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Revista Viver 5 - Agriculturas e agricultores da BIS - Adraces

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Joaquim Alberto Simões<br />

Carta de Paris<br />

Primavera de 2007<br />

Todos os anos, na primeira semana de Março, há um acontecimento<br />

muito publicitado, aqui em Paris, que é a Feira <strong>da</strong> Agricultura. E eu,<br />

como em todos os anos anteriores, vou <strong>da</strong>r uma olha<strong>da</strong> para ver o<br />

que se passa numa activi<strong>da</strong>de que, ain<strong>da</strong> hoje, gostaria que fosse a<br />

minha. Por isso, mais uma vez, fui à Feira <strong>da</strong> Agricultura.<br />

Há alguns anos, a Feira <strong>da</strong> Agricultura de Paris era um acontecimento<br />

de nível mundial. Tinha representações de todos os países desenvolvidos<br />

do mundo, e era possível encontrar lá o que de melhor se fazia<br />

no mundo sobre agricultura, e tudo o que era mundo rural. Há cerca<br />

de 15 anos reduziram muito a área de exposição, porque tiraram <strong>da</strong><br />

Feira to<strong>da</strong> a maquinaria e alfaias pesa<strong>da</strong>s, cuja exposição passou a<br />

ser feita a mais de 40Km do local <strong>da</strong> Feira, sendo necessário atravessar<br />

Paris para poder ir de um local ao outro. Este ano, nem sequer a<br />

maquinaria de jardim se encontrava em exposição.<br />

Claro que a Feira passou a ser um local aonde os parisienses se<br />

deslocam em família para passear. O preço <strong>da</strong>s entra<strong>da</strong>s aumentou<br />

muitíssimo, este ano era 12 euros ca<strong>da</strong> bilhete, mas perdeu o cariz<br />

internacional.<br />

Agora, só os países vizinhos <strong>da</strong> França mantêm uma representação,<br />

como, por exemplo, a Espanha. De Portugal nem sinal. Havia<br />

apenas uma exposição de cães perdigueiros apresenta<strong>da</strong> por uma<br />

associação de emigrantes portugueses em França. Por sinal, premia<strong>da</strong><br />

com um primeiro prémio.<br />

ADRACES - PAULO PINTO<br />

Para se fazer uma ideia, exactamente<br />

há 18 anos, eu demorei<br />

40 horas para ver a Feira. Cinco<br />

dias a 8 horas por dia. Este ano,<br />

demorei apenas 7 horas. O ano<br />

passado, como não havia aves,<br />

demorei 5 horas.<br />

Há 18 anos, podíamos sair <strong>da</strong><br />

Feira com documentação sobre<br />

tudo o que lá estava exposto.<br />

Este ano, a documentação era<br />

quase inexistente. A Feira, agora, é mais ou menos como o Campo:<br />

– um lugar aonde se vai passear. E este ano, mais uma vez, bateu o<br />

recorde de entra<strong>da</strong>s. Talvez porque há ca<strong>da</strong> vez menos gente a viver<br />

e a trabalhar no Campo, há ca<strong>da</strong> vez mais desemprego e há ca<strong>da</strong> vez<br />

mais fogos nas florestas. Porque ninguém as limpa.<br />

Dizem que é por falta de dinheiro que não há trabalho no campo.<br />

Mas eu gostaria que aqueles que têm os <strong>da</strong>dos e tempo para fazer as<br />

contas, nos apresentassem a soma dos prejuízos causados pelos fogos<br />

e do dinheiro que se gasta com o desemprego. Se o dinheiro que se<br />

perde com os fogos e muito do que se gasta com o desemprego fosse<br />

empregue na limpeza <strong>da</strong>s florestas e matas, não só o desemprego<br />

seria muitíssimo menor, como o flagelo dos fogos diminuiria imenso.<br />

Por outro lado, to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des cuja alternativa ao desemprego é<br />

apenas o subsídio, são socie<strong>da</strong>des caducas, sem futuro. Quando as<br />

pessoas perdem o hábito de trabalhar, perdem também a autonomia.<br />

E quando se habituam a viver de subsídios, passam a ter mentali<strong>da</strong>de<br />

de pedintes. A pior coisa que pode acontecer a um pobre, é<br />

transformar-se em pedinte. Nunca mais tenta resolver os seus problemas,<br />

porque está sempre à espera que os outros lhos resolvam.<br />

Estou convencido que não é por falta de dinheiro que não há trabalho<br />

nos campos. É por falta de outra coisa, talvez juízo na cabeça de<br />

quem tem o poder de gastar o dinheiro que é de todos nós, mas não<br />

é por falta de dinheiro. •

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