18.04.2013 Views

Romanização e territorialidade religiosa: a construção de ... - ABHR

Romanização e territorialidade religiosa: a construção de ... - ABHR

Romanização e territorialidade religiosa: a construção de ... - ABHR

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

carta <strong>de</strong>ixou transparecer, <strong>de</strong>liberadamente ou não, seu estado <strong>de</strong> ânimo: “Digne-se V. Excia. confortar<br />

com sua benção o triste e humil<strong>de</strong> servo <strong>de</strong> V. Excia. + Lúcio, Bispo <strong>de</strong> Botucatu.<br />

Urge lembrar que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1890 a Igreja se viu sem os recursos regulares do Estado que se<br />

responsabilizava pela administração eclesiástica. Muitas dioceses nos anos 1890 ficaram em<br />

verda<strong>de</strong>ira situação <strong>de</strong> miséria, como as <strong>de</strong> Goiás e Niterói. Além disso, o padroado régio engendrou<br />

uma confusão na <strong>de</strong>finição dos bens das Irmanda<strong>de</strong>s, da Igreja e do Estado, o que ensejou vários<br />

conflitos. Para agudizar o problema econômico da Igreja, a maioria da população não estava<br />

acostumada a pagar o dízimo diretamente para a Igreja, ou a doar periodicamente, afinal, ela já pagava<br />

o dízimo, como imposto régio, a Coroa. Toda uma nova prática <strong>de</strong>veria ser construída.<br />

O conflito <strong>de</strong> D. Lúcio com D. Duarte consistia, outrossim, pelo que observamos nas fontes<br />

coletadas e cotejadas até o momento, na <strong>de</strong>finição do território da diocese <strong>de</strong> Botucatu que excluía o<br />

importante santuário <strong>de</strong> Bom Jesus <strong>de</strong> Pirapora, para on<strong>de</strong> acorriam vários fiéis <strong>de</strong> Botucatu, e com<br />

eles, várias esmolas e doações, como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> da leitura da carta <strong>de</strong> D. Lúcio para D. Duarte<br />

apresentada acima. O santuário foi confiado à administração da Arquidiocese <strong>de</strong> São Paulo que se<br />

responsabilizou pelo acompanhamento dos seminaristas da Província Eclesiástica no instituto dirigido<br />

pelos padres belgas premonstratenses em Pirapora. D. Lúcio acusava D. Duarte <strong>de</strong> se beneficiar da<br />

divisão territorial das novas dioceses que ele próprio havia efetuado, garantindo rentáveis santuários<br />

para si.<br />

A renhida relação com as irmanda<strong>de</strong>s, por sua vez, apresenta-se como objeto clássico da ação<br />

romanizadora na história da Igreja Católica no Brasil, principalmente, com as irmanda<strong>de</strong>s responsáveis<br />

por atraentes espaços do sagrado, como os santuários. As irmanda<strong>de</strong>s foram fundamentais para a<br />

difusão e a reprodução do catolicismo brasileiro até o início do século XX. No contexto “colonial” elas<br />

tiveram expressão <strong>religiosa</strong> e social, com conotações políticas das classes em que se dividia a<br />

socieda<strong>de</strong>. No catolicismo tradicional, luso-brasileiro, caracterizado por sua índole leiga, penitencial,<br />

<strong>de</strong>vocional, familiar e festeira, resumida no adágio “muita reza, pouca missa, muito santo, pouco<br />

padre”, as irmanda<strong>de</strong>s, enquanto organizações <strong>de</strong> leigos dirigidas por leigos, sob uma jurisdição<br />

própria, os compromissos, tinham um papel <strong>de</strong> relevo. Inseridas na or<strong>de</strong>m pública e social, as<br />

irmanda<strong>de</strong>s reuniam maçons e “liberais”, intervindo nos <strong>de</strong>bates seculares. (BEOZZO, 1977, p. 741)<br />

A convencionalmente <strong>de</strong>nominada “Questão Religiosa”, envolvendo os bispos D. Vital e D.<br />

Macedo, iniciou-se a partir <strong>de</strong> conflitos entre bispos ultramontanos e irmanda<strong>de</strong>s constituídas por<br />

maçons. Assim, o controle do patrimônio e da gestão do sagrado exigia, na ótica romanizadora, a<br />

substituição do leigo pelo clérigo junto aos santuários e associações <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>. Na diocese <strong>de</strong><br />

Botucatu, o interesse da Igreja voltava-se, pelas razões já mencionadas, para o santuário <strong>de</strong> Bom<br />

Jesus <strong>de</strong> Iguape, no litoral sul paulista, on<strong>de</strong> foi travada uma disputa pelo controle daquele espaço

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!