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Lances de Uma Vida - palmeiras futebol clube

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LANCES DE UMA VIDA


ALINNE FANELLI<br />

LANCES DE UMA VIDA


Centro Universitário das Faculda<strong>de</strong>s Associadas <strong>de</strong> Ensino - FAE<br />

Trabalho Acadêmico para obtenção do título <strong>de</strong> Bacharel em Jornalismo<br />

M373l<br />

Autora<br />

Alinne Fanelli<br />

Professor orientador<br />

Francisco <strong>de</strong> Assis Carvalho Arten<br />

Diagramação e Capa<br />

Ana Paula <strong>de</strong> Oliveira Malheiros Romeiro<br />

Impressão<br />

Sérgio Hentz<br />

Ficha Catalogrãfica<br />

Mastiguim, Alinne Mariane Fanelli e<br />

<strong>Lances</strong> <strong>de</strong> uma vida. Alinne Mariane Fanelli e<br />

Mastiguim. São João da Boa Vista, SP: UNIFAE, 2010.<br />

p. c.<br />

Trabalho <strong>de</strong> Conclusão do curso <strong>de</strong> Jornalismo<br />

do Centro Universitário das Faculda<strong>de</strong>s Associadas <strong>de</strong><br />

Ensino <strong>de</strong> São João da Boa Vista, 2010. Orientador –<br />

Professor Dr. Francisco <strong>de</strong> Assis Carvalho Arten.<br />

1.Mucio, Luis Roberto <strong>de</strong> 2. Jornalismo Esportivo.<br />

3. TV Globo. I. Título.<br />

CDU - 070.422 (81)


Para amar <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> é preciso<br />

ter coragem. É preciso se livrar das<br />

conveniências, das amarras, dos medos.<br />

Só assim vale a pena. Com você<br />

aprendi o que é amar.<br />

Dedico este livro à minha mãe, Onelma,<br />

a quem amo incondicionalmente.<br />

Por todo amor e <strong>de</strong>dicação dispensados<br />

em toda minha vida.


SUMÁRIO<br />

PREFÁCIO 9<br />

1. O VOO DA VIDA E DA MORTE 13<br />

2. A EXPERIÊNCIA MAIS MARCANTE 27<br />

3. A FEBRE DE LUIS 51<br />

4. O COMEÇO 67<br />

5. O NOVO APRENDIZADO 83<br />

6. LUIS ROBERTO, O SANJOANENSE 99<br />

7. O PROFISSIONAL 107


PREFÁCIO<br />

11<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

Um telefonema no meio da tar<strong>de</strong> trouxe o convite,<br />

e a surpresa, para que eu escrevesse o prefácio <strong>de</strong>ste<br />

livro.<br />

Honra dupla: por prefaciar para a Alinne e por ser<br />

um livro-reportagem sobre os principais momentos da<br />

vida e carreira do Luis Roberto.<br />

E preocupação, porque por estes dois motivos<br />

também a responsabilida<strong>de</strong> é dupla.<br />

Recebi os dois primeiros capítulos por e-mail e fi -<br />

quei esperando um melhor momento para lê-los, mas<br />

acabei por escolher o pior momento...<br />

<strong>Uma</strong> hora antes <strong>de</strong> sair para lecionar resolvi dar<br />

uma olhada em como começava o livro, apenas para<br />

saber o que me esperava. Quase perdi a hora.<br />

A história que encabeça a principal aventura jornalística<br />

<strong>de</strong> Luis Roberto é cativante, mas a maneira<br />

como Alinne <strong>de</strong>screve os fatos é muito mais.<br />

Tanto que comecei a ler e não conseguia parar.<br />

“Vou ler mais uma parágrafo” e “mais um” e “mais um”.<br />

De repente, percebo que acabei <strong>de</strong> ler a meta<strong>de</strong><br />

do livro que ela me mandou e fi co com um insaciável<br />

gosto <strong>de</strong> “quero mais”, ou <strong>de</strong> “quero muito mais”.<br />

Mais <strong>de</strong> uma semana se passou, com constantes<br />

pesquisas no meu e-mail para saber se o restante do<br />

livro chegara.


Quando li o restante do livro, percebi que a empolgação<br />

inicial que senti não era em vão.<br />

A autora, a quem conhecia <strong>de</strong> suas participações<br />

na mídia da cida<strong>de</strong>, já havia me causado uma excelente<br />

impressão quando me entrevistou para este mesmo<br />

livro.<br />

Pergunta objetivamente e <strong>de</strong>senvolve os temas da<br />

entrevista com rara leveza, sem que isso seja motivo<br />

para <strong>de</strong>ixar qualquer pergunta sem fazer.<br />

Ao ler o livro, percebi que Alinne escreve como<br />

poucos, com um português escorreito e com uma narrativa<br />

inteligente e empolgante, daquelas que pren<strong>de</strong>m<br />

a atenção <strong>de</strong> quem lê.<br />

É bem verda<strong>de</strong> que ela tem um excelente material<br />

em mãos.<br />

A carreira do Luis Roberto é uma ascensão merecida,<br />

rápida e prodigiosa.<br />

Trata-se, sem medo <strong>de</strong> errar, <strong>de</strong> um dos maiores<br />

talentos da mídia brasileira. Alia narração com informação<br />

na exata medida <strong>de</strong> cada uma para que não haja<br />

sobreposição entre elas.<br />

Além disso, Luis sempre foi <strong>de</strong> um profissionalismo<br />

que espanta. Tem muita informação para passar<br />

num jogo <strong>de</strong> Copa <strong>de</strong> Mundo, como as tem num<br />

fut-volei, ou carnaval. Facilmente se percebe que ele<br />

se prepara muito para uma transmissão, qualquer que<br />

seja ela.<br />

12


13<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

Profi ssionalismo é a sua marca.<br />

E é por tudo isso que o livro é prazeroso, gostoso.<br />

Se os dois primeiros capítulos contam um raro<br />

momento do esporte nacional, com <strong>de</strong>talhes que só<br />

Luis Roberto viveu, nos <strong>de</strong>mais Alinne <strong>de</strong>screve <strong>de</strong>talhes<br />

interessantes da vida e carreira do homenageado,<br />

até seu ingresso na po<strong>de</strong>rosa Globo, sem cair no lugar<br />

comum.<br />

E aqui vai um conselho para quem está lendo este<br />

prefácio. Se você estiver muito ocupado agora, não comece<br />

a ler o livro.<br />

Se começar, vai fi car envolvido em uma história<br />

fascinante e em um texto fantástico. E não conseguirá<br />

parar mais.<br />

Ou, só parará quando chegar à última página, com<br />

o tal do gosto <strong>de</strong> “quero mais”.<br />

João Fernando Alves Palomo,<br />

advogado e professor do Unifeob


15<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

1. O VOO DA VIDA E DA MORTE


17<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“Tudo parecia um pesa<strong>de</strong>lo. Era o fi m<br />

<strong>de</strong> uma era do esporte mundial”.


19<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

TERÇA-FEIRA, 03 DE MAIO DE 1994.<br />

É noite <strong>de</strong> primavera e o céu está estrelado na Europa.<br />

Às 23 horas, em meio à correria do aeroporto <strong>de</strong> Paris,<br />

na França, o voo RG 723 da Varig faz seus últimos<br />

acertos para <strong>de</strong>colar com <strong>de</strong>stino ao Brasil: um voo<br />

inusitado, estranho, atípico.<br />

A classe executiva foi reservada antecipadamente<br />

para que seus passageiros tivessem total privacida<strong>de</strong>.<br />

A ocasião incomum exige tais cuidados, como a organização<br />

dos assentos do centro do avião, que parece<br />

agora uma gran<strong>de</strong> sala. As poltronas foram retiradas e,<br />

as poucas que permaneceram, organizadas nas laterais.<br />

Nelas, acomodam-se alguns dos principais nomes do<br />

jornalismo esportivo brasileiro: Galvão Bueno, Cândido<br />

Garcia, Reginaldo Leme e Nilson Cesar. E, entre<br />

eles, um rapaz, o mais jovem <strong>de</strong>stes conhecidos jornalistas:<br />

Luis Roberto <strong>de</strong> Mucio.<br />

Em outra ocasião, o encontro <strong>de</strong>sses passageiros<br />

seria uma festa. A viagem pareceria bem rápida, pois<br />

haveria muita distração, conversas e até, provavelmente,<br />

fofocas do mundo esportivo. Certamente, se não<br />

fosse aquele momento, haveria risadas, troca <strong>de</strong> informações,<br />

piadas e, talvez, algum dos jornalistas se arris-


caria a cantar ou tocar alguma música durante o voo,<br />

pois sempre que um grupo como este se encontra, o<br />

clima é <strong>de</strong> confraternização, <strong>de</strong> alegria e <strong>de</strong> trocas <strong>de</strong><br />

histórias. Certamente seria assim... Se a situação permitisse.<br />

Porém, nada disso aconteceu naquele voo da<br />

Varig. Muito pelo contrário; o que se viu foram semblantes<br />

fechados, silêncio quase o tempo todo, frases<br />

curtas, pausadas, em tom baixo, quase que em sussurro.<br />

Muitos estão abatidos e, incrivelmente, quietos.<br />

Jornalistas quietos?... Realmente, aquele não era um<br />

voo comum. Paira no ar uma teimosa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> chorar,<br />

gritar, <strong>de</strong>sabafar.<br />

Luis Roberto <strong>de</strong> Mucio, talvez por ser ainda muito<br />

jovem, presta atenção em cada <strong>de</strong>talhe, em cada<br />

momento daquela viagem. Viajar fazia parte <strong>de</strong> sua<br />

rotina <strong>de</strong> trabalho como locutor esportivo da Rádio<br />

Globo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1988.<br />

Anos <strong>de</strong>pois, ao perguntarem a ele qual seria o<br />

momento <strong>de</strong> sua vida profissional que mais o teria<br />

marcado, se lembrará, rapidamente, daquele triste voo,<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z horas, da França para o Brasil.<br />

A ocasião, possivelmente, provocou muitas lembranças<br />

em Luis Roberto, fazendo-o voltar no tempo<br />

e lembrar-se <strong>de</strong> sua pequenina São João da Boa Vista.<br />

Sua vida, na verda<strong>de</strong>, também po<strong>de</strong> ser comparada<br />

a um gran<strong>de</strong> voo: <strong>de</strong> São João até o Rio <strong>de</strong> Janeiro; da<br />

pequenina cida<strong>de</strong> - ao pé da Serra da Mantiqueira,<br />

20


21<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

cortada pelo rio Jaguari Mirim - on<strong>de</strong> viveu e passou<br />

toda a sua infância e adolescência, até a ex-capital do<br />

Brasil, on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> e trabalha. Dos veículos interioranos<br />

Rádio Piratininga e Jornal Opção, on<strong>de</strong> iniciou<br />

sua jornada esportiva - para uma emissora internacional,<br />

a Re<strong>de</strong> Globo <strong>de</strong> Televisão. Certamente recordou<br />

seus tempos <strong>de</strong> criança, juventu<strong>de</strong>, os amigos, a faculda<strong>de</strong>,<br />

as brinca<strong>de</strong>iras, os primeiros trabalhos.<br />

- o -<br />

Nascido no dia 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1961, em São Paulo,<br />

Luis Roberto <strong>de</strong> Mucio mudou-se, com seus pais,<br />

para São João da Boa Vista, a 223 quilômetros da capital<br />

do estado, quando tinha dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Ali<br />

viveu infância e adolescência.<br />

Des<strong>de</strong> criança, Luis brincava <strong>de</strong> narrador esportivo.<br />

Aos quatro anos, ganhou um jogo <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> <strong>de</strong><br />

botão como presente <strong>de</strong> sua mãe e, com ele, praticava<br />

sua locução. Brincava e até aplicava cartões amarelo<br />

e vermelho aos “jogadores”. Luis Roberto, provavelmente,<br />

lembrou-se <strong>de</strong> momentos como este.<br />

A natação foi o segundo esporte na vida <strong>de</strong> Luis<br />

Roberto, que fez parte da equipe do professor José<br />

Marcon<strong>de</strong>s, na Socieda<strong>de</strong> Esportiva Sanjoanense. A<br />

cida<strong>de</strong> tinha tradição neste esporte.<br />

- São João da Boa Vista foi a primeira cida<strong>de</strong> do<br />

interior do Brasil a sediar o Campeonato Brasileiro <strong>de</strong><br />

Natação, na década <strong>de</strong> 1970. Os atletas da Esportiva


conquistaram muitas medalhas e influenciaram boa<br />

parte dos jovens daquela época.<br />

Além da natação, a conquista da taça Jules Rimet<br />

com o tricampeonato do Brasil, na Copa do Mundo,<br />

no México, em 1970, mexeu com os sonhos <strong>de</strong> Luis<br />

Roberto e <strong>de</strong> todos os garotos brasileiros que, como<br />

ele, eram ‘apaixonados’ pelo <strong>futebol</strong>.<br />

- Eu estava entre aqueles que “escapavam” das aulas<br />

do Marcon<strong>de</strong>s para ir jogar <strong>futebol</strong> no “Campo do<br />

Renner”. Quanta sauda<strong>de</strong>!!! Crianças à beira da adolescência,<br />

loucas por uma bola.<br />

O Renner era um dos campos <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> da Socieda<strong>de</strong><br />

Esportiva Sanjoanense, atrás do campo principal<br />

e próximo ao Rio Jaguari.<br />

- Hoje tudo está diferente. Nem aquela enchente,<br />

que inundava o nosso “campinho”, tem mais! No verão,<br />

ficávamos na torcida para que as águas não impedissem<br />

o nosso divertimento.<br />

Luis tinha nove anos e jogar <strong>futebol</strong> com os amigos<br />

nos campos da Esportiva era sua gran<strong>de</strong> diversão.<br />

O dia mais esperado pela turma era a segunda-feira,<br />

quando o Clube fechava para os sócios.<br />

- Neste dia jogávamos escondidos, no campo principal.<br />

Fizemos uma entrada pela linha do trem. Invadíamos<br />

o Clube com a bola surrada <strong>de</strong> capotão e nos<br />

esbaldávamos. A gente vibrava nas traves que ficavam<br />

com as re<strong>de</strong>s usadas <strong>de</strong> domingo, nos campeonatos.<br />

22


23<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

No início dos anos 70, a febre em todo o estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo era o <strong>futebol</strong> Dente-<strong>de</strong>-leite. Foi nessa<br />

época que Luis Roberto <strong>de</strong>scobriu o rádio.<br />

- O Ito Amorim comandava o noticiário <strong>de</strong> esporte<br />

na Rádio Difusora, que <strong>de</strong>pois virou Piratininga.<br />

Ouvia os resultados do Campeonato Amador. Cada<br />

timaço...! Meu ídolo era o centroavante do Pratinha,<br />

<strong>de</strong> nome sonoro como o do Rei do Futebol: Colé!<br />

Além do Amador, o encanto para Luis Roberto<br />

eram os campeonatos rurais.<br />

- Naquela década, mais da meta<strong>de</strong> dos brasileiros<br />

vivia no campo. Cada fazenda tinha seu “gramado”. As<br />

tar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> domingo eram movidas a gran<strong>de</strong>s jogos. Os<br />

maiores jogadores da cida<strong>de</strong> eram “contratados” pelos<br />

times da zona rural. Houve uma época que o “ruralzão”<br />

era mais forte que o amador. Terminados os jogos,<br />

todo mundo se reunia em torno do rádio <strong>de</strong> pilha.<br />

Pelas ondas curtas se ouviam os gran<strong>de</strong>s jogos <strong>de</strong> São<br />

Paulo e do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Durante a adolescência, Luis Roberto acompanhou<br />

a equipe profi ssional da cida<strong>de</strong>, o Palmeiras Futebol<br />

Clube, com gran<strong>de</strong> paixão. A mãe, Sebastiana,<br />

precisou comprar panos pretos e brancos para costurar<br />

uma ban<strong>de</strong>ira alvinegra, cores do time <strong>de</strong> São João.<br />

- Tianinha caprichou, tinha até um PFC bordado.<br />

De mãos dadas com meu pai, fui ao primeiro jogo no<br />

estádio Getúlio Vargas Filho. Afonso me guiava com


uma mão e, na outra, segurava um Motoradio, 6 faixas,<br />

para ouvir os jogos da capital. Vi a reinauguração dos<br />

refletores do campo do Palmeiras.<br />

Luis se recorda que a casa do zelador ficava <strong>de</strong>ntro<br />

do estádio. “Seu” Zé cuidava do campo, dos vestiários e<br />

da limpeza das pequenas arquibancadas.<br />

- Toda segunda-feira, as camisas dos nossos heróis<br />

estavam lá, nos varais da casa do “Seu” Zé. Havia ali,<br />

naquele acanhado estádio, uma energia singular. É difícil<br />

explicar o que sentíamos.<br />

A paixão pelo <strong>futebol</strong> sanjoanense e pelo rádio, finalmente<br />

se cruzaram. Em 1977, Luis Roberto começou<br />

a trabalhar na Rádio Piratininga, levado pelo presi<strong>de</strong>nte<br />

da Liga Sanjoanense <strong>de</strong> Futebol, Célio Braga.<br />

Ele apresentava um programa aos sábados chamado:<br />

O Esporte Amador é Notícia.<br />

Nessa mesma época, Luis era presi<strong>de</strong>nte do Centro<br />

Acadêmico da escola on<strong>de</strong> cursava o segundo grau:<br />

o Instituto <strong>de</strong> Educação Coronel Cristiano Osório <strong>de</strong><br />

Oliveira. O jovem escrevia artigos sobre <strong>futebol</strong> para o<br />

jornal do colégio, O Sacívico. Escrevia também sobre<br />

esporte, a convite do amigo Francisco Arten, em um<br />

jornal da cida<strong>de</strong>, o Opção.<br />

- Por conta <strong>de</strong>sses artigos, Célio Braga me convidou<br />

para o seu programa na Rádio Piratininga. Assim<br />

começou minha vida profissional na comunicação.<br />

Eram oportunida<strong>de</strong>s para colocar seu treinamen-<br />

24


25<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

to em prática. Um amigo <strong>de</strong> Luis conta que, quando<br />

criança, muitas vezes ele <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> jogar o <strong>futebol</strong><br />

para, com uma latinha <strong>de</strong> refrigerante como microfone,<br />

simular uma narração. Enquanto os amigos se<br />

divertiam jogando, ele preferia comentar os lances,<br />

narrar as “peladas” dos garotos <strong>de</strong> São João. Os jogos<br />

eram improvisados, no meio das ruas do bairro São<br />

Benedito, on<strong>de</strong> Luis morou na adolescência. Os garotos<br />

eram divididos entre “os sem camisetas” e “os com<br />

camisetas”. Muitos jogavam <strong>de</strong>scalços. Tudo muito<br />

simples, precário, improvisado. Porém, na narração do<br />

menino Luis Roberto, as jogadas ganhavam brilhantismo<br />

e gran<strong>de</strong>za surpreen<strong>de</strong>ntes. Sempre eram gran<strong>de</strong>s<br />

partidas, gran<strong>de</strong>s lances, gran<strong>de</strong>s jogadores... Toda<br />

humilda<strong>de</strong> e simplicida<strong>de</strong> se transformavam num<br />

evento grandioso.<br />

Luis se inspirava em seus ídolos: Pedro Luiz, Fiori<br />

Giglioti e Jorge Cury, todos radialistas, ‘apaixonados’<br />

pelo <strong>futebol</strong> e pela profi ssão.<br />

- o -<br />

Era natural que Luis Roberto, a 35 mil pés <strong>de</strong> altura,<br />

lembrasse <strong>de</strong> suas primeiras viagens internacionais<br />

- acompanhando a equipe <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> do Santos,<br />

na Copa Libertadores da América em 1984; a Copa<br />

do Mundo <strong>de</strong> 1990, na Itália. Porém, as lembranças<br />

mais marcantes, naquele voo, eram <strong>de</strong> sua atuação nas<br />

coberturas do automobilismo mundial.


A primeira cobertura <strong>de</strong> Luis Roberto na Fórmula<br />

1, como repórter, aconteceu em julho <strong>de</strong> 1988, numa<br />

vitória <strong>de</strong> Ayrton Senna, em Montreal, no Canadá.<br />

Depois, transmitiu outra vitória do piloto brasileiro,<br />

<strong>de</strong>sta vez em Detroit, nos Estados Unidos, e, por fim,<br />

o título <strong>de</strong> Campeão Mundial da categoria, em Susuka,<br />

no Japão. Luis Roberto trabalhou em mais <strong>de</strong><br />

40 Gran<strong>de</strong>s Prêmios. Cada um representava um sentimento<br />

e uma emoção diferente <strong>de</strong> tudo já vivido até<br />

aquele momento. Das várias vezes em que esteve ao<br />

lado <strong>de</strong> Ayrton Senna, uma, em especial, até aquele dia<br />

o fazia se emocionar; uma prova <strong>de</strong> confiança e amiza<strong>de</strong><br />

do piloto; uma informação exclusiva dada por ele,<br />

num gesto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração. Foi em setembro <strong>de</strong> 1993.<br />

Ayrton Senna estava saindo <strong>de</strong> sua equipe Mc Laren<br />

e acertando os últimos <strong>de</strong>talhes para o novo contrato<br />

com a Williams, que, naquele ano, tinha como primeiro<br />

piloto, Alain Prost. Era final <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma sexta-feira,<br />

antes do Gran<strong>de</strong> Prêmio <strong>de</strong> Portugal. Senna<br />

disse à imprensa que uma notícia bombástica ia ser revelada<br />

no sábado. A curiosida<strong>de</strong> tomou conta <strong>de</strong> todos<br />

os jornalistas. Especulavam a respeito <strong>de</strong> uma possível<br />

informação relacionada à nova equipe do brasileiro -<br />

Williams; outros, apreensivos, cogitavam um plausível<br />

discurso <strong>de</strong> encerramento <strong>de</strong> carreira - o que Ayrton<br />

já começava a <strong>de</strong>monstrar ter vonta<strong>de</strong>.<br />

Na manhã seguinte, Luis Roberto e Mário An-<br />

26


27<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

dra<strong>de</strong> Silva, à época, repórter do Jornal do Brasil, encontraram-se<br />

logo cedo com o piloto brasileiro.<br />

- Solicitei a ele que nos contasse seu segredo, antes<br />

da coletiva. Ele relutou, mas acabou nos dando a<br />

informação com exclusivida<strong>de</strong>. A revelação era <strong>de</strong> que<br />

o Prost anunciaria, antes da corrida, o encerramento<br />

da carreira. Dei a notícia na Rádio Globo, pela manhã<br />

toda, em primeira mão e fui chamado <strong>de</strong> louco. Às 15<br />

horas, na coletiva <strong>de</strong> imprensa, Prost reuniu os jornalistas<br />

do mundo todo e confi rmou a informação.<br />

O gesto <strong>de</strong> Ayrton Senna; essa <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />

confi ança; só fez aumentar a admiração <strong>de</strong> Luis Roberto<br />

pelo piloto brasileiro.<br />

- o -<br />

Ayrton Senna... Ao lembrar-se <strong>de</strong>le, Luis olha<br />

para as pessoas ao lado. Percebe lágrimas no rosto <strong>de</strong><br />

alguns. Logo, lágrimas como aquelas escorreriam dos<br />

olhos <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> outros brasileiros.<br />

O avião da Varig está próximo a Guarulhos, preparando-se<br />

para aterrissar. Os únicos sons que se ouvem<br />

ali <strong>de</strong>ntro são os do motor e do vento frio lá fora.<br />

O resto é silêncio: um silêncio enorme. Foram cerca<br />

<strong>de</strong> doze horas <strong>de</strong> lembranças e tristeza.<br />

Na vida <strong>de</strong> Luis Roberto ainda haveria muitos outros<br />

voos; muitas páginas a serem escritas; em vários<br />

capítulos. A viagem <strong>de</strong>le não terminaria ali. A <strong>de</strong> Ayrton<br />

Senna da Silva, sim. Aquela havia sido a última


viagem do ídolo brasileiro: o voo RG 723 da Varig<br />

trazia para o Brasil o corpo do piloto, morto dois dias<br />

antes, em Ímola, na Itália.<br />

- Tudo parecia um pesa<strong>de</strong>lo. O que eu tinha certeza<br />

era <strong>de</strong> que estava fazendo parte da história; que a<br />

Fórmula 1 jamais seria a mesma. Era o fim <strong>de</strong> uma era<br />

do esporte mundial.<br />

28


29<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

2. A EXPERIÊNCIA MAIS MARCANTE


31<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“O celular me levou a ser o único<br />

repórter ao vivo, no momento<br />

em que a médica nos <strong>de</strong>u<br />

a pior notícia do esporte brasileiro<br />

em todos os tempos”.


33<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

O GRANDE PRÊMIO DE ÍMOLA, NA<br />

Itália, estava marcado para domingo, 1º <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong><br />

1994. Até então, há 12 anos a fórmula 1 não assistia<br />

a uma morte nas pistas <strong>de</strong> corrida. Des<strong>de</strong> o aci<strong>de</strong>nte<br />

fatal <strong>de</strong> Ricardo Paletti, na largada do GP do Canadá,<br />

em 1982, que não se via um aci<strong>de</strong>nte fatal nos autódromos.<br />

- Aquele acontecimento provocou muitas mudanças<br />

na competição, inclusive os carros fi caram mais seguros,<br />

explica Luis Roberto.<br />

O locutor esportivo estreou seus trabalhos na fórmula<br />

1 em 1988. Nunca imaginou que em sua profi ssão<br />

fosse acompanhar uma tragédia como a <strong>de</strong> Ayrton.<br />

- A morte passava longe das pistas ao mesmo tempo<br />

em que ela estava muito próxima. Mas, a sequência<br />

daquele fi m <strong>de</strong> semana <strong>de</strong> Ímola, foi impressionante.<br />

Sexta-feira, 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1994. Rubens Barrichello<br />

faz seus treinos <strong>de</strong> classifi cação para o Gran<strong>de</strong><br />

Prêmio <strong>de</strong> Ímola, pela equipe da Jordan. Durante suas<br />

medidas <strong>de</strong> tempo, sofre um aci<strong>de</strong>nte muito forte na<br />

“chicane” - tipo <strong>de</strong> curva daquele circuito que dá acesso<br />

à reta principal do autódromo. Esta curva <strong>de</strong>veria<br />

ser feita lentamente e com cuidado. O braço <strong>de</strong> Rubi-


nho foi <strong>de</strong>slocado para fora do cockpit, que é a parte<br />

mais protegida do carro para o piloto, muito aberto<br />

naquela época. O veículo <strong>de</strong> Rubens capotou várias<br />

vezes e bateu no alambrado; ele só não morreu, pois a<br />

batida foi amortecida pelos pneus. Resgatado, o piloto<br />

foi levado para a UTI (Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terapia Intensiva)<br />

do hospital Maggiore, em Bologna, na Itália - cenário<br />

do falecimento <strong>de</strong> Ayrton.<br />

Durante esse período, uma inovação estreara na<br />

fórmula 1. O telefone celular era uma novida<strong>de</strong> absoluta<br />

na Europa. A tecnologia facilitaria, e muito, o<br />

trabalho <strong>de</strong> Luis Roberto naquele aci<strong>de</strong>nte com o Rubinho.<br />

- Eu me dava muito bem com ele; havia trabalhado<br />

em sua estreia no automobilismo, na África do<br />

Sul. Assistia às suas provas na posição <strong>de</strong> comentarista.<br />

Rubinho sempre estava conosco, dando palpites e,<br />

então, construímos uma relação.<br />

No momento em que aconteceu o aci<strong>de</strong>nte, Luis<br />

disse:<br />

- Eu vou até o hospital.<br />

E foi. Entrou na UTI e entrevistou Rubinho <strong>de</strong> lá<br />

mesmo. A última entrevista <strong>de</strong> Senna foi nesse mesmo<br />

dia, assim que ele saiu do hospital. Ele havia ido visitar<br />

o Rubinho.<br />

- Eu estava ao vivo, no tal do celular. Estava presente<br />

a imprensa toda, inclusive o Roberto Cabrini,<br />

34


35<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

na época, da TV Globo. O Ayrton Senna era o mais<br />

assediado. Havia 10, 15 jornalistas ali.<br />

O bate papo com o Rubinho foi conduzido por<br />

Luis Roberto. O pai do piloto estava nos estúdios da<br />

Rádio Globo São Paulo, e falava, ao vivo, naquele momento.<br />

Ele colocou pai e fi lho, diretamente da UTI,<br />

para conversarem:<br />

- Tudo bom fi lho?<br />

- Está tudo bem, pai – afi rmou Rubinho.<br />

Então, Luis Roberto prosseguiu a entrevista <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro da UTI e não tinha noção do risco <strong>de</strong> uma<br />

possível interferência com os aparelhos da Unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Terapia Intensiva. A doutora Maria Teresa Fiandri,<br />

que anunciaria a morte <strong>de</strong> Ayrton Senna dois dias<br />

<strong>de</strong>pois, pediu para o jornalista não utilizar aquele novo<br />

aparelho.<br />

- Eu não sei se esse ‘troço’ po<strong>de</strong> ter alguma interferência<br />

aqui, mas é melhor você não usar.<br />

Or<strong>de</strong>m acatada. Afi nal, Luis já havia feito a entrevista.<br />

Ele saiu do hospital. Foi quando teve um sentimento<br />

estranho: o <strong>de</strong> que voltaria a entrar naquele<br />

lugar. Dois dias <strong>de</strong>pois, ao voltar no Maggiore, Luis<br />

perceberia que havia memorizado o caminho.<br />

- o -<br />

Sábado, 30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1994. Nesta manhã, outro<br />

treino <strong>de</strong> classifi cação. Morre Roland Ratsenberger. O<br />

carro do piloto austríaco <strong>de</strong>sintegrou-se no muro <strong>de</strong>


concreto <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar direto numa curva; todos<br />

tomaram um susto.<br />

- Foi inacreditável, porque ele teve uma fratura <strong>de</strong><br />

pescoço. Literalmente, a cabeça ficou mole.<br />

Ao olhar aquele aci<strong>de</strong>nte, Luis já pressentira que<br />

era algo fora do comum, pois a maneira com que o<br />

carro ia parando era realmente estranha. Assim que<br />

o veículo cessou seus giros, o jornalista Celso Itiberê,<br />

colunista do Jornal O Globo, falou firmemente:<br />

- O cara morreu.<br />

A Simtek <strong>de</strong> Roland havia perdido o aerofólio, a<br />

315 quilômetros por hora, na reta que ligava as curvas<br />

<strong>de</strong> Tamburello e Villeneuve. O choque com o muro<br />

<strong>de</strong>struiu o lado esquerdo do carro, que rodopiou, <strong>de</strong>struído,<br />

até a curva Tosa. Luis Roberto ficou impressionado.<br />

- Estávamos todos na sala <strong>de</strong> imprensa. Não dava<br />

para ver nada, nem a curva Tosa, num branco, ao final<br />

da pista. Quando Celso disse aquilo numa firmeza, eu<br />

falei “não é possível”.<br />

Era impressionante a visão do joelho do piloto.<br />

Todos ficaram atônitos. O que se ouvia da imprensa<br />

era “per<strong>de</strong>mos um cara”. Na ambulância, a caminho<br />

do posto médico do circuito, o coração <strong>de</strong> Roland ainda<br />

respon<strong>de</strong>u, com batidas fracas. Para os jornalistas<br />

responsáveis em divulgar a notícia da morte <strong>de</strong> Ratsenberger,<br />

era um momento <strong>de</strong> tristeza. Luis Roberto<br />

36


37<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

contou que aquela informação era terrível. Ninguém<br />

imaginava que mais algum acontecimento pu<strong>de</strong>sse<br />

marcar ainda mais aquele fi m <strong>de</strong> semana na história<br />

da fórmula 1.<br />

- Era um troço estranho, mal, mal. Aquele dia<br />

foi horrível porque ninguém dormiu direito. Foi tudo<br />

muito estranho.<br />

Ayrton ainda estava em dúvida se <strong>de</strong>veria correr<br />

no dia seguinte. Na volta do local do aci<strong>de</strong>nte, trancou-se<br />

por quase uma hora num cubículo do motohome<br />

da Williamns. Não falou com ninguém. Embora<br />

estivesse consi<strong>de</strong>rando seriamente, naquela tar<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sábado, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não correr no domingo, aos<br />

jornalistas, Ayrton preferiu falar apenas dos riscos que<br />

esperavam os pilotos no outro dia.<br />

Em entrevista, afi rmou:<br />

- Consegui o melhor tempo, mas isto não quer<br />

dizer que está tudo bem. Está ruim para todos nesta<br />

pista. Há muito vento e sujeira no circuito, o que difi -<br />

culta muito o trabalho do piloto. (...) Este vai ser um<br />

ano com muitos aci<strong>de</strong>ntes e arrisco dizer que teremos<br />

sorte se não acontecer nada muito grave.<br />

Depois do aci<strong>de</strong>nte, os pilotos reinstalaram a<br />

GPDA - Grand Prix Drivers Association, que tem<br />

como atual presi<strong>de</strong>nte Nick Heidfeld. A associação<br />

dos pilotos <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong>s Prêmios havia sido resgatada.<br />

Os organizadores convocaram uma reunião com


os pilotos para o domingo <strong>de</strong> manhã, antes da corrida<br />

principal, com o objetivo <strong>de</strong> estabelecer algumas atitu<strong>de</strong>s<br />

a serem tomadas.<br />

- o -<br />

Domingo, 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1994. Os acontecimentos<br />

dos últimos dois treinos classificatórios proporcionariam<br />

mudanças significativas no automobilismo<br />

mundial.<br />

Na reunião da GPDA, como primeira modificação,<br />

os presentes <strong>de</strong>cidiram aumentar a proteção feita<br />

pelo cockpit, que <strong>de</strong>ixava a cabeça do piloto muito exposta.<br />

- Inclusive, no final <strong>de</strong> semana seguinte, outro piloto<br />

austríaco quase morreu também. Ele bateu e tocou<br />

com a cabeça na proteção, porque o rosto ficava<br />

muito aberto. Foi até pra UTI, relembrou Luis.<br />

Então, naquela manhã <strong>de</strong> domingo, a reunião foi<br />

feita no alto da torre instalada no circuito <strong>de</strong> Ímola.<br />

No mesmo momento havia uma corrida preliminar,<br />

uma competição <strong>de</strong> Porsche, e, para a surpresa <strong>de</strong> todos,<br />

mais um aci<strong>de</strong>nte. Mika Hakkinen bateu forte.<br />

- Todos ficaram muito apavorados, olhando para<br />

a pista, pois tomaram um susto. Inclusive, foi a última<br />

vez que vimos Ayrton sem capacete, contou Luis.<br />

Os pilotos <strong>de</strong>sceram para o autódromo e o então<br />

repórter da Jovem Pan, Nilson Cesar, e Luis Roberto,<br />

foram ao encontro do Senna. Nilson questionou o<br />

38


39<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

brasileiro:<br />

- E aí, Ayrton?<br />

- A GPDA foi criada.<br />

Foi a única coisa que ele falou. Luis Roberto continuou<br />

a indagá-lo na busca por mais informações:<br />

- Alguma novida<strong>de</strong> pra gente?<br />

Levando em conta as providências que <strong>de</strong>veriam<br />

ser tomadas quanto à segurança, Senna fi nalizou:<br />

- A Fórmula 1 nunca mais será a mesma. Não<br />

quero falar.<br />

De acordo com Luis, Ayrton era uma pessoa muito<br />

fechada. Espontâneo em alguns momentos e difícil<br />

em outros. O piloto entrou no Box da Williams e parou<br />

em frente ao seu carro.<br />

- Ele estava com o macacão. É uma imagem que<br />

fi cou marcada, porque ele botou a mão na asa do carro<br />

e olhou. Ficou parado com as mãos no veículo por<br />

alguns momentos.<br />

A imagem fi caria marcada para sempre na memória<br />

dos fãs <strong>de</strong> Ayrton Senna e, até hoje, provoca polêmica,<br />

pois alguns acreditam que ele estava pressentindo<br />

a morte. Luis Roberto não acredita nesse tipo <strong>de</strong><br />

análise.<br />

- Sinceramente, ele não estava tendo pressentimentos.<br />

Ayrton repetia este gesto sempre. Tinha uma<br />

forma própria <strong>de</strong> observar tudo, diferente dos outros.<br />

Senna parou na entrada do Box, olhando também


para toda a movimentação do local. Vestia uma camiseta<br />

do ‘Sennynha’, o personagem <strong>de</strong> um pequeno garoto<br />

inspirado nele. Arrumou seu macacão e foi para<br />

a corrida.<br />

Minutos antes da largada, tiveram início as transmissões<br />

<strong>de</strong> rádio e televisão, com expressões <strong>de</strong> tristeza<br />

pela perda <strong>de</strong> Ratzenberger e pelo violento aci<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> Rubens Barrichello.<br />

- o -<br />

A corrida começou. O clima era tenso. O que ninguém<br />

queria e previa para mais aquele dia, aconteceu:<br />

após 25 minutos <strong>de</strong> prova. Um braço da suspensão<br />

dianteira direita da Williams <strong>de</strong> Ayrton transformouse<br />

em lança mortal <strong>de</strong>pois do choque contra o muro;<br />

entrou pela viseira, <strong>de</strong>sfigurou seu rosto e <strong>de</strong>struiu seu<br />

cérebro.<br />

- O velho capacete amarelo, inútil para salvá-lo<br />

naquele dia, cumpriu um último papel. Pouparia milhões<br />

<strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> uma imagem <strong>de</strong>vastadora, diz Ernesto.<br />

A Williams, semi<strong>de</strong>struída, ainda podia ser vista<br />

indo em direção à área <strong>de</strong> escape da pista; rasgou pela<br />

grama e retornou ao cimento pela reta Tamburello,<br />

por alguns décimos <strong>de</strong> segundo, à frente <strong>de</strong> Gerhard<br />

Berger. A câmera do helicóptero gravou um balançar<br />

<strong>de</strong> cabeça no cockpit - pouco seguro. Luis Roberto<br />

relatou a cena.<br />

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41<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

- Nunca tinha visto um piloto ser retirado da pista<br />

e ir direto para o hospital, ao invés <strong>de</strong> ir para o posto<br />

médico do autódromo.<br />

Por isso, todos perceberam a serieda<strong>de</strong> da situação<br />

e o que era tensão, tornou-se preocupação.<br />

Luis diz que Ayrton foi direto para o hospital.<br />

Antes disso, foram feitas várias e várias tentativas para<br />

salvar a vida do piloto no próprio autódromo. A equipe<br />

médica <strong>de</strong> pista chegou ao local 20 segundos após<br />

o aci<strong>de</strong>nte.<br />

As imagens <strong>de</strong> televisão procuravam fugir das cenas<br />

expostas. O enfermeiro Giuliano Mazzoli, membro<br />

da equipe responsável pelo trecho entre a Tamburello<br />

e a Tosa, avisou aos médicos que estavam na torre<br />

<strong>de</strong> controle do circuito:<br />

- O estado é grave e ele está inconsciente no cockpit.<br />

A equipe médica da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terapia Intensiva<br />

Móvel chegou ao local da batida um minuto e 40<br />

segundos <strong>de</strong>pois. Checavam respiração e batimentos,<br />

examinavam os olhos, removiam secreção e sangue da<br />

boca e tentavam introduzir o respirador artifi cial. Não<br />

conseguiram. Optaram por retirar Ayrton do cockpit<br />

e fazer a traqueostomia no chão.<br />

Após essa tentativa, um helicóptero levou Ayrton,<br />

ainda vivo, para o hospital Maggiore. Durante os 12<br />

minutos <strong>de</strong> voo, os médicos ainda tentaram outra tra-


queostomia. O piloto ainda estava em coma, mas respirava<br />

sem o auxílio <strong>de</strong> aparelhos. Ayrton levava em<br />

seu rosto um roxo em volta dos olhos, <strong>de</strong> acordo com a<br />

medicina, sintoma <strong>de</strong> fratura no crânio. Durante o trajeto<br />

até o Maggiore, Senna per<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> quatro litros<br />

<strong>de</strong> sangue. No caminho entre o heliporto e a UTI,<br />

o coração <strong>de</strong>le parou e voltou a bater segundos <strong>de</strong>pois.<br />

Havia um cuidado para que as pessoas não olhassem<br />

para a cabeça <strong>de</strong> Ayrton. A face estava afundada.<br />

A corrida continuou. O alemão Michael Schumacher<br />

venceu mais uma, assim como fora nas duas<br />

anteriores. Era lí<strong>de</strong>r do campeonato no ano <strong>de</strong> 1994.<br />

A imprensa toda cobria a corrida com os pensamentos<br />

em Ayrton.<br />

- Eu saí da cabine e encontrei o Reginaldo Leme<br />

saindo da cabine da Globo. Fiz uma entrevista com<br />

ele. Galvão Bueno era muito amigo <strong>de</strong> Ayrton e estava<br />

muito mal naquele momento. Ele estava <strong>de</strong>ntro da<br />

cabine, diz Luis Roberto.<br />

Ao final do Gran<strong>de</strong> Prêmio, todos se dirigiram ao<br />

hospital. O clima estava ruim. Muitos boatos corriam<br />

pelos corredores murmurando “é morte cerebral”, “não<br />

é morte cerebral”. Era manhã ainda no Brasil.<br />

Enquanto isso, os médicos faziam radiografias<br />

<strong>de</strong> todo o corpo; exames <strong>de</strong> ressonância magnética e<br />

tomografia computadorizada. De acordo com Giovanni<br />

Gordini, um dos médicos presentes no local, a<br />

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43<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

irrigação do cérebro estava comprometida, a pressão<br />

sanguínea chegou a níveis críticos e havia uma gran<strong>de</strong><br />

perda <strong>de</strong> massa encefálica. Resultado da tomografi a:<br />

Ayrton tinha sofrido danos irreversíveis na cabeça.<br />

Onze andares abaixo estavam os jornalistas prontos<br />

para qualquer informação. Roberto Cabrini po<strong>de</strong>ria<br />

interromper a programação da TV Globo quantas<br />

vezes fossem necessárias para que nenhuma informação<br />

fosse perdida. Aliás, ele já havia feito isso, várias<br />

vezes, para repetir os boletins ofi ciais sobre o estado <strong>de</strong><br />

coma e a parada cardíaca que Ayrton sofreu. Cabrini<br />

já percebia reações estranhas.<br />

- Descia todo mundo para dar entrevista no saguão.<br />

Não era um comportamento típico <strong>de</strong> uma<br />

equipe médica lutando para salvar a vida <strong>de</strong> alguém.<br />

Cinco minutos após as seis da tar<strong>de</strong> na Itália -<br />

13h05 no Brasil - a médica Maria Th ereza Fiandri,<br />

a mesma <strong>de</strong> sexta-feira, emocionada, leu para os jornalistas<br />

presentes no saguão do hospital, o primeiro<br />

triste anúncio:<br />

- O eletroencefalograma <strong>de</strong> Ayrton Senna não<br />

registra nenhuma ativida<strong>de</strong>. Continuamos com a ventilação<br />

pulmonar. Senna tem morte cerebral. Nós o<br />

mantemos vivo apenas porque a lei italiana assim o<br />

exige. Não há mais esperanças.<br />

Foi então que o celular, preciosa novida<strong>de</strong> tecnológica,<br />

caiu como um presente nas mãos <strong>de</strong> Luis Ro-


erto.<br />

- Todos os jornalistas gravavam as notícias e <strong>de</strong>pois<br />

levavam até os telefones; o Cabrini seguiria para<br />

a UPJ - Unida<strong>de</strong> Portátil <strong>de</strong> Jornalismo - na qual se<br />

levanta o sinal para enviar matéria <strong>de</strong> TV ao Brasil.<br />

Ele teria que gravar ali, na câmera, e ir à frente do<br />

hospital levar a gravação para a Unida<strong>de</strong> e, <strong>de</strong>la, para<br />

nosso País. Eu não. Eu tinha a informação e o meio <strong>de</strong><br />

comunicação ali, na minha frente.<br />

Luis vivia seu momento mais marcante, o maior<br />

‘furo’ jornalístico <strong>de</strong> sua profissão. Foi o primeiro jornalista<br />

a informar para todo o Brasil, através da Rádio<br />

Globo São Paulo, a morte do piloto brasileiro.<br />

- Meu companheiro <strong>de</strong> transmissão, o português<br />

Henrique Cardão, que resi<strong>de</strong> na Europa, portava um<br />

inédito telefone celular. Era o início do Roaming, a telefonia<br />

móvel, na Europa. Dei muita sorte, era o único<br />

que falava, além do “orelhão” com o Brasil. Esse celular<br />

me levou a ser o único ao vivo, no momento que a<br />

médica nos <strong>de</strong>u a pior notícia do esporte brasileiro em<br />

todos os tempos.<br />

Luis Roberto aguardava para, ao vivo do telefone<br />

celular, relatar as últimas notícias, quando apareceu<br />

novamente a médica Maria Thereza Fiandri. Parou na<br />

frente dos jornalistas e ele perguntou:<br />

- Vai falar, doutora?<br />

Ela olhou para a imprensa, ali reunida, e disse:<br />

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45<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

- Às 18h40, o coração do Ayrton Senna parou <strong>de</strong><br />

bater. Ele morreu.<br />

E calou-se.<br />

Nesse momento, todos os jornalistas saíram em<br />

direção às suas unida<strong>de</strong>s - ou telefones, para enviar a<br />

trágica notícia ao Brasil. Luis Roberto estava ao vivo<br />

na Rádio Globo.<br />

- Coloquei a doutora Maria Th ereza na escuta do<br />

Oscar Ulisses, narrador da Rádio Globo, que estava<br />

no estúdio.<br />

Luis Roberto passou o telefone para ela, que conversou<br />

com Oscar. Enquanto isso, todos os jornalistas<br />

estavam correndo para enviar suas informações ao<br />

Brasil. O repórter da Rádio Globo fi cou sozinho com<br />

a doutora; cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z minutos entrevistando Fiandri.<br />

- Ela contou que ele chegou com um quadro - já<br />

grave e irreversível - <strong>de</strong> morte cerebral. Enquanto tentavam<br />

uma cirurgia, ele faleceu.<br />

Nesse mesmo dia, horas <strong>de</strong>pois, São Paulo e Palmeiras,<br />

enfrentavam-se pelo Campeonato Paulista <strong>de</strong><br />

<strong>futebol</strong>. A competição era no sistema <strong>de</strong> pontos corridos.<br />

O time que chegasse ao fi nal <strong>de</strong> todos os jogos<br />

com o maior número <strong>de</strong> pontos fi caria com o título<br />

da competição. Naquela tar<strong>de</strong>, disputavam a penúltima<br />

rodada e o vencedor <strong>de</strong>sse jogo teria o direito <strong>de</strong> ir<br />

para a última rodada po<strong>de</strong>ndo empatar a partida para<br />

ser campeão. O Palmeiras ganhou o jogo por 3 x 2 e,


<strong>de</strong>pois foi campeão contra o Santo André, na rodada<br />

seguinte, vencendo também.<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro, a situação era a mesma. Jogavam<br />

Flamengo e Vasco - no Maracanã.<br />

Luis Roberto faria contato com os dois estados<br />

brasileiros para fornecer as últimas informações. Ele<br />

dirigiu-se até o oitavo andar do Maggiore, aon<strong>de</strong> se<br />

encontrava o corpo e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele sairia. Só os jornalistas<br />

pu<strong>de</strong>ram subir, mas ficaram contidos por um cordão<br />

entre o elevador e a porta da UTI.<br />

Naquele momento, saía da sala o cônsul do Brasil<br />

em Milão, José Botafogo Gonçalves, Celso Itiberê e<br />

Galvão Bueno, acompanhando a maca com o corpo<br />

do piloto brasileiro, coberto por um lençol cinza. A<br />

porta do elevador se fechou e o narrador da TV Globo<br />

foi ao encontro dos jornalistas. Galvão não tinha<br />

a intenção, mas usou, sem querer, uma expressão que<br />

o consagra até hoje na transmissão <strong>de</strong> conquistas do<br />

esporte brasileiro. Porém, a maneira <strong>de</strong> falar foi triste<br />

e sofredora:<br />

- Acabou. Acabou.<br />

Luis Roberto estava repassando as informações e<br />

foi entrevistar o Galvão.<br />

- Entrei, ao vivo, primeiro na Rádio Globo do Rio<br />

e ouvi um coro <strong>de</strong> “Senna, Senna”. Não entendi. Pensei<br />

que haviam feito uma vinheta. Mas não, não era.<br />

Era o Maracanã, pouco antes <strong>de</strong> a bola rolar.<br />

46


47<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

Todos os brasileiros presentes naquela sala pu<strong>de</strong>ram<br />

ouvir o locutor José Carlos Araújo narrando<br />

o clássico carioca. Pelo retorno do celular, milhares<br />

<strong>de</strong> vascaínos e fl amenguistas, inimigos nos gramados,<br />

mas amigos na arquibancada, faziam, espontaneamente,<br />

um coro intenso e emocionante, ainda torcendo<br />

pela sobrevivência <strong>de</strong> Ayrton: ‘Olê, olê, olê-olá, Senna,<br />

Senna! Olê, olê, olê-olá, Senna, Senna!’<br />

- Quando entrei ao vivo na Rádio Globo São Paulo,<br />

o jogo já estava rolando e fi quei preocupado. A partida<br />

já havia começado e era praticamente <strong>de</strong>cisão do<br />

campeonato. O narrador da partida era Osmar Santos.<br />

Isso aconteceu seis meses antes <strong>de</strong> sofrer o aci<strong>de</strong>nte<br />

que o <strong>de</strong>ixou sem fala.<br />

Percebendo minha apreensão, disse:<br />

- Po<strong>de</strong> seguir, o jogo está em segundo plano.<br />

A entrevista prosseguiu para todo o estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo.<br />

- Galvão comentava como seria o trâmite do corpo<br />

e o que seria feito. Durante todo esse tempo, saiu<br />

um gol no jogo. Osmar Santos não narrou o lance. A<br />

morte do Ayrton Senna era, realmente, muito mais<br />

importante.<br />

O narrador da TV Globo estava muito transtornado<br />

naquele dia. Mais tar<strong>de</strong>, Galvão <strong>de</strong>clararia a imprensa:<br />

- Vi o sangue, mas não tive coragem <strong>de</strong> falar na


transmissão. Continuei narrando fora do ritmo normal.<br />

Estava muito abalado, à espera <strong>de</strong> um milagre.<br />

Enquanto Luis Roberto entrevistava Galvão, a<br />

maca com o corpo do Ayrton foi levada ao Instituto<br />

Médico Legal <strong>de</strong> Bologna, no centro da cida<strong>de</strong>, próximo<br />

ao hospital Maggiore.<br />

Luis seguiu caminhando, junto com Cândido<br />

Garcia, repórter da Rádio Ban<strong>de</strong>irantes, naquela época.<br />

Só havia ali no IML (Instituto Médico Legal),<br />

naquele momento, o piloto português da fórmula 1,<br />

Pedro Lamy, que logo se retirou.<br />

- o -<br />

Luis Roberto e Cândido Garcia permaneceram<br />

no IML, durante toda a noite. O anúncio da morte <strong>de</strong><br />

Ayrton, pela doutora Fiandri, foi às 18h40. Estavam<br />

todos cansados. Alguns foram embora, mas Luis Roberto<br />

e Nilson Cesar continuaram ali.<br />

- Fomos ficando, ficando, ficando. No fim das<br />

contas, foi todo mundo embora. Havia vários vasos <strong>de</strong><br />

flores. Cartazes <strong>de</strong> gente do mundo inteiro. Um cenário<br />

realmente marcante.<br />

Os dois ficaram sentados numa mureta, próxima<br />

<strong>de</strong> um portão, no IML <strong>de</strong> Bologna. Depois, juntouse<br />

a eles Flávio Gomes, que hoje trabalha na Rádio<br />

Eldorado/ESPN, e que, na época, trabalhava para o<br />

jornal Folha <strong>de</strong> S. Paulo.<br />

O dia foi amanhecendo e Luis Roberto disse:<br />

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49<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

- Poxa, fi camos aqui a noite toda, vamos andar um<br />

pouco?<br />

- Vamos, concordaram.<br />

- Vamos entrar e verifi car o que tem ali no fundo,<br />

sugeriu Luis.<br />

Eles caminharam, passaram pelo portão e foram<br />

até o fundo. Quando chegaram, encontraram uma<br />

mulher <strong>de</strong> branco que olhou para os três e reconheceu<br />

Flávio Gomes.<br />

- Flávio, como está? Poxa, que tragédia.<br />

A tal mulher havia feito pós-graduação em Medicina<br />

Legal na Unicamp e era conhecida <strong>de</strong> Flávio. Ela,<br />

então, fez uma pergunta que ninguém esperava:<br />

- Vocês querem ver os corpos?<br />

Foi exatamente assim o convite. Os três fi caram<br />

em silêncio. Finalmente, Luis Roberto disse:<br />

- Eu não quero ver corpo nenhum. Não tem o que<br />

ver.<br />

- Eu também não quero não, falou Flávio.<br />

- Não, não, concordou Nilson.<br />

O corpo <strong>de</strong> Ratsenberger, morto um dia antes,<br />

ainda estava ali. Na sala, fazia companhia ao recémchegado<br />

Ayrton Senna. A mulher explicou aos três, a<br />

cena que eles veriam caso aceitassem olhar os corpos.<br />

- Não há nada. O Ratzenberger não tem nada,<br />

porque ele quebrou o pescoço; não há ferimento. O<br />

Ayrton tem um ferimento na testa e a cabeça inchou


muito; está muito gran<strong>de</strong>. Está do tamanho <strong>de</strong> uma<br />

bola <strong>de</strong> basquete.<br />

Os três jornalistas, mesmo com estas informações,<br />

<strong>de</strong>clinaram do convite mais uma vez.<br />

Ao saberem da oportunida<strong>de</strong> que tiveram, alguns<br />

colegas jornalistas criticaram. Como jornalistas, per<strong>de</strong>ram<br />

a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> narrar os <strong>de</strong>talhes do ambiente<br />

on<strong>de</strong> estavam, os corpos dos dois pilotos.<br />

- Foi o julgamento da hora. E eu não me arrependo.<br />

Enten<strong>de</strong> Luis Roberto.<br />

Naquele instante, Luis não sabia que dois dias <strong>de</strong>pois<br />

estaria, novamente, muito próximo do corpo <strong>de</strong><br />

Ayrton Senna. A urna funerária que trouxe o corpo do<br />

piloto para o Brasil veio no centro da classe executiva<br />

do voo RG 723 da Varig, coberta por uma lona bege<br />

segurando-a ao chão. As poltronas estavam distribuídas<br />

nas laterais do avião. Ali, por 12 horas, o corpo<br />

do piloto foi velado pelos jornalistas brasileiros que<br />

acompanharam a viagem <strong>de</strong> Paris para Guarulhos,<br />

São Paulo, Brasil.<br />

- o -<br />

Terça-feira, 03 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1994. Dentro do avião,<br />

mo<strong>de</strong>lo MD-11 da Varig, com <strong>de</strong>stino a Guarulhos,<br />

estavam apenas Galvão Bueno, Letícia Assunção –<br />

assessora <strong>de</strong> imprensa <strong>de</strong> Ayrton e esposa <strong>de</strong> Patrick<br />

Head, um dos donos da Williams – Lemos, advogado<br />

da empresa <strong>de</strong> Ayrton, Reginaldo Leme, Cândido<br />

50


51<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

Garcia, Nilson Cesar e Luis Roberto <strong>de</strong> Mucio, que<br />

vivia a sua mais emocionante e triste experiência como<br />

jornalista.<br />

- Fui chamado pelo Galvão Bueno para fazer uma<br />

prece e me <strong>de</strong>spedir do homem. Ali, <strong>de</strong>fi nitivamente,<br />

morria o ser humano e nascia o mito Ayrton Senna da<br />

Silva. São imagens que jamais sairão <strong>de</strong> minha mente.<br />

Ali estava, <strong>de</strong>sfi gurado, sendo velado a 35 mil pés, o<br />

ídolo brasileiro.


3. A FEBRE DE LUIS<br />

53<br />

LANCES DE UMA VIDA


55<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“O Luis me pediu muito o ‘joguinho’.<br />

Achei que fosse coisa <strong>de</strong> criança e<br />

não <strong>de</strong>i. Nem imaginava<br />

que pu<strong>de</strong>sse ser algo mais sério”.<br />

Sebastiana Manóquio


57<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

NÃO ERA FEBRE COMUM PARA UMA<br />

criança: constante, não cedia. Luis Roberto, sempre<br />

muito brincalhão, estava quieto havia dias... A temperatura<br />

<strong>de</strong> seu corpo subia; suava frio e não parava <strong>de</strong><br />

tremer. Banho com água morna e lenço ume<strong>de</strong>cido na<br />

testa não estavam sendo sufi cientes.<br />

Sebastiana Manóquio, a mãe, estava muito preocupada.<br />

Já havia falado <strong>de</strong> suas apreensões para o<br />

marido, Afonso <strong>de</strong> Mucio Neto. O fi lho estava com<br />

quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e, pela primeira vez, a febre não<br />

cedia com os tratamentos caseiros da mãe.<br />

Luis, o primeiro fi lho <strong>de</strong> Sebastiana e Afonso,<br />

nasceu no dia 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1961, em São Paulo. O<br />

restante da família morava em São João da Boa Vista,<br />

a 223 quilômetros da capital. Sebastiana vivia com o<br />

marido na casa da sogra, quando <strong>de</strong>u luz ao primogênito<br />

da família.<br />

Afonso era funcionário <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong> aparelhos<br />

<strong>de</strong> ar condicionado. A indústria fechou em 1962<br />

e a família retornou a São João da Boa Vista. Afonso<br />

foi trabalhar numa fábrica da cida<strong>de</strong>, a Elfusa - Geral<br />

<strong>de</strong> Eletro Fusão. A metalúrgica do Grupo Curimbaba,<br />

então recentemente inaugurada, havia aberto várias<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego. O trabalho era humil<strong>de</strong>,


no “chão <strong>de</strong> fábrica”, como se costumava <strong>de</strong>nominar<br />

as ativida<strong>de</strong>s industriais dos operários.<br />

A família: sempre muito unida. Era natural que<br />

Sebastiana ficasse muito angustiada em ver o filho<br />

com aquela febre que não passava.<br />

- Eu estava - mesmo - muito preocupada e fui<br />

falar com o Afonso. Decidimos, então, levar o Luis<br />

ao médico. Ele examinou meu filho, <strong>de</strong>moradamente,<br />

e me disse que ele não tinha nada. “Deve ser vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> alguma coisa”, disse o médico. “Algo que ele <strong>de</strong>seja<br />

muito”. Então, eu parei e tentei lembrar. O que seria?<br />

O que meu filho <strong>de</strong>sejava tanto assim para causar<br />

aquela febre que não cedia <strong>de</strong> jeito nenhum?<br />

- o -<br />

Luis era um garoto calmo, tranquilo, raramente<br />

pedia algo aos pais, pois tinha a noção das dificulda<strong>de</strong>s<br />

que a família enfrentava. Não faltava nada na casa <strong>de</strong><br />

Afonso e Sebastiana, mas o dinheiro era contado para<br />

as necessida<strong>de</strong>s. As dificulda<strong>de</strong>s ficaram ainda maiores<br />

quando Luis Roberto estava com cinco anos, ida<strong>de</strong><br />

em que nasceu o irmão, Afonso Junior. Nesta época, a<br />

família morava no centro <strong>de</strong> São João da Boa Vista, à<br />

Rua Teófilo <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, 77. Ali, Luis fez muitos amigos.<br />

Antonio Carlos Nogueira <strong>de</strong> Oliveira, o Leivinha,<br />

hoje repórter esportivo, foi um <strong>de</strong>les.<br />

- Quando o conheci, éramos bem meninos. Foi<br />

logo que chegou à cida<strong>de</strong>. Também moravam próxi-<br />

58


59<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

mos da gente, os tios do Luis, o José Custódio e a<br />

Clávia – irmã <strong>de</strong> sua mãe. Os primos estavam presentes<br />

em todas as brinca<strong>de</strong>iras: o José Eduardo Dias,<br />

que jogou <strong>futebol</strong> – profi ssionalmente - no Palmeiras<br />

Futebol Clube, time da cida<strong>de</strong>; e o Celso Luis Dias,<br />

que atuou no basquete dos Estados Unidos. José Dias<br />

foi lateral esquerdo do time do Palmeiras, campeão<br />

do Troféu Jerônimo Bastos. Celso era craque, mas não<br />

ligava para o <strong>futebol</strong>; gostava mesmo é <strong>de</strong> basquete.<br />

Jogou na equipe do Flamengo, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e<br />

nos Estados Unidos, conta Leivinha.<br />

A casa <strong>de</strong> Luis Roberto fi cava próxima a um tradicional<br />

Clube: a Socieda<strong>de</strong> Esportiva Sanjoanense,<br />

que fez história como agremiação esportiva. Esta história<br />

começou à meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1910, quando a<br />

Associação Atlética São João era a principal equipe <strong>de</strong><br />

<strong>futebol</strong> da cida<strong>de</strong>, porém, sem local próprio para jogar.<br />

Por sugestão <strong>de</strong> Oscar <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Nogueira, um novo<br />

Clube foi fundado, com espaço sufi ciente para a construção<br />

<strong>de</strong> um estádio. Por unanimida<strong>de</strong>, diretores da<br />

Associação aprovaram a fundação da Socieda<strong>de</strong> Esportiva<br />

Sanjoanense, em 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1916. Durante<br />

quase cinco anos, entre 1916 e 1920, os diretores do<br />

novo Clube <strong>de</strong>dicaram-se exclusivamente à infraestrutura,<br />

consolidando o patrimônio.<br />

Durante a infância <strong>de</strong> Luis, a natação era o esporte<br />

mais praticado naquele Clube e o que dava maior


visibilida<strong>de</strong> para aquela Associação. Em 1971, pela<br />

primeira vez na história, uma cida<strong>de</strong> do interior do<br />

Brasil sediou o Campeonato Brasileiro Absoluto <strong>de</strong><br />

Natação e Saltos Ornamentais, promovido pela Confe<strong>de</strong>ração<br />

Brasileira <strong>de</strong> Desportos.<br />

Porém, o orgulho dos sócios da Esportiva era -<br />

e continua sendo - sua tradição no <strong>futebol</strong>. Foi ali,<br />

naquele Clube típico, <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interior, que<br />

surgiram dois dos mais importantes jogadores da história<br />

do <strong>futebol</strong> brasileiro. Dois astros que se tornaram<br />

campeões mundiais pela Seleção Brasileira: Mauro e<br />

Bellini. Ali, na Esportiva Sanjoanense, eles foram revelados<br />

e começaram a carreira <strong>de</strong> jogador profissional.<br />

O time era carinhosamente chamado <strong>de</strong> “Tigres<br />

da Mogiana”, por suas conquistas.<br />

Luis cresceu ouvindo as histórias das glórias da<br />

Esportiva, dos lances geniais <strong>de</strong> seus jogadores; da<br />

emoção do povo <strong>de</strong> São João da Boa Vista - a cada<br />

título conquistado; das recepções calorosas aos jogadores,<br />

a cada vitória fora da cida<strong>de</strong>. Todo sanjoanense,<br />

ainda hoje, tem muito orgulho <strong>de</strong>ste passado. O fato<br />

<strong>de</strong> a Esportiva ser o único Clube do mundo a revelar<br />

dois jogadores que foram capitães e campeões mundiais<br />

pela seleção do seu País, ainda hoje é tão único<br />

e extraordinário, que o Clube <strong>de</strong>u entrada a um processo<br />

burocrático, em 2010, para se fazer constar no<br />

‘Guinness Book’, o Livro dos Recor<strong>de</strong>s.<br />

60


61<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

Ouvindo estas histórias, Luis tornou-se sócio e<br />

começou a frequentar as piscinas e os campos da Socieda<strong>de</strong><br />

Esportiva Sanjoanense.<br />

- o -<br />

A paixão <strong>de</strong> Luis pelo <strong>futebol</strong> era perceptível nos<br />

momentos <strong>de</strong> lazer. Os amigos brincavam com frequência<br />

num campo <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> localizado, à época, atrás<br />

do Clube da Esportiva e próximo à Leco - antiga empresa<br />

<strong>de</strong> laticínios <strong>de</strong> São João. Era o então chamado<br />

“campo do Rener”. Hoje, campo número dois, do Clube<br />

sanjoanense.<br />

Luis Roberto, naquela época, não gostava <strong>de</strong> estudar<br />

e a mãe sofria, pois tinha <strong>de</strong> levá-lo à força até<br />

a escola.<br />

- Eu tinha <strong>de</strong> ir chamá-lo, porque ele não vinha.<br />

Não gostava <strong>de</strong> ser interrompido, principalmente<br />

quando estava jogando <strong>futebol</strong>. Ele fi cava bravo e resistia.<br />

Sua mãe era dotada <strong>de</strong> uma incansável paciência.<br />

Às vezes, era obrigada a permanecer na sala <strong>de</strong> aula<br />

junto com o fi lho.<br />

- Eu tinha <strong>de</strong> levá-lo até <strong>de</strong>ntro da classe, porque,<br />

<strong>de</strong> vez em quando, ele escapava <strong>de</strong> minhas mãos e fugia.<br />

Saía e corria em volta da Praça Coronel Joaquim<br />

José, no centro da cida<strong>de</strong>. A praça fi ca em frente à escola.<br />

Eu tinha <strong>de</strong> ir atrás <strong>de</strong>le, para levá-lo <strong>de</strong> volta.<br />

Luis estudava na pré-escola do Grupo Escolar


Coronel Joaquim José. Um prédio <strong>de</strong> 1805, <strong>de</strong> dois<br />

andares, janelas altas, voltadas para a avenida mais<br />

movimentada da cida<strong>de</strong>, a Dona Gertru<strong>de</strong>s. É localizado<br />

em frente à praça que recebe o mesmo nome:<br />

Joaquim José. Aquele prédio, <strong>de</strong> janelas altas e arquitetura<br />

<strong>de</strong> época, é testemunha <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> casais que<br />

namoram nos bancos da praça, além <strong>de</strong> famílias e amigos<br />

que aproveitam as sombras das árvores para trocar<br />

i<strong>de</strong>ias e passar o tempo. Por aquela praça, Sebastiana<br />

transitava nervosa, todo dia, arrastando o filho para a<br />

escola. O menino queria mesmo era brincar. A mãe tinha<br />

<strong>de</strong> impor autorida<strong>de</strong>, levá-lo até a classe e ali ficar<br />

por um bom tempo. A professora tinha receio.<br />

- A senhora po<strong>de</strong> ficar. Se o diretor aparecer, vai<br />

expulsar nós duas, dizia.<br />

Luis Roberto não terminou a pré-escola. Era difícil<br />

para a mãe aguentar as fugas das aulas. Ele iniciou<br />

seus estudos, com afinco, só na primeira série e,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, tomou gosto pelos estudos. Tanto que,<br />

ainda hoje, já realizado como profissional, a cada novo<br />

trabalho que lhe é <strong>de</strong>signado, estuda com <strong>de</strong>dicação<br />

todos os <strong>de</strong>talhes. Detalhes que vão além da necessida<strong>de</strong>,<br />

como a geografia do local on<strong>de</strong> irá trabalhar; a<br />

política; características; enfim, tudo o que encontrar<br />

e estiver <strong>de</strong> alguma forma, relacionado à transmissão<br />

que irá <strong>de</strong>senvolver.<br />

- Eu não podia <strong>de</strong>dicar todo o tempo livre ao Luis,<br />

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63<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

pois tinha um bebê em casa. Ele fugia muito das aulas<br />

e eu não podia fi car o dia todo com ele <strong>de</strong>ntro da classe.<br />

O ‘Junior’ era bem pequeno e não tinha ninguém<br />

que pu<strong>de</strong>sse cuidar <strong>de</strong>le durante o dia. Por isso, <strong>de</strong>sisti<br />

<strong>de</strong> obrigá-lo a estudar no pré, só voltando <strong>de</strong>pois. Daí<br />

para frente, foi uma beleza. Ele começou a tomar gosto<br />

pelos estudos.<br />

- o -<br />

Luis sempre acompanhou o <strong>futebol</strong>. Até por infl<br />

uência <strong>de</strong> seu pai. Afonso <strong>de</strong> Mucio Neto era goleiro<br />

<strong>de</strong> um time <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> amador da cida<strong>de</strong> e levava com<br />

frequência o fi lho nos jogos em que participava. Luis<br />

fi cava embaixo <strong>de</strong> uma árvore acompanhando todos<br />

os lances do pai.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, seguiu os passos e os ensinamentos<br />

<strong>de</strong>le. Também escolheu jogar no gol, lembra, o amigo<br />

Leivinha.<br />

- O <strong>futebol</strong> era o esporte <strong>de</strong> maior evidência e<br />

<strong>de</strong>staque. Todos os garotos gostavam muito <strong>de</strong> bola.<br />

Luis po<strong>de</strong>ria ter se tornado um jogador profi ssional.<br />

Ele jogava bem. Pensei até que fosse tentar a carreira.<br />

Nunca imaginei que viesse a se interessar por jornalismo<br />

esportivo e chegasse aon<strong>de</strong> chegou.<br />

Pedro Luengo, professor, é outro colega <strong>de</strong> Luis<br />

Roberto que compartilhou <strong>de</strong> sua infância e adolescência.<br />

Contudo, ele pensa diferente <strong>de</strong> Leivinha.<br />

- Jogávamos num campinho do São Benedito e o


Luis era bem “ruinzinho” <strong>de</strong> bola. No início, ele queria<br />

ser goleiro e começou a jogar nessa posição. Com o<br />

tempo, ele percebeu que não ia dar certo ali e foi jogar<br />

<strong>de</strong> centroavante.<br />

Luis era o responsável pelos gols; jogava na frente.<br />

Mas, nem sempre eles aconteciam. Especialmente,<br />

quando o goleiro adversário era o Pedro Luengo.<br />

- O time <strong>de</strong>le era imbatível no bairro. Todo mundo<br />

que ia jogar lá, perdia. Eu jogava sempre contra ele,<br />

pela equipe <strong>de</strong> um bairro vizinho, o Perpétuo Socorro.<br />

Ele nunca conseguiu fazer gol sobre mim. Sempre<br />

ganhávamos do time do Luis. Os companheiros <strong>de</strong>le<br />

ficavam muito bravos.<br />

Além dos jogos citados por Pedro, a turma se reunia<br />

também no colégio.<br />

- Estudávamos no Instituto <strong>de</strong> Educação Coronel<br />

Cristiano Osório <strong>de</strong> Oliveira, que hoje se chama<br />

Escola Estadual Coronel Cristiano Osório <strong>de</strong> Oliveira.<br />

Jogávamos - bola - juntos, já que estudamos até<br />

o final do Ensino Médio ali. Nós tínhamos um time<br />

bem fraco, mas chegamos a ganhar alguns ‘campeonatozinhos’.<br />

A escola fica na Avenida Doutor Oscar Pirajá<br />

Martins, no alto da cida<strong>de</strong>. É um prédio <strong>de</strong> fachadas<br />

antigas que sempre abrigou o instituto tradicional na<br />

cida<strong>de</strong>. O ensino do colégio era bem diferente do que<br />

é hoje. Era conhecido – regionalmente - pela compe-<br />

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65<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

tência nos métodos utilizados pelos professores. Com<br />

o passar dos anos, a qualida<strong>de</strong> caiu.<br />

Na quadra da escola, os esportes mais praticados<br />

eram o Vôlei, pelas meninas, e o Futebol, pelos meninos.<br />

Durante as aulas <strong>de</strong> Educação Física, Luis aproveitava<br />

para jogar bola com os colegas. Assim, treinavam<br />

para os campeonatos que disputavam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

São João.<br />

- o -<br />

No início da adolescência, Luis Roberto jogou<br />

<strong>futebol</strong> amador em São João da Boa Vista pela equipe<br />

do bairro do São Lázaro. Alguns dos jogadores do<br />

time não faziam parte daquela vizinhança, porém, os<br />

diretores do grupo convidavam atletas <strong>de</strong> outras partes<br />

da cida<strong>de</strong> para fazer parte do elenco. Até mesmo<br />

jogadores que já haviam passado pelas duas equipes<br />

profi ssionais, a Socieda<strong>de</strong> Esportiva Sanjoanense e o<br />

Palmeiras Futebol Clube.<br />

Na formação do grupo, conta Leivinha, a altura<br />

era fator <strong>de</strong>terminante.<br />

- O Luis era bem mais novo que o pessoal que<br />

jogava naquele time e, pelo seu tamanho, foi alvo <strong>de</strong><br />

gozação.<br />

Armando Pigatti era o goleiro titular do time com<br />

1,90m <strong>de</strong> altura. Luis Roberto tinha 1,65m. Pela sua<br />

baixa estatura, os jogadores não acreditavam na sua<br />

competência.


- Ele dava conta do recado, mas o Armando dificilmente<br />

saía do time. Então, ele era um reserva - “só<br />

pra constar”, lembra Leivinha.<br />

Pedro Luengo também se recorda dos tempos em<br />

que Luis se arriscava no gol nos campeonatos amadores.<br />

- Ele <strong>de</strong>via ter 15 anos. Saímos da equipe ‘Dente<strong>de</strong>-leite’<br />

e fomos para o grupo da categoria Juvenil. Os<br />

que mais se <strong>de</strong>stacavam iam para o Palmeiras. Por isso,<br />

muitos passaram a disputar o Amador. Foi o caso <strong>de</strong>le.<br />

Luis não jogou muito tempo no time do São<br />

Lázaro. A partir dos 16 anos, a vocação para o Jornalismo<br />

<strong>de</strong>spertou, graças a um ‘jornalzinho’ <strong>de</strong> escola.<br />

Sebastiana nunca imaginou que o filho se tornaria<br />

jornalista. Porém, quando pequeno, dava indícios da<br />

profissão que o realizaria profissionalmente.<br />

- Ele era fanático por rádio. Sempre ficava com o<br />

radinho ouvindo as narrações. Não parecia que prestava<br />

atenção nos jogos... Parecia que ele estava atento a<br />

tudo o que os narradores diziam.<br />

- o -<br />

Luis era um garoto alegre, sadio, que praticava esporte<br />

com muita frequência. Raramente ficava doente.<br />

Por isso as preocupações <strong>de</strong> Sebastiana, quando ficou<br />

abatido com a aquela febre que não cedia <strong>de</strong> jeito nenhum.<br />

- Quando o médico disse que a febre era vonta<strong>de</strong><br />

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67<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

<strong>de</strong> alguma coisa, eu estranhei e fi quei tentando lembrar<br />

o que seria. O que meu fi lho <strong>de</strong>sejava, tanto assim,<br />

para causar aquela febre que não cedia <strong>de</strong> jeito<br />

nenhum?<br />

Sebastiana fi cou ainda um tempo no consultório<br />

médico tentando lembrar-se. Foi quando recordou<br />

que Luis Roberto vinha pedindo, com insistência, um<br />

jogo <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> <strong>de</strong> botão. Todos os garotos da época tinham<br />

um. Era moda. Sebastiana recordou-se <strong>de</strong> Luis<br />

Roberto olhando os amigos que brincavam com aquele<br />

joguinho. O brinquedo simula um jogo <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>;<br />

os botões são os jogadores, removidos manualmente<br />

por outra espécie <strong>de</strong> botão. Assim, articulam-se jogadas,<br />

procurando alcançar o gol adversário em lances<br />

que se alternam entre <strong>de</strong>fesa e ataque. Aquele jogo era<br />

o sonho do menino.<br />

- O Luis me pediu muito o “joguinho”. Achei que<br />

fosse coisa <strong>de</strong> criança e não <strong>de</strong>i. Nem imaginava que<br />

pu<strong>de</strong>sse ser algo mais sério.<br />

Sim, o motivo da febre do fi lho era a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ter um jogo <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> <strong>de</strong> botão; Sebastiana enten<strong>de</strong>u<br />

e <strong>de</strong>cidiu comprar o brinquedo.<br />

- Eu estava no centro da cida<strong>de</strong> com o Luis, que<br />

tinha - naquela época - só quatro anos. Não queria<br />

levá-lo até a loja, porque não sabia se o dinheiro que<br />

tinha era sufi ciente para comprar o brinquedo. Aí, a<br />

<strong>de</strong>cepção <strong>de</strong>le seria maior. Mas eu não tinha on<strong>de</strong> <strong>de</strong>i-


xá-lo. Então, entrei na igreja Catedral São João Batista,<br />

que ficava próxima à loja, e pedi ao Luis para ficar<br />

ali, quietinho, e fui até a loja comprar o jogo.<br />

Ao receber o presente, os olhos <strong>de</strong> Luis brilhavam<br />

<strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>.<br />

- Assim que entramos em casa, Luis foi correndo<br />

para o seu quarto brincar. A febre cessou quase que<br />

imediatamente. O jogo foi o remédio <strong>de</strong> efeito instantâneo.<br />

Nos dias seguintes, ele não <strong>de</strong>ixava ninguém se<br />

aproximar do brinquedo. Eram somente ele e os botões.<br />

- Tenho esse joguinho até hoje guardado. Faz<br />

quase 50 anos... Até hoje me lembro da “carinha” <strong>de</strong>le<br />

quando ganhou o jogo. Lembro, ainda, que se trancava<br />

no quarto para jogar. Ele incrementou o jogo inventando<br />

um monte <strong>de</strong> coisas, como fazer cartões amarelos<br />

e vermelhos para distribuir aos “jogadores”.<br />

Mas, das “coisas” que Luis inventou para incrementar<br />

a brinca<strong>de</strong>ira com os botões, uma <strong>de</strong>las chamou<br />

a atenção da mãe: ele não se limitava apenas a<br />

manusear os botões e dar cartões aos fictícios jogadores.<br />

- O Luis, garotinho ainda, ficava horas com seu<br />

joguinho <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, não só jogando, mas também<br />

narrando as partidas. Ficava horas sozinho, narrando,<br />

narrando e narrando...<br />

68


4. O COMEÇO<br />

69<br />

LANCES DE UMA VIDA


71<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“Gostaram <strong>de</strong> mim nesta<br />

especialida<strong>de</strong> e continuei como o<br />

narrador titular da emissora”.


73<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

É UM DOMINGO DE SOL, EMBORA FRIO.<br />

A equipe da Rádio Piratininga, <strong>de</strong> São João da Boa<br />

Vista, prepara-se para mais uma partida do Palmeiras<br />

Futebol Clube. Desta vez, contra o time do Primavera,<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Indaiatuba, interior <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Luis Roberto <strong>de</strong> Mucio é o repórter <strong>de</strong> campo. Na<br />

fria manhã <strong>de</strong> inverno, característica do mês <strong>de</strong> julho,<br />

ele acorda logo cedo e prepara-se para o jogo.<br />

O repórter adora o trabalho e espera ansioso pelos<br />

jogos. Estuda os jogadores, os adversários, os juízes e<br />

os <strong>de</strong>talhes que antece<strong>de</strong>m a partida.<br />

A equipe da Rádio Piratininga organiza-se para a<br />

viagem. Os equipamentos são colocados no carro e o<br />

grupo confere os materiais a serem levados.<br />

Na véspera do jogo, um entrave surgiu para a gerente<br />

da emissora, Orminda Cassiano <strong>de</strong> Carvalho.<br />

Basílio Bisi, o narrador ofi cial, era gerente <strong>de</strong> banco e<br />

havia sido transferido <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. Com as preocupações<br />

da mudança, não po<strong>de</strong>ria narrar a partida em Indaiatuba.<br />

Ailton Fonseca, jornalista e radialista, cobria os<br />

jogos do Palmeiras para o jornal bissemanário Opção.<br />

Ele se recorda <strong>de</strong> que a gerente já pensava numa segunda<br />

pessoa que po<strong>de</strong>ria suprir a falta do narrador


principal.<br />

- O Basílio “garimpava” algum novo profissional,<br />

na região, para substitui-lo. A solução estava bem próxima.<br />

No dia do jogo, o grupo parte para encontrar Luis<br />

Roberto, como em outros jogos. Ele repara que o narrador<br />

Basílio não está presente.<br />

- A equipe da rádio passou em casa, logicamente,<br />

sem o locutor titular. O Wan<strong>de</strong>rlei Fleming, nosso<br />

comentarista, me disse que ele havia viajado sozinho,<br />

mas que compareceria na hora do jogo, para transmitir.<br />

Mesmo assim, Luis insistiu em saber <strong>de</strong> Van<strong>de</strong>rlei,<br />

on<strong>de</strong> estava Basílio Bisi.<br />

- Cadê nosso narrador?<br />

- Ah... Ele chega daqui a pouquinho, respon<strong>de</strong>u<br />

Wan<strong>de</strong>rlei.<br />

- o -<br />

Em 1978, o Palmeiras Futebol Clube, equipe <strong>de</strong><br />

<strong>futebol</strong> profissional <strong>de</strong> São João da Boa Vista, disputava<br />

o Campeonato Paulista da Primeira Divisão.<br />

O Palmeiras teve origem quando os praticantes <strong>de</strong><br />

<strong>futebol</strong>, resi<strong>de</strong>ntes nas imediações do Largo das Palmeiras,<br />

atual Praça Coronel José Pires <strong>de</strong> Aguiar – ao<br />

final da Avenida Dona Gertru<strong>de</strong>s, a principal da cida<strong>de</strong><br />

– reuniram-se para oficializar a fundação <strong>de</strong> um<br />

novo <strong>clube</strong>, já que não conseguiam oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ingressar na Socieda<strong>de</strong> Esportiva Sanjoanense.<br />

74


75<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

Em Janeiro <strong>de</strong> 1924, os <strong>de</strong>sportistas fi zeram uma<br />

reunião para tratar da nova socieda<strong>de</strong> esportiva e recreativa.<br />

Ali nasceu o Palmeiras Futebol Clube que, <strong>de</strong><br />

acordo com a assembleia, cultivaria a preferência pelo<br />

<strong>futebol</strong> amador.<br />

Depois <strong>de</strong> algumas décadas, o <strong>futebol</strong> amador tornou-se<br />

profi ssional. A cada ano, o Palmeiras crescia no<br />

Campeonato Paulista.<br />

São João esperava e respirava o <strong>futebol</strong> aos domingos.<br />

Por isso, quando o Palmeiras jogava fora da<br />

cida<strong>de</strong>, a população, para ouvir as narrações, ouvia o<br />

veículo popular da época: o rádio.<br />

A Rádio Piratininga era a emissora local que cobria,<br />

ofi cialmente, o time na competição. As viagens<br />

para transmitir os jogos fora da cida<strong>de</strong> eram a alegria<br />

da semana.<br />

Foi nesse veículo que Luis Roberto <strong>de</strong> Mucio,<br />

pela primeira vez em sua vida, narrou uma partida <strong>de</strong><br />

<strong>futebol</strong>.<br />

-o-<br />

A boa estreia na narração esportiva não foi nenhuma<br />

surpresa para os amigos <strong>de</strong> Luis Roberto. Aos<br />

16 anos, ele era presi<strong>de</strong>nte do Centro Acadêmico Cívico<br />

do Instituto <strong>de</strong> Educação, on<strong>de</strong> cursava o Ensino<br />

Médio. Foi no impresso que o jornalista iniciou a jornada<br />

na profi ssão.<br />

Na escola, havia um jornal que circulava entre os


alunos. O símbolo da instituição era o saci, por isso, o<br />

tabloi<strong>de</strong> era <strong>de</strong>nominado O Sacívico. Ali, Luis criou<br />

seus primeiros textos.<br />

- Eu escrevia nele uma coluna chamada A Palavra<br />

do Presi<strong>de</strong>nte, sobre esportes. Foi quando conheci o<br />

Francisco Arten, diretor do Jornal Opção, que também<br />

me abriu as portas para fazer matérias sobre <strong>futebol</strong><br />

Dente-<strong>de</strong>-Leite. Passei a escrever uma página<br />

inteira <strong>de</strong> esportes.<br />

O Jornal Opção era o mais novo tabloi<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong>.<br />

Quando surgiu, foi consi<strong>de</strong>rado revolução para o<br />

acanhado jornalismo praticado no interior. Os outros<br />

dois jornais mais tradicionais, O Município e A Cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São João, não viviam um bom momento. Estes,<br />

foram importantes entre as décadas <strong>de</strong> 1930 e 1960;<br />

<strong>de</strong>pois, entraram em <strong>de</strong>cadência. Somente anos mais<br />

tar<strong>de</strong> é que o Jornal O Município conseguiu se recuperar.<br />

Já a publicação A Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São João, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

circular após 100 anos <strong>de</strong> existência.<br />

Opção era consi<strong>de</strong>rado uma novida<strong>de</strong>, pois dava<br />

espaço para jovens, como Luis Roberto, escreverem.<br />

Toda a equipe era jovem. Luis Roberto e João Fernando<br />

Alves Palomo, outro repórter, tinham 16 anos. O<br />

próprio diretor Francisco Arten, amigo <strong>de</strong> Luis, não<br />

havia completado 18 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

- Era um grupo <strong>de</strong> moleques, no bom sentido, que<br />

gostavam <strong>de</strong> jornalismo. Todos muito jovens. O i<strong>de</strong>-<br />

76


77<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

alizador do jornal, no entanto, Walter Lhumann, era<br />

um veterano da imprensa local. Ele havia sido dono do<br />

Jornal O Município, fundado por seu pai, Carlos Lhumann.<br />

Quando ven<strong>de</strong>u o tabloi<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixou São João da<br />

Boa Vista. Ao retornar à cida<strong>de</strong>, anos <strong>de</strong>pois, quis reviver<br />

seu tempo <strong>de</strong> jornalista. Assim, estruturou o Jornal<br />

Opção, chamando aqueles jovens para escreverem.<br />

O jornal era revolucionário e até o nome já fora<br />

pensado com este objetivo. Luis Roberto ingressou<br />

na equipe com o mesmo espírito inovador. Em 1979,<br />

quando o Palmeiras Futebol Clube foi Campeão Paulista<br />

da Primeira Divisão, foi Luis quem planejou,<br />

conseguiu patrocinadores e escreveu um Ca<strong>de</strong>rno Especial<br />

sobre a conquista do título. <strong>Uma</strong> espécie <strong>de</strong> revista,<br />

contando com 20 páginas, em que eram narradas<br />

todas as etapas passadas pelo time local; jogo por jogo,<br />

partida por partida. Este foi o primeiro suplemento<br />

criado em São João.<br />

As inovações do Jornal Opção e <strong>de</strong> Luis Roberto<br />

ren<strong>de</strong>ram a ele um convite para participar <strong>de</strong> um programa<br />

diário na Rádio Piratininga, com Célio Braga,<br />

na época, presi<strong>de</strong>nte da Liga Sanjoanense <strong>de</strong> Futebol,<br />

chamado O Esporte Amador é Notícia.<br />

- Eu lia as minhas colunas no programa. Logo <strong>de</strong>pois,<br />

comecei a fazer reportagens como a cobertura do<br />

campeonato <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> Dente-<strong>de</strong>-Leite, evento magnífi<br />

co que ocorreu no Brasil no fi nal dos anos 70. Par-


ticipei algumas vezes, também, do programa Sirva-se<br />

<strong>de</strong> Sucessos.<br />

Luis não fez somente esporte na emissora. No<br />

programa musical Sirva-se <strong>de</strong> Sucessos, ele era o responsável<br />

pela troca do disco. Como ouvinte, tinha sua<br />

preferência.<br />

- Eu gostava mesmo <strong>de</strong> ouvir o programa diário A<br />

sauda<strong>de</strong> também é jovem, que começava às 16 horas e<br />

terminava às 17 horas, com o Fábio Silveira.<br />

Por intermédio <strong>de</strong> Wan<strong>de</strong>rley Fleming, Luis recebeu<br />

a sugestão <strong>de</strong> fazer reportagens sobre o <strong>futebol</strong><br />

profissional da cida<strong>de</strong>.<br />

- Participavam da equipe o narrador Basílio Bisi,<br />

os comentaristas Ito Amorim e Carlos <strong>de</strong> Oliveira, os<br />

repórteres João Fernando Palomo e eu, sob a gerência<br />

da Orminda Cassiano <strong>de</strong> Carvalho.<br />

João Fernando conhecia Luis Roberto, pois estavam<br />

juntos no Jornal Opção.<br />

- Eu já trabalhava na Rádio Piratininga e surgiu<br />

a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o Luis começar a trabalhar com o<br />

<strong>futebol</strong>. Eu fazia reportagens na equipe <strong>de</strong> esportes e<br />

ele começou a me ajudar.<br />

No Jornal Opção, Luis Roberto fez outro amigo;<br />

Ailton Fonseca escrevia sobre esportes, também.<br />

- Já era notória a competência <strong>de</strong>le na área esportiva,<br />

principalmente no rádio.<br />

O amigo conta que os profissionais da Rádio Pi-<br />

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LANCES DE UMA VIDA<br />

ratininga tiveram conhecimento do trabalho <strong>de</strong> narração<br />

do Luis Roberto através dos Campeonatos Rurais.<br />

- Um dia ele foi a um jogo na zona rural e gravou<br />

um trecho da partida narrando as principais jogadas.<br />

À noite, levou ao Célio Braga que, ao ouvir, percebeu<br />

o talento que existia. Imediatamente, colocou “no ar”<br />

o trecho da narração <strong>de</strong> um dos gols. Os ouvintes da<br />

zona rural vibraram com algo que, difi cilmente, era<br />

proporcionado a eles.<br />

- o -<br />

Acreditando que Basílio Bisi estaria presente em<br />

Indaiatuba, para a transmissão <strong>de</strong> mais uma partida do<br />

Palmeiras, Luis seguiu viagem com a equipe.<br />

- O Wan<strong>de</strong>rlei já havia planejado a transmissão<br />

da partida para mim. Só não me disse para eu não fi -<br />

car nervoso. Soube da novida<strong>de</strong> pouco antes <strong>de</strong> o jogo<br />

começar.<br />

Assim que a equipe chegou ao estádio, Luis preparava<br />

os equipamentos para fazer a reportagem <strong>de</strong><br />

campo, quando o chefe da equipe lhe disse:<br />

- Não, não. Hoje você vai narrar. Pega o microfone<br />

e narra aí. Pelo amor <strong>de</strong> Deus, é você mesmo. Na hora<br />

<strong>de</strong> chamar os repórteres, direto do estádio, passa para<br />

mim porque você vai engasgar e vai fi car ruim.<br />

Luis Roberto conseguiu então a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

enfrentar um novo <strong>de</strong>safi o: a narração.<br />

- Narrei meus dois primeiros gols na vida: do Si-


mões, para o Primavera, na vitória sobre o Palmeiras<br />

por 2 a 0. Encarei a oportunida<strong>de</strong>, embora muito surpreso.<br />

Foi na ‘marra‘.<br />

Mesmo sendo uma surpresa, Luis fez sua primeira<br />

narração e agradou não só aos ouvintes como também<br />

à equipe da rádio.<br />

- Gostaram <strong>de</strong> mim nesta especialida<strong>de</strong> e continuei<br />

como o narrador titular da emissora.<br />

- o -<br />

Após a primeira narração <strong>de</strong> Luis Roberto, a equipe<br />

da Rádio Piratininga foi reformulada. O repórter<br />

passou a locutor esportivo principal; Carlos <strong>de</strong> Oliveira<br />

era o comentarista; João Fernando ficou como<br />

repórter; e o plantonista era Fábio Silveira.<br />

Poucos meses <strong>de</strong>pois da formação <strong>de</strong>sta equipe,<br />

Ailton foi convidado a integrar o grupo da emissora.<br />

- Fui cobrir um jogo do Palmeiras, em Itapetininga,<br />

e o Luis me convidou para fazer as vezes do<br />

comentarista. Depois <strong>de</strong>sta partida, fui convidado pela<br />

direção da rádio e o convívio com Luis Roberto foi<br />

quase que diário.<br />

A partir <strong>de</strong> então, Ailton passou a apresentar um<br />

programa na emissora com Luis.<br />

- De segunda a sábado fazíamos juntos o Piratininga<br />

nos Esportes, às 12 horas. Geralmente, aos domingos,<br />

transmitíamos os jogos. Quando eles aconteciam<br />

no Estádio Doutor Getúlio Vargas Filho, a casa<br />

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81<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

do Palmeiras, eu era o segundo repórter ao lado <strong>de</strong><br />

João Fernando. Quando eram realizados fora da cida<strong>de</strong>,<br />

eu passava a ser o comentarista do Luis.<br />

A Rádio Piratininga ofereceu o lugar para o locutor,<br />

que soube utilizar a emissora como trabalho e<br />

escola. Com a proximida<strong>de</strong> na área <strong>de</strong> atuação, Ailton<br />

<strong>de</strong>stacou algumas características <strong>de</strong> Luis Roberto observadas<br />

no início da profi ssão.<br />

- O Luis já iniciou com um diferencial muito<br />

gran<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>mais locutores esportivos da época, no<br />

interior. O ritmo <strong>de</strong>le era maravilhoso e todos nós sabíamos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, que era questão <strong>de</strong> tempo a saída<br />

<strong>de</strong>le para uma rádio com mais tradição no esporte.<br />

- o -<br />

Em 1979, Luis Roberto conseguiu uma bolsa <strong>de</strong><br />

estudos e se mudou para Campinas, com a fi nalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cursar Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo,<br />

na PUCCAMP - Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica<br />

<strong>de</strong> Campinas. João Fernando Palomo, colega <strong>de</strong><br />

rádio, dividiu república com ele por cerca <strong>de</strong> um ano<br />

e meio.<br />

- Há um programa chamado Globo Esportivo,<br />

transmitido na Rádio Globo todo dia, às 18 horas.<br />

Toda vez que o Luis ouvia a abertura, fi cava muito<br />

atento. Num dia, brincando, ele imitou a abertura inteirinha,<br />

incluindo os comerciais e os anunciantes.<br />

João Fernando se recorda <strong>de</strong> que todos gostavam


muito <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> e que acompanhavam <strong>de</strong> tudo no rádio,<br />

pois, há cerca <strong>de</strong> 20 anos, não se tinha a varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mídias disponíveis hoje.<br />

- Ouvíamos então aquele programa diariamente.<br />

Quando havia campeonato que o Palmeiras disputava,<br />

só conhecíamos o resultado dos adversários no outro<br />

dia, quando acompanhávamos o Fiori Giglioti, narrador<br />

da Rádio Ban<strong>de</strong>irantes.<br />

Por isso, a forte influência do veículo na vida <strong>de</strong><br />

Luis Roberto.<br />

- Ele gostava muito da Rádio Globo e do Osmar<br />

Santos. Sempre acompanhava o programa Globo<br />

Esportivo. Além disso, o talento na narração era perceptível.<br />

Ele narrava jogos e gols o dia todo. Brincava<br />

sempre <strong>de</strong> narrar.<br />

Mesmo morando e estudando em Campinas, a<br />

dupla continuava com os trabalhos na Rádio Piratininga,<br />

em São João da Boa Vista. Ailton relembra que<br />

foi um momento bastante difícil para Luis Roberto.<br />

- Ele só vinha para a cida<strong>de</strong> em dias <strong>de</strong> jogos. Tinha<br />

ficado impossível ele apresentar o programa Piratininga<br />

nos Esportes.<br />

Apesar disso, nas transmissões esportivas, o narrador<br />

permaneceu por mais dois anos.<br />

- A última partida que transmiti foi em 1981, no<br />

jogo <strong>de</strong> inauguração do estádio do Centro <strong>de</strong> Integração<br />

Comunitária, o CIC, entre Palmeiras x Ginásio<br />

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LANCES DE UMA VIDA<br />

Pinhalense, conta Luis.<br />

O jornalista guarda recordações dos trabalhos na<br />

Rádio Piratininga, uma, em especial.<br />

- Antes <strong>de</strong>ste jogo <strong>de</strong> inauguração do CIC, eu havia<br />

feito a cobertura <strong>de</strong> um jogo do Palmeiras em Santos,<br />

contra a Portuguesa Santista, ao lado <strong>de</strong> Ailton<br />

Fonseca. Convidamos uma pessoa da Rádio Cultura<br />

local, o Sinésio Bernardo, para participar dos comentários<br />

<strong>de</strong> intervalo da partida. Ele ouviu a reprise dos<br />

gols por mim narrados; gostou. Houve o convite para<br />

trabalhar na Rádio Cultura, em Santos.<br />

Com o convite, João Fernando per<strong>de</strong>u o companheiro<br />

<strong>de</strong> equipe da Rádio Piratininga. Luis Roberto<br />

viajava toda semana. Quando havia jogos do Santos,<br />

ele <strong>de</strong>scia a Serra.<br />

- Ele fi cou nessa vida penso que meio ano, mais<br />

ou menos. Depois, transferiu a faculda<strong>de</strong> para Santos<br />

e passou a morar lá.


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LANCES DE UMA VIDA<br />

5. O NOVO APRENDIZADO


87<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“A melhor forma <strong>de</strong> você atingir seus<br />

objetivos é fazendo o trabalho naturalmente.<br />

Você faz seu trabalho <strong>de</strong> acordo com seu<br />

potencial; não faz nada forçado e nem sofre<br />

para fazer aquilo. Esta é a uma chave<br />

importante <strong>de</strong>ssa profi ssão”.


89<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

AS VIAGENS PARA COBRIR OS JOGOS<br />

da equipe do Santos Futebol Clube, no Litoral Paulista,<br />

são longas e cansativas. Com o passar dos meses, as<br />

difi culda<strong>de</strong>s fi cam maiores. O curso <strong>de</strong> Jornalismo, em<br />

Campinas, exige muito <strong>de</strong> Luis Roberto, que não <strong>de</strong>scansa<br />

nos fi nais <strong>de</strong> semana. Ele parte rumo a Santos<br />

para trabalhar com o que mais gosta.<br />

- Com muita satisfação, fui contratado pela emissora<br />

do Beto Mansur, a Rádio Cultura. Morei em<br />

Campinas até o fi nal <strong>de</strong> 1981. Era muito difícil e cansativo<br />

viajar toda semana. Então, transferi meu curso<br />

<strong>de</strong> Jornalismo em 1982, para a UniSantos, on<strong>de</strong> concluí<br />

a graduação.<br />

Luis reluta em mudar-se para o Litoral. Porém,<br />

aceita o emprego, <strong>de</strong>ixando, <strong>de</strong>fi nitivamente, a Rádio<br />

Piratininga <strong>de</strong> São João da Boa Vista.<br />

- Per<strong>de</strong>mos o narrador ofi cial da Rádio Piratininga.<br />

Contudo, o Jornalismo brasileiro ganhou um dos<br />

mais versáteis profi ssionais da área, lembra o radialista<br />

Ailton Fonseca, então Chefe da equipe esportiva da<br />

rádio sanjoanense.<br />

A primeira transmissão <strong>de</strong> Luis Roberto na Rádio<br />

Cultura, <strong>de</strong> Santos, não teve os 90 minutos <strong>de</strong> uma<br />

partida <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>.


- Minha estreia foi num jogo entre o Santos e o<br />

Comercial, mas narrei apenas meio tempo, 45 minutos.<br />

Luis executa seu trabalho com muita qualida<strong>de</strong> e<br />

profissionalismo. Procura ser perfeito em tudo o que<br />

produzia. Assim, novas experiências surgem para o<br />

narrador.<br />

- Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ingressar na equipe da Rádio<br />

Cultura, passei a ser o Diretor Artístico da emissora.<br />

Começaram então, as primeiras viagens internacionais,<br />

quando acompanhávamos o Santos em competições.<br />

Na emissora da Baixada Santista, Luis tem a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> narrar e acompanhar momentos importantes<br />

da trajetória do Santos no cenário nacional<br />

e internacional.<br />

- Transmiti o título do Santos, em 1984, sobre o<br />

Corinthians, pelo Campeonato Paulista. Ainda narrei<br />

o Vice-campeonato da equipe no Brasileiro <strong>de</strong> 1983,<br />

no qual o grupo foi <strong>de</strong>rrotado pelo Flamengo. E, o<br />

mais interessante, foi ter acompanhado o Santos na<br />

Copa Libertadores, <strong>de</strong> 1984.<br />

Os dois campeonatos do Santos que Luis Roberto<br />

cobriu, em 1984, fizeram com que seu talento fosse<br />

observado em São Paulo. Logo chega o convite para<br />

um freelancer, um trabalho esporádico, na Rádio Gazeta<br />

AM. Luis foi cobrir um jogo do campeonato <strong>de</strong><br />

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91<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

futsal, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas. Mantém, no entanto,<br />

contrato com a Cultura, que o autoriza a fazer este<br />

trabalho.<br />

- Antes <strong>de</strong> ser contratado para narrar ofi cialmente<br />

jogos pela Gazeta, o Pedro Luiz me convidou para<br />

fazer uns trabalhos esporádicos. Foi um período bem<br />

interessante. Passei a narrar jogos pelas duas emissoras<br />

<strong>de</strong> rádio, a Cultura e a Gazeta.<br />

O freelancer proporciona ao jornalista a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fazer narrações ofi ciais, na Rádio Gazeta.<br />

O convite parte <strong>de</strong> Pedro Luiz, consi<strong>de</strong>rado um dos<br />

melhores narradores esportivos da história do rádio<br />

brasileiro. Pedro havia interrompido suas ativida<strong>de</strong>s<br />

como locutor; era, agora, o Chefe do Departamento<br />

<strong>de</strong> Esportes da emissora.<br />

A Rádio Gazeta, primeira mídia paulistana em<br />

que Luis Roberto trabalhou, era uma emissora AM<br />

com tradição no jornalismo. Pertence à Fundação<br />

Cásper Libero, instituição localizada na Avenida Paulista,<br />

900, em São Paulo. A Fundação foi criada pelo<br />

jornalista Cásper Libero, que faleceu precocemente,<br />

num aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> avião, <strong>de</strong>ixando seu patrimônio para<br />

a Fundação. Com o objetivo <strong>de</strong> incentivar e aprimorar<br />

o jornalismo no Brasil, nasceram a primeira faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Jornalismo do País e vários veículos <strong>de</strong> comunicação.<br />

A instituição gerencia, ainda hoje, um vasto complexo<br />

<strong>de</strong> comunicações que inclui emissoras <strong>de</strong> rádio


e <strong>de</strong> televisão. A Rádio Gazeta é localizada no prédio<br />

da Avenida Paulista. Foi esta a emissora que <strong>de</strong>u oportunida<strong>de</strong><br />

para Luis Roberto mostrar seu trabalho em<br />

São Paulo.<br />

Luis ainda não é o locutor titular. Aos poucos,<br />

muda <strong>de</strong> função e ocupa o cargo no veículo.<br />

- A Rádio Record, que tinha o comando <strong>de</strong> Osvaldo<br />

Maciel, narrador esportivo, montou uma equipe<br />

muito forte <strong>de</strong> esportes. Convidaram o locutor titular<br />

da Gazeta, Paulo Soares, para trabalhar com eles. Assim,<br />

abriram-se <strong>de</strong> vez, para mim, as portas <strong>de</strong>ntro da<br />

emissora. Passei a ser o primeiro narrador da Rádio<br />

Gazeta. Trabalhei lá até 1987.<br />

- o -<br />

No início do ano seguinte, em 1988, houve uma<br />

fusão entre a Rádio Gazeta e a Rádio Record, com o<br />

comando <strong>de</strong> Osmar Santos, narrador egresso da Rádio<br />

Globo. Ele <strong>de</strong>ixa, temporariamente, a Globo, para “recriar”<br />

o Departamento Esportivo da Record, em São<br />

Paulo. Com a saída <strong>de</strong> Osmar, a emissora precisa <strong>de</strong><br />

outro profissional para a área. Assim surge a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Luis Roberto ingressar numa das rádios mais<br />

populares do País. Na Rádio Globo, Luis inicia seu<br />

trabalho como narrador.<br />

- Quando precisaram <strong>de</strong> mais um locutor, além <strong>de</strong><br />

Oscar Ulisses e Van<strong>de</strong>rlei Ribeiro, fui chamado. Minha<br />

estreia foi no jogo em que o XV <strong>de</strong> Jaú venceu o<br />

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LANCES DE UMA VIDA<br />

Corinthians por 3 x 2. Meu primeiro gol narrado na<br />

Rádio Globo foi o do ponta Kazu, do XV.<br />

Além da lembrança da primeira narração <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>,<br />

Luis se recorda também da primeira participação<br />

na Fórmula 1.<br />

- Logo na estreia do automobilismo, transmiti<br />

uma vitória <strong>de</strong> Ayrton Senna, num Gran<strong>de</strong> Prêmio,<br />

em Montreal, no Canadá. Depois, cobri outra vitória<br />

sua em Detroit, nos Estados Unidos, e, por fi m, o título<br />

<strong>de</strong> Campeão Mundial, em Susuka, no Japão.<br />

Quando Osmar Santos retorna para a Rádio Globo,<br />

Luis realiza um sonho: trabalhar ao lado <strong>de</strong> seu<br />

ídolo.<br />

- Admirava o Osmar Santos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> adolescência;<br />

ele foi um exemplo para mim. Sempre fui louco por<br />

<strong>futebol</strong> e esportes, em geral. Gostava muito <strong>de</strong> ouvir o<br />

Pedro Luiz, que foi minha maior infl uência. O Osmar<br />

foi, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r como funcionava o rádio, uma<br />

referência profi ssional. Com ele aprendi a linguagem<br />

do rádio e a emoção <strong>de</strong> “tocar as pessoas” com as nossas<br />

palavras.<br />

Luis narrou mais <strong>de</strong> cinquenta Gran<strong>de</strong>s Prêmios<br />

<strong>de</strong> Fórmula 1 e participou <strong>de</strong> duas Copas do Mundo<br />

(em 1990, na Itália, e em 1994, nos Estados Unidos),<br />

na Rádio Globo, antes <strong>de</strong> iniciar os trabalhos em televisão.<br />

- o -


Com <strong>de</strong>dicação, competência e carisma, Luis Roberto<br />

<strong>de</strong>monstra também suas qualida<strong>de</strong>s em outro<br />

meio <strong>de</strong> comunicação: a televisão. A primeira experiência<br />

é na TV Manchete, entre 1989 e 1990.<br />

- Fiquei na TV Manchete dois anos. O Osmar<br />

Santos trabalhava nessa emissora e era o chefe da<br />

equipe <strong>de</strong> esportes. Ele precisou <strong>de</strong> um freelancer e me<br />

convidou. Foram trabalhos isolados. Em 1993, voltei<br />

para a emissora para novos trabalhos isolados.<br />

Além <strong>de</strong>stes trabalhos, Luis participa, com certa<br />

constância, <strong>de</strong> um programa na TV Gazeta, apresentado<br />

por Cleber Machado.<br />

- A Rádio Gazeta tinha um assento numa mesa<br />

redonda, no programa chamado Sábado Esporte. Eu<br />

ocupava o lugar do representante da rádio. Foi a minha<br />

primeira experiência <strong>de</strong> televisão, como um convidado.<br />

- Eu me lembro das participações do Luis neste<br />

programa. A gente vivia no Departamento <strong>de</strong> Esportes<br />

da Rádio Gazeta e conversávamos muito. As<br />

primeiras experiências <strong>de</strong>le na TV, no meu programa,<br />

foram bem interessantes, lembra Cleber Machado.<br />

Das transmissões que fez pela extinta TV Manchete,<br />

Luis <strong>de</strong>staca um jogo nas Eliminatórias da<br />

Copa do Mundo <strong>de</strong> 1994.<br />

- Era 1993. A Colômbia goleou a Argentina, em<br />

Buenos Aires, por 5 x 0. Foi a maior <strong>de</strong>rrota da his-<br />

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LANCES DE UMA VIDA<br />

tória da seleção argentina jogando em casa. Este foi o<br />

último evento que fi z na emissora. Depois, fui para a<br />

antiga TVA Sports, hoje, ESPN Brasil.<br />

Luis Roberto teve <strong>de</strong> estudar muito quando <strong>de</strong>ixou<br />

o rádio para trabalhar em televisão.<br />

- A televisão tem toda uma técnica diferente <strong>de</strong><br />

narrar. É um trabalho completamente distinto. Passei<br />

a trabalhar e estudar o universo televisivo. O encantamento<br />

foi cada vez maior.<br />

No fi nal <strong>de</strong> 1997, ele recebe a proposta para trabalhar<br />

na TV Globo.<br />

- Os diretores da emissora estavam assistindo a<br />

uma fi ta <strong>de</strong> um jogo em que estávamos Pedro Bassan<br />

e eu. Ele foi contratado imediatamente. Meu caso <strong>de</strong>morou<br />

mais um pouco. Em janeiro <strong>de</strong> 1998, aceitei<br />

a proposta <strong>de</strong> morar no Rio <strong>de</strong> Janeiro e iniciei meu<br />

trabalho na Globo.<br />

Luis nunca havia feito planos para trabalhar em<br />

televisão. Aconteceu naturalmente.<br />

- Não havia planejado ou imaginado ser contratado<br />

pela TV Globo. A melhor forma <strong>de</strong> você atingir<br />

seus objetivos é fazendo o trabalho naturalmente.<br />

Você faz seu trabalho <strong>de</strong> acordo com seu potencial;<br />

não faz nada forçado e nem sofre para fazer aquilo.<br />

Esta é a chave importante <strong>de</strong>ssa profi ssão.<br />

E assim, naturalmente, Luis Roberto ingressa na<br />

quarta maior emissora comercial do mundo, assistida


por 120 milhões <strong>de</strong> pessoas diariamente, per<strong>de</strong> apenas<br />

para as americanas ABC, pertencente ao grupo<br />

The Walt Disney Company, CBS, pertencente à CBS<br />

Corporation, e NBC, pertencente à NBC Universal.<br />

A Re<strong>de</strong> Globo é a maior produtora <strong>de</strong> conteúdos em<br />

Língua Portuguesa do Mundo.<br />

- Para chegar até a Globo é preciso ainda um pouco<br />

<strong>de</strong> sorte. Afinal, são alguns narradores <strong>de</strong> um universo<br />

<strong>de</strong> muitos, com potencial e competência para fazer<br />

o trabalho. Agra<strong>de</strong>ço todos os dias a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estar numa emissora com po<strong>de</strong>r, com força, com o<br />

peso da TV Globo, enquanto maior veículo <strong>de</strong> massa<br />

do Brasil. É uma responsabilida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> e<br />

muito prazerosa ao mesmo tempo.<br />

- o -<br />

São 13 anos <strong>de</strong> trabalhos na Re<strong>de</strong> Globo <strong>de</strong> Televisão.<br />

Em todos esses anos, Luis narrou uma diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>s, em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> campeonatos.<br />

Atualmente, ele resi<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro e é responsável<br />

pelas narrações das equipes cariocas <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>.<br />

Além disso, Luis narra os principais eventos internacionais<br />

como Copa do Mundo <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, Fórmula 1,<br />

Stock Car, Pan-Americano, entre outros.<br />

- Foram seis Copas do Mundo em que estive presente<br />

no local <strong>de</strong> realização. Assim também foi nos<br />

Jogos Olímpicos <strong>de</strong> Sidney, na Austrália, em 2000, e<br />

no Pan-Americano do Rio <strong>de</strong> Janeiro, no Brasil, em<br />

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97<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

2007. Pela Fórmula 1, são mais <strong>de</strong> 50 Gran<strong>de</strong>s Prêmios<br />

narrando in loco. Além da área esportiva, estive<br />

presente em outros eventos. Um <strong>de</strong>les, a cobertura do<br />

Colégio Eleitoral (eleição indireta) para a escolha do<br />

presi<strong>de</strong>nte da República em 1985. Venceu Tancredo<br />

Neves.<br />

Questionado sobre os momentos em que mais se<br />

emocionou nos anos <strong>de</strong> trabalho, além do episódio da<br />

morte <strong>de</strong> Ayrton Senna, Luis conta que foi um evento<br />

internacional.<br />

- Me emocionei com a narração do Pan-Americano,<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 2007. Foi a realização <strong>de</strong> um<br />

sonho. Narrei muitas medalhas, mas, a mais prazerosa,<br />

foi a <strong>de</strong> Ouro brasileira, no revezamento 4 x 100m<br />

masculino. Narrei bem, nosso time arrebentou e sob<br />

chuva, o estádio olímpico “veio abaixo”.<br />

Em 2010, Luis Roberto tem uma experiência nova<br />

<strong>de</strong>ntro da Re<strong>de</strong> Globo. Um trabalho completamente<br />

diferente do que já havia feito até então. Foi escalado<br />

para apresentar o Carnaval do Rio <strong>de</strong> Janeiro, ao lado<br />

da jornalista Glenda Kozlowski. O Carnaval do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro é consi<strong>de</strong>rado o maior espetáculo popular<br />

do mundo. A Re<strong>de</strong> Globo <strong>de</strong>tém o direito <strong>de</strong> transmissão.<br />

Suas imagens e informações são transmitidas<br />

para todo o mundo e acompanhadas por milhões.<br />

- Não esperava pelo convite. Nem passava por<br />

minha cabeça que um dia eu po<strong>de</strong>ria transmitir um


Desfile <strong>de</strong> Escolas <strong>de</strong> Samba. Pensei que fosse algo<br />

totalmente fora da minha realida<strong>de</strong>.<br />

Apresentar o carnaval do Rio <strong>de</strong> Janeiro exige <strong>de</strong><br />

Luis Roberto muita <strong>de</strong>dicação. Horas e horas <strong>de</strong> estudos.<br />

Ele teve que apren<strong>de</strong>r sobre um universo que até<br />

então <strong>de</strong>sconhecia: a história das escolas <strong>de</strong> samba, os<br />

históricos daquele ano, o enredo <strong>de</strong> cada uma e tudo o<br />

que envolvia o Desfile.<br />

- O <strong>futebol</strong> tem os históricos e as regras. No Carnaval,<br />

são muitas informações <strong>de</strong> cada escola, que <strong>de</strong>verão<br />

ser levadas ao conhecimento do público num<br />

curto período <strong>de</strong> tempo. Tive apenas um mês para me<br />

preparar e enten<strong>de</strong>r as regras. Precisei conhecer um<br />

universo <strong>de</strong> pessoas que se envolvem naquele trabalho,<br />

para ter domínio nos comentários. Apresentar o Desfile<br />

foi sensacional; diferente <strong>de</strong> tudo o que já fiz até<br />

hoje. Um banho <strong>de</strong> cultura e <strong>de</strong> manifestação popular.<br />

Tecnicamente, uma transmissão muito difícil <strong>de</strong> fazer.<br />

Caso a Globo me escale novamente, estarei lá, feliz da<br />

vida.<br />

Apresentar o Desfile das Escolas <strong>de</strong> Samba foi<br />

apenas mais um <strong>de</strong>safio na vida profissional <strong>de</strong> Luis<br />

Roberto. Além <strong>de</strong> narrar <strong>futebol</strong>, automobilismo e<br />

outros esportes, Luis substitui Galvão Bueno no programa<br />

Bem, Amigos. Galvão é o primeiro narrador na<br />

escala da TV Globo. Chefia todos os eventos transmitidos<br />

pela emissora e é âncora do programa semanal<br />

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LANCES DE UMA VIDA<br />

transmitido pelo SporTV, canal <strong>de</strong> televisão por assinatura<br />

brasileiro. O canal foi lançado em 1991 sob<br />

o nome <strong>de</strong> TopSport, alterado para o atual, em 1994.<br />

Em seu gênero, no Brasil, o SporTV foi pioneiro e<br />

um dos primeiros canais da Globosat. Quando Galvão<br />

precisa se ausentar, Luis Roberto é quem o substitui.<br />

- Sou apaixonado por <strong>futebol</strong>. Esse é meu carrochefe.<br />

Foi através <strong>de</strong>le que entrei para o esporte. Hoje<br />

em dia, sinto muito prazer narrando automobilismo,<br />

por incrível que pareça. Me divirto tanto com a Fórmula<br />

1 como a Stock Car, que são duas categorias que<br />

tenho a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar.<br />

Milton Leite é jornalista e narrador do SporTV,<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Ele conheceu o Luis como<br />

narrador da Rádio Globo, na equipe <strong>de</strong> Osmar Santos.<br />

- Pouco tempo <strong>de</strong>pois, quando eu era narrador da<br />

ESPN Brasil, Luis foi trabalhar lá. Ali, passei a acompanhar<br />

o profi ssionalismo com que sempre encarou<br />

as suas transmissões, fazendo <strong>de</strong>morado e meticuloso<br />

trabalho <strong>de</strong> preparação, levantamento <strong>de</strong> informações.<br />

A convivência, no entanto, não foi longa, já que<br />

aconteceu pouco antes <strong>de</strong> Luis ter ido para a Globo e<br />

mudar-se para o Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

- De vez em quando nos encontrávamos em alguma<br />

partida <strong>de</strong> <strong>futebol</strong> pelo Brasil ou em algum gran<strong>de</strong><br />

evento. Em 2005, fui contratado pela TV Globo, mas<br />

para trabalhar no Sportv. Apesar <strong>de</strong> estarmos na mes-


ma empresa, continuamos nos encontrando apenas<br />

em estádios e eventos, porque moro em São Paulo e<br />

ele, no Rio.<br />

Em 2006, Luis e Milton Leite trabalham juntos<br />

durante a Copa do Mundo, na Alemanha.<br />

- Fomos escalados para participar <strong>de</strong> um programa<br />

durante o Mundial: o Papo com Armando Nogueira,<br />

no Sportv, transmitido direto da Alemanha.<br />

Era um programa semanal que, <strong>de</strong>vido ao sucesso,<br />

acabou sendo diário, durante a Copa. Nós <strong>de</strong>batíamos<br />

com Armando sobre os jogos do dia e o andamento<br />

do torneio. Foi uma das experiências mais valiosas<br />

da minha carreira. Nos divertíamos muito preparando<br />

o programa ao longo do dia, em meio aos jogos que<br />

transmitíamos.<br />

- o -<br />

Cada trabalho exige <strong>de</strong> Luis Roberto estudos específicos.<br />

Assim como uma longa preparação e cuidados<br />

diversos.<br />

- O <strong>futebol</strong> é o meu esporte preferido. Tenho,<br />

contudo, encanto especial com as outras modalida<strong>de</strong>s.<br />

Adoro narrar Vôlei, por exemplo. É um esporte encantador.<br />

Automobilismo, talvez seja o mais difícil. Seja o<br />

que for, gosto do que faço. Nasci para isso.<br />

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LANCES DE UMA VIDA<br />

6. LUIS ROBERTO, O SANJOANENSE


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LANCES DE UMA VIDA<br />

“De uma coisa vocês po<strong>de</strong>m ter certeza, a<br />

garra, o amor e, acima <strong>de</strong> tudo, o respeito<br />

que tenho por São João, vou ter da<br />

mesma forma. A única diferença é que<br />

agora tenho a certidão <strong>de</strong> casamento”.


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LANCES DE UMA VIDA<br />

LUIS ROBERTO DE MUCIO SEMPRE<br />

consi<strong>de</strong>rou São João da Boa Vista como sua terra natal.<br />

Todas as vezes que é indagado em qual a cida<strong>de</strong><br />

que nasceu, respondia <strong>de</strong> pronto – nem se lembrando<br />

<strong>de</strong> São Paulo:<br />

- Sou <strong>de</strong> São João da Boa Vista.<br />

O amor <strong>de</strong>monstrado pela cida<strong>de</strong> fez com que a<br />

Câmara Municipal o tornasse um legítimo cidadão<br />

sanjoanense, outorgando-lhe o título. A <strong>de</strong>cisão foi<br />

tomada em 07 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1994.<br />

No Decreto, a justifi cativa do vereador autor da<br />

proposta e Presi<strong>de</strong>nte da Câmara à época – que havia<br />

sido colega <strong>de</strong> Luis Roberto na redação do jornal<br />

Opção – Francisco <strong>de</strong> Assis Carvalho Arten: “Fica a<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> São João da Boa Vista, <strong>de</strong>vidamente<br />

autorizada a conce<strong>de</strong>r o Título <strong>de</strong> Cidadão<br />

Sanjoanense ao Ilmo. Sr. Luis Roberto <strong>de</strong> Mucio, em<br />

justo reconhecimento aos relevantes serviços prestados<br />

ao Município na área esportiva”.<br />

Ainda consta no documento que a entrega do título<br />

não teria data marcada: “A referida honraria será<br />

outorgada em Sessão Solene, em data a ser fi xada pela<br />

Mesa da Câmara Municipal e <strong>de</strong> acordo com o homenageado”.


Seguindo a agenda do homenageado, a cerimônia<br />

da entrega do título foi realizada no dia 23 <strong>de</strong> março<br />

<strong>de</strong> 1999, no Unifae, Centro Universitário das Faculda<strong>de</strong>s<br />

Associadas <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> São João da Boa Vista.<br />

A data escolhida marcou também o início do Curso<br />

<strong>de</strong> Comunicação Social, Habilitação Jornalismo, na<br />

instituição.<br />

O vereador Francisco Arten, durante sessão <strong>de</strong><br />

entrega do título, fez a saudação ao antigo colega <strong>de</strong><br />

redação e, assim como ele, jornalista.<br />

- Sempre percebemos em Luis Roberto o gran<strong>de</strong><br />

carinho por São João da Boa Vista e o rigor em seus<br />

princípios éticos. Já com 16 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, quando<br />

trabalhávamos no Jornal Opção, o Luis Roberto sempre<br />

se pautou pela ética, acima <strong>de</strong> tudo. Nesta noite,<br />

ao conce<strong>de</strong>r-lhe o título <strong>de</strong> cidadão sanjoanense,<br />

simplesmente o tornamos <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong> lei, o que o Luis<br />

sempre se consi<strong>de</strong>rou: sanjoanense. Recebi um telefonema<br />

do pessoal da TV Globo que, ao saber <strong>de</strong>sta<br />

outorga, indagaram surpresos: “mas o Luis Roberto<br />

não é <strong>de</strong> São João? Todos os lugares que vai, ele fala<br />

que é”. Eu respondi que era este o principal motivo da<br />

outorga do título. Foi casualida<strong>de</strong> o Luis ter nascido<br />

em São Paulo. Quero passar este título em suas mãos,<br />

Luis Roberto. A partir <strong>de</strong>ste momento, você passa a<br />

ser <strong>de</strong> fato e <strong>de</strong> direito cidadão Sanjoanense.<br />

Apesar da euforia pela entrega do título, uma pes-<br />

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107<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

soa, em particular, fez falta na cerimônia. A família<br />

não estava completa naquela noite. O pai <strong>de</strong> Luis Roberto,<br />

doente e <strong>de</strong>bilitado, não pô<strong>de</strong> comparecer para<br />

testemunhar as homenagens ao fi lho, que lamentou<br />

muito a ausência.<br />

Arten conhecia Luis muito bem. Sabia que a presença<br />

do pai seria muito importante para o jornalista<br />

naquele dia.<br />

- Eu lamento a ausência do senhor Afonso nesta<br />

noite. Sei da angústia que você está sentido por ele<br />

estar hospitalizado, mas tenho certeza que o senhor<br />

Afonso compartilha disso com orgulho.<br />

No <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Luis Roberto, a confi rmação<br />

do que já era <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> todos.<br />

- Casei no dia <strong>de</strong> hoje com São João da Boa Vista.<br />

Este namoro é longo, 37 anos. Aos meus parentes,<br />

obrigado pela educação; vocês me ensinaram a amar<br />

esta cida<strong>de</strong> loucamente. É um momento que me emociona<br />

muito, porque sempre fui sanjoanense <strong>de</strong> coração;<br />

aqui, tive amores e <strong>de</strong>samores; aqui aprendi a viver.<br />

Venho a São João duas ou três vezes por mês e me<br />

<strong>de</strong>paro com aqueles que representam a minha terra.<br />

De uma coisa vocês po<strong>de</strong>m ter certeza, a garra, o amor<br />

e, acima <strong>de</strong> tudo, o respeito que tenho por São João,<br />

vou ter da mesma forma. A única diferença é que agora<br />

tenho a certidão <strong>de</strong> casamento. Muito Obrigado.<br />

A noite <strong>de</strong> discursos e homenagens foi longa no


Unifae. Após a entrega do título, Luis Roberto ainda<br />

proferiu a aula inaugural do Curso <strong>de</strong> Jornalismo.<br />

- Sempre fui um <strong>de</strong>fensor do diploma. Um entusiasta<br />

da formação acadêmica. <strong>Uma</strong> faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Jornalismo na minha cida<strong>de</strong> é um sonho realizado.<br />

Receber tamanha honraria é muito importante e emocionante<br />

pra mim.<br />

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7. O PROFISSIONAL<br />

109<br />

LANCES DE UMA VIDA


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LANCES DE UMA VIDA<br />

“Meu sonho é completar a<br />

minha profi ssão, até on<strong>de</strong> aguentar<br />

e tiver saú<strong>de</strong>, narrando”.


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113<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“Conheci o Luis Roberto na Tv Globo, on<strong>de</strong> trabalhamos<br />

juntos entre os anos <strong>de</strong> 1999 e 2008. Depois,<br />

<strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> trabalhar diretamente juntos, mas, temos<br />

contatos eventuais. Temos uma ótima relação <strong>de</strong> colegas<br />

e, <strong>de</strong> minha parte, muito respeito pelo gran<strong>de</strong><br />

profi ssional e ser humano que reconheço nele”.<br />

José Ilan,<br />

Jornalista e Editor Executivo <strong>de</strong> Web TV<br />

“Acho que o Luis Roberto é o sucessor natural do<br />

Galvão Bueno, <strong>de</strong>ntro da equipe atual da TV Globo.<br />

O que mais impressiona é sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informar,<br />

especialmente no mundo dos narradores, em que existe<br />

certa confusão entre ser jornalista ou artista. Ele é<br />

um jornalista que narra. Isso é ótimo”.<br />

Paulo Vinícius Coelho,<br />

Jornalista e Comentarista dos canais ESPN


“O Luis sempre foi um companheiro perfeito.<br />

Alegre, <strong>de</strong>scontraído, profissional ao extremo. <strong>Uma</strong><br />

coisa que eu admiro muito nele é a sua autenticida<strong>de</strong> e<br />

sua personalida<strong>de</strong> marcante. Ele nunca vacilou em ter<br />

<strong>de</strong> olhar nos olhos do companheiro e fazer uma observação<br />

que pu<strong>de</strong>sse melhorar o padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e<br />

valorizá-lo. Da mesma forma, ele é capaz <strong>de</strong> fazer uma<br />

crítica, em particular, sem que isso fira a amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

quem conviva com ele. Isso aconteceu, algumas vezes<br />

comigo. Claro que, mesmo sendo mais velho, aprendi<br />

muito com seu jeito e com sua lealda<strong>de</strong>”.<br />

114<br />

Ailton Fonseca,<br />

Jornalista e Radialista<br />

“Des<strong>de</strong> o primeiro momento em que trabalhei<br />

com Luis Roberto, percebi que tem algo que marca<br />

muito nele: o profissionalismo. Ele nunca gostou <strong>de</strong><br />

‘fazer a coisa meia boca’. Sempre gostou <strong>de</strong> ‘fazer a<br />

coisa’ muito certa, muito correta; da maneira como ele<br />

achava que era o melhor; para po<strong>de</strong>r levar a informação<br />

ao ouvinte ou a quem o acompanhava, seja no jornal<br />

seja na rádio”.<br />

João Fernando Palomo,<br />

Advogado e Professor


115<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“O Luis Roberto profi ssional é um cara extremamente<br />

<strong>de</strong>dicado. Ele próprio brinca dizendo que tem<br />

Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC, pois exige<br />

<strong>de</strong> si mesmo tempo para preparar o material <strong>de</strong> trabalho.<br />

É bem informado e tem a qualida<strong>de</strong> absolutamente<br />

necessária para quem trabalha com esporte.<br />

Ele gosta <strong>de</strong> esporte e não se cansa <strong>de</strong> conversar sobre.<br />

A trajetória confi rma isso: do rádio do interior para<br />

Santos. Na capital <strong>de</strong> São Paulo, a Rádio Gazeta, a<br />

Rádio Globo. Foi um salto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e afi rmação<br />

profi ssional. Sempre disposto a encarar novida<strong>de</strong>s,<br />

aventurou-se na TV pelos canais ESPN Brasil e TV<br />

Globo. A aventura foi vitoriosa e virou realida<strong>de</strong>”.<br />

Cleber Machado,<br />

Jornalista e Narrador da TV Globo<br />

“Penso que, com exceção do Galvão Bueno, o Luis<br />

é o melhor narrador da TV Globo. Acompanho, gosto<br />

muito <strong>de</strong> assistir jogo com ele. Ele continua a mesma<br />

pessoa que saiu <strong>de</strong> São João. Muito humil<strong>de</strong>”.<br />

Pedro Luengo,<br />

Professor


“Sempre falo que eu não acredito. Todo mundo<br />

fala bem <strong>de</strong>le. E eu penso assim ‘meu Deus, a gente<br />

sempre foi uma família humil<strong>de</strong>, aquele menino agora<br />

está na Globo’”.<br />

116<br />

Sebastiana Manóquio,<br />

Mãe <strong>de</strong> Luis Roberto<br />

“Conheci o Luis Roberto ainda adolescente, no<br />

tradicional Instituto <strong>de</strong> Educação Coronel Cristiano<br />

Osório <strong>de</strong> Oliveira. Nesta época, tínhamos em comum<br />

o gosto pela política estudantil. Fomos presi<strong>de</strong>ntes do<br />

Centro Cívico daquela escola e do tradicional Grêmio<br />

Augusto <strong>de</strong> Freitas. Um dia, um amigo comum trouxe<br />

um texto que o Luis havia publicado no jornal O<br />

Sacívico, daquela escola e me pediu que lhe <strong>de</strong>sse uma<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever para o jornal Opção, no qual<br />

eu trabalhava. Resolvi aten<strong>de</strong>r meu amigo e pedi para<br />

o Luis escrever uma coluna. Ele escreveu uma página<br />

inteira. O jornal já tinha sua página <strong>de</strong> esportes, mas<br />

o texto do Luis estava tão bom, tão cheio <strong>de</strong> informações,<br />

que não resistimos e o jornal saiu com duas<br />

páginas <strong>de</strong> esportes. Foi um sucesso”.<br />

Francisco Arten,<br />

Jornalista e Professor da Unifae


117<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“É difícil você falar que a pessoa é a mesma daquela<br />

época porque ele tinha um <strong>de</strong>terminado envolvimento<br />

social; hoje, tem outro completamente diferente. Mas,<br />

sempre que ele me encontra, me trata muito bem”.<br />

João Fernando Palomo,<br />

Advogado e Professor<br />

“O Luis Roberto é uma pessoa muito preparada<br />

e que se <strong>de</strong>dica muito. Lê sobre tudo e levanta informações<br />

<strong>de</strong> maneira obsessiva. Além disso, é uma pessoa<br />

agregadora, que contribui muito no trabalho em<br />

equipe, fazendo questão <strong>de</strong> se relacionar com todas<br />

as pessoas envolvidas numa transmissão ou num programa.<br />

Por isso, ganhou apelidos como “<strong>de</strong>putado” ou<br />

“senador”, tal é o seu relacionamento com as pessoas,<br />

conversando e brincando com todos”.<br />

Milton Leite,<br />

Jornalista e Narrador do SporTV


“O Luis tem a sua própria maneira <strong>de</strong> transmitir,<br />

peculiar, diferente <strong>de</strong> outros; tem personalida<strong>de</strong>. Não<br />

se po<strong>de</strong> comparar ele com ninguém. Ten<strong>de</strong> a evoluir<br />

muito mais, porque cada dia você apren<strong>de</strong> um pouco.<br />

Ele se tornou um dos gran<strong>de</strong>s locutores do Brasil”.<br />

Antônio Carlos Nogueira <strong>de</strong> Oliveira,<br />

Repórter Esportivo<br />

“Vou concordar com o próprio Luis Roberto, que<br />

na entrevista recente que me conce<strong>de</strong>u, consi<strong>de</strong>rou a<br />

campanha do Fluminense na Libertadores 2008 o momento<br />

mais marcante da nossa convivência profissional.<br />

Transmitimos juntos todos os jogos da campanha<br />

vitoriosa do tricolor carioca no Brasil e no exterior.<br />

Foram meses intensos e felizes por ver um trabalho<br />

com gran<strong>de</strong> importância e repercussão tomar forma e<br />

chegar a uma apoteótica <strong>de</strong>cisão num Maracanã lotado<br />

e espetacular. Momentos e experiências que ficarão<br />

pra sempre na nossa história e, tenho certeza, em nossa<br />

memória também”.<br />

José Ilan,<br />

Jornalista e Editor Executivo <strong>de</strong> Web TV<br />

118


119<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“Luis possui uma incrível capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir<br />

seu conhecimento, nas mais diversas modalida<strong>de</strong>s<br />

esportivas, com clareza e simplicida<strong>de</strong>, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

lado o que consi<strong>de</strong>ro, como telespectador, o mais importante<br />

em uma locução esportiva: a emoção”.<br />

Rogério Ceni,<br />

Goleiro do São Paulo Futebol Clube<br />

“O Luis foi quem levou as informações para<br />

a televisão. Antigamente, não se falava nada a mais<br />

numa partida <strong>de</strong> <strong>futebol</strong>, “fulano <strong>de</strong> tal, jogou on<strong>de</strong>,<br />

estava suspenso”... Essas informações, que hoje vemos<br />

na televisão, muito foi ele que introduziu. Na Copa<br />

do Mundo da África do Sul, o Luis mostrou que é<br />

possível você transmitir o jogo e dar informação na<br />

dose certa. Como espectador, gosto das estatísticas,<br />

mas não apenas isso. Tem gente que só dá estatística;<br />

tem gente que só dá show; e, o Luis transmite e passa<br />

as estatísticas com equilíbrio. Prefi ro as transmissões<br />

<strong>de</strong>le por conta disso. Acho que hoje ele está no topo<br />

da transmissão esportiva”.<br />

João Fernando Palomo,<br />

Advogado e Professor


“Temos a mesma ida<strong>de</strong> e começamos praticamente<br />

juntos no rádio. Conheci o Luis quando ele trabalhava<br />

na rádio Cultura, em Santos. Junto com o Paulo<br />

Soares nos tornamos bons amigos, fazendo parte<br />

<strong>de</strong> uma nova geração que surgia no rádio. O Luis é<br />

um profissional excepcional e entendo que po<strong>de</strong> ser o<br />

substituto do Galvão Bueno na TV Globo. Ele vem<br />

da escola do rádio; isso facilitou <strong>de</strong>mais a sua vida na<br />

Televisão”.<br />

Nilson Cesar,<br />

Radialista da Rádio Jovem Pan<br />

“Me recordo <strong>de</strong> uma passagem engraçada com o<br />

Luis; na Copa do Mundo da França, em 1998. Tínhamos<br />

o dia livre, então, Paulo Soares, Luis e eu fomos<br />

passear. Andamos pela cida<strong>de</strong> e até brincamos em<br />

fliperama... Quando estávamos <strong>de</strong>scendo a escada do<br />

metrô, subiu uma moça, baixinha... Luis Roberto soltou:<br />

‘Bonita a baixinha’, imaginando que o português<br />

<strong>de</strong>le jamais seria entendido pela moça. Ela virou-se<br />

e disse: ‘Baixinha, não’. O elogio ela encarou, mas do<br />

‘baixinha’ não gostou...”<br />

Cleber Machado,<br />

Jornalista e Narrador da TV Globo<br />

120


121<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“Lembro que quando o Luis Roberto foi estudar<br />

Comunicação Social, ele convidou e insistiu para que<br />

João Fernando Palomo e eu, que conversávamos muito<br />

sobre jornalismo, fossemos todos juntos, o que facilitaria<br />

república, transporte, essas coisas. O Luis conseguiu<br />

estudar, pois sabia narrar <strong>futebol</strong> e isso garantiria<br />

emprego em rádios. Eu não consegui e só anos mais<br />

tar<strong>de</strong> é que me formei. O João Fernando, <strong>de</strong> nós, era<br />

o que melhor tinha condições fi nanceiras. Ele respon<strong>de</strong>u<br />

assim ao Luis: “Você está louco, jornalismo não<br />

dá dinheiro, vou ser advogado”. E foi. Um dia <strong>de</strong>sses<br />

encontrei com o João Fernando e recordamos do episódio.<br />

Eu disse: “Você estava errado”. Ele respon<strong>de</strong>u:<br />

“Prefi ro nem lembrar”. Naquele dia, tive a certeza <strong>de</strong><br />

que <strong>de</strong>vemos fazer o que realmente gostamos”.<br />

Francisco Arten,<br />

Jornalista e Professor da Unifae<br />

“É, certamente, um dos gran<strong>de</strong>s profi ssionais <strong>de</strong><br />

televisão que tive o privilégio <strong>de</strong> conhecer na minha<br />

carreira, além <strong>de</strong> ter se tornado um gran<strong>de</strong> amigo. Nos<br />

meus primeiros passos <strong>de</strong>ntro da TV Globo, recebi os<br />

conselhos <strong>de</strong> quem já estava havia muitos anos por lá”.<br />

Milton Leite,<br />

Jornalista e Narrador do SporTV


“Antes <strong>de</strong> eu me tornar radialista, trabalhei viajando<br />

por uma empresa e conheci gran<strong>de</strong> parte do Brasil.<br />

O Luis ficava abismado em ver como eu sabia me direcionar<br />

pelas ruas das cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> ele jamais imaginou<br />

que eu pu<strong>de</strong>sse conhecer. Um dia ele me disse: ‘Eu<br />

invejo você... Você conhece muitos lugares’. O tempo<br />

passou... Um dia nos encontramos e nos lembramos<br />

<strong>de</strong>ssa história. O Luis já tinha ‘rodado o mundo’ umas<br />

<strong>de</strong>z vezes, cobrindo Fórmula 1. Eu perguntei: ‘Você<br />

ainda me inveja pelos lugares que conheço?’ Rimos<br />

muito...”<br />

122<br />

Ailton Fonseca,<br />

Jornalista e Radialista<br />

“Lembro muito do Luis Roberto no tempo <strong>de</strong><br />

narrador e apresentador da Rádio Globo. Antes, apresentando<br />

um jogo na TV Gazeta entre lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> torcida<br />

uniformizada, mas não me lembro do nome do<br />

programa. Havia altos ‘quebra-paus’ em plena disputa<br />

das uniformizadas e o Luis precisava ter muita presença<br />

<strong>de</strong> espírito para solucionar os problemas”.<br />

Paulo Vinícius Coelho,<br />

Jornalista e Comentarista dos canais ESPN


123<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“Como atleta e eventualmente convidado <strong>de</strong> programas<br />

esportivos na emissora em que trabalha Luis<br />

Roberto, o consi<strong>de</strong>ro um ótimo apresentador, além <strong>de</strong><br />

ser muito educado ao tratar não apenas aos convidados,<br />

mas também aos comentaristas e principalmente<br />

o público <strong>de</strong>le, que é o telespectador”.<br />

Rogério Ceni,<br />

Goleiro do São Paulo Futebol Clube<br />

“O Luis Roberto é um dos mais completos profi ssionais<br />

<strong>de</strong> comunicação que eu conheço. O diferencial<br />

<strong>de</strong>le é ser muito, mas muito bem informado e ter um<br />

profundo conhecimento sobre o que fala. Seja qual for<br />

o esporte. Isso faz com que ele tenha muita segurança<br />

para passar a informação ao telespectador. É muito<br />

bom fazer parte do ambiente <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>ssa gran<strong>de</strong><br />

pessoa”.<br />

Ivan Moré,<br />

Jornalista e Repórter da TV Globo


“O Luis continua meu amigo até hoje, como aquele<br />

menino que eu conheci perto da Esportiva. Acompanhei<br />

a evolução toda <strong>de</strong>le tanto no rádio como na<br />

televisão; fiz entrevista com ele no começo da carreira.<br />

Ele nem estava na TV Globo ainda; foi <strong>de</strong>grau a <strong>de</strong>grau,<br />

subindo. Desejo que ele continue subindo muito<br />

mais, porque Galvão Bueno não é eterno; talvez ele<br />

chegue ao cargo que o Galvão ocupa na emissora. A<br />

carreira <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente <strong>de</strong>le”.<br />

Antônio Carlos Nogueira <strong>de</strong> Oliveira,<br />

Repórter Esportivo<br />

“O Luis é um cara carismático, bem humorado,<br />

atencioso, humil<strong>de</strong> e uma pessoa muito fácil <strong>de</strong> lidar.<br />

Costumo dizer que o Luis é dono <strong>de</strong> uma energia<br />

pouco comum. A simples presença <strong>de</strong>le muda o ambiente<br />

em que está e <strong>de</strong>ixa tudo mais leve. É uma das<br />

melhores pessoas com quem trabalhei na vida”.<br />

Ivan Moré,<br />

Jornalista e Repórter da TV Globo<br />

124


125<br />

LANCES DE UMA VIDA<br />

“O Luis tem uma enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> improviso<br />

e narra vários esportes com muito conhecimento. É<br />

também extremamente organizado e estudioso. Jamais<br />

vai para uma transmissão sem estar inteiramente preparado.<br />

Nos tempos <strong>de</strong> rádio, era um gran<strong>de</strong> narrador<br />

<strong>de</strong> Fórmula 1 e também fazia reportagens com muita<br />

qualida<strong>de</strong>. Mesmo trabalhando na TV Globo, o Luis<br />

conseguiu manter as suas origens, e, com isso, jamais<br />

per<strong>de</strong>ra a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Temos um relacionamento<br />

pessoal excelente e sempre conversamos muito sobre<br />

tudo quando nos encontramos nos estádios da vida.<br />

Ele é sempre igual; gosto <strong>de</strong>mais do seu astral – bem<br />

humorado e ‘pra cima’”.<br />

Nilson Cesar,<br />

Radialista da Rádio Jovem Pan<br />

“O tempo passou... A amiza<strong>de</strong> já não é mais a<br />

mesma, pelas próprias circunstâncias da vida. Mas o<br />

Luis Roberto fi cou na minha história, como um dos<br />

mais competentes companheiros que tive. O incrível<br />

<strong>de</strong> tudo isso é que a admiração por ele aumenta, na<br />

mesma proporção em que essas circunstâncias nos<br />

afastam”.<br />

Ailton Fonseca,<br />

Jornalista e Radialista


“O Luis Roberto não é um dos melhores jornalistas<br />

esportivos <strong>de</strong>ste país apenas pelo seu talento e<br />

<strong>de</strong>dicação, mas, principalmente, por ser uma gran<strong>de</strong><br />

pessoa em seu dia a dia”.<br />

Rogério Ceni,<br />

Goleiro do São Paulo Futebol Clube<br />

“Tenho 32 anos <strong>de</strong> profissão. Nos últimos cinco,<br />

seis anos, tive a crise boa do profissional que começa a<br />

ficar incomodado com tudo. Depois <strong>de</strong> passar por este<br />

período, <strong>de</strong> maturar isso na minha cabeça, cheguei à<br />

conclusão <strong>de</strong> que gosto mesmo é <strong>de</strong> estar e narrar os<br />

eventos. Meu sonho é completar a minha profissão,<br />

até on<strong>de</strong> aguentar e tiver saú<strong>de</strong>, narrando. O meu <strong>de</strong>safio<br />

é esse”.<br />

Luis Roberto <strong>de</strong> Mucio,<br />

Jornalista, Narrador da TV Globo e<br />

homenageado <strong>de</strong>ste livro<br />

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