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Folhetim 09 - Galera da Física

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Folhetim 09 - Galera da Física

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FOLHE<br />

FOLHE FOLHETIM TIM<br />

ANO I - N o <strong>09</strong> NOVEMBRO - 1999<br />

O O JORNALZINHO JORNALZINHO DA DA GALERA GALERA DA DA FÍSICA FÍSICA<br />

FÍSICA<br />

Distribuição Gratuita - <strong>Folhetim</strong> na Internet: www.cen.g12.br/f2g/jornal<br />

O PAU COMEU FEIO<br />

NA SALA DE AULA<br />

Um tremendo sururu agitou ontem<br />

o Recife, envolvendo dois alunos<br />

e o professor de uma escola<br />

ain<strong>da</strong> não contextualiza<strong>da</strong> pelo<br />

PCN. Um dos alunos tascou a<br />

pergunta: “Professor, de onde vêm<br />

aqueles nove newtons?”. O colega,<br />

que nunca foi com a cara do<br />

Quark, alegria<br />

<strong>da</strong> garota<strong>da</strong><br />

Depois de anos pesquisando a força<br />

de atração entre corpos que<br />

possuem massa, a professora Teresa<br />

criou e está lançando a nova<br />

Aveia Quark, uma linha de farelo<br />

energético. A aveia Quark tem cor,<br />

sabor e efeitos espilbergueanos: up,<br />

down, strange, charm, botton e top.<br />

Quem tomou, pirou! - Página 7<br />

outro, retrucou: “O professor já<br />

explicou, animal! Presta atenção!”.<br />

“Vou <strong>da</strong>r um murro na sua<br />

cara”, respondeu o outro. Perturbado,<br />

o professor ironizou: “De<br />

onde vêm os nove? Devem ter vindo<br />

<strong>da</strong> Holan<strong>da</strong>, com o Maurício<br />

de Nassau!”. O bedel Pascal, que<br />

Flagrado Flagrado com<br />

com<br />

o o taco taco na na mão<br />

mão<br />

As novas mu<strong>da</strong>nças na educação<br />

estão introduzindo nas salas de aula<br />

a última palavra em ensino: a metodologia<br />

do taco. Idealiza<strong>da</strong> para estimular<br />

o interesse dos alunos pela<br />

<strong>Física</strong>, a metodologia recomen<strong>da</strong> o<br />

uso de um bastão comprido, com<br />

uma ponta fina de um lado e uma<br />

ponta grossa do outro - Página 14<br />

ouvia o Quinteto Violado enquanto<br />

saboreava uma agulha frita, foi<br />

chamado para resolver a pendenga.<br />

“Gente, os nove filhos do Seu<br />

Nilton passaram aqui agorinha<br />

mesmo, e acabaram de entrar no<br />

bar <strong>da</strong> Otília!”, concluiu Pascal,<br />

acabando com a briga - Página 3<br />

NÃO PERCA<br />

NESTE FOLHETIM<br />

Majela dá banho - Página 12<br />

Carro zero para alunos - Página 12<br />

Sonho Meu - Página 13<br />

Extremamente Frágil - Página 15<br />

Fala, CAP! - Página 16<br />

Feira de Ciências<br />

www.cen.g12.br/f2g/feira<br />

Encontra<strong>da</strong> a solução<br />

para a seca do Nordeste<br />

Em espetacular missão de resgate, a equipe do<br />

<strong>Folhetim</strong> partiu para a Antártica com o objetivo<br />

de rebocar o gigantesco iceberg B10A, desprendido<br />

<strong>da</strong>s geleiras Thwaites. A idéia foi do<br />

Luiz Alberto, numa tentativa de encontrar uma<br />

solução para a seca do Nordeste. Quem está<br />

entusiasmado com a missão é o Fonte Boa, que<br />

não perde uma Antártica gela<strong>da</strong>. Na foto, a equipe<br />

do <strong>Folhetim</strong> tenta descobrir como passar a<br />

cor<strong>da</strong> debaixo <strong>da</strong> pedra, sem rachar - Página 11


FOLHE<br />

FOLHE<br />

2 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

Prezado<br />

Colega,<br />

Aproxima-se o fim do ano e<br />

nosso objetivo inicial, de transformar<br />

o <strong>Folhetim</strong> em um espaço<br />

aberto e útil para o cotidiano de<br />

todos nós, professores de <strong>Física</strong><br />

do ensino médio, parece estar<br />

ca<strong>da</strong> vez mais consoli<strong>da</strong>do.<br />

Essa “aventura”, ou se preferirem,<br />

“loucura” de dois autores<br />

e mais um grupo de amigos,<br />

só foi possível por dois motivos.<br />

Em primeiro lugar, pela empolgação<br />

(e muito trabalho) de pessoas<br />

como o Ovídio, a Sandra, o<br />

Pamplona (que vocês “conheceram”<br />

por entrevistas anteriores),<br />

o Thiago e o Fernando, que apesar<br />

de “não serem <strong>da</strong> área” - ou<br />

seja, não são como nós, Luiz, Marcelo<br />

e Mauro, professores de <strong>Física</strong><br />

- abraçaram o projeto com a<br />

maior dedicação, curtindo-o tanto,<br />

ou até mais, do que nós.<br />

Em segundo lugar, pelo retorno<br />

que muitos de vocês nos deram,<br />

seja através de colaborações,<br />

cartas, ou até mesmo pelo<br />

simples ato de se ca<strong>da</strong>strarem<br />

para receber o jornalzinho.<br />

Como imaginamos ao lançar<br />

o primeiro número, estamos chegando<br />

ao número 10, o último<br />

previsto para este ano. O primeiro<br />

(março/99) com 8 páginas (lembram?)<br />

e este já tem 20!!!<br />

Apesar de to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des<br />

(entre elas os eternos problemas<br />

de tempo e dinheiro - pois<br />

até o momento estamos sem nenhum<br />

patrocínio), prevemos<br />

para o próximo ano: mais pique<br />

e muitas novi<strong>da</strong>des. Torçam<br />

conosco e, se conhecerem algum<br />

maluco idealista (assim como<br />

nós) e cheio <strong>da</strong> grana (o que não<br />

é o nosso caso), não se acanhem,<br />

nos apresentem! Pelo menos para<br />

pagar o chope!!!<br />

AXÉ!<br />

A Prensa Hidráulica na Sala de Aula:<br />

DE ONDE VÊM<br />

OS NOVE?<br />

Uma pesquisa que realizamos<br />

recentemente, em<br />

vários livros textos de <strong>Física</strong><br />

do ensino médio, a respeito<br />

<strong>da</strong>s formas como são veiculados o<br />

princípio de Pascal e o estudo <strong>da</strong><br />

prensa hidráulica, levou-nos a considerar<br />

os modos, por vezes padronizados,<br />

como esses conteúdos<br />

são rotineiramente lecionados nas<br />

aulas de <strong>Física</strong>, apelando-se a-criticamente<br />

para a simples memorização,<br />

sem significado, de conceitos<br />

e formulações. Assunto tido, geralmente,<br />

como muito fácil, quando<br />

visto apenas pelo lado aplicativo de<br />

problemas padronizados que pedem<br />

simplesmente os cálculos de<br />

valores de áreas e de forças, o estudo<br />

<strong>da</strong> prensa hidráulica pode revelar<br />

aspectos inusitados, numa<br />

análise mais acura<strong>da</strong>.<br />

Considerações energéticas, envolvendo<br />

a prensa hidráulica, raramente<br />

são desenvolvi<strong>da</strong>s em salas<br />

de aula. Ao invés disso, um tratamento<br />

matemático bem simples<br />

e acessível é normalmente dispensado<br />

ao assunto, que é apresentado,<br />

deste modo, como um mero<br />

exercício de aplicação do princípio<br />

de Pascal. Nenhuma dificul<strong>da</strong>de<br />

parece haver em tão elementar<br />

assunto, tal a pouca importância<br />

que é <strong>da</strong><strong>da</strong> à sua complexi<strong>da</strong>de.<br />

Essa trivialização do conteúdo tem,<br />

certamente, conseqüências <strong>da</strong>nosas<br />

para a formação dos nossos<br />

estu<strong>da</strong>ntes, que acostumam-se a<br />

aprender <strong>Física</strong> como se esta fosse<br />

um cântico a ser repetido, substituindo<br />

a necessária formação de<br />

uma consciência crítica pelo papagueamento<br />

do mestre.<br />

Para retratar este quadro, de<br />

uma forma presumivelmente diverti<strong>da</strong>,<br />

construímos aqui uma espécie<br />

de caricatura de uma situação<br />

real, na forma de uma conversa fictícia,<br />

trava<strong>da</strong> entre um professor de<br />

<strong>Física</strong> hipotético, Simplicius, e seus<br />

dois alunos imaginários Expertus<br />

e Perguntus. A forma, proposita<strong>da</strong>mente<br />

irônica <strong>da</strong> “conversa”<br />

está, evidentemente inspira<strong>da</strong> no<br />

modo de argumentação de Galileu.<br />

A propósito, é sempre bom lembrar<br />

que Galileu não foi apenas um grande<br />

cientista, mas igualmente um fino<br />

escritor, dotado de uma aguça<strong>da</strong> característica<br />

sarcástica nos seus escritos,<br />

podendo seus livros serem lidos<br />

quer como obras de ciência, quer<br />

como exemplos de peças literárias.<br />

Recentemente, seu estilo, em<br />

forma de trilogia, foi adotado, por<br />

exemplo, por Capra em seu livro<br />

“O Ponto de Mutação”, cujo filme,<br />

baseado no romance, foi dirigido<br />

pelo seu irmão. Enquanto<br />

Galileu caricaturou os Aristotélicos<br />

com o seu personagem Simplicius,<br />

a um leigo inteligente e culto, com<br />

o nome de seu amigo Sagredo e a<br />

si mesmo com o nome de Salvatius,<br />

Capra adotou uma formulação<br />

trilogística na qual uma física, um<br />

político e um poeta debatiam sobre<br />

ciência e sobre o futuro <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

A pretensão, aqui, é bem mais<br />

humilde. Trata-se apenas de caricaturar<br />

uma certa postura dogmática<br />

no ensino <strong>da</strong> <strong>Física</strong> para melhor


NOVEMBRO DE 1999<br />

criticá-la. O meu personagem Simplicius<br />

não é o mesmo Simplicius<br />

de Galileu, aquele um Aristotélico<br />

convicto, cheio de certezas. O meu<br />

Simplicius é tão somente um professor<br />

de <strong>Física</strong> comum, atual, não<br />

um Aristotélico como o personagem<br />

galileano, mas como aquele, também,<br />

com muitas certezas e poucas<br />

dúvi<strong>da</strong>s. Como nos filmes americanos,<br />

porém, cabe ressaltar, que qualquer<br />

semelhança com personagens<br />

reais, é uma mera coincidência.<br />

O conteúdo dessa conversa retrata<br />

as observações, de muitos<br />

anos de ensino, <strong>da</strong> prática docente<br />

de vários colegas. Neste sentido,<br />

os personagens são fictícios, mas<br />

o tipo de acontecimento retratado,<br />

certamente, não é.<br />

De Onde Vêm os Nove?<br />

A cena passa-se numa sala de aula<br />

comum onde o professor Simplicius<br />

inicia a sua aula sobre a prensa hidráulica.<br />

Os alunos Expertus e Perguntus<br />

escutam atentamente.<br />

Simplicius: O que vimos na aula<br />

passa<strong>da</strong>?<br />

Expertus: O princípio de Pascal.<br />

Simplicius: Muito bem! O que ele<br />

dizia?<br />

Expertus: Que um líquido comprimido<br />

transmite a pressão exerci<strong>da</strong><br />

sobre ele <strong>da</strong> mesma forma, por<br />

igual, em to<strong>da</strong>s as direções.<br />

Simplicius: Muito bem! Hoje nós<br />

vamos estu<strong>da</strong>r um tópico bem simples,<br />

mas muito importante, do<br />

ponto de vista <strong>da</strong>s suas aplicações:<br />

a prensa hidráulica. Vejamos o seguinte<br />

desenho, ele representa uma<br />

prensa hidráulica:<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

Como vocês podem ver, a prensa<br />

hidráulica tem dois ramos cilíndricos<br />

com êmbolos de áreas bem diferentes<br />

entre si, A 1 e A 2 . Dêem uma olha<strong>da</strong><br />

na figura do livro. Pois bem, devido<br />

ao princípio de Pascal, visto na<br />

aula anterior, a pressão exerci<strong>da</strong> sobre<br />

o líquido se transmite por igual<br />

em to<strong>da</strong>s as direções. Olhando para<br />

a figura vocês podem ver que isso<br />

nos garante que: F 1 /A 1 = F 2 /A 2 . E<br />

sendo A 2 = nA 1 , teremos: F 1 /A 1 =<br />

F 2 /nA 1 . Logo: F 2 = nF 1 . Se, por<br />

exemplo, F 1 fosse igual a 1 newton e<br />

a área A 1 igual a 1m 2 , enquanto a área<br />

A 2 fosse igual a 10m 2 , então a força<br />

F 2 deveria ser igual a 10 newtons.<br />

Nós conseguimos, assim, multiplicar<br />

o valor <strong>da</strong> força, <strong>da</strong>í a utili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

prensa hidráulica. Ela é usa<strong>da</strong>, por<br />

exemplo, nos freios de automóvel e<br />

nos lava-jatos dos postos de gasolina,<br />

para elevar os carros.<br />

Perguntus: Professor, de onde<br />

vêm os nove?<br />

Simplicius: Que nove?<br />

Perguntus: Os nove, professor.<br />

Não era 1 e não passou para 10?<br />

Simplicius: Do que você está falando?<br />

Perguntus: A força que aumentou,<br />

professor, de onde vem?<br />

Simplicius: É uma conseqüência<br />

imediata, como vimos, do princípio<br />

de Pascal. Você não entendeu<br />

a explicação? Veja lá, você se lembra<br />

<strong>da</strong> aula passa<strong>da</strong>, do princípio<br />

de Pascal? Acabamos de falar nele.<br />

Perguntus: Hum!<br />

Simplicius: Hum, o que? Lembra<br />

ou não lembra?<br />

Perguntus: Lembro!<br />

Simplicius: Então, o que ele diz?<br />

Perguntus: É aquele negócio <strong>da</strong><br />

pressão que ... Sei não, me lembro<br />

não!<br />

Expertus: Professor, eu sei. Deixa<br />

eu dizer. É que a pressão se<br />

transmite por igual nos líquidos.<br />

Simplicius: Isso!<br />

3<br />

Perguntus: Mas o que isso tem a<br />

ver com os 9?<br />

Expertus: Professor, ele não entendeu<br />

mesmo.<br />

Perguntus: E tu que entendeu, diz<br />

de onde vêm os nove!<br />

Expertus: O professor já explicou,<br />

animal. Presta atenção.<br />

Simplicius: Calma pessoal. Eu vou<br />

repetir tudo de novo. Preste atenção.<br />

O princípio de Pascal não diz<br />

que a pressão no líquido vai ser a<br />

mesma dos dois lados? Lembra<br />

<strong>da</strong>quele experimento que eu fiz o<br />

desenho na aula passa<strong>da</strong>?<br />

Perguntus: Qual, professor?<br />

Simplicius: Aquele que a gente tinha<br />

um vaso com vários furos tapados<br />

com rolhas e então a gente<br />

colocava líquido dentro, até à boca,<br />

e empurrava a tampa. O que é que<br />

acontecia?


FOLHE<br />

FOLHE<br />

4 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

Perguntus: O senhor falou que as<br />

rolhas pulavam to<strong>da</strong>s ao mesmo<br />

tempo.<br />

Simplicius: Isso. Pois bem, a <strong>Física</strong><br />

é uma ciência experimental.<br />

Como nós vimos, no desenho <strong>da</strong>quele<br />

experimento, as rolhas pulavam<br />

to<strong>da</strong>s ao mesmo tempo. Isso<br />

é o princípio de Pascal. A prensa<br />

hidráulica é apenas uma aplicação<br />

dele. OK?<br />

Expertus: Ele num tá entendendo<br />

não, professor. Deixa que eu explico<br />

a ele.<br />

Simplicius: Não. Deixe que eu<br />

mesmo explico. Veja, o princípio<br />

de Pascal não diz que a pressão<br />

vai ser a mesma dos dois lados <strong>da</strong><br />

prensa? Que a pressão feita na área<br />

A 1 vai ser transmiti<strong>da</strong> por inteiro à<br />

área A 2 ?<br />

Perguntus: Diz!<br />

Simplicius: Então!<br />

Perguntus: Então, o que?<br />

Expertus: Professor, ele num tem<br />

jeito mesmo. Deixe pra lá. Continue<br />

a matéria. O senhor tá perdendo<br />

tempo.<br />

Perguntus: Cala a boca, chato.<br />

Deixa o professor explicar.<br />

Simplicius: Pois é, como a pressão<br />

é a mesma dos dois lados, pelo<br />

princípio de Pascal, teremos que<br />

F 1 /A 1 = F 2 /A 2 . Como F 1 é igual a<br />

1 newton e A 1 é igual a 1 m 2 , a<br />

pressão do primeiro lado é 1N/m 2 ,<br />

certo?<br />

Perguntus: Certo!<br />

Simplicius: Então! Do outro lado<br />

a pressão tem que ser 1 também.<br />

Como ela é igual a F 2 /A 2 e A 2 é<br />

10m 2 , qual deve ser o valor de F 2<br />

para que dividido por 10 dê igual a<br />

1? 10, certo?<br />

Perguntus: Certo!<br />

Simplicius: Olhe aí, eu não disse<br />

que era fácil? <strong>Física</strong> é fácil, é só<br />

prestar atenção e repetir como uma<br />

canção. As contas nesse caso são<br />

facílimas, não têm no que errar.<br />

Expertus: Ele é voador, profes-<br />

sor. Não presta atenção no que o<br />

senhor fala.<br />

Perguntus: Vou te <strong>da</strong>r um murro<br />

lá fora.<br />

Expertus: Vem, vem!<br />

Simplicius: Epa!, lá fora vocês se<br />

acertam, mas aqui eu quero calma.<br />

Como é, você entendeu, agora?<br />

Perguntus: Não!<br />

Simplicius: Como não? Qual a<br />

dúvi<strong>da</strong>? Eu não acabei de explicar,<br />

de novo?<br />

Perguntus: Professor, eu não entendo<br />

de onde vêm os nove.<br />

Simplicius: Mas você não falou<br />

que estava certo?<br />

Perguntus: Professor, eu entendi<br />

as contas, né? Mas, o que eu quero<br />

saber é de onde vêm os nove.<br />

Simplicius: Então você não compreendeu<br />

o princípio de Pascal.<br />

Não tem nenhum nove. As pressões<br />

são iguais e pronto. O aumento<br />

<strong>da</strong> força é uma conseqüência<br />

matemática, elementar, do princípio<br />

de Pascal. O que mais você<br />

quer entender? Os experimentos<br />

mostram que é assim. A <strong>Física</strong> é<br />

uma ciência experimental. É um<br />

problema muito simples. Não entendeu<br />

as contas?<br />

Perguntus: As contas eu entendi.<br />

Eu não entendi é de onde vêm os<br />

nove.<br />

Reflexões sobre a aula<br />

Certamente a estória apresenta<strong>da</strong><br />

acima é uma simples caricatura<br />

do que acontece ver<strong>da</strong>deiramente<br />

em sala de aula, mas como<br />

to<strong>da</strong> caricatura ela procura ressaltar<br />

os traços a serem criticados. E<br />

o ponto central, é o pouco caso que<br />

é feito <strong>da</strong>s considerações energéticas<br />

envolvi<strong>da</strong>s na concepção <strong>da</strong><br />

prensa hidráulica. Retomemos, por<br />

exemplo, a dúvi<strong>da</strong> do estu<strong>da</strong>nte<br />

Perguntus: de onde vêm os nove?<br />

Na estória que apresentamos<br />

acima o professor Simplicius não<br />

parece ter entendido, ou mesmo levado<br />

muito a sério, a dúvi<strong>da</strong> do seu<br />

estu<strong>da</strong>nte. Sua tentativa de reduzir<br />

a questão levanta<strong>da</strong> a uma mera<br />

conseqüência do princípio de Pascal,<br />

conduziu a aula a uma circulari<strong>da</strong>de.<br />

Suas frases sobre ser a <strong>Física</strong><br />

uma ciência experimental, não<br />

parecem passar de um jogo de<br />

palavras. Seu tratamento do conteúdo<br />

é essencialmente livresco.<br />

Refere-se aos desenhos dos experimentos,<br />

como se estivesse referindo-se<br />

aos experimentos em si<br />

mesmos. Por outro lado, sua tentativa<br />

final de escamotear a questão,<br />

afirmando que os experimentos<br />

mostram que as coisas acontecem<br />

desse modo, é uma mera tentativa<br />

de esconder o fato de não<br />

ter, ele mesmo, compreendido a<br />

profundi<strong>da</strong>de e a serie<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

questão. Essa postura empirista, do<br />

nosso professor hipotético, servelhe<br />

de refúgio nas horas mais difíceis,<br />

nas quais a sua fragili<strong>da</strong>de teórica<br />

é a sua principal companheira.<br />

O comportamento igualmente<br />

caricaturado do outro aluno,<br />

Expertus, é um retrato do quanto<br />

se pode ser bem sucedido e ao<br />

mesmo tempo mal formado dentro<br />

dos padrões de um ensino tradicional<br />

que não incentiva o questionamento,<br />

mas sim a repetição desprovi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> crítica. A adesão inconteste<br />

de Expertus às explicações<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo professor Simplicius e<br />

a sua recusa em aceitar, de bom<br />

grado, o valor do questionamento<br />

mais radical de Perguntus, são lições<br />

<strong>da</strong> mais pura subserviência à<br />

palavra do mestre.<br />

Mas, afinal, o que poderia estar<br />

por trás <strong>da</strong> questão levanta<strong>da</strong> por<br />

Perguntus? Por que a sua estranheza<br />

em relação à mu<strong>da</strong>nça no<br />

valor <strong>da</strong> força? Por que a simples<br />

explicação matemática de Simplicius<br />

não o satisfez?<br />

Perguntus parece ter compreendido,<br />

paradoxalmente, os passos<br />

matemáticos, sem dúvi<strong>da</strong> muito


NOVEMBRO DE 1999<br />

simples, <strong>da</strong>dos pelo professor, e<br />

mesmo assim, ter continuado com<br />

a sua dúvi<strong>da</strong>. Na ver<strong>da</strong>de, o tipo<br />

de dúvi<strong>da</strong> por ele suscita<strong>da</strong> é muito<br />

freqüente nas aulas de <strong>Física</strong>,<br />

mas nem sempre devi<strong>da</strong>mente valorizado.<br />

O que parece conferir um sentido<br />

ao questionamento do nosso hipotético<br />

estu<strong>da</strong>nte é uma expectativa<br />

<strong>da</strong> existência de uma certa “simetria”<br />

na situação em causa. A inquietação<br />

parece provir de uma expectativa<br />

de que houvesse algo<br />

como uma “conservação <strong>da</strong> força”.<br />

Ain<strong>da</strong> que o nosso personagem<br />

Perguntus não tenha demonstrado<br />

a possibili<strong>da</strong>de de explicitar sua<br />

dúvi<strong>da</strong> nesses termos, parece ter<br />

sido a idéia de um princípio de conservação,<br />

de fato não existente,<br />

que estava por trás desse tipo de<br />

questionamento.<br />

Se por um lado, não existe realmente<br />

uma conservação <strong>da</strong> força,<br />

por outro lado, a forma como a<br />

força evolui espacialmente, ou seja,<br />

o trabalho que realiza, define, efetivamente,<br />

uma relação de simetria<br />

do tipo esperado. Ou seja, a energia<br />

mecânica posta em jogo de um<br />

lado <strong>da</strong> prensa hidráulica deve ser<br />

a mesma que é transferi<strong>da</strong> para o<br />

outro ramo do instrumento. Isso,<br />

baseado no pressuposto de que o<br />

líquido seja, de fato, incompressível,<br />

para que não ocorra per<strong>da</strong><br />

de energia. Pascal tinha essa questão<br />

do pressuposto <strong>da</strong> incompressibili<strong>da</strong>de<br />

muito clara em sua mente,<br />

ao introduzir a idéia dos “deslocamentos<br />

virtuais”, que seriam<br />

posteriormente reformulados na<br />

<strong>Física</strong> como “trabalhos virtuais”.<br />

A questão energética, posterior<br />

a Pascal, mas no fundo, latente em<br />

sua formulação do problema, pode<br />

ser coloca<strong>da</strong> <strong>da</strong> seguinte forma. O<br />

trabalho realizado sobre o êmbolo<br />

de área A 1 é igual ao produto <strong>da</strong><br />

força F 1 pelo deslocamento deste<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

mesmo êmbolo d 1 . No outro ramo<br />

<strong>da</strong> prensa, uma área maior A 2 recebe<br />

uma força igualmente maior<br />

F 2 às custas <strong>da</strong> realização do mesmo<br />

trabalho: F 1 x d 1 = F 2 x d 2 .<br />

Assim sendo, há uma compensação<br />

do aumento do valor <strong>da</strong> força com<br />

uma conseqüente e idêntica redução<br />

no deslocamento do segundo<br />

êmbolo. Desta forma, apesar de F 2<br />

ser igual a nF 1 , a mesma relação existente<br />

entre as áreas (A 2 = nA 1 ), o<br />

deslocamento d 2 será d 1 /n.<br />

Esta questão está ilustra<strong>da</strong> numa<br />

animação <strong>da</strong> prensa hidráulica<br />

que anexamos ao presente texto e<br />

está disponível no site deste <strong>Folhetim</strong><br />

na Internet. Ela não se pretende<br />

solução para coisa nenhuma,<br />

mas é ofereci<strong>da</strong> apenas como uma<br />

simples ilustração a mais para subsidiar<br />

a insubstituível discussão a ser<br />

desenvolvi<strong>da</strong> pelos nossos colegas<br />

professores de <strong>Física</strong> em suas salas<br />

de aula.<br />

No geral, há, efetivamente, uma<br />

relação de simetria sendo observa<strong>da</strong>,<br />

relação esta diretamente liga<strong>da</strong><br />

a um princípio de conservação.<br />

A distinção entre força e energia,<br />

no entanto, não é algo trivial,<br />

como possa, à primeira vista, parecer.<br />

A tortuosa história <strong>da</strong> construção<br />

do conceito de energia mostra<br />

que ain<strong>da</strong> nos trabalhos de<br />

Helmholtz, na metade do século<br />

XIX, a idéia de energia, enquanto<br />

uma grandeza física nova e de alto<br />

poder generalizador, aparecia ain<strong>da</strong><br />

com o nome de “kraft”, que em<br />

alemão pode significar, igualmente,<br />

força (Harman, 1985, p. 41).<br />

Uma parcela dos professores de<br />

<strong>Física</strong> não chama a atenção destes<br />

aspectos ligados à conservação <strong>da</strong><br />

energia quando discutindo conteúdos<br />

de hidrostática. O testemunho<br />

maior <strong>da</strong> pouca importância <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

a este assunto pode ser encontrado,<br />

por exemplo, na ausência de<br />

referências claras às discussões<br />

5<br />

sobre o trabalho realizado na prensa<br />

hidráulica. To<strong>da</strong> a exposição é<br />

centra<strong>da</strong> nas relações entre as áreas<br />

e na conseqüência, devido ao<br />

princípio de Pascal, do aumento do<br />

valor <strong>da</strong> força. Não é observado,<br />

por exemplo, que a obediência ao<br />

princípio de Pascal dá-se a um custo<br />

energético a ser pago: onde a força<br />

é maior, o deslocamento do êmbolo<br />

é proporcionalmente menor.<br />

Por outro lado, a simplici<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> matemática que é utiliza<strong>da</strong> nas<br />

apresentações tradicionais <strong>da</strong> prensa<br />

hidráulica é enganosa, não devendo<br />

ser confundi<strong>da</strong> com a simplici<strong>da</strong>de<br />

do conteúdo em si mesmo.<br />

É uma simplici<strong>da</strong>de que decorre<br />

essencialmente de uma trivialização<br />

deste conteúdo.<br />

Não é de se estranhar, portanto,<br />

que muitos alunos não compreen<strong>da</strong>m<br />

a natureza mais íntima do<br />

seu funcionamento, a forma aparentemente<br />

“mágica” de multiplicar<br />

o valor <strong>da</strong> força. A argumentação<br />

do nosso professor hipotético sobre<br />

o que mais haveria a compreender,<br />

uma vez tendo-se acompanhado<br />

o desenvolvimento matemático,<br />

encerra uma questão de<br />

grande importância no ensino <strong>da</strong> <strong>Física</strong>.<br />

Ela lembra um acontecimento<br />

narrado por Heisenberg, um dos<br />

maiores físicos de todos os tempos,<br />

a respeito <strong>da</strong> sua dificul<strong>da</strong>de,<br />

quando ain<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte, de compreender<br />

a teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de.<br />

Numa conversa com o seu colega<br />

Wolfgang Pauli, Heisenberg retrata,<br />

de forma brilhante, a questão,<br />

aqui levanta<strong>da</strong>, <strong>da</strong> aparência enganosa<br />

do raciocínio matemático em<br />

relação ao conteúdo por ele representado.<br />

“Wolfgang perguntou-me -<br />

creio ter sido à noite, numa hospe<strong>da</strong>ria<br />

de Grainau - se eu havia<br />

finalmente compreendido a<br />

teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de, de<br />

Einstein, que desempenhava um


FOLHE<br />

FOLHE<br />

6 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

papel tão importante no seminário<br />

de Sommerfeld. Só pude dizer<br />

que eu não sabia realmente o<br />

que significava ‘compreender’<br />

em nossa ciência natural. O aparato<br />

matemático <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de<br />

não me causava nenhuma<br />

dificul<strong>da</strong>de, mas isso não<br />

significava, necessariamente,<br />

que eu houvesse ‘compreendido’<br />

porque um observador em movimento,<br />

ao usar a palavra ‘tempo’,<br />

referia-se a algo diferente de<br />

um observador em repouso.<br />

Aquilo me intrigava e me parecia<br />

incompreensível.<br />

- Mas, havendo compreendido<br />

o arcabouço matemático -<br />

contestou Wolfgang -, com certeza<br />

você pode prever o que um<br />

observador em repouso e um observador<br />

em movimento têm que<br />

observar ou medir. Temos boas<br />

razões para supor que um experimento<br />

real confirme essas previsões.<br />

O que mais você quer?<br />

- Eis aí o meu problema - retruquei.<br />

- Não sei o que mais pode<br />

ser exigido. Sinto-me meio ludibriado<br />

pela lógica implícita no<br />

arcabouço matemático. Talvez<br />

você possa até dizer que aprendi<br />

a teoria com o cérebro, mas não<br />

ain<strong>da</strong> com o coração” (Heisenberg,<br />

1996, pp. 41-42).<br />

Esse sentimento de ter sido “traído”<br />

pelo raciocínio matemático, é<br />

algo que parece estar na base de<br />

boa parte <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des manifestas<br />

por alguns estu<strong>da</strong>ntes de <strong>Física</strong>;<br />

justamente os mais questionadores,<br />

mas não necessariamente os<br />

mais bem sucedidos nesse modelo<br />

formalista e repetitivo de educação.<br />

A questão <strong>da</strong> prensa hidráulica, levanta<strong>da</strong><br />

neste artigo, é apenas um<br />

exemplo, dentre tantos outros possíveis,<br />

nos quais um aparato matemático<br />

extremamente simples, encerra<br />

armadilhas conceituais nem<br />

sempre seriamente confronta<strong>da</strong>s ou<br />

ao menos percebi<strong>da</strong>s, mas que podem<br />

ser problematiza<strong>da</strong>s à luz de<br />

uma cui<strong>da</strong>dosa análise históricoconceitual.<br />

Conclusão<br />

Incursões históricas sobre a formulação<br />

original de Pascal e sobre<br />

o problema <strong>da</strong> prensa hidráulica,<br />

assim como sobre outros assuntos<br />

<strong>da</strong> <strong>Física</strong>, poderiam ser extremamente<br />

interessantes de serem disponibiliza<strong>da</strong>s<br />

aos nossos professores.<br />

Principalmente se alia<strong>da</strong>s a<br />

considerações filosóficas, educacionais<br />

e experimentais. Elas poderiam<br />

revelar aos nossos mestres<br />

certos detalhes essenciais <strong>da</strong> formação<br />

dos conceitos envolvidos<br />

que, com certeza, poderiam ser de<br />

grande valia na compreensão <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des de construção <strong>da</strong>quele<br />

conhecimento e <strong>da</strong>s possíveis<br />

origens <strong>da</strong>s dúvi<strong>da</strong>s dos seus<br />

próprios alunos. O espaço disponível<br />

de um artigo, no entanto, não<br />

comporta mais que uma provocação<br />

analítica, como a aqui ofereci<strong>da</strong>.<br />

Um tratamento mais pormenorizado<br />

<strong>da</strong> questão deman<strong>da</strong>ria, certamente,<br />

um texto muito mais longo,<br />

não condizente com o objetivo<br />

aqui estabelecido. Infelizmente,<br />

uma literatura deste tipo não parece,<br />

ain<strong>da</strong>, ser do interesse <strong>da</strong> maioria<br />

dos editores, ao menos em língua<br />

portuguesa.<br />

Alexandre Medeiros, PhD<br />

(med@hotlink.com.br)<br />

Programa de Pós-Graduação em<br />

Educação nas Ciências - Departamento<br />

de <strong>Física</strong> e Matemática -<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal Rural de<br />

Pernambuco<br />

Referências Bibliográficas<br />

- Dugas, R. A History of Mechanics.<br />

New York: Dover, 1988.<br />

- Harman, P. Energy, Forces and<br />

Matter: The Conceptual Development<br />

of Nineteenth-Century<br />

Physics. Cambridge: Cambridge<br />

University Press, 1985<br />

- Heisenberg, W. A Parte e o Todo.<br />

Rio de Janeiro: Contraponto, 1996<br />

- Hewitt, P. Conceptual Physics.<br />

Boston: Scott, Foresman and<br />

Company, 1989<br />

- Mach, E. The Science of Mechanics.<br />

La Salle, Illinois: Open<br />

Court Classics, 1989.<br />

- Taylor, L. Physics: The Pioneer<br />

Science. New York: Dover, 1959.<br />

“<br />

O ensino de <strong>Física</strong> tem-se<br />

realizado freqüentemente mediante<br />

a apresentação de conceitos,<br />

leis e fórmulas, de forma<br />

desarticula<strong>da</strong>, distanciados<br />

do mundo vivido pelos<br />

alunos e professores e não só,<br />

mas também por isso, vazios<br />

de significado. Privilegia a<br />

teoria e a abstração, desde o<br />

primeiro momento, em detrimento<br />

de um desenvolvimento<br />

gradual <strong>da</strong> abstração que,<br />

pelo menos, parta <strong>da</strong> prática<br />

e de exemplos concretos. Enfatiza<br />

a utilização de fórmulas,<br />

em situações artificiais,<br />

desvinculando a linguagem<br />

matemática que essas fórmulas<br />

representam de seu significado<br />

físico efetivo. Insiste na<br />

solução de exercícios repetitivos,<br />

pretendendo que o aprendizado<br />

ocorra pela automatização<br />

ou memorização e não<br />

pela construção do conhecimento<br />

através <strong>da</strong>s competências<br />

adquiri<strong>da</strong>s.<br />

“<br />

MEC, Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais (Ensino Médio).


NOVEMBRO DE 1999<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

Partículas elementares e<br />

forças <strong>da</strong> natureza<br />

Apresentamos anteriormente as<br />

partículas elementares as quais denominamos<br />

de “tijolos <strong>da</strong> Natureza”.<br />

No entanto, nos fica a pergunta:<br />

“Como essas partículas se<br />

rearranjam de maneira a formar<br />

os objetos que nos rodeiam”?<br />

Como veremos nesta segun<strong>da</strong> parte,<br />

existem quatro forças fun<strong>da</strong>mentais<br />

na natureza, responsáveis<br />

pelo Universo que temos ao nosso<br />

redor. Vejamos a descrição de ca<strong>da</strong><br />

uma dessas forças.<br />

AS FORÇAS<br />

FUNDAMENTAIS<br />

A Força Gravitacional<br />

Força de atração que existe entre<br />

todos os elementos <strong>da</strong> Natureza.<br />

Estamos mais acostumados a<br />

associá-la à atração entre corpos<br />

que possuem massa. Essa força é<br />

responsável por nos manter sobre<br />

a Terra, assim como por manter a<br />

trajetória dos corpos celestes e as<br />

estruturas de galáxias, conglomerados<br />

de galáxias, que há no Universo.<br />

A força gravitacional é uma força<br />

atrativa de longo alcance. Isto quer<br />

dizer que, a qualquer distância entre<br />

dois corpos, sempre há uma força<br />

de atração entre eles, embora, em<br />

alguns casos, essa força seja desprezível<br />

compara<strong>da</strong> a outras forças a que<br />

os corpos estão sujeitos.<br />

A Força Eletromagnética<br />

A força eletromagnética existe<br />

entre partículas que possuem carga<br />

elétrica. Ao contrário <strong>da</strong> força<br />

gravitacional, a força eletromagnética<br />

pode ser de atração ou de repulsão.<br />

Como no caso <strong>da</strong> força gra-<br />

SEGUNDA PARTE<br />

vitacional, a força eletromagnética é<br />

de longo alcance, sendo responsável<br />

por manter os elétrons ligados aos<br />

núcleos, formando os átomos. Essas<br />

forças são responsáveis pelas ligações<br />

químicas e pelas proprie<strong>da</strong>des<br />

físicas dos sólidos, líquidos e gases.<br />

A teoria que descreve o comportamento<br />

quântico <strong>da</strong>s interações eletromagnéticas<br />

é a Eletrodinâmica<br />

Quântica. Essa teoria é certamente<br />

uma <strong>da</strong>s teorias com maior sucesso<br />

na <strong>Física</strong>, cujas previsões teóricas<br />

têm sido confirma<strong>da</strong>s experimentalmente<br />

com grande precisão.<br />

A Força Forte<br />

A força forte é responsável por<br />

manter a estabili<strong>da</strong>de dos prótons<br />

e nêutrons dentro do núcleo. Para<br />

vermos a necessi<strong>da</strong>de de uma força<br />

diferente <strong>da</strong> força eletromagnética<br />

para manter os nucleons unidos,<br />

basta lembrar que os prótons<br />

possuem carga elétrica positiva e<br />

os núcleos dos átomos, a partir do<br />

Hélio, possuem vários prótons localizados<br />

dentro de uma região cujo<br />

raio é <strong>da</strong> ordem de 10 -15 m, o que<br />

ocasiona uma enorme repulsão entre<br />

essas partículas carrega<strong>da</strong>s eletricamente.<br />

Para que o núcleo seja<br />

estável, é necessário existir uma<br />

força maior que se contraponha a<br />

essa repulsão. Entretanto, essa nova<br />

força só deve ser importante dentro<br />

do núcleo, uma vez que sabemos<br />

que prótons livres se repelem.<br />

Os nucleons são estados ligados<br />

de partículas chama<strong>da</strong>s de quarks.<br />

Os quarks interagem entre si através<br />

<strong>da</strong> força forte que mantém a estabili<strong>da</strong>de<br />

do nucleon. Esta força é de<br />

7<br />

curto alcance, pois está restrita a dimensões<br />

de 10 -15 m (dentro do núcleo).<br />

O fato desta força só ocorrer entre<br />

hádrons é o que os diferencia dos<br />

léptons. Dentro do núcleo, a força<br />

forte é aproxima<strong>da</strong>mente 137 vezes<br />

maior que a força eletromagnética.<br />

A teoria que hoje acreditamos descrever<br />

a força forte é a Cromodinâmica<br />

Quântica. Entretanto, devido à<br />

complexi<strong>da</strong>de desta teoria, ain<strong>da</strong><br />

não sabemos se várias características<br />

<strong>da</strong> força forte são descritas pela<br />

teoria, apesar de existirem fortes evidências<br />

de que ela descreve os fenômenos<br />

dentro do núcleo.<br />

A Força Fraca<br />

Ao contrário <strong>da</strong>s três forças anteriores,<br />

pelo que se sabe até hoje, a<br />

força fraca não é responsável por<br />

manter partículas liga<strong>da</strong>s. As forças<br />

fracas são responsáveis por decaimentos,<br />

como, por exemplo, o decaimento<br />

b de nêutrons livres. Mesmo<br />

dentro do nucleon, a força fraca<br />

é <strong>da</strong> ordem de 10 -5 vezes menor que<br />

a força forte. A força fraca é de curto<br />

alcance. O seu raio de ação é <strong>da</strong><br />

ordem de 10 -17 m, que é menor que<br />

o diâmetro nuclear (10 -15 m).<br />

Tanto os léptons quanto os<br />

hádrons interagem através <strong>da</strong> força<br />

fraca. No caso dos neutrinos,<br />

que são partículas sem carga elétrica,<br />

a única força através <strong>da</strong> qual<br />

eles interagem é a força fraca.<br />

Como esta interação é muito pequena,<br />

temos como conseqüência<br />

que o estudo <strong>da</strong>s características<br />

dos neutrinos é muito difícil. Apesar<br />

de existirem várias experiências<br />

em an<strong>da</strong>mento envolvendo os


FOLHE<br />

FOLHE<br />

8 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

neutrinos, não sabemos se os<br />

neutrinos possuem massa ou não.<br />

As experiências atuais só permitem<br />

colocar limites superiores para os<br />

valores <strong>da</strong>s massas dos neutrinos:<br />

2 2<br />

m c ≤3eV; m c ≤0,<br />

27eV<br />

νeνμ e m c ≤ 31eV<br />

ν τ<br />

2<br />

Apesar de à primeira vista parecer<br />

que a força fraca seja desprezível,<br />

ela é muito importante<br />

para a nossa vi<strong>da</strong> na Terra, pois ela<br />

é responsável pelo início do ciclo<br />

termonuclear no Sol que libera a<br />

energia radiante que permite que<br />

exista vi<strong>da</strong> sobre a Terra.<br />

Para distâncias menores que<br />

10 -18 m, temos a unificação <strong>da</strong>s forças<br />

fraca e eletromagnética, passando<br />

a existir uma única força chama<strong>da</strong><br />

de força eletro-fraca, não<br />

sendo possível distinguir as forças<br />

fraca <strong>da</strong> eletromagnética.<br />

Na figura 1 há um estudo comparativo<br />

<strong>da</strong>s quatro forças fun<strong>da</strong>mentais<br />

<strong>da</strong> Natureza e as distâncias<br />

em que são importantes.<br />

10 0<br />

10 -5<br />

10 -10<br />

10 -15<br />

10 -20<br />

10 -25<br />

10 -30<br />

10 -35<br />

10 -40<br />

10 -45<br />

10 -50<br />

10 -55<br />

10 -60<br />

força forte<br />

força fraca<br />

10 -20<br />

força<br />

eletromagnética<br />

10<br />

D istância (cm)<br />

-15<br />

10 -10<br />

força<br />

gravitacional<br />

10 -5<br />

Diagrama <strong>da</strong>s quatro forças fun<strong>da</strong>mentais<br />

<strong>da</strong> natureza para distâncias de até 10-20 cm.<br />

As escalas usa<strong>da</strong>s nos eixos horizontal<br />

e vertical são logarítmicas.<br />

figura 1<br />

As interações entre partículas<br />

Como descrever a interação entre<br />

as partículas, através dessas quatro<br />

forças <strong>da</strong> Natureza? Estamos<br />

acostumados na Mecânica de<br />

Newton com ações à distância onde<br />

a troca de informação se dá instantaneamente.<br />

Para vermos o que<br />

a frase anterior significa, consideremos<br />

a força de atração entre a<br />

Terra e a Lua:<br />

r MT ⋅ ML<br />

r<br />

FLT , = G⋅ ⋅ r$ = − F<br />

2<br />

TL ,<br />

r<br />

sendo G a constante <strong>da</strong> gravitação,<br />

M T e M L as massas <strong>da</strong> Terra e <strong>da</strong><br />

Lua respectivamente, r a distância<br />

entre os dois corpos e $r o vetor<br />

unitário ao longo <strong>da</strong> reta que une<br />

os centros <strong>da</strong> Terra e <strong>da</strong> Lua, apontado<br />

em direção à Lua.<br />

Quando a Lua modifica a sua<br />

posição, a Terra recebe instantaneamente<br />

essa informação: a força<br />

entre os dois corpos varia imediatamente,<br />

o que corresponde a dizer<br />

que a Terra se apercebe <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça<br />

de posição <strong>da</strong> Lua instantaneamente.<br />

A veloci<strong>da</strong>de com que a<br />

informação <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de posição<br />

<strong>da</strong> Lua se propaga é infinita, pois ela<br />

leva tempo zero para se propagar<br />

através de uma distância finita.<br />

No entanto, pela Teoria <strong>da</strong> Relativi<strong>da</strong>de<br />

sabemos que nenhuma<br />

informação pode se propagar com<br />

veloci<strong>da</strong>de maior que a veloci<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> luz (c ~ 300.000 km/s). Portanto,<br />

esta maneira de descrever a<br />

força gravitacional está em conflito<br />

com a Teoria <strong>da</strong> Relativi<strong>da</strong>de. Enquanto<br />

a Mecânica, descrita pelas<br />

três leis de Newton, apresenta ótimos<br />

resultados para movimentos<br />

cujas veloci<strong>da</strong>des características<br />

são muito menores que a veloci<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> luz, a Teoria <strong>da</strong> Relativi<strong>da</strong>de<br />

explica os fenômenos cujas<br />

veloci<strong>da</strong>des são próximas à <strong>da</strong> luz,<br />

além de recuperar todos os resul-<br />

tados <strong>da</strong> Mecânica Newtoniana no<br />

limite de baixas veloci<strong>da</strong>des. Temos<br />

portanto que compatibilizar a descrição<br />

<strong>da</strong>s forças <strong>da</strong> Natureza com<br />

a Teoria <strong>da</strong> Relativi<strong>da</strong>de.<br />

A Teoria Quântica de Campos<br />

é a parte <strong>da</strong> <strong>Física</strong> Quântica que<br />

descreve as interações entre as partículas.<br />

Essas interações são media<strong>da</strong>s<br />

por campos e a ca<strong>da</strong> campo<br />

associamos partículas que são as<br />

responsáveis pela troca de informações.<br />

As partículas (campos)<br />

responsáveis pela interação se propagam<br />

com veloci<strong>da</strong>de finita e<br />

transportam quanti<strong>da</strong>des discretas<br />

de energia e momento. Como a<br />

interação entre as partículas que<br />

existem na Natureza se dá por intermédio<br />

dessas partículas associa<strong>da</strong>s<br />

aos campos, a troca de informação<br />

entre elas deixa de ser instantânea.<br />

As partículas responsáveis<br />

pelas quatro forças fun<strong>da</strong>mentais<br />

<strong>da</strong> Natureza são representa<strong>da</strong>s<br />

diagramaticamente na figura 2.<br />

q<br />

q<br />

e -<br />

νe<br />

q e<br />

g γ<br />

-<br />

q<br />

e- (a) (b)<br />

e -<br />

W<br />

p<br />

G<br />

νe<br />

p<br />

-<br />

(c) (d)<br />

(a) A interação entre os quarks q<br />

(que constituem os nucleons) é<br />

feita através dos glúons g.<br />

(b) A interação entre partículas<br />

carrega<strong>da</strong>s eletricamente, elétrons<br />

por exemplo, é feita através do<br />

fóton γ (luz).<br />

(c) As interações fracas são<br />

media<strong>da</strong>s pelos bósons vetoriais<br />

W ± , que possuem carga elétrica,<br />

o<br />

e Z , que não possui carga elétrica.<br />

(d) A s forças gravitacionais devem<br />

ser media<strong>da</strong>s pelo gráviton G.<br />

figura 2<br />

e -<br />

e -<br />

p<br />

p


NOVEMBRO DE 1999<br />

A força gravitacional é a força <strong>da</strong>s<br />

grandes escalas (o cosmo). Na figura<br />

1, vimos que a força gravitacional,<br />

inclusive dentro do nucleon, é muito<br />

menor que as outras forças fun<strong>da</strong>mentais,<br />

de forma que, de agora em<br />

diante, nos restringiremos a discutir<br />

as outras três forças fun<strong>da</strong>mentais:<br />

eletromagnética, fraca e forte.<br />

O fóton (luz) é a partícula responsável<br />

pelas forças eletromagnéticas.<br />

Quando duas partículas carrega<strong>da</strong>s<br />

eletricamente interagem entre si, elas<br />

estão trocando fótons. Devemos ressaltar<br />

que, apesar dos fótons serem<br />

os responsáveis pela interação entre<br />

as partículas carrega<strong>da</strong>s, o fóton não<br />

possui carga elétrica. O fato de a<br />

força eletromagnética ser de longo<br />

alcance nos permite garantir que a<br />

massa associa<strong>da</strong> ao campo responsável<br />

por essa interação é zero.<br />

Como o fóton é o campo responsável<br />

por esta interação, podemos afirmar<br />

que a sua massa é zero, e, conseqüentemente,<br />

sua veloci<strong>da</strong>de é igual<br />

à veloci<strong>da</strong>de c <strong>da</strong> luz. A veloci<strong>da</strong>de<br />

do fóton é sempre igual a c, qualquer<br />

que seja o referencial a partir<br />

do qual o observamos.<br />

Esta nova formulação <strong>da</strong>s forças<br />

<strong>da</strong> Natureza preserva leis de<br />

conservação, tais como, por exemplo,<br />

a conservação <strong>da</strong> carga elétrica<br />

total em todo o espaço. No caso<br />

eletromagnético temos os processos<br />

descritos na figura 3.<br />

γ<br />

γ<br />

γ<br />

e- e +<br />

e +<br />

e +<br />

e- e- (a) (b)<br />

Processos em que a carga elétrica<br />

total se conserva em todos os instantes.<br />

(a) Espalham ento do elétron (e -)<br />

por<br />

sua antipartícula (e + , pósitron) pela<br />

troca de um fóton ( γ).<br />

(b) Criação de um par elétron-pósitron<br />

a partir de um fóton. Para criar o par,<br />

a energia mínima do fóton ( γ)<br />

é de 1MeV.<br />

figura 3<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

Gostaríamos de lembrar que to<strong>da</strong>s<br />

as partículas carrega<strong>da</strong>s eletricamente,<br />

quer sejam léptons, quer<br />

sejam hádrons, interagem eletromagneticamente<br />

através <strong>da</strong> troca<br />

de fótons.<br />

A força fraca é senti<strong>da</strong> por todos<br />

os tipos de partículas: léptons<br />

e hádrons. As partículas responsáveis<br />

pela força fraca são os chamados<br />

bósons vetoriais W ± e Z 0 .<br />

Os bósons vetoriais W ± e Z 0 foram<br />

detectados no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />

de 80 no CERN (Europa). Desde<br />

então as suas proprie<strong>da</strong>des têm<br />

sido estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s sistematicamente.<br />

O bóson Z 0 tem carga elétrica nula,<br />

enquanto que os W ± possuem carga<br />

elétrica ±1e.<br />

O decaimento b do nêutron, que<br />

é mediado pelo bóson W - , passa<br />

a ser descrito pelo diagrama <strong>da</strong> figura<br />

4.<br />

n<br />

p νe W -<br />

e -<br />

Diagrama do decaimento β.<br />

O bóson<br />

-<br />

vetorial W decai num elétron (e -)<br />

e no<br />

anti-neutrino do elétron ( νe<br />

), de forma<br />

que os produtos do decaimento do<br />

nêutron são: próton (p), elétron (e -)<br />

e o<br />

anti-neutrino do elétron ( νe<br />

).<br />

figura 4<br />

Voltamos a mencionar a unificação<br />

<strong>da</strong>s forças fraca e eletromagnética<br />

para distâncias menores que<br />

10 -18 m. As energias envolvi<strong>da</strong>s<br />

nessa escala de tamanho são tão<br />

grandes que não faz diferença o<br />

fato do fóton não ter massa, enquanto<br />

que a massa dos bósons<br />

vetoriais W ± e Z 0 é <strong>da</strong> ordem de<br />

10 5 m e , onde m e é a massa do elétron.<br />

Para distâncias menores que<br />

10 -18 m não é possível distinguir as<br />

partículas: W ± , Z 0 e o fóton. Entretanto,<br />

para distâncias maiores<br />

que 10 -18 m, as forças voltam a ser<br />

9<br />

distintas entre si, e o fato de o fóton<br />

ter massa zero faz com que a força<br />

pela qual ele é responsável seja de<br />

longo alcance, podendo ser senti<strong>da</strong><br />

a qualquer distância, enquanto<br />

que a força fraca restringe a sua<br />

ação a distâncias dentro do núcleo,<br />

devido às partículas responsáveis<br />

por essa interação serem muito<br />

pesa<strong>da</strong>s.<br />

A força forte é media<strong>da</strong> pelo<br />

glúon, que é um bóson que não tem<br />

massa. Apesar <strong>da</strong> partícula responsável<br />

pela força forte ter massa<br />

zero, a força forte tem alcance<br />

finito, que se restringe ao tamanho<br />

do núcleo. Isto ocorre devido à peculiari<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> Cromodinâmica<br />

Quântica. Ao contrário <strong>da</strong> força<br />

fraca, apenas os hádrons interagem<br />

via força forte.<br />

(Como dissemos anteriormente,<br />

todos os hádrons são estados ligados<br />

de partículas fun<strong>da</strong>mentais<br />

chama<strong>da</strong>s quarks. Os quarks são<br />

muito mais pesados que o elétron.<br />

Lembremos que uma característica<br />

interessante dos quarks é que<br />

eles possuem carga elétrica fracionária,<br />

como foi mencionado na primeira<br />

parte deste artigo. Lá, também<br />

comentamos que, experimentalmente,<br />

até hoje nunca foi medi<strong>da</strong><br />

uma carga elétrica fracionária<br />

em nenhum material. Isto equivale<br />

a dizer que não existem quarks livres.<br />

Os quarks aparecem na Natureza<br />

apenas na forma de estados<br />

ligados. Esses estados ligados têm<br />

cargas elétricas expressas por múltiplos<br />

inteiros <strong>da</strong> carga elétrica fun<strong>da</strong>mental<br />

do elétron).<br />

Ca<strong>da</strong> tipo (sabor) de quark (up,<br />

down, strange, charm, botton, top)<br />

existe em três estados diferentes,<br />

que chamamos de cor. Daí dizermos<br />

que os quarks têm carga de<br />

cor. No caso de partículas carrega<strong>da</strong>s<br />

eletricamente, temos dois tipos<br />

de carga elétrica: carga elétri-


FOLHE<br />

FOLHE<br />

10 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

ca positiva e carga elétrica negativa.<br />

No caso <strong>da</strong>s forças fortes, temos<br />

três cargas de cores distintas.<br />

A presença <strong>da</strong> carga de cor faz com<br />

que exista a interação forte. A escolha<br />

dos nomes <strong>da</strong>s cores é arbitrária,<br />

e vamos aqui denominá-las<br />

de: verde, vermelho e azul. Os<br />

glúons, que são as partículas intermediárias<br />

<strong>da</strong> interação, aparecem<br />

como a combinação dessas<br />

três cores. Por isso os glúons existem<br />

em 8 tipos distintos, como mostrado<br />

no exemplo <strong>da</strong> figura 5.<br />

u azul<br />

u verde<br />

g<br />

d verde<br />

u azul<br />

=<br />

Troca de cores entre os q uarks<br />

figura 5<br />

u azul<br />

u verde<br />

d verde<br />

d azul<br />

Podemos fazer a analogia entre<br />

glúon e fóton de muitas maneiras,<br />

pois ambos são bósons que não<br />

possuem massa, responsáveis pela<br />

interação entre partículas. Entretanto,<br />

uma característica os distingue:<br />

o fóton não possui a carga elétrica<br />

que é a carga responsável pela interação<br />

por ele media<strong>da</strong>, enquanto<br />

que o glúon possui a carga de cor,<br />

que é a carga responsável pelas<br />

interações fortes. Aqui está to<strong>da</strong> a<br />

diferença que explica o fato de que,<br />

apesar do glúon não ter massa, a<br />

força forte que ele media é de curto<br />

alcance.<br />

Palavra Finais<br />

Muito já se sabe do mundo <strong>da</strong>s<br />

partículas elementares, que são os<br />

tijolos <strong>da</strong> Natureza como Leucipo<br />

e Demócrito procuravam há mais<br />

de 2.400 anos atrás. Entretanto,<br />

muito ain<strong>da</strong> há por aprender sobre<br />

essas partículas e suas interações.<br />

Para isso os grandes aceleradores<br />

de altas energias como o CERN,<br />

Fermi Lab., SLAC, continuam trabalhando.<br />

Um sem número de físicos<br />

teóricos trabalha no sentido de<br />

ver quais são as previsões teóricas<br />

para compará-las com os resultados<br />

experimentais. Certamente esta<br />

é uma área <strong>da</strong> <strong>Física</strong> muito ativa e<br />

deverá continuar como tal, excitando<br />

a criativi<strong>da</strong>de do pesquisador a<br />

desenvolver novas formas de se<br />

obter energias mais altas, de maneira<br />

a se poder penetrar ca<strong>da</strong> vez<br />

mais nas partículas e verificar se<br />

objetos como o elétron e o quark<br />

são realmente pontuais ou possuem<br />

alguma estrutura. Acima de<br />

tudo isso, está a busca do sonho<br />

de Albert Einstein de que é possível<br />

unificar to<strong>da</strong>s as forças <strong>da</strong> Natureza.<br />

Nesta unificação, que se<br />

espera ocorrer em distâncias <strong>da</strong><br />

ordem de 10 -31 m, as quatro forças<br />

fun<strong>da</strong>mentais seriam apenas diferentes<br />

manifestações de uma única<br />

força. Mas isto é um outro aspecto<br />

<strong>da</strong> Teoria Quântica de Campos<br />

e deixamos a sua discussão para<br />

uma próxima oportuni<strong>da</strong>de.<br />

Maria Teresa Thomaz<br />

(Instituto de <strong>Física</strong>, Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal Fluminense, RJ)<br />

mtt@if.uff.br<br />

Bibliografia<br />

[1] MIGNACO, J.A. E SHHEL-<br />

LARD, R.C. (1984) Quarks,<br />

Léptons, Glúons, g, W, Z ...A<br />

Matéria Indivisível, Ciência Hoje,<br />

vol. 3, n o 14 (Setembro/Outubro),<br />

p. 42.<br />

[2] Abrindo o Coração <strong>da</strong> Matéria,<br />

Ciência Ilustra<strong>da</strong>, Novembro/<br />

Dezembro (1982) pág. 58.<br />

[3] CARRERAS, R. e HENTSCH,<br />

G. (1988), Quando a energia se<br />

transforma em matéria...Um relance<br />

sobre o mundo <strong>da</strong>s partículas,<br />

Publicação do CERN.<br />

[4] WEISSKOPF, V. F. (1981)<br />

The Development of Field Theory<br />

in the Last 50 years, Physics<br />

To<strong>da</strong>y, November, p. 69.<br />

[5] GLASHOW, S. L. (1975),<br />

Quarks with Color and Flavor,<br />

Scientific American , vol. 233, n o .<br />

4 (October), p. 38.<br />

[6] QUIGG, C. (1985), Elementary<br />

Particles and Forces, Scientific<br />

American, April, p. 64.<br />

[7] WICHMANN, E. H. (1971),<br />

Quantum Physics, Berkeley Physics<br />

Course, vol. 4, MacGraw-Hill:<br />

New York.<br />

[8] Particle Adventure - An Interactive<br />

Tour of the Inner Workings<br />

of the Atom and the Tools of<br />

Discovery. Home-page: http://<br />

pdg.lbl.gov/cpep.html<br />

[9] Review of Particle Properties,<br />

Home-page: http://pdg.lbl.gov/<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

Esta é uma publicação mensal <strong>da</strong><br />

<strong>Galera</strong> Hipermídia<br />

Jornalista Responsável:<br />

Sandra Filippo - DRT /BA-739<br />

Re<strong>da</strong>ção:<br />

Luiz Alberto Guimarães, Marcelo<br />

Fonte Boa, Mauro Santos Ferreira,<br />

Sandra Filippo e Ovidio Brito<br />

Desenvolvimento de software:<br />

Thiago Guimarães<br />

Ilustração:<br />

Marcelo Pamplona<br />

Diagramação:<br />

Ovidio Brito<br />

Apoio Operacional:<br />

Fernando Guimarães<br />

<strong>Folhetim</strong> é distribuído gratuitamente. A<br />

autoria <strong>da</strong>s colaborações é identifica<strong>da</strong><br />

em ca<strong>da</strong> artigo e as opiniões emiti<strong>da</strong>s<br />

são de responsabili<strong>da</strong>de dos seus autores,<br />

não refletindo necessariamente a opinião<br />

<strong>da</strong> direção do jornal. Ao remeter<br />

uma colaboração, seu autor concor<strong>da</strong><br />

que seja publica<strong>da</strong>, sem nenhum ônus,<br />

de qualquer espécie, para o <strong>Folhetim</strong>.


NOVEMBRO DE 1999<br />

ALERTA<br />

“O megaiceberg B10A, que se<br />

desprendeu <strong>da</strong>s geleiras Thwaites<br />

na Antártica em 1992, deve se<br />

aproximar <strong>da</strong>s ilhas Malvinas no<br />

próximo mês. A gigantesca montanha<br />

de gelo se ergue a 90 metros<br />

acima <strong>da</strong> superfície do mar.<br />

Sua superfície é de 77km por<br />

38km e a veloci<strong>da</strong>de de 12km<br />

por dia. À medi<strong>da</strong> que ingressa<br />

em águas mais quentes, o<br />

iceberg está derretendo, pois<br />

em 1995 media 110km por<br />

50km. Os cientistas dizem que<br />

a massa principal de gelo não<br />

ameaça pois sua trajetória é<br />

acompanha<strong>da</strong> por satélite e à<br />

sua volta foi declara<strong>da</strong> uma<br />

zona de exclusão. O temor é<br />

quanto aos blocos que dele se<br />

soltam.”<br />

Aplique seus conhecimentos<br />

1. Considerando que o iceberg<br />

possui - e tenha mantido<br />

ao longo dos anos - uma forma<br />

prismática de base retangular,<br />

e os seguintes <strong>da</strong>dos numéricos:<br />

- massa específica <strong>da</strong> água:<br />

1,0 . 10 3 kg/m 3 ;<br />

- massa específica do gelo:<br />

0,9 . 10 3 kg/m 3<br />

a) Qual é atualmente o valor <strong>da</strong> sua<br />

altura submersa? E <strong>da</strong> sua altura total?<br />

b) Quanto vale o seu volume total,<br />

em m 3 ? E sua massa, em kg?<br />

c) Considerando que um edifício de<br />

apartamentos “grande” possui dimensões<br />

de 40m x 50m x 50m,<br />

quantos destes “caberiam” no<br />

iceberg?<br />

2. Considere que a altura atual do<br />

iceberg seja hoje 60% do que era<br />

em 1995, quando possuía, segundo<br />

o jornal, uma superfície de<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

DEU NO JORNAL - JB/23/10/99<br />

Megaiceberg está perto<br />

<strong>da</strong>s Malvinas<br />

110km x 50km.<br />

a) Nestes quatro anos, qual o valor<br />

aproximado (em kg) <strong>da</strong> massa<br />

de gelo que derreteu?<br />

b) Considerando apenas a fusão<br />

desse gelo, qual a quanti<strong>da</strong>de de<br />

calor, em joules, envolvi<strong>da</strong> no processo?<br />

Considere que:<br />

L FUSÃO = 80 cal/g = 3,4 . 10 5 J/kg.<br />

c) Considerando que o consumo<br />

energético diário de uma ci<strong>da</strong>de de<br />

porte médio é de 10 7 kWh, durante<br />

quanto tempo a ci<strong>da</strong>de seria<br />

manti<strong>da</strong> com a energia calcula<strong>da</strong><br />

em (b)?<br />

3. Para responder esta pergunta e<br />

a próxima, consulte o mapa <strong>da</strong> figura.<br />

Considere que o iceberg tenha<br />

partido <strong>da</strong> posição marca<strong>da</strong><br />

com um X no mapa, e está hoje<br />

atingindo o ponto Y, próximo <strong>da</strong>s<br />

Ilhas Malvinas. Considere também<br />

que sua trajetória tenha sido a linha<br />

sinuosa representa<strong>da</strong> no mapa.<br />

11<br />

a) Determine o seu deslocamento<br />

escalar.<br />

b) Determine o módulo do seu deslocamento<br />

vetorial.<br />

c) Determine o valor de sua veloci<strong>da</strong>de<br />

escalar média e o módulo de<br />

sua veloci<strong>da</strong>de vetorial média,<br />

em km/dia, nos 7 anos de deslocamento<br />

(de 1992 a 1999).<br />

4. Vamos imaginar que a veloci<strong>da</strong>de<br />

de 12km/dia de que fala<br />

a notícia fosse a veloci<strong>da</strong>de<br />

média do iceberg desde que se<br />

soltou <strong>da</strong> geleira, em 1992.<br />

Que distância ele teria percorrido<br />

nesses sete anos? Esse<br />

valor é razoável, considerando<br />

a localização <strong>da</strong>s Ilhas<br />

Malvinas em relação ao continente<br />

Antártico?<br />

5. Para responder a essa questão,<br />

considere os seguintes<br />

<strong>da</strong>dos numéricos:<br />

- massa atual do iceberg:<br />

2,3 . 10 15 kg<br />

- veloci<strong>da</strong>de atual:<br />

1,2 km/dia<br />

Imagine agora que, para duplicar<br />

a veloci<strong>da</strong>de do bloco de<br />

gelo (em trajetória retilínea), fossem<br />

utilizados mil rebocadores,<br />

ca<strong>da</strong> um sendo capaz de exercer<br />

uma força de 1tf (ou seja, cerca de<br />

1,0 . 10 4 N). Quanto tempo esse<br />

processo levaria? Que distância<br />

seria necessária?<br />

Obs.: Informações super recentes<br />

sobre a Antártica podem ser obti<strong>da</strong>s<br />

no site:<br />

http://www.svs.gsfc.nasa.gov/<br />

imagewall/antarctica.html<br />

Respostas<br />

1. a) 810m; 900m.<br />

b) 2,6 .10 12 m 3 ; 2,3 . 10 15 kg<br />

c) 26 milhões de edifícios!!!<br />

2. a) 5,1 . 10 15 kg


FOLHE<br />

FOLHE<br />

12 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

b) 1,7 . 10 21 J<br />

c) 1,3 . 10 5 anos!!!<br />

3. a) 3,6 . 10 3 km.<br />

b) 3,1 . 10 3 km.<br />

c) 1,4km/dia; 1,2km/dia<br />

4. Aproxima<strong>da</strong>mente 30 mil quilômetros.<br />

Esta distância corresponde<br />

a 3/4 de uma volta completa em<br />

torno <strong>da</strong> Terra. É, portanto, muito<br />

maior do que o deslocamento do<br />

iceberg, <strong>da</strong> Antártica até as Ilhas<br />

Malvinas. Isto significa que os<br />

12km/dia ou se referem à veloci<strong>da</strong>de<br />

atual do bloco de gelo, e não<br />

à sua veloci<strong>da</strong>de média no percurso,<br />

ou então, “esqueceram <strong>da</strong> vírgula”:<br />

o item (c) <strong>da</strong> questão anterior<br />

mostra que a veloci<strong>da</strong>de média<br />

do iceberg é <strong>da</strong> ordem de 1,2km/<br />

dia.<br />

5. 38 dias; 68km.<br />

Luiz Alberto e Marcelo<br />

f2g@cen.g12.br<br />

TOME TOME NOTA<br />

NOTA<br />

PROFESSOR<br />

PROFESSOR, PROFESSOR , EST ESTAMOS<br />

EST AMOS<br />

DESAFIANDO DESAFIANDO SEUS<br />

SEUS<br />

ALUNOS!<br />

ALUNOS!<br />

O <strong>Folhetim</strong> propõe-se a colocar<br />

em sua página na Internet<br />

(com os devidos créditos) os trabalhos<br />

de pesquisa feitos por seus<br />

alunos sobre o seguinte tema:<br />

- O que é o efeito estufa? Qual a<br />

sua relação com a emissão de<br />

poluentes e a alta industrialização<br />

do mundo atual?<br />

- Qual a relação entre o efeito estufa<br />

e o deslocamento <strong>da</strong>s massas<br />

de gelo para regiões mais<br />

quentes? Quais as conseqüências<br />

deste deslocamento?<br />

O melhor trabalho - segundo<br />

a avaliação <strong>da</strong> comissão editorial<br />

- será publicado na versão<br />

impressa, e o aluno responsável<br />

por ele receberá uma assinatura<br />

anual gratuita do <strong>Folhetim</strong>!<br />

A simplici<strong>da</strong>de vem de Fortaleza<br />

Em nosso livro de Termologia<br />

e Óptica, há um exercício suplementar<br />

(número 61 <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de II),<br />

do vestibular <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

do Ceará, aqui reproduzido:<br />

Um objeto frontal O, de 10cm<br />

de altura, encontra-se a 50cm de<br />

um espelho côncavo de distância<br />

focal f = 10cm, formando uma imagem<br />

I, conforme a figura. Se retirarmos<br />

o espelho, a que distância<br />

do objeto devemos colocar uma<br />

lente convergente, a fim de que esta<br />

produza uma imagem igual àquela<br />

obti<strong>da</strong> com o espelho?<br />

O<br />

F<br />

I<br />

No gabarito comentado dos<br />

exercícios, apresentamos para<br />

ele a seguinte solução (que, apesar<br />

de compacta<strong>da</strong>, mesmo assim<br />

é bem extensa):<br />

Determinemos as características<br />

<strong>da</strong> imagem forma<strong>da</strong> pelo espelho.<br />

A partir de 1 1 1<br />

= + , com<br />

f p p'<br />

f = 10cm e p = 50cm,<br />

obtemos p' = 12,5cm.<br />

Já a partir de y'<br />

y<br />

p'<br />

=-<br />

p<br />

obtemos y' = - 2,5cm.<br />

Para obter, com a lente convergente,<br />

a mesma imagem, a lente<br />

deve estar entre o objeto e a imagem.<br />

Temos as seguintes informações:<br />

a) distância entre objeto e imagem<br />

= 50 - 12,5 = 37,5cm Þ<br />

p + p' = 37,5cm<br />

b) p = 4p' (pois a imagem é quatro<br />

vezes menor que o objeto).<br />

Portanto:<br />

4p' + p' = 37,5 Þ p' = 7,5cm e<br />

p = 30cm. A lente deve então ser<br />

coloca<strong>da</strong> a 30cm do objeto.<br />

Esta é a solução algébrica<br />

clássica. No entanto, recebemos<br />

do professor Geraldo Majela, de<br />

Fortaleza, a sugestão de acrescentar<br />

no manual de resolução a<br />

“solução inteligente”, ou seja,<br />

aquela que “mata o problema em<br />

uma linha”. Nesse caso, em um<br />

desenho, pois a solução alternativa<br />

é gráfica. Vamos a ela.<br />

Reproduzimos a seguir a figura<br />

<strong>da</strong> questão, e nela adicionamos o<br />

raio que, saindo <strong>da</strong> extremi<strong>da</strong>de do<br />

objeto, passa pelo centro de curvatura<br />

do espelho, reflete-se e retorna<br />

na mesma direção, passando<br />

pela extremi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> imagem:<br />

50cm<br />

C<br />

10cm<br />

F<br />

20cm<br />

Ora, para substituir o espelho<br />

por uma lente que forneça a mesma<br />

imagem, essa lente deverá ter<br />

o seu centro óptico na mesma posição<br />

em que o espelho tem o seu<br />

centro de curvatura (pois o centro<br />

óptico é o ponto <strong>da</strong> lente para o<br />

qual o raio que sai <strong>da</strong> extremi<strong>da</strong>de<br />

do objeto e atinge a extremi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> imagem não sofre desvio angular<br />

ao atravessá-la). Na figura a seguir,<br />

colocamos a lente nesta posição<br />

e vemos, imediatamente, que ela<br />

deve estar a 30 cm do objeto!!!.<br />

30cm<br />

50cm<br />

20cm<br />

É isso aí, galera. Encontrou<br />

um erro, uma solução mais simples,<br />

é só man<strong>da</strong>r que a gente publica.<br />

Luiz Alberto e Marcelo<br />

f2g@cen.g12.br


NOVEMBRO DE 1999<br />

PALANQUIM<br />

PALANQUIM<br />

Com a palavra, o professor<br />

UM SONHO<br />

Olá!!! Quando criança dormia<br />

sonhando com a figura mágica do<br />

cientista. Aquela pessoa que de<br />

um monte de sucata construía máquinas<br />

maravilhosas, robôs ... Só<br />

precisava de uma caneta para desenvolver<br />

novas teorias, escrever<br />

textos deliciosos ...<br />

Esses sonhos me levaram a estu<strong>da</strong>r<br />

<strong>Física</strong>. Queria ser um cientista<br />

(prefiro esse termo, pela<br />

sua magia). A reali<strong>da</strong>de do curso<br />

porém era outra. Muitos amigos<br />

desistiram. Muitos esqueceram<br />

os seus sonhos.<br />

Dedico este espaço e estas linhas<br />

aos que não permitiram que<br />

aquela criança sonhadora desaparecesse.<br />

Gostaria também que aju<strong>da</strong>sse<br />

a criar uma atmosfera de magia<br />

e beleza, que resgatasse o prazer<br />

<strong>da</strong> descoberta e a ousadia <strong>da</strong><br />

aventura. Quem sabe ... poderia<br />

fazer aparecer novamente a criança<br />

sonhadora que existe dentro<br />

de ca<strong>da</strong> cientista ...<br />

************<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

A energia vibrante dos questionamentos<br />

inquietantes <strong>da</strong> juventude,<br />

os arroubos corajosos e o palpitante<br />

coração sonhador são estrelas<br />

que enchem de esperança o<br />

firmamento de uma nação.<br />

Não é belo o sorriso <strong>da</strong> descoberta?<br />

A alegria faceira de uma<br />

proposta criativa, onde está? Alguém<br />

a tem visto nas crianças?<br />

Nossos jovens têm transformado<br />

as suas inquietações perfuma<strong>da</strong>s<br />

e belas em rebeldias insanas<br />

e rega<strong>da</strong>s a alucinógenos. Como<br />

podemos ver pessoas que viveram<br />

tão pouco entregues a algozes perversos<br />

e irracionais? Esses jovens<br />

têm sua energia criativa suga<strong>da</strong><br />

por meliantes gananciosos.<br />

Somente festas rega<strong>da</strong>s a drogas<br />

são diverti<strong>da</strong>s? Viagens virtuais<br />

nas imagens de programas<br />

que valorizam corpos pneumáticos<br />

sensuais, o debate fútil e a disposição<br />

em sentir prazer com a<br />

humilhação de semelhantes são<br />

momentos de diversão sadios?<br />

A escola, em seu papel de formação<br />

do caráter e de estímulo à<br />

pesquisa científica, não tem apresentado<br />

elementos que toquem o<br />

coração desses jovens, os resgate<br />

dessa viagem em um reino de destruição.<br />

Desde a antigüi<strong>da</strong>de o ser humano<br />

tem se maravilhado com a<br />

natureza e procura compreender<br />

suas manifestações. O entendi-<br />

13<br />

mento limitado de alguns fenômenos<br />

naturais levou a humani<strong>da</strong>de<br />

ao seu estágio atual de desenvolvimento<br />

tecnológico. O prazer<br />

<strong>da</strong> descoberta é um dos maiores<br />

estímulos à pesquisa científica. O<br />

sorriso nas faces juvenis quando<br />

observam a beleza do nosso céu é<br />

um exemplo de como se sentem<br />

atraídos pelo estudo <strong>da</strong> ciência.<br />

Basta um pequeno incentivo e<br />

veremos o aroma colorido <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de<br />

e a coragem <strong>da</strong>s almas<br />

valentes ocuparem o espaço e se<br />

misturarem ao ar que respiramos.<br />

Em um momento telúrico vemos<br />

que também é com os homens voar,<br />

brincar com o destino do caminho<br />

e com o vento que renova o ar.<br />

Vamos fazer com que brotem<br />

em nossa terra modernos museus<br />

científicos interativos, planetários,<br />

observatórios, núcleos populares<br />

de informática, bibliotecas ...<br />

Recursos não existem? Será?<br />

A alma vibrará com a <strong>da</strong>nça<br />

saudável incentiva<strong>da</strong> por melodias<br />

saborosamente harmoniosas.<br />

Será um momento de felici<strong>da</strong>de<br />

coletiva a volta dos rebeldes com<br />

causa em escolas sem celas.<br />

Um abraço aos jovens cientistas<br />

sonhadores.<br />

Observando o céu e sonhando<br />

com um mundo melhor.<br />

Céu limpo para todos.<br />

Marcelo de Oliveira Souza<br />

mm@uenf.br


FOLHE<br />

FOLHE<br />

14 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

Gostaria de divulgar este mate-<br />

que você divulgasse<br />

rial entre os alunos/professores esse endereço para seus colegas.<br />

t@sdiríamos<br />

deste curso.<br />

Um grande abraço,<br />

Atenciosamente,<br />

Luiz e Marcelo<br />

Usei com grande proveito a coleção<br />

durante a minha prática de<br />

ensino no Colégio Pedro II. En-<br />

Henri Araújo Leboeuf<br />

henri@mx.educativa.org.br<br />

Colégio Pio XII<br />

Belo Horizonte - MG<br />

***<br />

Sou professor de <strong>Física</strong> do Colégio<br />

PIO XII - BH e juntamente<br />

com os demais professores do cocontrando<br />

aqui a oportuni<strong>da</strong>de Prezado Henri,<br />

légio, parabenizo vocês por este<br />

de agradecer a cortesia, um mui- Você já está ca<strong>da</strong>strado e pas- jornal que torna-se um novo esto<br />

obrigado.<br />

sará a receber o <strong>Folhetim</strong> paço para a discussão, para a<br />

Atualmente possuo uma turma a “mensalmente”, do número 8 troca de experiências e enfim<br />

nível de supletivo que são ver- em diante. Quanto à divulgação para o enriquecimento do ensi<strong>da</strong>deiros<br />

cobaias mas que estão do <strong>Folhetim</strong> entre seus alunos/ no de <strong>Física</strong> em nosso país.<br />

adorando a forma “informal” professores, basta ca<strong>da</strong>strá-los Parabéns!!!<br />

que estou mostrando a <strong>Física</strong> (por correio ou via internet) que Alexandre Alex Barbosa Xavier<br />

para eles e o seu livro tem sido eles passarão a recebê-lo. lexlutor@gold.com.br<br />

muito útil.<br />

Um grande abraço,<br />

Belo Horizonte - MG<br />

Claudio Castelo Branco Viegas<br />

claudioviegas@hotmail.com.br<br />

aluno de Licenciatura - UFRJ<br />

Luiz e Marcelo<br />

***<br />

Profs. Luiz e Marcelo,<br />

Prezado Lex Lutor,<br />

Você já está ca<strong>da</strong>strado e passará<br />

a receber o <strong>Folhetim</strong> “men-<br />

Prezado Claudio,<br />

Gostaria de parabenizá-los pelo salmente”, do número 8 em di-<br />

Você já está ca<strong>da</strong>strado no Fo- <strong>Folhetim</strong>, gostei tanto que queria ante. Agradecemos seus colhetim<br />

e o receberá via correio. saber se é possível receber os mentários e esperamos que este<br />

Ficamos contentes em saber números passados e também fa- espaço torne-se ca<strong>da</strong> vez me-<br />

que você está utilizando a cozer meu ca<strong>da</strong>stro para recebê-lo lhor e mais amplo. Aguar<strong>da</strong>mos<br />

leção numa turma a nível de regularmente.<br />

contribuições de vocês de BH<br />

supletivo. Gostaríamos de re- Agradeço antecipa<strong>da</strong>mente e es- para os próximos números.<br />

ceber, mais adiante, um relato pero poder, um dia, contribuir Um grande abraço,<br />

dessa sua experiência. com algum artigo interessante. Luiz e Marcelo<br />

Um abraço,<br />

Luiz e Marcelo<br />

PS: Quanto à cortesia: não há<br />

porque agradecer, já que você<br />

está fazendo um bom uso dela.<br />

***<br />

Muito obrigado.<br />

Leonardo Barrouin Melo<br />

barrouin.bhz@zaz.com.br<br />

Colégio Sagrado Coração de Maria<br />

Instituto Zilah Frota<br />

Belo Horizonte - MG<br />

***<br />

Caros Marcelo e Luis Alberto,<br />

Olá!!! Parabéns pelo <strong>Folhetim</strong>!!!<br />

Para mim, além <strong>da</strong> excelente<br />

quali<strong>da</strong>de dos artigos, há mais<br />

um fator que me leva a lê-lo logo<br />

Recebi, pela editora Harbra, os Prezado Leonardo,<br />

que recebo: a alegria de poder<br />

exemplares 04, 05 e 06 do Fo- Você já está ca<strong>da</strong>strado e pas- rever alguns velhos (não sei se é<br />

lhetim e achei a idéia muito sará a receber o <strong>Folhetim</strong> “men- o termo correto, mas :) ) amigos.<br />

boa. Gostaria de receber tamsalmente”, do número 8 em di- Envio uma pequena colaboração<br />

bém os outros números anteriante. Quanto aos números anexa.<br />

ores que não recebi. Sou profes- atrasados, estaremos enviando- Felici<strong>da</strong>des. Um abraço,<br />

sor também <strong>da</strong> disciplina “Meos brevemente. Gostaríamos de Marcelo de Oliveira Souza<br />

todologia de Ensino de <strong>Física</strong>” saber quais os números que mm@uenf.br<br />

dos Programas Especiais de você não tem. Lembramos que Laboratório de Ciências <strong>Física</strong>s<br />

Formação de Professores no existe uma versão virtual em: Universi<strong>da</strong>de Estadual do Norte<br />

Utramig em Belo Horizonte. http://www.cen.g12.br/f2g e pe- Fluminense<br />

c@r c@r c@rt@s c@r c@rt@s<br />

t@s t@s


NOVEMBRO DE 1999<br />

Grande Marcelinho Oliveira,<br />

É sempre bom “rever” os amigos,<br />

mesmo que virtualmente.<br />

É muito gratificante verificar<br />

que o <strong>Folhetim</strong> está sendo útil e<br />

agradável e, em particular, receber<br />

elogios por um trabalho<br />

que realizamos com o maior prazer.<br />

Valeu pelo e-mail e pela contribuição<br />

(está saindo no Palanquim<br />

deste número). Ficamos<br />

aguar<strong>da</strong>ndo a próxima, ok?<br />

Estamos na área, se derrubar é<br />

pênalti... Não perca o contato.<br />

Um grande abraço,<br />

Marcelo e Luiz<br />

***<br />

Oi, pessoal do <strong>Folhetim</strong>,<br />

Estou enviando este, porque fiquei<br />

bastante entusiasmado ao<br />

ler um artigo chamado “Erasto<br />

Mpemba e a lei do resfriamento”<br />

e também por indicação do meu<br />

professor de História <strong>da</strong> <strong>Física</strong> -<br />

Sr. Doutor Alexandre Medeiros -<br />

que é um grande admirador do<br />

trabalho de vocês. Gostaria de<br />

receber, se possível, os números<br />

passados e os que vierem a ser<br />

publicados.<br />

Muito agradecido,<br />

Edriano Alves Soares<br />

guingo@zipmail.com.br<br />

Recife - PE<br />

Prezado Edriano,<br />

Você já está ca<strong>da</strong>strado e passará<br />

a receber o <strong>Folhetim</strong> “mensalmente”,<br />

do número 8 em diante<br />

...<br />

Lembramos que existe uma versão<br />

virtual em: http://www.<br />

cen.g12.br/f2g e pediríamos que<br />

você divulgasse esse endereço<br />

para seus colegas.<br />

Um grande abraço,<br />

Marcelo e Luiz<br />

***<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

por Luiz Alberto<br />

Nesta época de contextualização<br />

e interdisciplinari<strong>da</strong>de,<br />

na<strong>da</strong> mais adequado do que indicar<br />

o livro Os Objetos Frágeis,<br />

do professor Pierre-Giles<br />

de Gennes, tanto para os professores<br />

quanto para os alunos<br />

do ensino médio. Ganhamos o<br />

livro, eu e Marcelo, do professor<br />

e amigo Geraldo Majela, de<br />

Fortaleza, e ficamos fascinados<br />

com ele.<br />

Só para <strong>da</strong>r um gostinho, deixemos<br />

que fale o próprio autor:<br />

“Este livro conta uma viagem<br />

pelas escolas secundárias<br />

<strong>da</strong> França e de além-mar ...<br />

Há muito tempo eu tinha<br />

vontade de falar com os estu<strong>da</strong>ntes<br />

secundários, mas isso<br />

era impossível...<br />

No entanto, quis a sorte<br />

que o Comitê Nobel me atribuísse<br />

um prêmio. Assim, a<br />

partir do fim de 1991, eu passei<br />

a ser convi<strong>da</strong>do espontaneamente<br />

a visitar escolas,<br />

usualmente por iniciativa dos<br />

próprios alunos ...<br />

Então eu parti, ... para contar<br />

a vi<strong>da</strong> dos meus pesquisadores:<br />

que tipo de perguntas<br />

eles se fazem, que estilo eles<br />

têm em seu trabalho. Mostrar<br />

seus sucessos, seus fracassos,<br />

suas brigas, seus erros...<br />

Desde as primeiras escolas<br />

eu experimentei uma sensação<br />

de felici<strong>da</strong>de total ...”<br />

E por aí vai o relato desse pesquisador<br />

que, em 1991, recebeu<br />

15<br />

o prêmio Nobel de <strong>Física</strong> pelo<br />

conjunto de sua obra. Um cientista<br />

que “também aprecia desenho,<br />

caiaque, caminha<strong>da</strong>s,<br />

prancha a vela e leitura para<br />

crianças”. E que talvez por isso<br />

transforma em um delicioso livro<br />

as palestras que proferiu aos<br />

estu<strong>da</strong>ntes sobre a matéria mole<br />

(<strong>da</strong>s matérias plásticas às bolhas<br />

de sabão) e suas idéias acerca <strong>da</strong><br />

educação, <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> relação<br />

de ambas com a socie<strong>da</strong>de.<br />

OS OBJETOS FRÁGEIS -<br />

PIERRE-GILLES DE GEN<br />

NES, Editora <strong>da</strong> Unicamp, São<br />

Paulo, 1997, 216 páginas.<br />

Se você tem alguma idéia, algo<br />

que deu certo em sala, que motivou<br />

os alunos, mande para<br />

nós. Teremos o maior prazer em<br />

divulgar para os outros professores.<br />

Você pode enviar a colaboração,<br />

de preferência, em arquivo<br />

.doc, na fonte Times New<br />

Roman, corpo 12. Endereços:<br />

Virtual: f2g@cen.g12.br<br />

Postal: Rua Macaé, 12<br />

Pé Pequeno - Santa Rosa<br />

Niterói - RJ - Cep: 24240-080


FOLHE<br />

FOLHE<br />

16 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

ENTRE<br />

VISTA<br />

O papel <strong>da</strong> educação na<br />

formação do ci<strong>da</strong>dão crítico<br />

e a contribuição do professor<br />

de <strong>Física</strong> nesse processo de<br />

conscientização; a responsabili<strong>da</strong>de<br />

dos cursos de licenciatura<br />

na preparação dos<br />

futuros docentes; e o resgate<br />

do ensino e do professor <strong>da</strong><br />

rede pública. Tudo isso e muito<br />

mais foi o papo que rolou<br />

no Colégio de Aplicação <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de do Estado do<br />

Rio de Janeiro, o CAP/UERJ.<br />

Participaram <strong>da</strong> entrevista 3<br />

professores de <strong>Física</strong>: Cristina<br />

Ferreira, que, além de Coordenadora<br />

do Estágio Supervisionado,<br />

milita nas salas<br />

de aula do CAP e do Instituto<br />

de <strong>Física</strong> <strong>da</strong> UERJ; José Ricardo<br />

Arru<strong>da</strong>, chefe do Departamento<br />

de Ensino Aplicado<br />

e Termodinâmica do Instituto<br />

de <strong>Física</strong> <strong>da</strong> UERJ, onde<br />

também dá aulas de Instrumentação;<br />

e Marcos Torrencilla,<br />

Coordenador de <strong>Física</strong><br />

do CAP e professor de Termologia<br />

e Mecânica.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Quando combinamos<br />

a entrevista, a Cristina mostrou<br />

interesse em falar sobre a preocupação<br />

do Colégio de Aplicação<br />

em formar ci<strong>da</strong>dãos. De forma<br />

concreta, como isso é trabalhado<br />

pela instituição?<br />

Cristina: O ci<strong>da</strong>dão crítico só é<br />

possível a partir de uma mu<strong>da</strong>nça<br />

de mentali<strong>da</strong>de nas licenciaturas.<br />

Hoje, a UERJ se debruça nesse<br />

sentido de reformulação. A subreitoria<br />

de graduação está com um<br />

fórum permanente nessa direção.<br />

No momento ele foi interrompido<br />

por um processo eleitoral em to<strong>da</strong>s<br />

as uni<strong>da</strong>des. O fórum visa a<br />

repensar os cursos de licenciatura<br />

de todos os institutos básicos.<br />

Temos representantes de várias<br />

áreas acadêmicas verificando a forma<br />

mais adequa<strong>da</strong> de se ter um ci<strong>da</strong>dão<br />

bem mais crítico, comprometido<br />

com a educação em todos<br />

os momentos. A educação é, para<br />

mim, um processo de conscientização,<br />

de forma que o indivíduo interaja<br />

com a socie<strong>da</strong>de, reflita, e seja<br />

capaz de influenciar na reali<strong>da</strong>de.<br />

A forma de interação com a reali<strong>da</strong>de<br />

é o indivíduo poder <strong>da</strong>r<br />

conta do conhecimento do ponto<br />

de vista histórico. O CAP tem esse<br />

objetivo. Eu não tenho, nem posso<br />

ter a pretensão de achar que aqui<br />

é o supra-sumo! No entanto, temos<br />

a vigilância de buscar ser um<br />

campo de experimentação metodológica<br />

para a UERJ. Não acredito<br />

em trabalho isolado. O CAP<br />

é uma vanguar<strong>da</strong> porque conta<br />

com a presença dos institutos básicos<br />

<strong>da</strong> UERJ e <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de<br />

Educação.<br />

Arru<strong>da</strong>: A Cristina colocou muito<br />

bem a questão <strong>da</strong> conscientização<br />

do indivíduo e sua interação com a<br />

reali<strong>da</strong>de, pelo conhecimento. Na<br />

disciplina de Instrumentação II,<br />

mu<strong>da</strong>mos a forma de trabalhar fazendo<br />

com que a <strong>Física</strong> tenha uma<br />

relevância social. Mostramos ao<br />

aluno a sua importância em formar<br />

gerações. Na prática anterior tínhamos<br />

um curso calcado em cima de<br />

um trabalho mais ou menos empírico.<br />

Desenvolvemos metodologias<br />

e mu<strong>da</strong>mos as formas de trabalhar<br />

o ensino. Dessa forma, nós, do Instituto<br />

de <strong>Física</strong> <strong>da</strong> UERJ, vamos<br />

intervir diretamente no CAP.<br />

A educação tem que passar por<br />

uma reengenharia dos seus processos.<br />

Hoje ela não atende às necessi<strong>da</strong>des<br />

específicas de um instituto<br />

básico, em particular a <strong>Física</strong>. A<br />

educação tem que <strong>da</strong>r ao aluno de<br />

licenciatura conceitos metodológicos.<br />

O aluno do Instituto de <strong>Física</strong><br />

já tem a visão de como <strong>da</strong>r uma<br />

aula dentro de um contexto científico.<br />

O tipo de ensino do quadro negro<br />

e giz deve ficar em plano secundário.<br />

Temos que <strong>da</strong>r ao ensino<br />

<strong>da</strong> <strong>Física</strong> um trato mais científico,<br />

do ponto de vista <strong>da</strong> interação<br />

do conceito físico, do modelo, do<br />

aparato matemático, do fenômeno.<br />

É uma coisa integra<strong>da</strong>. A prática<br />

no CAP é fazer com que o fenômeno<br />

físico possa ser contextualizado.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Contextualizar é a<br />

palavra de ordem dos Parâmetros<br />

Curriculares Nacionais<br />

(PCN), lançados pelo governo<br />

como um grande desafio para a<br />

melhoria do ensino público.<br />

Arru<strong>da</strong>: Exatamente. De alguma<br />

forma estamos fazendo isso, integrando<br />

as propostas do PCN. Todo<br />

conhecimento tem que gerar<br />

uma habili<strong>da</strong>de/hábito. Os alunos<br />

de instrumentação para o ensino de<br />

<strong>Física</strong> estão avaliando livros textos.<br />

Trabalhar a crítica para análise está<br />

no PCN. A discussão é a habili<strong>da</strong>de<br />

a ser desenvolvi<strong>da</strong> no professor<br />

de <strong>Física</strong> como orientador e nos<br />

alunos a partir do conhecimento.<br />

Cristina: Nós tínhamos algumas<br />

regras implementa<strong>da</strong>s na educação<br />

por pessoas que ocupavam cargos<br />

administrativos e não tinham uma<br />

visão de sala de aula. Com o PCN<br />

a receita foi feita com perfeição. No<br />

âmbito <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> natureza - em<br />

especial a <strong>Física</strong> - a coordenação<br />

coube ao professor Luiz Carlos de<br />

Menezes, extremamente experiente.


NOVEMBRO DE 1999<br />

Agora nós temos a cartilha, rechear<br />

o contexto depende <strong>da</strong> competência<br />

do professor. A universi<strong>da</strong>de<br />

tem um papel muito importante<br />

para a educação continua<strong>da</strong>,<br />

no sentido de trazer os professores<br />

afastados, sem a visão globalizante<br />

do ensino. A universi<strong>da</strong>de<br />

deve <strong>da</strong>r conta de um processo de<br />

ensino e aprendizado que respon<strong>da</strong><br />

a situações vivenciais. Nós <strong>da</strong><br />

academia, nesse momento do<br />

PCN, temos que resgatar a quali<strong>da</strong>de<br />

do ensino público, até porque<br />

somos de uma universi<strong>da</strong>de<br />

pública.<br />

Arru<strong>da</strong>: Não adianta as regras do<br />

PCN serem bem feitas. É importante<br />

saber implementá-las. Não<br />

adianta fazer um projeto pe<strong>da</strong>gógico<br />

para uma escola se o professor<br />

não tem conhecimento de metodologias.<br />

Então, coisas que ele<br />

aplicava há 10 anos vão continuar<br />

sendo aplica<strong>da</strong>s. O papel <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de<br />

é fun<strong>da</strong>mental para a<br />

aplicação e a adequação do PCN.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Vocês estão falando<br />

<strong>da</strong> importância do papel <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de.<br />

Vamos falar do papel,<br />

<strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong>des, dos<br />

professores que atuam nas licenciaturaspreparando/orientando<br />

os futuros profissionais do<br />

magistério do 2 o grau.<br />

Arru<strong>da</strong>: A questão passa pelo<br />

conhecimento que o professor universitário<br />

deve ter. As nossas referências<br />

são os nossos professores.<br />

A quali<strong>da</strong>de do nosso produto não<br />

atende bem às exigências atuais.<br />

Essa é uma visão crítica. O que é<br />

que se espera? Que a própria universi<strong>da</strong>de<br />

e os professores criem<br />

condições propícias para um trabalho<br />

de atualização, encaminhando<br />

o ensino medológica e cientificamente<br />

para a adequação aos alunos<br />

do 2 o grau. Na formação do<br />

licenciando já deve haver essa pre-<br />

FOLHE<br />

FOLHE<br />

FOLHE TIM<br />

TIM<br />

ocupação.<br />

Marcos: São poucos os pesquisadores<br />

que conseguem falar para<br />

públicos distintos. Tem pesquisador<br />

que só consegue falar para<br />

pesquisador <strong>da</strong> mesma área. O<br />

papel do professor que está na licenciatura<br />

é o de fazer essa tradução<br />

para o aluno de graduação.<br />

Arru<strong>da</strong>: O ensino <strong>da</strong> <strong>Física</strong> é inadequado<br />

tanto no 2 o quanto no 3 o<br />

graus. O professor de <strong>Física</strong> do 3 o<br />

grau é um bacharel, um mestre ou<br />

um doutor. Essas pessoas foram<br />

forma<strong>da</strong>s numa perspectiva de pesquisa.<br />

Não foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s a eles ferramentas,<br />

instrumentos metodológicos<br />

de como encaminhar a transmissão<br />

do conhecimento. A CA-<br />

PES está com uma proposta de<br />

fazer com que o mestre, o doutor<br />

venham à sala de aula.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Vocês têm um site na<br />

Internet onde a gente lê: “O<br />

CAP/UERJ é concebido no sentido<br />

de construir um modelo escolar<br />

livre de preconceitos de<br />

to<strong>da</strong> ordem...” Na prática, isso<br />

acontece de que forma?<br />

Cristina: Na época em que eu fui<br />

diretora do CAP/UERJ havia um<br />

concurso para a 1 a série do 1 o grau.<br />

Os candi<strong>da</strong>tos faziam um vestibulinho.<br />

Isso não combinava com a<br />

nossa proposta. Se nós queremos<br />

ter um diferencial em termos de<br />

ensino, não vai ser com alunos gênios<br />

que vamos testar nossas<br />

metodologias. O compromisso por<br />

mim assumido foi acabar com o<br />

concurso e o ingresso passou a ser<br />

por sorteio. Hoje, nós temos o convívio<br />

de classes sociais distintas.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Todo o corpo docente<br />

do CAP é proveniente <strong>da</strong><br />

UERJ?<br />

Cristina: O CAP tem 42 anos de<br />

existência e foi criado para ser<br />

campo de experimentação metodológica.<br />

Nós somos todos profes-<br />

17<br />

sores <strong>da</strong> UERJ lotados no CAP.<br />

O diferencial <strong>da</strong> instituição é a formação<br />

do corpo docente, todo ele<br />

com mestrado. Nossa preocupação<br />

é avaliar, permanentemente, a<br />

praxis pe<strong>da</strong>gógica aqui desenvolvi<strong>da</strong>.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Como funciona o estágio<br />

supervisionado do CAP/<br />

UERJ que a Cristina coordena?<br />

Cristina: Cabe ao estagiário montar<br />

um projeto que implique em ativi<strong>da</strong>des<br />

de observação e participação<br />

no sentido de não dissociar<br />

a teoria <strong>da</strong> prática. O estágio tem<br />

importância porque permite o contato<br />

direto com a reali<strong>da</strong>de de 1 o e<br />

2 o graus. Através dele se analisa e<br />

caracteriza a reali<strong>da</strong>de escolar<br />

pesquisando e testando inovações<br />

metodológicas. Assim é possível<br />

integrar os conhecimentos teóricos<br />

e práticos no desenvolvimento e<br />

aprimoramento do futuro profissional<br />

de ensino.<br />

O estágio é aberto às licenciaturas<br />

e áreas de especialização<br />

como Odontologia - o CAP tem<br />

um projeto que atende a comuni<strong>da</strong>de<br />

- Administração, Nutrição,<br />

Supervisão Escolar. Somos procurados<br />

por instituições que não têm<br />

colégio de aplicação. No entanto,<br />

para o estágio, é necessário um<br />

convênio firmado entre o CAP e a<br />

instituição requerente.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Vocês têm algum curso<br />

de atualização para professores<br />

de <strong>Física</strong>?<br />

Arru<strong>da</strong>: Vamos iniciar um de especialização<br />

a partir do próximo<br />

ano. A parte central dele será metodologia.<br />

Nós acreditamos que um<br />

dos problemas do ensino <strong>da</strong> <strong>Física</strong><br />

no país diz respeito ao metodológico.<br />

Também vamos trabalhar com<br />

a <strong>Física</strong> Moderna pensando no profissional<br />

formado há mais de 10<br />

anos.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Existe outra opção de


FOLHE<br />

FOLHE<br />

18 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

atualização sem ser um pós-graduação?<br />

Arru<strong>da</strong>: Se o interessado não quiser<br />

sair com o título de especialista<br />

ele pode optar por duas disciplinas:<br />

Instrumentação e Metodologia<br />

do Ensino de <strong>Física</strong>. Se desejar<br />

uma formação mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

opta pelas 4 disciplinas. Dessa<br />

forma, podemos atender a vários<br />

interesses.<br />

A partir desse curso de especialização,<br />

estamos com a idéia de<br />

implementar o ensino à distância.<br />

No ensino à distância, o aluno vivenciará<br />

dois momentos: o momento em<br />

que ele comparece à universi<strong>da</strong>de e<br />

cumpre um determinado número de<br />

horas e, outro momento, em que ele<br />

se comunica via Internet com os professores<br />

<strong>da</strong>s disciplinas para a execução<br />

de trabalhos.<br />

A idéia é bastante interessante,<br />

permitindo aos professores afastados<br />

<strong>da</strong> academia e dos grandes<br />

centros produtores de conhecimento<br />

manterem-se atualizados. É<br />

uma grande contribuição para o<br />

ensino <strong>da</strong> <strong>Física</strong>.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Como foi a opção do<br />

CAP/UERJ pela coleção “<strong>Física</strong><br />

para o 2 o Grau”?<br />

Cristina: Foi uma idéia feliz. O trabalho<br />

do Luiz e do Marcelo já vem<br />

com uma carta de credenciamento,<br />

pois passa pela análise de uma universi<strong>da</strong>de<br />

como a UFF. A coleção<br />

traz uma visão diferencia<strong>da</strong>. O vestibular<br />

está mu<strong>da</strong>ndo de uma maneira<br />

bastante significativa, para melhor.<br />

As universi<strong>da</strong>des estão cobrando o<br />

ensino aplicável ao cotidiano.<br />

A proposta do Luiz e do Marcelo<br />

vem exatamente na linha de<br />

trabalhar o conceito, o aspecto<br />

fenomenológico, e trazer idéias sobre<br />

o surgimento <strong>da</strong> <strong>Física</strong>. Gosto<br />

muito do capítulo 9, A Evolução<br />

<strong>da</strong>s Idéias, no livro de Mecânica.<br />

Você situa o aluno. Muitos ain<strong>da</strong><br />

chegam ao 3 o ano acreditando que<br />

para a existência de veloci<strong>da</strong>de é<br />

necessária a existência de força,<br />

com uma visão ain<strong>da</strong> aristotélica.<br />

Marcos: A gente brigou muito<br />

para mu<strong>da</strong>r o livro de <strong>Física</strong>. Nós,<br />

aqui, lutamos para ser um campo<br />

de experimentação. O CAP é uma<br />

instituição com 42 anos. Dá um<br />

certo trabalho mu<strong>da</strong>r alguma coisa.<br />

A equipe de <strong>Física</strong> discutiu<br />

muito a questão <strong>da</strong> adoção.<br />

A coleção dá a possibili<strong>da</strong>de de<br />

explorar o aluno com o conhecimento<br />

que ele está trazendo para a<br />

sala de aula. O livro coloca algumas<br />

perguntas e diz: tente responder<br />

<strong>da</strong> maneira como você pensa.<br />

Isso é importante. O aluno se sente<br />

valorizado e pensa: Pô, eu sei<br />

alguma coisa, eu sei um pouco de<br />

<strong>Física</strong>. É claro que nisso tudo tem<br />

o papel do professor em organizar<br />

as idéias do aluno.<br />

Trabalhar com a coleção não é<br />

fácil. A começar pelo professor. É<br />

mais fácil pegar a apostila do vestibular<br />

e entupir o aluno com um<br />

montão de fórmulas. Mas isso impossibilita<br />

o aluno de questionar.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Por falar em vestibular,<br />

o CAP/UERJ tem um ótimo<br />

índice de aprovação...<br />

Cristina: O vestibular é uma neurose.<br />

A neurose é reforça<strong>da</strong> pela<br />

ansie<strong>da</strong>de dos pais. O aprendizado<br />

e o domínio do conteúdo têm<br />

que perpassar o ingresso à universi<strong>da</strong>de.<br />

O aluno deve aprender a<br />

ser um ci<strong>da</strong>dão. Quando o aluno é<br />

ensinado a pensar, ele dá conta dessa<br />

passagem ritualesca para o 3 o<br />

grau. O ingresso na universi<strong>da</strong>de não<br />

é um bicho-de-sete-cabeças.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Não é um bicho-desete-cabeças<br />

para os alunos que<br />

estu<strong>da</strong>m no CAP/UERJ ou em<br />

outros bons colégios. Fora disso,<br />

a reali<strong>da</strong>de do Brasil é outra.<br />

Cristina: E aí, como é que a gente<br />

faz? Eu me preocupo muito com<br />

isso. O papel <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de é justamente<br />

o de se preocupar com a<br />

quali<strong>da</strong>de do ensino de 2 o grau. A<br />

questão é séria. O compromisso <strong>da</strong><br />

universi<strong>da</strong>de, através <strong>da</strong> educação<br />

continua<strong>da</strong>, é resgatar o professor<br />

<strong>da</strong> rede pública. A universi<strong>da</strong>de<br />

tem o compromisso político com<br />

os cursos de licenciatura.<br />

<strong>Folhetim</strong>: Como vocês reagiram<br />

ao aparecimento do <strong>Folhetim</strong>?<br />

Cristina: É prazerosa a forma jocosa<br />

como é trabalhado o conhecimento.<br />

Isso traz uma leveza. A<br />

entrevista é uma maneira de aproximar<br />

os profissionais ligados à<br />

educação. Isso fortalece a nossa<br />

luta. Nós, que lutamos por uma<br />

mu<strong>da</strong>nça de mentali<strong>da</strong>de, somos<br />

muito solitários.<br />

<strong>Folhetim</strong>: O que o <strong>Folhetim</strong> não<br />

perguntou, mas vocês gostariam<br />

falar?<br />

Cristina: Eu quero lembrar uma<br />

citação do Carlos Drummond de<br />

Andrade, referen<strong>da</strong>ndo o tempo.<br />

Ela foi lembra<strong>da</strong> por uma turma de<br />

formandos <strong>da</strong> qual fui paraninfa:<br />

“Quem teve a idéia de cortar o tempo<br />

em fatias, ao qual deu o nome<br />

de ano, foi certamente um indivíduo<br />

genial. Pois conseguiu, por<br />

decorrência, industrializar a esperança”.<br />

Eu estou esperançosa numa<br />

mu<strong>da</strong>nça de mentali<strong>da</strong>de do professor<br />

que está saindo <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des;<br />

<strong>da</strong>s instituições governamentais;<br />

e dos jovens. As instituições<br />

precisam descobrir a importância<br />

<strong>da</strong> educação. Os jovens<br />

acreditarem nas oportuni<strong>da</strong>des<br />

com o domínio do conhecimento.<br />

Arru<strong>da</strong>: É fun<strong>da</strong>mental to<strong>da</strong> essa<br />

discussão para mostrar a importância<br />

<strong>da</strong> <strong>Física</strong> na formação do nosso<br />

ci<strong>da</strong>dão. Mostrar o aspecto <strong>da</strong><br />

relevância social não só do ensino<br />

<strong>da</strong> <strong>Física</strong> como, também, <strong>da</strong> ciência<br />

física. Devemos, desde cedo,<br />

<strong>da</strong>r ao jovem ci<strong>da</strong>dão o conhecimento<br />

do que é ciência e tecnologia.<br />

Mostrar às pessoas que estão<br />

envolvi<strong>da</strong>s na gestão <strong>da</strong> educação,<br />

particularmente do ensino de 1 o e 2 o<br />

graus, que a <strong>Física</strong> tem o seu devido


NOVEMBRO DE 1999<br />

mérito e lugar na formação do aluno.<br />

A <strong>Física</strong> é uma ciência básica<br />

para formar futuros inovadores<br />

tecnológicos. A comuni<strong>da</strong>de científica<br />

deve fazer com que a <strong>Física</strong><br />

seja uma coisa mais perto do diaa-dia.<br />

A nova visão dos livros textos,<br />

a nova visão dos parâmetros<br />

curriculares, já apontam para conteúdo,<br />

conhecimento e habili<strong>da</strong>de.<br />

A <strong>Física</strong> é uma disciplina que está<br />

interagindo em to<strong>da</strong>s as esferas de<br />

conhecimento.<br />

Marcos: Quando eu concluí o<br />

mestrado, agradeci aos colegas<br />

pelas discussões que tínhamos sobre<br />

<strong>Física</strong> em todos os lugares, até<br />

na lanchonete. A minha geração<br />

tem essa visão nova, procurando<br />

romper com o passado. A confiança<br />

que eu tenho no futuro do ensino<br />

<strong>da</strong> <strong>Física</strong> está na gente procurar inovar<br />

e fazer coisas diferentes.<br />

Eu sinto que tem muita gente se<br />

mexendo. Veja o <strong>Folhetim</strong>, quanta<br />

gente enviando cartas e colaborações!<br />

Quem lucra com isso é o<br />

aluno, que vai ser melhor formado.<br />

A melhor coisa que um professor<br />

de <strong>Física</strong> pode ouvir é o aluno dizer<br />

que gostou <strong>da</strong> aula porque não<br />

foi uma coisa chata.<br />

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UMA ATIVIDADE PARA A SALA DE AULA<br />

Coloque seus alunos<br />

numa sinuca<br />

Mesas de sinuca são excelentes locais para se divertir e eventualmente<br />

aplicar alguns conhecimentos de <strong>Física</strong>. Pode-se mesmo<br />

desenvolver um bom curso de <strong>Física</strong> apenas analisando os<br />

fenômenos que ocorrem nesse espaço bidimensional.<br />

Como um exemplo, vamos aplicar alguns princípios físicos<br />

importantes a uma joga<strong>da</strong> de sinuca, representa<strong>da</strong> pela fotografia<br />

estroboscópica reproduzi<strong>da</strong> no final deste artigo (a foto<br />

original você encontra na página 75 do PSSC, parte 3, 4 a edição,<br />

1974).<br />

A bola (1) foi impulsiona<strong>da</strong> pelo<br />

taco contra a bola (2), que estava<br />

inicialmente para<strong>da</strong>. Considerando<br />

a escala <strong>da</strong> foto, o intervalo entre<br />

posições sucessivas <strong>da</strong>s bolas e que<br />

a massa de ambas vale 250g, respon<strong>da</strong><br />

às seguintes questões:<br />

1. Qual o módulo <strong>da</strong>s veloci<strong>da</strong>des<br />

(em cm/s) <strong>da</strong> bola (1), antes e depois<br />

<strong>da</strong> colisão?<br />

2. Qual a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> bola (2)<br />

após receber o impacto <strong>da</strong> bola (1)?<br />

3. Calcule as quanti<strong>da</strong>des de movimento<br />

<strong>da</strong>s duas bolas, antes e<br />

depois <strong>da</strong> colisão. Escolha uma escala<br />

conveniente e represente-as<br />

vetorialmente, to<strong>da</strong>s a partir de um<br />

mesmo ponto. A quanti<strong>da</strong>de de<br />

movimento (total) é a mesma antes<br />

e depois <strong>da</strong> colisão? Esse resultado<br />

era esperado? Por que?<br />

4. Determine o impulso (em módulo,<br />

direção e sentido) exercido<br />

pela bola (1) sobre a bola (2) durante<br />

a colisão. Idem para o impulso<br />

exercido pela bola (2) sobre<br />

a bola (1).<br />

5. Considere a interação inicial,<br />

entre o taco e a bola (1). Supondo<br />

que o tempo de contato entre ambos<br />

foi de 0,01s, qual a intensi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> força (média) que atuou nes-<br />

19<br />

sa interação?<br />

6. Em uma colisão bidimensional e<br />

perfeitamente elástica entre massas<br />

iguais (na qual não ocorram efeitos<br />

de rotação), estando uma delas inicialmente<br />

para<strong>da</strong>, as direções após<br />

a colisão fazem entre si 90 o (quanto<br />

maior a per<strong>da</strong> de energia ocorri<strong>da</strong><br />

na colisão, menor será este<br />

ângulo).<br />

a) Demonstre esse resultado (dica:<br />

escreva a expressão <strong>da</strong> conservação<br />

<strong>da</strong> energia e simplifique as<br />

massas. O que aparece?)<br />

b) Verifique se na colisão representa<strong>da</strong><br />

pela fotografia houve ou<br />

não per<strong>da</strong> de energia. Inicialmente,<br />

calcule as energias cinéticas<br />

<strong>da</strong>s bolas antes e depois <strong>da</strong> colisão<br />

e, a seguir, meça o ângulo<br />

entre elas após o choque.<br />

Para finalizar, um truque que<br />

sempre faz muito sucesso numa<br />

mesa de sinuca, e pode render<br />

uma boa aposta: coloque quatro<br />

bolas alinha<strong>da</strong>s e bem próximas<br />

de uma <strong>da</strong>s caçapas centrais, e<br />

desafie o parceiro a que, com<br />

uma só taca<strong>da</strong>, arremesse uma<br />

quinta bola contra elas, colocando<br />

as quatro de uma só vez na<br />

caçapa (veja figura 1).


FOLHE<br />

FOLHE<br />

20 FOLHE TIM<br />

TIM<br />

NOVEMBRO DE 1999<br />

figura 1<br />

taco<br />

Por mais força que ele dê à taca<strong>da</strong>,<br />

apenas uma bola será<br />

lança<strong>da</strong> na caçapa. Isso acontece<br />

por que irão ocorrer sucessivas<br />

colisões elásticas entre massas<br />

iguais, nas quais ocorre troca de<br />

veloci<strong>da</strong>des; assim, a primeira bola<br />

transfere sua veloci<strong>da</strong>de à segun<strong>da</strong>,<br />

esta à terceira e assim por diante.<br />

A solução para o problema está<br />

mostra<strong>da</strong> na figura 2: basta colocar<br />

um objeto não elástico (uma caixa<br />

de fósforos ou uma bolinha de papel,<br />

por exemplo) antes <strong>da</strong> primeira<br />

bola do conjunto e <strong>da</strong>r a taca<strong>da</strong>. A<br />

figura 2<br />

taco<br />

Respostas<br />

1. 26,4cm/s e 11,3cm/s<br />

2. 22,4cm/s<br />

3. Em módulo, teremos:<br />

bola 1: 6,6 . 10 -2 kg.m/s e<br />

2,8 . 10 -2 kg.m/s<br />

bola 2: zero e 5,6 . 10 -2 kg.m/s<br />

explicação? Fica por sua conta!! É a mesma (encontramos um des-<br />

→<br />

p<br />

1f<br />

→<br />

p<br />

2f<br />

→<br />

p<br />

f<br />

→<br />

p<br />

i<br />

vio <strong>da</strong> ordem de 3%, perfeitamente<br />

aceitável). Esse resultado<br />

era esperado, uma vez que, numa<br />

colisão, a quanti<strong>da</strong>de de movimento<br />

total é conserva<strong>da</strong>.<br />

4. 5,6 . 10-2 N.s, na direção e sentido<br />

no qual a bola 2 se move; o<br />

mesmo valor, no sentido oposto.<br />

5. 6,6N.<br />

6. a) Fazendo o que a dica sugere,<br />

você obterá o teorema de Pitágoras,<br />

indicando que as veloci<strong>da</strong>des<br />

após a colisão são os catetos<br />

de um triângulo retângulo que<br />

tem por hipotenusa a veloci<strong>da</strong>de<br />

inicial de uma <strong>da</strong>s bolas.<br />

b) Antes <strong>da</strong> colisão:<br />

bola 1: 1,74 . 10-2 J<br />

bola 2: zero<br />

total: 1,74 . 10-2 J<br />

Depois <strong>da</strong> colisão:<br />

bola 1: 0,32 . 10-2 J<br />

bola 2: 1,25 . 10-2 J<br />

total: 1,57 . 10-2 J<br />

houve, portanto, uma per<strong>da</strong> de<br />

0,17 . 10-2 J (cerca de 10% do<br />

valor inicial). O ângulo entre as bolas,<br />

após a colisão, é de 86o .<br />

Luiz Alberto<br />

f2g@cen.g12.br

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