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Os Livros Didáticos de Matemática do Curso Fundamental ... - EACH

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Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong><br />

História da <strong>Matemática</strong><br />

Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong><br />

História da <strong>Matemática</strong><br />

<strong>Os</strong> <strong>Livros</strong> <strong>Didáticos</strong> <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> <strong>do</strong> <strong>Curso</strong> <strong>Fundamental</strong> <strong>do</strong><br />

Atheneu Sergipense<br />

The Textbook of Basic Mathematics Course of Atheneu Sergipense<br />

Resumo<br />

Eva Maria Siqueira Alves 1<br />

Suely Cristina Silva Souza 2<br />

Dentre os varia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> pesquisas em História da Educação, História da <strong>Matemática</strong> e História das Disciplinas Escolares, os livros<br />

didáticos têm-se revela<strong>do</strong> uma importante fonte <strong>de</strong> investigação. Nesse senti<strong>do</strong>, o trabalho tem por fim investigar a presença <strong>do</strong>s<br />

ensinamentos matemáticos <strong>do</strong> <strong>Curso</strong> <strong>Fundamental</strong> por meio <strong>do</strong>s livros didáticos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s, durante a Reforma Francisco. O estu<strong>do</strong> faz parte<br />

das discussões <strong>de</strong> uma pesquisa em <strong>de</strong>senvolvimento, cujo tema preten<strong>de</strong> analisar a configuração da disciplina <strong>Matemática</strong> no Atheneu<br />

Sergipense, segun<strong>do</strong> as propostas estabelecidas pela Reforma Francisco Campos, entre os anos <strong>de</strong> 1938 e 1943, a fim <strong>de</strong> esclarecer o seu<br />

processo <strong>de</strong> implementação na formação <strong>do</strong>s discentes e atuação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes <strong>de</strong>ssa instituição, além <strong>de</strong> ser fomentada pela Fundação <strong>de</strong><br />

Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sergipe (FAPITEC/SE). Dessa maneira, na produção <strong>de</strong>ste artigo, utilizou-se como<br />

fontes <strong>de</strong> pesquisa os registros das Atas da Congregação e <strong>do</strong> Livro <strong>de</strong> frequência <strong>do</strong>s leitores da biblioteca <strong>do</strong> Atheneu Sergipense. Assim, o<br />

trabalho apresenta os livros a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelos professores <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> no Atheneu Sergipense, anualmente no curso secundário no perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 1937 a 1942, buscan<strong>do</strong> esclarecimentos <strong>de</strong> quais didáticos eram trabalha<strong>do</strong>s e se os mesmos foram aceitos pelos os alunos da instituição.<br />

Para melhor entendimento das análises apreendidas, <strong>de</strong>screvemos sucintamente as obras utilizadas pela instituição, buscan<strong>do</strong> assim verificar<br />

a presença das inovações matemáticas propostas pelas instruções meto<strong>do</strong>lógicas da aludida reforma. Para tanto, ao longo das análises,<br />

percebeu-se que os professores <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> <strong>do</strong> Atheneu Sergipense tinham uma preferência pelos livros didáticos <strong>de</strong> Cecil Thiré, Agrícola<br />

Bethlem e Algacir Munhoz Mea<strong>de</strong>r, além <strong>de</strong> sugeri-los aos alunos que prontamente atendiam a essas indicações. Cabe também ressaltar que<br />

esses didáticos eram os mais vendi<strong>do</strong>s durante a Reforma Francisco Campos por aten<strong>de</strong>r aos ditames das Instruções Pedagógicas anexas aos<br />

programas <strong>do</strong> ensino secundário.<br />

Palavras chave: História das Disciplinas Escolares. <strong>Matemática</strong>. <strong>Livros</strong> didáticos.<br />

Abstract<br />

Among the various research papers in History of Education, History of Mathematics and History of School Subjects, textbooks have proved<br />

an important source of research. In this sense, the work aims to investigate the presence of the teachings of the Course <strong>Fundamental</strong><br />

mathematicians through the textbooks a<strong>do</strong>pted in the Reformation Francisco. The study is part of a discussion of research in <strong>de</strong>velopment,<br />

whose theme is to examine the configuration of Mathematics Atheneu Sergipense, according to the proposals set out by the Reformation,<br />

Francisco Campos, between the years 1938 and 1943 in or<strong>de</strong>r to clarify the process of implementation on stu<strong>de</strong>nt formation and performance<br />

of teachers of this institution, and is fostered by the Foundation for Support of Research and Technological Innovation of the State of Sergipe<br />

(FAPITEC / SE). Thus, in producing this article, we used as sources for research the records of the Proceedings of the Congregation and the<br />

1 DED/NPGED/GPDEHEA/UFS. E-mail: evas@ufs.br<br />

2 NPGED/GPDEHEA/UFS. E-mail: suelycristinas@yahoo.com.br


Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong> História da <strong>Matemática</strong> 2<br />

Book of frequency of library rea<strong>de</strong>rs of Atheneu Sergipense. Thus, the paper presents the books a<strong>do</strong>pted by the Mathematics teachers in<br />

Atheneu Sergipense annually in high school in the period 1937 to 1942, seeking clarification of what textbooks were worked and whether<br />

they were accepted by the institution's stu<strong>de</strong>nts. For a better un<strong>de</strong>rstanding of the analysis seized, <strong>de</strong>scribe briefly the articles used by the<br />

institution, trying to verify the presence of mathematical innovations proposed by the metho<strong>do</strong>logical instructions of said reform. To this end,<br />

over the analysis, it was noticed that the teachers of mathematics Atheneu Sergipense had a preference for textbooks Thiré Cecil, Bethlem<br />

Agricultural and algal Munhoz Mea<strong>de</strong>r, and suggest them to stu<strong>de</strong>nts who readily complied with these directions. It is also worth mentioning<br />

that these textbooks were the most sold during the Reformation by Francisco Campos meet the dictates of Pedagogical Instructions attached<br />

to the secondary school curricula.<br />

Keywords: History of School Subjects. Math. Textbooks.<br />

Nos escritos encontra<strong>do</strong>s em uma das Atas da Congregação <strong>do</strong> Atheneu Sergipense<br />

durante o ano <strong>de</strong> 1937, o professor Gentil Tavares propôs que o regulamento <strong>de</strong> 1926 fosse<br />

reforma<strong>do</strong>, “em vista <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> feito na vigência da lei fe<strong>de</strong>ral n.16.782-A, <strong>de</strong> 1926 e <strong>de</strong><br />

achar-se em diversos pontos em <strong>de</strong>sacor<strong>do</strong> com o que preceitua o actual reforma <strong>do</strong> ensino<br />

secundário”. O presi<strong>de</strong>nte e os <strong>de</strong>mais professores presentes ficaram <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o parecer,<br />

contu<strong>do</strong> resolveram que “em outra reunião se trataria mais circunstanciadamente <strong>do</strong><br />

assumpto” (Ata da Congregação <strong>do</strong> Atheneu Sergipense, 5 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1937).<br />

Assim, três meses <strong>de</strong>pois, em outra reunião da Congregação, o professor Gentil<br />

Tavares pe<strong>de</strong> a palavra para tratar da reformulação <strong>do</strong> regulamento aceito em sessão anterior.<br />

Na pauta solicitou “que fosse <strong>de</strong>signada uma commissão para elaboral-o”, e “a referida<br />

commissão ficou assim constituída: Profs. Abdias Bezerra, Dr. <strong>Os</strong>car Nascimento e Joaquim<br />

Vieira Sobral” (Ata da Congregação <strong>do</strong> Atheneu Sergipense, 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1937).<br />

Em seguida, o professor Franco Freire ressaltou que a elaboração <strong>do</strong> regulamento<br />

<strong>de</strong>veria esperar mais um pouco para não ficar “em <strong>de</strong>sacor<strong>do</strong> com a nova reforma <strong>do</strong> ensino<br />

em geral, que se acha em elaboração, entretanto se a congregação <strong>de</strong>cidiu, ficava <strong>de</strong> accor<strong>do</strong> e<br />

explica que se <strong>de</strong>via fazer a parte não pedagógica em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> que allegava <strong>de</strong> inicio”.<br />

Também alertou sobre “a parte <strong>do</strong>s concursos que já tem legislação nova, em vista das<br />

irregularida<strong>de</strong>s da legislação anterior e termina dizen<strong>do</strong> que <strong>de</strong>ve ser feito a reforma quanto a<br />

parte econômica e administrativa”. Em contrapartida, o professor Fraga Lima não aprovou a<br />

sugestão da parte econômica, explican<strong>do</strong> que a mesma <strong>de</strong>veria ser feita pelo Chefe da Nação<br />

(Ata da Congregação <strong>do</strong> Atheneu Sergipense, 1º <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1937).<br />

Essas discussões <strong>de</strong>monstravam o grau <strong>de</strong> interesse <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes <strong>do</strong> Atheneu<br />

Sergipense pela implementação da Reforma Francisco Campos, e ao mesmo tempo,<br />

apresentavam os conflitos trava<strong>do</strong>s durante seu processo <strong>de</strong> elaboração. De fato, pois tanto<br />

Gentil Tavares como Franco Freire lecionavam <strong>Matemática</strong>, e provavelmente teriam algum<br />

mérito sobre o novo regulamento que se instalava, principalmente quanto às inovações<br />

matemáticas.


Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong> História da <strong>Matemática</strong> 3<br />

Em sessão ordinária <strong>do</strong> dia 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1938, o presi<strong>de</strong>nte explicou a razão <strong>de</strong> ser<br />

confecciona<strong>do</strong> o novo regulamento, divulgan<strong>do</strong> que tanto a parte didática como a<br />

administrativa necessitava <strong>de</strong> algumas alterações. Assim, explanou que o mesmo foi “da<strong>do</strong><br />

por <strong>de</strong>creto interventorial <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> março <strong>do</strong> ano em curso”. Aproveitan<strong>do</strong> a reunião, o<br />

professor Franco Freire solicitou que registrassem em Ata, “que os membros <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s para<br />

elaborarem o regulamento não foram convoca<strong>do</strong>s para tal fim”. Entretanto, o chefe da<br />

Congregação esclareceu que o motivo, pois elaborou-se “em colaboração com o professor<br />

Abdias Bezerra”, um <strong>do</strong>s integrantes da comissão (Ata da Congregação <strong>do</strong> Atheneu<br />

Sergipense, 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1938).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, as fontes, mais uma vez, comprovaram a existência da Reforma<br />

Francisco Campos através da criação <strong>do</strong> novo regulamento. Também revelaram a<br />

preocupação <strong>do</strong>s professores por sua produção, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 1937, pois até o ano <strong>de</strong> 1938, o<br />

Atheneu Sergipense não possuía uma normatização, embora os <strong>Curso</strong>s <strong>Fundamental</strong> e<br />

Complementar tenham si<strong>do</strong> implementa<strong>do</strong>s, a partir da Lei N. 40 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1936.<br />

O <strong>Curso</strong> <strong>Fundamental</strong> iniciou suas ativida<strong>de</strong>s no dia 22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1937, às oito<br />

horas da manhã “em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> funccionar á tar<strong>de</strong> o curso complementar”, neste dia o<br />

Inspetor Fe<strong>de</strong>ral estava presente (Ata da Congregação <strong>do</strong> Atheneu Sergipense, 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1937). Instiga<strong>do</strong>s por essas informações, questionávamos sobre as finalida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da<br />

<strong>Matemática</strong> no Atheneu Sergipense. Como isso <strong>de</strong>veria ser adquiri<strong>do</strong> no ensino <strong>de</strong>ssa<br />

disciplina?<br />

Assim, lançamos nosso olhar para cultura escolar inserida no interior <strong>do</strong> Atheneu<br />

Sergipense. E quais as fontes a ser pesquisadas? Aquelas que melhor retratassem a temática<br />

em questão. Cabe consi<strong>de</strong>rar as palavras <strong>do</strong> texto <strong>de</strong> Le Goff (2003), ao dizer que “on<strong>de</strong><br />

faltam os monumentos escritos, <strong>de</strong>ve a história <strong>de</strong>mandar as línguas mortas os seus segre<strong>do</strong>s<br />

[...] Deve escrutar as fábulas, os mitos os sonhos da imaginação [...] On<strong>de</strong> o homem passou,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou qualquer marca da sua vida e da sua inteligência, aí está a história” (LE GOFF,<br />

2003, p.107).<br />

Desse mo<strong>do</strong>, o material preserva<strong>do</strong> no Centro <strong>de</strong> Memória <strong>do</strong> Atheneu Sergipense<br />

(CEMAS), também nos permitiu investigar a presença <strong>do</strong>s ensinamentos matemáticos <strong>do</strong><br />

<strong>Curso</strong> <strong>Fundamental</strong>, por meio <strong>do</strong>s livros didáticos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s durante a Reforma Francisco<br />

Campos. Segun<strong>do</strong> Julia (2001), as fontes quan<strong>do</strong> preservadas possibilitam a construção da<br />

História das Disciplinas Escolares e produzem elementos importantes da cultura escolar que<br />

ampliam as análises <strong>do</strong> objeto a se estuda<strong>do</strong>.


Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong> História da <strong>Matemática</strong> 4<br />

Ela tenta i<strong>de</strong>ntificar, tanto através das práticas <strong>de</strong> ensino utilizadas na sala <strong>de</strong> aula como<br />

através <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s objetivos que presidiram a constituição das disciplinas, o núcleo duro que<br />

po<strong>de</strong> constituir uma história renovada da educação. Ela abre, em to<strong>do</strong> caso, para retomar uma<br />

metáfora aeronáutica, a “caixa preta” da escola, ao buscar compreen<strong>de</strong>r o que ocorre nesse<br />

espaço particular (JULIA, 2001, p.13).<br />

Através <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> Otone e Silva (2006) e Ribeiro (2006), estávamos cientes <strong>de</strong><br />

que no <strong>Curso</strong> <strong>Fundamental</strong> da Reforma Francisco Campos a disciplina <strong>Matemática</strong> <strong>de</strong>veria<br />

ser estudada em todas as séries <strong>do</strong> seu programa. Já que no <strong>Curso</strong> Complementar os<br />

conteú<strong>do</strong>s matemáticos, teria a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparar os jovens a prestarem exames aos<br />

cursos superiores, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao “interesse imediato <strong>de</strong> sua utilida<strong>de</strong> e ao valor <strong>do</strong>s seus<br />

méto<strong>do</strong>s”, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com “as especificida<strong>de</strong>s das faculda<strong>de</strong>s a que se <strong>de</strong>stinavam” (RIBEIRO,<br />

2006, p.32).<br />

Nessa direção, analisamos os livros didáticos frente à disciplina <strong>Matemática</strong> por meio<br />

<strong>do</strong>s registros da Atas da Congregação e no Livro <strong>de</strong> frequência <strong>do</strong>s leitores da biblioteca <strong>do</strong><br />

Atheneu Sergipense, em busca <strong>de</strong> indícios que retratassem sua presença durante a Reforma<br />

Francisco Campos, além <strong>de</strong> buscar compreen<strong>de</strong>r o i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> alguns autores que pautaram<br />

seus estu<strong>do</strong>s nessa temática.<br />

A investigação <strong>do</strong>s livros didáticos edita<strong>do</strong>s para o <strong>Curso</strong> <strong>Fundamental</strong> tem como<br />

objetivo verificar a constituição da disciplina escolar <strong>Matemática</strong> na Reforma Francisco<br />

Campos. De acor<strong>do</strong> com Ribeiro (2006), os livros didáticos eram trata<strong>do</strong>s como ferramentas<br />

pedagógicas <strong>de</strong>stinadas a auxiliar na aprendizagem <strong>do</strong>s alunos, “motivá-los e incitá-los ao<br />

estu<strong>do</strong>, contribuin<strong>do</strong> para mudanças nas meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> ensino e organização das matérias”<br />

na medida em que constitui uma disciplina escolar (RIBEIRO, 2006, p. 24).<br />

<strong>Os</strong> livros didáticos também contemplam uma importante “fonte <strong>de</strong> pesquisa para o<br />

estu<strong>do</strong> da constituição <strong>de</strong> uma disciplina escolar”, embora no ensino escolar essa ferramenta<br />

“coloca em ação as finalida<strong>de</strong>s às quais estão sujeitos, os torna um <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> perpetuação<br />

<strong>de</strong> valores da socieda<strong>de</strong>”. Assim, os mesmos “agem como instrumento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong><br />

aculturação <strong>do</strong> público a que estão <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s” e quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong>s aos aplica<strong>do</strong>s em<br />

reformas educacionais, “quan<strong>do</strong> as finalida<strong>de</strong>s são renovadas, po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>terminar se o<br />

processo <strong>de</strong> disciplinarização da disciplina escolar se efetivou” (RIBEIRO, 2006, p. 25).<br />

Também levou-se em consi<strong>de</strong>ração as contribuições <strong>de</strong> Chervel (1990), quan<strong>do</strong><br />

afirma que, em <strong>de</strong>terminada época, os livros didáticos apresentam estruturas e conteú<strong>do</strong>s<br />

semelhantes. Até a abordagem <strong>do</strong>s assuntos apresentam uma tendência análoga. Segun<strong>do</strong> o<br />

autor, esse conjunto <strong>de</strong> materiais inseri<strong>do</strong>s nos livros didáticos são <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vulgata.


Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong> História da <strong>Matemática</strong> 5<br />

Em cada época, o ensino dispensa<strong>do</strong> pelos professores é, grosso mo<strong>do</strong>, idêntico, para a<br />

mesma disciplina e para o mesmo nível. To<strong>do</strong>s os manuais ou quase to<strong>do</strong>s dizem então a<br />

mesma coisa, ou quase isso. <strong>Os</strong> conceitos ensina<strong>do</strong>s, a terminologia a<strong>do</strong>tada, a coleção <strong>de</strong><br />

rubricas e capítulos, a organização <strong>do</strong> corpus <strong>de</strong> conhecimentos, [...] (CHERVEL, 1990,<br />

p.203).<br />

Ainda afirma que os livros responsáveis em formar uma nova vulgata acompanham<br />

um manual ou conjunto <strong>de</strong> manuais inova<strong>do</strong>res. Desse mo<strong>do</strong>, é a partir <strong>de</strong>les que se constitui<br />

uma nova estandardização das sequências e organização didática <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s escolares.<br />

Mas pouco a pouco, um manual mais audacioso, ou mais sistemático, ou mais simples que os<br />

outros, <strong>de</strong>staca-se <strong>do</strong> conjunto, fixa os “novos méto<strong>do</strong>s”, ganha gradualmente os setores mais<br />

recua<strong>do</strong>s <strong>do</strong> território, e se impõe. É a ele que <strong>do</strong>ravante se imita, é ao re<strong>do</strong>r <strong>de</strong>le que se<br />

constitui a nova vulgata (CHERVEL, 1990, p. 204).<br />

Nessa perspectiva, analisamos sucintamente os livros didáticos trabalha<strong>do</strong>s no ensino<br />

<strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> <strong>do</strong> <strong>Curso</strong> <strong>Fundamental</strong> <strong>do</strong> Atheneu Sergipense. A investigação partiu <strong>de</strong><br />

indícios registra<strong>do</strong>s na Ata da Congregação, cuja contribuição nos aju<strong>do</strong>u na configuração<br />

<strong>de</strong>ssa disciplina escolar.<br />

No Atheneu Sergipense, anualmente, solicitava-se aos professores nas reuniões da<br />

Congregação, no início <strong>de</strong> cada ano letivo, a lista <strong>de</strong> livros didáticos que <strong>de</strong>veriam ser<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s em cada série das diversas disciplinas ministradas <strong>do</strong> curso secundário. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, encontramos na Ata da sessão extraordinária <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1937, uma relação <strong>de</strong><br />

livros aplica<strong>do</strong>s durante o prelúdio da Reforma Francisco Campos, entre eles, i<strong>de</strong>ntificou-se<br />

os <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong>, cuja indicação aponta para “qualquer, compendio <strong>de</strong> preferência Cecil<br />

Thiré e Munhoz Ma<strong>de</strong>r” (Ata da Congregação, 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1937).<br />

Nos registros das reuniões, datadas em 13 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1937 e 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1939, entre as <strong>de</strong>terminações <strong>do</strong> dia, localizou-se a pauta sobre a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> livros <strong>de</strong><br />

<strong>Matemática</strong> para os anos letivos <strong>de</strong> 1938 e 1939, cuja indicação apontava para as obras <strong>de</strong><br />

Agrícola Bethlem e Algacyr Munhoz Mea<strong>de</strong>r. Assim, percebemos que os professores <strong>de</strong><br />

<strong>Matemática</strong> <strong>do</strong> Atheneu Sergipense tinham uma preferência pelos livros didáticos <strong>de</strong> Cecil<br />

Thiré, Agrícola Bethlem e Algacir Munhoz Mea<strong>de</strong>r.<br />

Além <strong>de</strong>sses da<strong>do</strong>s, analisamos o Livro <strong>de</strong> frequência <strong>do</strong>s leitores da biblioteca <strong>do</strong><br />

Atheneu Sergipense, durante os anos <strong>de</strong> 1941 e 1942, os outros anos não foram encontra<strong>do</strong>s<br />

no arquivo da instituição. Durante os <strong>do</strong>is anos, verificamos que, entre os livros <strong>de</strong><br />

<strong>Matemática</strong> consulta<strong>do</strong>s, a gran<strong>de</strong> maioria a<strong>do</strong>tava para seus estu<strong>do</strong>s a autoria <strong>de</strong> Algacir<br />

Munhoz Mea<strong>de</strong>r.


Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong> História da <strong>Matemática</strong> 6<br />

No ano <strong>de</strong> 1941, foram registradas 45 consultas nos livros <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong>, sen<strong>do</strong> que<br />

41 <strong>de</strong>las nos didáticos <strong>de</strong> Algacir Munhoz Mea<strong>de</strong>r. Já em 1942, registrou-se um total <strong>de</strong> 56<br />

consultas, mas com 35 consultas referentes ao mesmo autor. Desse mo<strong>do</strong>, percebemos que os<br />

alunos <strong>do</strong> Atheneu Sergipense estudavam os conteú<strong>do</strong>s matemáticos nos livros sugeri<strong>do</strong>s<br />

pelos professores, mas quem seriam esses autores? De que tratavam suas obras? Elas<br />

encontravam-se em conformida<strong>de</strong> com a Reforma Francisco Campos?<br />

No entanto, esses questionamentos direcionaram nosso olhar para a compreensão que<br />

alguns autores tiveram ao analisar esses livros, a fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r que tipo <strong>de</strong><br />

ensinamentos matemáticos os alunos <strong>do</strong> Atheneu Sergipense apreendiam. Para tanto, o<br />

silêncio <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos nos fez investigar os trabalhos como <strong>de</strong> Braga (2006) e<br />

Valente (2004).<br />

Para Valente (2004), “a Reforma Francisco Campos ensejou a publicação <strong>de</strong> inúmeros<br />

livros didáticos para aten<strong>de</strong>r à criação da nova disciplina <strong>Matemática</strong>”. Naquele momento,<br />

vários professores-autores <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> São Paulo, <strong>do</strong> Paraná, <strong>de</strong>ntre outros esta<strong>do</strong>s,<br />

publicaram didáticos, coleções, cursos <strong>de</strong> matemática para aten<strong>de</strong>r as cinco séries <strong>do</strong> <strong>Curso</strong><br />

<strong>Fundamental</strong> (VALENTE, 2004, p. 3).<br />

Dentre os livros didáticos <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong>, as obras <strong>de</strong> Cecil Thiré e Mello e Souza,<br />

Jacomo Stávale, Algacyr Mae<strong>de</strong>r e Agricola Bethlem foram os exemplares mais vendi<strong>do</strong>s<br />

durante a Reforma Francisco Campos. No texto <strong>do</strong>s seus prefácios informavam ao leitor sobre<br />

a concordância com a legislação vigente.<br />

Quanto aos conteú<strong>do</strong>s didáticos, os livros foram cria<strong>do</strong>s para aten<strong>de</strong>r à Reforma<br />

Francisco Campos mediante as recomendações didático-pedagógicas inseridas nas Instruções<br />

Meto<strong>do</strong>lógicas, segun<strong>do</strong> as quatro categorias relativas ao méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> exposição <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s<br />

matemáticos.<br />

- a introdução <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> função, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira série <strong>do</strong> <strong>Curso</strong> <strong>Fundamental</strong>, e o seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento como conceito unifica<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s ramos matemáticos (Aritmética, Álgebra e<br />

Geometria);<br />

- um curso <strong>de</strong> Geometria Intuitiva que progressiva e articuladamente à Aritmética e à Álgebra<br />

caminharia para a Geometria Lógico-Dedutiva;<br />

- o uso <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> Heurístico para a introdução e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ensino;<br />

- a utilização <strong>de</strong> questões práticas, <strong>de</strong>finidas nas Instruções como „(...) as aplicações no<br />

<strong>do</strong>mínio das ciências físicas e naturais, bem como no campo da técnica, preferin<strong>do</strong>-se<br />

exemplos e problemas que interessem às cogitações <strong>do</strong>s alunos‟(VALENTE, 2004, p. 5).


Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong> História da <strong>Matemática</strong> 7<br />

Cabe ressaltar que Braga (2006) também chegou à mesma conclusão, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhar<br />

cada obra por meio da análise da apropriação <strong>do</strong> tema função pelos autores. Contu<strong>do</strong>, afirma<br />

“que os livros em si, mesmo ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s planos curriculares e das instruções pedagógicas,<br />

espelham uma imagem apenas parcial <strong>do</strong> que ocorre com a disciplina” (BRAGA, 2006, p.<br />

93).<br />

Para melhor entendimento, <strong>de</strong>screveremos sucintamente as obras utilizadas na<br />

instituição, durante as análises apreendidas, buscan<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>r como os livros<br />

apropriaram-se <strong>do</strong> i<strong>de</strong>ário das inovações matemáticas.<br />

<strong>Os</strong> livros didáticos <strong>de</strong> Cecil Thiré estavam representa<strong>do</strong>s por meio <strong>de</strong> duas coleções,<br />

sen<strong>do</strong> elas: a Coleção <strong>Matemática</strong> Cecil Thiré e Júlio César <strong>de</strong> Mello e Souza para a 1ª e 2ª<br />

séries e a Coleção Didática <strong>de</strong> Roxo, Souza e Thiré para o curso <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> da 3ª a 5ª<br />

séries.<br />

A primeira coleção dividia-se em <strong>do</strong>is livros e possuíam como autores Cecil Thiré e<br />

Júlio César <strong>de</strong> Mello e Souza (Malba Tahan) 3 , professores <strong>do</strong> Colégio Pedro II. Ao<br />

prefaciarem a <strong>Matemática</strong>, 1º ano, salientavam que a obra “atendia ao novo programa que<br />

recomendava a integração entre as diversas partes da matemática [...], sem a confusão <strong>de</strong><br />

assuntos”. Braga (2006) assevera que essa era a forma como os contesta<strong>do</strong>res da obra <strong>de</strong><br />

Roxo se referiam às conexões que ele fazia entre a aritmética, a álgebra e a geometria<br />

(BRAGA, 2006, p. 107).<br />

O volume <strong>Matemática</strong> <strong>do</strong> 2° Ano foi concebi<strong>do</strong> para ser utiliza<strong>do</strong> em plena vigência<br />

<strong>do</strong> programa da Reforma Francisco Campos, como alternativa ao compêndio escrito por<br />

Roxo. Esse livro correlacionava assuntos das diversas áreas da <strong>Matemática</strong>, cujo formato<br />

propiciava ao professor “<strong>de</strong>senvolver o curso da maneira que já estava habitua<strong>do</strong> antes da<br />

Reforma, sem a mediação inova<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> pensamento funcional”. Outro fato importante refere-<br />

se ao emprego da Geometria como “i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> movimento”, assim como “a utilização da<br />

intuição na apresentação <strong>do</strong>s conceitos”. Assim, o manual atendia em partes, os “princípios <strong>do</strong><br />

movimento mo<strong>de</strong>rniza<strong>do</strong>r, sem impor aos professores uma mudança radical <strong>de</strong> suas<br />

concepções” (BRAGA, 2006, p. 109).<br />

A segunda coleção dividia-se em três livros e tinha como autores Cecil Thiré, Júlio<br />

César <strong>de</strong> Mello e Souza e a inclusão da co-autoria <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s Roxo. Intitula<strong>do</strong>, <strong>Curso</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Matemática</strong>, 3° Ano, o livro trouxe na parte da Geometria, “uma preocupação menor com o<br />

3 Pseudônimo <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> nos livros por Júlio Cesar <strong>de</strong> Mello e Souza (1865-1974), autor nasci<strong>do</strong> no dia 06 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 1865, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Queluz, esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Sua formação como matemático, educa<strong>do</strong>r e escritor<br />

brasileiro contribuiu significativamente para o <strong>de</strong>senvolvimento da pedagogia da matemática. Para maiores<br />

informações consultar Oliveira (2001, p. 30-46).


Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong> História da <strong>Matemática</strong> 8<br />

rigor matemático” diferente <strong>do</strong> <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong>, 3ª série, II – Geometria. Nessa obra,<br />

“as concepções <strong>do</strong> movimento mo<strong>de</strong>rniza<strong>do</strong>r internacional, a 3ª série seria a i<strong>de</strong>al para<br />

acelerar <strong>de</strong> uma forma mais efetiva o processo <strong>de</strong> migração da geometria propedêutica<br />

intuitiva para a lógico-<strong>de</strong>dutiva” (BRAGA, 2006, p. 113-140).<br />

O livro <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong>, 4° Ano assumiu um substancial grau <strong>de</strong> concretização<br />

no ensino <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> <strong>do</strong> ensino secundário. Nesse senti<strong>do</strong>, esse volume aten<strong>de</strong>u aos<br />

pareceres recomenda<strong>do</strong>s pelas Instruções Pedagógicas da Reforma Francisco Campos.<br />

Contu<strong>do</strong>, o livro <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong>, 5° Ano, materializou “uma das concepções basilares<br />

<strong>do</strong> movimento internacional mo<strong>de</strong>rniza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> ensino da matemática escolar” que pretendia<br />

trazer para o curso secundário as “noções <strong>de</strong> Cálculo Infinitesimal” e a linguagem das funções<br />

estava presente em quase to<strong>do</strong> o texto. (BRAGA, 2006, p. 114).<br />

A Coleção didática <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong>-Agricola Bethlem, <strong>do</strong> engenheiro e bacharel em<br />

<strong>Matemática</strong> e Ciências Físicas, professor <strong>do</strong> Colégio Militar <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e tenente-<br />

coronel Agricola Bethlem, teve o seu primeiro volume <strong>de</strong> sua coleção publica<strong>do</strong>, em 1935.<br />

Dos seus cinco volumes, o livro da 1ª série aten<strong>de</strong>u às concepções manifestadas nas<br />

Instruções Pedagógicas da Reforma Francisco Campos quan<strong>do</strong> iniciou com o tema Geometria<br />

por um curso propedêutico intuitivo e experimental, entre outras características. O volume da<br />

2ª série iniciou também por Geometria. O seu primeiro capítulo <strong>de</strong>senvolveu-se nos ditames<br />

das Instruções Pedagógicas da Reforma Francisco Campos, embora o capítulo II apresentasse<br />

discrepâncias “entre seu conteú<strong>do</strong> e o nível <strong>de</strong> maturação <strong>de</strong> um aluno da 2ª série”, no que<br />

contrastava com o restante <strong>do</strong> manual “quanto ao atendimento das Instruções Pedagógicas da<br />

Reforma Francisco Campos” (BRAGA, 2006, p. 132-133).<br />

O volume da 3ª série foi “realiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira muito próxima ao padrão a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelos<br />

outros compêndios já analisa<strong>do</strong>s”. O volume da 4ª série o pensamento funcional voltou a ser<br />

explora<strong>do</strong> no estu<strong>do</strong> sobre o trinômio <strong>do</strong> 2º grau e no trato das funções exponenciais e<br />

circulares. Já o volume da 5ª série não foi encontra<strong>do</strong>. Dessa análise, ficava claro que a<br />

coleção <strong>de</strong> livros produzi<strong>do</strong>s por Agricola Bethlem não atendiam a to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>sígnios da<br />

Reforma Francisco Campos, principalmente nos seus primeiros volumes, por <strong>de</strong>monstrar “um<br />

enorme <strong>de</strong>scompasso entre a complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> e o nível <strong>de</strong> maturação intelectual <strong>do</strong><br />

aluno <strong>do</strong> curso secundário” (BRAGA, 2006, p. 133-134).<br />

Também chamada <strong>de</strong> Coleção Didática Algacyr Munhoz Mea<strong>de</strong>r, professor<br />

catedrático <strong>de</strong> Física da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia <strong>do</strong> Paraná e <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> <strong>do</strong> Ginásio<br />

Paranaense, publicou o seu primeiro volume <strong>de</strong> sua coleção, em 1934.


Anais <strong>do</strong> IX Seminário Nacional <strong>de</strong> História da <strong>Matemática</strong> 9<br />

Conforme Braga (2006), os livros da 1ª e 2ª séries evi<strong>de</strong>nciavam o empenho que o<br />

autor manteve em aten<strong>de</strong>r o programa <strong>do</strong> Colégio Pedro II. O conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> Aritmética era o<br />

tema inicial <strong>do</strong> compêndio <strong>do</strong> 1º ano. O estu<strong>do</strong> da Geometria era <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> as<br />

instruções meto<strong>do</strong>lógicas, ou seja, primeiramente a intuição, em seguida, o caráter lógico-<br />

<strong>de</strong>dutivo. Só a partir <strong>do</strong> 2º ano, é introduzida “a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> figuras”. Nos<br />

capítulos <strong>de</strong> Álgebra os conteú<strong>do</strong>s não estabelecem conexões com os outros ramos da<br />

<strong>Matemática</strong> (BRAGA, 2006, p. 128).<br />

Desse mo<strong>do</strong>, observou-se que to<strong>do</strong>s os livros sugeri<strong>do</strong>s e aplica<strong>do</strong>s pelos professores<br />

<strong>do</strong> Atheneu Sergipense atendiam aos ditames das Instruções Pedagógicas da Reforma<br />

Francisco Campos.<br />

Referências<br />

BRAGA, Ciro. Função: a alma <strong>do</strong> ensino <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong>. São Paulo: Annablume; Fapesp,<br />

2006.<br />

CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo <strong>de</strong><br />

pesquisa. In: Teoria e Educação, n. 2, 1990, p.177-229.<br />

JULIA, Dominique. A Cultura Escolar como objeto histórico. In: Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

História da Educação, n.1, jan/jun, p.9-43, 2001.<br />

LE GOFF, Jacques. História. In: História e Memória. 5. ed., Campinas, SP. Editora da<br />

UNICAMP, 2003.<br />

OLIVEIRA. Cristiane Coope <strong>de</strong>. Do menino “Julinho” a “Malba Tahan”: uma viagem pelo<br />

oásis <strong>do</strong> ensino da <strong>Matemática</strong>. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação <strong>Matemática</strong>).<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista - UNESP. Rio Claro/SP, 2001.<br />

OTONE E SILVA, M.C. A <strong>Matemática</strong> <strong>do</strong> <strong>Curso</strong> Complementar da Reforma Francisco<br />

Campos. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação <strong>Matemática</strong>). PUC/SP. São Paulo, 2006<br />

RIBEIRO, Denise Franco Capello. Dos cursos complementares aos cursos clássicos e<br />

científicos: a mudança na organização <strong>do</strong>s ensinos <strong>de</strong> matemática. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em<br />

Educação <strong>Matemática</strong>). PUC/SP, São Paulo, 2006.<br />

VALENTE, Wagner Rodrigues. <strong>Livros</strong> didáticos <strong>de</strong> matemática e as reformas Campos e<br />

Capanema. In: Anais <strong>do</strong> VIII Encontro Nacional <strong>de</strong> Educação <strong>Matemática</strong>. UFPE, Recife,<br />

2004.<br />

Fontes Manuscritas<br />

Livro <strong>de</strong> Atas da Congregação <strong>do</strong> Atheneu Sergipense (1916-1939)<br />

Livro <strong>de</strong> correspondências expedidas (1929-1932)<br />

Livro <strong>de</strong> freqüência <strong>do</strong>s leitores da biblioteca (1941-1942)

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