de que forma devem ser projetadas e executadas fundações em ...
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FUNDAÇÕES RESPONDE<br />
DE QUE FORMA DEVEM SER<br />
PROJETADAS E EXECUTADAS<br />
FUNDAÇÕES EM TERRENOS<br />
DE SOLOS MOLES?<br />
FIGURA 1 – EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES<br />
EM ESTACAS COM A PRESENÇA DE ATERROS<br />
Figura 1a – encontro <strong>de</strong> ponte com solos<br />
• FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS<br />
Figura 1b – edificação <strong>em</strong> solo mole com<br />
acesso <strong>em</strong> aterro<br />
Figura 1c – aterro estruturado e convencional lado a lado<br />
A pergunta <strong>ser</strong>á respondida no contexto<br />
<strong>de</strong> execução <strong>de</strong> <strong>fundações</strong> <strong>em</strong><br />
estacas com a presença <strong>de</strong> aterros,<br />
situação bastante comum <strong>em</strong> obras<br />
<strong>em</strong> solos moles. Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>stes casos<br />
são: a) encontros <strong>de</strong> pontes <strong>em</strong><br />
ferrovias ou rodovias <strong>em</strong> solos moles;<br />
b) edificações esta<strong>que</strong>adas e áreas<br />
aterradas sobre solos moles ao redor;<br />
c) aterros estruturados (com plata<strong>forma</strong><br />
<strong>de</strong> concreto ou <strong>de</strong> geogrelha) ao<br />
lado <strong>de</strong> aterros convencionais, conforme<br />
ex<strong>em</strong>plificado na figura 1.<br />
A execução <strong>de</strong> um aterro sobre solo<br />
mole resulta <strong>em</strong> <strong>de</strong>slocamentos horizontais<br />
e verticais no solo mole ao<br />
redor do aterro (Almeida e Mar<strong>que</strong>s,<br />
2010), conforme ex<strong>em</strong>plificado na<br />
figura 2. Sendo assim, a presença <strong>de</strong><br />
uma edificação contiguamente ao<br />
aterro re<strong>que</strong>r o a<strong>de</strong>quado dimensionamento<br />
das estacas <strong>de</strong>sta edificação<br />
<strong>de</strong> <strong>forma</strong> a consi<strong>de</strong>rar as solicitações<br />
<strong>que</strong> estas estacas <strong>de</strong>verão suportar.<br />
Estas solicitações são abordadas na<br />
figura 2.<br />
Figura 2 – recal<strong>que</strong> máximo sob o centro<br />
<strong>de</strong> um aterro e o <strong>de</strong>slocamento máximo no<br />
bordo
solo mole<br />
atrito negativo<br />
Uma solicitação <strong>de</strong>corrente da instalação<br />
<strong>de</strong> estacas <strong>em</strong> solos moles é <strong>de</strong>nominada<br />
“atrito negativo”, sendo basicamente<br />
consequência do processo<br />
<strong>de</strong> a<strong>de</strong>nsamento da argila <strong>que</strong> causa<br />
<strong>de</strong><strong>forma</strong>ções verticais (recal<strong>que</strong>s) da<br />
camada <strong>de</strong> argila. Como resultado<br />
<strong>de</strong>stas <strong>de</strong><strong>forma</strong>ções o solo mole se<br />
“pendura” na estaca gerando então o<br />
atrito negativo na interface solo-estaca,<br />
o <strong>que</strong> resulta <strong>em</strong> esforços verticais<br />
adicionais nas estacas, conforme mostrado<br />
na figura 3. Entretanto, o atrito<br />
negativo po<strong>de</strong> <strong>ser</strong> também causado<br />
pelo amolgamento pela cravação da<br />
estaca no solo mole.<br />
eFeito<br />
tscheBotarioFF<br />
Outra solicitação importante é o <strong>em</strong>puxo<br />
lateral nas estacas, resultado da<br />
Figura 3 – atrito negativo <strong>em</strong> estaca causado<br />
por recal<strong>que</strong> da camada <strong>de</strong> argila mole<br />
Figura 4 – <strong>em</strong>puxo lateral <strong>em</strong> estacas – o<br />
efeito tschebotarioff<br />
carga assimétrica do aterro e mostrado<br />
es<strong>que</strong>maticamente na figura<br />
4, sendo comumente <strong>de</strong>nominada<br />
<strong>de</strong> “efeito Tschebotarioff”, <strong>em</strong> referência<br />
ao autor <strong>que</strong> primeiro estudou<br />
esta solicitação <strong>em</strong> maior profundida<strong>de</strong>.<br />
Os principais fatores <strong>que</strong> influenciam<br />
as solicitações es<strong>que</strong>matizadas<br />
nas figuras 3 e 4 são a altura e peso<br />
específico do aterro e da sobrecarga<br />
atuante, as características da camada<br />
compressível, a geometria das estacas<br />
e o espaçamento entre estas.<br />
No caso do efeito Tschebotarioff,<br />
acresce-se também o fator <strong>de</strong> segurança<br />
global e a distância das estacas<br />
à sobrecarga.<br />
Estacas com as solicitações apresentadas<br />
acima <strong>de</strong>v<strong>em</strong> <strong>ser</strong> dimensionadas<br />
através <strong>de</strong> métodos <strong>de</strong>scritos nos<br />
compêndios <strong>de</strong> <strong>fundações</strong> (Velloso e<br />
lopes, 2010).<br />
FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS •
alternativas<br />
construtivas Para<br />
minimização das<br />
solicitações nas<br />
estacas<br />
A execução das edificações apenas<br />
após a estabilização das <strong>de</strong><strong>forma</strong>ções<br />
dos aterros (mostradas na figura 2)<br />
minimiza ou praticamente anula as<br />
solicitações indicadas nas figuras 3 e<br />
4. Em obras rodoviárias, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
é muito comum a execução da ponte<br />
ou viaduto inicialmente e o aterro<br />
após. Ou seja, o projetista <strong>em</strong> geral<br />
não t<strong>em</strong> controle sobre a sequência<br />
construtiva, sendo então recomendado<br />
<strong>que</strong> o atrito negativo e o efeito<br />
Tschbotarioff sejam s<strong>em</strong>pre consi<strong>de</strong>rados.<br />
Em termos construtivos, a execução<br />
<strong>de</strong> aterros e <strong>fundações</strong> <strong>em</strong> paralelo<br />
é o cenário menos a<strong>de</strong>quado. Isto<br />
por<strong>que</strong> po<strong>de</strong>m ocorrer gran<strong>de</strong>s movimentações<br />
e esforços nas estacas,<br />
pois estas se encontram <strong>em</strong> geral<br />
s<strong>em</strong> o a<strong>de</strong>quado contraventamento<br />
propiciado pelas vigas <strong>de</strong> cintamento<br />
das estacas.<br />
Exist<strong>em</strong> algumas alternativas construtivas,<br />
mostradas na figura 5, <strong>que</strong><br />
minimizam o atrito negativo e o efeito<br />
Tschebotarioff. Uma <strong>de</strong>stas alternativas<br />
é o uso <strong>de</strong> aterro executado<br />
com material leve (<strong>em</strong> geral poliestireno<br />
expandido, ou EPS) conforme<br />
mostrado na figura 5a, o <strong>que</strong> minimiza<br />
os efeitos <strong>de</strong> atrito.<br />
Outra alternativa é executar o aterro<br />
(ao lado das edificações) sobre el<strong>em</strong>entos<br />
<strong>de</strong> estacas ou colunas, conforme<br />
ilustrado nas figuras 5b e 5c.<br />
Todos os <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong>correntes<br />
do aterro são menores e o mesmo<br />
ocorre com as solicitações nas estacas<br />
das edificações. Neste caso os<br />
métodos tradicionais para a estimativa<br />
das solicitações nas estacas não<br />
se aplicam diretamente, sendo então<br />
o uso <strong>de</strong> métodos numéricos uma alternativa<br />
a <strong>ser</strong> avaliada.<br />
0 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS<br />
FIGURA 5<br />
MINIMIZAÇÃO DE ESFORÇOS EM ESTACAS<br />
Figura 5a – uso <strong>de</strong> aterro leve<br />
Figura 5b – aterro estruturado com plata<strong>forma</strong> <strong>de</strong> geossintético<br />
Figura 5c – aterro sobre colunas granulares
solo mole<br />
Questões<br />
comPl<strong>em</strong>entares<br />
<strong>em</strong> estacas <strong>em</strong> solos<br />
moles<br />
Além das <strong>que</strong>stões discutidas anteriormente,<br />
outras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> <strong>ser</strong> também<br />
analisadas no contexto <strong>de</strong> <strong>fundações</strong><br />
<strong>em</strong> estacas <strong>em</strong> solos moles. Uma <strong>de</strong>stas<br />
<strong>que</strong>stões diz respeito à flambag<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> estacas, <strong>que</strong> <strong>de</strong>ve <strong>ser</strong> analisada <strong>em</strong><br />
fase <strong>de</strong> projeto, <strong>em</strong> particular no caso<br />
<strong>de</strong> estacas metálicas esbeltas cravadas<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> solos muito moles <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> espessura (veja figura 6).<br />
Outra <strong>que</strong>stão, a nível construtivo,<br />
refere-se aos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento<br />
<strong>de</strong> solo mole lateralmente e<br />
para cima no caso <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> estacas cravadas. Isto ocorre pelo<br />
fato da argila mole se comportar <strong>de</strong><br />
Figura 6 – Flambag<strong>em</strong> <strong>em</strong> estacas esbeltas<br />
cravadas <strong>em</strong> argila mole<br />
<strong>forma</strong> não-drenada (s<strong>em</strong> variação <strong>de</strong><br />
volume). Nesta condição o volume<br />
ocupado pelas estacas acarreta então<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>slocamentos horizontais e verticais.<br />
Esta <strong>que</strong>stão, mostrada na figura<br />
7, foi verificada, por ex<strong>em</strong>plo, por<br />
Almeida e outros (2000) nas obras da<br />
ETE Alegria no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
leituras<br />
comPl<strong>em</strong>entares<br />
Almeida, M. S. S. e Mar<strong>que</strong>s, M. E. S. (2010),<br />
Aterros sobre solos moles, projeto e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho,<br />
Oficina <strong>de</strong> Textos, 250 p.<br />
Oliveira, J. R. M. S.; Almeida, M. S. S.; Danziger, F.<br />
A. B. (2000), Influência da Execução <strong>de</strong> Fundações<br />
nas Movimentações <strong>de</strong> um Aterro sobre<br />
Argila Mole. In: IV S<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong><br />
Fundações Especiais e Geotecnia, 2000, São<br />
Paulo. SEFE IV. Rio <strong>de</strong> Janeiro: ABEF - ABMS,<br />
2000. Vl. 2. p. 252-261.<br />
Velloso, D. A. e lopes, F. R. (2010), Fundações,<br />
vl. 2, Fundações Profundas. Oficina <strong>de</strong> Textos.<br />
Figura 7 – direções típicas <strong>de</strong> movimento<br />
<strong>de</strong> solos moles <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong> (lateral e<br />
vertical)<br />
autor da resPosta:<br />
dr. Márcio souza soares<br />
<strong>de</strong> almeida<br />
Graduado <strong>em</strong> Engenharia Civil, pela<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
(UFRJ), <strong>em</strong> 1974, mestrado pela COPPE,<br />
<strong>em</strong> 1977, com o t<strong>em</strong>a Análise numérica<br />
<strong>de</strong> túneis, PhD University of Cambridge,<br />
Inglaterra 1984, com o trabalho Aterro<br />
<strong>em</strong> solos moles. Recebeu prêmios Terzaghi<br />
e José Machado, pela ABMS, é<br />
professor titular da UFRJ <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997 e<br />
coor<strong>de</strong>na o MBA pós-graduação Executiva<br />
<strong>em</strong> Meio Ambiente, da COPPE.<br />
Atua <strong>em</strong> Consultoria Geotécnica <strong>em</strong><br />
Obras <strong>de</strong> Terra, Geotecnia Ambiental e<br />
Geotecnia Marinha. Seu pós-doutorado<br />
foi concluído na Itália e Noruega, <strong>em</strong><br />
1991/1992. Participou também como<br />
Aca<strong>de</strong>mic Visitor das Universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Cambridge, Oxford, Western Austrália.<br />
www.marcioalmeida.eng.br<br />
AGUARDAMOS SUA PERGUNTA.<br />
Ela po<strong>de</strong> <strong>ser</strong> enviada<br />
para Fundações respon<strong>de</strong><br />
pelo site da Revista<br />
(www.revistafundacoes.com.br)<br />
ou por fax (11 - 2685-0924).<br />
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