Arquitetura e receptividade Simone Tostes Interpretar Arquitetura ...
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cria, mas que como condição distintiva de sua época é aquele que dispõe de um repertório em<br />
constante produção e a partir daí, opera mediante uma escolha, é bastante semelhante às<br />
questões que os ready-made de Duchamp trazem à tona. As questões da tipicalidade e da<br />
serialidade versus unicidade ( presentes tanto em Duchamp quanto em Loos), de certa forma<br />
enfatizadas pelo impacto da industrialização se ligam a questões anteriores a esta, mas por ela<br />
tornadas mais evidentes, ou seja, os critérios de universalidade e de especificidade. Se por um<br />
lado os objetos industrializados que Loos elege em seu repertório ainda pertencem ao domínio<br />
circunscrito dos móveis produzidos para um determinado fim e em sua utilização não fogem a<br />
este fim, ou seja possuem ainda uma especificidade que não é abandonada, por outro lado já não<br />
possuem o caráter de objeto único que tampouco os ready-made de Duchamp possuem. E<br />
diferentemente dos objetos utilizados por Loos, os de Duchamp têm sua especificidade subvertida<br />
ao migrarem do domínio prático, utilitário, para o artístico. Enfim, as bases sobre as quais se<br />
assentavam até então os critérios de valor são agora removidas. Como observa Argan:<br />
“Era inevitável que a arte, como atividade produtora de objetos-valor, findasse no mesmo<br />
momento em que a sociedade deixava de identificar o valor com objetos destinados a constituir<br />
um patrimônio a ser conservado e transmitido de geração a geração. O desenvolvimento<br />
tecnológico industrial levou à substituição do objeto individualizado e individualizante, feito pelo<br />
homem e para o homem, pelo produto autônomo, padronizado, repetido em séries ilimitadas: para<br />
uma sociedade que já não vincula a idéia do valor à realidade do objeto, não há serventia em<br />
objetos que sejam modelos de valor” (ARGAN, 1992:581).<br />
Desta maneira pode-se ver que mesmo quando pretensamente desvinculadas, as questões entre<br />
os dois universos se tocam de maneira clara. De fato as solicitações com as quais a cultura da<br />
modernidade se vê confrontada incidem em seus diversos campos de ação, e tal incidência pode<br />
ensejar diálogos frutíferos entre domínios arbitrariamente separados, de modo a enriquecer as<br />
reflexões de ambos. Portanto, apesar e em função mesmo das diferenças entre as artes<br />
autônomas e as utilitárias, as reflexões críticas de uma e outra<br />
Referências bibliográficas:<br />
ADORNO, Theodorn. Funcionalismo hoje. Tradução de Silke Kapp de Funktionalismus Heute, a<br />
partir de Theodor Adorno. Ohne Leitbild – Parva Aesthetica. Frankfurt a/M, Suhrkamp, 1967.<br />
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna- Do iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo:<br />
Companhia das Letras. 1992<br />
BAIRD, Georges. The Space of appearance. Cambridge: The MIT Press, 1996.<br />
DAMISCH, Hubert. L’autre “ich”ou le désir du vide: pour un tombeau d’Adolf Loos. In Critique. A-<br />
Sept 1975, no.339-340. La Revue de l’École d’Architecture de Versailles. No.3, 1997. Pags. 40 a<br />
60.<br />
MUNZ, Ludwig, KUNSTLER, Gustav. ADOLF LOOS Pioneer of modern architecture. London:<br />
Thames and Hudson, 1966.<br />
STANGOS, Nikos. Conceitos da Arte Moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. (<br />
pag.87)