19.04.2013 Views

vi-004 - aproveitamento dos subprodutos de destilarias de

vi-004 - aproveitamento dos subprodutos de destilarias de

vi-004 - aproveitamento dos subprodutos de destilarias de

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

XXVII Congresso Interamericano <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

VI-<strong>004</strong> - APROVEITAMENTO DOS SUBPRODUTOS DE DESTILARIAS DE<br />

ALCOOL PARA PROTEGER O MEIO AMBIENTE E AUMENTAR A<br />

RENTABILIDADE<br />

Adrianus van Haan<strong>de</strong>l (1)<br />

Professor do Depto. <strong>de</strong> Engenharia Ci<strong>vi</strong>l da UFPB em Campina Gran<strong>de</strong>. Doutorada (Eng.<br />

Civ) na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cape Town - África do Sul e Pós-doutorado em Engenharia<br />

Ambiental na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Wageningen - Holanda.<br />

En<strong>de</strong>reço (1) : Rua Dr. Francisco Pinto. 610 - Bodocongó - Campina Gran<strong>de</strong> - PB - CEP: 58109<br />

-783 - Brasil - e-mail: prosab@cgnet.com.br<br />

RESUMO<br />

Des<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 70, o Brasil mantém um programa <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> álcool a partir da cana-<strong>de</strong>-açúcar. A<br />

adição do álcool, além <strong>de</strong> ter vantagens técnicas para o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> motores é um fator importante na<br />

redução <strong>de</strong> poluição nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos. Toda<strong>vi</strong>a no processo <strong>de</strong> produção do álcool usa-se os<br />

recursos disponíveis <strong>de</strong> maneira pouco eficiente. A conversão da energia química contida na cana-<strong>de</strong>-açúcar é<br />

<strong>de</strong> menos que 40 % e geram-se gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>subprodutos</strong> e resíduos, que muitas vezes acabam<br />

tendo um impacto adverso sobre o meio ambiente. No presente trabalho preten<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>monstrar que aquilo<br />

que se percebe hoje como resíduos, po<strong>de</strong>m ser transforma<strong>dos</strong> em produtos que po<strong>de</strong>m ser utiliza<strong>dos</strong> <strong>de</strong>ntro da<br />

própria usina ou então ser comercializa<strong>dos</strong>. Os <strong>subprodutos</strong> <strong>de</strong> maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda para as<br />

usinas são o bagaço (a fase sólida da cana-<strong>de</strong>-açúcar) e o <strong>vi</strong>nhoto (a água residuária resultante da <strong>de</strong>stilação).<br />

O bagaço hoje, além <strong>de</strong> ser um combustível na usina, tem utilida<strong>de</strong> limitada como matéria prima para produção <strong>de</strong><br />

papel e ração <strong>de</strong> gado. Po<strong>de</strong> se aumentar o valor do bagaço primeiro aumentando-se a fração <strong>de</strong> material seco e<br />

segundo diversificando-se o uso do bagaço, por exemplo, como fonte <strong>de</strong> energia para geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> e/ou<br />

calor e como matéria prima <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> chapas para pare<strong>de</strong>s internas e isolamento acústico e térmico.<br />

Por outro lado o <strong>vi</strong>nhoto tem um enorme potencial: O material nele contido po<strong>de</strong> ser transformado em biogás pelo<br />

processo <strong>de</strong> digestão anaeróbia e o metano no biogás po<strong>de</strong> ser usado para a geração <strong>de</strong> energia elétrica e vapor.<br />

Estima-se que a potência <strong>de</strong> energia elétrica que po<strong>de</strong> ser gerada a partir <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto é 600 a 700 MW, sendo que<br />

aproximadamente meta<strong>de</strong> seria consumida pelas usinas e a outra meta<strong>de</strong> ficaria disponível para venda.<br />

Uma análise preliminar mostra, que o <strong>aproveitamento</strong> <strong>de</strong> <strong>subprodutos</strong> usando-se somente processos e equipamentos<br />

convencionais, amplamente utiliza<strong>dos</strong> po<strong>de</strong> aumentar muito a rentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usinas. Uma vantagem importante<br />

do uso racional <strong>dos</strong> <strong>subprodutos</strong> é a diminuição consi<strong>de</strong>rável da poluição ambiental pelas usinas <strong>de</strong> açúcar, que a<br />

longo prazo talvez seja mais valiosa que o próprio aumento da rentabilida<strong>de</strong>.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Produção <strong>de</strong> Álcool, Suprodutos, Vinhoto, Bagaço, Digestão Anaeróbia, Geração <strong>de</strong><br />

Energia Elétrica, Rentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Usinas, Proteção Ambiental.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O PROÁLCOOL, um programa governamental, instituído na década <strong>de</strong> 70, teve originalmente como objetivo a<br />

produção <strong>de</strong> um combustível alternativo aos <strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> <strong>de</strong> petróleo. Nos últimos anos a produção <strong>de</strong> álcool no Brasil<br />

se situa na faixa <strong>de</strong> 13 a 15 bilhões <strong>de</strong> litros anuais e a pre<strong>vi</strong>são é que se mantenha este ritmo <strong>de</strong> produção no futuro<br />

próximo. A Fig. 1a mostra um fluxograma esquemático da produção <strong>de</strong> 1 m 3 <strong>de</strong> álcool a partir <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar. O<br />

fluxograma mostra que junto com a produção <strong>de</strong> álcool há liberação <strong>de</strong> outros produtos em correntes laterais.<br />

Primeiramente separa-se o caldo <strong>de</strong> cana da parte fibrosa na moenda pela ação combinada <strong>de</strong> pressão mecânica e<br />

extração com água, <strong>de</strong>ixando um sólido com uma umida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 50% aproximadamente. Este sólido composto <strong>de</strong><br />

fibras vegetais se chama bagaço e na atualida<strong>de</strong> é usado principalmente para geração <strong>de</strong> vapor na própria <strong>de</strong>stilaria<br />

através <strong>de</strong> combustão em cal<strong>de</strong>iras, sendo que o restante é vendido como matéria prima na indústria <strong>de</strong> papel ou<br />

como forragem <strong>de</strong> gado, ou então é simplesmente queimado no fim da safra.<br />

ABES - Associação Brasileira <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

FOTOGRAFIA<br />

NÃO<br />

DISPONÍVEL<br />

1


XXVII Congresso Interamericano <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

Fig 1: Fluxograma esquemático da produção <strong>de</strong> álcool sem (Fig 1 a , esquerda) e com (Fig 1 b , direita) <strong>de</strong><br />

<strong>vi</strong>nhoto e produção <strong>de</strong> energia e vapor a partir do biogás gerado.<br />

O caldo <strong>de</strong> cana é colocado em tanques (dornas), juntamente com a levedura que irá converter a sacarose em álcool,<br />

num processo <strong>de</strong> fermentação que leva geralmente 12 a 24 horas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da qualida<strong>de</strong> da cepa <strong>de</strong> levedura e da<br />

concentração final do álcool. As melhoras cepas po<strong>de</strong>m produzir um <strong>vi</strong>nho com um teor <strong>de</strong> álcool <strong>de</strong> até 8%, mas<br />

na média da safra a porcentagem será bem menor que a máxima. Para minimizar o surgimento <strong>de</strong> microorganismos<br />

(notadamente bactérias) que po<strong>de</strong>riam gerar produtos não <strong>de</strong>seja<strong>dos</strong> a partir da sacarose, aplica-se ácido para baixar<br />

o pH para um valor entre 3 e 4 ou então se adiciona biocidas específicos.<br />

Quando a conversão do açúcar em álcool é completa, o <strong>vi</strong>nho resultante passa por um processo <strong>de</strong> centrifugação<br />

para separar a levedura. Parte <strong>de</strong>sta é reutilizada nas dornas em bateladas posteriores e o restante é utilizado para<br />

ração <strong>de</strong> animais. A separação das fases na centrifugação é incompleta e uma concentração consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> sóli<strong>dos</strong><br />

em suspensão (em gran<strong>de</strong> parte levedura) permanece no <strong>vi</strong>nho.<br />

Após a centrifugação a fase líquida é <strong>de</strong>stilada, resultando na produção <strong>de</strong> álcool no topo da coluna <strong>de</strong> <strong>de</strong>stilação e<br />

uma água residuária, chamada <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nasse ou <strong>vi</strong>nhoto, na base. Como o teor <strong>de</strong> álcool no <strong>vi</strong>nho é <strong>de</strong> no máximo 8 %,<br />

a proporção mínima <strong>vi</strong>nhoto/álcool é 0,92/0,08 ou 12 l álcool/l <strong>vi</strong>nhoto. Na prática, levando em conta outras águas<br />

residuárias (lavagens do chão e da cana) e consi<strong>de</strong>rando que nem sempre se tem um <strong>vi</strong>nho <strong>de</strong> 8 %, uma estimativa<br />

realista para as condições no Nor<strong>de</strong>ste do Brasil é <strong>de</strong> 1:18 a 1:20 l álcool/l <strong>vi</strong>nhoto. Estabeleceu-se que,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da proporção <strong>de</strong> álcool/<strong>vi</strong>nhoto, a massa <strong>de</strong> material orgânico na água residuária se mantém<br />

essencialmente constante em 500 kg <strong>de</strong> DQO por m 3 <strong>de</strong> álcool produzido. Dessa maneira espera-se uma<br />

concentração da DQO em torno <strong>de</strong> 500/20 25 g/l para uma proporção <strong>vi</strong>nhoto/álcool <strong>de</strong> 20 l/l.<br />

A Fig. 1a mostra esquematicamente o fluxograma da produção <strong>de</strong> álcool a partir <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar. Observa-se na<br />

Fig. 1a, somente uma fração <strong>de</strong> 38 % da energia da cana é convertida em álcool, enquanto 12 % permanecem no<br />

<strong>vi</strong>nhoto e 50 % no bagaço. Em muitas <strong>de</strong>stilarias aproximadamente meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste bagaço é queimada para gerar o<br />

vapor necessário para a produção do álcool. Em adição usa-se também cerca <strong>de</strong> 240 kWh por m 3 <strong>de</strong> álcool energia<br />

elétrica, normalmente da re<strong>de</strong> pública, para acionamento <strong>de</strong> motores e outras aplicações. Os <strong>subprodutos</strong> da<br />

produção <strong>de</strong> álcool, notadamente o bagaço e o <strong>vi</strong>nhoto, têm uma utilida<strong>de</strong> muito limitada e muitas vezes po<strong>de</strong>m ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> mais como resíduos (com valor econômico negativo) que <strong>subprodutos</strong>.<br />

Presentemente na maioria das <strong>de</strong>stilarias o <strong>vi</strong>nhoto é uma água residuária com valor negativo. Em muitos casos a<br />

melhor opção para se dar um <strong>de</strong>stino final a este resíduo é aplicá-lo nos próprios cana<strong>vi</strong>ais, aproveitando-se assim<br />

<strong>dos</strong> nutrientes nele contido. Toda<strong>vi</strong>a, o uso na irrigação é problemático por causa da alta concentração <strong>de</strong> material<br />

orgânico bio<strong>de</strong>gradável, que "queima" as folhas da cana <strong>de</strong> modo que po<strong>de</strong> ser aplicado somente logo <strong>de</strong>pois da<br />

corte quando não há folhas. Outro problema á a alta concentração <strong>de</strong> potássio que limita a aplicação <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto em<br />

600 m 3 /ano aproximadamente. Sabendo-se que num ha <strong>de</strong> cana po<strong>de</strong>-se produzir em torno <strong>de</strong> 75 t/ano <strong>de</strong> cana, que<br />

po<strong>de</strong>m gerar 5 m 3 <strong>de</strong> álcool e, portanto 100 m 3 <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto, conclui-se que para distribuir o <strong>vi</strong>nhoto sobre os<br />

ABES - Associação Brasileira <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

2


XXVII Congresso Interamericano <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

cana<strong>vi</strong>ais precisa-se irrigar no mínimo 100/600 ou 1/6 dá área plantada. Ao se aplicar o <strong>vi</strong>nhoto bruto nos cana<strong>vi</strong>ais,<br />

se perda a altíssima concentração <strong>de</strong> material orgânico bio<strong>de</strong>gradável nele contido.<br />

Outra prática para dar um <strong>de</strong>stino ao <strong>vi</strong>nhoto, ainda menos nobre, é a infiltração em parte da área <strong>dos</strong> cana<strong>vi</strong>ais em<br />

um esquema <strong>de</strong> rodízio, sacrificando-se para tanto em torno <strong>de</strong> 5 % da área cultivada que alimenta a <strong>de</strong>stilaria.<br />

Existem ainda açu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> evaporação <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto, embora usinas <strong>de</strong> álcool quase sempre ficam em regiões <strong>de</strong> boas<br />

chuvas. Em muitos casos o <strong>vi</strong>nhoto acaba indo diretamente ou indiretamente para águas <strong>de</strong> superfície, o que tem<br />

causado uma <strong>de</strong>terioração da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas nas regiões produtores <strong>de</strong> álcool, às vezes a ponto <strong>de</strong> se tornarem<br />

imprestáveis para abastecimento público.<br />

Conclui-se que o <strong>vi</strong>nhoto, apesar <strong>de</strong> ter um alto teor energético, na prática ainda tem um valor econômico negativo e<br />

um impacto adverso importante sobre o meio ambiente, particularmente sobre as águas <strong>de</strong> superfície. A carga<br />

poluidora do <strong>vi</strong>nhoto po<strong>de</strong> ser estimada como se segue: tendo-se uma carga orgânica no <strong>vi</strong>nhoto <strong>de</strong> 500 kg por m 3<br />

<strong>de</strong> álcool. Para uma produção nacional <strong>de</strong> 13*10 6 m 3 /ano, a carga poluidora do <strong>vi</strong>nhoto é 6,5*10 9 kgDQO/ano<br />

equivalente àquela <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong> 170.10 6 habitantes (100 gDQO/hab/d), portanto bem mais que toda a<br />

população do Brasil! Por outro lado justamente por se tratar uma carga orgânica enorme, há boas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> energia em quantida<strong>de</strong>s significativas.<br />

TRATAMENTO DE VINHOTO<br />

A composição típica <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto bruto, apresentada no Quadro 1, mostra as características in<strong>de</strong>sejáveis, quando se<br />

<strong>de</strong>seja <strong>de</strong>scarregar esta água residuária em águas <strong>de</strong> superfície: (1) Temperatura elevada, (2) alta concentração <strong>de</strong><br />

material orgânico, (3) alto teor <strong>de</strong> sóli<strong>dos</strong> em suspensão, (4) pH baixo e (5) alto teor <strong>de</strong> nutrientes N, P e K. Para o<br />

uso alternativo como água <strong>de</strong> irrigação, só os itens (1) a (4) precisam ser corrigi<strong>dos</strong>. Tendo-se em <strong>vi</strong>sta que nos<br />

cana<strong>vi</strong>ais os nutrientes po<strong>de</strong>m ser usa<strong>dos</strong> para produção <strong>de</strong> cana e que para <strong>de</strong>scarga em águas <strong>de</strong> superfície haverá<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> remoção <strong>de</strong> nutrientes, normalmente com custos operacionais muito eleva<strong>dos</strong>, invariavelmente<br />

optar-se-á pela irrigação com o <strong>vi</strong>nhoto tratado.<br />

A temperatura e o teor <strong>de</strong> sóli<strong>dos</strong> em suspensão po<strong>de</strong>m ser corrigi<strong>dos</strong> quando se armazena o <strong>vi</strong>nhoto em um açu<strong>de</strong>,<br />

dando tempo para resfriamento e sedimentação eficiente. Após resfriamento gran<strong>de</strong> parte do material orgânico no<br />

<strong>vi</strong>nhoto <strong>de</strong>cantado po<strong>de</strong> ser convertida em biogás pela aplicação da digestão anaeróbia. A <strong>vi</strong>abilida<strong>de</strong> do uso do<br />

reator UASB para tratar <strong>vi</strong>nhoto à temperatura ambiental (20 a 30 o C) tem sido <strong>de</strong>monstrada em várias unida<strong>de</strong>s em<br />

escala real: o <strong>vi</strong>nhoto é um excelente substrato para a digestão anaeróbia, sendo possível aplicar uma altíssima carga<br />

orgânica. Carneiro (1990) mostrou a <strong>vi</strong>abilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manter uma carga específica <strong>de</strong> 20 kgDQO.m -3 .d -1 em um<br />

digestor em escala real (1000 m 3 ) e ainda assim manter uma eficiência muito elevada <strong>de</strong> remoção do material<br />

orgânico (>95 % da DQO). Estes resulta<strong>dos</strong> excelentes se <strong>de</strong>vem principalmente à composição favorável do<br />

material orgânico, que contém quase exclusivamente <strong>de</strong> material bio<strong>de</strong>gradável e solúvel, tendo-se uma<br />

concentração muito elevada <strong>de</strong> áci<strong>dos</strong> graxa voláteis (6 g/l!), o precursor direto da metanogênese (Kaspar e<br />

Wuhrmann 1978).<br />

Quadro 1:Características <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto bruto, <strong>de</strong>cantado e tratado e porcentagem <strong>de</strong> remoção <strong>de</strong> constituintes<br />

in<strong>de</strong>sejáveis na Usina São Luiz, Maraial-Pe.<br />

Parâmetro Unida<strong>de</strong> Bruto Decantado Digerido % remoção<br />

TSS<br />

DBO<br />

DQO<br />

pH<br />

Alc.<br />

AGV<br />

N<br />

P<br />

K<br />

Temp.<br />

g/l<br />

g/l<br />

g/l<br />

-<br />

ppmCaCO3<br />

gHAc/l<br />

ppmN<br />

ppmP<br />

ppmK<br />

o<br />

C<br />

30<br />

18<br />

32<br />

3,5<br />

-5000<br />

6<br />

350<br />

150<br />

1000<br />

95<br />

10<br />

15<br />

28<br />

3,5<br />

-5000<br />

6<br />

300<br />

140<br />

1000<br />

25<br />

ABES - Associação Brasileira <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

0,1<br />

0,2<br />

1,0<br />

7,0<br />

3500<br />

0,15<br />

300<br />

140<br />

1000<br />

25<br />

97<br />

99<br />

97<br />

-<br />

3500( * )<br />

98<br />

14<br />

7<br />

-<br />

-<br />

3


XXVII Congresso Interamericano <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

O potencial <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> metano po<strong>de</strong> ser estimado a partir <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> no Quadro um. Admitindo-se uma<br />

eficiência <strong>de</strong> remoção da DQO <strong>de</strong> 90 % (o que é conservador) e admitindo-se ainda que 10% do material orgânico<br />

se converta em lodo, e consi<strong>de</strong>rando-se uma massa <strong>de</strong> material orgânico <strong>de</strong> 500 kg <strong>de</strong> DQO por m 3 <strong>de</strong> álcool, tem-se<br />

que uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0,8*500 = 400 kgDQO é digerida em uma massa <strong>de</strong> 0,1*500 = 50 kg DQO é transformada<br />

em lodo. Pela estequiometria po<strong>de</strong>-se mostrar que a digestão anaeróbia <strong>de</strong> 400 kg <strong>de</strong> DQO resulta na produção <strong>de</strong><br />

100 kg CH4 (van Haan<strong>de</strong>l e Lettinga, 1993). A conversão <strong>de</strong> 50 kg <strong>de</strong> DQO em lodo anaeróbio po<strong>de</strong> gerar até<br />

50/1,5 = 33 kg <strong>de</strong> lodo, mas levando-se em consi<strong>de</strong>ração perdas junto com o efluente, estima-se uma acumulação <strong>de</strong><br />

25 kg por m 3 <strong>de</strong> álcool (Van Haan<strong>de</strong>l e Lettinga 1993) e este calculo correspon<strong>de</strong> bem aos valores obti<strong>dos</strong> na prática<br />

na prática (Carneiro, 1990).<br />

Como a digestão anaeróbia é um processo que só se <strong>de</strong>senvolve na fase líquida com um pH perto do ponto neutro,<br />

será necessário adicionar alcalinizante ao <strong>vi</strong>nhoto, na prática geralmente cal. O uso <strong>de</strong> cal po<strong>de</strong> ser reduzido<br />

drasticamente pela introdução <strong>de</strong> uma recirculação do efluente misturando-o com o afluente antes da adição <strong>de</strong> cal<br />

(Van Haan<strong>de</strong>l 1995). Baseando-se em relações estequiométricas, Van Haan<strong>de</strong>l e Catunda (1994) estimaram uma<br />

<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> aproximadamente 1 kg <strong>de</strong> cal por m 3 , e trabalho em escala real mostrou, que esta <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> fato po<strong>de</strong><br />

ser esperada na prática.<br />

Para se ter uma idéia do tamanho do digestor UASB para a digestão <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto adota-se uma carga <strong>de</strong> 20<br />

kgDQO.m -3 .d -1 (Carneiro, 1990), <strong>de</strong> modo que para 500 kgDQO/d no <strong>vi</strong>nhoto (correspon<strong>de</strong>nte a 1 m 3 .d -1 <strong>de</strong> álcool)<br />

necessita-se <strong>de</strong> um digestor <strong>de</strong> 500/20 = 25 m 3 . Assim sendo para uma <strong>de</strong>stilaria <strong>de</strong> porte média (tipicamente <strong>de</strong><br />

120.000 l.d -1 <strong>de</strong> álcool) o volume do digestor seria 120*25 = 3000 m 3 . Neste digestor haveria então produção <strong>de</strong><br />

100*120 = 12.000 kgCH4.d -1 . Como o metano a 25 o C tem uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aproximadamente 0,67 kg.m -3 , o<br />

volume <strong>de</strong> metano seria <strong>de</strong> 18.000 m 3 /d. Admitindo-se uma composição <strong>de</strong> 60 % metano e 40 % dióxido <strong>de</strong><br />

carbono, calcula-se uma vazão <strong>de</strong> biogás <strong>de</strong> 18.000/0,6 = 30.000 m 3 .d -1 ou ainda: 10 m 3 biogás por m 3 <strong>de</strong> reator e<br />

por dia.<br />

Na digestão anaeróbia produz se uma fase gasosa, uma fase líquida (o <strong>vi</strong>nhoto digerido) e uma fase sólida (o lodo<br />

biológico). To<strong>dos</strong> as três fases têm utilida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>m ser aproveitadas para aumentar a rentabilida<strong>de</strong> das usinas.<br />

Entre outras aplicações, o <strong>aproveitamento</strong> do biogás para geração <strong>de</strong> energia é particularmente atraente, tendo-se em<br />

<strong>vi</strong>sta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso na própria indústria e a venda para a re<strong>de</strong> pública do exce<strong>de</strong>nte. Os geradores <strong>de</strong> energia<br />

mais simples usam o biogás em motores para acionar turbinas que por sua vez geram energia. A eficiência <strong>de</strong><br />

conversão <strong>de</strong> energia nestes geradores é na faixa <strong>de</strong> 30 a 40 %. As turbinas <strong>de</strong> gás têm um rendimento mais<br />

elevado, chegando a 50 %. No caso <strong>de</strong> usinas o uso <strong>de</strong> biogás para geração <strong>de</strong> energia se torna ainda mais<br />

interessante, porque existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se usar o calor residual da combustão no gerador para a produção <strong>de</strong><br />

vapor, que por sua vez tem aplicação ampla e imediata na usina. Nos geradores <strong>de</strong> acoplamento <strong>de</strong> força e calor usase<br />

o biogás tanto para geração <strong>de</strong> energia elétrica como para geração <strong>de</strong> vapor. Esta opção é somente interessante<br />

quando se tem um uso econômico para bagaço que normalmente é usado para geração <strong>de</strong> vapor. O potencial <strong>de</strong><br />

energia po<strong>de</strong> ser calculado, sabendo-se que valor <strong>de</strong> combustão <strong>de</strong> metano é 12.000 kCal ou 50,4 kJ ou kWs por kg<br />

CH4. Assim calcula-se para uma produção <strong>de</strong> 1 kgCH4/d:<br />

Pel = Rel*1 kgCH4d -1 *50.400kWs.kg -1 CH4/(86.400 s.d -1 ) ≈ 0,2 kW/(kgCH4/d) (1)<br />

on<strong>de</strong>:<br />

Pel = Potência elétrica que po<strong>de</strong> ser gerado por kgCH4/d produzido.<br />

= Eficiência <strong>de</strong> conversão <strong>de</strong> energia química em energia elétrica ≈ 0,35<br />

Rel<br />

Portanto numa <strong>de</strong>stilaria <strong>de</strong> porte média com potencial <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> metano <strong>de</strong> 12.000 kgCH4/d, o potencial <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> energia elétrica é <strong>de</strong> 12.000*0,2 = 2.400 kW. Admitindo-se uma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> 240 kWh por m 3 <strong>de</strong><br />

álcool produzido, ou seja, uma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> 1200 kW para manter uma produção <strong>de</strong> 120.000 l/d <strong>de</strong> álcool, concluise<br />

que meta<strong>de</strong> da produção <strong>de</strong> energia teria <strong>de</strong> ser usada na própria produção <strong>de</strong> álcool e a outra meta<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria ser<br />

comercializada. Consi<strong>de</strong>rando que no Brasil se produz em torno <strong>de</strong> 13*10 9 l/ano <strong>de</strong> álcool, o potencial <strong>de</strong> energia<br />

elétrica é aproximadamente 600 a 700 MW durante o ano inteiro, sendo meta<strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda das<br />

próprias usinas e outra meta<strong>de</strong> disponível para venda. Estimando-se ainda uma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> 240 kWh<br />

por mês e por família ou 1/3 kWh/h, então se tem um potencial para aten<strong>de</strong>r a 3*(600 a 700)/2, ou seja, em torno <strong>de</strong><br />

1.000.000 <strong>de</strong> famílias ou 4.000.000 <strong>de</strong> pessoas na zona rural. A vantagem <strong>de</strong>sta geração seria que é difusa em um<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> esta<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>ndo aten<strong>de</strong>r uma área enorme sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transporte. Este potencial<br />

po<strong>de</strong>rá ter gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>, principalmente no Nor<strong>de</strong>ste do Brasil, on<strong>de</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> mais energia<br />

ABES - Associação Brasileira <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

4


XXVII Congresso Interamericano <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

hidroelétrica está praticamente esgotada e on<strong>de</strong> o aumento acelerado da <strong>de</strong>manda ten <strong>de</strong> ser atendida pela<br />

construção <strong>de</strong> numerosas usinas termoelétricas.<br />

A produção <strong>de</strong> sóli<strong>dos</strong> (tanto os sedimentáveis no <strong>vi</strong>nhoto bruto como o lodo biológico gerado na digestão<br />

anaeróbia) e o efluente po<strong>de</strong>m ser aplica<strong>dos</strong> nos cana<strong>vi</strong>ais para aumentar a produção <strong>de</strong> cana, o que em si constitui<br />

um melhor <strong>aproveitamento</strong> <strong>dos</strong> recursos disponíveis. Toda<strong>vi</strong>a, as maiores vantagens materiais estão no uso do<br />

metano gerado e do bagaço não queimando.<br />

USO DO BAGAÇO<br />

Embora o bagaço inci<strong>de</strong>ntalmente vem sendo usado para várias finalida<strong>de</strong>s, na prática o valor <strong>de</strong>ste material ainda é<br />

muito baixo. Embora o preço <strong>de</strong> bagaço é baixo (e variável), a venda do material po<strong>de</strong> representar uma soma <strong>de</strong><br />

recursos importante para as usinas porque a quantida<strong>de</strong> é muito gran<strong>de</strong>. Os usos mais importante bagaço <strong>de</strong> que se<br />

tem notícia são:<br />

(1) Matéria prima para a produção <strong>de</strong> celulose e papel, geralmente misturado com outras matérias primas<br />

(2) Forragem para animais tendo-se tanto tratamento térmico como químico (soda cáustica) como tratamento<br />

para melhorar a digestibilida<strong>de</strong> do material<br />

(3) Matéria prima para pare<strong>de</strong>s internas e chapas <strong>de</strong> isolamento térmico e/ou acústica<br />

(4) Matéria prima para geração <strong>de</strong> energia elétrica em geradores especiais (pirólise)<br />

(5) Combustível sólido após secagem e peletização, por exemplo, em padarias, substituindo lenha<br />

(6) Condicionador <strong>de</strong> solo, melhorando a qualida<strong>de</strong> do solo e e<strong>vi</strong>tando o surgimento <strong>de</strong> erva daninha,<br />

reduzindo-se assim a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> herbicidas<br />

O uso mais indicado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da situação existente em cada local e até das variações do clima. Assim tem-se, por<br />

exemplo, que o bagaço é usado extensivamente como forragem <strong>de</strong> gado na região do sertão nor<strong>de</strong>stino nos anos <strong>de</strong><br />

estiagens, mas este uso se torna antieconômico quando, em anos <strong>de</strong> chuva, há disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material local para<br />

alimentar os animais.<br />

DISCUSSÃO<br />

Termodinamicamente a energia química <strong>de</strong> 100 kg <strong>de</strong> CH4 representa uma fração <strong>de</strong> 23 % da energia <strong>de</strong> 1 m 3 <strong>de</strong><br />

álcool. A energia <strong>de</strong> metano po<strong>de</strong> ser aplicada (ente outras opções) para geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> e vapor. Como se vê<br />

na Fig 1b, a combustão do metano em geradores com acoplamento força/calor permite a produção <strong>de</strong> 480 kWh <strong>de</strong><br />

energia elétrica (eficiência <strong>de</strong> 35 %) e calor suficiente para a produção <strong>de</strong> 1,5 t <strong>de</strong> vapor (a 3 atm) por m 3 <strong>de</strong> álcool<br />

produzido. Na Fig 1a observa-se que na produção tradicional <strong>de</strong> 1 m 3 <strong>de</strong> álcool, se queima aproximadamente 2,25 t<br />

das 4,5 t <strong>de</strong> bagaço para gerar 4 t <strong>de</strong> vapor (3 atm). Na Fig 1b observa-se que há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se produzir 1,4 t <strong>de</strong><br />

vapor a partir do calor residual na geração <strong>de</strong> energia elétrica e portanto a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> bagaço para queima<br />

diminuiria em 1,4/4*100 = 38 %. Assim sendo a queima será 0,625*2,25 = 1,4 t, sobrando para outros usos 4,5-1,4<br />

= 3,1 t, quase 40 % mais que no sistema tradicional. Desta maneira o valor econômico da aplicação da digestão<br />

anaeróbia do <strong>vi</strong>nhoto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> parte do preço que se po<strong>de</strong> obter pelo bagaço que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser queimado,<br />

porque se tem a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> biogás.<br />

A rentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> diretamente da possibilida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong> produtos gera<strong>dos</strong>. A Fig<br />

1b mostra a natureza e quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes produtos:<br />

(1) os sóli<strong>dos</strong> separa<strong>dos</strong> do <strong>vi</strong>nhoto, tanto os sóli<strong>dos</strong> em suspensão após a centrifugação como o lodo<br />

metanogênico do tratamento anaeróbio resultam numa massa <strong>de</strong> 400 kg por m 3 <strong>de</strong> álcool produzido que<br />

po<strong>de</strong>m ser usa<strong>dos</strong> como adubo. Alternativamente os sóli<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>m ser usa<strong>dos</strong> para alimentação <strong>de</strong> gado<br />

quando se aplica secagem rápida (spray drying)<br />

(2) o <strong>vi</strong>nhoto tratado, diferente do <strong>vi</strong>nhoto bruto po<strong>de</strong> ser armazenado para uso para fertiirrigação no<br />

momento que melhor con<strong>vi</strong>er para adição <strong>de</strong> nutrientes ou para diminuir danos à cultura <strong>de</strong><strong>vi</strong>do a<br />

estiagens.<br />

(3) o metano na geração <strong>de</strong> energia e vapor, tornando a usina in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> energia elétrica externa e do<br />

seu preço. Outras alternativas <strong>de</strong> uso do biogás como a sua transformação em metano automotivo po<strong>de</strong>m<br />

ser consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do preço <strong>de</strong> energia elétrica e do combustível automativo.<br />

(4) o bagaço como matéria prima <strong>de</strong> vários produtos como se mostrou na seção anterior.<br />

ABES - Associação Brasileira <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

5


XXVII Congresso Interamericano <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

No quadro 2 apresenta-se uma análise econômica do uso <strong>de</strong> <strong>subprodutos</strong> em <strong>de</strong>stilarias <strong>de</strong> porte médio (DPM)<br />

consi<strong>de</strong>rando-se sóli<strong>dos</strong> <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto, <strong>vi</strong>nhoto tratado, metano e bagaço. Uma <strong>de</strong>stilaria <strong>de</strong> porte médio produz<br />

tipicamente uma vazão <strong>de</strong> álcool <strong>de</strong> 120.000 l/d, ou seja, em torno <strong>de</strong> 20.000 m 3 durante a safra <strong>de</strong> 150 a 180 dias.<br />

Quadro 2: Resumo da possibilida<strong>de</strong>s econômicas <strong>de</strong> uso do <strong>vi</strong>nhoto e bagaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>stilarias <strong>de</strong> álcool no caso<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>stilaria <strong>de</strong> porte médio (DPM = 120.000 l/d) (1 US$ = 1,80 R$).<br />

Parâmetros Quantida<strong>de</strong> Valor (1.000 R$)<br />

Produtos<br />

Sóli<strong>dos</strong> (sedimentáveis e biológicos) (R$ 5/t)<br />

Vinhoto digerido(R$ 0,10/m 3 )<br />

Eletricida<strong>de</strong> (@R$0,10/kWh)<br />

Bagaço (@R$ 10/t; 50% umid)<br />

Total<br />

Investimentos<br />

Reator (R$ 200/m3)<br />

Geradores (acoplamento energia-calor R$1500/kW)<br />

8000 t<br />

400.000 m 3<br />

1,2 MW<br />

50.000t( * )<br />

3.000 m 3<br />

1,2 MW<br />

ABES - Associação Brasileira <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

40<br />

40<br />

750<br />

500<br />

1.330<br />

1.530( * )<br />

600<br />

1.800<br />

Total 2.400<br />

Custos correntes<br />

Financeiro (8 % por ano; 20 anos)<br />

Operação (cal U$ 5/t) ( ** )<br />

Manutenção (4% do investimento por ano)<br />

Pessoal (4% do investimento por ano)<br />

400 t/a<br />

Total 632<br />

Tempo <strong>de</strong> retorno <strong>de</strong> capital<br />

Uso <strong>de</strong> sóli<strong>dos</strong>+líquido+CH4+bagaço<br />

Uso líquido+CH4+bagaço<br />

Uso <strong>de</strong> CH4+bagaço<br />

Uso <strong>de</strong> CH4<br />

( * ) No caso <strong>de</strong> energia + vapor disponibilida<strong>de</strong> aumenta em 40 %<br />

( ** ) Preço 1/3 do mercado porque cal será usada para correção do cana<strong>vi</strong>al<br />

( *** ) Se bagaço não tem preço usa gerador simples (R$ 1000/kW)<br />

240<br />

200<br />

96<br />

96<br />

2,7<br />

2,8<br />

3,0<br />

8,0( *** )<br />

Para efeito <strong>dos</strong> cálculos adotou-se um preço <strong>de</strong> R$ 5/t <strong>de</strong> sóli<strong>dos</strong> <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto, R$ 0,10 por m 3 <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto digerido,<br />

R$0,10 por kWh <strong>de</strong> energia elétrica a partir <strong>de</strong> metano e R$ 10/t <strong>de</strong> bagaço (50% umida<strong>de</strong>). Para estimar os custos<br />

<strong>de</strong> investimento adotou-se um preço <strong>de</strong> R$ 200 para a construção do reator UASB (incluindo-se nesta soma o<br />

projeto, bombas, controles e equipamentos) e R$ 1.500 por kW para o gerador que tanto gera energia (eficiência <strong>de</strong><br />

35 %) como produz vapor (eficiência <strong>de</strong> 50 %). Para anualizar o investimento <strong>de</strong> R$ 2.400 necessários adotou-se<br />

um juro <strong>de</strong> 8 % ao ano durante a <strong>vi</strong>da útil, o que resulta no pagamento <strong>de</strong> termos 10% por ano do investimento<br />

como custo financeiro. Para calcular o custo <strong>de</strong> operação usou-se um custo baixo da cal (R$ 5/t) porque na verda<strong>de</strong><br />

esta cal terá sua função <strong>de</strong> correção do pH quando o <strong>vi</strong>nhoto tratado for aplicado na irrigação: a alcalinida<strong>de</strong> do<br />

<strong>vi</strong>nhoto digerido dispensa o uso <strong>de</strong> alcalinizante, que <strong>de</strong> outra maneira seria necessária. Para calcular a rentabilida<strong>de</strong><br />

do uso <strong>de</strong> <strong>subprodutos</strong> subtrai-se os custos correntes do valor <strong>dos</strong> produtos obti<strong>dos</strong> e compara-se este valor com o<br />

investimento necessário. Por exemplo, no caso <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r usar to<strong>dos</strong> os quatro produtos o valor anual é R$<br />

1.530.000 e o custo anual R$ 632.000, permitindo um lucro <strong>de</strong> R$ 898.000. Sabendo-se que o investimento foi <strong>de</strong><br />

R$ 2.400.000, calcula-se um tempo <strong>de</strong> retorno do capital <strong>de</strong> 2400/898 = 2,7 anos. Conclui-se que no exemplo o uso<br />

<strong>dos</strong> <strong>subprodutos</strong> é um excelente negócio que inclusive po<strong>de</strong> melhorar significativamente o lucro do empreendimento<br />

como um todo. O tempo <strong>de</strong> retorno <strong>de</strong> capital é muito mais longo quando o uso <strong>de</strong> bagaço não é <strong>vi</strong>ável. Neste caso<br />

não há razão <strong>de</strong> se adotar um gerador que permite a geração simultânea <strong>de</strong> vapor e po<strong>de</strong>-se instalar uma unida<strong>de</strong><br />

simples que tem um custo muito menor.<br />

6


XXVII Congresso Interamericano <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

A importância econômica po<strong>de</strong> ser avaliada como se segue: o álcool é vendido por R$ 0,60 por l aproximadamente,<br />

proporcionado um faturamento <strong>de</strong> R$ 12 milhões pelos 20.000 m 3 produzi<strong>dos</strong> anualmente na DPM. Depen<strong>de</strong>ndo da<br />

eficiência da <strong>de</strong>stilaria, o lucro está na faixa <strong>de</strong> R$ 1 a 2 milhões (8 a 15 %). Deste modo o lucro no uso <strong>dos</strong> quatro<br />

<strong>subprodutos</strong> (valor <strong>dos</strong> produtos menos custos correntes no Quadro 2) é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 50 a 100 % do lucro obtido<br />

com a produção do álcool. Conclui-se que o uso <strong>dos</strong> <strong>subprodutos</strong> abre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a rentabilida<strong>de</strong> da<br />

usina <strong>de</strong> maneira bastante expressiva. Contudo, em última análise o tratamento <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

somente sob o espectro <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong>: este tratamento é necessário para e<strong>vi</strong>tar a <strong>de</strong>gradação do meio ambiente,<br />

mesmo em casos on<strong>de</strong> a razão custo/benefício é menos favorável, <strong>de</strong><strong>vi</strong>do à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> valorização integral<br />

<strong>de</strong> um ou mais <strong>dos</strong> <strong>subprodutos</strong>.<br />

CONCLUSÕES<br />

(1) Na produção <strong>de</strong> álcool a partir <strong>de</strong> caldo <strong>de</strong> cana há uma liberação <strong>de</strong> vários <strong>subprodutos</strong> que atualmente<br />

não são valoriza<strong>dos</strong> e constituem um fator importante na <strong>de</strong>gradação do meio ambiente. Os <strong>subprodutos</strong><br />

mais importantes são o <strong>vi</strong>nhoto (água residuária) e o bagaço (resíduo sólido)<br />

(2) Através da aplicação da digestão anaeróbia do <strong>vi</strong>nhoto po<strong>de</strong>-se produzir 100 kg CH4 na forma <strong>de</strong> biogás<br />

por m 3 <strong>de</strong> álcool. A partir do biogás, po<strong>de</strong> se gerar em unida<strong>de</strong>s com acoplamento força/calor: (1) 480<br />

kWh <strong>de</strong> energia elétrica, o dobro da <strong>de</strong>manda da <strong>de</strong>stilaria (240 kWh/m 3 <strong>de</strong> álcool) e (2) 1,5 t <strong>de</strong> vapor (3<br />

atm) reduzindo-se a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> bagaço para queima em 40 %.<br />

(3) Além do biogás liberam-se no tratamento <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto (1) sóli<strong>dos</strong> (400 kg/m 3 <strong>de</strong> sóli<strong>dos</strong> primários e 25<br />

kg/m 3 <strong>de</strong> lodo biológico que po<strong>de</strong>m ser usa<strong>dos</strong> como adubo nos cana<strong>vi</strong>ais) e (2) liquido: 20 m 3 /m 3 <strong>de</strong><br />

efluente a ser usado para fertiirigação <strong>dos</strong> cana<strong>vi</strong>ais.<br />

(4) De<strong>vi</strong>do ao uso <strong>de</strong> biogás para geração <strong>de</strong> vapor a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bagaço aumenta <strong>de</strong> 2,25 para 3,1 t/m 3<br />

(50 % <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>)<br />

(5) Se há uso para to<strong>dos</strong> os <strong>subprodutos</strong> gera<strong>dos</strong> no local da <strong>de</strong>stilaria (o que geralmente será o caso) então o<br />

tratamento <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto se torna uma operação altamente rentável com curtíssimo período <strong>de</strong> retorno <strong>de</strong><br />

capital<br />

(6) Mesmo se nem to<strong>dos</strong> os potenciais benefícios sejam realizáveis, o tratamento <strong>de</strong> <strong>vi</strong>nhoto se torna<br />

interessante como operação que protege o meio ambiente e diminui a <strong>de</strong>pendência da <strong>de</strong>stilaria <strong>de</strong> fatores<br />

externos como o fornecimento <strong>de</strong> energia elétrica.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Carneiro V <strong>de</strong> P. R. (1990): Partida e modificação <strong>de</strong> um digestor anaeróbio <strong>de</strong> fluxo ascen<strong>de</strong>nte com<br />

manta <strong>de</strong> lodo e separador <strong>de</strong> fases, tratando <strong>vi</strong>nhoto, Dissertação <strong>de</strong> mestrado, Dep. <strong>de</strong> Engenharia Ci<strong>vi</strong>l,<br />

UFPb, Campina Gran<strong>de</strong>.<br />

2. Van Haan<strong>de</strong>l A.C. and Catunda P.F.C. (1994):" Profitability increase of alcohol distilleries by the rational<br />

use of byproducts." Wat.Sci.Tech., 29, 8, 106-117.<br />

3. Lettinga G. e Van Haan<strong>de</strong>l A.C. (1993): Anaerobic digestion for Energy Production and En<strong>vi</strong>ronmental<br />

Protection In: Renewable energy sources for fuels and electricity Johansson et al (Eds) Island Press,<br />

Washington D.C.<br />

4. Kaspar H.E. e Wuhrmann K. (1978) Kinetic parameters and relative turnovers of some important metabolic<br />

reactions in digesting sludge, Applied En<strong>vi</strong>ronmental Microbiology, 36, p 1-7<br />

5. Van Haan<strong>de</strong>l A.C. (1995) Influence of the digested COD concentration on the alkalinity requirement in<br />

anaerobic digesters, Wat. Sci. Tech. 30, 8, 23-34<br />

ABES - Associação Brasileira <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental<br />

7

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!