Novo Layout - 2008.p65 - Arquidiocese de Florianópolis
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2 Opinião<br />
“Escolhe, pois, a vida” (Dt<br />
30,19). Essa or<strong>de</strong>m está num discurso<br />
<strong>de</strong> Moisés ao povo <strong>de</strong> Israel<br />
- discurso que começa com a seguinte<br />
observação: “Estas são as<br />
palavras que o SENHOR mandou<br />
a Moisés fazer com os israelitas,<br />
na terra <strong>de</strong> Moab, além da aliança<br />
que com eles tinha feito no<br />
monte Horeb” (Dt 28,69). Entre<br />
outras coisas, Deus recorda ao<br />
povo que lhe havia feito uma proposta:<br />
escolher entre "a vida e a<br />
morte, a bênção e a maldição”.<br />
Como é o Deus da vida, or<strong>de</strong>na<br />
que a escolha seja feita em favor<br />
<strong>de</strong>la. A or<strong>de</strong>m: “Escolhe, pois, a<br />
vida” é o lema da Campanha da<br />
Fraternida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste ano.<br />
Po<strong>de</strong> parecer curioso mandar<br />
alguém escolher a vida. Dito isso<br />
em forma <strong>de</strong> pergunta: será que alguém<br />
seria capaz <strong>de</strong> escolher a<br />
morte em lugar da vida? Por incrível<br />
que pareça, a resposta é positiva.<br />
Aos que duvidarem disso, fica<br />
a sugestão para olharem a seu redor:<br />
a cada momento, em muitos<br />
lugares, a vida humana é<br />
“O verda<strong>de</strong>iro pastor é aquele<br />
que conhece também o caminho<br />
que passa pelo vale da morte;<br />
aquele que, mesmo na estrada<br />
da <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira solidão, on<strong>de</strong><br />
ninguém me po<strong>de</strong> acompanhar,<br />
caminha comigo servindo-me <strong>de</strong><br />
guia ao atravessá-la: ele mesmo<br />
percorreu essa estrada, <strong>de</strong>sceu<br />
ao reino da morte, venceu-a e<br />
voltou para nos acompanhar a<br />
nós agora e nos dar a certeza <strong>de</strong><br />
que, juntamente com ele, achase<br />
uma passagem. A certeza <strong>de</strong><br />
que existe aquele que, mesmo na<br />
morte, me acompanha e “com o<br />
seu bastão e o seu cajado me<br />
conforta”, <strong>de</strong> modo que “não <strong>de</strong>vo<br />
temer nenhum mal” (cf. Sal<br />
23[22],4): esta era a nova "esperança"<br />
que surgia na vida dos fiéis."<br />
(Carta Encíclica Spe Salvi, 6)<br />
Palavra Palavra do do Bispo Bispo Dom Dom Murilo Murilo S. S. R. R. Krieger<br />
Krieger<br />
Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ Arcebispo <strong>de</strong> <strong>Florianópolis</strong><br />
Escolhe a vida!<br />
ameaçada por escolhas contra ela.<br />
Ameaçada em seu início por causa<br />
do aborto e ameaçada em sua<br />
consumação, em vista da eutanásia.<br />
Entre esse início e esse fim, há<br />
toda uma sorte <strong>de</strong> expressões <strong>de</strong><br />
morte que já não chamam mais a<br />
atenção <strong>de</strong> muitos - quando muito,<br />
servem <strong>de</strong> matéria para as páginas<br />
policiais dos noticiários: homicídios,<br />
suicídios, mutilações, tormentos<br />
corporais ou mentais, tentativas<br />
para violentar as consciências,<br />
situações <strong>de</strong> vida infra-humana,<br />
prisões arbitrárias, prostituição,<br />
condições <strong>de</strong>gradantes <strong>de</strong> trabalho...<br />
Mesmo que quiséssemos fazer<br />
uma lista completa, não conseguiríamos,<br />
tantas são as situações<br />
<strong>de</strong> morte em nosso cotidiano.<br />
E, pior: seu número não pára<br />
<strong>de</strong> crescer. Tanto isso é verda<strong>de</strong><br />
que, como lembrava o saudoso<br />
Papa João Paulo II, a própria consciência<br />
humana está ficando condicionada<br />
por essa situação, a ponto<br />
<strong>de</strong> não mais perceber a distinção<br />
entre o bem e o mal (cf.<br />
Evangelium vitae, 4).<br />
Palavra Palavra do do Papa Papa Bent<br />
Bent<br />
Bento o XVI<br />
XVI<br />
Salvos pela esperança<br />
“Chegou o momento <strong>de</strong> nos<br />
colocarmos explicitamente a<br />
questão: para nós, hoje, a fé cristã<br />
é também uma esperança que<br />
transforma e sustenta a nossa<br />
vida? Para nós ela é "performativa"<br />
- uma mensagem que<br />
plasma <strong>de</strong> modo novo a própria<br />
vida - ou é simplesmente "informação"<br />
que, entretanto, pusemos<br />
<strong>de</strong> lado porque nos parece<br />
superada por informações mais<br />
recentes? (...) Queremos nós realmente<br />
isto: viver eternamente?<br />
Hoje, muitas pessoas rejeitam a<br />
fé, talvez simplesmente porque a<br />
vida eterna não lhes parece uma<br />
coisa <strong>de</strong>sejável. Não querem <strong>de</strong><br />
modo algum a vida eterna, mas<br />
a presente; antes, a fé na vida<br />
eterna parece, para tal fim, um<br />
obstáculo." (id., 10)<br />
“Para nós, hoje, a fé cristã é também<br />
uma esperança que transforma e<br />
sustenta a nossa vida?”<br />
Jornal Jornal da da Ar <strong>Arquidiocese</strong> Ar uidiocese <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Florianópolis</strong><br />
<strong>Florianópolis</strong><br />
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A Igreja, que recebeu <strong>de</strong> seu<br />
Fundador o Evangelho da Vida,<br />
para divulgá-lo por todo o mundo,<br />
não po<strong>de</strong> ficar indiferente ante<br />
essa situação. Cabe-lhe assumir a<br />
<strong>de</strong>fesa da vida - isto é, lutar contra<br />
todas as ameaças a esse dom fundamental.<br />
É uma luta difícil e, mesmo,<br />
inglória. Afinal, trata-se <strong>de</strong> ir<br />
contra a corrente, contra toda uma<br />
mentalida<strong>de</strong> que se espalha e é<br />
fortalecida, quer pela ação <strong>de</strong> grupos<br />
quer pela influência exercida<br />
pelos po<strong>de</strong>rosos meios <strong>de</strong> comunicação,<br />
mais preocupados com os<br />
lucros do que com princípios e valores.<br />
Essa mentalida<strong>de</strong>, marcada<br />
pelo individualismo e pelo<br />
relativismo, penetra tudo. Com<br />
isso, cai-se naquilo que o então<br />
Car<strong>de</strong>al Ratzinger chamava <strong>de</strong><br />
"medíocre pragmatismo" - isto é,<br />
proce<strong>de</strong>-se com normalida<strong>de</strong>,<br />
como se não houvesse outra opção<br />
a fazer, como se fosse normal<br />
seguir uma cultura sem Deus e<br />
sem seus mandamentos. Conseqüência:<br />
"a fé vai se <strong>de</strong>sgastando<br />
e <strong>de</strong>generando em mesquinhez"<br />
(Guadalajara, México, 1996).<br />
“Escolhe, pois, a vida”. Trata-se<br />
<strong>de</strong> escolher Jesus Cristo como centro<br />
<strong>de</strong> nossa vida, como ponto <strong>de</strong><br />
partida para qualquer <strong>de</strong>cisão.<br />
Aceitá-lo significa não abraçar uma<br />
idéia, um princípio ético, mas acolher<br />
sua Pessoa, "que dá um novo<br />
horizonte à vida e, com isso, uma<br />
orientação <strong>de</strong>cisiva" (cf. Bento XVI,<br />
Deus caritas est, 1).<br />
Ouvir os apelos da CF 2008 e<br />
escolher a vida significará, concretamente,<br />
valorizar cada pessoa;<br />
fortalecer a família; fomentar a<br />
cultura da vida; <strong>de</strong>senvolver nas<br />
pessoas a consciência crítica diante<br />
das estruturas que geram a<br />
morte; propor e apoiar políticas<br />
públicas que garantam a promoção<br />
e <strong>de</strong>fesa da vida; crescer na<br />
fé, vivida como amor a Deus e<br />
amor aos irmãos etc.<br />
Como po<strong>de</strong>mos ver, além <strong>de</strong> nos<br />
inquietar, essa Campanha da<br />
Fraternida<strong>de</strong> coloca-nos diante <strong>de</strong><br />
imensos <strong>de</strong>safios. Motive-nos e fortaleça-nos<br />
nas horas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão a<br />
or<strong>de</strong>m do SENHOR: Escolhe a vida!<br />
Janeiro/Fevereiro 2008 Jornal da <strong>Arquidiocese</strong><br />
“<br />
Ouvir os<br />
apelos da<br />
CF 2008<br />
significará<br />
valorizar cada<br />
pessoa;<br />
fortalecer a<br />
família;<br />
fomentar a<br />
cultura<br />
da vida”<br />
Deus: Ópio, Dinamite ou Vida dos Povos?<br />
Os fundamentalismos atuais<br />
fazem da religião um veículo <strong>de</strong><br />
intransigência e violência. Diante<br />
da história <strong>de</strong> povos, on<strong>de</strong> a<br />
conquista da terra e da nacionalida<strong>de</strong><br />
dá-se em nome <strong>de</strong> Deus,<br />
surge a pergunta: religião e Deus<br />
são veículos da violência? Qual<br />
a diferença entre um crente e um<br />
ateu ao atirarem uma granada<br />
ou explodirem uma bomba?<br />
O mercado editorial oferece<br />
forte literatura on<strong>de</strong> Deus aparece<br />
como <strong>de</strong>lírio, fraqueza, inutilida<strong>de</strong>,<br />
on<strong>de</strong> a religião é acusada<br />
<strong>de</strong> sempre ser veículo <strong>de</strong> sofrimento<br />
e jamais ter feito algo <strong>de</strong><br />
bom na história dos povos. De<br />
modo particular são atacadas as<br />
religiões monoteístas (judaísmo,<br />
cristianismo e islamismo) por seu<br />
presumido fanatismo em torno <strong>de</strong><br />
um único Deus verda<strong>de</strong>iro e ataque<br />
sistemático aos que crêem<br />
<strong>de</strong> outra forma, ou não crêem.<br />
Quando se fala em<br />
monoteísmo (fé num único<br />
Deus) <strong>de</strong>ve-se estar atento às<br />
generalizações: é um único<br />
Deus, mas sua narração e<br />
vivência são substancialmente<br />
diferentes. Não nos compete<br />
analisar o conteúdo da fé <strong>de</strong> um<br />
ju<strong>de</strong>u ou <strong>de</strong> um muçulmano,<br />
mas, temos a obrigação, sim, <strong>de</strong><br />
dizer que nosso Deus é o Deus<br />
anunciado por Jesus Cristo, é o<br />
Deus que se faz fraco para que<br />
sejamos fortes, é o Deus retratado<br />
por Jesus na parábola do<br />
filho pródigo. E, para escândalo<br />
<strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us, muçulmanos e doutores,<br />
é o Deus Pai que entrega<br />
seu Filho por nós numa cruz.<br />
Em Jesus encarnado, rompeu-se<br />
o muro <strong>de</strong> separação entre<br />
o mundo divino e o humano,<br />
entre o ser humano e o ser divino:<br />
o homem é semelhante a<br />
Deus porque Deus é semelhante<br />
ao homem (Clemente <strong>de</strong><br />
Alexandria). Gregório <strong>de</strong> Nissa<br />
escreveu, <strong>de</strong>pois: o Homem é a<br />
face humana <strong>de</strong> Deus. O homem<br />
violento cria um Deus violento,<br />
mas não é o Deus da Revelação,<br />
que ama seu povo e se abre em<br />
seu amor a todos os povos, o<br />
Deus materno cujas vísceras fremem<br />
<strong>de</strong> emoção por nós.<br />
No momento em que ju<strong>de</strong>us<br />
ocupam a terra <strong>de</strong> Israel em<br />
nome <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>la expulsando<br />
palestinos; no momento em que<br />
muçulmanos se explo<strong>de</strong>m em<br />
nome <strong>de</strong> Alá; quando cristãos<br />
participam <strong>de</strong> expedições conquistadoras<br />
como se fossem<br />
missionárias estão agindo em<br />
nome <strong>de</strong> um <strong>de</strong>us que fabricaram<br />
à sua imagem e semelhança.<br />
Aqui não entra Deus, mas o<br />
homem que se <strong>de</strong>clara <strong>de</strong>us.<br />
O Primeiro Testamento se<br />
completa com o Segundo, com<br />
Jesus, Luz que ilumina todas as<br />
Escrituras. Jesus, palavra <strong>de</strong>finitiva<br />
e rosto do Deus vivo, operou<br />
quatro rupturas na religião do AT,<br />
abrindo a religião para uma dimensão<br />
tão oposta que os primeiros<br />
cristãos foram acusados<br />
<strong>de</strong> "ateus" : a passagem dos laços<br />
<strong>de</strong> sangue para a universalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fazer-se próximo; o <strong>de</strong>slocamento<br />
da presença <strong>de</strong> Deus<br />
num templo <strong>de</strong> pedra para o corpo<br />
do irmão; a dilatação do horizonte<br />
espiritual da terra <strong>de</strong> Israel<br />
ao mundo inteiro; a transformação<br />
do po<strong>de</strong>r em serviço através<br />
da distinção entre o que é<br />
<strong>de</strong> César e o que é <strong>de</strong> Deus.<br />
Tudo isso recebe uma chave<br />
<strong>de</strong> compreensão: o amor. E Cristo<br />
oferece uma arma fatal para<br />
acabar com a violência e para<br />
discernir <strong>de</strong> que lado está Deus:<br />
o amor ao inimigo.<br />
E, como cristãos, temos a fórmula<br />
que sintetiza o Amor<br />
trinitário: "O Pai é o Amor que<br />
crucifica, o Filho é o Amor crucificado<br />
e o Espírito Santo é a força<br />
invencível da Cruz" (Filarete <strong>de</strong><br />
Moscou - 1783-1867).<br />
P PPe.<br />
P e. José José Ar Artulino Ar tulino Besen<br />
Besen<br />
Diretor e Revisor: Pe. Ney Brasil Pereira - Conselho Editorial: Dom Murilo S. R. Krieger, Dom José Negri,<br />
Pe. Carlos Rogério Groh, Pe. José Artulino Besen, Pe. Vitor Galdino Feller, Ir. Marlene Bertoldi, Cleber <strong>de</strong><br />
Oliveira Rodrigues, Carlos Martendal e Fernando Anísio Batista - Jornalista Responsável: Zulmar Faustino<br />
- SC 01224 JP - Departamento <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>: Pe. Francisco Rohling - Editoração e Fotos: Zulmar<br />
Faustino - Distribuição: Juarez João Pereira - Impressão e Fotolitos: Gráfica Rio Sul