v - Jornal de Leiria

Talentos
Quando percebeu que tinha
jeito para o design?
Antes de mais, não sei se
posso dizer que tenho jeito
para o design. Apenas procuro,
como todos os designers,
responder da melhor forma
aos problemas que me são
propostos. A minha mãe é
professora de Educação Visual
e desde pequena que fui estimulada
para as artes. Embora
estas e o design apenas
sejam coincidentes em alguns
aspectos,. Penso que foi essa
a razão principal do meu posterior
interesse por esta área
que surgiu a par com a minha
consciência social.
Diz que o design serve para
melhorar a qualidade de vida
das pessoas. Quer explicar?
O design segundo os seus
princípios mais puros procura
unir conhecimentos de
várias ciências de forma a
produzir objectos que satisfaçam
necessidades reais. O
papel do designer na criação
e melhoramento de objectos,
é que estes sejam conscientes
das suas consequências
positivas e negativas. Produzindo
produtos e conceitos,
tem assim o poder de intervir
directa ou indirectamente
na vida de todos. O design
contibui para a melhoria da
qualidade de vida, não só facilitando
e tornando mais agradáveis
as tarefas simples do
quotidiano, mas também porque
tem em conta factores
ambientais, económicos e
sociais que nos podem ajudar
a construir um melhor
futuro.
Está a terminar a sua licenciatura.
O que gostaria de
fazer no futuro?
Para já gostaria de terminar
com sucesso a minha licenciatura.
De futuro, simplesmente
procuro o mesmo que
todas as pessoas: a felicidade.
Independentemente de onde
ela se encontre. Claro que ao
construi-la , o design estará
sempre presente como parte
da matéria-prima da minha
realização profissional.
Espera encontrar dificuldades
para entrar no mercado de
trabalho?
Claro que sim, bastantes. A
primeira será a procura de emprego,
uma vez que o sector já teve
melhores dias e as pessoas formadas
nesta área são cada vez
mais. De seguida será vencer o
receio de não corresponder aos
problemas que me forem colocados
e de aplicar tudo o que
aprendi oportunamente.
Onde procura inspiração
para a realização das suas
peças?
A minha inspiração provém
essencialmente da observação:
a de fenómenos, sejam
eles causados pela natureza,
ou pelo homem. Por vezes,
essa observação leva-me à
indignação, mas na sua maioria
fazem-me ver o quanto é
especial e complexo o ser
humano. É essencialmente
para ele e com base nele que
imagino e concebo os meus
objectos.
O que significou para si
este prémio no concurso
nacional de design cerâmico?
Uma recompensa e um reconhecimento
que eu agradeço
bastante. No fundo, um importante
incentivo, não só para
o meu trabalho, como para
mim pessoalmente. É pena
que todos os designers não
possam receber um prémio
também. Tem ainda um outro
significado especial pois sim-
Filipa Cabaço
Estudante de design
boliza um incentivo a todos
os portugueses. Constatar que
ainda existem de facto empresas
que apostam em novos
designers, novos projectos e
que têm condições para tal.
Em que estado se encontra
o ensino das artes em
Portugal?
O ensino do design em especifico
e das artes em geral,
pelo que me é possível observar,
tem cada vez mais qualidade
e exigência, o que é
positivo. E felizmente, do meu
ponto de vista, tende a tornar-se
menos elitista e fechado
como era no passado.
O sector da cerâmica está
em crise. Acha que os nossos
“cerâmicos” terão que
procurar trabalho no estrangeiro?
Não penso que tenham ou
que devam fazê-lo, mas infelizmente,
grande parte da
sociedade portuguesa ainda
dá excessivo valor a quem o
faz, desvalorizando o que é
nosso. Por essa razão, evitamos
erradamente investir e
valorizar o nosso país dando
preferência a tudo o que “vem
de fora”. Devido a este facto
e também à já conhecida crise
por que passamos, há quem
procure construir um futuro
diferente emigrando em busca
de melhores condições.
O que gostaria de mudar em
Portugal?
Sem duvida o nosso espirito
derrotista e começando por mim.
Infelizmente, necessitamos de
mais de incentivos para nos sentirmos
valorizados e quando estes
não existem, limitamo-nos aos
lamentos e à revolta. Faz-nos
falta olhar em frente vendo o
que há de positivo em nós. Valorizar
os bons profissionais que
existem, apostando e investindo
rapidamente nos portugueses.
Poderá ser uma atitude positiva
e fundamental para ultrapassar
dificuldades e enfrentar
o futuro.
Ricardo Rosenheim Rodrigues
Potenciar, reinventar e sensibilizar
Natural de Castelo Branco, Filipa Cabaço lá terminou o liceu até ingressar no curso de
Design de Cerâmica na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha. Actualmente
com 25 anos conta licenciar-se em Setembro deste ano. O artesanato e toda a cultura a ele
associada marcam fortemente o seu trabalho e potenciar, reinventar e sensibilizar são os objectivos
da sua inspiração. Tendo como base o artesanato cerâmico, em Janeiro deste ano concorreu
a um concurso lançado pela Recer, empresa de pavimentos e revestimentos cerâmicos,
intitulado “Espaço para a criatividade”. Uma proposta para revestimentos baseada na
olaria pedrada de Nisa deu-lhe o primeiro prémio que recebeu das mãos de Teresa Salgueiro,
vocalista dos Madredeus, madrinha desta iniciativa.
Vencedora do
concurso
nacional de
Design
Cerâmico, o
gosto por esta
área foi-lhe
incutido pela
mãe. A concluir
este ano a
licenciatura, diz
que o papel do
designer é o de
melhorar a
qualidade de
vida das pessoas
e é com base no
ser humano que
concebe os seus
objectos. Filipa
Cabaço gostaria
de mudar o
espírito
derrotista dos
portugueses
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JORNAL DE LEIRIA | 11 DE AGOSTO DE 2005