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AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO Emile Durkheim - Galileu

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visto por esses delicados como desprovido de senso moral, da mesma forma que<br />

o vivissecionista parece ao vulgo desprovido da sensibilidade comum. Em vez<br />

de admitir que esses sentimentos são do domínio a* da ciência, é a eles que se<br />

julga dever apelar para fazer a ciência das coisas às quais se referem. "Infeliz o<br />

sábio", escreve um eloqüente historiador das religiões, "que aborda as coisas de<br />

Deus sem ter no fundo de sua consciência, no fundo indestrutível de seu ser, lá<br />

onde dorme a alma dos antepassados, um santuário desconhecido do qual se<br />

eleva por instantes um perfume de incenso, uma linha de salmo, um grito doloroso<br />

ou triunfal que, criança, lançou ao céu junto com seus irmãos e que o repõe em<br />

súbita comunhão com os profetas de outrora!""<br />

Nunca nos ergueremos com demasiada força contra essa doutrina mística<br />

que como todo misticismo, aliás não é, no fundo, senão um empirismo disfarçado,<br />

pegador de toda ciência. Os sentimentos que têm como objetos as coisas sociais<br />

não têm privilégio sobre os demais, pois não é outra sua origem. Também eles<br />

são formados historicamente; são um produto da experiência humana, mas de<br />

uma experiência confusa e inorganizada. Eles não se devem a não sei que<br />

antecipação transcendental da realidade, mas são a resultante de todo tipo de<br />

impressões e de emoções acumuladas sem ordem, ao acaso das circunstâncias,<br />

sem interpretação metódica. Longe de nos proporcionarem luzes superiores às<br />

luzes racionais, eles são feitos exclusivamente de estados fortes, é verdade, mas<br />

confusos. Atribuir-lhes tal preponderância é conceder às faculdades inferiores da<br />

inteligência a supremacia sobre as mais elevadas, é condenar-se a uma<br />

logomaquia mais ou menos oratória. Uma ciência feita assim só pode satisfazer os<br />

espíritos que gostam de pensar com sua sensibilidade e não com seu<br />

entendimento, que preferem as sínteses imediatas e confusas da sensação às<br />

análises pacientes e luminosas da razão. O sentimento é objeto de ciência, não o<br />

critério da verdade científica. De resto, não há ciência que, em seus começos, não<br />

tenha encontrado resistências análogas. Houve um tempo em que os sentimentos<br />

relativos às coisas do mundo físico, tendo eles próprios um caráter religioso ou<br />

moral, opunham-se com não menos força ao estabelecimento das ciências físicas.<br />

Pode-se portanto supor que, expulso de ciência em ciência, esse preconceito

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