CAPÍTULO 3 ROTORES - Minerva.ufpel.tche.br
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<strong>CAPÍTULO</strong> 3<<strong>br</strong> />
<strong>ROTORES</strong><<strong>br</strong> />
O<<strong>br</strong> />
componente básico em qualquer equipamento eólico é o rotor. É ele<<strong>br</strong> />
quem efetivamente capta a energia do vento e a transforma em<<strong>br</strong> />
energia mecânica, através de um movimento rotativo.<<strong>br</strong> />
A posição relativa do eixo que sustenta o rotor e a superfície<<strong>br</strong> />
terrestre divide os equipamentos eólicos em dois grupos: os de eixo vertical e os de eixo<<strong>br</strong> />
horizontal, como se verá adiante.<<strong>br</strong> />
3.1 FORÇAS QUE ATUAM SOBRE UM ROTOR<<strong>br</strong> />
A Figura 3.1 mostra o fluxo de vento em um rotor eólico. As forças que agem<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e as hélices podem ser decompostas em duas<<strong>br</strong> />
componentes: (a) força de lift 1 ou de empuxo, que tende<<strong>br</strong> />
a levantar a hélice e (b) força de drag 2 ou de arrasto,<<strong>br</strong> />
que tende a fazer com que o rotor gire tendo como eixo<<strong>br</strong> />
de rotação sua estrutura de suporte.<<strong>br</strong> />
Figura 3.1 – Decomposição da força do vento incidente<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e um corpo fixado a eixo.<<strong>br</strong> />
3.2 <strong>ROTORES</strong> DE EIXO VERTICAL (REVs)<<strong>br</strong> />
São aqueles cujo eixo de rotação é perpendicular à direção do vento incidente e,<<strong>br</strong> />
por conseqüência, à superfície da terra. A esta categoria pertencem as primeiras<<strong>br</strong> />
máquinas eólicas, utilizadas há muitos sécu1os antes de Cristo na moagem de grãos<<strong>br</strong> />
(Figura 3.2).<<strong>br</strong> />
A principal vantagem dos REVs é sua capacidade de funcionar seja qual for a<<strong>br</strong> />
direção do vento, não necessitando de mecanismos de orientação que onerem o custo<<strong>br</strong> />
do equipamento. Também a disposição vertical do eixo é uma vantagem, pois,<<strong>br</strong> />
geralmente, são requeridas estruturas de sustentação mais simples, além de permitir a<<strong>br</strong> />
1 palavra inglesa que derivada do verbo “levantar”.<<strong>br</strong> />
2 arrasto, em inglês.
tomada de energia mecânica ao nível do solo (isto é, o acoplamento do rotor com a<<strong>br</strong> />
máquina a ser acionada é feito próximo ao solo).<<strong>br</strong> />
(a) (b)<<strong>br</strong> />
Figura 3.2 – Moinho eólico persa do século 20 a.C.: (a) vista em perspectiva (adaptada de<<strong>br</strong> />
Soren Kron, 2002); (b) vista em corte.<<strong>br</strong> />
Em contrapartida, de um modo geral esses rotores desenvolvem pouca<<strong>br</strong> />
potência por unidade de área de captação do vento. Outro inconveniente dos REVs é<<strong>br</strong> />
o de não atingirem velocidades superiores à do vento, o que limita sua utilização como<<strong>br</strong> />
força motriz de equipamentos de moagem de grãos ou bombeamento de água.<<strong>br</strong> />
A seguir, são destacados alguns REVs especialmente importantes.<<strong>br</strong> />
3.2.1 Rotor Savonius<<strong>br</strong> />
Os rotores Savonius ou rotores "S" são REVs muito usados, devido à<<strong>br</strong> />
facilidade de construção e baixo custo. Sua estrutura básica pode ser descrita como "um<<strong>br</strong> />
tonel cortado ao meio e soldado em torno de um eixo", como se vê na Figura 3.3(a). São<<strong>br</strong> />
movidos fundamentalmente por forças de drag e possuem alto torque de partida, porém<<strong>br</strong> />
trabalham com baixa velocidade e não possuem alto rendimento.<<strong>br</strong> />
Conforme se vê na Figura 3.3(b) e (c), podem ter uma ou mais camadas,<<strong>br</strong> />
coincidentes ou não, o que se reflete em seu rendimento. Projetos mais modernos têm<<strong>br</strong> />
dado formas um pouco extravagantes ao rotor Savonius – como se vê na Figura 3.3(d) -,<<strong>br</strong> />
porém aumentando sua eficiência.
Figura 3.3 – Rotor Savonius: (a) forma básica; (b) Savonius de 2 camadas; (c) Savonius de<<strong>br</strong> />
3 camadas; (d) projeto aperfeiçoado de rotor Savonius.<<strong>br</strong> />
Existem muitas formas de construir um rotor Savonius, de acordo com a<<strong>br</strong> />
concentricidade, conforme se mostra na Figura 3.4. A forma (a) é muito resistente, devido<<strong>br</strong> />
ao eixo central, porém é menos eficiente que as outras duas seguintes. A forma em (b)<<strong>br</strong> />
também é muito simples, porém mais eficiente que a anterior, já que uma parte do ar é<<strong>br</strong> />
desviada em direção à segunda "lâmina" após passar pela primeira. Em (c) vê-se a forma<<strong>br</strong> />
mais eficiente: além da vantagem do ar ser defletido, como na forma anterior, as lâminas<<strong>br</strong> />
agem parcialmente como um aerofólio quando sua extremidade se encontra de frente para<<strong>br</strong> />
o vento incidente, criando um pequeno efeito de lift e aumentando a eficiência; entretanto,<<strong>br</strong> />
sua construção é muito mais difícil.<<strong>br</strong> />
Figura 3.4 – Concentricidade do rotor Savonius
3.2.2 Rotor Darrieus<<strong>br</strong> />
Outra classe de REV, os rotores Darrieus 3 , mostrados na Figura 3.5, são<<strong>br</strong> />
movidos primordialmente por forças de "lift". As lâminas (que podem ser 2 ou 3), unidas<<strong>br</strong> />
nos extremos ao eixo vertical, são curvadas pela força centrífuga quando se dá a<<strong>br</strong> />
rotação, assumindo a forma de uma catenária com o diâmetro aproximadamente igual à<<strong>br</strong> />
distância entre as pontas. Existem modelos que possuem lâminas retas, como se mostra na<<strong>br</strong> />
Figura 3.5(b).<<strong>br</strong> />
Como o seu torque de partida é bastante reduzido, é comum acoplar-se ao eixo<<strong>br</strong> />
deste tipo de rotor um ou dois Savonius, como se vê na Figura 3.5(c). Os rotores<<strong>br</strong> />
Darrieus apresentam ótimas características de rendimento, podendo ser usados para a<<strong>br</strong> />
geração de energia elétrica.<<strong>br</strong> />
Figura 3.5 – Rotor Darrieus: (a) de duas lâminas curvas; (b) de duas lâminas retas; (c) de<<strong>br</strong> />
três lâminas curvas, com dois rotores Savonius acoplados para aumentar o torque de<<strong>br</strong> />
partida.<<strong>br</strong> />
3.3 <strong>ROTORES</strong> DE EIXO HORIZONTAL (RHE)<<strong>br</strong> />
São aqueles cujo eixo de rotação é paralelo à direção dos ventos, ou seja, são<<strong>br</strong> />
paralelos à superfície da terra.<<strong>br</strong> />
Na Figura 3.6 são mostrados alguns tipos de rotores de eixo horizontal. Como se<<strong>br</strong> />
vê, o numero de lâminas (ou pás) é muito variado, podendo o rotor possuir uma única<<strong>br</strong> />
destas lâminas (com contrapeso), como mostrado na Figura 3.5(a), até cerca de 50 (no<<strong>br</strong> />
caso do chamado moinho americano ou "multipás").<<strong>br</strong> />
3 Nome devido ao engenheiro francês Georges Darrieus, que patenteou o projeto deste rotor em 1931.
Figura 3.6 - Exemplos de rotores de eixo horizontal: (a) 1 lâmina; (b) 2 lâminas; (c) 3<<strong>br</strong> />
lâminas; (d) multipás<<strong>br</strong> />
O material com que são construídas as lâminas é muito variado: madeira, tecido<<strong>br</strong> />
(como o algodão ou o "dacron"), metal, fi<strong>br</strong>a de vidro, etc. Também o formato dessas<<strong>br</strong> />
lâminas é bem variado, destacando-se, por sua eficiência, as chamadas lâminas<<strong>br</strong> />
aerodinâmicas.<<strong>br</strong> />
O número de hélices adotado para o rotor depende de uma série de fatores, como<<strong>br</strong> />
finalidade a que se destina, estrutura de suporte, regime de velocidade dos ventos na<<strong>br</strong> />
região, etc. Máquinas com número par de hélices podem ocasionar problemas de<<strong>br</strong> />
estabilidade no equipamento: quando uma hélice estiver em sua posição mais elevada,<<strong>br</strong> />
sofre flexão para trás, enquanto que a hélice diametralmente oposta se posiciona entre o<<strong>br</strong> />
vento incidente e a estrutura de sustentação, fazendo "som<strong>br</strong>a" à torre.Rotores com<<strong>br</strong> />
número ímpar de hélices (e com três ou mais), não apresentam o efeito som<strong>br</strong>a tão<<strong>br</strong> />
acentuado, resultando em melhor estabilidade.<<strong>br</strong> />
Os aerogeradores 4 modernos, como o mostrado na Figura 3.6(c), são construídos<<strong>br</strong> />
com 3 hélices; embora apresentem a desvantagem do custo e do peso de uma hélice a mais<<strong>br</strong> />
(se comparados com os projetos de 2 hélices). Em contrapartida, podem girar a<<strong>br</strong> />
velocidades mais baixas para produzir a mesma potência que os de pás duplas, o que<<strong>br</strong> />
diminui os problemas de ruído.<<strong>br</strong> />
Geradores de uma só hélice (com contrapeso) têm como vantagem o reduzido<<strong>br</strong> />
custo; porém apresentam mais acentuadamente o problema de som<strong>br</strong>eamento, além de não<<strong>br</strong> />
serem esteticamente atraentes. Devem girar a velocidades mais altas que às de um rotor de<<strong>br</strong> />
pás duplas para extrair potência equivalente.<<strong>br</strong> />
Um rotor muito usado é o multipás, mostrado na Figura 3.6(d), que nos<<strong>br</strong> />
acostumamos a ver em filmes de cow-boy. É usado principalmente para o bombeamento<<strong>br</strong> />
de água, devido ao seu bom torque e estabilidade, motivo pelo qual é também chamado de<<strong>br</strong> />
aero bomba.<<strong>br</strong> />
Os REH são capazes de desenvolver maior força e potência por unidade de área de<<strong>br</strong> />
captação do vento, tendo ainda, via de regra, melhor rendimento que os REV. Além disso,<<strong>br</strong> />
são capazes de atingir velocidades mais altas que as dos ventos incidentes, o que os torna<<strong>br</strong> />
excelentes para aplicações que requeiram altas velocidades de rotação, como a geração de<<strong>br</strong> />
energia elétrica.<<strong>br</strong> />
4 Aerogeradores são equipamentos eólicos destinados à geração de energia elétrica.
Um dos principais inconvenientes desse tipo de rotor é a necessidade de<<strong>br</strong> />
incorporação de algum mecanismo de orientação, a fim de que suas lâminas sempre se<<strong>br</strong> />
posicionem perpendicularmente à direção dos ventos incidentes. Em unidades pequenas,<<strong>br</strong> />
usa-se um simples leme, mas no caso de grandes equipamentos são necessários<<strong>br</strong> />
mecanismos mais sofisticados.<<strong>br</strong> />
Em qualquer desses casos, o rotor é montado so<strong>br</strong>e uma gávea giratória, capaz de<<strong>br</strong> />
se movimentar em torno do eixo de sustentação.<<strong>br</strong> />
Quanto à posição das lâminas relativamente à torre de sustentação, os REH podem<<strong>br</strong> />
ser classificados como:<<strong>br</strong> />
• a montante (“upwind rotors”), nos quais as pás se posicionam à frente da torre de<<strong>br</strong> />
sustentação, conforme esquematizado na Figura 3.7(a). Necessitam de algum<<strong>br</strong> />
dispositivo que os oriente, mantendo as pás sempre de frente para o vento;<<strong>br</strong> />
• a jusante (“downwind rotors”), mostrados na Figura 3.7(b), nos quais a torre de<<strong>br</strong> />
sustentação encontra-se à frente das pás. Geralmente este tipo de rotor se orienta<<strong>br</strong> />
automaticamente; porém a lâmina que está “escondida” atrás da torre não é<<strong>br</strong> />
solicitada pelo vento da mesma forma que as demais, o que pode provocar<<strong>br</strong> />
vi<strong>br</strong>ações no rotor (o “efeito som<strong>br</strong>a”).<<strong>br</strong> />
Figura 3.7 - Classificação dos REH quanto à posição relativa da torre: (a) rotor de eixo a<<strong>br</strong> />
montante; (b) rotor de eixo a jusante.