revista gragoatá 27 - UFF
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Gragoatá Fernanda Correa Silveira Galli<br />
192<br />
de (des)dobrar e (re)costurar, percebo o texto na sua relação com<br />
outros textos, outros discursos, outras imagens, constituindo<br />
e reconstruindo-se constantemente, de forma inacabada. a<br />
construção do texto está, dessa forma, sempre a se (re)fazer, a<br />
se (re)configurar, a ser retocada, uma vez que ele “não é mais<br />
amarrotado, dobrado feito uma bola sobre si mesmo, mas recortado,<br />
pulverizado, distribuído, avaliado segundo critérios de<br />
uma subjetividade que produz a si mesma” (LÉVY, 1996, p. 36).<br />
Nessa perspectiva, o processo de leitura se define, de toda<br />
forma, como a possibilidade de se (des)cobrir no texto os seus<br />
múltiplos sentidos, os quais se constituem significativamente<br />
na relação com os outros sentidos, produzidos pelos múltiplos<br />
sujeitos-leitores e co-autores, seja no texto-papel ou no textotela.<br />
refletindo sobre essas considerações teóricas a respeito da<br />
leitura, julgo possível pensar que, no (hiper)texto, embora o movimento<br />
de navegar na tela (ir/vir) possa estar mais relacionado<br />
à natureza do visível – beleza, sedução, idealização, satisfação<br />
–, os sentidos não deixam de ser produzidos, (trans)formados e<br />
(re)criados pelo sujeito-leitor, que passa a compor outros textos<br />
no emaranhado da superfície hipertextual. Porém, uma possível<br />
mudança parece ocorrer na relação sujeito e texto-tela, pois com<br />
o desaparecimento do objeto manipulável, a perda da materialidade<br />
do livro, a privação da percepção de nossa posição<br />
de leitor com relação ao documento, os gestos – físicos – que<br />
substituem outros gestos, menos visíveis, menos palpáveis,<br />
menos concretos do leitor convencional – como ocorre com os<br />
meios eletrônicos, virtuais – modifica, certamente, a relação<br />
do sujeito com o texto e tira dele a possibilidade de abrir um<br />
livro e ler em qualquer lugar, a qualquer momento (CoraCI-<br />
NI, 2005, p. 37).<br />
a leitura como processo virtual é, então, resultado da<br />
chegada das novas tecnologias, do processo de globalização,<br />
enfim, do mundo (pós-)moderno que se coloca “na perspectiva<br />
da pluralidade, da fragmentação de tudo e de todos, dos limites<br />
obscuros e indecisos, dos sentidos que deslizam o tempo todo”<br />
(CoraCINI, 2005, p. 39). É provável, pois, que o mundo do<br />
consumo, hoje, além de alterar nossas relações com as pessoas<br />
e com os objetos, esteja modificando também nossa relação com<br />
os textos, hipertextos, enfim, com a leitura, pois “o princípio do<br />
self-service, a busca de emoções e prazeres, o cálculo utilitarista,<br />
a superficialidade dos vínculos parecem ter contaminado o<br />
conjunto do corpo social” (LIPoVEtSKY, 2004, p. 33). Esses efeitos<br />
parecem estar ancorados na “vontade de saber” e no desejo<br />
de querer-fazer o que é reconhecido, como forma de progredir<br />
em relação à verdade e ao saber que, consequentemente, proporcionam<br />
poder (FoUCaULt, 1979).<br />
a vontade de verdade a que se refere Foucault está relacionada<br />
à busca de dominação colocada em prática na sociedade, na<br />
Niterói, n. <strong>27</strong>, p. 189-204, 2. sem. 2009