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Piratas em Buarcos. Digressão épica na Oração de Sapiência do P ...

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242 CARLOTA MIRANDA URBANO<br />

invectivas e as interrogações que lança, são claramente dirigidas à moção <strong>do</strong>s<br />

afectos <strong>do</strong>s que o ouv<strong>em</strong> 38 . A apresentação <strong>de</strong> tom épico <strong>do</strong> exército da Sabe<strong>do</strong>ria<br />

não serve ape<strong>na</strong>s a argumentação <strong>do</strong> seu valor inexcedível mas serve também a<br />

curiosida<strong>de</strong> <strong>do</strong> auditório que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>leitar-se e <strong>de</strong>ixar voar.a imagi<strong>na</strong>ção pelo<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>do</strong> exército que quase vê combater e <strong>em</strong> que eventualmente<br />

participou 39 .<br />

Pensamos que resulta <strong>de</strong>stas novas tendências também o surpreen<strong>de</strong>nte<br />

entusiasmo e o <strong>em</strong>penho que Macha<strong>do</strong> revela pela sua cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>. Ele<br />

não só recorre a figuras <strong>do</strong> seu t<strong>em</strong>po para referir como ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros<br />

cultores da sabe<strong>do</strong>ria — é o caso <strong>do</strong> Tycho Brahe 40 — como se serve <strong>de</strong> acontecimentos<br />

que envolveram a Acad<strong>em</strong>ia para os usar como ex<strong>em</strong>pla, <strong>de</strong> que este<br />

episódio que a<strong>na</strong>lisámos constitui <strong>de</strong>certo o caso mais curioso 41 .<br />

A opção <strong>de</strong> Francisco Macha<strong>do</strong> pelo recurso, <strong>na</strong> argumentatio, aos factos<br />

cont<strong>em</strong>porâneos que tor<strong>na</strong>m o seu exercício retórico a vários títulos interessante,<br />

não só contribui mo<strong>de</strong>stamente para o conhecimento da cultura e da história <strong>do</strong><br />

seu t<strong>em</strong>po, mas é revela<strong>do</strong>ra daquelas tendências. A apresentação exclusiva <strong>do</strong><br />

38 Têm especial efeito neste objectivo a repetição <strong>de</strong> uma frase ou <strong>de</strong> perguntas.<br />

39 O paralelo <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo ora<strong>do</strong>r, entre o reitor e os estudantes, por um la<strong>do</strong>, e o<br />

general com seu exército por outro, não é <strong>em</strong> absoluto fruto da criativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r, pois a<br />

Universida<strong>de</strong> apresentava, neste t<strong>em</strong>po, um carácter militar que já não encontramos <strong>na</strong> outras<br />

Universida<strong>de</strong>s da Europa <strong>de</strong>pois da organização <strong>do</strong>s exércitos permanentes. Vi<strong>de</strong> BRAGA, Teófilo,<br />

Historia da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, Tomo II, 1895 pp 489-490 .<br />

Não é a primeira vez que a Acad<strong>em</strong>ia presta auxílio militar: ST S MARIA, Nicolau <strong>de</strong>, op.<br />

cit. Livro IX p. 392 dá test<strong>em</strong>unho <strong>do</strong> socorro que a Universida<strong>de</strong> se presta a levar, sob o coman<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> reitor D. Afonso Furta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Men<strong>do</strong>nça às gentes <strong>de</strong> <strong>Buarcos</strong> por ocasião <strong>de</strong> um ataque a <strong>Buarcos</strong><br />

<strong>de</strong> "huns ingrezes, hereges & ladrões" <strong>em</strong> 1602.<br />

T<strong>em</strong>os notícias <strong>de</strong> outras activida<strong>de</strong>s militares <strong>do</strong> Reitor com estudantes <strong>na</strong> consolidação<br />

da Restauração da In<strong>de</strong>pendência: GOMES, Joaquim Ferreira, <strong>em</strong> Estu<strong>do</strong>s para a História da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, Coimbra, 1991, diz-nos que <strong>em</strong> 1640 o Reitor Manuel Saldanha comanda<br />

um batalhão <strong>de</strong> 630 estudantes para o Alentejo, e r<strong>em</strong>ete-nos para FIGUEIROA, Francisco Carneiro,<br />

M<strong>em</strong>órias da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, 1937, pp 135 e ss.<br />

40 Ao contrário <strong>de</strong> outros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação à Sabe<strong>do</strong>ria <strong>na</strong>s suas várias discipli<strong>na</strong>s,<br />

Tycho Brahe não é um clássico, mas um cont<strong>em</strong>porâneo <strong>de</strong> Francisco Macha<strong>do</strong> (n. 1546, f. 1601).<br />

Este astrónomo di<strong>na</strong>marquês, notável hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ciência <strong>do</strong>s fi<strong>na</strong>is <strong>do</strong> séc. XVI, sob o mece<strong>na</strong>to <strong>de</strong><br />

Fre<strong>de</strong>rico II da Di<strong>na</strong>marca construiu um observatório astronómico no seu castelo <strong>de</strong> Uraniburgo<br />

on<strong>de</strong> ensinou por <strong>do</strong>ze anos, até que o sucessor <strong>do</strong> seu Mece<strong>na</strong>s lhe retirou a pensão anual, obrigan<strong>do</strong>-<br />

-o assim a retirar-se para a Al<strong>em</strong>anha. O seu intenso trabalho <strong>de</strong> observação proporcionou avanços<br />

consi<strong>de</strong>ráveis no campo da Astronomia.<br />

41 No seu texto encontramos outras referências ao t<strong>em</strong>po cronológico da oração. Ε o caso,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, das referências à participação <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> Coimbra <strong>na</strong> Junta <strong>do</strong>s prela<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

Tomar contra o Judaísmo que i<strong>na</strong>ugurou as suas sessões <strong>em</strong> Maio <strong>de</strong> 1629, ou ainda à polémica e<br />

arrastada questão <strong>do</strong> pagamento das rendas da Universida<strong>de</strong> às Escolas Menores, ou Colégio das<br />

Artes, on<strong>de</strong> o R Francisco Macha<strong>do</strong> era mestre.

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