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Outdoors pela cidade de Porto Alegre e os Modos de Viver ... - Anpad

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profissional nunca está pronto, sempre há algum curso que se diz capaz <strong>de</strong> prepará-lo para seu<br />

futuro profissional ou mesmo anunciando que mudará sua vida. Conforme Gaulejac (2007)<br />

essas exigências são interiorizadas. É <strong>de</strong>vido a isto, inclusive, que ela é tão imperi<strong>os</strong>a. O<br />

sistema gerencialista que permeia a estrutura mental suscita um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong><br />

narcísico, agressivo, pragmático, sem estad<strong>os</strong> <strong>de</strong> alma, centrado sobre a ação e não tanto sobre<br />

a reflexão, pronto a tudo para ter sucesso. Gera sobre o sujeito uma tensão e uma agitação<br />

permanente que o fazem per<strong>de</strong>r o próprio sentido da vida. Bauman (2007) complementa que<br />

esta vida líquida significa constante auto-exame, autocrítica e autocensura, alimentando a<br />

insatisfação do eu consigo mesmo.<br />

Não é somente o intelecto constante aprimoramento, o corpo físico também <strong>de</strong>ve<br />

a<strong>de</strong>quar-se a<strong>os</strong> imperativ<strong>os</strong> atuais. O investimento no corpo é vendido não apenas como<br />

forma <strong>de</strong> manter laç<strong>os</strong> pessoais, mas também profissionais. O discurso da magreza e da moda<br />

permeia o ambiente organizacional refletindo n<strong>os</strong> mod<strong>os</strong> <strong>de</strong> trabalhar, n<strong>os</strong> quais tudo <strong>de</strong>ve ser<br />

produtivo, inclusive a aparência. Há mais <strong>de</strong> um século atrás Taylor revolucionava a<br />

Administração com <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> da Administração Científica, entre <strong>os</strong> quais a busca <strong>pela</strong><br />

padronização d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> e ferramentas. Hoje, é a padronização do sujeito que prevalece,<br />

padronização d<strong>os</strong> seus saberes, d<strong>os</strong> seus mod<strong>os</strong> <strong>de</strong> vestir, <strong>de</strong> falar e <strong>de</strong> portar-se.<br />

Frente a este cenário o sujeito, muitas vezes, se vê bombar<strong>de</strong>ado lentamente, dia após<br />

dia, por um discurso legitimado <strong>pela</strong> própria mídia e nem sempre tem consciência do<br />

funcionamento da vida mo<strong>de</strong>rna e d<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>de</strong>la sobre si. O sujeito convive com estes<br />

apel<strong>os</strong>, produz e reproduz este discurso às vezes sem notar. Pois, como lembra Guattari e<br />

Rolnik (1996), a subjetivida<strong>de</strong> é social, no entanto, é vivida pel<strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong>, po<strong>de</strong>ndo estes<br />

respon<strong>de</strong>r ou consumir a subjetivida<strong>de</strong> produzida <strong>de</strong> diferentes formas, balançando entre dois<br />

pól<strong>os</strong>. O primeiro pólo expressa uma relação <strong>de</strong> alienação e <strong>de</strong> opressão, e correspon<strong>de</strong> ao<br />

processo <strong>de</strong>nominado pel<strong>os</strong> autores <strong>de</strong> individualização, que consiste em bloquear o processo<br />

<strong>de</strong> resistência e criação, afirmando a submissão e instaurando padrões universais,<br />

massificadores e individualizantes vigentes e, muitas vezes, assumindo a culpa para si. O<br />

segundo, expressa uma relação <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong> criação, processo chamado pel<strong>os</strong> autores <strong>de</strong><br />

singularização, on<strong>de</strong> o sujeito reapropria-se d<strong>os</strong> componentes da subjetivida<strong>de</strong>, como um ato<br />

<strong>de</strong> resistência, associando-se e afirmando outr<strong>os</strong> mod<strong>os</strong> <strong>de</strong> ser, outras sensibilida<strong>de</strong>s, outras<br />

percepções.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BAUMAN, Zigmunt. Vida líquida. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 2007.<br />

BENTHAM, Jeremy. O panóptico. Jeremy Benthan; organização e tradução <strong>de</strong> Tomaz Ta<strong>de</strong>u<br />

da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.<br />

CASTELLS, Manuel. A socieda<strong>de</strong> em re<strong>de</strong>. São Paulo: Paz e Terra, 2000.<br />

COSTA, Jurandir F. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Garamond Universitária, 2004.<br />

DEJOURS, Christhophe. Para uma Clínica da Mediação entre Psicanálise e Política: a<br />

psicodinâmica do trabalho. In: LANCMAN, Selma; SZNELWAR, Laerte Idal (orgs).<br />

Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora<br />

Fiocruz; Brasília: Paralelo 15, 2008.<br />

DELEUZE, Gilles; GATTARI, Felix. Mil Platôs. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora 34, 1995.<br />

ENRIQUEZ, Eugène. Prefácio. In: DAVEL, Eduardo; VASCONCELOS, João (Orgs.).<br />

“Recurs<strong>os</strong>” Human<strong>os</strong> e subjetivida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 1995.<br />

FERNANDES, David; SILVA, Leilane Ram<strong>os</strong>. O discurso argumentativo do outdoor: um<br />

estudo <strong>de</strong> caso. Interdisciplinar. Itabaina, v.5, n. 5, jan./jun, 2008.<br />

FLICK, Uwe. Uma Introdução à pesquisa qualitativa. 2. ed. São Paulo: Bookman, 2004.<br />

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