Livro Vicente Rever para crer - Travessa da Ermida
Livro Vicente Rever para crer - Travessa da Ermida
Livro Vicente Rever para crer - Travessa da Ermida
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Desembarcado o cofre <strong>da</strong>s relíquias comprova-se<br />
depois que não contém um cadáver sem vi<strong>da</strong> porque o<br />
mártir não cessa de fazer milagres em favor de quem<br />
o invoca nas aflições <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e mormente de quem o<br />
visita na sua nova mora<strong>da</strong>.<br />
Junto do túmulo desenrolam-se rituais específicos:<br />
são invocações prolonga<strong>da</strong>s com a colocação <strong>da</strong>s mãos<br />
sobre o túmulo e outros gestos mais ou menos codificados;<br />
é a deposição de enfermos perto do corpo de<br />
S. <strong>Vicente</strong> que por vezes aí ficam durante uma noite<br />
inteira; toma o carácter de “catarese” colectiva com<br />
uma multidão que invade a igreja, reza e chora quando<br />
soa pela Ci<strong>da</strong>de a notícia de alguém que chegou e pede<br />
a intervenção do Santo. O culto ao santo compreende<br />
gestos obrigatórios e promessas a cumprir por parte<br />
do candi<strong>da</strong>to ao milagre ou de quem a ele se associa.<br />
Os gestos rituais são coman<strong>da</strong>dos pelo santo (através<br />
do sonho, <strong>da</strong> inspiração pessoal, dos sinais premonitórios)<br />
ou simplesmente por meio de prescrições<br />
humanas, nomea<strong>da</strong>mente <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des eclesiásticas.<br />
O culto tem lugar quase sempre durante a noite, lembrando<br />
irresistivelmente as curas de Epi<strong>da</strong>uro de que<br />
se falou mais acima.<br />
Feito o milagre, é a festa colectiva, em que participam<br />
não apenas os assistentes directos mas to<strong>da</strong> a Ci<strong>da</strong>de<br />
que assim toma consciência <strong>da</strong> vitali<strong>da</strong>de do santo<br />
padroeiro que a protege. Ninguém dorme: cantos e<br />
<strong>da</strong>nças, distribuição de comi<strong>da</strong> e bebi<strong>da</strong>, uma acção<br />
popular que desgosta por vezes os crentes mais sensíveis.<br />
Os <strong>Vicente</strong>s estão em festa.<br />
d) NÓS OS VICENTES<br />
O <strong>Vicente</strong> lisboeta embarcou nas naus <strong>da</strong> Descoberta,<br />
partindo de Belém, e contribuiu <strong>para</strong> tornar o “Mar<br />
Tenebroso” de antanho no “Mar Luminoso”, caminho<br />
de Novos Mundos.<br />
Com duas mãos – o acto e o destino –<br />
Desvendámos. No mesmo gesto ao céu<br />
Uma ergue o facho trémulo e divino<br />
E a outra afasta o véu.<br />
(Fernando Pessoa, Mensagem)<br />
“<strong>Vicente</strong>” voltou <strong>para</strong> casa (não há muitos anos…)<br />
com o fim do ciclo <strong>da</strong>s Descobertas. Mas a “Janga<strong>da</strong> de<br />
Pedra” (a Península Ibérica de José Saramago) despega-se<br />
agora (de novo?…) <strong>da</strong> Europa. …Que horror!…<br />
Não te amofines <strong>Vicente</strong>… vai…vai ao encontro dos<br />
Mundos Novos … Os que estão dentro e os que estão<br />
fora de ti. Voa em direcção ao futuro…<br />
Cras...Cras…<br />
E outra vez conquistemos a distância<br />
Do mar ou outra, mas que seja nossa.<br />
(Fernando Pessoa, Mensagem)<br />
13