Conto – manifestação da subjetividade. - Portal Educar Brasil
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<strong>Conto</strong> <strong>–</strong> <strong>manifestação</strong> <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de.<br />
<strong>Conto</strong>: narrativa em prosa, breve, com uni<strong>da</strong>de de significação. É<br />
extremamente comum nas comuni<strong>da</strong>des de tradição oral, como as indígenas.<br />
No <strong>Brasil</strong>, torna-se gênero literário corrente e reconhecido no Romantismo.<br />
Apresenta como elementos constitutivos: o narrador, as personagens, o<br />
enredo, a trama, o espaço e o tempo. É um gênero que admite uma grande<br />
varie<strong>da</strong>de temática e estilística. Há contos policiais, eróticos, românticos,<br />
fantásticos, como também contos de terror e de ficção científica. Há contos<br />
hoje com 5 linhas, quando já foi muito comum ter cinco páginas. Além do<br />
prazer estético, as narrativas ficcionais funcionam como um espaço para<br />
fomentar nossa reflexão sobre a reali<strong>da</strong>de que nos circun<strong>da</strong>. Podemos tanto<br />
nos identificar com certos personagens, regiões, cenários, quanto vermos<br />
nossos preceitos ou preconceitos espelhados na trama, o que pode gerar uma<br />
mu<strong>da</strong>nça de postura em relação ao mundo e às pessoas.<br />
Exemplos de contos e microcontos contemporâneos.<br />
O salto<br />
Anderson Almei<strong>da</strong><br />
depois de matá-lo e largar para trás a bolsa <strong>da</strong> mulher que gritava em<br />
desespero e também a polícia e os anônimos que o perseguiam em transe de<br />
ódio, saiu pela portaria dos fundos do parque e atravessou a rua entre os<br />
ônibus e carros<br />
e arregalou os olhos para o destino<br />
e apoiou a perna direita sobre a mureta<br />
e aproveitou o impulso <strong>da</strong> corri<strong>da</strong><br />
e bateu asas sobre o rio<br />
sem conseguir pensar em na<strong>da</strong>.<br />
Escrita Periférica<br />
Adão conde<br />
Queria muito escrever para uma revista literária.<br />
Enviou poemas, crónicas, contos e microcontos.<br />
Sucessivamente.<br />
Responderam-lhe sempre que a escrever não teria futuro.<br />
Enganaram-se !<br />
Actualmente escreve cartazes num hipermercado.<br />
Promoção - pague 1 leve 2 !<br />
Disponível em: http://1claroenigma.wordpress.com/contos/<br />
Acesso 10 jun 2011.<br />
Disponível em: http://www.bestiario.com.br/15_arquivos/Microcontos.html<br />
Acesso em 02 mai 2011.
Teologia natural<br />
Hil<strong>da</strong> Hilst<br />
A cara do futuro não via. A vi<strong>da</strong>, arremedo de na<strong>da</strong>. Então ficou pensando em<br />
ocos de cara, cegueira, mão corroí<strong>da</strong> e pés, tudo seria comido pelo sal,<br />
brancura estica<strong>da</strong> <strong>da</strong> maldita, salgadura <strong>da</strong>na<strong>da</strong>, infernosa salina, pensou<br />
óculos luvas galochas, ficou pensando vender o que, Tiô inteiro afun<strong>da</strong>do numa<br />
cintilância, carne de sol era ele, seco salgado espichado, e a cara-carne do<br />
futuro onde é que estava? Sonhava-se adoçado, corpo de melaço, melhorança<br />
se conseguisse comprar os apetrechos, vende uma coisa, Tiô. Que coisa? Na<br />
ci<strong>da</strong>de tem gente que compra até bosta embrulha<strong>da</strong>, se levasse concha, ostra,<br />
ah mas o pé não agüentava o dia inteiro na salina e ain<strong>da</strong> de noite à beira<br />
d’água salga<strong>da</strong>, no crespo <strong>da</strong> pedra, nas facas onde moravam as ostras.<br />
Entrou na casa. Secura, vaziez, num canto ela espiava e roia uns duros no<br />
molhado <strong>da</strong> boca, não era uma rata não, era tudo que Tiô possuía, espiando<br />
agora os singulares atos do filho, Tiô encharcando uns trapos, enchendo as<br />
mãos de cinza, se eu te esfrego direito tu branqueia um pouco e fica lin<strong>da</strong>, te<br />
vendo lá, e um dia te compro de novo, macieza na língua foi falando espaçado,<br />
sem ganchos, te vendo, agora as costas, vira, agora limpa tu mesmo a barriga,<br />
eu me viro e tu esfrega os teus meios, enquanto limpas teu fundo pego um<br />
punhado de amoras, agora chega, espalhamos com cui<strong>da</strong>do essa massa<br />
vermelha na tua cara, na bochecha, no beiço, te estica mais pra esconder a<br />
corcova, óculos luvas galochas é tudo o que eu preciso, se compram tudo<br />
devem comprar a ti lá na ci<strong>da</strong>de, depois te busco, e espana<strong>da</strong>s, cui<strong>da</strong>dos,<br />
sopros no franzido <strong>da</strong> cara, nos cabelos, volteando a velha, examinando-a<br />
como faria exímio conhecedor de mães, sonhado comprador, Tiô amarrou às<br />
costas numas cor<strong>da</strong>s velhas, tudo o que possuía, mu<strong>da</strong>, pequena, delica<strong>da</strong>, um<br />
tico de mãe, e sorria muito enquanto caminhava.<br />
Julgava saber tudo. Tinha aprendido muito pouco.<br />
Corte<br />
Eugênia Tabosa<br />
Disponível em: http://1claroenigma.wordpress.com/contos/<br />
Acesso 10 jun 2011.<br />
ENE, Luís. Ficções Telegráficas.<br />
Disponível em: http://vi<strong>da</strong>sdevi<strong>da</strong>s.minguante.com/historias.asp<br />
Acesso 18 jun 2011.<br />
Pegou a tesoura de bor<strong>da</strong>dos e foi cortando pacientemente os alinhavos de<br />
sua vi<strong>da</strong> até lhe desaparecerem as dores nas costas. E sorriu feliz.<br />
Lixo<br />
Anilza <strong>da</strong> Silva<br />
Maltrado: morde;<br />
Reciclado: lorde.<br />
Disponível em: http://parlares.blogspot.com/<br />
Acesso em 18 jun 2011.
Fama<br />
Maria Soares<br />
Graças ao serviço temporário e ao sol (de rachar), Florisvaldo varria calça<strong>da</strong>s e<br />
enxergava estrelas.<br />
Veículos<br />
Alcir Nicolau<br />
Embora avisado do perigo ele dirigia o carrão em alta veloci<strong>da</strong>de. Acordou num<br />
barco.<br />
À proa, exigindo a moe<strong>da</strong>, Caronte remava.<br />
Exercícios propostos<br />
1- Leia com atenção o conto a seguir.<br />
Histórias do Trem<br />
Fabrício Carpinejar<br />
Disponíveis em: http://www.vere<strong>da</strong>s.art.br/<br />
Acesso 14 jun 2011.<br />
1<br />
Vou indo no trem lotado, de pé. Desde que decidi ser educado, haverá uma<br />
senhora disposta a sentar. Em uma <strong>da</strong>s estações, entrará alguém com mais de<br />
sessenta anos com o rosto de poltronas azuis. É certo. Levanto as<br />
sobrancelhas, faço o sinal e finjo que a paisagem corre melhor <strong>da</strong>quele jeito.<br />
Sento somente na última estação, por três fugazes minutos. Em minha frente,<br />
um jovem retira o garfo do bolso esquerdo e a faca do direito. O guar<strong>da</strong>napo<br />
está no bolso interno. Estala os ossos, coloca a térmica aos pés e abre uma<br />
farta marmita. Ao seu lado, a menina vira a cara para a janela com desgosto.<br />
Ele começa a comer um feijão ain<strong>da</strong> soltando fumaça. Como uma águia que<br />
lambe as patas em pleno vôo. Já havia visto gente devorando sanduíches e<br />
lanches no trensurb. Pela primeira vez, assistia a um passageiro <strong>da</strong>ndo conta<br />
de um prato de três cama<strong>da</strong>s geológicas. Mastigava com devoção. Respirava e<br />
ria. Talvez os dois juntos. Não conseguia desgru<strong>da</strong>r os olhos de sua bandeja.<br />
Ele poderia ter dito como censura: "o que está olhando?". Não foi o que<br />
escutei. Com um jeito sincero, perguntou se eu queria um pouco.<br />
2<br />
Outra noite, voltando para casa, entrou no trem um senhora com uma vela<br />
acesa. Tinha a postura de aia tardia ou de primeira comunhão. A chama se<br />
agachava e subia nervosa, no vaivém irritante de chuvisco de tevê. Ela sentou<br />
reta, cui<strong>da</strong>ndo excessivamente com a coluna dela e do fogo. Um segurança<br />
passou pelo setor e pediu que apagasse a vela. "Não posso apagar uma<br />
promessa", replicou. "É como não pagar uma dívi<strong>da</strong>". Ela falava bem, com um<br />
português de domingo. O segurança insistiu: "ninguém fuma no trem". "Eu não<br />
estou fumando, senhor. Não há nenhuma ordem que proíba carregar velas<br />
acesas aqui." Ele se calou e ficou ali, com seu colete de mangas cava<strong>da</strong>s. Não
suportou a tensão <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de: "Que promessa a senhora fez?". Ela não<br />
respondeu. Desceu na primeira para<strong>da</strong> e entrou em outro vagão.<br />
Disponível em: http://www.bestiario.com.br/2_arquivos/trem.html<br />
Acesso 18 jun 2011.<br />
Redija um texto dissertativo, de 20 a 30 linhas, EXPLICITANDO e<br />
ANALISANDO os elementos que caracterizam a contemporanei<strong>da</strong>de do conto<br />
de Fabrício Carpinejar.<br />
2- Com base no vídeo All I need, <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> Radiohead, exibido em sala,<br />
redija um conto ou um microconto. Lembre-se de que o olhar do<br />
narrador direciona a trama, afeta a maneira como a história será<br />
revela<strong>da</strong> ao leitor.