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Revista Viver 5 - Agriculturas e agricultores da BIS - Adraces

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Grande tema tema: opiniões<br />

Texto: Paulo Pinto<br />

Fotos: ADRACES<br />

Agricultora<br />

dos Sete<br />

Ofícios<br />

Natural de Zebreira, eis Maria Luísa Pereira Afonso Romão, com 53 anos, casa<strong>da</strong><br />

com João Romão, mãe de dois filhos. “A Paula quando deixou a escola<br />

rumou a Lisboa para trabalhar lá, à procura de novas oportuni<strong>da</strong>des e o João<br />

Miguel foi ficando por cá, ele é como eu, gosta muito do trabalho do campo”.<br />

Sempre trabalhou na vi<strong>da</strong> dura do campo. Aos 17 anos decidiu casar. Depois<br />

decidiu começar a sua vi<strong>da</strong> de agricultora. Comprou 20 ovelhas e cinco vacas e<br />

lá começou a levar a vi<strong>da</strong> para a frente. “Como os tempos estavam difíceis tive que<br />

aproveitar para ganhar dinheiro”. Mesmo com o gado que tinha, nunca deixou<br />

de trabalhar para os outros patrões, dividindo o seu tempo entre as duas activi<strong>da</strong>des.<br />

Durante o dia trabalhava para o patrão e, após o dia de trabalho, chegava<br />

a casa e lá ia tratar dos animais que tinha comprado. Relembra com alegria que<br />

as duas primeiras vaquinhas que comprou custaram 250 escudos.<br />

Mas o que a levou a “agarrar-se” à agricultura foi a doença do marido, que o<br />

impossibilitou de trabalhar. Claro que quando pode colabora e aju<strong>da</strong> sempre,<br />

mas o seu filho João Miguel tem sido realmente o suporte vital no trabalho mais<br />

pesado. E foi devido à insistência do filho que Maria Luísa acabou por ir tirar a<br />

carta de condução de tractor, para evitar ter de carregar os materiais pesados à mão.<br />

Hoje, sabe que foi o melhor que fez, tornou-se numa aju<strong>da</strong> preciosa no trabalho.<br />

É curioso ser agricultor e não ter terrenos próprios! Todos os terrenos que<br />

trazem são arren<strong>da</strong>dos ou emprestados. Os primeiros são pagos, os outros<br />

são trocas de favores. Neste momento, dedica-se à produção do gado ovino e<br />

bovino e vão vendendo alguns borregos. A agricultora aproveita também para<br />

tomar conta de umas vacas como troca de uns pastos, para fazer sementeiras.<br />

Este ano não sabe como vai ser no Verão. Uma vez que não vai produzir tabaco,<br />

provavelmente terá que se dedicar a tempo inteiro à vi<strong>da</strong> dela.<br />

Refere que vai encontrar muitas dificul<strong>da</strong>des no futuro, ain<strong>da</strong> mais com a crise<br />

que se encontra instala<strong>da</strong> no País, pois quem tira bons rendimentos <strong>da</strong> agricultura<br />

são os grandes <strong>agricultores</strong> (produtores de tabaco, etc...). Sempre teve<br />

uma activi<strong>da</strong>de rentável com a criação do gado bovino e ovino. Dá pouco trabalho<br />

e é rentável. A ven<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crias sempre rende algum dinheiro, que vai<br />

<strong>da</strong>ndo para as despesas. To<strong>da</strong>via, hoje têm um problema muito grande com<br />

o escoamento dos borregos. Se tiverem mais de 7 kg, os<br />

compradores já nem os querem. Além disso, o preço de<br />

ven<strong>da</strong> é muito baixo. Maria Luísa sabe que se não fossem<br />

os subsídios que dão aos <strong>agricultores</strong>, hoje não haveria<br />

agricultura em Portugal. Mas afirma que o nosso governo<br />

está a estragar e a acabar com a agricultura, porque hoje até<br />

há subsídios para não semear e produzir. Questiona<strong>da</strong><br />

sobre a forma como consegue conciliar as duas activi<strong>da</strong>des,<br />

o trabalho do tabaco na época do Verão e o negócio<br />

próprio, garante que é preciso ter muita força de vontade<br />

para poder aju<strong>da</strong>r a família.<br />

To<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> trabalhou no campo e sempre gostou do<br />

que fez. Ser somente dona de casa nunca a aliciou. Se<br />

não for todos os dias ao campo fazer o que seja, é quase<br />

como morrer, porque quem lhe tira a activi<strong>da</strong>de agrícola<br />

tira-lhe a vi<strong>da</strong>.<br />

Numa altura em que o marido foi operado e ficou internado<br />

no hospital para recuperação, a agricultora an<strong>da</strong>va<br />

todo o dia a trabalhar no tabaco e, quando chegava a casa<br />

por volta <strong>da</strong>s 17 horas, pegava no tractor e lá ia sozinha<br />

tratar do gado. “Graças a Deus sinto-me feliz com o<br />

meu trabalho e com a minha vi<strong>da</strong>, mas para ficar feliz na<br />

perfeição só faltava o meu marido ter um pouco mais de<br />

saúde”, confessa. •<br />

Por motivos de ordem técnica, não nos será possível incluir<br />

a reportagem realiza<strong>da</strong> com um conjunto de <strong>agricultores</strong> do<br />

Ninho do Açor na presente edição <strong>da</strong> VIVER. A mesma será<br />

devi<strong>da</strong>mente publica<strong>da</strong> no próximo número <strong>da</strong> <strong>Revista</strong>.<br />

Pedimos, desde já, sinceras desculpas e a compreensão dos<br />

visados e dos nossos leitores.

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