a pedof(am)ilia moderna - FÊNIX - Revista de História e Estudos ...
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Fênix – <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>História</strong> e <strong>Estudos</strong> Culturais<br />
Julho/ Agosto/ Setembro <strong>de</strong> 2005 Vol. 2 Ano II nº 3<br />
ISSN: 1807-6971<br />
Disponível em: www.revistafenix.pro.br<br />
moralizadoras em favor da união estável, em que não faltar<strong>am</strong> incentivos financeiros,<br />
como é o caso da concessão <strong>de</strong> empréstimos apenas aos proletários que fossem chefes<br />
<strong>de</strong> f<strong>am</strong>ília regular.<br />
Em todo caso, ao ser politic<strong>am</strong>ente obrigada a esten<strong>de</strong>r a atenção ao corpo e ao<br />
sexo dos operários, a burguesia se vê diante do seguinte problema: <strong>de</strong>saparece, com a<br />
universalização da sexualida<strong>de</strong>, aquela linha <strong>de</strong>marcatória que, no século anterior,<br />
garantira aos burgueses o seu sinal <strong>de</strong> distinção e superiorida<strong>de</strong>. Ora, como a questão foi<br />
resolvida?<br />
A nova linha <strong>de</strong>marcatória<br />
Segundo Foucault, é preciso ter em conta o fato <strong>de</strong> que à universalização da<br />
sexualida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>u a formulação e a difusão do que ele ch<strong>am</strong>a <strong>de</strong> hipótese<br />
repressiva, isto é, a idéia <strong>de</strong> que nossa cultura não fez senão reprimir o sexo.<br />
Para o filósofo francês, parece claro que esse discurso que l<strong>am</strong>enta e <strong>de</strong>nuncia<br />
a repressão preten<strong>de</strong>u e <strong>de</strong> fato conseguiu referir-se a “todo o dispositivo da sexualida<strong>de</strong><br />
dando-lhe o sentido <strong>de</strong> uma interdição generalizada”. 9 Mas, ao mesmo tempo em que se<br />
referia a tudo e a todos, a teoria da repressão teria criado, por meio da análise que ela<br />
articula, “um jogo diferencial das interdições, <strong>de</strong> acordo com as classes sociais”. 10<br />
Foucault supõe, então, que um novo mecanismo <strong>de</strong> diferenciação se elabora: na<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afirmar-se pela qualida<strong>de</strong> ‘sexual’ <strong>de</strong> seu corpo, a burguesia passará<br />
a se orgulhar da intensida<strong>de</strong> com que ela supost<strong>am</strong>ente se fez reprimir sexualmente:<br />
Do discurso que dizia, no fim do século XVIII: ‘Existe em nós um<br />
elemento <strong>de</strong> valor que se <strong>de</strong>ve temer e poupar, a que <strong>de</strong>vemos prestar<br />
todos os cuidados se não quisermos que engendre males infinitos’,<br />
passou-se a um discurso que diz: ‘Nossa sexualida<strong>de</strong>, por oposição à<br />
dos outros, está submetida a um regime <strong>de</strong> repressão tão intensa que o<br />
perigo agora está nisso; não somente o sexo é um segredo temível,<br />
como não cansar<strong>am</strong> <strong>de</strong> dizer às gerações prece<strong>de</strong>ntes os diretores<br />
espirituais, os moralistas, os pedagogos e os médicos, não somente é<br />
preciso <strong>de</strong>sencavar sua verda<strong>de</strong>, mas se ela carrega consigo tantos<br />
perigos, é porque – por escrúpulo, senso aguçado do pecado ou<br />
hipocrisia, como quiserem – o reduzimos ao silêncio por tempo<br />
<strong>de</strong>mais’.<br />
necessária, enfim, a instauração <strong>de</strong> toda uma tecnologia <strong>de</strong> controle que permitia manter sob vigilância<br />
esse corpo e essa sexualida<strong>de</strong> que finalmente se reconhecia neles (a escola, a política habitacional, a<br />
higiene pública, as instituições <strong>de</strong> assistência e previdência, a medicalização geral das populações [...])”.<br />
9 FOUCAULT, Michel. A <strong>História</strong> da Sexualida<strong>de</strong> I. A Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saber. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1988,<br />
p. 120.<br />
10 Ibid., p. 121.<br />
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