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Romanização e territorialidade religiosa: a construção de ... - ABHR

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ante o objeto construído pelo pesquisador através <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas fontes históricas. Nesse sentido,<br />

enten<strong>de</strong>-se que a preocupação com o espaço e a <strong>de</strong>finição do território cultural, típicos da nova<br />

geografia, po<strong>de</strong>m, em uma perspectiva histórica, contribuir para os <strong>de</strong>sdobramentos do conceito <strong>de</strong><br />

romanização e para o conhecimento dos projetos regionais <strong>de</strong> romanização que implicam noções<br />

geográficas. Tratar da ereção <strong>de</strong> dioceses como estratégia da romanização enseja pensar nos<br />

processos <strong>de</strong> <strong>construção</strong>, com projetos, conflitos, crises, tensões, <strong>de</strong> um território religioso. O próprio<br />

Código <strong>de</strong> Direito Canônico <strong>de</strong> 1917, como documentação histórica do período, corrobora o caráter<br />

territorial da diocese e por extensão do governo episcopal e da ação romanizadora através <strong>de</strong> seus<br />

agentes.<br />

A reforma ultramontana do catolicismo exigia a ereção <strong>de</strong> dioceses e paróquias (com a<br />

respectiva presença gestora <strong>de</strong> bispos e <strong>de</strong> padres) (MANOEL, 2008, p. 57), <strong>de</strong>mandava, assim, a<br />

criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> templos, <strong>de</strong> colégios, <strong>de</strong> conventos, <strong>de</strong> santuários, <strong>de</strong> oratórios, <strong>de</strong> palácios,<br />

enfim, que efetivassem a produção e o domínio <strong>de</strong> um espaço ou território religioso: na nova geografia<br />

cultural, o território religioso é entendido como território <strong>de</strong>marcado, no qual o acesso é controlado e<br />

<strong>de</strong>ntro do qual a autorida<strong>de</strong> é exercida por um profissional religioso. É dotado <strong>de</strong> estruturas específicas,<br />

incluindo um modo <strong>de</strong> distribuição espacial e <strong>de</strong> gestão do sagrado, implicando conflitos, crises e<br />

tensões (CORREA; ROSENDHAL, 2006, p. 03). Para isso, era condição sine qua non “uma ocupação<br />

estreita e estruturada da topografia”, antiga estratégia 1 da Igreja, conforme ensina Jacques Le Goff<br />

(2007, p. 24). Antes <strong>de</strong> 1890, a criação <strong>de</strong>ssas circunscrições eclesiásticas <strong>de</strong>pendia do Estado que<br />

não as erigia, sobretudo, por razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica. Mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1890, a Sé Romana<br />

assumiu a responsabilida<strong>de</strong> pela fundação <strong>de</strong> novas dioceses e “os bispos brasileiros julgaram ter<br />

chegado o momento para expandir esses organismos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r eclesiástico” (AZZI, 2008, p. 18).<br />

Com efeito, a formação da Província Eclesiástica <strong>de</strong> São Paulo, através da Bula Diocesium<br />

Nimiam Amplitudinem, <strong>de</strong> 07 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1908, insere-se nesse amplo e complexo contexto <strong>de</strong> (re)<br />

<strong>construção</strong> institucional da Igreja Católica no Brasil. Pela Diocesium foram criadas as novas dioceses<br />

paulistas <strong>de</strong> Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos e Taubaté. Essa Bula elevou, outrossim,<br />

a Diocese <strong>de</strong> São Paulo à condição <strong>de</strong> Arquidiocese. O Estado <strong>de</strong> São Paulo foi a frente mais dinâmica<br />

<strong>de</strong>ssa expansão eclesiástica, afinal, <strong>de</strong>senvolvia-se com suas ferrovias e cafezais, <strong>de</strong>mandava e atraía<br />

estrangeiros, ensejava o fluxo <strong>de</strong> novas idéias e costumes. Sendo assim, era fundamental para a Igreja<br />

fazer-se presente nas diferentes regiões <strong>de</strong>sse centro <strong>de</strong>cisório nacional, em “turbulento crescimento”,<br />

1 Para Michel <strong>de</strong> Certeau (2005, p. 99 e 102), a noção <strong>de</strong> estratégia po<strong>de</strong> ser concebida como um conjunto <strong>de</strong><br />

intervenções a partir <strong>de</strong> um lugar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, a produção, mapeamento e imposição <strong>de</strong> espaços. Ela realiza um<br />

ato cartesiano <strong>de</strong> tentar circunscrever um próprio num mundo enfeitiçado pelos po<strong>de</strong>res invisíveis do “Outro”.

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