minha poesia, senhores, é de primeira linha - Nicolas Behr
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<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> <strong>é</strong> pele, tecido, couraça, escudo<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> <strong>é</strong> o inexplicável na sua vida<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> se apropria da própria ira e se vira<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> <strong>é</strong> um saco <strong>de</strong> gatos cheio <strong>de</strong> gatos<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> diz não e você adora um não<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> está muito bem <strong>de</strong> vida: tem vida<br />
própria, luz própria, casa própria, <strong>poesia</strong> própria<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> quer o palco, o microfone, a fama<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> usa vaselina para facilitar<br />
a entrada do poema na cena literária local<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> agora está criando. liga <strong>de</strong>pois<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> em tupi-guarani quer dizer:<br />
nos-<strong>de</strong>ram-espelhos-e-vimos-um-mundo-doente<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> torce pela extinção da humanida<strong>de</strong><br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> não <strong>é</strong> um soneto lento e sonolento<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> não <strong>é</strong> a geração 90 -<br />
duas vezes a geração <strong>de</strong> 45<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> rejeita qualquer contato afetivo<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> vai <strong>de</strong>tonar em 13 minutos<br />
a bomba-relógio que <strong>é</strong> o meu coração<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> – espelho meu – duvido que você já<br />
leu melhor poema que o meu! (o espelho ri)<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> a cada hora só piora<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> <strong>de</strong>ixa o assunto eutanásia<br />
morrer por si mesmo<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> usa as próprias palavras<br />
porque não tem outras<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> não atirou o pau no pobre do gato<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> informa aliviada que<br />
o poeta não vai mais se matar<br />
(se matar ficou fora <strong>de</strong> moda)<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> <strong>é</strong> diluidora sim: água na limonada<br />
<strong>minha</strong> <strong>poesia</strong> interrompe o poema para encher<br />
o pneu da bicicleta do filho e volta<br />
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