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revista gragoatá 27 - UFF

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Gragoatá Michael Korfmann e Felipe Kegles Kepler<br />

104<br />

seletividade dos anteriores e a incluem em sua própria realização<br />

seletiva.<br />

Dessa forma, um texto literário deve ser lido como caminho<br />

histórico no qual cada acontecimento herda algo do anterior. a<br />

narratividade literária não só desenvolve, mas também questiona<br />

a relação interna entre os acontecimentos. Por conseguinte, a<br />

superação da linearidade das seqüências é também um elemento<br />

narrativo, que possibilita “o acesso livre ao sentido de acontecimentos<br />

passados e futuros. [...] História se forma através do desligamento<br />

de seqüências” (LUHMaNN, 1984, p. 118). Portanto,<br />

um acontecimento narrativo não pode ser definido apenas por<br />

sua posição numa seqüência temporal irreversível; é preciso ver<br />

as relações de sentido que ele acolhe em relação a acontecimentos<br />

variados que se formam em direção a uma história.<br />

Esse aspecto temporal, ao lado da idéia de redução de<br />

complexidade como um princípio básico da narrativa, encontrase,<br />

de formas diferenciadas, em diversas abordagens teóricas<br />

a respeito do tempo narrado/contado e do tempo da narração,<br />

como, por exemplo, em Morphologische Poetik (1968), de Günter<br />

Müller. o tempo narrado caracteriza-se por cortes temporais ou<br />

condensações. Na narrativa,<br />

minutos, como anos, podem ficar suprimidos na representação<br />

literária, sem ameaçar o contexto de sentido e ação; o paradoxo<br />

entre vida e narrar consiste, por fim, não no fato de que cortes<br />

temporais sejam o princípio característico negativo de toda<br />

forma de narrar. Eles podem acontecer silenciosamente ou<br />

ser mencionados de maneira explícita. a fórmula básica para<br />

este último é: algum tempo depois (LÄMMErt, 1991, p. 83).<br />

Paul ricoeur define a formação do aspecto temporal através<br />

de uma síntese narrativa. Uma história “interliga duas dimensões<br />

de tempo, uma cronológica e uma não cronológica” (1988, p. 107).<br />

a dimensão cronológica caracteriza uma história no nível da mera<br />

seqüência de seus acontecimentos, enquanto a não-cronológica é<br />

a “verdadeira dimensão configuradora, através da qual a fábula<br />

transforma os acontecimentos em história” (rICoEUr, 1988, p.<br />

107). a sucessão cronológica de acontecimentos responde a pergunta<br />

permanente: “e depois?” e situa a história próxima de uma<br />

idéia linear de tempo, entretanto é a dimensão configuradora que<br />

estabelece a verdadeira síntese narrativa. Uma mera sucessão não<br />

constitui uma história, é antes a configuração narrativa que “forma<br />

um contorno a partir da seqüência temporal” (rICoEUr, 1988,<br />

p. 108).retomando um conceito de aristóteles, ricoeur enfatiza<br />

que essa verdadeira configuração narrativa se constitui “a partir<br />

da relação entre início, meio (centro) e fim” (1985, p. 16). a síntese<br />

narrativa transforma um estado inicial em um estado final, um<br />

processo que contém uma virada marcando o meio. Início, meio e<br />

fim funcionam como pontos de orientação, conferindo densidade<br />

Niterói, n. <strong>27</strong>, p. 97-115, 2. sem. 2009

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