nova centrífuga geotécnica da uenf é a maior da américa latina
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Pr<strong>é</strong>dio que abriga a Centrífuga e laboratórios de apoio<br />
O QUE HÁ DE NOVO<br />
NOVA CENTRÍFUGA<br />
GEOTÉCNICA DA UENF É A<br />
MAIOR DA AMÉRICA LATINA<br />
centrifuga <strong>geot<strong>é</strong>cnica</strong> <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de estadual do<br />
norte Fluminense <strong>da</strong>rcy ribeiro <strong>é</strong> capaz de ensaiar<br />
modelos de at<strong>é</strong> uma tonela<strong>da</strong> em um ambiente cuja<br />
pressão gravitacional pode atingir at<strong>é</strong> cem vezes a<br />
gravi<strong>da</strong>de terrestre.<br />
Construí<strong>da</strong> em 2007, a <strong>centrífuga</strong> <strong>geot<strong>é</strong>cnica</strong> <strong>da</strong> UENF entrou<br />
em operação no ano passado. Duas outras <strong>centrífuga</strong>s<br />
já operam no Brasil, uma de menor capaci<strong>da</strong>de, em<br />
São Paulo, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e<br />
outra basea<strong>da</strong> em princípios diferentes, na ci<strong>da</strong>de do Rio<br />
de Janeiro, na COPPE-UFRJ. Esta <strong>nova</strong> <strong>centrífuga</strong>, a <strong>maior</strong><br />
na Am<strong>é</strong>rica <strong>latina</strong>, possibilita estudos avançados na área<br />
de geotecnia. No hemisf<strong>é</strong>rio sul encontrava-se at<strong>é</strong> a última<br />
d<strong>é</strong>ca<strong>da</strong> uma <strong>centrífuga</strong> semelhante somente na Austrália.<br />
Atualmente, existe uma centrifuga de porte m<strong>é</strong>dio, instala<strong>da</strong><br />
e em funcionamento na Colômbia. No hemisf<strong>é</strong>rio<br />
norte e na Europa existem diversas <strong>centrífuga</strong>s de diferentes<br />
tipos e capaci<strong>da</strong>des. No entanto, no Japão, o número<br />
de <strong>centrífuga</strong>s de grande porte <strong>é</strong> considerável.<br />
Diferentes áreas do conhecimento <strong>da</strong> geotecnia têm utilizado<br />
a centrifuga como uma poderosa ferramenta para<br />
avaliar os fenômenos físicos impossíveis de serem simulados<br />
em escala real, como a área ambiental, com estudos<br />
de desenvolvimento de plumas de contaminação; a área<br />
de petróleo e gás, com os estudos de fixação (ancoragens)<br />
de plataformas flutuantes e de problemas relacionados a<br />
dutos enterrados; a mecânica dos solos clássica, com problemas<br />
de adensamento, fun<strong>da</strong>ções, barragens e solos<br />
não saturados; entre outros.<br />
Estudos em <strong>centrífuga</strong>s têm sido amplamente incentivados,<br />
podendo-se observar sua inclusão nos encontros científicos<br />
internacionais, e a criação de conferências específicas sobre<br />
o assunto. No Brasil, este tipo de investigação científica <strong>é</strong><br />
ain<strong>da</strong> muito incipiente, restringindo-se apenas aos grupos<br />
que possuem tais equipamentos. Neste sentido, a <strong>centrífuga</strong><br />
<strong>da</strong> UENF encontra-se à disposição <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de para<br />
• FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS<br />
auxiliar no desenvolvimento de projetos avançados<br />
que levem a geotecnia brasileira para a vanguar<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
geotecnia internacional.<br />
PrincíPio de Funcionamento<br />
e relação de escala com o<br />
ProtótiPo<br />
O objetivo <strong>da</strong> centrifugação <strong>é</strong> submeter um modelo<br />
físico reduzido a um campo gravitacional diferenciado<br />
de forma a reproduzir no modelo físico o estado de tensão<br />
sob o qual o protótipo está submetido. Durante o<br />
voo, a força <strong>centrífuga</strong> imposta ao modelo, gera<strong>da</strong> no<br />
movimento circular, equivale à força gravitacional. Esta<br />
<strong>é</strong> proporcional a veloci<strong>da</strong>de de rotação e a distância do<br />
modelo ao centro (veja figura 1).<br />
Figura 1 – Componente gravitacional (Fc) durante o voo do<br />
modelo físico<br />
Fotos e imagens: Fernando Saboya
Figura 2 – Comparação <strong>da</strong> força gravitacional no protótipo e <strong>da</strong> força inercial no modelo<br />
As pesquisas com modelos físicos<br />
em escala reduzi<strong>da</strong> devem obedecer<br />
relações de escala e leis de similari<strong>da</strong>de<br />
e similitude já estabeleci<strong>da</strong>s para<br />
que os fenômenos possam ser analisados<br />
e confrontados com os resultados<br />
<strong>da</strong>s modelagens num<strong>é</strong>ricas. São<br />
apresentados na figura 2, de forma<br />
comparativa, os estados de tensões<br />
aos quais o modelo e o protótipo são<br />
submetidos.<br />
instalações <strong>da</strong> uenF<br />
A <strong>centrífuga</strong> <strong>geot<strong>é</strong>cnica</strong> <strong>da</strong> UENF foi<br />
projeta<strong>da</strong> pela Wyle laboratories e<br />
encontra-se abriga<strong>da</strong> em pr<strong>é</strong>dio próprio,<br />
especialmente construído para<br />
permitir seu funcionamento com máxima<br />
segurança.<br />
Dentre as principais características<br />
destacamos sua capaci<strong>da</strong>de de simulação<br />
de modelos de at<strong>é</strong> uma tonela<strong>da</strong><br />
serem submetidos a uma força<br />
gravitacional de 100 g. A <strong>centrífuga</strong><br />
possui duas cestas que abrigam os<br />
containers (modelos), permitindo<br />
dois ensaios simultâneos (veja figura<br />
3a). O controle dos ensaios e a aquisição<br />
dos <strong>da</strong>dos em tempo real duran-<br />
Figura 3a – Centrifuga Geot<strong>é</strong>cnica <strong>da</strong> uenF<br />
FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS •
te o voo são feitos a partir <strong>da</strong> sala de<br />
controle que fica localiza<strong>da</strong> fora <strong>da</strong><br />
câmara de ensaio (veja figura 3b).<br />
O motor de 800A que movimenta a<br />
centrifuga tem potência para fazê-la<br />
girar a veloci<strong>da</strong>de de 270rpm, veloci<strong>da</strong>de<br />
necessária para se alcançar a<br />
gravi<strong>da</strong>de máxima de 100 g.<br />
Os modelos físicos são construídos<br />
em caixas apropria<strong>da</strong>s (containers retangulares<br />
e cilíndricos), que são projeta<strong>da</strong>s<br />
para suportar os esforços sob<br />
os quais são submeti<strong>da</strong>s nesses níveis<br />
de aceleração (veja figuras 4a e 4b).<br />
Para monitorar os modelos físicos o<br />
laboratório possui um conjunto de<br />
instrumentos miniaturizados, próprios<br />
para uso em trabalhos em <strong>centrífuga</strong>s,<br />
para medir poro-pressão,<br />
força, deslocamento, aceleração e<br />
tensão total (veja figuras 5a, 5b e 5c).<br />
Figuras 4a – Caixa para construção de<br />
modelos físicos<br />
Figuras 4b – Caixa para construção de<br />
modelos físicos<br />
• FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS<br />
Figura 3b – sala de controle e aquisição de <strong>da</strong>dos<br />
Figura 5a<br />
Figura 5b<br />
Figura 5c<br />
instrumentação em miniatura para modelos reduzidos (transdutores de força, pressão total,<br />
pressão, deslocamento e acelerômetro) e aparelho de minipiezocone
Figura 6 – estaca torpedo sendo transporta<strong>da</strong><br />
Figura 7 – lançamento de uma estaca torpedo<br />
Figuras 8 – sistema de ancoragem com estacas de sucção<br />
(Cortesia: Gonçalves e Costa, 2002 – Petrobrás)<br />
traBalhos<br />
desenvolvidos<br />
Naturalmente, tendo em vista o forte<br />
investimento <strong>da</strong> Petrobras/ANP na<br />
finalização <strong>da</strong> montagem <strong>da</strong> infraestrutura<br />
<strong>da</strong> centrifuga <strong>geot<strong>é</strong>cnica</strong>, os<br />
primeiros ensaios que geraram dissertações<br />
de mestrados desenvolvi<strong>da</strong>s<br />
com modelos físicos em centrifuga<br />
e as primeiras teses de doutorado<br />
que estão iniciando no Programa de<br />
Pós-graduação em Engenharia Civil<br />
<strong>da</strong> UENF, são relaciona<strong>da</strong>s a área de<br />
petróleo e gás. O tema <strong>da</strong> primeira<br />
bateria de estudos foi relacionado à<br />
fixação de plataformas com Estacas<br />
Torpedo e com Estacas de Sucção.<br />
Na segun<strong>da</strong> etapa foram desenvolvidos<br />
estudos sobre o comportamento<br />
geot<strong>é</strong>cnico de dutos enterrados submetidos<br />
à sub-pressão.<br />
Estacas Torpedo e Estacas de Sucção<br />
Estacas Torpedo são ancoragens cuja<br />
geometria <strong>é</strong> semelhante a um proj<strong>é</strong>til<br />
de grandes dimensões na forma de<br />
torpedo (veja figura 6 ). Seu lançamento<br />
dá-se em que<strong>da</strong> livre (veja figura 7),<br />
a cerca de 200 metros acima do leito<br />
marinho, e a cravação ocorre pela<br />
energia acumula<strong>da</strong> durante a que<strong>da</strong>.<br />
As Estacas de Sucção são crava<strong>da</strong>s<br />
inicialmente pelo peso próprio e depois<br />
submeti<strong>da</strong>s a sucção interna objetivando<br />
um sobrecravação no leito<br />
marinho. Um esquema de ancoragem<br />
com Estaca de Sucção bem como sua<br />
geometria podem ser vistos nas figuras<br />
8 e 9, respectivamente.<br />
Figura 9 – estacas de sucção<br />
FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS •
O primeiro estudo elaborado na <strong>centrífuga</strong><br />
<strong>geot<strong>é</strong>cnica</strong> <strong>da</strong> UENF avaliou o<br />
desempenho de três tipos de Estacas<br />
Torpedo usa<strong>da</strong>s pela Petrobras como<br />
âncoras de plataformas flutuantes.<br />
Uma delas, com a mesma geometria<br />
<strong>da</strong>quela utiliza<strong>da</strong> pela Petrobras, era<br />
compara<strong>da</strong> às demais, cujas geometrias<br />
foram defini<strong>da</strong>s após estudos hidrodinâmicos<br />
realizados no laboratório<br />
de Modelos Reduzidos <strong>da</strong> UENF.<br />
Essas estacas foram construí<strong>da</strong>s na escala<br />
de 1:50 (veja figura 10), inseri<strong>da</strong>s<br />
no modelo, submeti<strong>da</strong>s a gravi<strong>da</strong>de<br />
de 50 g e depois arranca<strong>da</strong>s durante<br />
o voo para determinação de sua capaci<strong>da</strong>de<br />
de ancoragem. O resultado<br />
de um ensaio de arrancamento dessas<br />
estacas pode ser visto na figura 11.<br />
Os ensaios em Estacas de Sucção tinham<br />
como objetivo principal avaliar<br />
o desempenho dessas estacas submeti<strong>da</strong>s<br />
a carregamentos verticais.<br />
Estas estruturas, como foi mostrado<br />
anteriormente, são usualmente utiliza<strong>da</strong>s<br />
como âncoras de plataformas<br />
flutuantes.<br />
• FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS<br />
As estacas foram prepara<strong>da</strong>s com<br />
duas geometrias diferentes, a primeira<br />
com fuste liso e a segun<strong>da</strong> com fuste<br />
escamado para avaliação do efeito<br />
<strong>da</strong> rugosi<strong>da</strong>de no aumento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />
de carga. Os resultados obtidos<br />
em condições de tensões induzi<strong>da</strong>s<br />
sugerem que a capaci<strong>da</strong>de de permanência<br />
<strong>da</strong>s estacas escama<strong>da</strong>s <strong>é</strong> de<br />
40 % a mais que as estacas com fuste<br />
liso (veja figura 12).<br />
Figura 12 – estaca de sucção: resultados dos ensaios em Centrífuga a 50 g<br />
Figura 10 – Modelos de torpedo testados<br />
na Centrífuga<br />
Figura 11 – resultado de ensaios de arrancamento de um torpedo a 50 g
Dutos enterrados<br />
Outro importante desafio a ser enfrentado<br />
na área de petróleo e gás <strong>é</strong> a<br />
segurança de dutos, principalmente<br />
aqueles que transportam produtos<br />
potencialmente perigosos, como gás<br />
e óleo.<br />
Um problema de ocorrência não muito<br />
rara <strong>é</strong> o afloramento desses dutos<br />
devido à elevação do lençol freático<br />
(veja figura 13), dilatação (buckling) ou<br />
outro mecanismo de levantamento.<br />
Figura 13 – dutos construídos em locais de<br />
risco devido ao lençol freático<br />
Dessa maneira, foi desenvolvido um<br />
novo estudo que avaliou a eficiência<br />
de geossint<strong>é</strong>ticos (geogrelhas) na ancoragem<br />
de dutos quando submetidos<br />
à subpressão na tentativa de evitar<br />
o seu afloramento (veja figuras 14a e<br />
14b). Esta solução apresentou resulta-<br />
Figura 14a – Modelo usado na Centrífuga<br />
para estudos de ancoragens de dutos<br />
enterrados<br />
14b – resultados de ensaios de arrancamento de dutos a 10 g<br />
dos extremamente satisfatórios, motivando<br />
a Petrobras a executar ensaios<br />
em ver<strong>da</strong>deira grandeza para testar a<br />
viabili<strong>da</strong>de do sistema proposto em<br />
escala real. A escala utiliza<strong>da</strong> nos ensaios<br />
em <strong>centrífuga</strong> foi de 1:20.<br />
PersPectivas<br />
de ProJetos<br />
A <strong>centrífuga</strong> <strong>geot<strong>é</strong>cnica</strong> <strong>é</strong> uma poderosa<br />
ferramenta de modelagem física<br />
de casos complexos e que deman<strong>da</strong>m<br />
resultados preliminares para<br />
calibração de modelos num<strong>é</strong>ricos ou<br />
para avaliação de um fenômeno ain<strong>da</strong><br />
pouco conhecido.<br />
A principal vantagem do uso desse<br />
equipamento <strong>é</strong> a possibili<strong>da</strong>de de reconstituição<br />
<strong>da</strong>s tensões oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s<br />
forças gravitacionais sob as quais o<br />
protótipo estará submetido. Com isso,<br />
utilizando-se de leis de semelhanças,<br />
pode-se reproduzir o comportamento<br />
<strong>da</strong> estrutura ou do fenômeno estu<strong>da</strong>do<br />
com se esses estivessem na sua<br />
ver<strong>da</strong>deira grandeza.<br />
Neste contexto, a <strong>centrífuga</strong> vem despertando<br />
o interesse de grandes empresas<br />
e instituições de pesquisa co-<br />
mumente envolvi<strong>da</strong>s em projetos de<br />
grande complexi<strong>da</strong>de. Estudos sobre<br />
estabili<strong>da</strong>de de taludes submarinos e<br />
avaliação de segurança de barragens<br />
com núcleo asfálticos estão entre<br />
aqueles programados para serem<br />
desenvolvidos em futuro próximo na<br />
<strong>centrífuga</strong> Geot<strong>é</strong>cnica <strong>da</strong> UENF.<br />
Fernando saboya Jr.<br />
Engenheiro civil, doutor em<br />
Geotecnia pela PUC-Rio,<br />
professor titular do laboratório<br />
de Engenharia Civil <strong>da</strong> UENF.<br />
Coordenador do Programa de<br />
Pós-graduação em Engenharia<br />
Civil <strong>da</strong> UENF<br />
saboya@<strong>uenf</strong>.br<br />
s<strong>é</strong>rgio tibana<br />
Engenheiro civil, doutor em<br />
Geotecnia pela PUC-Rio, professor<br />
associado do laboratório de<br />
Engenharia Civil <strong>da</strong> UENF<br />
tibana@<strong>uenf</strong>.br<br />
rodrigo Martins reis<br />
Engenheiro civil, doutor em<br />
Geotecnia pela USP, professor<br />
associado do laboratório de<br />
Engenharia Civil <strong>da</strong> UENF<br />
reis@<strong>uenf</strong>.br<br />
FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS •