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Revista Viver 5 - Agriculturas e agricultores da BIS - Adraces

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Grande tema: opiniões<br />

João Fernandes Antunes,<br />

empresário agrícola em I<strong>da</strong>nha-a-Nova<br />

“ As pessoas não querem<br />

trabalhar na activi<strong>da</strong>de<br />

agrícola e têm razão!”<br />

“Talvez a grande questão <strong>da</strong> agricultura portuguesa seja a de não existir uma política agrícola… do outro<br />

lado existe. Existe planeamento, eles sabem o que querem atingir.<br />

Aqui existe a gestão dos dinheiros <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de. Como tal, é difícil nós atingirmos objectivos, quando<br />

não existem objectivos definidos. Basta nós analisarmos e vermos que os nossos últimos três ministros eram<br />

funcionários em Bruxelas. Isso diz tudo!”<br />

Qual é o principal problema <strong>da</strong> Região?<br />

A Desertificação.<br />

Desertificação ou despovoamento?<br />

É capaz de ser um pouco isso...<br />

Despovoamento que leva à desertificação. Será que a<br />

agricultura e os <strong>agricultores</strong> podem fazer alguma coisa,<br />

por eles próprios, para aju<strong>da</strong>r a parar a hemorragia do<br />

despovoamento e <strong>da</strong> desertificação?<br />

Eu diria que têm um papel muito limitado, por duas<br />

razões: Uma, porque hoje a agricultura tem o peso que<br />

tem na socie<strong>da</strong>de portuguesa e na activi<strong>da</strong>de económica<br />

em geral (é uma percentagem muito baixa <strong>da</strong>quilo que<br />

representa a activi<strong>da</strong>de hoje do PIB nacional); a segun<strong>da</strong><br />

assenta na questão <strong>da</strong> desertificação, que surge pelo<br />

declínio <strong>da</strong> agricultura a partir dos anos 60 e porque não<br />

surgiram activi<strong>da</strong>des que substituíssem a quebra <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de<br />

agrícola. Portanto, ultrapassa a questão <strong>da</strong> agricultura<br />

e dos <strong>agricultores</strong> em si. Hoje, o desenvolvimento<br />

só se fará com outras activi<strong>da</strong>des, que é o normal não só<br />

aqui como em todo o lado.<br />

Aquilo que se produz e se cultiva é indiferente para o<br />

emprego que existe no sector primário?<br />

De certa maneira é, porque o que se constata é que existe<br />

uma porção muito grande de pessoas que deixaram de<br />

trabalhar na activi<strong>da</strong>de agrícola. Digamos que uma <strong>da</strong>s<br />

questões que acelerou o declínio <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de agrícola<br />

nos últimos anos foi o facto de as pessoas não quererem<br />

trabalhar na activi<strong>da</strong>de agrícola. E isso é fomentado<br />

por várias razões. E as pessoas têm razão. Se hoje lhes<br />

é permitido um nível de vi<strong>da</strong> diferente em activi<strong>da</strong>des<br />

socialmente reconheci<strong>da</strong>s de outra maneira, é natural<br />

que queiram ter outras activi<strong>da</strong>des e que não queiram<br />

trabalhar na activi<strong>da</strong>de agrícola.<br />

Texto: Camilo Mortágua<br />

Foto: ADRACES<br />

Por um lado, há pessoas que não querem trabalhar na agricultura.<br />

Por outro, há pessoas queixando-se de que não há<br />

emprego, de que não há trabalho, mesmo na agricultura<br />

<strong>da</strong> zona. Quer dizer, há as duas vertentes... ou não?<br />

Por isso é que nós assistimos à imigração, que em certa<br />

altura colmatou a necessi<strong>da</strong>de de mão-de-obra! Eles vieram<br />

fazer trabalhos que os portugueses já não queriam fazer.<br />

Mas nós conhecemos essa experiência <strong>da</strong> Europa e dos países<br />

mais desenvolvidos. Isto não é na<strong>da</strong> de novo também<br />

para nós. É uma reali<strong>da</strong>de que a gente conhece bem.<br />

Será que o desemprego, como agora se diz, não tem escala<br />

suficiente para suscitar o aparecimento de projectos ditos<br />

estruturantes?<br />

O despovoamento de que estávamos a falar resulta também<br />

<strong>da</strong> industrialização. O trabalho na agricultura deixou<br />

de ser manual para se tornar mecanizado e, a partir <strong>da</strong>í,<br />

passou a haver menos empregos. Portanto, há vários factores<br />

que concorrem para a mesma questão.<br />

Porque é que do outro lado <strong>da</strong> fronteira existem activi<strong>da</strong>des<br />

agrícolas que podem ser classifica<strong>da</strong>s de relativa intensi<strong>da</strong>de<br />

de mão-de-obra e deste lado isso é impossível?<br />

É talvez a grande questão que se tem de colocar hoje na<br />

agricultura portuguesa. Eu penso que hoje, em Portugal,<br />

não existe política agrícola. Do outro lado existe. Existe<br />

planeamento, eles sabem o que querem atingir. Aqui<br />

existe a gestão dos dinheiros <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de. Como tal,<br />

é natural que seja difícil nós atingirmos objectivos, quando<br />

não existem objectivos definidos.<br />

Então podemos concluir que o problema é falta de política<br />

e falta de organização?<br />

É um conjunto de vários problemas, entre eles esses também.<br />

Basta nós analisarmos e vermos que os nossos últimos três<br />

ministros eram funcionários em Bruxelas. Isso diz tudo.

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