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O Barão de Vila Maria: poder, história agrária - Do.ufgd.edu.br

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CANCIAN, E. ; BRAZIL, M. C. . O <strong>Barão</strong> <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>: po<strong>de</strong>r, <strong>história</strong> <strong>agrária</strong> e<<strong>br</strong> />

memória em Mato Grosso. In: BORGES, F.T. <strong>de</strong> Miranda; PERARO, <strong>Maria</strong> A<strong>de</strong>nir;<<strong>br</strong> />

COSTA, Viviane G. da S.. (Org.). Trajetórias <strong>de</strong> Vidas na História. 1 ed. Cuiabá:<<strong>br</strong> />

EDUFMT, 2009, v. 1, p. 93-116.<<strong>br</strong> />

O <strong>Barão</strong> <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong><<strong>br</strong> />

Po<strong>de</strong>r, <strong>história</strong> <strong>agrária</strong> e memória em Mato Grosso<<strong>br</strong> />

Resumo Abstract<<strong>br</strong> />

Joaquim Gomes da Silva – o barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong><<strong>br</strong> />

<strong>Maria</strong> – ocupou no século 19, as terras<<strong>br</strong> />

localizadas entre os rios Taquari, Paraguai<<strong>br</strong> />

e o Negro, marcando a <strong>história</strong> da<<strong>br</strong> />

ocupação do Pantanal sul-mato-grossense.<<strong>br</strong> />

Proprietário <strong>de</strong> gado, terras e trabalhadores<<strong>br</strong> />

escravizados, <strong>de</strong>stacou-se no cenário<<strong>br</strong> />

político e social, ocupando cargos<<strong>br</strong> />

importantes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Corumbá como<<strong>br</strong> />

juiz <strong>de</strong> paz e vereador.<<strong>br</strong> />

Como outros proprietários das terras<<strong>br</strong> />

provincianas <strong>de</strong> Mato Grosso, o barão<<strong>br</strong> />

serviu-se da mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a cativa para<<strong>br</strong> />

cultivar em sua principal fazenda, a<<strong>br</strong> />

Piraputangas, os alimentos necessários ao<<strong>br</strong> />

abastecimento da vila <strong>de</strong> Albuquerque e<<strong>br</strong> />

Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá. Figura<<strong>br</strong> />

emblemática, o barão foi pioneiro na<<strong>br</strong> />

formação dos latifúndios do sul <strong>de</strong> Mato<<strong>br</strong> />

Grosso ao fundar no Pantanal a histórica<<strong>br</strong> />

Fazenda Firme, transformada por seu filho<<strong>br</strong> />

Nheco, no mais importante centro<<strong>br</strong> />

pecuarista regional.<<strong>br</strong> />

Palavras-chaves: fazenda, barão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>, escravidão<<strong>br</strong> />

Elaine Cancian 1<<strong>br</strong> />

<strong>Maria</strong> do Carmo Brazil 2<<strong>br</strong> />

Joaquim José Gomes da Silva-the baron of<<strong>br</strong> />

<strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>-settle down in the nineteenth<<strong>br</strong> />

century, the land located among the rivers<<strong>br</strong> />

Taquari, Paraguai and Negro, making<<strong>br</strong> />

History concerning the settlement of the<<strong>br</strong> />

swampland from south province.<<strong>br</strong> />

He became very well-known due to its<<strong>br</strong> />

social and political actions, he also was an<<strong>br</strong> />

owner of large amounts of land and cattle,<<strong>br</strong> />

whereby, slave labour was used in his<<strong>br</strong> />

farms, mainly in Piraputangas.<<strong>br</strong> />

Piraputangas was responsible to farm he<<strong>br</strong> />

necessary food items for the villages of<<strong>br</strong> />

Albuquerque and Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá.<<strong>br</strong> />

The baron had a great value and also was a<<strong>br</strong> />

pionner in the formation of land property<<strong>br</strong> />

in the south of Mato Grosso, which was<<strong>br</strong> />

foun<strong>de</strong>d the historical farm called Firme.<<strong>br</strong> />

The farm was transformed by his son<<strong>br</strong> />

Nheco in one of the most important cattle<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>ee<strong>de</strong>r in the region<<strong>br</strong> />

Key-words: farm, baron of <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>,<<strong>br</strong> />

slavery.<<strong>br</strong> />

1 Professora do Curso <strong>de</strong> História da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul/Campus do Pantanal.<<strong>br</strong> />

Mestre em História pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul (UFMS).<<strong>br</strong> />

2 Professora Titular em História do Brasil da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Gran<strong>de</strong> <strong>Do</strong>urados (UFGD). <strong>Do</strong>cente<<strong>br</strong> />

do Programa <strong>de</strong> Mestrado em Educação e do Programa <strong>de</strong> Mestrado em História da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<<strong>br</strong> />

da Gran<strong>de</strong> <strong>Do</strong>urados (UFGD). <strong>Do</strong>utora em História Social pela FFLCH/USP.


História <strong>de</strong> vida como fonte<<strong>br</strong> />

Um dos legados <strong>de</strong>ixado por Marc Bloch que serve <strong>de</strong> orientação à conduta ou<<strong>br</strong> />

ao procedimento do pesquisador é a observação histórica, cujo olhar <strong>de</strong>ve alcançar a<<strong>br</strong> />

imensa massa dos testemunhos não escritos. Ao relato, à or<strong>de</strong>m dos fatos e ao<<strong>br</strong> />

acontecimento o historiador precisa incorporar ao recurso da reconstrução histórica as<<strong>br</strong> />

inúmeras pistas ou vestígios, muitas vezes ocultos, capazes <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r o homem na<<strong>br</strong> />

socieda<strong>de</strong> e no tempo. 3 Marc Bloch lamenta em sua o<strong>br</strong>a Apologia da História – ou o<<strong>br</strong> />

ofício do historiador 4 , prefaciada por Jacques Le Goff, o fato <strong>de</strong> os historiadores<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>dicados aos períodos antigos não recorrem nem <strong>de</strong> cartas privadas, nem confissões,<<strong>br</strong> />

legando apenas péssimas biografias em estilo convencional. Jacques Le Goff lem<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />

que se ouvirmos os conselhos <strong>de</strong>ixados por Marc Bloch veremos o quanto os atuais<<strong>br</strong> />

historiadores, que estudam as épocas remotas, têm se esforçado em escrever <strong>história</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

vidas submetidas ao rigor dos métodos, “(...) ao menos das dos homens ilustres do<<strong>br</strong> />

passado, e a <strong>história</strong> do indivíduo nesses tempos antigos <strong>de</strong>veria beneficiar pesquisas<<strong>br</strong> />

atuais ligadas ao ‘retorno do sujeito’ em filosofia e nas ciências sociais, retorno que não<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ixa indiferente os historiadores.” 5<<strong>br</strong> />

As mudanças verificadas na vida material dos homens, nas formas <strong>de</strong> abordar as<<strong>br</strong> />

questões regionais reúnem algumas das preocupações dos historiadores em apreen<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />

não só as contradições, mas também as vicissitu<strong>de</strong>s do cotidiano no processo histórico. 6<<strong>br</strong> />

A historiadora <strong>Maria</strong> do Carmo Di Creddo, ao tratar a questão das fontes históricas,<<strong>br</strong> />

ressalta o inventário como fonte valiosa para a apreensão e análise nas formas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

riqueza social, para o estudo da <strong>história</strong> da família e da <strong>história</strong> rural. Nesta perspectiva<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> abordagem, o inventário permite explicar parte das “(...) origens da fortuna pessoal e<<strong>br</strong> />

familiar particularmente a aquisição <strong>de</strong> bens imóveis (e o) processo <strong>de</strong> formação da<<strong>br</strong> />

3 LE GOFF, Jacques. Prefácio. In: BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador.<<strong>br</strong> />

Edição anotada por Ètienne Bloch. Apresentação à edição <strong>br</strong>asileira Lilia Moritz Schwarcz. Tradução<<strong>br</strong> />

André Telles. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 20.<<strong>br</strong> />

4 BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador. Edição anotada por Ètienne Bloch.<<strong>br</strong> />

Apresentação à edição <strong>br</strong>asileira Lilia Moritz Schwarcz. Tradução André Telles. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge<<strong>br</strong> />

Zahar Editor, 2001<<strong>br</strong> />

5 LE GOFF, Jacques. Prefácio. In: BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador.<<strong>br</strong> />

Edição anotada por Étienne Bloch. Apresentação à edição <strong>br</strong>asileira Lilia Moritz Schwarcz. Tradução<<strong>br</strong> />

André Telles. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 26.<<strong>br</strong> />

6 DI CREDDO, <strong>Maria</strong> do Carmo. O Inventário como fonte para a análise nas formas <strong>de</strong> riqueza social:<<strong>br</strong> />

reflexões so<strong>br</strong>e estudo <strong>de</strong> caso. In: DI CREDDO, M.C., ALVES, Paulo, OLIVEIRA, Carlos Roberto<<strong>br</strong> />

(orgs.). Fontes Históricas: Abordagens e Médodos. Assis, SP: PPGH/FCL/UNESP, 1996, p. 11.


proprieda<strong>de</strong> rural(...).” 7 Os inventários iluminam aspectos da realida<strong>de</strong> pois em muitos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>les estão arrolados artefatos domésticos (bens móveis), bens imóveis ou <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>eves inci<strong>de</strong>ntes humanos dos lugares em questão. Além disso, os inventários expõem<<strong>br</strong> />

situações - eventualmente consi<strong>de</strong>radas triviais - por um leitor apressado – mas são<<strong>br</strong> />

fontes prenhes <strong>de</strong> significados para o conhecimento das relações sociais e econômicas<<strong>br</strong> />

locais, seja <strong>de</strong> indivíduos ou famílias.<<strong>br</strong> />

Para Di Creddo o inventário suscita predominantemente a discussão dos<<strong>br</strong> />

problemas relacionados à concentração do patrimônio imobiliário. Através <strong>de</strong>le é<<strong>br</strong> />

possível verificar que durante o escravismo colonial o homem escravizado representava<<strong>br</strong> />

uma forma <strong>de</strong> riqueza, parte constitutiva do capital <strong>de</strong> uma empresa. O trabalhador<<strong>br</strong> />

escravizado era tido como mercadoria que se escolhia, comprava e vendia. Era num<<strong>br</strong> />

documento <strong>de</strong> compra e venda que o cativo passava a figurar como bem <strong>de</strong> capital,<<strong>br</strong> />

proprieda<strong>de</strong> semovente da empresa agrícola ou <strong>de</strong> um núcleo familiar sujeito à<<strong>br</strong> />

utilização do trabalho compulsório. 8<<strong>br</strong> />

Pelas reflexões <strong>de</strong> Di Creddo o inventário é uma fonte capaz <strong>de</strong> elucidar “(...)<<strong>br</strong> />

não só as origens da riqueza familiar – expressas em escravos, proprieda<strong>de</strong> ou outros<<strong>br</strong> />

bens – mas também colocar a trajetória <strong>de</strong> formação da fortuna pessoal e familiar<<strong>br</strong> />

através da i<strong>de</strong>ntificação do tipo <strong>de</strong> bens arrolados.” 9<<strong>br</strong> />

Com essas reflexões elegemos o caso do <strong>Barão</strong> <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong> que se estabeleceu<<strong>br</strong> />

em terras do sul <strong>de</strong> Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul. Estudos realizados so<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />

barão como Genealogia Mato-grossense, <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Mesquita, <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong> dos Meus<<strong>br</strong> />

Maiores, <strong>de</strong> Luis-Philippe Pereira Leite 10, contribuíram para nutrir o gênero da biografia<<strong>br</strong> />

romanceada e as memórias por or<strong>de</strong>m crescente <strong>de</strong> interesses. São escritores que<<strong>br</strong> />

romancearam os fatos ligados à vida do barão, mostrando a trajetória <strong>de</strong> um homem<<strong>br</strong> />

diferente. Este homem endia<strong>br</strong>ado, que na infância atormentava a vida dos moradores<<strong>br</strong> />

da antiga <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>, sua cida<strong>de</strong> natal, aos 37 anos recebeu do Imperador D. Pedro II, o<<strong>br</strong> />

título nobiliárquico <strong>de</strong> <strong>Barão</strong> <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>, em reconhecimento aos serviços prestados<<strong>br</strong> />

ao país.<<strong>br</strong> />

Alguns dos serviços prestados ao Império Brasileiro ligaram-se ao fato do barão<<strong>br</strong> />

ter transformado sua fazenda Piraputangas em sentinela avançada do Comando <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

7 Ibid., p. 11.<<strong>br</strong> />

8 BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Fronteira negra...Op.cit. p. 32.<<strong>br</strong> />

9 DI CREDDO, M. C. Fontes Históricas... Op cit., p. 12.<<strong>br</strong> />

10 LEITE, Luis-Philippe Pereira. <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong> dos Meus Maiores. São Paulo: Vaner Bicego, 1977.<<strong>br</strong> />

MESQUITA, José. Genealogia mato-grossenses. São Paulo: Resenha Tributária, 1992.


Armas da Província, sediado em Corumbá antes mesmo <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>flagrado a Guerra<<strong>br</strong> />

contra o Paraguai. Com essa missão tomada para si controlava com os habitantes da<<strong>br</strong> />

região qualquer movimento que representasse perigo e insegurança, principalmente no<<strong>br</strong> />

rio Paraguai, área <strong>de</strong> passagem o<strong>br</strong>igatória dos invasores.<<strong>br</strong> />

Abílio <strong>de</strong> Barros lem<strong>br</strong>a que um <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, o escritor Augusto César<<strong>br</strong> />

Proença, citando um Relatório do Comando Geral e Corumbá feito pelo coronel Carlos<<strong>br</strong> />

Augusto <strong>de</strong> Oliveira, <strong>de</strong>stacou o esforço do barão em estabelecer um forte foco <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

resistência, a <strong>de</strong>speito dos interesses opostos dos comandantes: “(...) duzentas<<strong>br</strong> />

espingardas e cartuchame para armar seus camaradas e agregados ao mesmo tempo em<<strong>br</strong> />

que enviava ao Comando Geral <strong>de</strong> Corumbá 12 escravos por ele alforriados para<<strong>br</strong> />

assentarem praça, e seus próprios dois filhos. O mais velho, <strong>de</strong> nome Firmino, tido <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

um primeiro casamento, viria a ser morto pelos paraguaios. Desse ato o barão faz<<strong>br</strong> />

referência em seu testamento com visível sentimento <strong>de</strong> revolta e orgulho ao mesmo<<strong>br</strong> />

tempo, pois, no entrevero armado, o seu filho abatera três dos soldados paraguaios que<<strong>br</strong> />

foram ao seu encalço. Ainda pelo relatório do cel. Carlos Augusto, ficamos sabendo que<<strong>br</strong> />

partiu do barão o aviso final do <strong>de</strong>sembarque, em Albuquerque, das tropas paraguaias<<strong>br</strong> />

que marcharam so<strong>br</strong>e Corumbá, bem como da passagem dos vapores inimigos rio<<strong>br</strong> />

acima. O barão atravessaria o rio Paraguai para sua margem esquerda, on<strong>de</strong> possuía<<strong>br</strong> />

fazenda <strong>de</strong> gado e, <strong>de</strong> lá, subiria o Taquari até Coxim, <strong>de</strong> on<strong>de</strong>, montado em burros,<<strong>br</strong> />

com família e alguns escravos, seguiu até o Rio <strong>de</strong> Janeiro para dar notícias ao rei, como<<strong>br</strong> />

consta da <strong>história</strong>.” 11<<strong>br</strong> />

A imagem <strong>de</strong> Joaquim José Gomes da Silva foi <strong>de</strong>scrita como herói <strong>de</strong> guerra,<<strong>br</strong> />

como <strong>de</strong>s<strong>br</strong>avador ou pioneiro e como o fazen<strong>de</strong>iro lavrador que no distrito <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Albuquerque legou aos pantaneiros a ocupação <strong>de</strong> uma das mais lendárias regiões do<<strong>br</strong> />

Pantanal – a Nhecolândia.<<strong>br</strong> />

Segundo a narrativa daqueles que se prepuseram a escrever a <strong>história</strong> <strong>de</strong> vida do<<strong>br</strong> />

barão, a luta <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>s<strong>br</strong>avadores que se transformaram em povoadores da região do<<strong>br</strong> />

pantanal sul, não fez parte dos relatos dos viajantes. 12 Poucos historiadores procuraram<<strong>br</strong> />

dialogar com os elementos da realida<strong>de</strong> presentes em suas memórias ou outras peças<<strong>br</strong> />

informativas similares. Assim, a reflexão so<strong>br</strong>e a ocupação <strong>de</strong>ste espaço singular,<<strong>br</strong> />

11<<strong>br</strong> />

BARROS, Abílio Leite <strong>de</strong>. Gente Pantaneira (Crônicas da sua História). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Lacerda, 1998,<<strong>br</strong> />

p. 72-73.<<strong>br</strong> />

12<<strong>br</strong> />

BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Rio Paraguai, o ‘mar interno’ <strong>br</strong>asileiro. Uma contribuição para o estudo<<strong>br</strong> />

dos caminhos fluviais. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia Letras e Ciências Humanas.<<strong>br</strong> />

São Paulo-SP. 1999, p. 262. (Tese <strong>de</strong> <strong>Do</strong>utorado).


endilhado <strong>de</strong> rios, traduz a certeza <strong>de</strong> que a pesquisa histórica so<strong>br</strong>e as correntes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

povoamento e os aspectos da vida material, permanece como uma floresta primitiva, à<<strong>br</strong> />

espera <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>s<strong>br</strong>avadores. 13 Mesmo biografado <strong>de</strong> forma romanceada 14 , é possível<<strong>br</strong> />

afirmar que o barão foi mesmo pioneiro na formação dos latifúndios do sul <strong>de</strong> Mato<<strong>br</strong> />

Grosso ao fundar a histórica Fazenda Firme, que se tornou importante centro da<<strong>br</strong> />

pecuária da região.<<strong>br</strong> />

Feitas as consi<strong>de</strong>rações acima, a escolha <strong>de</strong> Joaquim José Gomes da Silva, o<<strong>br</strong> />

barão, como objeto <strong>de</strong> análise justifica-se pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explicar a atuação política<<strong>br</strong> />

dos gran<strong>de</strong>s proprietários e sua relação com o universo social durante a formação dos<<strong>br</strong> />

latifúndios nos pantanais <strong>de</strong> Mato Grosso. Além disso, os registros da vida política do<<strong>br</strong> />

mesmo foram encontrados em arquivo local, favorecendo, portanto, a escrita do<<strong>br</strong> />

trabalho.<<strong>br</strong> />

Não preten<strong>de</strong>mos com essa escolha reforçar o imaginário ilusório daqueles que<<strong>br</strong> />

enten<strong>de</strong>m os representantes do po<strong>de</strong>r como os únicos a terem o direito <strong>de</strong> serem<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ados e registrados nas produções historiográficas. Aclarar a trajetória <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> proprietário inclui perpassar também pela vida e ações praticadas pelos<<strong>br</strong> />

escravizados <strong>de</strong>ntro das casas e nas fazendas <strong>de</strong>sta região.<<strong>br</strong> />

Ao retratarmos patriarca Gomes da Silva, gran<strong>de</strong> proprietário <strong>de</strong> terras e cativos,<<strong>br</strong> />

evi<strong>de</strong>nciou-se que na fronteira das raias castelhanas os senhores serviam-se do<<strong>br</strong> />

trabalhador escravizado, permitindo ser reconhecido na região por abastecer Corumbá e<<strong>br</strong> />

Albuquerque com diferentes víveres. Inserido em um contexto social propiciador <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>r e cargos elevados entre proprietários <strong>de</strong> extensas terras, o barão soube utilizar-se<<strong>br</strong> />

das oportunida<strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />

O objetivo não é produzir uma carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> Joaquim José Gomes<<strong>br</strong> />

da Silva. Tampouco realizar uma trajetória completa <strong>de</strong> sua vida, mas enten<strong>de</strong>r, ainda<<strong>br</strong> />

que restritamente, como estruturou o jogo do po<strong>de</strong>r, as relações sociais e, so<strong>br</strong>etudo o<<strong>br</strong> />

uso do <strong>br</strong>aço cativo no distante sul <strong>de</strong> Mato Grosso, numa época marcada pela<<strong>br</strong> />

manipulação da terra e do trabalho.<<strong>br</strong> />

No tempo da escravatura, período em que o <strong>br</strong>anco abastado, proprietário <strong>de</strong> terras<<strong>br</strong> />

e dos trabalhadores escravizados, enjeitava os trabalhos <strong>br</strong>açais servindo-se <strong>de</strong> cativos<<strong>br</strong> />

13 Ibid., p. 262.<<strong>br</strong> />

14 So<strong>br</strong>e o gênero da biografia na construção do discurso Cf. PENA, Felipe. Teoria da biografia sem fim.<<strong>br</strong> />

Prefácio <strong>de</strong> Muniz Sodré, Editora Mauad, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2004<<strong>br</strong> />

15 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta <strong>de</strong> Moraes; AMADO, Janaina.<<strong>br</strong> />

(Orgs.) Usos e abusos da <strong>história</strong> oral.4. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FGV, 2001. p.188.


no campo e na cida<strong>de</strong> e o homem livre po<strong>br</strong>e mantinha pelo menos um preto nos<<strong>br</strong> />

afazeres domésticos ou no ganho objetivando, so<strong>br</strong>etudo a so<strong>br</strong>evivência diária, era<<strong>br</strong> />

corrente consi<strong>de</strong>rar o trabalho “coisa” <strong>de</strong> escravo.<<strong>br</strong> />

Um bom casamento entre <strong>br</strong>ancos era aquele que unia filhos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

barões, fazen<strong>de</strong>iros, políticos, etc. Numa socieda<strong>de</strong> escravocrata marcada pelos<<strong>br</strong> />

interesses dos gran<strong>de</strong>s proprietários, pela utilização do <strong>br</strong>aço cativo e pela<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>svalorização dos indivíduos oriundos <strong>de</strong> relações interétnicas (<strong>br</strong>ancos, nativos e<<strong>br</strong> />

negros), fazia diferença ser <strong>br</strong>anco. Essa distinção ampliava quando este <strong>br</strong>anco era <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

família abastada ou do dotado <strong>de</strong> título nobiliárquico. Todavia, em certas famílias<<strong>br</strong> />

alguns mem<strong>br</strong>os fugiam dos costumes praticados na época, contraindo laços<<strong>br</strong> />

matrimoniais pouco promissores. Foi nesse contexto que transcorreu a trajetória <strong>de</strong> vida<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Joaquim José Gomes da Silva.<<strong>br</strong> />

De menino diabo a barão<<strong>br</strong> />

Filho do padre José Joaquim Gomes da Silva e da “bugra” Rosa Thereza<<strong>br</strong> />

Inocência do Nascimento, natural <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong> (atual São Luiz <strong>de</strong> Cáceres-MT),<<strong>br</strong> />

Joaquim José Gomes da Silva, o menino diabo, nascido no ano <strong>de</strong> 1825, enfrentaria,<<strong>br</strong> />

segundo seus biógrafos, as durezas da vida, a discriminação social para só mais tar<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

tornar-se proprietário rural na região sul da província <strong>de</strong> Mato Grosso e o único barão<<strong>br</strong> />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Corumbá: (...) De Jacobina irradiava a gente aventureira, que tomou conta<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porção do Pantanal, no Taquari, Paraguai e Negro, on<strong>de</strong> se afazendou o genro<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> João Pereira Leite, <strong>de</strong> nome Joaquim José Gomes da Silva, Menino-Diabo, em moço,<<strong>br</strong> />

e barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>, por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 1862 (21/06/1862) ” 16 .<<strong>br</strong> />

Joaquim Gomes da Silva recebera o apelido <strong>de</strong> menino diabo <strong>de</strong>vido às artes<<strong>br</strong> />

praticadas quando ainda era criança. Conforme os memorialistas <strong>de</strong>ntre tantas<<strong>br</strong> />

travessuras a mais recordada é a entrada na igreja <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong> (atual cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Cáceres), antes da missa e a prática do sacrilégio. O menino endia<strong>br</strong>ado teria<<strong>br</strong> />

consumido o vinho do cálice do padre e urinado no recipiente. O ato escandalizou a<<strong>br</strong> />

população da região, reservando-lhe a imagem <strong>de</strong> menino mau. Quando jovem, em<<strong>br</strong> />

1839, recebeu uma herança do pai falecido constituída por alguns escravos, objetos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

casa, livros e trezentos e cinco reis.<<strong>br</strong> />

16 CORRÊA FILHO, Virgílio. Fazendas <strong>de</strong> gado no Pantanal mato-grossense. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ministério<<strong>br</strong> />

da Agricultura/Serviço <strong>de</strong> Informação Agrícola, 1955. 62 p. (<strong>Do</strong>cumentário da Vida Rural, 10), p. 22.


Na o<strong>br</strong>a Pantanal. Gente, tradição e <strong>história</strong>, Augusto César Proença, publicada<<strong>br</strong> />

em 1990, 17 mostra que a herança encorajou Joaquim José a casar-se com sua prima<<strong>br</strong> />

materna Benedita Fausta <strong>de</strong> Campos com quem teve um filho <strong>de</strong> nome Firmino. Após o<<strong>br</strong> />

falecimento da sua esposa tornou-se mascate, profissão que o aproximaria da segunda<<strong>br</strong> />

companheira. Durante as suas viagens entre Cuiabá e Cáceres, acostumava repousar na<<strong>br</strong> />

fazenda dos parentes, a Jacobina, morada da prima <strong>de</strong> segundo grau <strong>Maria</strong> da Glória, a<<strong>br</strong> />

qual do alpendre da casa acompanhava a movimentação do núcleo rural, po<strong>de</strong>ndo<<strong>br</strong> />

observar e ser vista pelo primo. Proença <strong>de</strong>screve-a com feições <strong>de</strong> menina, sem beleza<<strong>br</strong> />

e “ajeitadinha”. 18 Os olhares resultaram em namoro escondido, o qual ao ser <strong>de</strong>scoberto<<strong>br</strong> />

pelo major João Carlos, pai da menina, fora proibido. Naturalmente o gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

proprietário <strong>de</strong> terras e cativos não consi<strong>de</strong>rava o primo mascate, um bom preten<strong>de</strong>nte à<<strong>br</strong> />

futura her<strong>de</strong>ira da Jacobina, a qual na época tinha apenas treze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Conforme registrou Proença 19 , os amantes impedidos <strong>de</strong> se verem planejaram um<<strong>br</strong> />

casamento às escondidas. Durante a noite, quando a família, os cativos, os agregados e<<strong>br</strong> />

criados e os animais da fazenda dormiam <strong>Maria</strong> da Glória servida por lençóis amarrados<<strong>br</strong> />

na porta do quarto escapou pela janela apoiando-se nas pare<strong>de</strong>s externas da casa. A<<strong>br</strong> />

cavalo Joaquim José e a prima, fugiram. Com o barulho do galope os fujões acordaram<<strong>br</strong> />

animais e habitantes da casa causando enorme alvoroço feito por cachorros, galinhas e<<strong>br</strong> />

porcos. Auxiliado pelos trabalhadores da fazenda, o major João Carlos <strong>de</strong>liberou a<<strong>br</strong> />

busca pelos fujões, mas a esperteza <strong>de</strong> Joaquim impediu que a amada retornasse à<<strong>br</strong> />

Jacobina, pois havia antecipado a documentação necessária para realização do<<strong>br</strong> />

casamento. Em uma igreja <strong>de</strong> Poconé, casaram-se imediatamente após a fuga.<<strong>br</strong> />

Para livrar-se <strong>de</strong>finitivamente das ameaças familiares da então esposa, Joaquim<<strong>br</strong> />

José dirigiu-se em 1845, para o sul <strong>de</strong> Mato Grosso, rumo ao pequeno povoado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Corumbá. Assim, segundo as avaliações <strong>de</strong> Virgílio Correa Filho, “(…) pelo seu gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

tino comercial, sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vencer, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, Joaquim José foi<<strong>br</strong> />

requerendo sesmarias a ponto <strong>de</strong>, já em 1847, ser o proprietário <strong>de</strong> uma porção <strong>de</strong>las<<strong>br</strong> />

(…).” 20<<strong>br</strong> />

As terras requeridas por Joaquim José Gomes da Silva estendiam-se pela região<<strong>br</strong> />

do Urucum, Taquari, Paraguai, Jacadigo, Aquidauana e outros. Todavia, foi na elevada<<strong>br</strong> />

17 PROENÇA, Augusto César. Pantanal. Gente, tradição e <strong>história</strong>. Campo Gran<strong>de</strong>/MS, 1992.<<strong>br</strong> />

18 I<strong>de</strong>m, p. 67.<<strong>br</strong> />

19 I<strong>de</strong>m, p. 70, 71.<<strong>br</strong> />

20 I<strong>de</strong>m, p. 71.


Serra do Urucum pertencente à fazenda Piraputangas, o espaço escolhido para elevar a<<strong>br</strong> />

moradia que a<strong>br</strong>igou a família Gomes da Silva no espaço rural até a invasão paraguaia.<<strong>br</strong> />

Distante a poucos quilômetros <strong>de</strong> Albuquerque, Piraputangas foi referência constante<<strong>br</strong> />

dos viajantes estrangeiros da época, dada sua extensão, beleza natural e construções<<strong>br</strong> />

contidas, so<strong>br</strong>etudo pela importância econômica na região.<<strong>br</strong> />

Joaquim José Gomes da Silva, além <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> proprietário <strong>de</strong> terras, gado e<<strong>br</strong> />

trabalhadores escravizados, foi homem influente na região, <strong>de</strong>sempenhando o papel <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

juiz <strong>de</strong> paz e vereador <strong>de</strong> Corumbá. 21<<strong>br</strong> />

A fazenda das Piraputangas<<strong>br</strong> />

Cumpre lem<strong>br</strong>ar que os primeiros povoadores do pantanal sul partiram da região<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Cuiabá, Poconé, Livramento e Cáceres, precisamente da gran<strong>de</strong> fazenda Jacobina. Os<<strong>br</strong> />

Pereira Leite ocuparam a região do Descalvado e os Gomes da Silva conquistaram a<<strong>br</strong> />

parte sulina do Pantanal. Na <strong>história</strong> da ocupação da porção sul do Pantanal, figurou<<strong>br</strong> />

como já comentado, Joaquim Gomes da Silva veio ocupar a sub-região do Pantanal<<strong>br</strong> />

entre os rios Taquari, Paraguai e o Negro. Tomou posse, portanto, <strong>de</strong> uma sesmaria<<strong>br</strong> />

localizada na região <strong>de</strong> Corumbá, requerida como parte da herança <strong>de</strong>ixada pelo pai <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>Maria</strong> da Glória Pereira Leite, sua mulher. 22<<strong>br</strong> />

A vitória so<strong>br</strong>e a reação dos “estrategos” paiaguás, graças às fortificações<<strong>br</strong> />

portuguesas <strong>de</strong> 1778, permitiu o lento povoamento da mesopotâmia entre o rio Negro e<<strong>br</strong> />

o Taquari. Deste vasto espaço tomou posse, em 1847, Joaquim José Gomes da Silva,<<strong>br</strong> />

assentando-se numa área entre Corumbá e Albuquerque, on<strong>de</strong> fundou a Fazenda<<strong>br</strong> />

Piraputangas, junto a serra do Urucum. Como eram terras <strong>de</strong> excelência para as<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s agro-pastoris, o rebanho aumentou rapidamente, tornando-se necessária a<<strong>br</strong> />

utilização <strong>de</strong> maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pasto para o gado. 23<<strong>br</strong> />

Na busca <strong>de</strong>ssas áreas <strong>de</strong> pastagem, explica Abílio Leite Barros, o barão talvez<<strong>br</strong> />

informado pelos nativos, <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>iu que havia uma imensa extensão <strong>de</strong> campos limpos<<strong>br</strong> />

“acima da foz dos rios Miranda e Abo<strong>br</strong>al e abaixo das águas do Taquari, perto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

21 Joaquim José Gomes da Silva foi eleito vereador em 1872, na primeira eleição realizada em Santa Cruz<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Corumbá para escolha dos sete vereadores . O barão foi eleito com a maioria dos votos, cento e setenta<<strong>br</strong> />

e cinco, para um total <strong>de</strong> 269 votantes. Além <strong>de</strong> vereador, Gomes da Silva foi escolhido para<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sempenhar a função <strong>de</strong> juiz <strong>de</strong> paz, eleito com cento e oitenta e um votos. Cf. Ata especial <strong>de</strong> apuração<<strong>br</strong> />

dos votos para sete vereadores e quatro juízes <strong>de</strong> paz <strong>de</strong>sta paroquia <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá. 1872.<<strong>br</strong> />

Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá. <strong>Do</strong>cumentos avulsos. Corumbá-MS.<<strong>br</strong> />

22 Cf. BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Rio Paraguai.... Op. cit., p. 243.<<strong>br</strong> />

23 Ibid., p. 249.


Albuquerque...” 24 , precisamente na margem esquerda do rio Paraguai. Portanto, na área<<strong>br</strong> />

contígua ao rio, on<strong>de</strong> mais tar<strong>de</strong> ficou conhecida como porta <strong>de</strong> entrada da Nhecolândia,<<strong>br</strong> />

o barão fundou um retiro, tratado primitivamente por Manga do <strong>Barão</strong>, <strong>de</strong>pois Porto da<<strong>br</strong> />

Manga. 25 Em função das seguidas enchentes o rancho foi mais tar<strong>de</strong> abandonado. O<<strong>br</strong> />

barão <strong>de</strong>terminou a construção <strong>de</strong> um novo retiro num local mais alto e enxuto, a quatro<<strong>br</strong> />

léguas <strong>de</strong> distância do rio, a que foi dado o nome <strong>de</strong> “Firme” 26 .<<strong>br</strong> />

A fazenda Piraputangas, proprieda<strong>de</strong> do barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong> 27 , localizava-se<<strong>br</strong> />

próximo a Albuquerque e Corumbá, e abastecia ambas as localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vido à<<strong>br</strong> />

abundante produção <strong>de</strong> alimentos. 28 Firmada em terra favorável à agricultura, mas<<strong>br</strong> />

também à pecuária, foi explorada <strong>de</strong>vidamente com plantações variadas e criação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

animais.<<strong>br</strong> />

As plantações <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e dos alimentos que abasteciam os núcleos<<strong>br</strong> />

urbanos eram cuidados pelos escravos lavradores e roceiros. Na lavoura labutavam<<strong>br</strong> />

Marina, Eustachio, Balthasar, Anastácio, João do Ouro, entre outros. 29 A lida com o<<strong>br</strong> />

gado, a fa<strong>br</strong>icação da aguar<strong>de</strong>nte, do açúcar e da farinha, a confecção <strong>de</strong> instrumentos<<strong>br</strong> />

com ferro e ma<strong>de</strong>ira, também eram ativida<strong>de</strong>s efetivadas pelos cativos.<<strong>br</strong> />

Na relação 30 dos cativos rurais pertencentes ao espólio do barão um escravizado<<strong>br</strong> />

aparece <strong>de</strong>stacado. Ga<strong>br</strong>iel, 38, era especializado na lida com o gado bovino e por isso<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificado como vaqueiro. O único cativo campeiro <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> do barão arrolado,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ntre tantos outros, talvez pu<strong>de</strong>sse ensejar a diminuição consi<strong>de</strong>rável da quantida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

dos animais precipitada pela invasão das tropas paraguaias, responsáveis pela utilização<<strong>br</strong> />

da carne bovina e dos alimentos produzidos na Piraputangas como alimentação. O dado<<strong>br</strong> />

24 BARROS, Abílio Leite <strong>de</strong>. Gente ....Op. cit., p. 80.<<strong>br</strong> />

25 A Manga do <strong>Barão</strong> refere-se a uma espécie <strong>de</strong> corredor com pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> varas <strong>de</strong> bambu que servia para<<strong>br</strong> />

conduzir o gado até a barranca do rio para fazer a travessia à outra margem. Informação fornecida pelos<<strong>br</strong> />

moradores da localida<strong>de</strong>. Cf. BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Rio Paraguai.... Op. cit., p. 249.<<strong>br</strong> />

26 BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Terra e Trabalho no sul <strong>de</strong> Mato Grosso. Consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e ocupação<<strong>br</strong> />

dos pantanais e formação dos latifúndios - século 19 e 20. In: Helen Ortiz (org.). Escravidão em<<strong>br</strong> />

proprieda<strong>de</strong>s pastoris. Passo Fundo: EdiUPF, 2008. [Coletânea so<strong>br</strong>e escravidão ( No prelo)].<<strong>br</strong> />

27 O título “barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>” foi concedido a Joaquim José Gomes da Silva em 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1862,<<strong>br</strong> />

pelo Governo Imperial.<<strong>br</strong> />

28 PROENÇA, Augusto César. Pantanal. Gente, tradição e <strong>história</strong>. Campo Gran<strong>de</strong>-MS, 1992.<<strong>br</strong> />

29 Classificação dos escravos para serem libertos pelo Fundo <strong>de</strong> Emancipação - 1877. Arquivo da Câmara<<strong>br</strong> />

Municipal <strong>de</strong> Corumbá / Corumbá (MS).<<strong>br</strong> />

30 Inventário dos bens do barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>/1876. Memorial do Arquivo do Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Campo Gran<strong>de</strong>/MS. p. 77-80. 315 f.


observado, somado às informações da literatura disponível 31 po<strong>de</strong>ria ensejar uma<<strong>br</strong> />

conclusão precipitada <strong>de</strong> que pouco ou nenhum gado havia na fazenda após o término<<strong>br</strong> />

da Guerra do Paraguai. Mas, o próprio Inventário revela na relação dos bens<<strong>br</strong> />

semoventes uma quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> gado bovino, sendo trinta para corte,<<strong>br</strong> />

quarenta vacas mansas leiteiras e quarenta e sete reses <strong>de</strong> criar. <strong>Do</strong>ze mil reses foram<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>claradas existentes nas Fazendas Palmeiras e São Francisco, também proprieda<strong>de</strong>s do<<strong>br</strong> />

barão. 32<<strong>br</strong> />

Piraputangas mereceu <strong>de</strong>staque na literatura dos viajantes <strong>de</strong>vido as suas<<strong>br</strong> />

riquezas naturais e investimentos matérias ali empregados. Para Joaquim Ferreira<<strong>br</strong> />

Moutinho, a fazenda do barão era notável. Registrou, então: “(...) O melhor<<strong>br</strong> />

estabelecimento d’aquellas paragens era o riquíssimo engenho- as Piraputangas -<<strong>br</strong> />

pertencente ao Sr. <strong>Barão</strong> <strong>de</strong> Villa <strong>Maria</strong>. D’ahi sahia gran<strong>de</strong> parte do sustento para<<strong>br</strong> />

Corumbá; accrescendo que a maior parte do gado que ali se consumia era tirado das<<strong>br</strong> />

fazendas do mesmo barão, proximas do Engenho, on<strong>de</strong> residia em riquíssima casa, perto<<strong>br</strong> />

da fá<strong>br</strong>ica movida por água, entre ricos pomares, e bellas e abundantes plantações,<<strong>br</strong> />

disposto tudo com muito gosto, regularida<strong>de</strong>, e até com luxo.” 33<<strong>br</strong> />

João Severiano da Fonseca, mem<strong>br</strong>o da comissão encarregada <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar os<<strong>br</strong> />

limites com a Bolívia e autor da o<strong>br</strong>a Viagem ao redor do Brasil 1875-1878, fez um<<strong>br</strong> />

registro apreciável so<strong>br</strong>e Piraputangas: “(…) já foi uma das primeiras da província em<<strong>br</strong> />

riquezas <strong>de</strong> gados e prosperida<strong>de</strong> na safra do açúcar, farinha, milho, arroz e feijão, com<<strong>br</strong> />

que abastecia a cida<strong>de</strong>. Os paraguaios <strong>de</strong>vastaram-na e arrebataram seus gados. Seu<<strong>br</strong> />

proprietário Joaquim José Gomes da Silva, barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1870 que a ia<<strong>br</strong> />

reerguendo e já começava à colher bons frutos quando a morte lhe assaltou no mar,<<strong>br</strong> />

recolhendo-se da côrte, aon<strong>de</strong> o tinham levado interesses da maior monta, quais os da<<strong>br</strong> />

mineração do ferro...” 34<<strong>br</strong> />

Fazendas Palmeiras e São <strong>Do</strong>mingos<<strong>br</strong> />

31<<strong>br</strong> />

Conforme Augusto César Proença e Luis-Philipe Pereira Leite após a Guerra do Paraguai a fazenda do<<strong>br</strong> />

barão ficou totalmente arrasada, o gado praticamente extinto. Afirmam a perda total pelo barão, dos seus<<strong>br</strong> />

bens.<<strong>br</strong> />

32<<strong>br</strong> />

Inventário dos bens do barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>/1876. Memorial do Arquivo do Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Campo Gran<strong>de</strong>/MS. p. 77-80.<<strong>br</strong> />

33<<strong>br</strong> />

MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Noticia so<strong>br</strong>e a Província <strong>de</strong> Matto Grosso seguida D’um roterio da<<strong>br</strong> />

Viagem <strong>de</strong> sua Capital a São Paulo. São Paulo: Typographia <strong>de</strong> Henrique Schroe<strong>de</strong>r, 1869. p. 246.<<strong>br</strong> />

34<<strong>br</strong> />

FONSECA, João Severiano da. Viagem ao redor do Brasil 1875-1878.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Typographia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Pinheiro & Cia, 1880. p.303.


Além da lavoura cultivada na Piraputangas o barão mantinha plantações em São<<strong>br</strong> />

<strong>Do</strong>mingos, terras também suas.<<strong>br</strong> />

O viajante João Severiano, além <strong>de</strong> ter registrado so<strong>br</strong>e as poucas fazendas<<strong>br</strong> />

promissoras do sul da Província <strong>de</strong> Mato Grosso, que ainda há época (1875-76), era<<strong>br</strong> />

ocupada para plantações <strong>de</strong> gêneros alimentares e criação do gado, <strong>de</strong>stacou que as<<strong>br</strong> />

fazendas mato-grossenses sucumbiam porque permaneciam exclusivamente ocupadas<<strong>br</strong> />

pela criação do gado. Quando faltavam pastagens e água os animais fugiam em busca da<<strong>br</strong> />

alimentação morrendo nos pantanais ou permanecendo distantes das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

origem. Sem gado e sem couro para exportar os fazen<strong>de</strong>iros presenciavam o<<strong>br</strong> />

esgotamento dos seus recursos.<<strong>br</strong> />

Diferente da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m estabelecida na gran<strong>de</strong> maioria das fazendas nacionais e<<strong>br</strong> />

particulares, nas terras da família Gomes da Silva predominava o cuidado dos<<strong>br</strong> />

proprietários e a prosperida<strong>de</strong>. A fazenda Palmeira, por exemplo, administrada pelo<<strong>br</strong> />

filho do barão, Joaquim José Gomes da Silva, conhecido por baronete 35, também<<strong>br</strong> />

mereceu <strong>de</strong>staque na literatura dos viajantes. Palmeiras e mais cinco cativos 36 foram<<strong>br</strong> />

doados por escritura pelo casal Gomes da Silva ao filho no ano <strong>de</strong> 1873, três anos antes<<strong>br</strong> />

do falecimento do barão.<<strong>br</strong> />

A fazenda Palmeira tinha suas terras revolvidas para plantação <strong>de</strong> hortas,<<strong>br</strong> />

pomares, plantas ornamentais e jardins e os pastos cuidados para criação do gado. Foi<<strong>br</strong> />

elevada na mesma moradia confortável e bela, em uma época, cuja maioria das extensas<<strong>br</strong> />

proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gado mantinha construções simples, sem luxo nem conforto, vistas<<strong>br</strong> />

pelos viajantes 37 mais como pardieiros do que moradias propícias aos proprietários das<<strong>br</strong> />

terras.<<strong>br</strong> />

Assim <strong>de</strong>screveu Severiano so<strong>br</strong>e a fazenda Palmeiras: “Há apenas dois anos via-<<strong>br</strong> />

se ainda no <strong>de</strong>lta do Taquari uma fazenda, que pelas promessas que fazia prometia vir a<<strong>br</strong> />

35<<strong>br</strong> />

Na Inglaterra, baronete é um título <strong>de</strong> no<strong>br</strong>eza superior ao <strong>de</strong> cavaleiro e inferior ao <strong>de</strong> barão.<<strong>br</strong> />

36<<strong>br</strong> />

Jornal A Situação.Anúncios.Ano VI, N° 314, 17 a<strong>br</strong>. <strong>de</strong> 1873, p. 04. Biblioteca Pública Estadual Dr.<<strong>br</strong> />

Isaías Paim. Campo Gran<strong>de</strong>/MS.<<strong>br</strong> />

37<<strong>br</strong> />

Ver entre outros: CASTELNOU, Francis. Expedição às regiões centrais da América do Sul. São Paulo:<<strong>br</strong> />

Nacional, 1987. FONSECA, João Severiano da. Viagem ao redor do Brasil 1875-1878. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<<strong>br</strong> />

Typographia <strong>de</strong> Pinheiro & Cia, 1880; FLORENCE, Hercules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

1825 a 1829. São Paulo: Cultrix, 1977; MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Noticia so<strong>br</strong>e a Província <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Matto Grosso seguida D’um roterio da Viagem <strong>de</strong> sua Capital a São Paulo. São Paulo: Typographia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Henrique Schroe<strong>de</strong>r, 1869; SMITH, Herbert Huntington. <strong>Do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro a Cuyabá. São Paulo:<<strong>br</strong> />

Melhoramentos, (s/d).


ser o mo<strong>de</strong>lo das da província. Seu dono, jovem, ativo e empreen<strong>de</strong>dor, inteligente e<<strong>br</strong> />

dócil aos sãos conselhos da experiência, empregava o melhor dos seus esforços em<<strong>br</strong> />

beneficiá-la. Vastas sementeiras <strong>de</strong> alfafa estavam feitas do mesmo modo que campos<<strong>br</strong> />

imensos plantados com gramíneas <strong>de</strong> pasto. Seus gados não tinham precisão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

percorrer léguas para abeberarem: havia canais e açu<strong>de</strong>s, e, mais que não eram<<strong>br</strong> />

requeridos pela necessida<strong>de</strong> e só por um excesso <strong>de</strong> previdência. O jovem e inteligente<<strong>br</strong> />

fazen<strong>de</strong>iro já enchia-se <strong>de</strong> legítimo orgulho, observando como o seu gado prosperava <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

modo extraordinário relativamente aos outros não cuidados. Aten<strong>de</strong>ndo à fazenda,<<strong>br</strong> />

atendia à si e aos seus. Sua vivenda não seria um rancho, um galpão, um miserável<<strong>br</strong> />

pardieiro como os <strong>de</strong> tantos outros muito superiores em meios da fortuna: ia sendo<<strong>br</strong> />

construída conforme suas posses atuais, mas com gosto e confortabilida<strong>de</strong>, e seguindo o<<strong>br</strong> />

adiantamento da época. Hortas, pomares e jardins, <strong>de</strong>lineavam-se em já próspero<<strong>br</strong> />

crescimento: para eles buscava sementes <strong>de</strong> tudo o que era <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> e ornamento,<<strong>br</strong> />

consciente <strong>de</strong> que aumentando-lhes a beleza mais encarecia o valor da vivenda. Em<<strong>br</strong> />

pouco tempo seria ela o orgulho do seu laborioso dono e o espelho das da província.”38<<strong>br</strong> />

A casa rural do barão<<strong>br</strong> />

Elevada entre os pomares e as plantações a moradia ostentava luxuosida<strong>de</strong>, em<<strong>br</strong> />

uma época cuja maioria das construções rurais <strong>de</strong> Mato Grosso era simples construções<<strong>br</strong> />

elevadas com pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> barros e cobertas com folhas <strong>de</strong> coqueiros existentes na região,<<strong>br</strong> />

semelhantes pardieiros salpicavam os espaços rurais e serviam <strong>de</strong> habitação àqueles que<<strong>br</strong> />

se aventuravam, principalmente à procura <strong>de</strong> metais preciosos. Mas, diferente das<<strong>br</strong> />

singelas construções mato-grossenses, a edificação rural do barão era coberta com<<strong>br</strong> />

telhas, possuia três salas, corredor, alcovas, varanda nos fundos e cozinha. 39<<strong>br</strong> />

Nas salas frontais da moradia haviam dispostas pequenas mesas fa<strong>br</strong>icadas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cedro dispostas ao centro <strong>de</strong>stas. No formato quadrado e redondo, essas mobílias<<strong>br</strong> />

possivelmente eram usadas para comportarem vasos, sinetas ou castiçais. Também,<<strong>br</strong> />

mesas quadradas, com gavetas, - escrivaninhas - eram parte dos móveis dispostos nessas<<strong>br</strong> />

peças. Nos quartos, baús, canastras, camas <strong>de</strong> jacarandá forradas com lona e couro e<<strong>br</strong> />

toucador, eram os objetos usados pela família Gomes da Silva. O interior da casa possuia<<strong>br</strong> />

38<<strong>br</strong> />

FONSECA, João Severiano da. Viagem ao redor do Brasil 1875-1878.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Typographia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Pinheiro & Cia, 1880. p. 163-64.<<strong>br</strong> />

39<<strong>br</strong> />

MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Noticia so<strong>br</strong>e a Província <strong>de</strong> Matto Grosso seguida D’um roterio da<<strong>br</strong> />

Viagem <strong>de</strong> sua Capital a São Paulo. São Paulo: Typographia <strong>de</strong> Henrique Schroe<strong>de</strong>r, 1869. p. 245-46.


ainda armário gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> guardar livros, ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> balanço, ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> palhinha, cantoneiras<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> jacarandá, castiçais <strong>de</strong> prata e relógio <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>. 40<<strong>br</strong> />

A casa funcionava porque os vários cativos mantidos na fazenda realizavam as<<strong>br</strong> />

diversas ativida<strong>de</strong>s cotidianas. Rufina, 39, única cozinheira, preparava as refeições e os<<strong>br</strong> />

cativos Randolpho, Nicencia e Ignês, cuidavam dos <strong>de</strong>mais afazeres domésticos. Na<<strong>br</strong> />

tabela 1 é possível observar os dados so<strong>br</strong>e os cativos executores das ativida<strong>de</strong>s internas<<strong>br</strong> />

da casa do barão, bem como os <strong>de</strong>mais trabalhadores escravizados especializados nas<<strong>br</strong> />

tarefas rurais.<<strong>br</strong> />

Tabela 1. Cativos rurais <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> do barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>.<<strong>br</strong> />

Nome Ida<strong>de</strong> Cor Estado Aptidão ao Trabalho Profissão<<strong>br</strong> />

Cristolpha 15 Parda Solteira Bastante <strong>Do</strong>méstica<<strong>br</strong> />

Eustachia 22 Parda Solteira Bastante Lavradora MULHERES<<strong>br</strong> />

<strong>Maria</strong>na 21 Parda Solteira Bastante Roceira<<strong>br</strong> />

Rufina 39 Preta Solteira Bastante Cozinheira<<strong>br</strong> />

Theodora 40 Preta Viúva Bastante Roceira<<strong>br</strong> />

Antonio Congoió 54 Preta Solteiro Bastante Lavrador<<strong>br</strong> />

Antonio Nunes 29 Preta Solteiro Bastante Sapateiro<<strong>br</strong> />

Antonio 18 Parda Solteiro Bastante Roceiro<<strong>br</strong> />

Anastacio 16 Preta Solteiro Bastante Lavrador<<strong>br</strong> />

Balthazar 22 Parda Solteiro Bastante Lavrador<<strong>br</strong> />

Fillete 23 Parda Solteiro Bastante Lavrador<<strong>br</strong> />

Ga<strong>br</strong>iel 33 Preta Solteiro Bastante Lavrador<<strong>br</strong> />

Gonçalo 52 Parda Solteiro Bastante Lavrador HOMENS<<strong>br</strong> />

João do Ouro 22 Preta Solteiro Bastante Lavrador<<strong>br</strong> />

João do Engenho 18 Parda Solteiro Bastante Copeiro<<strong>br</strong> />

Serviço<<strong>br</strong> />

Manoel 16 Parda Solteiro Bastante<<strong>br</strong> />

<strong>Do</strong>méstico<<strong>br</strong> />

Raimundo 32 Parda Solteiro Bastante Lavrador<<strong>br</strong> />

Tristão 34 Preta Solteiro Bastante Lavrador<<strong>br</strong> />

Serviço<<strong>br</strong> />

Vicente 12 Parda Solteiro Bastante<<strong>br</strong> />

<strong>Do</strong>méstico<<strong>br</strong> />

Fonte: Elaborada com base no Livro <strong>de</strong> Classificação dos escravos para serem libertos pelo Fundo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Emancipação – 1873 1874 e 1877. Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá / Corumbá (MS). Ver<<strong>br</strong> />

também: BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Fronteira Negra. <strong>Do</strong>minação, violência e resistência escrava em<<strong>br</strong> />

Mato Grosso – 1718-1888. ). Passo Fundo: EdiUPF, 2002, p.145 e 150. (Coleção Malungo) CANCIAN,<<strong>br</strong> />

Elaine. Escravidão, arquitetura urbana e a invenção da beleza. O caso <strong>de</strong> Corumbá (MS). Passo Fundo:<<strong>br</strong> />

EdiUPF, 2006, P. 252-261 . (Coleção Malungo).<<strong>br</strong> />

A moradia do barão e as plantações <strong>de</strong> cana, milho, mandioca e frutas e <strong>de</strong>mais<<strong>br</strong> />

alimentos não eram os únicos beneficiamentos implantados na fazenda: cercados <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

animais, currais, enfermaria, galpões <strong>de</strong> palha e quartos foram construídos. O engenho<<strong>br</strong> />

40 CANCIAN, Elaine. Arquitetura e escravidão em Corumbá: gênese e <strong>de</strong>senvolvimento do núcleo<<strong>br</strong> />

justafluvial. In: Helen Ortiz (org.). Escravidão em proprieda<strong>de</strong>s pastoris. Passo Fundo: EdiUPF, 2008.<<strong>br</strong> />

[Coletânea so<strong>br</strong>e escravidão ( No prelo)].


<strong>de</strong> moer cana e fa<strong>br</strong>icar o açúcar e a aguar<strong>de</strong>nte e os galpões <strong>de</strong> funcionamento das<<strong>br</strong> />

oficinas <strong>de</strong> carpintaria, ferragens e monjolo movido por água completavam a paisagem<<strong>br</strong> />

da Piraputangas.<<strong>br</strong> />

Os viajantes acolhidos na fazenda repousavam em quartos separados da casa do<<strong>br</strong> />

barão. O fato <strong>de</strong>sses compartimentos serem cobertos por telhas <strong>de</strong>nota que eram mais<<strong>br</strong> />

salu<strong>br</strong>es e consi<strong>de</strong>rados mais relevantes em relação às acomodações dos trabalhadores<<strong>br</strong> />

escravizados, cobertas com material pouco valorizado.<<strong>br</strong> />

Peça <strong>de</strong>sprezada pelos escravizadores durante o cativeiro a cozinha era o espaço<<strong>br</strong> />

exclusivo das cativas cozinheiras, da fumaça espalhada pelo fogão à lenha e do árduo<<strong>br</strong> />

trabalho, 41 . A cozinha era o último compartimento da moradia do barão e as ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

ali executadas podiam não ser apreciadas pelos proprietários, so<strong>br</strong>etudo pelas esposas<<strong>br</strong> />

dos senhores, mas as louças saídas da cozinha usadas para servir seus donos <strong>de</strong>veriam<<strong>br</strong> />

ser as mais finas. Os objetos <strong>de</strong>veriam ser a<strong>de</strong>quados ao maior proprietário <strong>de</strong> terras e<<strong>br</strong> />

único barão da região. Infelizmente não contamos com relatos, documentos ou outras<<strong>br</strong> />

produções reveladoras dos objetos utilizados na habitação do barão. Mesmo assim é<<strong>br</strong> />

possível tecer algumas consi<strong>de</strong>rações atentando para o arrolamento dos bens da família<<strong>br</strong> />

registrado no Inventário <strong>de</strong> Joaquim José.<<strong>br</strong> />

Na cozinha da baronesa havia louças, uma pequena salva <strong>de</strong> prata pesando três<<strong>br</strong> />

quilos e quarenta gramas e outra maior <strong>de</strong> quinze quilos. Tais objetos eram guardados<<strong>br</strong> />

em um armário <strong>de</strong>scrito no Inventário como armário gran<strong>de</strong> com tampo <strong>de</strong> guardar<<strong>br</strong> />

louça 42 . Apesar <strong>de</strong>stes poucos utensílios utilizados na casa eram provavelmente <strong>de</strong> boa<<strong>br</strong> />

qualida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

A família Gomes da Silva incrustada no pantanal, terras longínquas dos centros<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, aon<strong>de</strong> as novida<strong>de</strong>s chegavam mais rapidamente, talvez vivesse mais adaptada<<strong>br</strong> />

aos objetos fa<strong>br</strong>icados pelos nativos, assim como os exploradores nos primeiros tempos<<strong>br</strong> />

da colonização. Os utensílios domésticos, so<strong>br</strong>etudo os talheres eram raros no período<<strong>br</strong> />

colonial e, nas terras mato-grossenses, ainda em pleno século 19, eram pouco usados.<<strong>br</strong> />

Leila Mezan Algranti 43 ao abordar a escassez <strong>de</strong> mobiliário e utensílios da casa colonial<<strong>br</strong> />

41<<strong>br</strong> />

CANCIAN, Elaine. Escravidão, arquitetura urbana e a invenção da beleza. O caso <strong>de</strong> Corumbá (MS).<<strong>br</strong> />

Passo Fundo: UPF, 2006, p. 96-98.<<strong>br</strong> />

42<<strong>br</strong> />

Inventário dos bens do <strong>Barão</strong> <strong>de</strong> Villa <strong>Maria</strong>. 3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1876. p. 77-80. Arquivo do Tribunal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Justiça <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> (MS).<<strong>br</strong> />

43<<strong>br</strong> />

ALGRANTI, Leila Mezan. Famílias e vida doméstica. In:SOUZA, Laura <strong>de</strong> Mello e. (Org.). História<<strong>br</strong> />

da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia da<<strong>br</strong> />

Letras, 2004.


lem<strong>br</strong>a-nos <strong>de</strong> que a posse <strong>de</strong> objetos não sugeria riqueza. Eram a escravaria, as jóias, a<<strong>br</strong> />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos servidos à mesa, a qualida<strong>de</strong> das roupas usadas e os cargos<<strong>br</strong> />

ocupados as principais evidências <strong>de</strong> elevada posição social.<<strong>br</strong> />

Após a chegada da família real em 1808 o interior das casas recebeu requinte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

novos objetos. Os utensílios foram inseridos nas casas dos proprietários mais abastados,<<strong>br</strong> />

mas a preocupação por maior conforto esteve presente na Colônia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a meta<strong>de</strong> do<<strong>br</strong> />

século 18 restritamente, nos maiores núcleos urbanos, como nos mostra Leila Mezan.<<strong>br</strong> />

O engenho das Piraputangas<<strong>br</strong> />

O engenho <strong>de</strong> moer cana existente na Piraputangas era <strong>de</strong> ferro provido por dois<<strong>br</strong> />

cilindros movidos à água. A máquina era protegida por uma construção gran<strong>de</strong>, coberta<<strong>br</strong> />

com telhas. A cana passada na moenda pelos cativos era armazenada em um <strong>de</strong>pósito<<strong>br</strong> />

contíguo ao engenho, coberto <strong>de</strong> telhas e que comportava os sete gran<strong>de</strong>s recipientes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

azedar garapa e dois alambiques, um <strong>de</strong> serpentina e outro constituído pelo antigo<<strong>br</strong> />

sistema, ambos <strong>de</strong> co<strong>br</strong>e e pesando um mil e setenta kilos.<<strong>br</strong> />

Em uma edificação também, coberta <strong>de</strong> telhas, era armazenada a aguar<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ntro das quatro pipas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Tais recipientes guardavam entre duzentas a<<strong>br</strong> />

seiscentas canadas 44 <strong>de</strong> cachaça. Além da fa<strong>br</strong>icação <strong>de</strong> bebida, era preparada para o<<strong>br</strong> />

consumo da fazenda e das regiões vizinhas a farinha <strong>de</strong> mandioca. No galpão coberto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

palhas, em dois fornos <strong>de</strong> co<strong>br</strong>e, pesando setenta quilos cada um, os trabalhadores<<strong>br</strong> />

escravizados do barão, preparavam e torravam a farinha.<<strong>br</strong> />

Além das edificações que serviam ao preparo da aguar<strong>de</strong>nte, do açúcar e da<<strong>br</strong> />

farinha, existiam aquelas <strong>de</strong>stinadas às oficinas <strong>de</strong> carpintaria e ferraria. O galpão com<<strong>br</strong> />

telhado a<strong>br</strong>igava as ferramentas completas e necessárias ao trabalho especializado dos<<strong>br</strong> />

cativos carpinteiros. A oficina <strong>de</strong> ferreiro, igualmente <strong>de</strong> telhas, tinha instrumentos<<strong>br</strong> />

como bigorna, torno, fole entre outras ferramentas usadas no trabalho com metal.<<strong>br</strong> />

Os diferentes gêneros alimentares colhidos e o açúcar preparado, através do<<strong>br</strong> />

trabalho <strong>br</strong>açal escravizado, eram acondicionados em uma casa coberta <strong>de</strong> telhas. O<<strong>br</strong> />

açúcar era armazenado em caixa gran<strong>de</strong> com tampa.<<strong>br</strong> />

As senzalas das Piraputangas<<strong>br</strong> />

44 Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida antiga para líquidos, equivalente a 2,662 litros.


Havia ainda na extensa proprieda<strong>de</strong> rural, edificações <strong>de</strong>stinadas ao <strong>de</strong>scanso<<strong>br</strong> />

dos escravizados. Conhecidas como senzalas, essas estruturas cobertas <strong>de</strong> palha e sapé<<strong>br</strong> />

serviam também ao <strong>de</strong>scanso dos camaradas do barão.<<strong>br</strong> />

Observa-se que somente a engenhoca <strong>de</strong> pilar milho e café – ativida<strong>de</strong> simples,<<strong>br</strong> />

portanto, e as senzalas eram cobertas por palha, um material encontrado facilmente e<<strong>br</strong> />

livre <strong>de</strong> gastos; espaços possivelmente <strong>de</strong>sprezados pelo proprietário, por a<strong>br</strong>igarem<<strong>br</strong> />

“coisas” sem muita importância. Possuir cativos era substancial na época para fazer as<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s rurais, habitações e engenho funcionarem, porém a preservação da saú<strong>de</strong> dos<<strong>br</strong> />

trabalhadores não era consi<strong>de</strong>rada relevante.<<strong>br</strong> />

Apreciados como “peças” ou mercadorias a serem usadas conforme as<<strong>br</strong> />

necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos dos proprietários, os trabalhadores escravizados eram mantidos<<strong>br</strong> />

próximos às edificações usadas para o fa<strong>br</strong>ico do açúcar, da farinha, da aguar<strong>de</strong>nte e dos<<strong>br</strong> />

galpões usados às <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s rurais. A pouca distância <strong>de</strong> currais e cercados os<<strong>br</strong> />

vários cativos do barão livravam-se da fadiga diária <strong>de</strong>baixo do sapé.<<strong>br</strong> />

A vida na cida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Até a Guerra do Paraguai, a família Gomes da Silva viveu na Piraputangas mais<<strong>br</strong> />

próxima à povoação <strong>de</strong> Albuquerque, região <strong>de</strong> terras férteis e acessíveis durante o<<strong>br</strong> />

período das cheias no Pantanal. A pequena povoação em gran<strong>de</strong> parte era abastecida<<strong>br</strong> />

com os alimentos produzidos na fazenda do barão, este que foi consi<strong>de</strong>rado “um<<strong>br</strong> />

cidadão <strong>de</strong> Albuquerque, segundo o escritor Abílio Leite <strong>de</strong> Barros 45 .<<strong>br</strong> />

A <strong>de</strong>sorganização da economia pastoril realizada pelas tropas paraguaias na<<strong>br</strong> />

região o<strong>br</strong>igou Joaquim José a estabelecer-se em Corumbá. A literatura disponível e as<<strong>br</strong> />

fontes primárias pinçadas nos arquivos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Corumbá, não permitiram saber<<strong>br</strong> />

como era a casa urbana do barão. Mas, conforme Abílio <strong>de</strong> Barros, após a morte do<<strong>br</strong> />

barão a baroneza mandou edificar uma casa na principal rua da cida<strong>de</strong>, a Delamare.<<strong>br</strong> />

No Inventário do barão aberto em 28 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1876 foi registrada uma casa<<strong>br</strong> />

edificada <strong>de</strong> matéria-prima – possivelmente <strong>de</strong> pedra, coberta <strong>de</strong> telha – na Rua<<strong>br</strong> />

Delamare, lote urbano 86, bem como uma moradia na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuiabá na Rua <strong>Barão</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Melgaço. Comumente, a posse da referida edificação po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nciada servindo-<<strong>br</strong> />

se da relação dos proprietários <strong>de</strong> casas, seguido do valor predial aplicado na época às<<strong>br</strong> />

45 BARROS, Abílio Leite <strong>de</strong>. Gente Pantaneira: (Crônicas da sua História). Rio <strong>de</strong> janeiro: Lacerda<<strong>br</strong> />

editores, 1998.p. 71.


proprieda<strong>de</strong>s, publicado no periódico A Opinião. Consta que na Rua Delamare uma<<strong>br</strong> />

residência da “herança do barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>” 46 teve seu imposto avaliado em<<strong>br</strong> />

54$000.<<strong>br</strong> />

Os dados restritos do documento citado não viabilizam um conhecimento amplo<<strong>br</strong> />

da casa urbana da família Gomes da Silva, nem tão pouco a data da edificação.<<strong>br</strong> />

Possivelmente, a moradia era apreciável à época, pois se tratava da residência <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />

família nobiliárquica, com <strong>br</strong>asão 47 próprio e <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> muitos trabalhadores<<strong>br</strong> />

escravizados.<<strong>br</strong> />

Na Tabela 2 elaborada com informações retiradas da Junta Classificadora <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Corumbá, observa-se que muitos cativos trabalhavam na moradia urbana dos Gomes da<<strong>br</strong> />

Silva. As cativas Egina, Francelina e <strong>Maria</strong> das <strong>Do</strong>res i<strong>de</strong>ntificadas com a profissão<<strong>br</strong> />

serviço <strong>de</strong> roça, provavelmente faziam a limpeza do quintal resi<strong>de</strong>ncial e plantavam<<strong>br</strong> />

alguns alimentos ou frutas consumidos pela família. Era costume na época, manter<<strong>br</strong> />

plantações nos extensos quintais objetivando suprir as necessida<strong>de</strong>s alimentares, pois as<<strong>br</strong> />

comodida<strong>de</strong>s dos tempos atuais inexistiam. Em Corumbá, no século 19, nas moradias<<strong>br</strong> />

elevadas com as pedras 48 retiradas das barrancas que margeiam o rio Paraguai, em lotes<<strong>br</strong> />

estreitos, porém compridos, as famílias mantinham os quintais com criações <strong>de</strong> animais<<strong>br</strong> />

e plantações. Tal condição explica a posse <strong>de</strong> cativos especializados no serviço <strong>de</strong> roça,<<strong>br</strong> />

mas conservados no espaço urbano.<<strong>br</strong> />

46 Edital-Relação dos proprietários <strong>de</strong> casas, nas respectivas ruas, com valor do décimo <strong>de</strong> prédios<<strong>br</strong> />

urbanos. A Opinião. Ano I, N° 38, 09 jul. <strong>de</strong> 1878, p. 02. Biblioteca Pública Estadual Dr. Isaías Paim.<<strong>br</strong> />

Campo Gran<strong>de</strong>/MS.<<strong>br</strong> />

47 O <strong>br</strong>asão do barão exibia a figura <strong>de</strong> um nativo cortando cana-<strong>de</strong>-açúcar com um instrumento simples,<<strong>br</strong> />

uma espécie <strong>de</strong> foice fa<strong>br</strong>icada com cabo curto.<<strong>br</strong> />

48 CANCIAN, Elaine. Escravidão, arquitetura urbana e a invenção da beleza. O caso <strong>de</strong> Corumbá (MS).<<strong>br</strong> />

Passo Fundo: UPF, 2006.


Tabela 2. Cativos urbanos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> do barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>.<<strong>br</strong> />

Profissão Nome Ida<strong>de</strong> Cor<<strong>br</strong> />

Amélia 26 Parda<<strong>br</strong> />

Clara 50 Preta<<strong>br</strong> />

Emilia 50 Preta<<strong>br</strong> />

<strong>Maria</strong> Magdalena 30 Preta<<strong>br</strong> />

Cozinheira <strong>Maria</strong> Magda 40 Preta<<strong>br</strong> />

<strong>Maria</strong> Pequena 45 Preta<<strong>br</strong> />

Thereza 28 Parda<<strong>br</strong> />

Thereza 30 Parda<<strong>br</strong> />

Theodora 35 Preta<<strong>br</strong> />

Eva 19 Parda<<strong>br</strong> />

Francisca 18 Parda<<strong>br</strong> />

Serviços <strong>Do</strong>mésticos <strong>Maria</strong>na 17 Parda<<strong>br</strong> />

<strong>Maria</strong> Victoria 44 Preta<<strong>br</strong> />

Luciana 38 Preta<<strong>br</strong> />

Egina 50 Parda<<strong>br</strong> />

Serviços <strong>de</strong> Roça Francelina 26 Parda<<strong>br</strong> />

<strong>Maria</strong> das <strong>Do</strong>res 30 Preta<<strong>br</strong> />

Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cativas 17<<strong>br</strong> />

Fonte: Elaborada com base no Livro <strong>de</strong> Classificação dos escravos para serem libertos pelo Fundo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Emancipação – 1873 1874 e 1877. Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá / Corumbá (MS). Ver<<strong>br</strong> />

também: BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Fronteira Negra. <strong>Do</strong>minação, violência e resistência escrava<<strong>br</strong> />

em Mato Grosso – 1718-1888. ). Passo Fundo: EdiUPF, 2002, p.145 e 150. (Coleção Malungo)<<strong>br</strong> />

CANCIAN, Elaine. Escravidão, arquitetura urbana e a invenção da beleza. O caso <strong>de</strong> Corumbá<<strong>br</strong> />

(MS). Passo Fundo: EdiUPF, 2006, P. 252-261 . (Coleção Malungo).<<strong>br</strong> />

A permanência <strong>de</strong> Joaquim José em Corumbá após Guerra do Paraguai revelou<<strong>br</strong> />

seus interesses particulares. Destituído das riquezas propiciadas por suas fazendas o<<strong>br</strong> />

status pessoal foi mantido com seu envolvimento na política. Filiado ao partido<<strong>br</strong> />

conservador, o barão ocupou cargos importantes, representou o po<strong>de</strong>r local, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

vencido na luta por uma in<strong>de</strong>nização exigida em função dos prejuízos causados pela<<strong>br</strong> />

Guerra.<<strong>br</strong> />

O envolvimento do barão na política<<strong>br</strong> />

Joaquim José endividado, já dispondo <strong>de</strong> poucas cabeças <strong>de</strong> gado e vítima <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

procurador fraudulento que se apo<strong>de</strong>rou in<strong>de</strong>vidamente <strong>de</strong> algumas proprieda<strong>de</strong>s suas, o<<strong>br</strong> />

barão procurou estabelecer-se em cargo <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque. Presente no processo eleitoral<<strong>br</strong> />

ocorrido logo após a instalação da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá, o barão foi eleito<<strong>br</strong> />

vereador e exerceu o cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte.<<strong>br</strong> />

Corumbá, em 1872, sofria as conseqüências da Guerra do Paraguai. Mediante a<<strong>br</strong> />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reorganização do po<strong>de</strong>r público representado por vereadores, juizes <strong>de</strong>


Paz, <strong>de</strong>legados, etc., foi colocado em andamento a escolha das autorida<strong>de</strong>s locais. Logo,<<strong>br</strong> />

a presidência da Província <strong>de</strong> Mato Grosso executou a nomeação das primeiras<<strong>br</strong> />

autorida<strong>de</strong>s representativas da assembléia local. A instalação da Câmara ocorreu no dia<<strong>br</strong> />

17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1872, na residência <strong>de</strong> José Joaquim <strong>de</strong> Souza Franco, nomeado<<strong>br</strong> />

presi<strong>de</strong>nte, através do ofício n° 32 <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1872, <strong>de</strong>spachado da presidência<<strong>br</strong> />

da Província em Cuiabá. Na posição <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte nomeado Souza Franco, instalou a<<strong>br</strong> />

Câmara Municipal da <strong>Vila</strong> <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá e empossou no mesmo ato<<strong>br</strong> />

Antônio Joaquim da Rocha, Dionízio Pires da Motta, João Pimenta <strong>de</strong> Moraes, José<<strong>br</strong> />

Gomes Monteiro e Miguel Henriques <strong>de</strong> Carvalho ao cargo <strong>de</strong> vereador. 49<<strong>br</strong> />

No mesmo ano foi formada a mesa paroquial para proce<strong>de</strong>r à eleição. Todas as<<strong>br</strong> />

etapas do pleito foram <strong>de</strong>terminadas pelo barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>. Na Igreja Matriz <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá Joaquim José instalou a Assembléia Paroquial, nomeou os<<strong>br</strong> />

mesários, secretários e suplentes e efetivou todas as orientações necessárias ao processo<<strong>br</strong> />

eleitoral ocorrido em três dias consecutivos.<<strong>br</strong> />

E sete <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1872 quatro mesários foram escolhidos através do voto. Em<<strong>br</strong> />

seguida o barão instalou a Assembléia Paroquial e, junto aos mem<strong>br</strong>os da mesa e<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>mais participantes, aprovou a Acta <strong>de</strong> formação da meza Parochial <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Corumbá. Nenhum problema foi registrado em ata no primeiro dia das ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

dirigidas por Joaquim José, mas o <strong>de</strong>curso dos trabalhos revelaria a oposição <strong>de</strong> alguns<<strong>br</strong> />

cidadãos. O registro 50 <strong>de</strong> todo o processo <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong>svela uma eleição marcada pela<<strong>br</strong> />

má vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns cidadãos na participação dos trabalhos quando escolhidos para<<strong>br</strong> />

realização <strong>de</strong> tarefas específicas, bem como a oposição <strong>de</strong> certos grupos empenhados na<<strong>br</strong> />

não efetivação da eleição.<<strong>br</strong> />

No dia seguinte à formação da mesa paroquial, durante a terceira e última<<strong>br</strong> />

chamada dos votantes a eleição foi interrompida pelo cidadão Antônio da Silva, <strong>de</strong>scrito<<strong>br</strong> />

em ata como reconhecidamente, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iro. Em<strong>br</strong>iagado, Antônio ultrajou os presentes,<<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>igando o barão a or<strong>de</strong>nar sua saída do local <strong>de</strong> votação, bem como sua autuação por<<strong>br</strong> />

insistir nas provocações proferidas às pessoas. Certamente, com a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

afastamento imediato do cidadão em<strong>br</strong>iagado o barão objetivava restabelecer a or<strong>de</strong>m e<<strong>br</strong> />

49 Ata da instalação da Câmara Municipal da <strong>Vila</strong> <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá. <strong>Do</strong>cumento com 5 folhas.<<strong>br</strong> />

Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá. Corumbá-MS.<<strong>br</strong> />

50 Ata <strong>de</strong> formação da mesa Paroquial <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá, Município da Capital da Província <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Mato-Grosso. <strong>Do</strong>cumento com 8 folhas. Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá. Corumbá-MS.


dar prosseguimento à execução dos trabalhos, mas a inesperada ação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

opositores <strong>de</strong>u continuida<strong>de</strong> à interrupção da votação, iniciada pelo homem alcoolizado.<<strong>br</strong> />

O major João <strong>de</strong> Oliveira Mello, primeiro tenente da armada, o sub<strong>de</strong>legado<<strong>br</strong> />

Antônio Joaquim Moreira Marques, o cidadão José Joaquim <strong>de</strong> Souza Franco, seguidos<<strong>br</strong> />

por marinheiros à paisana e <strong>de</strong>mais pessoas, prosseguiram com os insultos dirigidos ao<<strong>br</strong> />

barão e mesários “promovendo <strong>de</strong>starte gran<strong>de</strong> tumulto e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m ao processo<<strong>br</strong> />

eleitoral.” 51 De acordo com o relatório produzido na época, a reação do barão foi<<strong>br</strong> />

imediata ao ter sua autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>srespeitada, acionando a guarda para colocar-se à porta<<strong>br</strong> />

da Igreja. Nesse Relatório ficou registrada em ata a seguinte informação: “(…) foi<<strong>br</strong> />

suficiente a presença <strong>de</strong>sta pequena força para que os <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros, vendo frustrados os<<strong>br</strong> />

seus planos, prorrompessem em gran<strong>de</strong> alarido, dirigindo injúrias e insultos aos<<strong>br</strong> />

mesários e cidadãos pacíficos, (…).” 52 Grupos exaltados, li<strong>de</strong>rado por Antônio Joaquim<<strong>br</strong> />

Moreira Marques, subiram à a mesa ocupada pelos mesários e por João <strong>de</strong> Oliveira<<strong>br</strong> />

Mello e proferiram ofensas ao barão. Logo <strong>de</strong>pois os manifestantes saíram da igreja,<<strong>br</strong> />

acompanhados pelos <strong>de</strong>mais opositores. Restabelecida a or<strong>de</strong>m, o barão or<strong>de</strong>nou a<<strong>br</strong> />

continuida<strong>de</strong> da chamada dos votantes.<<strong>br</strong> />

Na ata <strong>de</strong> apuração dos votos, concluída no dia 8 <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1872, sete<<strong>br</strong> />

vereadores e quatro juízes <strong>de</strong> paz foram eleitos através do voto. A apuração das cédulas<<strong>br</strong> />

foi realizada na igreja Matriz da Paróquia <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá às onze horas da<<strong>br</strong> />

manhã. Consta em ata a apuração das cédulas executada na presença do juíz <strong>de</strong> paz, o<<strong>br</strong> />

barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>, o qual or<strong>de</strong>nou ao mesário Francisco Freire Garção a leitura em<<strong>br</strong> />

voz alta e compreensível das cédulas contidas na urna e, aos <strong>de</strong>mais mesários, a<<strong>br</strong> />

execução da lista nominal dos candidatos bem como a anotação do número <strong>de</strong> votos<<strong>br</strong> />

alcançados por cada votado. 53 Joaquim José foi o candidato mais votado, recebeu 175<<strong>br</strong> />

votos ao cargo <strong>de</strong> vereador e 181 para juíz <strong>de</strong> paz.<<strong>br</strong> />

A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m provocada pelo sub<strong>de</strong>legado José Joaquim <strong>de</strong> Souza Franco,<<strong>br</strong> />

nomeado anteriormente presi<strong>de</strong>nte da Câmara, junto aos seus cúmplices não extinguiu a<<strong>br</strong> />

eleição, muito menos prejudicou a imagem do barão. A escolha dos quatro Juízes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Paz e sete vereadores foi efetivada. A vida pública como juiz <strong>de</strong> Paz e vereador<<strong>br</strong> />

51 Ata <strong>de</strong> formação da mesa Paroquial <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá, Município da Capital da Província <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Mato-Grosso. <strong>Do</strong>cumento com 8 folhas. Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá/MS. (verso da Folha 3).<<strong>br</strong> />

52 I<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />

53 Ata especial da apuração dos votos para sete vereadores e quatro juízes <strong>de</strong> Paz <strong>de</strong>sta Paróquia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá. Folhas avulsas. Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá. Corumbá/MS.


escolhido através do voto, foi iniciada para o barão, a partir do dia seis <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

1873, após participar do “juramento dos Santos Evangelhos em um livro <strong>de</strong>les, em que<<strong>br</strong> />

pôs a sua mão direita e prometeu <strong>de</strong> bem fielmente <strong>de</strong>sempenhar as o<strong>br</strong>igações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

vereador da referida Câmara.” 54<<strong>br</strong> />

Empossado, o barão executou no dia seguinte, junto ao presi<strong>de</strong>nte da “velha<<strong>br</strong> />

Câmara” o termo <strong>de</strong> juramento <strong>de</strong>ferido aos <strong>de</strong>mais vereadores e juízes <strong>de</strong> Paz, eleitos<<strong>br</strong> />

em 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1872. O termo <strong>de</strong> juramento é do seguinte teor: “Aos sete dias do mês<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Janeiro do ano <strong>de</strong> mil oitocentos setenta e três, nos Paços da Câmara Municipal da<<strong>br</strong> />

Villa <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Corumbá, e em sessão extraordinária da mesma, aí pelas <strong>de</strong>z<<strong>br</strong> />

horas da manhã, reunidos os vereadores da nova e velha Câmara, foi pelo Presi<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sta <strong>de</strong>ferido juramento dos Santos Evangelhos em um livro <strong>de</strong>les em que puseram<<strong>br</strong> />

suas mãos direitas, e so<strong>br</strong>e cargo do qual lhes encarregou que bem e fielmente<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sempenhassem as o<strong>br</strong>igações <strong>de</strong> vereadores na forma da Lei, e recebido pelo seu<<strong>br</strong> />

Presi<strong>de</strong>nte dito juramento assim prometeram cumprir <strong>de</strong>sempenhando religiosamente as<<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>igações a seu cargo, e aos <strong>de</strong>mais-assim o jurapassando imediantamente também a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ferir o mesmo juramento aos juízes <strong>de</strong> Paz pela forma e maneira supra, o que todos<<strong>br</strong> />

fizeram, do que para constar lavrei o presente termo que sendo lido sai assinado por<<strong>br</strong> />

todos. Eu Joaquim José <strong>de</strong> Carvalho, Secretário da Câmara que o escrevi.” 55<<strong>br</strong> />

Eleito com a maioria dos votos para exercer o cargo <strong>de</strong> vereador no interregno <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

1873-1876, Joaquim José Gomes da Silva exerceu a função <strong>de</strong> vereador até o início do<<strong>br</strong> />

mês <strong>de</strong> a<strong>br</strong>il. A bordo do navio Ma<strong>de</strong>ira, quando retornava do Rio <strong>de</strong> Janeiro, no dia<<strong>br</strong> />

quatro <strong>de</strong> a<strong>br</strong>il <strong>de</strong> 1876, o barão, com apenas 51 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, faleceu, <strong>de</strong>ixando para o<<strong>br</strong> />

filho Joaquim Eugênio a missão <strong>de</strong> fazer prosperar as posses restantes da família e à<<strong>br</strong> />

baroneza a exploração das riquezas existentes no Urucum. O objetivo da viagem era<<strong>br</strong> />

conseguir concessão para exploração das minas <strong>de</strong> ferro e manganês do Urucum.<<strong>br</strong> />

A rigor, o pós-guerra do Paraguai <strong>de</strong>senhou um quadro dramático tanto para<<strong>br</strong> />

fazen<strong>de</strong>iros quanto à mão <strong>de</strong> o<strong>br</strong>a disponível. Ao barão <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>, por exemplo, o<<strong>br</strong> />

governo entregou milhares <strong>de</strong> apólices <strong>de</strong> dívida da Guerra do Paraguai. Mas o prazo<<strong>br</strong> />

ilimitado dado ao Paraguai para saldar as dívidas arruinou suas finanças. Seu<<strong>br</strong> />

54 Termo <strong>de</strong> juramento <strong>de</strong>ferido ao cidadão Joaquim José Gomes da Silva. 06 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1873.Folha 1.<<strong>br</strong> />

Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá/MS.<<strong>br</strong> />

55 Termo <strong>de</strong> Juramento <strong>de</strong>ferido aos novos vereadores e Juízes <strong>de</strong> Paz para o quatriênio <strong>de</strong> mil oito centos<<strong>br</strong> />

setenta e tres a mil oito centos setenta e seis. 07 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1873. Folha 1 e verso. Arquivo da Câmara<<strong>br</strong> />

Municipal <strong>de</strong> Corumbá/MS.


falecimento em Montevidéu trouxe sérios tropeços financeiros para a viúva, pois,<<strong>br</strong> />

precisou ven<strong>de</strong>r as proprieda<strong>de</strong>s para pagamento <strong>de</strong> dívidas. 56<<strong>br</strong> />

No testamento, incluído no Inventário, foram arrolados os negócios realizados,<<strong>br</strong> />

partilhas <strong>de</strong> terras, gado, casa na cida<strong>de</strong>, uma ban<strong>de</strong>ja <strong>de</strong> prata com o <strong>br</strong>asão da família,<<strong>br</strong> />

escravos, apólices e títulos representativos da dívida pública do governo paraguaio em<<strong>br</strong> />

favor do barão. No espólio constam duas fazendas: Piraputangas e São <strong>Do</strong>mingos, esta<<strong>br</strong> />

conhecida como Fazenda Gran<strong>de</strong> (Alegria ou Firme), avaliada em um conto <strong>de</strong> réis. 57 A<<strong>br</strong> />

fazenda Palmeiras e a fazenda São Francisco localizavam-se à margem esquerda do rio<<strong>br</strong> />

Taquari e eram glebas localizadas em área contígua ao Firme, representando também o<<strong>br</strong> />

centro irradiador da criação <strong>de</strong> gado do Pantanal sul. Conforme os termos do Inventário,<<strong>br</strong> />

a maioria dos escravos foi entregue para pagamento <strong>de</strong> dívidas da baronesa com os<<strong>br</strong> />

credores hipotecários do Inventário. 58<<strong>br</strong> />

Antes <strong>de</strong> morrer, o barão redigiu seu testamento <strong>de</strong>ixando como her<strong>de</strong>iros a viúva e<<strong>br</strong> />

dois filhos Joaquim José Gomes da Silva, <strong>de</strong> 28 anos, e Joaquim Eugênio Gomes da<<strong>br</strong> />

Silva, <strong>de</strong> 19 anos. Ao casar-se o filho Joaquim José recebeu cinco escravos, gado e uma<<strong>br</strong> />

fazenda já formada por seu pai, <strong>de</strong>nominada Palmeiras. Entretanto, logo após a morte do<<strong>br</strong> />

barão, Joaquim José foi assassinado na Fazenda Piraputangas, e a esposa e os filhos<<strong>br</strong> />

passaram a representá-lo num processo que teve uma duração <strong>de</strong> 20 anos. Assim, em<<strong>br</strong> />

1876, quando a<strong>br</strong>iu o Inventário, Joaquim Eugênio Gomes da Silva, era o único filho do<<strong>br</strong> />

fazen<strong>de</strong>iro.<<strong>br</strong> />

Joaquim Eugênio (o Nheco) com 22 anos, após casar-se com <strong>Maria</strong> das Mercês Leite<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Barros, (a Chechê) na vila <strong>de</strong> Nossa Senhora do Livramento, dirigiu-se a Corumbá<<strong>br</strong> />

objetivando tomar posse dos direitos <strong>de</strong>ixados pelo barão.<<strong>br</strong> />

Portanto, a morte do barão não r<strong>edu</strong>ndou na <strong>de</strong>sistência da família aos bens<<strong>br</strong> />

amealhados pelo patriarca <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século 19. <strong>Maria</strong> da Glória, a baronesa, e seu filho<<strong>br</strong> />

não <strong>de</strong>sistiram das posses, apesar do conturbado processo <strong>de</strong> arrolamento e partilha dos<<strong>br</strong> />

bens do barão. Existem arquivados na Câmara registros <strong>de</strong> pedidos relacionados à<<strong>br</strong> />

56<<strong>br</strong> />

BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Rio Paraguai, o’ mar interno’ <strong>br</strong>asileiro. Uma contribuição para o estudo<<strong>br</strong> />

dos caminhos fluviais. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> são Paulo, faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Letras e Ciências Humanas.<<strong>br</strong> />

São Paulo-SP. 1999, p. 217-238.<<strong>br</strong> />

57<<strong>br</strong> />

Inventário dos bens do <strong>Barão</strong> <strong>de</strong> Villa <strong>Maria</strong>. 3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1876. p. 77-80. Arquivo do Tribunal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Justiça <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> (MS).<<strong>br</strong> />

58<<strong>br</strong> />

O quadro <strong>de</strong> classificação dos escravos para serem libertados pelo fundo <strong>de</strong> emancipação mostra que o<<strong>br</strong> />

barão possuía cerca <strong>de</strong> 39 escravos entre pretos e pardos. Cf. Mss. Livro <strong>de</strong> Classificação dos escravos<<strong>br</strong> />

/Fundo <strong>de</strong> Emancipação/1873. Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá.


concessão e <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> terras. A baronesa em 1886 pediu concessão gratuita ao<<strong>br</strong> />

presi<strong>de</strong>nte da província 59 , <strong>de</strong> uma região conhecida por Barranco Branco, localizada<<strong>br</strong> />

abaixo <strong>de</strong> Coim<strong>br</strong>a nos limites com o rio Itereré, conforme comunicado pelo Ministério<<strong>br</strong> />

da Agricultura.<<strong>br</strong> />

O Inventário do barão pen<strong>de</strong>nte na justiça, <strong>de</strong>vido ação dos credores, por duas<<strong>br</strong> />

décadas foi então concluído, mas Nheco ávido por trabalho e em posse do valor <strong>de</strong> vinte<<strong>br</strong> />

e oito bois, não esperou a tardia conclusão do Inventário, ignorou o processo<<strong>br</strong> />

apo<strong>de</strong>rando-se da fazenda Firme. A sesmaria <strong>de</strong>nominada Firme, posse do finado barão<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Maria</strong>, situava-se à margem esquerda do rio Negro a qual, com a invasão<<strong>br</strong> />

paraguaia, foi ocupada pelos soldados e todo o seu gado apreendido e transportado para<<strong>br</strong> />

Assunção.<<strong>br</strong> />

Os registros informam que Joaquim Eugênio encaminhou pedido 60 <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação<<strong>br</strong> />

da fazenda Firme em 1885, porém assentado na região <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1880 já havia<<strong>br</strong> />

restabelecido a fazenda edificando sua residência, introduzindo gado vacum,<<strong>br</strong> />

construindo currais e retiros e fixando lavoura. As autorida<strong>de</strong>s locais reconheceram os<<strong>br</strong> />

melhoramentos implantados nas terras por Nheco, bem como seus direitos na petição. 61<<strong>br</strong> />

Cioso <strong>de</strong> suas raízes José <strong>de</strong> Barros Maciel escreveu so<strong>br</strong>e A Pecuária nos<<strong>br</strong> />

Pantanais <strong>de</strong> Mato Grosso referindo-se às particularida<strong>de</strong>s do imenso vale do Paraguai,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>dicando consi<strong>de</strong>rações apreciáveis so<strong>br</strong>e (a) situação da fazenda Firme, com a morte<<strong>br</strong> />

do barão em 1876. Maciel conta que, em 1885, Firme foi arrematada em praça para<<strong>br</strong> />

efeito <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> custas judiciais. 62 Com a ajuda <strong>de</strong> Luiz Augusto Esteves, credor<<strong>br</strong> />

do Inventário e mem<strong>br</strong>o da família da baronesa, a fazenda foi adquirida a crédito por<<strong>br</strong> />

Joaquim Eugênio Gomes da Silva que, segundo seus biógrafos românticos, precisou<<strong>br</strong> />

vencer as dívidas, o isolamento e as condições inóspitas, inundáveis e cruéis do<<strong>br</strong> />

Pantanal. 63<<strong>br</strong> />

Pelas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Barros Maciel a região da Nhecolândia (homenagem<<strong>br</strong> />

feita a Joaquim Eugênio Gomes da Silva, o Nheco) constitui-se <strong>de</strong> terreno firme – ou<<strong>br</strong> />

59<<strong>br</strong> />

Palácio da Presidência da Província <strong>de</strong> Matto-Grosso/ Cuiabá, 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1886. Ofícios dirigidos à<<strong>br</strong> />

Câmara/Corumbá. Arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Corumbá/MS.<<strong>br</strong> />

60<<strong>br</strong> />

<strong>Do</strong>cumento N° 7. -Correspondência Oficial com as diversas autorida<strong>de</strong>s locais – 1881 a 1890. Livro<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Registros da Câmara Municipal. Nº 168<<strong>br</strong> />

61<<strong>br</strong> />

. Nº 168-Correspondência Oficial com as diversas autorida<strong>de</strong>s locais – 1881 a 1890. <strong>Do</strong>cumento Nº 8.<<strong>br</strong> />

Livro <strong>de</strong> Registros da Câmara Municipal.<<strong>br</strong> />

62 BARROS, Maciel José <strong>de</strong>. A Pecuária nos Pantanais <strong>de</strong> Mato Grosso. Tese apresentada ao 3º<<strong>br</strong> />

congresso <strong>de</strong> agricultura e pecuária. São Paulo: Imprensa Metodista, 1922.<<strong>br</strong> />

63 Cf. BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Rio Paraguai...Op. cit., p. 251-253.


seja, distante das vazantes, dos rios e dos corixos – e <strong>de</strong> uma área inundável,<<strong>br</strong> />

caracterizada pelos terrenos limítrofes aos cursos d’água, quase sempre argilosos e<<strong>br</strong> />

arenosos. A escolha do Firme não foi por acaso, explica Abílio Leite <strong>de</strong> Barros:<<strong>br</strong> />

“<strong>de</strong>correu do fato <strong>de</strong> ser a área <strong>de</strong> menor valor no inventário, sem benfeitorias e que por<<strong>br</strong> />

isso <strong>de</strong>spertaria menor interesse dos credores (...) Piraputangas <strong>de</strong>veria ser objeto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

maior cobiça, São Francisco era fazenda fundada, e Palmeiras tinha sido dada ao filho<<strong>br</strong> />

Joaquim José por antecipação <strong>de</strong> legítima.” 64<<strong>br</strong> />

Além da ocupação do Firme era importante efetuar o povoamento, o<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento da lavoura, a criação <strong>de</strong> gado e cavalo. Daí o interesse <strong>de</strong> Nheco em<<strong>br</strong> />

convidar seus cunhados José <strong>de</strong> Barros, Jejé, e Ga<strong>br</strong>iel Patrício <strong>de</strong> Barros, Bié, para<<strong>br</strong> />

trabalhar no Firme. Jejé e Bié partiram <strong>de</strong> Cáceres para ajudar Joaquim Eugênio na<<strong>br</strong> />

produção <strong>de</strong> gado e na instalação <strong>de</strong> retiros em áreas estratégicas, com objetivo<<strong>br</strong> />

específico <strong>de</strong> garantir-lhe a posse das terras inventariadas.<<strong>br</strong> />

José <strong>de</strong> Barros, já estabelecido na Nhecolândia, trouxe a lume em 1959,<<strong>br</strong> />

Lem<strong>br</strong>anças 65 , um precioso conjunto <strong>de</strong> efeméri<strong>de</strong>s nhecolan<strong>de</strong>nses que a<strong>br</strong>angem a<<strong>br</strong> />

saga dos conquistadores na ocupação das últimas áreas disponíveis do Pantanal 66 .<<strong>br</strong> />

Segundo suas memórias, a ocupação assumiu uma feição singular, exibindo ar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

família 67 baseada na relação <strong>de</strong> camaradagem e parentesco ou numa forma <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agregamento parental que Alcântara Machado, estudando o passado ban<strong>de</strong>irante,<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificou como “organização <strong>de</strong>fensiva.” 68 Esse tipo <strong>de</strong> agrupamento envolvia o<<strong>br</strong> />

chefe com autorida<strong>de</strong> irrefutável so<strong>br</strong>e a mulher, a prole, os agregados, familiares e<<strong>br</strong> />

proletários livres indicando uma política <strong>de</strong> ocupação nitidamente vinculada à<<strong>br</strong> />

segurança.<<strong>br</strong> />

José <strong>de</strong> Barros Maciel conta que Nheco “(...) <strong>de</strong> tempo em tempo aprestava uma<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> canoa <strong>de</strong> casco <strong>de</strong> ferro, impulsionada à zinga e voga e fazia as suas viagens à<<strong>br</strong> />

Corumbá, trazendo carne seca, couros <strong>de</strong> gado vacum, penas <strong>de</strong> garça e peles <strong>de</strong> onça<<strong>br</strong> />

64 BARROS, A. L. Gente....Op. cit., p. 86.<<strong>br</strong> />

65BARROS, José <strong>de</strong> – Lem<strong>br</strong>anças (para meus filhos e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes). São Paulo: Centro Gráfico do<<strong>br</strong> />

Senado Fe<strong>de</strong>ral (reedição), l987.<<strong>br</strong> />

66 BRAZIL, <strong>Maria</strong> do Carmo. Mar interno...Op. cit., p. 252.<<strong>br</strong> />

67 CORRÊA FILHO, V. Pantanais ...Op. cit., p. XI.<<strong>br</strong> />

68 MACHADO, Alcântara. A Família. Vida e Morte do Ban<strong>de</strong>irante. São Paulo: Governo do Estado,<<strong>br</strong> />

1978, p. 143.


para ven<strong>de</strong>r e com o seu produto fazia aquisição <strong>de</strong> café, mate, sal açúcar, fazendas,<<strong>br</strong> />

para uso seu, <strong>de</strong> sua família e para suprimento <strong>de</strong> seus camaradas.” 69<<strong>br</strong> />

Firme foi avaliada no Inventário em um conto <strong>de</strong> réis, preço <strong>de</strong> um cativo, mas<<strong>br</strong> />

sob o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Nheco fora valorizada, expandida e transformada na Nhecolândia 70 ,<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> latifúndio pastoril localizado entre os rios Taquari e Negro.<<strong>br</strong> />

69 MACIEL, José <strong>de</strong> Barros. A Pecuária ....Op. cit., p. 16.<<strong>br</strong> />

70 O nome Nhecolândia é proveniente do apelido do seu fundador, o Nheco. So<strong>br</strong>e a Nhecolândia po<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />

ser consultados os autores: BARROS, Abílio Leite <strong>de</strong>. Gente Pantaneira: (Crônicas da sua História). Rio<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Janeiro: Lacerda editores,1998; PROENÇA, Augusto César. Pantanal. Gente, tradição e<<strong>br</strong> />

<strong>história</strong>.Campo Gran<strong>de</strong>/MS, 1992.

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