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<strong>Guimarães</strong><br />
Apontamentos para a sua História<br />
Padre António José Ferreira Caldas<br />
2.ª Edição, <strong>Guimarães</strong>, CMG/SMS, 1996, parte II, pp. 352/362<br />
© Socieda<strong>de</strong> Martins <strong>Sarmento</strong> | <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> <strong>Sarmento</strong><br />
CAPELAS PÚBLICAS<br />
S. Tiago da Praça<br />
A capela <strong>de</strong> S. Tiago, erecta na praça do mesmo nome,<br />
conhecida antigamente como praça do Peixe, foi na sua primitiva -<br />
segundo a tradição entre nós constante, e as várias opiniões <strong>de</strong><br />
antigos escritores - um templo do gentilismo, provavelmente <strong>de</strong>dicado<br />
a Ceres.<br />
À falta doutros testemunhos, seguirei neste ponto essa opinião<br />
dos escritores, que me prece<strong>de</strong>ram, acostando-me nomeadamente a<br />
frei Bernardo <strong>de</strong> Braga, que sobre o assunto se exprimiu do modo<br />
seguinte:<br />
«No Rossio ou Praça <strong>de</strong> <strong>Guimarães</strong> está um Templo que foi da<br />
Gentilida<strong>de</strong>, era obra moisaica, majestoso, e antiquíssimo, e das<br />
notícias que tenho foi <strong>de</strong>dicado a Ceres, a este <strong>de</strong>struiu Santiago vindo<br />
a esta terra on<strong>de</strong> baptizou a São Torcato, e lançando por terra os<br />
falsos ídolos, colocou no Altar a Virgem Senhora nossa, cuja imagem é<br />
hoje a Senhora da Oliveira, e bem se colhe - continua o autor - <strong>de</strong> um<br />
letreiro, que vi, e se achou no interior da pare<strong>de</strong> junto à torre, quando<br />
esta se principiou a arruinar pelos anos do Senhor <strong>de</strong> 1559. Caíu uma<br />
pedra, e porque se partiu, se fez ajuntar, para se lerem as letras, e<br />
diziam:<br />
1
«In hoc simulacro Cereris collocavit Jacobus filius Zebedaei<br />
Germanus Joannis imaginem Sanctae Mariae IIIS. CISX - Era o letreiro<br />
Gótico, e em breves medalhas a sustância era esta, e também se<br />
acharam medalhas por on<strong>de</strong> alguns Escritores tomaram motivo para<br />
dizerem que o Templo fôra <strong>de</strong> Minerva».<br />
Mais afirma o citado escritor, que no arquivo da Colegiada<br />
encontrara mais claras notícias <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se inferia igualmente o mesmo<br />
acerto.<br />
Para nos convencermos da sua notável antiguida<strong>de</strong>, repare-se<br />
numa tosca escultura em pedra, agora metida na pare<strong>de</strong>, que sustenta<br />
a alpendrada da mesma capela, ao lado do sul; a qual representa uma<br />
criança nua, sentada e sustentando nas mãos dois gran<strong>de</strong>s peixes em<br />
posição horizontal, símbolo muito usado nas igrejas cristãs dos<br />
primitivos tempos.<br />
A imagem da Senhora conservou-se aqui até o ano <strong>de</strong> 417;<br />
quando invadida a Galiza pelos alanos, suevos e outros bárbaros,<br />
mandou o arcebispo <strong>de</strong> Braga, Pancrácio, escon<strong>de</strong>r todas as imagens<br />
<strong>de</strong> santos, à sanha dos invasores; sendo por esta ocasião, e por tal<br />
motivo, escondida esta santa imagem perto <strong>de</strong> <strong>Guimarães</strong>, logo acima<br />
do campo <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, num monte, que ainda hoje se<br />
chama <strong>de</strong> Santa Maria; e é principalmente a parte mais vizinha<br />
daquela sua igreja.<br />
Finda a invasão e pacificados os tempos, dali voltara a santa<br />
imagem para o seu templo, conduzida em procissão solene.<br />
Por esta ocasião levantou-se no antigo campo do Salvador um<br />
pilar <strong>de</strong> pedra tosco para a colocação do andor, e para dali se or<strong>de</strong>nar<br />
a procissão. Deste facto ficou memória, - diz um manuscrito antigo,<br />
que tenho presente - num letreiro gótico lavrado na pare<strong>de</strong> exterior<br />
sobre o mesmo pilar on<strong>de</strong> esteve, que dizia:<br />
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Hic sita fuit S.ta Maria<br />
Eª Mª Vª<br />
Esta igreja, que fôra no seu princípio, como fica exposto,<br />
<strong>de</strong>dicada a Nossa Senhora, e <strong>de</strong>pois a S. Tiago, por haver sido o<br />
primeiro que levantou ali altar, caíu <strong>de</strong>sfeita em ruínas em 1607, e<br />
<strong>de</strong>las surgiu a actual capela, como testifica a padieira da porta<br />
principal, on<strong>de</strong> se acha este dístico:<br />
2
Magna domus quondam penitus submersa ruinis,<br />
Dum jacet, in brevius <strong>de</strong>nuo surgit opus.<br />
Pelos anos <strong>de</strong> 1426 o D. Prior e cabido apresentavam reitores<br />
nesta igreja. Hoje pertence à dignida<strong>de</strong> do cónego mestre-escola, que<br />
<strong>de</strong>la recebe alguns foros, com obrigação <strong>de</strong> vigiar pela sua fábrica.<br />
Está hoje aqui erecta a irmanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores,<br />
que teve a sua fundação pelos anos <strong>de</strong> 1797.<br />
Esta mesma irmanda<strong>de</strong> e a imagem da sua padroeira, estiveram<br />
na capela do Anjo, também chamada <strong>de</strong> S. Crispim e Crispiano, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1811 a 1822, em quanto andavam obras na capela da Praça.<br />
Pelas reformas a que aludi, e por outras ainda que ignoro, não<br />
conserva actualmente esta capela nada que acuse a sua gran<strong>de</strong>za<br />
primitiva nem a sua antiguida<strong>de</strong> respeitável.<br />
Capela do Anjo da Guarda e S. Crispim<br />
Situada na rua da Rainha, tem junto a si o albergue dos pobres<br />
passageiros, do qual em outro lugar me ocuparei.<br />
Tem esta a capela-mor dividida do corpo restante por um arco<br />
<strong>de</strong> pedra, encostando-se a este dois altares laterais.<br />
Foram seus fundadores e instaladores da confraria e irmanda<strong>de</strong><br />
dos mestres sapateiros, João Baião e Pero Baião, em 1315, legando<br />
ambos para fundo <strong>de</strong>sta piedosa instalação todas as suas rendas e<br />
herda<strong>de</strong>s.<br />
O cabido da real Colegiada <strong>de</strong> <strong>Guimarães</strong>, por um antigo<br />
contrato com esta confraria, reformado já em 1492, era obrigado a<br />
acompanhar para a sua igreja os pobres falecidos neste albergue, para<br />
lhes dar sepultura, e a cantar na capela da confraria cinco missas<br />
acolitadas e acompanhadas a orgão, em <strong>de</strong>terminados dias, pela<br />
esmola <strong>de</strong> cinquenta réis cada uma.<br />
É curiosa, além <strong>de</strong> singular, a seguinte disposição dos<br />
instituidores:<br />
«Or<strong>de</strong>nou Pedro Baião e João Baião que todas as quartas-feiras<br />
<strong>de</strong> Cinza <strong>de</strong> cada um ano lhe dissessem um Responso com uma vigília<br />
sobre a sua sepultura que está em S. Paio e darão <strong>de</strong> esmola aos<br />
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Padres aquilo que bem parecer aos mordomos e irão com cruz<br />
alevantada e estarão presentes todos os mordomos e rezarão todos<br />
sobre suas sepulturas por suas almas, e este responso e vigília se<br />
dirão no dito dia <strong>de</strong> Cinza a tar<strong>de</strong> e acabado ele farão os ditos<br />
confra<strong>de</strong>s por uma mesa na dita Igreja e todos assentados a ela com<br />
muita quietação farão uma consoada e gastarão nela aquilo que bem<br />
lhes parecer e comerão e beberão por um copo e não querendo<br />
obe<strong>de</strong>cer o riscarão da Confraria e o que se puser à mesa não sendo<br />
confra<strong>de</strong> pagará meia libra <strong>de</strong> cera».<br />
Esta célebre disposição tinha por fim, muito louvável, o terminar<br />
ódios e <strong>de</strong>savenças entre os confra<strong>de</strong>s, que se dariam por congraçados<br />
bebendo pelo mesmo copo.<br />
Foi reformada esta capela em 1849, e levantaram-lhe o novo<br />
frontispício no ano <strong>de</strong> 1852.<br />
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Recolhimento do Anjo<br />
É opinião comum entre nós, que o actual recolhimento do Anjo,<br />
sito no largo <strong>de</strong> S. Paio, fôra o antigo hospital chamado do concelho,<br />
on<strong>de</strong> os fra<strong>de</strong>s franciscanos vieram <strong>de</strong> Vila Ver<strong>de</strong> - arrabal<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>Guimarães</strong> - instalar o seu segundo convento.<br />
Mas se aten<strong>de</strong>rmos à posição do recolhimento, e ao local, que os<br />
antigos escritores assinam ao hospital, em breve nos convenceremos,<br />
que havia dois edifícios muito distintos, e colocados em lugar muito<br />
diverso, sem que este recolhimento jamais servisse aos fra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> S.<br />
Francisco. - Veja-se Igreja e convento <strong>de</strong> S. Francisco.<br />
A memória mais remota que pu<strong>de</strong> encontrar a respeito <strong>de</strong>ste<br />
recolhimento, atinge aos anos <strong>de</strong> 1600: época em que ele servia às<br />
beatas franciscanas, como se vê na parte em que trato do convento da<br />
Madre <strong>de</strong> Deus.<br />
Passou este recolhimento por várias reformas na sua fábrica;<br />
sendo mudada a capela para o lugar, que hoje ocupa, e benzida em<br />
1748. Consta esta apenas dum altar-mor <strong>de</strong> talha sem importância,<br />
pintado a cores, e tem fronteiro à porta da sacristia outro pequeno<br />
altar, <strong>de</strong>dicado ao Senhor da Cana Ver<strong>de</strong>. O coro <strong>de</strong> cima ocupa quase<br />
meio recinto <strong>de</strong> toda a capela, e sobre os <strong>de</strong>graus do altar-mor do lado<br />
da Epístola há uma gran<strong>de</strong>, que serve <strong>de</strong> comungatório às recolhidas.<br />
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Tem ainda ao lado do púlpito sobre uma peanha <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira a imagem<br />
<strong>de</strong> S. Francisco <strong>de</strong> Assis.<br />
Ainda hoje serve <strong>de</strong> recolhimento <strong>de</strong> beatas franciscanas, que ali<br />
são admitidas pelo administrador do concelho: e usam <strong>de</strong> capa cor <strong>de</strong><br />
cinza e véu branco, segundo as <strong>de</strong>terminações do arcebispo <strong>de</strong> Braga<br />
D. José <strong>de</strong> Bragança em 1751; o qual no ano seguinte lhe conce<strong>de</strong>ra o<br />
uso <strong>de</strong> escapulário.<br />
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Capela <strong>de</strong> S. Lázaro<br />
Está no fim da rua <strong>de</strong> D. João I, e nos limites da freguesia <strong>de</strong> S.<br />
Miguel <strong>de</strong> Creixomil, sendo edificada em 1600 como consta da<br />
inscrição lavrada na padieira da porta <strong>de</strong> entrada.<br />
Festejam-se aqui a expensas e cuidado dos <strong>de</strong>votos, as imagens<br />
da Senhora da Ajuda, em dia incerto; a <strong>de</strong> S. Lázaro, no domingo da<br />
quaresma do mesmo título; e a Santa Marta a 29 <strong>de</strong> Julho, sendo<br />
nesta noite a capela muito visitada pelos habitantes <strong>de</strong> <strong>Guimarães</strong>.<br />
Tinha antigamente esta capela, junto <strong>de</strong> si o seu hospital ou<br />
gafaria, administrada pela câmara da vila, que cobrava alguns foros e<br />
rendas, que a mesma câmara anualmente arrematava; passando mais<br />
tar<strong>de</strong> esta administração para a Santa <strong>Casa</strong> da Misericórdia em 1681,<br />
por alvará do príncipe regente.<br />
Capela <strong>de</strong> Santa Luzia<br />
Foi edificada em 1600, como consta da data respectiva, na<br />
pequena sineira, sobre a frente, e está situada na rua a que dá o<br />
nome. Tem a porta principal <strong>de</strong>baixo duma alpendrada, sobre colunas<br />
<strong>de</strong> pedra, além <strong>de</strong> mais duas portas laterais a sul e norte.<br />
É muito concorrida <strong>de</strong> <strong>de</strong>votos, principalmente no dia da sua<br />
padroeira, a qual o cabido festeja com missa cantada e sermão,<br />
recebendo por isso todas as esmolas.<br />
Havia aqui em 1488 uma gafaria para mulheres, que<br />
anteriormente estivera no Cano, hoje rua <strong>de</strong> Arcela, chamada então<br />
Cano das Gafas.<br />
É tão pequena esta capela <strong>de</strong> Santa Luzia, que por falta <strong>de</strong><br />
espaço tem o púlpito <strong>de</strong> pedra <strong>de</strong>baixo da alpendrada.<br />
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Capela <strong>de</strong> Santa Cruz<br />
Edificada em 1639, está ao lado nascente da rua, a que dá o<br />
nome, e perto da antiga porta da Freiria, hoje <strong>de</strong>molida. Tem ali<br />
instituida a irmanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Cruz, que gozava <strong>de</strong> muitas<br />
indulgências por bula apostólica, e que celebra a sua festivida<strong>de</strong> a 3 <strong>de</strong><br />
Maio.<br />
Tem a porta principal <strong>de</strong>baixo duma alpendrada sobre colunas<br />
<strong>de</strong> pedra, e <strong>de</strong>fronte, no meio do adro superior à rua, levanta-se um<br />
cruzeiro <strong>de</strong> pedra com esta inscrição: O cónego Arrochela o pôs. Ano<br />
<strong>de</strong> 1640.<br />
Capela e recolhimento das Trinas<br />
Está situada esta capela com o título <strong>de</strong> Nossa Senhora das<br />
Mercês, e vulgarmente das Trinas, na rua <strong>de</strong> D. Luís I, antigamente<br />
chamada rua do Gado.<br />
Junto a ela levanta-se um mo<strong>de</strong>sto recolhimento, on<strong>de</strong> vivem<br />
algumas religiosas mulheres, que nele são admitidas pela irmanda<strong>de</strong><br />
da Misericórdia; e usam <strong>de</strong> hábito branco, com a cruz da Trinda<strong>de</strong> ao<br />
peito, e mantilha preta.<br />
Deve-se esta instituição ao dr. Paulo <strong>de</strong> Mesquita Sobrinho, que<br />
a realizara em 1653, dotando-a com dois mil e quinhentos cruzados,<br />
dos quais é administradora a mesma Santa <strong>Casa</strong> da Misericórdia.<br />
Do rendimento <strong>de</strong>sta dotação, manda o instituidor, que por seis<br />
recolhidas se reparta um vintém diário ou meio alqueire <strong>de</strong> pão por<br />
semana, com a obrigação <strong>de</strong> irem todos os dias ouvir missa à igreja da<br />
Misericórdia, segundo a intenção do mesmo instituidor: e se por<br />
qualquer motivo esta casa for extinta, or<strong>de</strong>na o mesmo, que este<br />
rendimento se aplique para a sustentação <strong>de</strong> mais dois capelães do<br />
coro da Misericórdia.<br />
Por enquanto ainda esta instituição persiste, segundo a intenção<br />
<strong>de</strong> Paulo <strong>de</strong> Mesquita; mas além das seis recolhidas que este<br />
<strong>de</strong>terminam, recebe a mesa da Misericórdia ali mais algumas, que a<br />
casa possa comodamente recolher, mas sem direito à distribuição da<br />
esmola.<br />
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Um dos capelães do coro da Misericórdia é obrigado a ir ali dizer<br />
missa, em todos os domingos e dias santos; e no domingo da SS.<br />
Trinda<strong>de</strong> tem ali lugar, em cada ano, uma festivida<strong>de</strong> em honra <strong>de</strong>ste<br />
augustíssimo mistério, com o Senhor exposto, missa cantada e<br />
sermão.<br />
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Capela <strong>de</strong> S. Domingos<br />
Defronte da porta principal da igreja <strong>de</strong> S. Domingos, levanta-se<br />
a majestosa capela <strong>de</strong>sta venerável Or<strong>de</strong>m: a qual, pelo seu espaço e<br />
notável elegância, antes mereceria o título <strong>de</strong> igreja.<br />
Foi fundada em 1743; e tem quatro altares laterais, sendo o<br />
primeiro <strong>de</strong>stes, da parte do Evangelho, <strong>de</strong>dicado à imagem do<br />
Coração <strong>de</strong> Maria e o imediato a Santo Afonso Maria <strong>de</strong> Ligório, e dos<br />
dois da parte da Epístola pertence o primeiro à imagem <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora das Dores e o <strong>de</strong> Baixo a Santa Bárbara.<br />
Todas estas imagens são duma escultura muito aceitável; assim<br />
como as do patriarca S. Domingos e Santa Catarina <strong>de</strong> Sena, que se<br />
levantam no elegante retábulo da capela-mor.<br />
A frente é <strong>de</strong> pedra fina, bem trabalhada e esbelta, tendo no<br />
frontão em tamanho mais que natural a imagem <strong>de</strong> Santa Catarina <strong>de</strong><br />
Sena.<br />
Além doutras solenida<strong>de</strong>s que nesta capela são celebradas, há<br />
um Lausperene em todos os domingos do ano, instituído em 6 <strong>de</strong> Maio<br />
<strong>de</strong> 1816, por D. Ana Margarida dos <strong>Guimarães</strong> Golias; outro às<br />
quartas-feiras, <strong>de</strong> quinze em quinze dias, instituído por D. Maria<br />
Teresa do Amaral Branco, a 3 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1861, e ainda outro mais,<br />
igualmente <strong>de</strong> quinze em quinze dias, às segundas-feiras, por<br />
instituição da con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Vila Pouca, Margarida, a 6 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong><br />
1865.<br />
Capela <strong>de</strong> S. Francisco<br />
Junto da igreja <strong>de</strong> S. Francisco, e um pouco a poente, com a<br />
frente voltada a norte, está a capela <strong>de</strong>sta venerável Or<strong>de</strong>m, que dos<br />
seus rendimentos a mandara edificar em 1750.<br />
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É elegante e bastante espaçosa; pois além do altar principal e<br />
capela-mor, a <strong>de</strong>ntro dum arco <strong>de</strong> pedra, tem mais dois altares<br />
laterais, púlpito e coro.<br />
A frontaria <strong>de</strong> pedra é formosa e bem lançada; tendo a porta<br />
principal entre elegantes colunatas e adornando-lhe o frontão a<br />
imagem, em pedra, da rainha Santa Isabel.<br />
Esta capela, hoje a mais asseada da cida<strong>de</strong>, foi ultimamente<br />
restaurada no interior, pela magnanimida<strong>de</strong> do benemérito ministro da<br />
Or<strong>de</strong>m, o comendador Cristovão José Fernan<strong>de</strong>s e Silva: o qual com o<br />
subsídio <strong>de</strong> mais algumas esmolas <strong>de</strong> particulares, a mandou estucar,<br />
azulejar e dourar, adaptando os dois altares laterais para receberem<br />
duas novas imagens, a Virgem das Dores e o Coração <strong>de</strong> Maria,<br />
oferecidas ambas à Or<strong>de</strong>m: aquela em cumprimento dum voto <strong>de</strong> D.<br />
Custódia <strong>de</strong> Matos Chaves, e esta pela pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns fiéis.<br />
Concluída esta restauração, em que se gastaram perto <strong>de</strong> cinco<br />
anos, foi a capela solenemente benzida na sexta-feira, 30 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong><br />
1880, pelo comissário da Or<strong>de</strong>m, padre António Joaquim Teixeira;<br />
cantando-se missa em seguida com exposição do SS. Sacramento, e<br />
assistindo a todos os actos a mesa <strong>de</strong>sta corporação.<br />
É igualmente formosa e asseada no gosto mo<strong>de</strong>rno a sacristia,<br />
tendo no centro um altar <strong>de</strong>dicado ao Senhor dos Passos: celebrou-se<br />
aqui missa pela vez primeira a 17 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1881.<br />
Há nesta capela, além doutras solenida<strong>de</strong>s religiosas,<br />
Lausperene em todas as sextas-feiras do ano, instituído por Manuel<br />
Pereira Soares, da cida<strong>de</strong> do Porto, em 1809.<br />
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Capela do Campo Santo<br />
No princípio do século XVI, quando a antiga confraria da<br />
Misericórdia existia na capela <strong>de</strong> S. Brás, nos claustros da Colegiada,<br />
era o cemitério público - para enterramento dos pobres - nos mesmos<br />
claustros, e no espaço circuitado por estes. Mas com a mudança da<br />
confraria para a sua nova igreja, no campo da Misericórdia, ficou<br />
servindo <strong>de</strong> cemitério público o adro <strong>de</strong> S. Sebastião, junto ao campo<br />
<strong>de</strong> S. Francisco.<br />
A irmanda<strong>de</strong> da Misericórdia ainda hoje, em 1 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong><br />
cada ano - por ocasião da procissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>funtos e da visita a várias<br />
igrejas da cida<strong>de</strong>, encomendando a Deus as almas dos mortos, que<br />
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nelas repousam, canta um Memento no mesmo adro, do lado sul;<br />
honrando assim a memória dos fiéis que ali foram sepultados.<br />
Todavia, como este lugar era impróprio para tal fim, por ser<br />
pouco extenso e cercado <strong>de</strong> vizinhos, que se queixavam das péssimas<br />
condições higiénicas do mesmo; a mesa da Santa <strong>Casa</strong> da<br />
Misericórdia, em sessão <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1770, e por proposta e<br />
oferecimento do D. Prior <strong>de</strong> <strong>Guimarães</strong>, Domingos <strong>de</strong> Portugal e Gama,<br />
resolveu transferi-lo para um lugar eminente e um pouco afastado do<br />
centro da povoação, chamado o campo do Capitão Farrapo, on<strong>de</strong> até<br />
agora esteve.<br />
A obra principiou no mesmo ano; e o novo cemitério ficou<br />
servindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, circuitado por uma pare<strong>de</strong> <strong>de</strong>masiadamente<br />
baixa, e que dando por isso entrada aos gados e lugar a muitas<br />
profanações, foi no princípio <strong>de</strong>ste século elevada a mais conveniente<br />
altura, e fachada com um portão <strong>de</strong> ferro e pedra, sobre o qual se<br />
esculpiram as armas do D. Prior, como hoje ainda se vê.<br />
Ao lado <strong>de</strong>ste portão está gravada a seguinte inscrição lapidar:<br />
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Hic Gama hic sua Portugalia figit et arma<br />
Quaeis vitae invigilat quaeis fugat urbe necem:<br />
Cum tumulis mors urbe fugit: stat vita superstes<br />
Arma necem et vitam sub ditione tenent.<br />
MDCCLXX.<br />
É a capela <strong>de</strong>ste cemitério, como toda a mais obra, acanhada e<br />
humil<strong>de</strong>. Tem no altar-mor a imagem <strong>de</strong> Cristo crucificado, e adornamlhe<br />
as pare<strong>de</strong>s interiores mais seis imagens do Re<strong>de</strong>ntor, nos Passos<br />
da Via Sacra, em tamanho menos que natural, mas notáveis pela<br />
semelhança das feições, que neles se encontra; tem ainda por lado um<br />
altar raso e simples, on<strong>de</strong> se celebra missa.<br />
Numa <strong>de</strong>pendência adjunta, que serve <strong>de</strong> sacristia, vencera-se<br />
com muita <strong>de</strong>voção uma imagem do Senhor Morto, a quem os filhos <strong>de</strong><br />
<strong>Guimarães</strong> costumam encomendar-se, quando daqui partem para<br />
terras do Brasil.<br />
Foi concluída esta capela pelos anos <strong>de</strong> 1824, sendo a imagem<br />
do Senhor crucificado conduzida para ali em procissão solene,<br />
acompanhada pelo cabido, corporações religiosas e irmanda<strong>de</strong>s em 23<br />
<strong>de</strong> Janeiro do ano seguinte. A imagem da Senhora das Dores, aos pés<br />
<strong>de</strong>ste crucifixo, foi mandada fazer por <strong>de</strong>votos, e conduzida para a<br />
9
mesma capela, e com igual acompanhamento do cabido, clero e<br />
irmanda<strong>de</strong>s, em 10 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1836.<br />
Na noite <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1841, foi a capela arrombada<br />
pelos ladrões, que apenas levaram alguma cera, por mais nada <strong>de</strong><br />
valor ali existir então.<br />
Fechou-se este cemitério para enterramentos no dia 11 <strong>de</strong> Maio<br />
<strong>de</strong> 1879, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> benzido o novo cemitério municipal, no monte da<br />
Atouguia, do qual em seguida me ocupo.<br />
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Cemitério municipal<br />
Já em 1855, reconhecendo a câmara a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dotar a<br />
cida<strong>de</strong> com um cemitério mais amplo e em melhores condições,<br />
resolvera em sessão <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> Setembro, para tal fim, a escolha<br />
<strong>de</strong>finitiva do campo da Quintã, um pouco a poente do hospital geral;<br />
todavia nunca isto chegou a realizar-se.<br />
Só mais tar<strong>de</strong>, tratando-se do mesmo assunto, em sessão <strong>de</strong> 14<br />
<strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1870, foi escolhido e aprovado um espaçoso local no<br />
planalto do monte <strong>de</strong> Atouguia, on<strong>de</strong> actualmente se vê.<br />
Vencidas as dificulda<strong>de</strong>s da expropriação dos terrenos e a<br />
relutância dos que votaram contra a escolha do local, principiaram as<br />
obras e correram morosamente até ao estado em que o vemos, ainda<br />
incompleto.<br />
Fica este cemitério num formoso e eminente lugar, no monte da<br />
Atouguia - como disse - limites da freguesia <strong>de</strong> S. Miguel <strong>de</strong> Creixomil,<br />
a noroeste da cida<strong>de</strong>, e distante <strong>de</strong>la menos dum quilómetro.<br />
Foi solenemente benzido no dia 11 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1879, às doze<br />
horas da manhã, pelo rev. arcipreste <strong>de</strong>ste julgado, António Manuel <strong>de</strong><br />
Matos então aba<strong>de</strong> do mosteiro <strong>de</strong> Souto. Assistiram a este acto<br />
solene as Or<strong>de</strong>ns Terceiras, quase todas as irmanda<strong>de</strong>s e confrarias <strong>de</strong><br />
<strong>Guimarães</strong>, a câmara municipal e gran<strong>de</strong> concurso <strong>de</strong> povo.<br />
Des<strong>de</strong> este dia terminaram na cida<strong>de</strong> os enterramentos <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> barreiras.<br />
Falarei doutros cemitérios ainda, embora muito <strong>de</strong> passagem,<br />
quando me ocupar da gafaria <strong>de</strong> S. Lázaro e da capela <strong>de</strong> S. Roque da<br />
Serra.<br />
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Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora da Guia<br />
Situada primitivamente no interior duma das torres das<br />
muralhas a que a imagem <strong>de</strong>ra o título, serviu à confraria da mesma<br />
invocação até 1788; mas como então o cabido da real Colegiada<br />
obtivesse uma provisão, que o autorizava a <strong>de</strong>molir a torre; e como<br />
por esta obra se viesse a inutilizar a capela, resolveu a confraria, então<br />
já erecta em irmanda<strong>de</strong>, edificar para seu uso outra nova, no local<br />
on<strong>de</strong> actualmente existe.<br />
Principiadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo as obras, foi benzida a capela-mor e<br />
aberta ao culto público a 15 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1793; e neste ponto<br />
pararam as obras, sem se continuarem do arco cruzeiro para baixo,<br />
por isso que a continuação do corpo da capela obstruía a rua,<br />
impedindo o trânsito.<br />
Em 1852, resolveu a mesa restaurar a capela, fazendo-lhe a<br />
frente <strong>de</strong> pedra, que até ali era <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira; e em 1855 a 1856<br />
mandou meter-lhe cunhais e cornija <strong>de</strong> pedra fina, e levantar-lhe a<br />
sineira. E assim ficará por concluir, pela má escolha e inconveniência<br />
do local.<br />
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