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Contos Novos - Mário de Andrade - Estação do Conhecimento

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Autor<br />

<strong>Contos</strong> <strong>Novos</strong> - <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

<strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (São Paulo, 1893-1945), lí<strong>de</strong>r da geração que implantou o Mo<strong>de</strong>rnismo na cultura brasileira.<br />

Obra<br />

<strong>Contos</strong> <strong>Novos</strong> (1947), escrito num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> crise pessoal, teve publicação póstuma. Reúne narrativas da<br />

maturida<strong>de</strong> artística <strong>do</strong> autor, marcadas pela maior <strong>de</strong>puração compositiva e estilística. "Eu também me gabo <strong>de</strong><br />

levar <strong>de</strong> 1927 a 42 pra achar o conto, e completá-lo em seus elementos" (Carta a Alphonsus <strong>de</strong> Guimaraens Filho).<br />

Gênero literário<br />

<strong>Contos</strong> <strong>de</strong> estrutura mo<strong>de</strong>rna, que acolhem as principais correntes ficcionistas que marcaram a Literatura Brasileira<br />

das décadas <strong>de</strong> 30 e 40. Mais <strong>do</strong> que os fatos exteriores, os relatos procuram registrar o fluxo <strong>de</strong> pensamento das<br />

personagens.<br />

Contexto histórico-cultural<br />

São Paulo, capital e interior, décadas <strong>de</strong> 20 a 40; processo <strong>de</strong> urbanização e industrialização (cida<strong>de</strong>);<br />

patriarcalismo X progressismo (ambiente rural).<br />

Enre<strong>do</strong>s:<br />

1. "Vestida <strong>de</strong> preto": Juca, em flash-back, recupera as primeiras experiências amorosas com sua prima Maria,<br />

bruscamente interrompidas por uma Tia Velha. A repressão associa-se à rejeição da prima, que o esnoba na<br />

a<strong>do</strong>lescência. A prima se casa, <strong>de</strong>scasa, e o convida para visitá-la. "Fantasticamente mulher", sua aparição <strong>de</strong>ixa<br />

Juca assusta<strong>do</strong>.<br />

2. "O ladrão": Numa madrugada paulistana, um bairro operário é acorda<strong>do</strong> por gritos <strong>de</strong> pega-ladrão. Num<br />

primeiro momento, marca<strong>do</strong> pela agitação, os mora<strong>do</strong>res reagem com atitu<strong>de</strong>s que vão <strong>do</strong> me<strong>do</strong> ao pânico e à<br />

histeria, anula<strong>do</strong>s pela solidarieda<strong>de</strong> com que se unem na perseguição ao ladrão. Num segun<strong>do</strong> momento,<br />

caracteriza<strong>do</strong> pela serenida<strong>de</strong> e enleio poético, um pequeno grupo <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res experimenta momentos <strong>de</strong> êxtase<br />

existencial. Os comportamentos se suce<strong>de</strong>m, numa linha que vai <strong>do</strong> instinto gregário ao esvaziamento trazi<strong>do</strong> pela<br />

rotina.<br />

3. "Primeiro <strong>de</strong> Maio": Conflito <strong>de</strong> um jovem operário, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> como "chapinha 35", com o momento histórico <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> Novo. 35 vê passar o Dia <strong>do</strong> Trabalho, experimentan<strong>do</strong> reflexões e emoções que vão da felicida<strong>de</strong> matinal à<br />

amargura e <strong>de</strong>sencanto vespertinos. Mesmo assim, acalenta a esperança <strong>de</strong> que, no futuro, haja liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocrática para que "sua" data seja comemorada sem repressão.<br />

4. "Atrás da catedral <strong>de</strong> Ruão": Relato <strong>do</strong>s obsessivos anseios sexuais <strong>de</strong> uma professora <strong>de</strong> francês, quarentona<br />

invicta, que procura hipocritamente dissimular seus impulsos carnais. Aplicação ficcional da psicanálise: <strong>de</strong>cifração<br />

freudiana.<br />

5. "O poço": Joaquim Prestes, fazen<strong>de</strong>iro dividi<strong>do</strong> entre o autoritarismo e o progressismo, é <strong>de</strong>safia<strong>do</strong> por um grupo<br />

<strong>de</strong> peões que se insubordinam, <strong>de</strong>srespeitan<strong>do</strong> o man<strong>do</strong>nismo absur<strong>do</strong> <strong>do</strong> patrão.<br />

6. "Peru <strong>de</strong> Natal": Juca exorciza a figura <strong>do</strong> pai, "o puro-sangue <strong>do</strong>s <strong>de</strong>smancha-prazeres", proporcionan<strong>do</strong> à<br />

família o que o velho, "acolchoa<strong>do</strong> no medíocre", sempre negara.<br />

7. "Fre<strong>de</strong>rico Paciência": Dois a<strong>do</strong>lescentes envolvi<strong>do</strong>s por uma amiza<strong>de</strong> dúbia, <strong>de</strong> conotação homossexual,<br />

procuram encontrar justificativas para esse controverti<strong>do</strong> vínculo e se rebelam contra as convenções impostas pela<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

8. "Nélson": Registro <strong>do</strong> comportamento insólito <strong>de</strong> um homem sem nome. Num bar, um grupo <strong>de</strong> rapazes exercita<br />

seu "voyeurismo" pela curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertada pelo estranho sujeito: quatro relatos se acumulam, na tentativa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cifrar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma pessoa que vive ilhada da socieda<strong>de</strong>, ruminan<strong>do</strong> sua misantropia.


9. "Tempo <strong>de</strong> camisolinha": Juca, posicionan<strong>do</strong>-se novamente como personagem-narra<strong>do</strong>r, evoca reminiscências da<br />

infância, especialmente <strong>do</strong> trauma que lhe causou o corte <strong>de</strong> seus longos cabelos cachea<strong>do</strong>s. Reconcilia-se com a<br />

vida ao presentear um operário português com três estrelas-<strong>do</strong>-mar.<br />

Foco narrativo <strong>de</strong> 1a pessoa<br />

Centra-se no eixo <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Juca, protagonista-narra<strong>do</strong>r. Por meio <strong>de</strong> evocação memorialista, em<br />

profunda introspecção, ele relembra a infância, a a<strong>do</strong>lescência e o início <strong>de</strong> vida adulta.<br />

Foco narrativo <strong>de</strong> 3a pessoa<br />

Centra-se num eixo <strong>de</strong> referência social, <strong>de</strong> inspiração neo-realista. A <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> problemas sociais se alia à<br />

análise da problemática existencial das personagens.<br />

Espaço<br />

Integra-se <strong>de</strong> forma dinâmica nos conflitos das personagens. Por exemplo, em "O poço", o frio cortante <strong>do</strong> vento <strong>de</strong><br />

julho, no interior paulista, amplifica o tratamento <strong>de</strong>sumano que o fazen<strong>de</strong>iro Joaquim Prestes dá a seus<br />

emprega<strong>do</strong>s.<br />

Personagens<br />

Nas nove narrativas, evi<strong>de</strong>ncia-se um profun<strong>do</strong> mergulho na realida<strong>de</strong> social e psíquica <strong>do</strong> homem brasileiro. Os<br />

quatro contos <strong>de</strong> cunho biográfico e memorialista, centra<strong>do</strong>s em Juca, promovem uma "interiorização" <strong>de</strong> temas<br />

sociais e familiares. Já os com enunciação em terceira pessoa apresentam personagens cuja <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> psicológica<br />

procura expressar a relação conflituosa <strong>do</strong> homem com o mun<strong>do</strong>. Em contos como "Primeiro <strong>de</strong> Maio", "Atrás da<br />

catedral <strong>de</strong> Ruão" e "Nélson", os protagonistas não têm nome: isso é índice da reificação e da alienação que<br />

fragmentam a existência humana na socieda<strong>de</strong> contemporânea.<br />

Os Melhores <strong>Contos</strong> - Rubem Braga<br />

O gênero<br />

A crônica é fruto <strong>do</strong> jornal, on<strong>de</strong> aparece entre notícias efêmeras. Trata-se <strong>de</strong> um gênero<br />

literário que se carcteriza por estar perto <strong>do</strong> dia-a-dia, seja nos temas, liga<strong>do</strong>s à vida cotidiana,<br />

seja na linguagem <strong>de</strong>spojada e coloquial <strong>do</strong> jornalismo. Mais <strong>do</strong> que isso, surge<br />

inesperadamente como um instante <strong>de</strong> pausa para o leitor fatiga<strong>do</strong> com a frieza da objetivida<strong>de</strong><br />

jornalística. De extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por ir contra as<br />

tendências fundamentais <strong>do</strong> meio em que aparece, o jornal diário. Se a notícia <strong>de</strong>ve ser sempre<br />

objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística <strong>de</strong>ve ser<br />

precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Se o jornalista <strong>de</strong>ve ser metódico e claro, o<br />

cronista costuma escrever pelo méto<strong>do</strong> da conversa fiada, <strong>do</strong> assunto-puxa-assunto,<br />

estabelecen<strong>do</strong> uma atmosfera <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> com o leitor.<br />

A obra<br />

Os melhores contos <strong>de</strong> Rubem Braga (1985) na verda<strong>de</strong> são 39 crônicas, selecionadas pelo<br />

professor Davi Arrigucci Jr., que po<strong>de</strong>m ser divididas em:<br />

1. Passa<strong>do</strong> interiorano ou em Cachoeiro <strong>do</strong> Itapemirim - reunin<strong>do</strong> as crônicas em que o narra<strong>do</strong>r<br />

aborda, <strong>de</strong> forma lírica e nostálgica, a vida na cida<strong>de</strong> pequena <strong>do</strong> interior, entre caçadas <strong>de</strong><br />

passarinho, encontro com mora<strong>do</strong>res da cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>, peladas na rua, pescarias, cachorros<br />

amigos, e a vegetação abundante <strong>do</strong> meio quase rural:<br />

Tuim cria<strong>do</strong> no <strong>de</strong><strong>do</strong><br />

A moça rica<br />

Negócio <strong>de</strong> menino<br />

Caçada <strong>de</strong> paca<br />

Praga <strong>de</strong> menino<br />

Lembrança <strong>de</strong> Zig<br />

O sino <strong>de</strong> ouro<br />

O cajueiro<br />

História <strong>de</strong> pescaria


2. Luta contra a repressão durante a ditadura getulista (1936 - 1945) - textos em que o velho<br />

Braga rememora as aventuras vividas na fuga à repressão durante o Esta<strong>do</strong> Novo, sempre<br />

mesclan<strong>do</strong> à luta política aspectos sentimentais e existenciais:<br />

Diário <strong>de</strong> um subversivo<br />

Era uma noite <strong>de</strong> luar<br />

Os persegui<strong>do</strong>s<br />

3. Observação das injustiças sociais - crônicas centradas no conflito entre os que nada têm e os<br />

mais privilegia<strong>do</strong>s. Observe-se a semelhança <strong>de</strong> Conto <strong>de</strong> Natal com Vidas Secas, <strong>de</strong> Graciliano<br />

Ramos, e principalmente com o Auto <strong>de</strong> Natal Pernambucano que é Morte e Vida Severina, <strong>de</strong><br />

João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto:<br />

O jovem casal<br />

Noite <strong>de</strong> chuva<br />

Conto <strong>de</strong> Natal<br />

4. Casos da cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> ou <strong>do</strong> exterior - textos relatan<strong>do</strong> episódios passa<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>, alguns <strong>de</strong> maneira bastante realista e outros, como Marinheiro na rua, com toque<br />

surrealista ou, como O homem da estação, com claras influências <strong>do</strong> expressionismo <strong>de</strong> Franz<br />

Kafka:<br />

Coração <strong>de</strong> mãe<br />

Marinheiro na rua<br />

O homem da estação<br />

A navegação <strong>de</strong> casa<br />

O espanhol que morreu<br />

O rei secreto <strong>de</strong> França<br />

Um braço <strong>de</strong> mulher<br />

Os amantes<br />

O afoga<strong>do</strong><br />

As luvas<br />

5. Conversas corriqueiras - diálogos trava<strong>do</strong>s pelo narra<strong>do</strong>r ou por personagens outras em que<br />

pre<strong>do</strong>mina a observação das sutilezas psicológicas:<br />

Falamos <strong>de</strong> carambolas<br />

Aula <strong>de</strong> inglês<br />

A partilha<br />

Força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong><br />

Visita <strong>de</strong> uma senhora<br />

Do Carmo<br />

6. Instantes <strong>de</strong> epifania pura - embora a epifania apareça <strong>de</strong> forma nuclear em muitos <strong>do</strong>s<br />

textos agrupa<strong>do</strong>s em outras categorias, nestes aparece <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>snuda, pura, sen<strong>do</strong> a<br />

essência <strong>do</strong>s textos, que <strong>de</strong>screves instantes únicos <strong>de</strong> alumbramento, <strong>de</strong> iluminação:<br />

Madrugada<br />

O mato<br />

Visão<br />

7. O narra<strong>do</strong>r "voyeur" - crônicas em que o narra<strong>do</strong>r observa, atraí<strong>do</strong> como um "voyeur", as<br />

ações <strong>de</strong> mulheres/meninas:<br />

Viúva na praia<br />

A mulher que ia navegar<br />

A primeira mulher <strong>do</strong> Nunes<br />

Encontro<br />

As meninas

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