Novo Layout - 2008.p65 - Arquidiocese de Florianópolis
Novo Layout - 2008.p65 - Arquidiocese de Florianópolis
Novo Layout - 2008.p65 - Arquidiocese de Florianópolis
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
6 Bíblia<br />
Salmos 5 e 6: Ó meu Rei e meu Deus!<br />
É conhecida a profissão <strong>de</strong> fé<br />
<strong>de</strong> Tomé diante do Senhor ressuscitado:<br />
Meu Senhor e meu Deus!<br />
(Jo 20,28) Saída da boca do Apóstolo<br />
naquele momento excepcional,<br />
em que, por força da evidência,<br />
caíram-lhe por terra todas as<br />
dúvidas, essa mesma invocação a<br />
encontramos no Sl 35,23, na boca<br />
do salmista perseguido, acusado<br />
injustamente, que grita a Deus por<br />
socorro e assim o invoca: Defen<strong>de</strong>me,<br />
Senhor, segundo a tua justiça,<br />
meu Senhor e meu Deus! No Salmo<br />
5, que hoje queremos comentar,<br />
é também um inocente perseguido<br />
que pe<strong>de</strong> socorro e que, logo<br />
no início do salmo, invoca o Senhor<br />
proclamando-o, <strong>de</strong> maneira muito<br />
pessoal, seu Rei e seu Deus: Escuta,<br />
Senhor, as minhas palavras...<br />
fica atento à voz da minha prece,<br />
meu Rei e meu Deus! (Sl 5,2-3). Por<br />
que essa invocação a Deus como<br />
"Rei"? Mas vejamos o texto integral<br />
do salmo, na tradução da CNBB:<br />
SALMO 5<br />
Deus salva o inocente<br />
1... 2. Escuta, Senhor, as minhas<br />
palavras, aten<strong>de</strong> ao meu<br />
clamor; / 3. fica atento à voz da<br />
minha prece, meu Rei e meu<br />
Deus! 4. Pois a ti suplico, Senhor,<br />
já <strong>de</strong> manhã ouves a minha<br />
voz, bem cedo te invoco e<br />
fico esperando. / 5. Pois não és<br />
um Deus que gosta da malda<strong>de</strong>:<br />
o mau não encontra em ti<br />
acolhida; / 6. os insolentes não<br />
agüentam ficar na tua presença.<br />
/ 7. O<strong>de</strong>ias todos os que fazem<br />
o mal, <strong>de</strong>stróis os que falam<br />
mentira. O Senhor abomina<br />
quem <strong>de</strong>rrama sangue ou<br />
comete frau<strong>de</strong>. 8. Eu, porém,<br />
confiado na tua gran<strong>de</strong> bonda<strong>de</strong><br />
entro em tua casa, me prostro<br />
diante do teu santo templo,<br />
no teu temor. / 9. Senhor, guiame<br />
na tua justiça! Por causa dos<br />
meus inimigos aplana à minha<br />
frente o teu caminho. / 10. Pois<br />
não existe na boca <strong>de</strong>les sincerida<strong>de</strong>,<br />
seu coração é perverso,<br />
sua garganta é um sepulcro<br />
aberto, usam a língua com falsida<strong>de</strong>.<br />
/ 11. Castiga-os, ó Deus!<br />
Que fracassem os seus planos,<br />
em razão <strong>de</strong> seus muitos crimes<br />
rejeita-os, já que se revoltam<br />
contra ti. 12. Mas que se alegrem<br />
todos os que em ti se refugiam,<br />
exultem para sempre. /<br />
Tu os proteges e em ti se<br />
rejubilem os que amam o teu<br />
nome. / 13. Pois abençoas o justo,<br />
ó Senhor; como um escudo<br />
o cobre tua bonda<strong>de</strong>.<br />
Falar com Deus<br />
O livro do Êxodo diz que o Senhor<br />
falava com Moisés "face a<br />
face", e "como alguém que fala<br />
com seu amigo" (Ex 33,11, e<br />
também Dt 34,10). Ora, os salmos<br />
<strong>de</strong> certo modo <strong>de</strong>mocratizam<br />
essa experiência: ensinamnos<br />
a tratar com Deus face a<br />
face, “como alguém que fala<br />
com seu amigo”, cada um <strong>de</strong><br />
nós também! Assim os salmos,<br />
no seu conjunto, antecipam a<br />
experiência <strong>de</strong> Jesus falando<br />
com o Pai, experiência que Ele<br />
não guardou para si mas a repassou<br />
para nós. É verda<strong>de</strong> que<br />
não são precisas muitas palavras,<br />
como o próprio Senhor Jesus<br />
nos advertiu ao ensinar o<br />
Pai-nosso: Vosso Pai sabe do<br />
que ten<strong>de</strong>s necessida<strong>de</strong>, antes<br />
mesmo <strong>de</strong> lho pedir<strong>de</strong>s (Mt 6,8).<br />
Nesse sentido, os salmos seriam<br />
dispensáveis. Mas não o<br />
são exatamente porque, inspirados,<br />
estimulam-nos e ajudamnos<br />
a orar. Como observou Santo<br />
Agostinho. “Se o salmo ora,<br />
orai; se geme, gemei... Tudo o<br />
que aí se escreve, é espelho que<br />
nos reflete”, reflete a nossa própria<br />
situação e ao mesmo tempo<br />
nos estimula para semelhante<br />
experiência <strong>de</strong> fé.<br />
Conhecendo Conhecendo o o livro livro dos dos Salmos Salmos (3)<br />
(3)<br />
Por que "meu Rei"?<br />
Acusado por falsas testemunhas<br />
(cf versículos 7, 9-11), o<br />
salmista está em perigo <strong>de</strong> ser<br />
con<strong>de</strong>nado. A <strong>de</strong>cisão se dará<br />
no dia seguinte (v. 4). Ele entrará<br />
no Templo, junto com os acusadores<br />
(vv. 6.8.11). Lá vai<br />
aguardar a sentença, que ele<br />
espera seja favorável (v.4). É<br />
nessa circunstância que ele<br />
abre seu coração diante <strong>de</strong><br />
Deus e o invoca como seu "Rei".<br />
Por quê? Porque o título <strong>de</strong> Rei<br />
inclui o po<strong>de</strong>r judicial, que no<br />
antigo Israel não era separado<br />
do po<strong>de</strong>r executivo. Uma das<br />
qualida<strong>de</strong>s fundamentais do rei<br />
i<strong>de</strong>al, messiânico, segundo<br />
Isaías, era exatamente a <strong>de</strong> “julgar<br />
com justiça” (Is 11,4-5). Da<br />
mesma forma, o Salmo 72 afirma<br />
que ao rei compete “governar<br />
o povo com justiça” (Sl<br />
72,2). Por isso, invocar a Deus<br />
como Rei implicava a certeza da<br />
sua intervenção justiceira, justa,<br />
fazendo justiça.<br />
Repressão e castigo<br />
O perigo mortal que lhe traz<br />
a calúnia <strong>de</strong> seus adversários,<br />
leva o salmista a não medir pa-<br />
lavras contra eles. Eles são insolentes,<br />
e não agüentam permanecer<br />
na presença <strong>de</strong> Deus<br />
(v.6); <strong>de</strong>rramam sangue e cometem<br />
frau<strong>de</strong>s (v.7); não existe<br />
na boca <strong>de</strong>les sincerida<strong>de</strong>,<br />
seu coração é perverso, sua<br />
garganta é um sepulcro aberto<br />
(v.10). Por isso, merecem que<br />
Deus os castigue, e seus planos<br />
fracassem (v. 11)... Como<br />
rezar <strong>de</strong> modo cristão este salmo?<br />
Ilumina-nos o exemplo <strong>de</strong><br />
Cristo, segundo o que nos recorda<br />
a primeira carta <strong>de</strong><br />
Pedro: Quando injuriado, não<br />
revidava; ao sofrer, não ameaçava;<br />
antes, punha a sua causa<br />
nas mãos daquele que julga<br />
com justiça (1Pd 2,23). A exemplo<br />
do seu Mestre, o cristão perseguido,<br />
caluniado, mesmo julgado<br />
injustamente, po<strong>de</strong> fazer<br />
sua a oração do salmista, embora<br />
pedindo antes a conversão<br />
do que o castigo dos malvados.<br />
SALMO 6<br />
Súplica <strong>de</strong> um enfermo<br />
1... 2. Senhor, não me repreendas<br />
em tua ira, não me castigues<br />
em tua indignação. / 3.<br />
Tem pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim, Senhor,<br />
pois perdi as forças! Cura-me,<br />
Senhor, pois meus ossos estão<br />
abalados / 4. e minha alma<br />
está aflita ao extremo. Mas tu,<br />
Senhor, até quando? / 5. Volta,<br />
Senhor, livra minha alma,<br />
salva-me em tua bonda<strong>de</strong>! / 6.<br />
Pois na morte ninguém se lembra<br />
<strong>de</strong> ti: quem te louvará na<br />
mansão dos mortos? / 7. Meu<br />
gemido me faz <strong>de</strong>sfalecer, inundo<br />
<strong>de</strong> pranto meu catre toda a<br />
noite, e banho <strong>de</strong> lágrimas meu<br />
leito. / 8. A tristeza perturba<br />
meus olhos, já envelheço entre<br />
tantos inimigos. / 9. Afastai-vos<br />
<strong>de</strong> mim, todos vós que praticais<br />
a iniqüida<strong>de</strong>, pois o Senhor ouviu<br />
a voz do meu pranto. / 10.<br />
O Senhor ouviu a minha súplica,<br />
o Senhor acolheu minha<br />
oração. / 11. Fiquem confusos<br />
e conturbados todos os meus<br />
inimigos, voltem para trás num<br />
instante e se retirem.<br />
Vida e saú<strong>de</strong><br />
É sabido como se dá o <strong>de</strong>vido<br />
valor à saú<strong>de</strong> só quando se<br />
está doente. Da mesma forma,<br />
só se percebe a preciosida<strong>de</strong> do<br />
tesouro que é a vida quando se<br />
sente a proximida<strong>de</strong> da morte.<br />
Faça como Rosa Maria Souza Bento, <strong>de</strong> Garopaba, escreva para o Jornal da <strong>Arquidiocese</strong>,<br />
responda as questões <strong>de</strong>sta página e participe do sorteio <strong>de</strong> uma Bíblia, doada por CRUZ ARTE<br />
SACRA - Livros e Objetos Religiosos Católicos (48-9983-4592). Jornal da <strong>Arquidiocese</strong>: rua Esteves<br />
Júnior, 447 - Centro - <strong>Florianópolis</strong>-SC, 88015-530, ou pelo e-mail: jornal@arquifloripa.org.br<br />
Janeiro/Fevereiro 2008 Jornal da <strong>Arquidiocese</strong><br />
O autor do salmo, naturalmente<br />
numa época em que os recursos<br />
da medicina eram precários, tem<br />
espontaneamente a consciência<br />
<strong>de</strong> que a vida e a saú<strong>de</strong> são dons<br />
que o ultrapassam, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong> Alguém superior a ele,<br />
Alguém que é o Senhor <strong>de</strong> tudo,<br />
Senhor também <strong>de</strong>sses dons! É<br />
por isso que, em apenas onze<br />
versículos, o nome do Senhor<br />
aparece oito vezes e os pedidos<br />
se multiplicam: não me repreendas,<br />
não me castigues (v. 2), tem<br />
pieda<strong>de</strong>, cura-me (v. 3), volta, livra<br />
minha alma, salva-me (v. 5)...<br />
Quem são<br />
os inimigos?<br />
Mencionados no v. 8, sendo<br />
aí quantificados como “tantos”,<br />
ou seja, numerosos, o salmista<br />
os qualifica <strong>de</strong> “malfeitores”,<br />
praticantes da iniqüida<strong>de</strong> (v.9),<br />
e termina fazendo uma imprecação<br />
contra eles: fiquem confusos<br />
e conturbados, voltem para trás<br />
e sumam da sua vista, agora que<br />
ele está restabelecido (v. 11). Afinal,<br />
quem são eles? Seriam rivais<br />
ou invejosos, torcendo pela<br />
morte do enfermo, interessados<br />
em apo<strong>de</strong>rar-se <strong>de</strong> seus bens?<br />
O fato é que o salmista, afinal,<br />
canta vitória sobre eles, ao sentir-se<br />
curado: O Senhor ouviu a<br />
minha súplica, o Senhor acolheu<br />
minha oração (v. 10). Com os<br />
inimigos externos, somem também,<br />
agora, a dor, a angústia, o<br />
medo: é a vitória da vida. Ainda<br />
quanto aos "inimigos", a releitura<br />
cristã do salmo não po<strong>de</strong> ignorar<br />
o claro ensinamento do Senhor<br />
Jesus sobre a superação da<br />
<strong>de</strong>sforra, ódio, vingança: Amai os<br />
vossos inimigos e fazei o bem<br />
aos que vos o<strong>de</strong>iam (Lc 6,27; cf<br />
Mt 5,44).<br />
Pe. e. Ne Ney Ne y Brasil Brasil P PPereira<br />
PP<br />
ereira<br />
Professor <strong>de</strong> Exegese Bíblica no ITESC<br />
Para Para Para refletir:<br />
refletir:<br />
1) 1) Como é que os salmos<br />
nos ensinam a "falar com<br />
Deus"?<br />
2) 2) Por que o orante do Salmo<br />
5 invoca a Deus como<br />
"meu Rei"?<br />
3) 3) Como o salmista, também<br />
o cristão po<strong>de</strong> pedir o castigo<br />
dos malvados?<br />
4) 4) Que chama mais a atenção<br />
<strong>de</strong> você no Salmo 6, a<br />
"súplica <strong>de</strong> um enfermo"?<br />
5) 5) Quem são os "inimigos"<br />
do orante do Salmo 6, e<br />
como ele os trata?