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Piratas em Buarcos. Digressão épica na Oração de Sapiência do P ...

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PIRATAS EM BUARCOS 241<br />

sécs. XIII e XIV assist<strong>em</strong> a uma renovação <strong>na</strong> arte <strong>de</strong> pregar que valorizará o<br />

ex<strong>em</strong>plum <strong>na</strong>rrativo <strong>em</strong> que a história, e não o sujeito, constitui o centro das<br />

atenções, um ex<strong>em</strong>plum acessível às massas, proposto como história edificante<br />

e instrumento <strong>de</strong> salvação.<br />

Nas orações <strong>de</strong> <strong>Sapiência</strong> <strong>do</strong> séc. XVI verificamos o mesmo gosto pelo<br />

recurso aos ex<strong>em</strong>pla que a Cultura <strong>de</strong> Contra Reforma favorece, não só <strong>na</strong> edição<br />

<strong>de</strong> colecções <strong>de</strong> sentenças e ex<strong>em</strong>pla <strong>do</strong>s clássicos tão gratas aos humanistas,<br />

mas também <strong>na</strong> reedição das velhas summae que recolhiam ex<strong>em</strong>pla isola<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> seu contexto literário, para <strong>do</strong>tar os prega<strong>do</strong>res <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> trabalho<br />

mais eficazes 34 . Nestas orações, porém, os ex<strong>em</strong>pla que encontramos são <strong>na</strong> sua<br />

maioria <strong>de</strong> fonte clássica e constitu<strong>em</strong> breves episódios, por vezes, mesmo,<br />

uma breve referência nomi<strong>na</strong>l e pouco mais, expurga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> qualquer contributo<br />

pessoal <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r <strong>na</strong> sua apresentação. Este recurso literário cumpria ape<strong>na</strong>s a<br />

sua missão <strong>de</strong> enriquecer e evitar a monotonia <strong>do</strong> louvor das discipli<strong>na</strong>s, conferir<br />

autorida<strong>de</strong> à argumentação, mostrar a erudição <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r e instruir o ouvinte.<br />

Neste momento a criação literária, longe ainda <strong>do</strong> mito romântico da<br />

origi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> um 'effet <strong>de</strong> rèpètition,' <strong>na</strong> expressão <strong>de</strong> Fumaroli 35 ,<br />

da procura <strong>de</strong> novas formas expressivas reinterpretadas, s<strong>em</strong>pre voltadas para<br />

os mo<strong>de</strong>los clássicos da época. Apresença <strong>de</strong>stes mo<strong>de</strong>los no texto <strong>de</strong> F. Macha<strong>do</strong><br />

é ainda visível, não só <strong>na</strong> mundividência humanista geral que revela, mas mesmo<br />

no excerto <strong>em</strong> causa, cuja harmonia discursiva <strong>de</strong>corre das repetições, antíteses,<br />

assonâncias, <strong>do</strong> paralelismo simétrico das construções, um <strong>do</strong>s traços mais<br />

característicos <strong>do</strong> estilo ciceroniano 36 , <strong>de</strong>ntro das normas <strong>do</strong> equilíbrio e da<br />

brevida<strong>de</strong>.<br />

Não pod<strong>em</strong>os, porém, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ver neste texto marcas <strong>de</strong> novas<br />

tendências <strong>na</strong> hierarquização <strong>do</strong>s critérios <strong>de</strong> produção literária. Desvian<strong>do</strong>-se<br />

da função <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente didáctica <strong>de</strong>stes exercícios retóricos, Macha<strong>do</strong> opta<br />

pela 'amplificação' <strong>do</strong> ex<strong>em</strong>plum <strong>em</strong> <strong>na</strong>rrativa e <strong>de</strong>le faz uso no contexto <strong>de</strong><br />

uma retórica <strong>de</strong> persuasão dirigida ao pathos, insistin<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> no <strong>de</strong>lectare<br />

e também no mouere, "apelo aristotélico à afectivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> auditório" 37 . A<br />

<strong>de</strong>scrição intensamente <strong>em</strong>otiva que Macha<strong>do</strong> faz neste excerto, b<strong>em</strong> como as<br />

«DELCORNO, op. cit. ρ 14.<br />

35 FUMAROLI, Marc, ρ 46.<br />

3f 'Cfr. LAURAND, Étu<strong>de</strong>s sur le style <strong>de</strong>s Discours <strong>de</strong> Cicéron, Paris, 1926, Tomo II, pp<br />

126-135.<br />

"LEGOFF, op. cit.p 12.<br />

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