Romanização e territorialidade religiosa: a construção de ... - ABHR
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Além dos padres <strong>de</strong>ssas congregações <strong>religiosa</strong>s, D. Lúcio trouxe para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Botucatu<br />
os padres capuchinhos (LIVRO DO TOMBO N.S.L., 1909, p. 05-15) e as Irmãs Marcelinas. Estas<br />
fundaram, em 1912, o colégio dos Anjos <strong>de</strong>dicado a educação feminina (MARCELINAS, 1992, p. 15)<br />
em um contexto <strong>de</strong> mudanças no papel social das freiras no Brasil ao assumirem efetivamente o<br />
apostolado em lugar da restrita contemplação. (NUNES, 1997, p. 485) De fato, ao longo <strong>de</strong> seu<br />
episcopado, D. Lúcio criou, ainda, um Ginásio Diocesano para a educação masculina e um Instituto<br />
Comercial. Essa re<strong>de</strong> escolar trazia compensações econômicas e viabilizava, como nenhuma outra<br />
estratégia, o projeto <strong>de</strong> recatolização da socieda<strong>de</strong>. A educação mediou, por vezes, o embate da Igreja<br />
com os grupos sociais que assumiam a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Mediação que indica a ambígua recepção da<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> no país. A elite que combatia a intervenção da Igreja na or<strong>de</strong>m política financiava a<br />
mencionada re<strong>de</strong> escolar católica, matriculando seus filhos e filhas em colégios <strong>de</strong> “europeus”, padres,<br />
freiras e professores italianos, franceses, belgas etc., no espírito da Belle Époque, e, <strong>de</strong>sprezava a<br />
criação <strong>de</strong> escolas públicas. O historiador Ivan Aparecido Manoel (1996, p. 102) consi<strong>de</strong>ra que<br />
(...) se a Igreja ia buscar apoio financeiro e político junto à oligarquia, a oligarquia<br />
lhe amparou <strong>de</strong>cididamente porque sabia que o seu projeto educacional, e mesmo<br />
o conjunto da política ultramontana, lhe era duplamente favorável: primeiro, porque<br />
lhe reservava a função <strong>de</strong> dirigente da socieda<strong>de</strong>, cabendo-lhe, assim, a produção<br />
das idéias norteadoras do conjunto social. Segundo, porque o discurso antimo<strong>de</strong>rno<br />
do catolicismo ultramontano tanto lhe garantia a execução <strong>de</strong> um projeto<br />
educacional não comprometedor e uma doutrinação <strong>de</strong> passivida<strong>de</strong>, quanto, <strong>de</strong><br />
fato, não obstava os necessários avanços e mo<strong>de</strong>rnizações no âmbito das forças<br />
produtivas.<br />
Portanto, a Igreja Católica em Botucatu, enquanto um segundo nível hierárquico na gestão<br />
territorial do sagrado, subordinado ao Vaticano, e superior ao nível paroquial, <strong>de</strong>veria, a partir da<br />
concepção ultramontana do catolicismo, ativar estratégias no sentido <strong>de</strong> estabelecer práticas <strong>religiosa</strong>s<br />
mais condizentes com o discurso romanizador da época. A Igreja ultramontana se consi<strong>de</strong>rava um<br />
baluarte da civilização e por isso, tal como o Estado, <strong>de</strong>veria estabelecer o domínio da civilização cristã<br />
sobre um espaço consi<strong>de</strong>rado incivilizado. Como consi<strong>de</strong>ra o historiador Gilmar Arruda, “há na<br />
cartografia um sentido claro <strong>de</strong> apropriação, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio dos terrenos <strong>de</strong>sconhecidos”.<br />
(ARRUDA, 2000, p. 187) Para controlar o território religioso diocesano ela enfatizou a visibilida<strong>de</strong> da<br />
Igreja em liturgias, procissões, manifestações públicas etc.; envidou esforços na constituição <strong>de</strong> uma<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> lugares sagrados, como templos, santuários, capelas, conventos, casas <strong>religiosa</strong>s, seminários<br />
– locais <strong>de</strong> formação dos agentes especializados do sagrado; bem como <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> colégios e<br />
institutos educacionais, marcando a presença da Igreja na socieda<strong>de</strong>. A <strong>construção</strong> <strong>de</strong>sse território, no<br />
entanto, não aconteceu, como apontam as fontes analisadas até o momento, segundo o script