode ser feita levan<strong>do</strong> em conta <strong>do</strong>is aspectos:<br />
Avaliar indica<strong>do</strong>res específicos no tronco e copa (feridas, cavidades, ramos mortos ou<br />
parti<strong>do</strong>s);<br />
a) Inspeccionar directamente a madeira, recorren<strong>do</strong> a instrumentos para medição da sua<br />
resistência (resistógrafo – IML F400/Bosch) (Fig.1).<br />
Fig.1 – Sondagem realizada com resistógrafo.<br />
b. Estruturas aéreas.<br />
Bifurca./<br />
1 COLO<br />
2 TRONCO<br />
3 PERNADAS<br />
4 COPA<br />
Co<strong>do</strong>m.<br />
Ferida<br />
Fissura/<br />
Fenda<br />
Grau <strong>do</strong> defeito (S- Severo; M- Modera<strong>do</strong>; B- Baixo).<br />
Cavidade Podridão<br />
Fungo<br />
lenhivoro<br />
Madeira<br />
Morta<br />
Ruptura<br />
anterior<br />
Peso<br />
terminal<br />
Desequil.
Por alvos potenciais, entende-se todas os elementos que podem ser eventualmente<br />
atingi<strong>do</strong>s caso uma falha ocorra, incluin<strong>do</strong> pessoas, edifícios, pavimentos, caminhos pe<strong>do</strong>nais,<br />
propriedades privadas, entre outros (Quadro 6).<br />
Considera-se pertinente a informação relativa ao tipo de inclinação que a árvore possa<br />
apresentar e quais os factores agravantes da situação.<br />
QUADRO 6. Informação da ficha de campo relativa aos alvos potenciais (Adapta<strong>do</strong> de Matheny & Clark,<br />
1993).<br />
Transito/Estacionamento/Edifícios/Postes (Alta Tensão/Telefone/Iluminação)/Linhas<br />
(Eléctricas/Telefone)/Equipamentos(Muros/Vedações/Pavimentos/Bancos/Candeeiros/Sinais<br />
Transito/”Placards”)/Caminhos pe<strong>do</strong>nais/Propriedades privadas<br />
1 INCLINAÇÃO:_______ (Pequena/Moderada/Severa)<br />
(Natural/Auto-corrigida/Não natural)<br />
2 FACTORES COMPOSTOS AGRAVANTES DA INCLINAÇÃO:________ (Elevação/Fendas no solo/Podridão<br />
no lenho de reação/Raizes quebradas)<br />
3 TALUDE: Inclinação_______ (Pequena/Moderada/Severa); ______ Superior a estrada / Inferior à<br />
estrada<br />
A análise de risco, é realizada ten<strong>do</strong> em conta três componentes: o potencial de<br />
ruptura, a dimensão e o uso <strong>do</strong> alvo (Quadro 7).<br />
QUADRO 7. Informação da ficha de campo relativa à análise de risco (Adapta<strong>do</strong> de Matheny & Clark, 1993).<br />
_________________+____________________+_________________=___________________<br />
POTENCIAL DE RUPTURA + DIMENSÃO DA ÁRVORE + USO DO ALVO POTENCIAL = ESTIMATIVA DO RISCO<br />
Potencial de Ruptura (1-baixo; 2-medio; 3-alto; 4-severo); Dimensão (1-Pequena; 2-Média; 3-Grande; 4-<br />
Monumental);<br />
Uso <strong>do</strong> Alvo (1-Ocasional; 2-Intermitente; 3-Frequente; 4-constante); Estimativa (escala de 1 a 12).<br />
O potencial de ruptura pode ser inferi<strong>do</strong> mediante observação directa na árvore, depois<br />
de caracteriza<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os seus defeitos estruturais. A dimensão da árvore assenta numa<br />
escala que vai desde a pequena à monumental. O uso <strong>do</strong> alvo tem de ser devidamente<br />
diferencia<strong>do</strong>. Por exemplo, um alvo ocasional pode não ser atingi<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a falha acontece,<br />
enquanto que um alvo constante é aquele que em qualquer altura é atingi<strong>do</strong> se essa mesma<br />
falha ocorrer. O resulta<strong>do</strong> destas três componentes, condicionam a estimativa <strong>do</strong> risco.<br />
Mediante a situação em que se encontra a árvore, faz-se uma proposta de intervenção<br />
(Quadro 8).
QUADRO 8. Informação da ficha de campo relativa à proposta de intervenção (Adapta<strong>do</strong> de Matheny & Clark,<br />
1993).<br />
1 ABATE:_____ (Directo/”Desmontagem” sem retenção/”Desmontagem” com retenção)<br />
2 PODA:______ (Selectiva sanitária e de segurança/Elevação de copa (gabarito regulamentar a<br />
circulação)/Coabitação/Redução peso extremidades ramos/”Aclaramento”selectivo da<br />
copa____/Reestruturação/Reequilíbrio/Redução de copa/Eliminação rebentos <strong>do</strong> tronco)<br />
3 OUTRAS:________ (Remoção trepadeiras/Remoção rebentos touça/___________________________)<br />
Obs.:____________________________________________________________________________<br />
________________________________________________________________________________<br />
A decisão de um eventual abate tem de ser feita de forma consciente e devidamente<br />
justificada, não só pela complexidade da acção em si mas também porque o habitat da fauna<br />
<strong>do</strong> local pode ser destruí<strong>do</strong>. Geralmente as podas são o tipo de intervenções mais<br />
aconselhadas. Tocos ou ramos mortos, têm, inicialmente, um potencial de falha bastante<br />
baixo, uma vez que a madeira se torna mais leve quan<strong>do</strong> seca, no entanto, enquanto a madeira<br />
morta se torna mais fraca por acção de decaimento ou insectos, o potencial de falha aumenta.<br />
Por este motivo, toda a madeira morta é considerada defeito estrutural e sugere-se que seja<br />
removida da árvore (Clark, s.d.).<br />
Finalmente, o quadro 9 atenta para a monitorização posterior à avaliação.<br />
QUADRO 9 – Informação da ficha de campo relativa ás recomendações para monitorização posterior<br />
(Adapta<strong>do</strong> de Matheny & Clark, 1993).<br />
(Estabilidade talude e sistema radicular / Progressão defeitos / Evolução da inclinação/ Agravamento<br />
<strong>do</strong> risco com crescimento/_______________________)<br />
Paralelamente à avaliação foi realiza<strong>do</strong> um registo fotográfico <strong>do</strong>s casos mais<br />
prementes e das acções desenvolvidas ao longo deste trabalho. Assim, poderemos<br />
exemplificar os defeitos observa<strong>do</strong>s com alguns exemplares existentes no Parque Aquilino<br />
Ribeiro, numa tentativa de alerta para o avança<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de degradação que apresentam e para<br />
o grau de (in)segurança que evidenciam.<br />
3. Resulta<strong>do</strong>s<br />
Neste estu<strong>do</strong> foram avaliadas 53 árvores pertencen<strong>do</strong> às espécies Quercus robur (39),<br />
Pinus pinea (2), Fagus sylvatica (1), Populus alba (2), Castanea sativa (1), Quercus<br />
pyrenaica (3), Pyrus communis (1), Tília cordata (2), Prunus laurocerasus (1) e Cupressus<br />
sempervirens (1). Todas estas árvores foram alvo <strong>do</strong> preenchimento de uma ficha<br />
individualizada, onde para além de uma avaliação pormenorizada se realizou uma análise de<br />
risco e uma proposta de intervenção. O valor mais eleva<strong>do</strong> de DAP (diâmetro à altura <strong>do</strong><br />
peito) obti<strong>do</strong> foi de 137,8 cm. Foram escolhidas árvores com constrangimentos envolventes<br />
de diversos tipos, nomeadamente caminhos pe<strong>do</strong>nais, infra-estruturas, vegetação adjacente e<br />
equipamentos.<br />
Relativamente ao tipo de intervenções sofridas, observou-se que tinham si<strong>do</strong><br />
realizadas podas em todas as árvores amostradas. Quanto ao tipo de corte, vinte e seis árvores
apresentavam tocos, quatro revelaram cortes rasos, um arrancamento de casca e apenas cinco<br />
apresentaram cortes correctos. Em trinta e oito árvores o diâmetro de corte foi excessivo e<br />
apenas quinze apresentaram um diâmetro de corte aceitável. Estes são os factores<br />
fundamentais para caracterizar as intervenções efectuadas.<br />
Na caracterização fitossanitária e vigor vegetativo, vinte indivíduos de diversas<br />
espécies apresentaram decaimento apical pontual e um decaimento apical sectorial.<br />
Os indivíduos onde são notórios graves problemas relaciona<strong>do</strong>s com a compactação e<br />
impermeabilização <strong>do</strong> solo, são da espécie Q. robur e localizam-se nos caminhos pe<strong>do</strong>nais<br />
alcatroa<strong>do</strong>s.<br />
A análise de risco revela-nos que indivíduos das espécies Q. robur, Castanea sativa e<br />
Pinus pinea, apresentam estimativas de risco muito elevadas.<br />
No que respeita às propostas de intervenção, regista-se que as propostas de abate são<br />
dirigidas a nove indivíduos das espécies Pinus pinea (1), Q. robur (5), Q. pyrenaica (1),<br />
Pyrus communis (1) e Populus alba (1). Aos restantes foram propostas podas selectivas<br />
sanitárias e de segurança. Nos indivíduos avalia<strong>do</strong>s foi proposto a redução <strong>do</strong> peso nas<br />
extremidades <strong>do</strong>s ramos e na esmaga<strong>do</strong>ra maioria <strong>do</strong>s casos mais <strong>do</strong> que um tipo de<br />
intervenção.<br />
Em alguns casos que suscitaram dúvidas efectuaram-se sondagens com resistógrafo<br />
em seis indivíduos de espécies diferentes, Quercus robur (4), Pinus pinea (1) e Populus alba<br />
(1).<br />
Utilizamos o indivíduo Q. robur identifica<strong>do</strong> com o (Nº2) para exemplificar o<br />
resulta<strong>do</strong> da análise de uma ficha e de um registo <strong>do</strong> resistógrafo. Neste exemplar<br />
observaram-se carpóforos <strong>do</strong> fungo lenhívoro Fomes fomentarius. Trata-se de um exemplar<br />
cujos constrangimentos são a vegetação adjacente, equipamentos (bancos e candeeiros) e<br />
trepadeiras. Apresenta uma bifurcação moderada a nível <strong>do</strong> tronco, onde são também visíveis<br />
algumas fissuras. A estimativa de risco desta árvore é relativamente baixa (8), apenas pelo<br />
baixo peso que a extremidade <strong>do</strong>s ramos apresenta.<br />
O resistógrafo foi utiliza<strong>do</strong> para sabermos a extensão <strong>do</strong> decaimento da madeira da<br />
árvore e foi realizada uma sondagem a 3 metros <strong>do</strong> solo.<br />
O gráfico (Fig.2) apresenta uma curva normal de resistência à perfuração, com<br />
excepção da região entre os 7 e os 16 cm de profundidade, na qual podemos inferir a presença<br />
de uma cavidade com cerca de 5 cm de extensão, envolvida por madeira em degradação. A<br />
ausência de resistência à perfuração nos primeiros 1,5 cm é natural, uma vez que se trata de<br />
teci<strong>do</strong>s não lenhosos.<br />
Fig.2 – Perfil de uma sondagem realizada com resistógrafo.
4.Discussão e conclusões<br />
Os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s no Parque Aquilino Ribeiro e regista<strong>do</strong>s neste trabalho, visam<br />
contribuir para uma opinião crítica acerca <strong>do</strong>s problemas encontra<strong>do</strong>s e aconselhamento<br />
técnico das acções a desenvolver, de mo<strong>do</strong> a salvaguardar a segurança na via pública e a<br />
preservação <strong>do</strong> património arbóreo.<br />
Numa altura em que se encontra em fase de conclusão uma proposta de requalificação<br />
<strong>do</strong> parque da responsabilidade da Câmara Municipal de Viseu, julgamos ser o momento<br />
oportuno para a realização de uma avaliação pormenorizada <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> fitossanitário e<br />
biomecânico <strong>do</strong> património arbóreo, permitin<strong>do</strong> que a implementação <strong>do</strong> projecto se faça de<br />
forma conducente com a segurança de pessoas e bens.<br />
A intensa actividade na construção de infra-estruturas na cidade de Viseu, deixa-nos<br />
preocupa<strong>do</strong>s, no mo<strong>do</strong> como o património arbóreo é desrespeita<strong>do</strong> nalgumas zonas<br />
específicas. Este poderá constituir um projecto piloto que se poderá estender a outros espaços<br />
críticos da cidade, nomeadamente na circunvalação, onde a colocação subterrânea das linhas<br />
de média/alta tensão obriga ao corte <strong>do</strong> sistema radicular de árvores de grande porte, que<br />
poderá trazer graves problemas de sustentabilidade para as árvores, haven<strong>do</strong> a necessidade de<br />
monitorizar estes casos, de mo<strong>do</strong> a prevenir situações gravosas no futuro.<br />
Durante to<strong>do</strong>s este tempo de observações assistimos a situações de quebra de ramos,<br />
que por mero acaso não atingiram transeuntes. Embora a análise de risco <strong>do</strong> local não seja<br />
elevada, as falhas sucedem-se frequentemente sen<strong>do</strong> aconselhadas as podas selectivas<br />
sanitárias, e a redução <strong>do</strong> peso da extremidade <strong>do</strong>s ramos.<br />
Uma das zonas <strong>do</strong> parque que nos causa maior preocupação, é a zona <strong>do</strong> parque<br />
infantil. As árvores que o circundam apresentam ramos muito longos e pesa<strong>do</strong>s, sujeitos a<br />
partir com o vento e atingir as crianças e os equipamentos. Aliviar a densidade <strong>do</strong>s ramos<br />
permitirá alguma normalização na inclinação das árvores.<br />
Com o passar das estações algumas situações foram-se alteran<strong>do</strong>, e com a chegada <strong>do</strong><br />
Outono ficaram a descoberto alguns pontos críticos, como o aparecimento de macrofungos<br />
nalgumas árvores, nomeadamente o fungo lenhívoro, Fomus fomentarius (Fig.3) cujos<br />
carpóforos visíveis na superfície <strong>do</strong>s troncos constituem focos de disseminação de esporos.<br />
Fig.3 – Cárpoforos de Fomus fomentarius na superfície de um tronco de Populus alba.<br />
Um outro problema que se coloca, prende-se com o stress radicular a que alguns<br />
exemplares estão sujeitos. Ora, como muitas raízes se desenvolvem perto da superfície <strong>do</strong>s<br />
solos, algumas actividades que se desenvolvam junto ou por cima delas, têm um sério<br />
impacto. Com o passar <strong>do</strong> tempo essas raízes podem mesmo secar e deixar de ser activas,<br />
conduzin<strong>do</strong> ao decaimento das árvores.
A formação técnica adequada das equipas de jardinagem que intervêm nos espaços<br />
verdes da cidade, nomeadamente nas acções de podas e corte de relva, constitui outro <strong>do</strong>s<br />
problemas que urge resolver. A excessiva dimensão <strong>do</strong>s cortes efectua<strong>do</strong>s provoca feridas de<br />
grandes dimensões, que desrespeitam os princípios básicos destas acções ten<strong>do</strong> consequências<br />
estéticas e fisiológicas para as árvores por constituírem focos de entrada de agentes<br />
infecciosos por deficiente “cicatrização”. A utilização indevida de máquinas de corte relva,<br />
provocam danos na casca das árvores junto ao colo, provocan<strong>do</strong> sérios danos quan<strong>do</strong> estas<br />
ainda são jovens. Acreditamos que um maior investimento em empresas especializadas, com<br />
trabalha<strong>do</strong>res e equipamentos adequa<strong>do</strong>s, diminuirá o risco de podas desaconselhadas. A<br />
maioria das podas são tão agressivas, que muitas vezes acabam por derrotar as próprias<br />
árvores, deixan<strong>do</strong>-as tão fracas que acabam posteriormente por sucumbir.<br />
Por este motivo defendemos que uma maior actuação na prevenção, pode conduzir à<br />
diminuição <strong>do</strong> prejuízo para uma cidade em constante crescimento, e ao aumento <strong>do</strong> respeito<br />
pelo património arbóreo por parte de to<strong>do</strong>s.<br />
A entrega deste estu<strong>do</strong> ao Município de Viseu, pensamos tratar-se de uma ferramenta<br />
valiosa para qualquer trabalho de planeamento e melhoramento paisagístico que se venha a<br />
realizar. Gostaríamos de deixar uma palavra de reconhecimento, pelo facto da C.M.V. ter já<br />
intervi<strong>do</strong> pontualmente nalguns <strong>do</strong>s casos por nós aponta<strong>do</strong>s, nomeadamente junto ao parque<br />
infantil, de mo<strong>do</strong> a reduzir consideravelmente o grau de risco.<br />
5. Referências Bibliográficas<br />
CMV – Câmara Municipal de Viseu (2004). Plano Director Municipal de Viseu.<br />
Clark, James R. & Matheny, Nelda P (1993). A Handbook of Hazard Evaluation for Utility<br />
Arborists. International Society of Arboriculture. USA.<br />
Lopéz González, G (2002). Guia de los árboles y arbustos de la Península Ibérica y<br />
Baleares. Mundi-Prensa. Madrid.<br />
Mattheck, Claus (1999). STUPSI EXPLAINS THE TREE – A Hedgehog Teaches The Body<br />
Language of Trees. Third Enlarged Edition. Karlsruhe Research Center.<br />
Matheny, Nelda P. & Clark, James R (1994). A Photographic Guide to the Evaluation of<br />
Hazard Trees in Urban Areas. Second Edition. International Society of Arboriculture.<br />
USA.<br />
Paiva, Jorge (1993). Parque Aquilino Ribeiro. Câmara Municipal de Viseu.